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A Força do Desejo 6 страница



Sentiu-se enjoada e deprimida com essa idé ia. Bastava Dominic olhar de uma certa maneira para ela esquecer completamente a inimizade que havia entre os dois! Ele fazia isso de propó sito? Ou era uma atraç ã o involuntá ria? A menos que ele se divertisse com sua ingenuidade...

Helen estava sem apetite e comeu apenas uma perna do frango assado e duas batatas coradas. Felizmente os dois homens conversaram com animaç ã o e nã o perceberam seu ar tristonho.

— Acho que vou trabalhar até tarde — disse Dominic depois do jantar, acendendo uma cigarrilha na chama da lareira. — Descansei bastante hoje à tarde enquanto você s dois passeavam lá fora. Estou com disposiç ã o para passar a noite em claro...

Bolt balanç ou a cabeç a reprovadoramente.

— Nã o é bom exagerar...

— Nã o tem perigo. — Dominic espreguiç ou-se indolentemente, sem perceber a expressã o frustrada de Helen. — Preciso terminar meu livro antes de mudar daqui.


CAPÍ TULO VI

Helen acordou na manhã seguinte com dor de cabeç a, a garganta ardendo e o nariz escorrendo. Quando Bolt apareceu com o café, insistiu em tomar sua temperatura e recomendou que nã o saí sse da cama, depois de constatar que estava com febre.

— Você pode apanhar uma pneumonia — disse, quando Helen protestou que nã o queria passar o dia todo trancada no quarto. — Essa gripe está vindo há alguns dias, desde a tarde em que você chegou aqui com a roupa ensopada. Fique na cama que eu vou buscar umas garrafas de á gua quente. Você nã o pode se levantar com febre.

Helen concordou, finalmente. Estava fraca, sem â nimo para nada e tinha um bom pretexto para obedecer à s recomendaç õ es de Bolt. Nã o queria pensar qual seria a reaç ã o de Domí nic quando soubesse que estava de cama. Mas, como passou a maior parte do dia dormindo, nã o teve muito tempo livre para se preocupar com esses pensamentos.

Na manhã seguinte, estava muito melhor, mas nã o completamente boa para se levantar da cama. Bolt levou as refeiç õ es no quarto e ouviu seus agradecimentos com o sorriso cordial de sempre. Levou també m alguns livros para ela ler, os romances que estavam na estante da sala. Helen passou o dia inteiro lendo e cochilando. Uma ou duas vezes, ao ouvir passos na escada, prestou atenç ã o, com o corpo tenso, imaginando que Dominic vinha lhe fazer uma visita, mas era apenas Bolt que vinha saber se ela precisava de alguma coisa.

Na manhã do terceiro dia estava praticamente curada. Vestiu o robe de seda e foi abrir a porta quando Bolt chegou com a bandeja do café.

— Estou boa! — exclamou, fitando-o com os olhos brilhantes. — Nã o sei como agradecer todo o trabalho que você teve comigo, os comprimidos que me deu, o xarope para a tosse, as garrafas de á gua quente, as comidinhas que você fez. Nã o sei o que seria de mim sem você.

— Foi um prazer — disse Bolt com um sorriso de satisfaç ã o. — Embora você esteja boa, sugiro que passe a manhã no quarto. Vamos ver como vai estar hoje à tarde. Nã o se precipite.

— Está bom, Bolt, está bom! — disse Helen obedientemente. — O que você preparou para o café? Ah, meu Deus, champignons com bacon! Eu vou engordar como uma baleia...

Depois que Bolt saiu do quarto, Helen foi espiar a paisagem da janela. A manhã estava muito bonita, se bem que ligeiramente encoberta, mas nã o nevava mais desde o dia em que adoecera com a gripe. Deu a volta no quarto e foi ao banheiro lavar o rosto e escovar os dentes. Estava cansada de ficar trancada, desejava sair e dar uma volta pela casa. Podia sentar na sala de estar e ficar deitada no sofá, olhando para a lareira, ou conversar com Bolt na cozinha. Dominic, pelo visto, nã o se importava a mí nima com sua saú de, e nã o se dignara fazer uma visita para saber como estava passando.

