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CAPÍTULO IX



 

Mais tarde, tudo levava a crer que as coisas caminhavam tranqü ilamente. Emma parecia alheia à quela atmosfera e Pamela aceitou as explicaç õ es de Robert sem fazer perguntas.

Julie achou terrivelmente difí cil agir de maneira natural. Seus nervos foram forç ados até um, limite insuportá vel e, embora Sandra se comportasse com comedimento, Julie nã o conseguia relaxar.

Pamela e Robert foram embora logo depois do almoç o, em carros separados, para a casa dos pais dela, em Orpington. Sandra ficou acenando para eles, mas Julie permaneceu impassí vel. Estava preocupada com a reaç ã o de Robert assim que encontrasse Francis.

Nos dias que se seguiram, Emma começ ou a tomar aulas com Sandra, que trouxe alguns livros e papel, o suficiente para as primeiras semanas. A governanta comentou com Julie que, se Emma progredisse satisfatoriamente, iria até Londres para trazer mais.

Mas isso nã o aconteceu. Emma tornou-se violenta, chorosa, e até mesmo Julie teve que lhe chamar a atenç ã o.

— Nã o posso entender isso — disse para a sra. Hudson certa tarde.

— Ela costumava dizer que queria ir para a escola.

— Ter aulas com uma governanta nã o é a mesma coisa do que ir à escola — respondeu. — A pequena nã o tem amigos. Nã o tem chance de conhecer outras crianç as e se sente só. E ela sabe que enquanto a srta. Lawson permanecer aqui, tudo continuará do mesmo jeito.

— Mas Robert nã o concordará com nenhuma outra soluç ã o! — exclamou Julie, exasperada, vendo que suas pró prias preocupaç õ es se misturavam à ansiedade que sentia em relaç ã o à filha.

— E a sra. Pemberton? — sugeriu a sra. Hudson, erguendo as sobrancelhas.

— Oh, ela nunca concorda comigo! Alé m disso, Sandra é amiga da familia.

— E o que a senhora pretende fazer?

— Nã o sei. Honestamente, nã o sei.

— O que diz do sr. Hillingdon? Ele nã o poderia falar com o sr. Robert? Talvez ele o escute.

— Duvido, duvido muito.

A cozinheira suspirou.

— Entã o, nã o sei o que mais a senhora poderia fazer. Mas alguma coisa tem de ser feita, pois a menina acorda todas as noites chorando.  

 — Eu sei. — Julie pareceu desanimada. — E Sandra insiste em ficar reclamando comigo sobre o comportamento rude de Emma durante as aulas. Estou certa de que Sandra gostaria de, lhe dar umas bofetadas.

— Sim, e acredito que esse é um sentimento mú tuo — concluiu a sra Hudson.

— É verdade. Pois bem. Ligarei para Francis.

Ela o encontrou no escritó rio. Ele parecia deliciado em ouvi-la, como sempre.

— Quando vou vê -la, outra vez?

— Na verdade, Francis, eu preciso de sua ajuda.

— Minha ajuda? Como assim? — Francis parecia surpreso.

— Eu queria que você falasse com Robert e pedisse que reconsiderasse sua decisã o quanto à educaç ã o de Emma. Ela quer ir para a escola da aldeia e está simplesmente impossí vel. Sandra tem sido incrivelmente paciente com ela nessas circunstâ ncias.

— Está certo. Você gostaria que eu fosse aí e falasse com Emma pessoalmente?

— Nã o acho que isso lhe faria bem. Ela ficaria deliciada em vê -lo, claro, mas depois que você se fosse... — Sua voz enfraqueceu.

— Sim, entendo o que você quer dizer — Francis parecia pensativo — mas devo informá -la de que eu e Robert nã o estamos muito bem um com o outro no momento. Ele, bem, no ú ltimo domingo, quando veio aqui, fez alguns comentá rios á speros para mim enquanto tomá vamos um drinque antes do jantar. Julie teve um sobressalto.

