Хелпикс

Главная

Контакты

Случайная статья





A Força do Desejo 7 страница



Deu um suspiro fundo e andou de um lado para o outro da cozinha. Fora tudo por culpa sua. Tomara a iniciativa, tocara primeiro na pele morena, usara a massagem como forma de carí cia. Mas aquilo tinha sido um impulso irresistí vel e o que acontecera depois deixava seu rosto pegando fogo, só de lembrar. Com as pernas moles passou os dedos pela nuca, por baixo dos cabelos, e sentiu os mú sculos se contraí rem sob a pressã o dos dedos. Enfiou a mã o por debaixo do pulô ver e tocou no ponto entre os seios onde Dominic pousara os lá bios. Arrepiou-se toda. Nunca sentira isso com mais ningué m, e odesâ nimo profundo atual decorria da frustraç ã o de seus desejos insatisfeitos. Sabia agora o que era desejar um homem, mas nã o qualquer homem. Um homem como Dominic.

Saiu da cozinha. Tinha receio de que Bolt voltasse e a encontrasse naquele estado. Seus sentimentos a assustavam um pouco e tinha vergonha da fraqueza que Dominic despertara nela. Foi para o quarto e atirou-se na cama, contemplando os flocos brancos que caí am sobre as á rvores. Estava começ ando a admitir que nã o podia permanecer mais um minuto naquela casa. A estadia forç ada do iní cio se transformara pouco a pouco numa prisã o doce-amarga de um tipo muito mais sutil. Nã o queria mais afastar-se dali, essa era a verdade! Ao pensar isso, levantou-se da cama com a fisionomia abalada. O que faria agora? O que podia fazer? O que desejava fazer?

Aproximou-se da janela e lembrou-se de tudo o que Bolt contara na hora do almoç o. Bolt conhecia Dominic melhor do que ningué m, mas nã o podia adivinhar o que se passara exatamente entre os dois. Ela cruzou os braç os em cima do peito e esfregou as palmas nos ombros. Mais cedo ou mais tarde ia encontrar-se novamente a só s com Dominic e saberia entã o se Bolt dissera ou nã o a verdade.

Helen permaneceu no quarto o resto da tarde. Pouco antes do jantar, poré m, tomou banho e pô s o vestido longo de crepe preto que combinava com a brancura de sua pele. Era de um feitio simples, mas o caimento elegante chamava a atenç ã o para as curvas do corpo. Soltou os cabelos em cima dos ombros e aprovou a imagem que viu quando se mirou no espelho da penteadeira.

Alguns minutos depois, dirigiu-se à sala de estar. Nã o havia ningué m ali, e seus lá bios se contraí ram de frustraç ã o. Dominic ia deixá -la mais uma vez sozinha na companhia de Bolt? Era essa sua maneira de dizer que nã o desejava que o incidente anterior se repetisse entre os dois? Permaneceu um instante no meio da sala, mordendo o lá bio de despeito, até que ouviu a porta se abrir à s suas costas. Voltou-se com um movimento brusco e avistou Dominic em pé junto à soleira.

Nessa noite ele estava com uma camisa azul-marinho, calç a de veludo da mesma cor e um colete de couro desabotoado na frente. Os olhos castanhos a fixaram com insistê ncia e Helen abaixou os seus, sem jeito.

Ele entrou mancando na sala e dirigiu-se à sua cadeira preferida, diante da lareira. Ao passar por perto dela, a bota roç ou de leve em sua saia comprida.

— Por que você está me olhando com essa cara? — perguntou com impaciê ncia. — Nã o vou pular em cima de você! Nã o precisa ter medo...

— Eu sei disso — murmurou Helen, com um suspiro. — Você melhorou?

 — Depois da massagem que você me fez?

Helen corou violentamente.

— Nã o seja ruim.

— O que você sugere em vez disso?

— Você podia perguntar como estou passando.

— Para quê? Estou vendo que você está completamente curada.

— Você nã o foi me visitar nenhuma vez, quando eu estava de cama.

— Você gostaria que tivesse ido?

— Teria sido um gesto educado de sua parte — disse ela, abaixando a cabeç a.

— E você espera que eu me conduza como um homem educado?

Se nã o estou enganado, você disse que eu era um homem deformado... fí sica e mentalmente.

Helen contemplou-o com um tremor.

— Isso foi no iní cio, antes de conhecê -lo.

— E quem disse que você me conhece?

Helen fez um gesto de sú plica.