Vestiu a calç a jeans e a blusa cor de areia, apanhou a bandeja em cima da mesinha de cabeceira e desceu a escada em direç ã o à cozinha. Bolt nã o estava lá. Deixou a bandeja na pia e olhou em volta. Era engraç ado, mas a casa tinha um ar de famí lia, sensaç ã o que nunca experimentara na casa onde morava com o pai e Isabel.

Depois de prender os cabelos atrá s das orelhas, olhou pela janela da cozinha para ver se Bolt estava por perto. Ele fora fazer compras de novo, ou estava cuidando dos animais no está bulo.

A porta da despensa estava aberta e um ruí do vindo lá de dentro levou-a a se voltar surpresa.

— Bolt! É você que está aí?

Aproximou-se da porta aberta e olhou para o interior. Havia uma outra porta menor no canto da peç a, que estava igualmente escancarada. Intrigada com aquilo, Helen atravessou lentamente a segunda porta e viu um lance de escada que levava ao porã o.

Um arrepio de excitaç ã o percorreu-lhe a espinha. Era como no romance policial que lera no dia anterior. Uma porta secreta... uma escada misteriosa... e alé m dela...

Ela desceu a escada pé ante pé. Tinha certeza agora de que Bolt estava lá embaixo. A escada levava provavelmente ao porã o. Era ali que Bolt estocava os mantimentos.

Ao chegar embaixo, concluiu que estava certa. Foi dar de fato numa despensa iluminada por uma ú nica lâ mpada pendurada no teto. Bolt, poré m, nã o estava lá. Ao olhar em volta, descobriu uma terceira porta ligeiramente entreaberta.

Com a sensaç ã o esquisita de fazer algo proibido, caminhou cautelosamente até a porta e abriu-a silenciosamente, prendendo a respiraç ã o quando viu o que havia do outro lado. Aquela nã o era uma despensa comum. Era um giná sio magnificamente equipado! Tinha barras, argolas suspensas no teto, tensores, halteres de diversos tamanhos, um punch-ball, alé m de muitos aparelhos de exercí cio. Helen caminhou até o meio do quarto, admirada com tudo que via e concluiu que aquele era o local onde Dominic fazia giná stica. Era por isso que tinha o corpo enxuto e musculoso, apesar de sua inatividade forç ada.

No fundo do giná sio, uma outra porta pequena dava para um quartinho, revestido de compensado e com um chuveiro ao lado. Estava muito quente ali e Helen começ ou a transpirar profusamente. O calor vinha da outra porta que havia à esquerda. Girou a maç aneta de leve, sem fazer ruí do, e espiou para dentro. Um sentimento de excitaç ã o assaltou-a. O quartinho era uma sauna, iluminado apenas por uma lâ mpada laranja, e estava terrivelmente quente lá dentro. Um homem estava deitado de bruç os sobre uma prancha revestida de courvin e, antes mesmo que o tivesse identificado, ela ouviu a voz sonora que conhecia tã o bem.

— Pelo amor de Deus, Bolt, ande depressa! Tenho trabalho me esperando...

Helen prendeu a respiraç ã o. Dominic ouvira a porta abrir e pensou que era Bolt que estava de volta. Se ele se voltasse e a visse ali...

O rosto dela estava pegando fogo. Nunca tinha visto um homem completamente nu antes.

Enquanto hesitava entre fechar a porta e voltar para o outro quarto, viu Dominic apontar para um local nas costas.

— E aqui que está doendo.

Helen sentiu uma contraç ã o nervosa na boca do estô mago. Se nã o fizesse algo imediatamente, Dominic se voltaria e a avistaria ali, parada e boquiaberta como uma idiota. Tinha que dar o fora enquanto era tempo, em vez de correr o risco de ser descoberta. Entretanto, algo mais forte que a vontade de ir embora fez com que permanecesse paralisada no lugar. Sabia que estava se comportando como uma perfeita idiota, que corria o perigo de ser humilhada novamente. Fechou no entanto a porta atrá s de si e deu um passo em frente. Ela adivinhara corretamente. Bolt era massagista e talvez pudesse fazer uma massagem nas costas de Dominic sem ele perceber a diferenç a.