— Sobre o quê?

— Você nã o consegue adivinhar? Sobre você, naturalmente. Disse-me para deixá -la em paz. Achou meu procedimento desagradá vel. Você sabe, esse tipo de coisa...

Julie estava horrorizada.

— Oh, me perdoe.

Francis deu a entender que nã o estava aborrecido.

— Sim, claro. Fiquei louco da vida na hora, mas em seguida percebi que ele estava preocupado em procurar o melhor para você. Para você s dois. Nã o sei como o casamento dele com Pamela vai resistir diante dessa situaç ã o.

— O que você está querendo dizer? — Julie estava trê mula.  

— Ora, se eu nã o o conhecesse bem, diria que ele sente algo mais do que uma obrigaç ã o moral para com você. Mas isso é ridí culo, nã o? Afinal, foi ele quem desmanchou o casamento de você s dois, nã o foi?

— Sim. — Julie mordia o lá bio, encontrando dificuldade em concentrar-se no principal motivo pelo qual tinha telefonado para Francis. — Mas... você falará com ele?

Francis hesitou.

— Se é o que você quer... Ele vem almoç ar amanhã. Farei o possí vel para trocar umas palavras com ele.

— Oh, obrigada, Francis. Muito obrigada.

— Nã o me agradeç a. Ainda nã o consegui nada.

A sra. Hudson peneirava farinha em uma bacia.

— Eu penso no que é ter a avó, o sr. Robert e o sr. HiIlingdon em sua ç abecinha. Emma tem apenas cinco anos, sra. Pemberton. Pense nas circunstâ ncias que teve que enfrentar e se adaptar nos ú ltimos meses!

— Você acha que ela está estragada?

— Por Deus, nã o! Ela poderia continuar a mesma mesmo sendo muito mimada, se é o que a senhora pensa. Nã o o que ocorre é que ela está tentando encontrar-se e há tanta gente em volta dela!

— Você acha que é por isso que ela faz toda essa festa quando Robert está por perto?

A sra. Hudson olhou de esguelha.

— Nã o é só isso. Acho que ela o tem como uma espé cie de referê ncia, de seguranç a, mas deve haver algo mais do que isso. Emma parece ligada a ele. Está sempre falando dele, a senhora sabe. Ela fala do sr. Hillingdon també m, é claro, mas o sr. Robert é seu favorito. A senhora deveria ter se casado com o sr. Robert. Ele seria, entã o, o pai de Emma, nã o?

— Nã o era para acontecer — disse com firmeza.

— Nã o. Porque a senhora nã o se casaria com ele antes dele ir para a Venezue1a, nã o é?

— Como sabe disso?

A sra. Hudson suspirou.

— O sr. Robert me disse na outra noite. Nó s estivemos conversando sobre os dias em que ele costumava atender a esses compromissos.

Julie desceu do banquinho.

— O que mais ele disse?

— Nã o muita coisa. Apenas que a senhora ficou confusa com a partida dele.

Julie respirava com dificuldade.  

— Robert lhe disse o que aconteceu na noite em que terminamos tudo?

— Nã o. A senhora consegue imaginar o sr. Robert fazendo confidê ncias a mim?

— Realmente, nã o.

— Diga-me como a senhora o conheceu.

Julie encolheu os ombros.

— Eu trabalhava na companhia. Na verdade, meu chefe nos apresentou. Já tinha ouvido falar de Robert, é claro. Ele era conhecido.

— E?

— Eu nã o queria nada com ele. Nã o era esse tipo de garota, para usar uma expressã o antiquada.

— Entendo. — A sra. Hudson sorriu gentilmente.

