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CAPÍTULO IV
Eram quase duas horas e eles nã o haviam deixado a casa. Emma insistiu em ver tudo, pois tudo era novo e excitante para ela. Em um dos quartos do andar superior, encontraram as bagagens que haviam sido enviadas da Malá sia por via marí tima e Emma implorou a Julie que as abrisse. — Talvez fosse bom levarmos algumas roupas para o apartamento. — Voltando-se para Robert, perguntou: — Quanto tempo ainda a gente vai passar com você? — Acho que a casa ficará pronta em uma semana, o que significa que você s poderã o mudar-se em dez dias. — Dez dias! — repetiu Julie, surpresa. Começ ou entã o a revirar a bolsa em busca das chaves dos baú s. — Se for assim, teremos de pegar algumas coisas. Emma e eu nã o podemos ficar com a mesma roupa todos esses dias. Robert agachou-se ao lado da bagagem para examinar os fechos. — Você pode comprar algumas roupas novas — observou sem voltar o rosto para as duas. — Podemos? Com o quê? — Minha mã e tem conta nas maiores lojas da cidade. Você s podem comprar o que quiserem. — Nã o, obrigada. — Julie continuou a remexer a bolsa. — Diabos, onde estã o as chaves? — Você precisa ser tã o rude? — perguntou Robert, procurando manter o controle. — Você devia saber que, como viú va de Michael, está autorizada a dispor do que quiser. Ouvindo essas palavras, Julie controlou-se e um momento depois conseguiu encontrar o chaveiro em sua bolsa. Robert pegou-o sem dizer uma palavra e, apó s examiná -lo, escolheu a chave certa do baú mais pró ximo e abriu o cadeado abruptamente. Emma saltou sobre o baú, excitada, e teria mergulhado dentro, dele se Robert nã o a segurasse. Julie examinou o conteú do tomada de sú bita emoç ã o. Eram vá rios embrulhos de jornal acomodados entre lenç ó is e roupas de cama, contendo porcelanas e objetos de vidro. — Nã o... nã o é esse — disse finalmente. — Nossas roupas estã o no outro. Robert fechou a tampa e trancou o baú, guardando as chaves no bolso. Julie olhou-o, surpresa. — Vamos, deixemos isso para depois. Julie fez um gesto de desaprovaç ã o. — Mas, nossas roupas... Robert dirigiu-se para a porta do quarto. — Depois. — Mas eu tenho que pegar algumas coisas. — Você nã o vai desfazer essa bagagem. E, agora, vamos. É tarde e eu estou com fome. Julie hesitou por um longo tempo e, afinal, concordou. — Vamos almoç ar na aldeia, no Black BulI. Ouvi dizer que eles servem um bom assado ali. Você s nã o estã o com vontade? Julie deu de ombros enquanto se ajeitava no carro. — Se é assim que você quer. Robert olhou-a, sé rio, mas nada disse, limitando-se a dar partida no carro. O Black Bull era um dos bares que tinham avistado quando chegaram. O salã o de refeiç õ es nã o estava cheio, mas o garç om pareceu agressivo quando entraram. — Sinto muito, mas deixamos de servir almoç o à s quinze para as duas— informou, em tom rí spido. Julie suspirou, mas Robert nã o parecia nem um pouco perturbado. — Eu reservei uma mesa — explicou calmamente. — Meu nome é Pemberton. Era notá vel, pensava Julie cinicamente, cerca de uma hora depois como aquele nome podia produzir mudanç as de atitude. Enquanto saboreava aquela deliciosa mistura de morangos com creme, percebeu que o salã o estava completamente deserto e que, sem sombra de dú vida, o pessoal do restaurante estava impaciente para fechá -lo. E lá estavam eles, felizes e bem-alimentados. Emma comeu tudo que lhe foi posto na frente e no momento escutava atentamente Robert explicar como os morangos podiam