Suas mã os estavam trê mulas quando as colocou nas costas dele e começ ou a amassar os mú sculos que suportam a espinha. Houve um momento em que Dominic contraiu o corpo e Helen pensou que ele ia virar-se e avistá -la. No instante seguinte, poré m, ele tornou a relaxar a musculatura e sua confianç a lhe deu maior liberdade de movimento. Ela massageou a carne com firmeza, estimulando a circulaç ã o e afrouxando os mú sculos tensos. O calor da sauna era sufocante e começ ou a transpirar em bicas, sobretudo porque estava vestida. Estava ofegante, com os braç os doendo, prestes a ceder ao cansaç o, quando Dominic virou de lado e puxou a toalha em volta da cintura.

Helen encarou-o boquiaberta, mas a fisionomia dele nã o expressava a menor surpresa.

— Muito obrigado pela massagem — disse, sem o menor embaraç o.

Helen estava vermelha e molhada de suor. Dominic era realmente irresistí vel quando estava de bom humor e ela sentira um prazer enorme em apalpar seus mú sculos.

— Como você sabia que era eu?

Dominic sorriu, com o sorriso indolente que ela conhecia tã o bem.

— Bolt tem a mã o pesada. Por que você fez isso?

Helen olhou para as mã os ú midas com um gesto involuntá rio.

— Porque estava com vontade.

Ele sentou-se na prancha com um movimento á gil.

— Você faz tudo que tem vontade? Mesmo algo provocante?

— Isso é provocante?

Felizmente a luz amarela da sauna encobria a expressã o do rosto.

— Você sabe que é.

Gotinhas de suor rolavam pelo peito e pelos braç os musculosos.

Os cabelos estavam mais escuros na atmosfera ú mida do quarto. Helen nã o se moveu de onde estava. O rosto dele estava na mesma altura do seu e nã o havia nenhuma ironia nos olhos castanhos que a fitavam em silê ncio. Pelo contrá rio, tinham uma maciez sensual inquietante, e ela sentiu um nó na garganta.

Dominic estendeu a mã o e segurou-a pelo pescoç o, por baixo dos cabelos soltos, enquanto acariciava o queixo com o polegar. Ela nã o se moveu, mesmo assim. Estava literalmente imobilizada naquele lugar.

— Ah, você! — murmurou Dominic com a voz rouca, puxando-a para perto de si, com a boca roç ando de leve a face corada, os lá bios vermelhos ligeiramente entreabertos.

Ela estava agachada junto dele, com os joelhos trê mulos, aguardando com ansiedade a sensaç ã o de ná usea que ocorria normalmente quando era beijada por um homem. Mas nã o sentiu nada. Pelo contrá rio, aproximou ainda mais o rosto do dele, procurou sua boca e, quando seus lá bios se encontraram finalmente, todas as idé ias que tinha antes sobre o beijo se desfizeram diante da emoç ã o que experimentou nos braç os dele. A boca que entreabriu a sua nã o era mole e ú mida como a de Mike. Era firme e possessiva, e a pressã o da mã o sobre a nuca cresceu até que ela caiu em cima da prancha e foi estreitada com forç a pelos braç os suados. Dominic estendeu as pernas no chã o e apertou-a contra si, enquanto a cobria de beijos.

— Ah, meu Deus! — balbuciou Dominic, abaixando a cabeç a em direç ã o à cavidade perfumada entre os seios, visí vel por baixo da gola aberta da blusa. — Isso é uma loucura!

Helen mal ouviu suas palavras. Abraç ava-o sofregamente e apertava os cabelos que caí am sobre a nuca. Nã o pensava coisa com coisa. Somente Dominic e ela existiam naquele momento e era imperativo que ele continuasse a beijá -la de seu jeito ansioso e apaixonado, o que a fazia totalmente consciente da masculinidade palpitante dele.

As mã os dele afrouxaram finalmente e, com um esforç o supremo, afastou-a de si. Levantou-se e passou a toalha em volta da cintura. Correu os dedos por entre os cabelos revoltos e recuou alguns passos, apoiando-se na perna dolorida.

Helen observou-o sem se mover.