— Robert era do tipo insistente. Costumava inventar desculpas para aparecer no escritó rio do sr. Harvey, que era onde eu trabalhava; ofereceu-se para levar-me em casa, para jantar e tudo o mais. As outras garotas sempre me preveniam de como ele era, mas nem era preciso. Eu já sabia como Robert era. Ele estava acostumado a ter o que queria. Mas nã o tentou nada no começ o. — Julie suspirou. — Robert me pedia que casasse com ele! — Balanç ou a cabeç a, desconsolada.

— Eu nã o podia acreditar nisso. Achei que era uma espé cie de plano complicado para me levar para a cama. Mas nã o era.

— E o que aconteceu?

— O de sempre. Ele me levou para conhecer sua mã e. Ela tinha uma casa em Richmond, entã o. Oh, é claro, você sabe disso. Bem, de qualquer forma, ela jamais gostou de mim, mas acho que percebeu que Robert falava sé rio e tratou de fazer o possí vel para me aceitar. Todos os preparativos para o casamento foram feitos. Fui criada em um orfanato. Meus pais morreram em um acidente de carro e eu nã o tinha ningué m para me ajudar. Entã o a sra. Pemberton cuidou de tudo. De repente, surgiu o serviç o na Venezuela!

— E foi o fim de tudo?

Julie virou o rosto. Nã o queria mais falar sobre aquilo. Era muito doloroso lembrar-se de tudo, mesmo naquela hora. A sra. Hudson notou seu constrangimento e mudou de assunto. Julie sentiu-se agradecida.  

Mas, naquela mesma noite, mais tarde, quando estava no banho, a conversa lhe veio à cabeç a e com ela a constataç ã o de que nã o importava o que pudesse vir a acontecer, ela sempre se arrependeria do passado.

Ensaboando as pernas, relembrou-se dos acontecimentos daquela noite, da noite em que Robert lhe disse que estava de partida para a Venezuela para assumir o projeto Guaba.

Mas ele nã o a avisou logo no começ o da noite. Eles se encontraram na cidade como de costume e jantaram em um dos pequenos e í ntimos restaurantes que freqü entavam. Se Robert estava um tanto silencioso e triste, Julie nem notou, pois estava muito feliz e excitada sabendo que em exatamente uma semana se tornaria a sra. Robert Pemberton.

Mas quando o jantar terminou ela teve que reconhecer que havia algo errado. Uma pontada de medo atingiu-lhe o coraç ã o e, quando Robert sugeriu que eles deveriam passar na casa de sua mã e em Richmond, Julie concordou prontamente, imaginando se, apesar de tudo já estar preparado, esse seria o momento em que o casamento cairia por terra.

A casa que Robert dividia com a mã e em Richmond era grande e confortá vel. Era a casa da famí lia, plantada no meio de suas terras, com quadra de tê nis e uma piscina nos fundos. Fora seu pai que a construí ra para seu pró prio uso e tanto Robert quanto Michael foram criados ali: Julie a havia visitado poucas vezes. Lucy Pemberton sempre estava em casa e Julie sabia que nã o era bem-vinda. Foi isso que fez soar tã o estranho o convite de Robert naquela noite.

Entretanto, quando o carro se aproximou da entrada da casa, ela notou que a casa estava à s escuras e olhou desconcertada para Robert.

— Minha mã e foi passar o fim de semana fora — explicou enquanto saí a do carro e se dirigia para o outro lado para ajudá -la a descer.

Julie relutava.

— Por que você me trouxe aqui, Robert?

Robert fechou a porta.

— Vamos entrar e tomar um drinque, primeiro.  

No vestí bulo, Robert apontou-lhe o caminho da sala. Assim que fez isso, a cozinheira de sua mã e apareceu, vinda da cozinha, e os entarou, surpresa.

— Pensei que o senhor iria ficar na cidade hoje à noite.

— Eu ia. — Robert foi abrupto. — Nã o se preocupe, nã o vamos precisar de nada. A senhora pode se recolher.

— Sim, senhor. — A empregada olhou desconfiada para Julie antes de retirar-se e fechar a porta com um olhar de ó bvia desaprovaç ã o.