— Por favor, será que nã o podemos conversar como pessoas educadas?

— Claro que sim. Sobre o que você deseja conversar?

Ela apertou as mã os com nervosismo.

— Você está fingindo que nã o me entende de propó sito.

— Pelo contrá rio. Estou entendendo perfeitamente aonde você quer chegar.

Nesse momento, felizmente, Bolt entrou na sala e interrompeu a conversa tensa entre os dois. Trazia na mã o a bandeja, cheirosa com o jantar que tinha preparado. Helen esperava que Dominic fosse convidá -lo para fazer companhia aos dois, mas Dominic nã o o convidou, e ela nã o sabia dizer quem ficou mais surpreso com isso, se Bolt ou ela.

Durante o jantar, Dominic esforç ou-se para conversar educadamente sobre livros, a vida na cidade, os lugares que tinha visitado, encorajando-a a contar, por sua vez, a vida que levava com o pai e Isabel em Londres. Helen repetiu o que havia dito a Bolt alguns dias antes e compreendeu, pela interpretaç ã o de Dominic, que o pai sentira muito sozinho, apó s a morte da mulher, e procurara ter sucesso nos negó cios como uma forma de compensaç ã o. Dominic provavelmente estava usando sua experiê ncia pró pria para explicar o comportamento do seu pai. A ú nica coisa que Helen nã o abordou foi o namoro com Mike, como se esse fosse um assunto proibido entre os dois.

Em dado momento, ela comentou que as pessoas precisavam ouvir a opiniã o dos outros para entender seus problemas pessoais.

— Você, por exemplo, estava muito envolvido no caso para ter uma idé ia exata do que aconteceu com seu irmã o — concluiu Helen.

— Quem lhe falou a respeito disso? — perguntou Dominic com os olhos apertados. — Ah, nã o precisa dizer. Já sei. Foi Bolt, evidentemente. Eu sabia que ele nã o ia guardar segredo muito tempo.

Helen sentiu-se um trapo de repente.

— Ah, por favor, nã o ponha a culpa em Bolt. Fui eu que insisti em saber. Ele apenas respondeu à s perguntas que eu fiz.

— Ele nã o devia comentar esse assunto com ningué m.

— Nó s nã o comentamos o assunto. Ele simplesmente contou os fatos.

Dominic levantou-se, fez uma careta de dor devido ao movimento brusco da perna e ficou parado um instante, olhando para o chã o com a cabeç a inclinada. Em seguida, atravessou lentamente a sala. como se procurasse controlar a raiva que sentia. Helen levantou a cabeç a ao vê -lo afastar-se e, no impulso do momento, ergueu-se da cadeira e ajoelhou-se em cima do sofá, voltada para ele. Desejando de todo o coraç ã o desfazer o mal-entendido.

— Dominic! — disse em voz alta. Ele se voltou e encarou-a com olhos frios. — Que diferenç a faz que Bolt tenha ou nã o me contado? Tudo isso aconteceu há tanto tempo... Nã o podemos conversar calmamente sem nos agredir?

Ele continuou apoiado pesadamente na perna defeituosa.

— Por que eu haveria de conversar sobre isso?

— Porque eu queria ajudá -lo.

— Realmente? — Aproximou-se do sofá. — De que maneira você pode me ajudar?

— Posso mostrar a você como as coisas aconteceram na realidade. Mostrar que as pessoas nã o sã o tã o má s como você supõ e. Você precisa aprender a conviver de novo com os outros...

— E quem disse que nã o estou contente com a vida que levo? Quem disse que desejo voltar para o mundo?

Helen sentou-se em cima dos calcanhares, sentindo-se derrotada.

— Como você pode saber? Você nã o tentou. Você tem medo de experimentar.

Ela disse isso em voz baixa, como se pensasse consigo mesma, e ficou atô nita com a reaç ã o que suas palavras produziram. Dominic aproximou-se do sofá com um movimento á gil das pernas, segurou-a pelos cabelos e torceu-os com toda forç a.

— O que você sabe da dor? — perguntou cruelmente. — Você fala de objetividade, de compreensã o. Mas o que você sabe a respeito de passar meses deitado numa cama de um hospital, mais morto que vivo, desejando ter morrido no acidente? Algué m pode ser compreensivo a esse respeito? Algué m pode compreender a forç a que destró i um homem e deixa o outro aleijado a vida toda?

— Você podia ter feito a operaç ã o — protestou Helen, levando a mã o à cabeç a dolorida.