— Dominic! — murmurou por fim. — O que foi?

Ele lanç ou um olhar de impaciê ncia por cima dos ombros.

— Nã o é possí vel que você seja tã o ingê nua assim! Você sabe que isso está errado. Você nã o tem idé ia do que se passa comigo?

— Eu sei o que se passa comigo — disse ela, com os lá bios secos.

Dominic voltou-se com impaciê ncia.

— Você nã o devia ter vindo aqui! Eu nã o devia ter deixado... Interrompeu o que ia dizer. — Olhe, é melhor você subir...

Helen contemplou-o perplexa, sem saber o que pensar. Nã o podia aceitar sua despedida sumá ria. Estava ardendo de emoç ã o, cujo significado entendia vagamente, mas tinha certeza de que Dominic era o causador desse fogo que a consumia.

— Dominic — suplicou de novo. — Nã o fique com raiva de mim!

— Com raiva? Com raiva? Santo Deus, o que você espera de mim? — Fez um gesto brusco com a perna e um espasmo de dor atravessou seu rosto. — Helen, por favor, vá embora daqui! Agora! Antes que eu mude de idé ia.

Helen nã o se moveu de onde estava. Nesse momento, a porta abriu e Bolt os surpreendeu juntos, como acontecera há trê s dias atrá s. Dessa vez, poré m, sua reaç ã o foi mais espontâ nea.

— Veja, você está ensopada de suor! — exclamou, ao se aproximar de Helen e pô r a mã o na testa. — Você está pegando fogo! O que andou fazendo, criatura? Você quer ficar doente de novo?

Helen afastou com relutâ ncia o olhar de Dominic.

— Estou bem, Bolt. Nã o houve nada. Estou suando porque aqui dentro está um forno.

Bolt estalou a lí ngua com impaciê ncia.

— Acho bom você tomar um banho quente no chuveiro e trocar essa roupa molhada!

— Nã o é preciso!

— Como nã o é preciso? Você está ensopada e febril. Vá tomar um banho quente e trocar de roupa, como estou dizendo! — Colocou o vidro de ó leo no chã o e voltou-se para Dominic. — Volto num minuto!

Dominic assentiu com a cabeç a e se afastou alguns passos. Bolt puxou Helen pelo braç o e levou-a em direç ã o ao quartinho para trocar de roupa.

— Ali é o chuveiro — disse, fechando a porta. — Onde estã o suas roupas?

— No armá rio. Na gaveta estã o as roupas de baixo. A calç a comprida e o pulô ver estã o pendurados nos cabides.

— Bom — disse Bolt satisfeito. — Eu volto num minuto.

Era uma delí cia tomar um banho de chuveiro pelando com o corpo suado e Helen demorou-se um instante embaixo do jato forte de á gua quente enquanto pensava nos acontecimentos recentes. Reviveu os ú ltimos minutos em detalhe, sentindo um prazer muito especial ao lembrar os beijos trocados, a firmeza sensual do corpo enxuto e musculoso dele. Fechou os olhos e sentiu de novo o desejo violento que Dominic despertava nela. Nenhum homem até entã o provocara algo semelhante, deixando-a com uma fome que somente o abandono completo podia saciar.

O rosto estava em brasa. No fundo, admitia tranqü ilamente o desejo de fazer amor com o homem que a mantinha presa naquela casa! Devia estar louca! Doida varrida, como Dominic dera a entender minutos antes.

Voltou pouco a pouco à sobriedade. O banheirinho estava começ ando a esfriar e ela també m. Cometera o mesmo erro de novo. Permitira que Dominic a surpreendesse com a guarda abaixada. Ou isso era normal? Nã o era ela a culpada, no fundo? Nã o o provocara primeiro?

Algué m bateu na porta.

— Quem é? — perguntou, tiritando de frio.

— Sou eu, Bolt. Suas roupas estã o aqui.

— Muito obrigada. Vou sair num minuto...

Depois de trocar de roupa, Helen sentiu-se outra. Como nã o queria dar mais trabalho a Bolt, pensou em lavar as roupas no tanque. Quando chegou ao andar té rreo, no entanto, ocorreu-lhe um pensamento repentino: se Dominic estava na sauna e Bolt fazia massagem na perna dolorida, o escritó rio estava vazio.