Julie permaneceu de pé atrá s do sofá, vendo Robert servir-se de uí sque e entã o voltar-se, irritado, dizendo: .

— Tire seu casaco. Sente-se. Nã o seremos perturbados.

— Por que você me trouxe aqui? — Julie estava preocupada e nã o conseguia esquecer isso.

— Você toma um drinque?

— Nã o, obrigada. — Julie desejava que ele dissesse o que tinha a dizer de uma vez. Fosse o que fosse.

Robert percebeu sua inseguranç a e aproximou-se dela, encarando-a com seus olhos cinzentos. Isso fez com que Julie sentisse vontade de levantar-se e abraç á -lo. Necessitava de seu calor, da certeza de sua companhia, mas, até que soubesse por que ele a havia trazido até ali, sentia-se constrangida.

Afinal ele falou:

— Tenho algumas má s notí cias, Julie.

— Má s notí cias! — Julie sentiu um aperto no coraç ã o. — Que espé cie de má s notí cias? — Nã o... nã o é nada sobre Michael, é?

Naquela ocasiã o, Michael estava fora do paí s com seu navio e, por um momento, ela pensou que ele pudesse ter sido ferido ou mesmo morto.

Robert fez que nã o com a cabeç a, aliviando-a de sua afliç ã o pelo futuro cunhado, mas deixando-a ainda mais ansiosa.

— Nã o, nã o é nada com Michael. Moran foi morto na Venezuela ontem.

Julie levou a mã o ao pescoç o e olhou-o um tanto confusa.

— Moran? — repetiu. — Você está falando de Dennis Moran?

Dennis Moran era um engenheiro construtor que estava trabalhando para a Companhia Pemberton. Ela o havia encontrado uma ou duas vezes no escritó rio, mas mal o conhecia e certamente nã o tinha a menor idé ia de onde ele poderia estar trabalhando no momento.  

— Esse mesmo — respondeu Robert. — Ele estava trabalhando no projeto do vale do rio Guaba. Você já ouviu falar disso?

— Vagamente. — Julie tentou lembrar-se. — Nã o era um projeto iniciado por você?

— Sim, é esse — respondeu Robert.

Julie encolheu os ombros.

— Mesmo assim... bem, sinto muito, naturalmente, mas alé m do fato da morte de uma pessoa ser sempre uma coisa desagradá vel, nã o vejo como...

— Você nã o vê em que isso pode nos afetar? — O rosto de Robert estava sombrio.

— Bem, sim. — Julie respirava com dificuldade. — Isso. Isso é tudo?

— Receio que nã o. — Robert deu um suspiro. ~ Esse projeto já está atrasado. As chuvas devem chegar breve e o dique terá que estar em posiç ã o antes delas.

Julie prendeu a respiraç ã o.

— E daí?

— Você nã o está tornando as coisas fá ceis para mim, Julie.

— O que você quer que eu diga? Nã o vejo em que a morte deste homem nos afeta!

— Nã o vê? Ou nã o quer ver? — Robert virou-se e, colocando as mã os sobre a lareira, inclinou-se, pousando a cabeç a sobre os braç os. — Eu tenho de ir lá para supervisionar o final do trabalho!

Julie ficou de pé.

— Você tem de ir para a Venezuela?

— É isso.

— Mas... porque você? — Por um momento Julie se esqueceu do casamento dali a poucos dias.

— Porque, como você mesma colocou de forma tã o brilhante há pouco, eu iniciei o trabalho. Moran pegou de onde eu parei.

Julie sacudiu a cabeç a.

— Mas, mesmo assim, deve haver outros engenheiros. — Julie parou subitamente. — O que isso quer dizer? O que você está tentando dizer? Quando você espera partir?

Robert voltou-se para ela. Seu rosto estava conturbado.

— Tenho que partir em... dois, talvez trê s dias...

— Mas você nã o pode! Robert, por acaso você esqueceu...