ser cultivados em outras partes do mundo em diferentes é pocas, do ano. Robert voltou-se subitamente e surpreendeu Julie observando-os. Uma estranha expressã o tomou conta de seus olhos. Julie tomou todo o vinho de seu copo e recostou-se. — Café? — indagou, e Julie agradeceu. — Você nã o acha que devemos ir? Quero dizer, eles estã o nos esperando para fechar — ela disse. Robert esboç ou um sorriso. — Farei com que eles nã o percam nada por isso. — Você pensa que dinheiro compra qualquer coisa, nã o? De repente a expressã o de Robert tornou-se perversa. — Comprou você, nã o comprou? — O que é que você quer dizer? — Você vai me dizer que se casaria com Michael se ele fosse um pobre marinheiro? Julie estava horrizada. Olhou rapidamente para Emma, que parecia totalmente alheia à conversa, concentrada em seu copo de refresco. — Nã o sei do que você está falando. — Oh, por favor, Julie. — Robert levantou-se abruptamente. — Você nã o estava interessada em Michael. Você teve uma sé rie de oportunidades de separar-se de mim e casar-se com ele, se era isso o que queria, antes de eu ir embora para a Venezuela. Mas nã o! Era a mim que você queria, portanto nã o tente negar isso! — Suas faces haviam ficado pá lidas e ele se virou selvagemente, saindo em busca do chefe dos garç ons. Julie encolheu-se e, virando-se na cadeira, lutou para colocar o casaco. Ela nunca havia pensado que Robert pudesse ser tã o cruel e estava começ ando a sentir-se mal fisicamente. A viagem de volta a Londres transcorreu praticamente em silê ncio e até Emma parecia esgofada pelas atividades matinais. Mas, quando chegaram ao apartamento, ela já estava acordada o suficiente para contar a Lucy Pemberton tudo o que havia acontecido, incluindo o problema com a bagagem e o almoç o no Black Bull. Julie colocou seu casaco sobre uma cadeira e sentou-se em uma poltrona perto delas. Apoiando uma perna sobre o braç o da poltrona revestida de couro macio, fez um gesto casual com os ombros. — A casa nova é muito atraente. Você nã o a conhece? — Oh, naturalmente — Lucy assentiu. — Pamela levou-me até lá num dia em que fomos visitar os pais dela. Foi ela quem a encontrou, você sabe — prosseguiu, em tom casual. — A casa pertencia a amigos dos pais de Pamela, que deixaram o paí s por nã o agü entarem o clima. As palavras de Lucy ficaram atravessadas na garganta de Julie. — Quem é Pamela? — Emma perguntou. — É minha tia? Lucy voltou-se para ela, sorrindo. — Será brevemente, querida. Vai casar-se com tio Robert. Lucy olhou casualmente para a nora — Ela virá com os pais jantar aqui amanhã à noite. Para conhecê -la, Julie. — Eles vê m? — Julie engoliu com dificuldade. A idé ia de conhecer a mulher com quem Robert ia casar-se nã o era das mais agradá veis. — Sim. Nó s pensamos em dar alguns dias a você, para adaptar-se antes de apresentá -la a nossos amigos. E sá bado é um dia tã o bom quanto qualquer outro, nã o acha? — Se você acha. — Julie achou difí cil ser cortê s e desprezou-se por estar se sentindo dessa maneira. Por que ela achava que Lucy estava deliberadamente tentando antagonizá -la? Só porque na noite anterior... Decidida, disse: — Esqueci de perguntar como você se sentia esta manhã. — Estou muito melhor, obrigada. — Voltando-se para Emma, perguntou: — Diga-me, querida, você viu o balanç o no jardim de sua nova casa? Dependurado na cerejeira? Pamela disse que ela costumava balanç ar-se nele quando era garotinha. Emma sacudiu a cabeç a, maravilhada. — Nã o, nã o vi. Nó s nã o visitamos