Com o coraç ã o batendo, deixou as roupas empilhadas num canto da cozinha e correu em direç ã o ao hall. Felizmente nã o havia sinal de Sheba por perto; mesmo assim, abriu a porta com todo cuidado. O escritó rio estava vazio, como esperava; depois de empurrar a porta atrá s de si, correu até a ú ltima janela onde tinha visto o telefone alguns dias antes. Puxou a cortina para o lado. O telefone estava ali, como supunha, e seus dedos tremiam quando segurou o fone na mã o. Para quem iria telefonar? Para o pai, em Londres, ou para a polí cia local? Nã o, a polí cia nã o, decidiu rapidamente. Nã o queria envolver a polí cia nesse caso.

Levou o fone ao ouvido e, com a testa franzida de perplexidade, viu o que nã o tinha notado até entã o: o fio do telefone estava solto na parede. Estava balanç ando na sua mã o. Fora desligado por algué m.

Largou o fone no gancho como se ele queimasse sua mã o e deu um passo atrá s, perplexa. Sentiu uma enorme sensaç ã o de culpa, fora de proporç ã o com o que tinha feito. Afinal, Dominic nã o lhe proibira usar o telefone. Fora ela que o descobrira no canto da sala e imaginara que estava funcionando. Isso provava apenas que Dominic nã o mentira quando afirmara que nã o havia telefone na casa.

Desanimada, com os ombros caí dos, puxou a cortina e escondeu o telefone da vista. Estava contente com o fato de ningué m ter presenciado sua tentativa inú til. Subiu lentamente a escada em direç ã o ao quarto. Nã o podia mais contar com o telefone. Aquele caminho de fuga estava fora de cogitaç ã o. A ú nica esperanç a agora era o jipe, que estava guardado na garagem.

Nã o teve â nimo para descer ao salã o antes do almoç o. Deu a si mesma a desculpa de que estava deprimida, mas a verdade é que nã o queria encontrar-se novamente com Dominic. Ainda nã o... Quando desceu finalmente para o almoç o, encontrou Bolt ocupado na cozinha, preparando a mesa para os dois. Ele pareceu muito contente ao vê -la.

— Ah, você está aí! Estava começ ando a pensar que ia almoç ar sozinho. Você dormiu um pouco?

— Nã o, estava descansando.

— Fez bem.

Enquanto Bolt terminava o almoç o, Helen sentou-se no banquinho, com as mã os irrequietas em cima da mesa.

— Dominic nã o vem? — perguntou por fim.

— Ele vai comer um sanduí che no escritó rio — disse Bolt, escorrendo os legumes.

— Ah! — exclamou Helen, visivelmente contrariada com a notí cia.

— Escute, você quer um conselho de amigo? — perguntou Bolt, voltando-se para ela. — Nã o se envolva enquanto estiver aqui. É para seu bem.

Helen concentrou o olhar na tá bua gasta da mesa.

— Por que você diz isso?

— Você sabe muito bem por que. Eu nã o tenho nada com isso, e você pode me mandar pastar, mas eu nã o sou cego, filha. Posso adivinhar o que aconteceu hoje de manhã lá na sauna.

— Por quê? Isso já aconteceu alguma vez antes?

Bolt lanç ou-lhe um olhar de impaciê ncia.

— Nã o, nunca. Mas eu conheç o Dominic muito bem e espero que você tenha o bom senso de...

— Nã o foi culpa dele! — exclamou Helen vermelha. — Se é isso que você está querendo dizer...

Bolt sacudiu a cabeç a incredulamente.

— Nã o é isso. Apenas nã o gostaria que você sofresse à toa.

— Por que haveria de sofrer?

— Porque você vai acabar se envolvendo.

— E que mal tem isso?

Bolt deu um suspiro e sentou-se na cadeira do outro lado da mesa.

— Olhe, vou lhe contar uma coisa que pouca gente sabe. Dominic se julga culpado pelo acidente... o desastre em que o irmã o morreu.

— Por quê? — perguntou Helen surpresa.

— Nã o posso contar. Alé m disso, é uma histó ria muito longa.