— Pelo amor de Deus, como eu poderia esquecer? Foi por isso que a trouxe aqui, nã o? É por isso que eu estou dizendo para você se controlar. Eu quero que você tente entender minha posiç ã o...  

 Sua posiç ã o! — gritou lulie. — E a minha? — Fez um gesto desesperado. — Você nã o pode fazer isso. Por que algum outro nã o pode ir? Por que tem que ser você?

Robert fez um movimento com as mã os como se quisesse acalmá -la.

— Controle-se, Julie — disse, sé rio. — Tente encarar a situaç ã o de uma maneira ló gica. Você acha que eu quero ir para a Venezuela?

— Eu nã o sei o que você quer — respondeu. -Eu, eu nã o consigo raciocinar com calma.

— É claro que você sabe o que eu quero — disse, á spero. — Quero ficar aqui, quero ficar com você, quero casar-me com você! Como você acha que eu estou me sentindo?

Julie balanç ou a cabeç a, em dú vida.

— Eu já nã o consigo pensar em mais nada. Você ainda nã o se justificou por que tem que ir.

— Nã o é nada disso! Nã o tem que haver uma justificaç ã o — afirmou Robert bruscamente. — Estou lhe dando a razã o! Olhe, eu tentarei tornar as coisas mais claras para você. Como já disse, eu realizei o trabalho de base para esse projeto. O esboç o foi meu, eu o criei. Quando tudo parecia estar correndo bem, Moran assumiu a responsabilidade. Mas, por alguma razã o inexplicá cel, ocorreu uma explosã o na barragem e Moran morreu. Por que diabos eu mandaria algum outro para investigar, tendo plena consciê ncia de que essa responsabilidade é minha?

Julie, tensa, apertava e desapertava os dedos.

— Mas, Robert, esta nã o é uma hora qualquer. Tudo está preparado para a pró xima semana. A gente nã o pode simplesmente cancelar.

— Nã o estou querendo dizer que devemos cancelar tudo — disse Robert num tom perigosamente hostil. — O que eu quero é que você concorde com um adiamento. Nã o precisa ser um longo adiamento. Um mê s... talvez dois.

— Dois meses! — Julie deu-lhe as costas. — Mande um outro em seu lugar.

— Nã o posso Julie, eu tentei explicar. Se você nã o acredita em mim, que mais posso dizer?

— Como posso acreditar em você? Sua mã e sabe disso?

— Sim, sabe.

— Acho que ela ficou radiante. Afinal, isso lhe dá mais algumas semanas para convencer você de que está cometendo o maior erro de sua vida, nã o é?  

 — Julie! — A voz de Robert estava angustiada. Ao colocar suas mã os sobre os ombros dela, tentando fazê -la voltar-se, Julie se esquí vou, saindo de seu alcance.

— Nã o me toque! — gritou.

— Julie, você está sendo ridí cula. Você está se portando como se acreditasse que eu estou tentando fqgir do casamento.

— E você nã o está? Eu quero ir para casa!

— Julie! Você nã o pode ir dessa maneira. Nó s nã o acabamos de conversar. Precisamos combinar como faremos para enviar as notí cias do adiamento...

— Eu quero ir para casa! — Julie repetiu, voltando-se para ele.

— Você pode arranjar as coisas como preferir. Nã o tenho nada a ver com isso. Foi sua mã e quem cuidou dos preparativos.

Robert passou a mã o pelos cabelos.

— Nã o deixarei você ir dessa maneira, Julie, seja sensata! Eu amo você. Isso nã o significa nada?

— Pelo jeito, nã o — respondeu Julie, com ironia.

— O que você quer dizer?

— Se você me amasse, nã o faria isso comigo... conosco! — Julie o encarava com um olhar de sú plica. — Robert, por favor, deixe algum outro ir, Peters, talvez. Ou Lionel Grant...