o jardim. Por que nã o fomos, mamã e? — Nã o houve tempo, querida. — Absurdo! — Lucy interrompeu. — Você s tiveram tempo de, sobra. — Bem, acho que nã o lembramos disso — disse Julie, forç ando-se a nã o ficar irritada. — Você s estiveram lá o tempo suficiente — disse Lucy de maneira cortante. — Queira desculpar-me... — Julie suspirou. Halbird entrou na sala neste momento. — Posso trazer um pouco de chá senhora? — perguntou diretamente para Lucy. — Oh, sim, acho que sim. — Nã o para mim — disseJulie. — Vou tomar um banho. — Sim, senhora. — Halbird sorriu. — Posso assistir televisã o, vovó? — Emma vagava pela sala, mexendo em tudo que suas mã os pudessem alcanç ar. Lucy parecia irritada. — Eu acho que pode — disse, com relutâ ncia. — Você poderia ligar para ela, Halbird? — Sim, senhora. — Halbird ligou o aparelho. Emma estava deliciada. — Oh, nã o é fantá stico? — exclamou, indicando as figuras que se sucediam. Julie concordou e dirigiu-se para a porta. — Gostaria de tomar chá em seu quarto, senhora? — Halbird estava se dirigindo a ela desta vez. Julie hesitou. — Nã o gostaria de lhe dar trabalho — respondeu. — Nã o é trabalho nenhum, senhora. Lucy suspirou demonstrando aborrecimento. — Se a sra. Pemberton quer tomar chá, ela pode tomá -lo comigo. Halbird — observou. — Oh, sim, senhora. — Halbird inclinou a cabeç a polidamente, dirigiu um olhar pesaroso a Julie e deixou a sala. — Espero que você nã o adquira o há bito de me embaraç ar na frente dos empregados, Julie — Lucy advertiu-a, de maneira desagradá vel. Julie suspirou. — Sinto muito. — Sente mesmo? De qualquer maneira, teremos que viver juntas, pelo menos nos pró ximos dias, e me sentiria muito grata se você procurasse se portar de uma maneira menos agressiva. Julie encostou a testa contra o revestimento frio da porta. — Muito bem. Eu tentarei. — Você aparecerá para o jantar hoje à noite? — Sim — afirmou Julie. — Muito bem. Fora dispensada e ressentiu-se com isso. Fechou a porta com todo o cuidado e dirigiu-se para seu quarto. Uma vez nele, como sempre, sucumbiu à emoç ã o, atirando-se na cama e deixando que as lá grimas saí ssem, quentes. Julie nã o viu mais Robert até a tarde do dia seguinte. Ele nã o apareceu para jantar naquela noite e sua mã e teve um visí vel prazer em explicar que ele e Pamela tinham ido a uma festa na casa de alguns amigos. Emma foi para a cama à s sete e Julie e sua sogra jantaram sozinhas. Foi uma refeiç ã o silenciosa e incô moda. Em seguida, assistiram televisã o na sala. — Nã o há dú vida de que será bem difí cil para você adaptar-se à nossa vida aqui — disse Lucy, sentada confortavelmente em sua poltrona. — Afinal, você nã o está acostumada a nossos há bitos, nã o é, Julie? Julie fingiu estar interessada no filme que estavam assistindo. — O que foi? — perguntou vagamente, embora tivesse entendido perfeitamente o que Lucy havia dito. — Eu disse que você encontrará dificuldade para adaptar-se ao nosso modo de vida. — repetiu de maneira ferina. — Nã o acredito que a vida em um posto avanç ado na Malá sia possa ser comparada com a agitaç ã o social aqui em Londres. — Nã o, nã o pode. — Julie ajeitou uma mecha de cabelos por trá s da orelha. — E você nunca teve oportunidade de acostumar-se a nó s antes de Michael levá -la, prosseguiu a sogra. — Nã o acreditaria que Michael pudesse realizar-se num lugar como aquele. Ele sempre pareceu apreciar a vida aqui em Londres. — Ele entrou para a Marinha muito antes de me conhecer — retrucou Julie. — Sim, eu sei. Ele