— Ah, nã o; conte! — suplicou Helen, com os cotovelos em cima da mesa. — Por favor, Bolt, eu preciso saber!

Bolt balanç ou a cabeç a, indeciso.

— Dominic nã o gostaria que eu contasse.

— Ele nã o precisa saber.

— E depois, quando você sair daqui e voltar para casa?

— Juro que nã o vou contar nada a ningué m!

Bolt sacudiu a cabeç a incredulamente.

— A gente sempre diz isso.

Helen encarou-o no fundo do olhos.

— Eu nã o tenho o costume de mentir.

— Nã o estou dizendo que sim. Mas você pode mencionar o fato sem querer, um dia...

— Ah, Bolt, por favor, conte! — exclamou, colocando o rosto entre as mã os.

Bolt contemplou-a em silê ncio durante alguns segundos.

— É tarde demais — disse por fim. — Você já se deixou envolver.

— Nã o sei. Eu nã o quero me envolver com Dominic. Estou sempre dizendo a mim mesma que deveria odiá -lo por me manter presa aqui... mas nã o consigo. — Ela deu um suspiro. — E pensar que saí de casa para fugir dos homens!

— Você tem certeza de que nã o está confundindo simpatia com outra coisa?

Helen deu uma risada sem graç a.

— Pode ser. Nã o sei o que pensar. Só sei que, quando ele chega perto de mim, fico toda arrepiada. Diga uma coisa, Bolt. O defeito na perna é para sempre?

— Provavelmente. Parte do quadril foi esmagada no acidente. Os mé dicos removeram as lascas do osso.

— Ah, que horror!

— Na é poca, quando ele se recuperou do ferimento inicial, o mé dico queria operá -lo de novo e enxertar um pedaç o de osso para substituir o que foi removido, mas Dominic recusou terminantemente.

— Por quê?

— Nã o sei. Todos eram favorá veis à operaç ã o. Mas ele foi inflexí vel, como se quisesse conservar para sempre uma recordaç ã o do acidente. — Bolt deu um suspiro. — A perna começ a a doer quando ele fica muito tempo em pé, e a dor se transmite à coluna. É por isso que ele faz massagem.

— Eu sei, tenho um pouco de experiê ncia nessas coisas. Mamã e tinha enxaquecas terrí veis e costumava fazer massagem nas tê mporas e na nuca. — Levantou a cabeç a e fitou-o com atenç ã o. — Conte por que Dominic se julga culpado pelo acidente.

Bolt levantou-se da cadeira.

— Bem, ele pensa que o irmã o tentou se suicidar quando descobriu que a mulher o traí a.

— Nã o!

— Francis conheceu Christina quando estava servindo em Chipre. Casou-se lá sem contar nada a ningué m e voltou com ela para casa. Christina era totalmente desmiolada. Mal conheceu Dominic, apaixonou-se por ele. Convenceu Francis a sair do Exé rcito e entrar para as provas de competiç ã o, como seu irmã o. Francis, poré m, nã o tinha jeito nenhum para piloto, mas estava completamente apaixonado pela mulher e teria feito qualquer coisa para agradá -la. Ele chegou a participar de algumas provas, mas isso nã o bastou, evidentemente. Dominic ganhava as corridas em que tomava parte e Christina queria que o marido fosse igualmente um campeã o.

 — E Dominic? Como reagiu a isso?

 — Dominic, naturalmente, nã o estava interessado nela. Primeiro porque era a mulher do seu irmã o, depois porque Christina nã o era seu tipo...

- E aí?

— Na vé spera da corrida na Alemanha, nó s todos está vamos hospedados no mesmo hotel, perto da pista. Naquela noite, Francis e Christina tiveram uma briga terrí vel. Estavam sempre brigando, por sinal. Christina queria sair, mas Francis precisava descansar antes da prova. As corridas de carro sã o um esporte violento e exigem uma forma fí sica perfeita. No fim, ela acabou saindo sozinha. Como nã o tinha voltado até a meia-noite; Francis e Dominic resolveram sair à sua procura, cada um para um lado. Dominic encontrou-a, finalmente, numa cervejaria muito freqü entada, conversando com alguns homens. Christina estava de pileque e Dominic foi obrigado a se desembaraç ar dos fã s antes de levá -la embora. Christina interpretou mal seu gesto. Quando Francis apareceu, pouco depois, disse que nã o gostava dele, que gostava de Dominic e que Dominic gostava dela. Por mais que Dominic negasse o fato, Francis acreditou na mulher.