— Nã o. — Robert era inflexí vel. — Julie, eu tenho que ir. Aceite isso! — Olhou-a desesperado, como se procurasse palavras que justificassem o que estava dizendo. — Julie, você nã o pode fazer isso comigo — disse, com a voz rouca. — Eu... por Deus, eu preciso de você!

— Precisa? — Ela parecia zombar dele. — Acho que nunca percebeu isso.

— O que você está querendo dizer?

— Oh, nada. — Ela já estava começ ando a perceber que Robert estava atingindo o limite de sua resistê ncia, como ela. Dirigiu-se para a porta. — Eu quero ir embora. Você vai me levar ou eu terei que andar até a estaç ã o de trem?

Robert continuou observando-a, sé rio.

— Você ainda nã o vai — afirmou, num tom grave. — Como eu já disse antes, existem algumas coisas a serem acertadas.

— Nã o que me digam respeito — retorquiu Julie, pegando seu casaco e tentando vesti-lo.  

 

 

Robert avanç ou para ela. Seu nervosismo estava patente em cada gesto. Agarrou-a pelos braç os, trazendo seu corpo para junto do seu, de tal forma que ela conseguia sentir seus mú sculos retesados. Em seguida, inclinou sua cabeç a e procurou os lá bios de Julie de uma maneira tã o brutal quanto inesperada. E, por mais nervosa que ela estivesse, a resposta de seu corpo logo se fez sentir, a começ ar pelos seus lá bios que se entreabriram, indefesos.

Quando Robert finalmente se afastou, Julie nã o percebeu sua expressã o tensa; apenas seu olhar frio.

— Agora me diga que você nã o quer se casar comigo, Julie!

Ela continuou a encará -lo. No fundo admitia que Robert estava certo, que o esperaria o tempo que fosse. Mas o desdé m contido em sua voz destruiu todos esses sentimentos.

— Nã o, nã o vou me casar com você! — exclamou, decidida — Eu odeio você!

O olhar de Robert turvou-se. Ele a puxou para si mais uma vez sua boca contra a dela, seu beijo ainda mais selvagem e brutal do que da ú ltima vez, transformando seu desprezo e sua fú ria em desejo.

Mas Julie percebeu isso imediatamente. Sentia que a atitude dele nada mais era do que uma espé cie de vá lvula de escape para a sua raiva e, embora seu ar sedutor fosse praticamente irresistí vcl, ela Continuou a lutar desesperadamente.

Mas era uma batalha perdida. Robert era muito mais forte que ela e um perito em conseguir o que quer que fosse de uma mulher. Ele nunca tinha, feito aquilo antes, respeitava a inocê ncia de Julie, ansiando pelo dia em que ela seria apenas sua, livre para amá -lo, sem restriç õ es. Mas agora havia ultrapassado os limites de sua resistê ncia. Nunca a havia beijado tã o intensamente, de maneira tã o í ntima. Tirou-lhe entã o o casaco, deixando-o cair a, seus pé s e provocando-lhe um calor nas veias. Era como um redemoinho, havia algo irresistí vel que a fazia afundar mais e mais, até fazê -la perder a consciê ncia.

Agora, Julie saí a do banho e começ ava a enxugar-se. Rclembrar certa noite seis anos atrá s nã o a fazia sentir-se mais relaxada.

No entanto, as lembranç as daquela noite continuavam voltando. Começ ava a se ver tã o culpada quanto Robert pelo que havia acontecido. Mas justificaç õ es nã o eram nada frente à enormidade de seu crime. Sem explicaç õ es, fugiu da casa naquela noite fatí dica.

Sobraram alguns poucos e penosos dias para Robert justificar-se, dias esses em que deve també m ter ultimado os preparativos de sua viagem. A pró pria Lucy Pemberton poderia ter procurado Julie para preveni-la sobre os efeitos desastrosos que sua atitude teria sobre

Robert, mas Julie nã o a ouviria. Ela nã o queria ouvir falar em adiamentos, em presentes, e Lucy a teria deixado muito magoada, culpando-a de tudo.