sempre gostou de desde que era crianç a. Mas transferir-se para tã o longe, uma transferê ncia permanente... — Foi idé ia dele! — Eu sei. Mas tã o absurda! — Lucy procurou por seu cá lice de xerez. — Espero que isso tenha tornado as coisas mais fá ceis para você. Julie dominava-se para nã o perder a calma. — Fá ceis? — repetiu. — É claro. Quero dizer... bem, Julie, você nã o conhece nada sobre os nossos modos, conhece? Você nã o está acostumada a receber, a promover jantares! Nã o acredito que já tenha preparado um cardá pio em sua vida, já? — Nã o. Eles nã o pensavam muito nessas coisas no orfanato — concordou. — Ora, JuJie, nã o vamos começ ar a discutir outra vez. Estou apenas tentanda canversar com você. — Lucy crispou os lá bios. — Michael ainda estaria viva hoje se você nã o o persuadisse a aceitar o posto. Julie empalideceu. — Nã o é verdade! — Como é que você sabe? — Lucy estava abertamente agressiva. Julie hesitou e apertou os lá bias. Ela nã o queria discutir as detalhes í ntimos da saú de de Michael com essa mulher, mesmo sendo a mã e dele. Suspirou, respondeu: — Ele escolheu esse posto distante porque o mé dico o acanselhou a ter uma ocupaç ã o menos ativa. — O quê? Eu nã o acredito em você! — É verdade. Eu mesma nã o sabia até depois de seu segundo ataque. O doutor teve que explicar. — Julie afundou-se na cadeira. — Michael recusava-se a levar a sé rio seu estado de saú de. Lucy a olhava fixamente, seus lá bios mexiam-se e, por um momento, Julie sentiu profunda campaixã o dela. — Você está inventando isso... Ele me diria! — Lucy tevantou-se de sua poltrona. — Vacê falou a Robert sobre isso? — Nã o, nã o falei para ningué m.
— Pois entã o gostaria que vacê nã o falasse — prosseguiu Lucy, enquanto se encaminhava de maneira impaciente para seu quarto. — Prefiro que todos pensem que a morte de Michael foi uma dessas tragé dias inesperadas que à s vezes ocorrem. — E foi isso mesmo! — exclamau Julie amargamente, percebendo que Lucy nã o permitiria que seus amigos soubessem que Michael havia escondido seu estado de saú de por mais de seis anos. Lucy fez um gesto condescendente. — Bem, tudo isso pertence ao passado, nã o? Nã o há nada que possamos fazer para trazê -lo de volta. — Apertando os lá bios concluiu: — Graç as a Deus que ainda tenha Robert e Emma. Julie encaminhou-se para a porta com os dentes cerrados. Lucy estava firmemente decidida a colocá -la em seu lugar, e era isso que parecia estar acontecendo. Na tarde do dia seguinte, Lucy levou Emma ao parque. Era um daqueles dias maravilhosos que novembro consegue inexplicavelmente produzir, quando o gelo nas á rvores se transforma em diamantes sob a claridade do sol e a ar é tã o claro e fresco quanto um bom vinho. Emma convidou a mã e para acompanhá -las, mas Julie agradeceu o convite. Percebeu que Lucy queria ficar sozinha com a crianç a e afinal, ela era sua avó. Robert estava fora també m. Saí ra de manhã, antes de Julie levantar e disse a Halbird que nã o almoç aria. Portanto Julie tinha o apartamento só para si. Estava sentada na sala, aproveitando-se do fugaz sentimento de liberdade, quando a campainha tocou. — Eu atendo sra. Pemberton — assegurou-lhe Halbird com a cortesia habitual. Atravessando o vestí bulo, ele abriu a porta. Julie ouviu um som abafado de vozes, a de Halbird erguendo-se em tom de surpresa e a porta se fechando. Olhando em volta, deparou com ele entrando na sala carregado de caixas e embrulhos. — O que está acontecendo? — perguntou, com um sorriso. Halbird