— Prefiro me lembrar do que aconteceu. Alé m disso, nã o quero andar com um pino de metal dentro de mim. Meu quadril estava deformado mas pelo menos é meu, nã o é nenhum aparelho estranho

— Dominic, você está me machucando!

— Procure ser objetiva sobre isso! — disse ele com um risinho cruel.

— Você nã o pensa isso! — exclamou Helen com voz sumida.

Dominic abaixou a cabeç a e sentou-se ao lado dela no sofá. Segurou-a pelas mã os e levou as palmas abertas aos lá bios.

— Por favor, nã o olhe para mim com essa cara! Eu nã o quis feri-la. Foi sem querer...

Helen olhou em silê ncio para a cabeç a inclinada na sua frente. A pressã o dos lá bios sobre a palma da mã o era uma seduç ã o silenciosa e sutil. Ela estremeceu quando Dominic lhe colocou a mã o no pescoç o e acariciou a pele sensí vel embaixo da orelha; afastou em seguida a gola do vestido e expô s a carne macia ao contato dos dedos.

Helen nã o podia mover-se, mesmo que quisesse. O poder dele era tanto que nã o conseguia lhe negar nada. Quando ele pousou as mã os dela no seu peito, ela se atrapalhou com os botõ es da camisa, de tã o trê mula que estava.

— Ah, Helen — murmurou-lhe Dominic ao ouvido. — Você nã o sabe o que está fazendo comigo...

Ela nã o podia responder porque estava com a boca coberta pela dele, e nã o pensou em mais nada. Passou-lhe os braç os em volta do pescoç o e deitou-se ao comprido no sofá, abraç ada com ele, as bocas e corpos colados. Os beijos que trocavam se tornavam mais longos, mais lâ nguidos e infinitamente mais inquietantes. Uma letargia crescente tomava conta dela. O fato de poder tocá -lo e acariciá -lo à vontade parecia aumentar mais ainda seu prazer. Nã o desejava outra coisa a nã o ser passar o resto da noite ali, naquela sala à meia-luz, fazendo amor com ele...

— Eu o amo, Dominic — murmurou, por baixo de sua boca, mas imediatamente o corpo dele se afastou. — Dominic — disse Helen, apoiando-se no cotovelo, fixando-o atentamente. — O que foi? Eu disse que gosto de você. É verdade. Eu gosto muito de você.

— Eu nã o quero saber — respondeu com impaciê ncia, atirando as pernas no chã o e levantando-se do sofá com um movimento á gil do tronco. — Você nã o sabe do que está falando.

— Eu sei! Eu sei! — exclamou Helen aflita. — O que foi que aconteceu? Por que você se levantou?

Ele a fitou com frieza, endireitou a camisa para dentro da calç a, apanhou o colete caí do no chã o e vestiu-o lentamente.

— Eu nã o gosto de ningué m — disse com voz clara. — O amor nã o conta para mim.

Helen deu uma exclamaç ã o de espanto sem querer.

— Mas como? Você me beijou há pouco!

— Eu queria fazer amor com você e pensei que você també m quisesse.

— Eu queria — exclamou Helen, com a respiraç ã o ofegante.

— Queria mesmo? E você estava preparada para esquecer o fato mais tarde?

— Esquecer que nó s fizemos amor? — Helen sentou-se no sofá e ajeitou a gola do vestido. — Dominic... eu nã o acredito que você seja indiferente a mim.

Ele a fixou em silê ncio durante alguns segundos, com o rosto fechado; caminhou em seguida para a cadeira, sentou-se, apanhou a garrafa de uí sque e serviu-se de uma dose dupla.

— Eu a desejo... só isso.

O rosto dela refletiu a decepç ã o profunda que essas palavras cruas produziram.

— Você nã o devia dizer isso! Nã o é verdade!

— O que você pode esperar de algué m deformado como eu?

— Por favor, Dominic...

— Pare de choramingar! Nã o quero mais falar nesse assunto. Eu nã o quero mais conversar com você, está bom? Você me cansa.

— É mentira! — exclamou Helen com a voz trê mula. — Você nã o pensa nada disso. Eu nã o acredito em você!

— Nã o? Você se julga irresistí vel, por acaso? Eu já tive antes essas intimidades, com outras mulheres... e senti um prazer maior, para seu governo!

Helen nã o suportou ouvir mais. Levantou-se com dignidade e fitou-o com uma expressã o de angú stia no olhar.