Robert em pessoa veio até seu apartamento. Ela havia deixado o emprego no escritó rio, na semana anterior, e sabia que ele poderia procurá -la para convencê -la de que nada era como estava imaginando.

Julie ainda alimentava a idé ia de que ele poderia cancelar a viagem para a Venezuela. Mas suas palavras, quando lhe abriu a porta, desenganaram-na por completo.

Ele foi breve e quase formal. Apenas as marcas de fadiga em redor de seus olhos e nos cantos da boca eram testemunhas de seu estado mental. Sugeriu que eles deveriam casar-se imediatamente, em um cartó rio. Nã o havia nada que pudesse detê -los e, assim que ela fosse vacinada e todas as formalidades cumpridas, seguiriam para a Venezuela.

Mas para Julie aquela tinha sido a gota d'á gua. Ela via aqueles esforç os para consertar as coisas como uma tentativa de Robert reparar o fato de ter feito amor com ela, e convenceu-se de que, se nã o se sentisse culpado, nunca faria essa sugestã o. Por que nã o a convidou para casar-se na mesma noite em que anunciou sua viagem? Por que esperou até aquela hora?

A discussã o que se seguiu també m foi breve, mas explosiva; e, depois que ele se foi, Julie sabia que havia destruí do tudo o que havia entre eles com sua obstinaç ã o e teimosia.  

 Pensou que seria o fim de tudo. Leu sobre a partida de Robert para a Venezuela nos jornais e os breves comentá rios sobre o fato de seu casamento ter sido adiado em virtude de seus compromissos, mas sabia que tudo nã o passava de panos quentes de Lucy Pemberton. Estava certa de que nunca mais veria Robert e tratou de arranjar outro emprego de Secretá ria para manter-se, procurando afastar-se dos bares e restaurantes onde houvesse possibilidade de encontrar-se com algum dos funcioná rios da companhia Pemberton.

Surpreendentemente seu sono era tranqü ilo e, no iní cio, acreditou que isso ocorresse porque estava com os nervos em frangalhos. No entanto, mais tarde, com o correr do tempo, começ ou a perceber o que estava lhe acontecendo. Mesmo assim, procurava nã o aceitar, convencendo-se de que os ú ltimos acontecimentos simplesmente haviam afetado seu metabolismo. Só quando começ ou a sentir ná useas ao acordar pela manhã e a nã o suportar o cheiro do café forte é que se convenceu de que estava grá vida.

Como é natural, entrou em pâ nico. Nã o tinha pais, ningué m a quem recorrer. Tinha ouvido, falar de certas sociedades que auxiliavam pessoas grá vidas, mas teve receio de contactar qualquer uma delas. Temia ter que fornecer a um estranho todos os detalhes.

Era preferí vel encarar Robert, que já sabia de tudo, e deixá -la pagar pelo nascimento e a possí vel adoç ã o. Ele certamente ia querer a crianç a. Julie nã o considerava a possibilidade de que certamente a quereria també m. Assim, escreveu para Lucy Pemberton pedindo-lhe que enviasse o endereç o de Robert na Venezuela. Lucy nã o respondeu, mas alguns dias mais tarde Michael Pemberron visitou-a. Sua mã e nã o estava bem e ele tomou a responsabilidade de levar-lhe o endereç o de Robert. Só mais tarde é que Julie veio a saber que Lucy o havia proibido de vê -la outra vez.  

 Julie escreveu para Robert, sem contar nada, apenas perguntando se seria possí vel ele vir até a Inglaterra para vê -la. Queria ver seu rosto quando soubesse da novidade. Nã o era algo que se pudesse colocar em uma carta, sabendo-se que poderia cair em mã os erradas.

A resposta de Robert, no entanto, foi no má ximo educada. Contou-lhe que nã o havia possibilidade de voltar para a Inglaterra no momento e que acreditava que ficaria fora pelo menos por mais trê s meses.