hesitou, segurando ainda os pacotes. — Sã o para a senhora — disse. — Onde devo colocá -los? Em seu quarto? — Para mim? — repetiu Julie, incré dula. — Mas eu nã o encomendei nada. — Bem, foi o que o entregador falou — respondeu Halbird, com firmeza. — E você tem certeza de que nã o sã o para a mã e do sr. Robert? — Nã o, senhora. O rapaz disse sra. Julie Pemberton. — Bem, é melhor colocá -los aqui, Halbird — Julie levantou-se. — Nã o fique aí parado. Vou ver o que contê m, nã o acha que devo? — Se assim deseja, senhora. Ou prefere que faç a isso para a senhora? — Halbird sorriu-lhe e Julie deu sua aprovaç ã o. Ele começ ou a desembrulhar os pacotes sobre o sofá onde ela estivera sentada. Assim que começ ou, Julie conseguiu divisar o nome escrito na tampa de uma das caixas. Era o nome de uma das mais famosas costureiras de Londres e ela imediatamente descobriu o que os pacotes continham. — Obrigada, eu posso cuidar disso — disse, com voz tensa. E entã o, percebendo que Halbird a olhava com curiosidade, completou: — Eu... bem, essas coisas sã o... aliá s, nã o sã o para mim. — Mas o entregador... — Sim, eu sei o que ele disse. Ele pensou que fossem, mas nã o sã o. — E, mordendo os lá bios, afirmou: — Apenas deixe aí, Halbird. Eu cuidarei disso. Halbird voltou para a cozinha com relutâ ncia e Julie suspirou, de pé olhando impaciente a pilha de pacotes. Quem era o responsá vel por aquilo? Robert ou a desconhecida Pamela? Fosse quem fosse, receberia tudo de volta. Nao queria nada dos Pemberton! Mesmo assim, ficar sentada na sala, tendo como companhia aquele monte de pacotes, era estranho. O que as caixas continham? O que teriam escolhido para ela, sem seu consentimento? Resolveu resistir. Virando as costas para a pilha de pacotes, sentou-se no braç o qe uma poltrona e retomou o jornal que estava lendo antes da campainha tocar. Enquanto estava matutando, o ruí do da porta da rua interrompeu seus pensamentos e, logo em seguida, Robert Pemberton entrou na sala. Estava vestindo um casaco comprido e justo, com gola de pele. Ele pareceu surpreso por encontrá -la sozinha e olhou em volta, aparentemente ignorando, os pacotes sobre o sofá. — Onde está todo mundo? — Elas foram ao parque. Robert tirou o casaco e Halbird surgiu para ajudá -lo. — Chá, senhor? — Nã o, obrigado, Halbird — respondeu. — Mais tarde, talvez, quando a sra. Pemberton voltar. — Sim, senhor. — Halbird retirou-se e Julie dirigiu-se ao centro da sala, esperando pelo momento em que Robert tocaria no assunto. No entanto, ele parecia determinado a nã o falar, atirando-se em sua poltrona e acendendo um cigarro com uma indiferenç a que chegava a irritá -la. Num dado momento, Julie nã o resistiu mais. — Por que você fez isso? Robert fez-se de desentendido. — Fiz o que, Julie? — Comprou estas coisas. Robert olhou rapidamente para o monte de pacotes. — Eu comprei isso? Julie estava enraivecida. — Bem, foi você, nã o foi? — E se fosse? — Oh, pare com isso! — Julie cerrou os punhos. — Eu disse que nã o queria nada de você. Robert ergueu suas sobrancelhas escuras. — Bem, você me desculpe por desapontá -la, mas eu nã o sou responsá vel por isso. — Nã o foi você? Entã o, quem foi? Sua mã e nã o foi. — Julie estava surpresa. Robert deu de ombros. — Por que nã o? Julie tentava compreender a razã o. — Ela... ela nã o iria... — Bem, desculpe-me por desapontá -la outra vez, mas foi ela. — Robert mediu-a dos pé s à cabeç a. — Acredito que ela tenha achado seu guarda-roupa um tanto inadequado. — Para