— Ah, meu Deus!

— Está vendo por que eu nã o queria contar?

— Mas eu quero saber! O que aconteceu depois?

— O resto você já sabe. Francis derrapou na pista, perdeu o controle do carro e foi abalroado por dois outros competidores, sendo que um deles era Dominic. Francis e o outro corredor morreram na hora, Dominic ficou gravemente ferido.

Helen ouviu em silê ncio o final da tragé dia.

— E aí? O que aconteceu com Christina?

— Voltou para Chipre. Ela ainda queria casar com Dominic, mas ele nã o podia nem ouvir falar nela.

— Ela devia gostar dele, nesse caso.

— Pode ser, à sua maneira. — Bolt começ ou a cortar a carne assada. — Dominic nã o quis mais saber de mulheres, depois do acidente. A tragé dia teve repercussõ es, mais sé rias do que se podia esperar. O pai dele sofreu um ataque do coraç ã o e nunca mais se recuperou. A mã e morreu alguns meses depois do marido.

— Que horror!

Bolt voltou-se e encarou o rosto desfeito...

— Entende agora por que essa histó ria nã o pode ser divulgada?

— Entendo. — Helen juntou as mã os em cima da mesa. — Mas

Dominic nã o foi culpado!

— Claro que nã o. A pista estava escorregadia e Francis nã o foi o ú nico que derrapou. Foi um acidente. Mas quando uma coisa dessas acontece e você nã o está em bons termos com a pessoa que sofreu o acidente, acaba se julgando responsá vel pelo fato. Dominic nã o podia julgar o incidente com imparcialidade. Sobretudo em vista do que aconteceu depois. Foi por isso que ele decidiu sumir do mapa.

— E agora?

— Agora, felizmente, ele está ocupado com o livro. Ele escreveu um outro antes, sobre o pai. Foi filmado.

— Ele nã o me disse nada. O filme teve sucesso?

— Bastante. Ele ganhou muito dinheiro. Mas nem por isso mudou de atitude.

Bolt colocou a travessa de carne com legumes no meio da mesa.

— Você acha que ele vai mudar, algum dia? — insistiu Helen.

— Nã o sei... Tenho minhas dú vidas. Foi por isso que achei que devia avisá -la.

Helen olhou para as mã os abertas em cima da mesa.

— Eu nã o sou mais crianç a, Bolt. Entendo as coisas.

— Eu sei disso. Mas nã o adianta sonhar com o impossí vel. Nã o espere nada para nã o se decepcionar depois.

— Essa é uma atitude muito cô moda.

— Pode ser, mas, como disse antes, eu nã o gostaria que você sofresse à toa.


CAPÍ TULO VII

Nevou novamente à tarde. Helen estava de pé, diante da janela da cozinha, admirando a paisagem de inverno e lamentando que nã o pudesse dar um passeio lá fora. Quanto tempo ia durar a nevada? Ela tinha a impressã o de que fazia muito tempo que estava naquela casa. Tanta coisa acontecera naquela semana que a vida em Londres parecia uma coisa remota e irreal.

Afastou-se da janela e olhou para a cozinha com os braç os encolhidos em cima do peito. Bolt estava cuidando dos animais, mas nã o deixara que ela o acompanhasse. Nã o fizera objeç ã o. Estava extremamente abatida e sem disposiç ã o para nada. A despeito do que Bolt dissera, sua imaginaç ã o voltava incessantemente à cena no quartinho da sauna, e agora que nã o podia telefonar pedindo socorro, nã o tinha outro pretexto para ocupar seus pensamentos. Sabia que se conduzira irrefletidamente, ao deixar que os desejos fí sicos tomassem conta de sua razã o. Ela, que sempre fora uma criatura controlada e sensata, exibira uma falta completa de controle e de compostura diante de Dominic.



  

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