Julie estava angustiada. Nã o sabia a quem se voltar. E foi nesse estado humilhante e lacrimoso que certa noite, poucos dias depois de receber a carta de Robert, ela abriu a porta e encontrou Michael Pemberton outra vez parado na soleira.

Convidou-o a entrar e sentiu que podia confiar nele. Derramou toda a histó ria e ele a ouviu atentamente. Quando lhe mostrou a carta de Robert, Michael sugeriu que ela escrevesse de novo a seu irmã o, contando-lhe a verdade. Ele estava convencido de que, se Robert suspeitasse disso, nã o teria sido tã o frio. Mas Julie, nesse ponto, permanecia firme como uma rocha. Era ó bvio que Robert nã o estava mais interessado no que podia acontecer com ela e, se escrevesse para ele contando-lhe seu estado, ele voltaria em nome da decê ncia, e nã o porque realmente a quisesse; Michael discutiu com ela, mas finalmente concordou que Robert nã o ouviria nada de sua parte.

Nos dias que se seguiram, ele se tornou uma visita constante no apartamento de Julie. Ela nã o se importava. Isso lhe deu algo mais em que pensar, embora tivesse certeza de que sua mã e nã o aprovaria essa alianç a. Quando Michael lhe propô s casamento, ficou chocada.

Michael, no entanto, provou ser um obstinado defensor de sua causa. Explicou-lhe que atravé s de seus contatos com o almirantado, haviam lhe oferecido um posto um Rathoon, na costa oeste da Malá sia, e que apenas hesitava em aceitá -lo porque iria ser o ú nico solteiro em meio a um grupo de casados.  

Explicou as vantagens e as desvantagens de viver tã o longe, mas a parte mais persuasiva consistia no fato de que aquele seria um local onde Julie poderia ter sua crianç a sem que ningué m soubesse que a crianç a nã o era filha de Michael.

Protegida pelos anos que a separavam desses acontecimentos, Julie podia ver que, como na maioria de suas atitudes, ela tinha sido movida por uma inexplicá vel sensaç ã o de pâ nico, uma vontade impensada e covarde de sair correndo, de enfiar a cabeç a em um buraco e esperar que tudo fosse endireitado. Talvez Michael tivesse sido parcialmente culpado. Ele havia oferecido essa saí da e, uma vez que a viu vacilar, aproveitou-se de todas as oportunidades até que ela cedesse.

Casaram-se alguns dias depois em um cartó rio tendo como testemunhas apenas dois amigos de Michael. Lucy Pemberton teve outro de seus costumeiros ataques, mas ambos sabiam que, na realidade, ela se recusava a comparecer ao casamento. Nã o conseguia entender por que Michael era tã o idiota, a ponto de querer casar-se com uma mulher do tipo de Julie. Ao mesmo tempo, via a atitude de Julie como um esforç o deliberado para perturbar a famí lia Pemberton.

Mas eles embarcaram para Rathoon pouco menos de um mê s apó s o casamento e lá, fora da influê ncia dos Pemberton, nã o havia ningué m que visse seu casamento como nada mais do que um simples casamento. Julie teve a crianç a na primavera e nã o havia ningué m mais maravilhado com o bebê do que Michael. Até Emma completar trê s meses ele nã o fez a menor tentativa de consumar o casamento.

Julie ficou-lhe grata pela generosidade e compreensã o. Era fá cil ser bondosa com ele; e, se ela nunca encontrou com Michael o ê xtase que havia conhecido com Robert, recusou-se a atribuir tal fato a qualquer coisa que nã o fosse uma diferenç a entre o temperamento dos dois.

Agora, Julie via seu reflexo no espelho do banheiro sem qualquer satisfaç ã o. Talvez ela tivesse cometido um tremendo erro, anos atrá s, ao pensar que Robert se importava mais com seu trabalho do que com ela.  



  

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