o inferno o que ela achou! — Julie jogou seus cabelos para trá s desafiadoramente. — Como ela se atreveu a escolher o que vou vestir? Ah, mas é claro. Como foi que eu nã o tinha pensado nisso ainda? Hoje é o dia do jantar, nã o é? Ela ficou com medo de que eu pudesse envergonhá -la. A parente pobre! O rosto de Robert endureceu. — Acalme-se, lulie! Pare de agir como uma crianç a mimada! Se minha mã e decidiu comprar algumas roupas para você, o mí nimo que poderia fazer é sentir-se agradecida. — Por quê? Por que eu deveria me sentir agradecida? Eu nã o pedi nada. Robert levantou-se; sua expressã o era de altivez. — Você me dá ná usea, sabia? — disse friamente. — Nã o tanto quanto você provoca em mim! — respondeu Julie infantilmente. Robert ignorou essa reaç ã o. — Você parece determinada a tornar as coisas difí ceis! — Robert permaneceu de pé, encarando-a. Seus olhos refletiam seu desgosto. Julie lutava para manter-se impassí vel ao menos exteriormente, mas era terrivelmente difí cil enfrentar tanta hostilidade. — Se minhas roupas nã o sã o boas o suficiente para seus amigos entã o eu permanecerei em meu quarto hoje à noite. Robert sacudiu a cabeç a. — Você fará o que eu estou dizendo. — Por que faria? — Julie afastou-se um pouco, em parte com medo da raiva que havia despertado nele. — Sua mã e devia saber como me sentiria. É prová vel que tenha feito de propó sito. Robert hesitou por um momento e, entã o, desabotoando o casaco agachou-se e abriu a tampa da caixa mais pró xima. Dentro havia uma calç a de lã verde-oliva. Ele examinou-a e disse: — Isso ficará bem em você. — Sua voz parecia controlada outra vez. — Você nã o se importa em me humilhar, nã o? Nisso, Robert ergueu-se, colocando a calç a sobre o sofá com cuidado. — Por que deveria? — perguntou asperamente. — Você nã o se importou em me humilhar. Julie encarou-o, seus olhos verdes arregalados, uma veia pulsando-lhe na testa. — Eu humilhei você? — repetiu — Como? — Como você acha que eu me senti quando voltei e a encontrei casada com Michael? Julie levou uma mã o ao pescoç o em atitude defensiva. — Eu preferia nã o falar sobre isso — gaguejou. — Claro que nã o. — Os lá bios de Robert estavam retorcidos. — E o que você poderia dizer depois disso tudo? É irrefutá vel! — Um sorriso cruel desenhou-se em sua boca. — Oh, mas foi bom para mim, Julie. Muito bom. Você fez com que eu percebesse exatamente que estú pido tinha sido. — Você nã o entende! — Julie estava quase gritando. — Oh, entendo perfeitamente, Julie. Parte do que a atraí a, afinal, era o dinheiro, nã o? Eu escapei de suas malhas, mas uma conta bancá ria é tã o boa quanto outra! Julie avanç ou para ele tapando sua boca com a mã o, evitando assim mais comentá rios da sua parte. Nã o sabia o que esperar dele; algumas desculpas, talvez. Mas Robert nà o fez nada, exceto encará -la de uma maneira penetrante, enquanto os dedos dela deixavam marcas vermelhas em seu rosto. Entã o afastou-se, retirando-se abruptamente da sala. Julie olhou para a porta fechada com os olhos cheios de lá grimas. Oh, Deus, pensou, enojada, o que fiz agora? Dando um profundo suspiro, juntou os pacotes e, fazendo duas viagens, levou todas as caixas para seu quarto. Uma vez lá, jogou todas as roupas sobre a cama e procurou cabides para pendurá -las. Nã o conseguia perceber por que fazia aquilo, mas uma coisa era certa: aquelas roupas a capacitaram encontrar-se com Lucy Pemberton em condiç õ es de igualdade.
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