— Você é odioso! — balbuciou. — Odioso! Nã o sei como pude julgá -lo um homem decente como deixei você tocar em mim! Eu o desprezo. Eu o odeio de todo o coraç ã o!

— Ó timo — disse Dominic, encostando-se na cadeira com uma indiferenç a aparente. — É assim que eu gosto. Agora, como estamos na minha casa, eu lhe peç o a gentileza de sair da sala. Quero me embebedar sozinho.

Helen saiu lentamente e subiu a escada que levava ao quarto. Ao chegar lá, jogou-se na cama e desabou num choro convulsivo. Depois que a crise passou, continuou deitada, completamente apagada de qualquer emoç ã o.

Mais tarde, levantou-se da cama e rasgou o vestido preto de crepe que estava usando aquela noite. Nunca mais queria vê -lo na sua frente! Fez uma bola com o pano rasgado e jogou-a no fundo do guarda-roupa.

Depois ficou parada no meio do quarto, só com a roupa de baixo, imaginando como faria para suportar mais uma noite naquela casa. Nã o adiantava repetir consigo mesma que Dominic era odioso e desprezí vel. Era inú til dizer que o odiava de todo o coraç ã o. Ela sabia no í ntimo que nã o era verdade. Continuava gostando dele como antes, talvez mais do que antes. E isso era pior de suportar do que a raiva e a frustraç ã o que sofrerá nos primeiros dias naquela casa.

Bolt tinha razã o. Devia ter ouvido seu conselho. Naturalmente, nã o ia pedir socorro a Bolt agora, mas havia ainda a possibilidade do jipe guardado na garagem. Quanto mais pensava nisso, mais urgente se tornava a decisã o de partir o quanto antes.

Deu um suspiro de cansaç o. O que podia acontecer alé m do que tinha acontecido? Viver naquela casa com Dominic tinha efeitos estranhos sobre ela, e tinha medo de que, mais cedo ou mais tarde, nã o resistisse ao desejo de provar o fruto proibido da experiê ncia sexual. Isso podia ocorrer inesperadamente. Apesar do que ele dissera, ela tinha certeza de que exercia uma atraç ã o forte sobre ele, embora a motivaç ã o dele nã o fosse semelhante à sua. Dominic apenas a desejava, enquanto ela...

Com um movimento de desâ nimo, retirou a combinaç ã o e apanhou no armá rio a calç a comprida e o pulô ver branco. Vestida de novo, refletiu sobre seu plano. Já passava das dez. Bolt ia subir dentro de alguns minutos e, se Dominic pretendia embebedar-se, como dissera, nã o teria problemas com ele. Restava apenas Sheba. Ela dormia na cozinha, como Bolt informara, e teria que sair pela porta da frente. Nã o havia outro jeito. Era agora ou nunca.

Pelas onze e meia, a casa estava completamente silenciosa. Helen olhou pela cortina e viu que continuava a nevar. Que diferenç a fazia? De qualquer maneira, a estrada estava coberta da neve dos dias anteriores.

Desceu em silê ncio a escada e apanhou o casaco grosso no corredor. Alé m da bolsa a tiracolo, nã o levava mais nada consigo. Ia deixar todas as coisas na casa.

A porta da frente estava fechada com trinco. Felizmente, o brilho da neve, no lado de fora, iluminava suficientemente o corredor. Ela puxou silenciosamente o trinco e virou a chave na fechadura. A porta abriu-se sem fazer ruí do.

Do lado de fora, procurou orientar-se. O ar da noite estava gelado e os flocos de neve caí am lentamente no seu rosto levantado para o alto. Com uma decisã o sú bita, afastou-se da porta e deu a volta à casa. Sabia que as demais dependê ncias ficavam nos fundos e tinha que descobrir qual delas era a garagem.

Foi mais fá cil do que tinha previsto. As marcas dos pneus ainda estavam visí veis no pá tio e ela foi diretamente à uma espé cie de galpã o que ficava atrá s do está bulo. A porta dupla nã o estava fechada a chave, mas simplesmente encostada e presa com um pedaç o de pau. Levou um susto e quase fugiu apavorada, quando uma forma escura passou correndo por seu lado; só depois compreendeu que era apenas um dos gatos da casa que dormia do lado de fora.

Mesmo, assim, o pequeno incidente deixou-a nervosa. Fez uma careta quando a porta se abriu com um rangido. Olhou para dentro, procurando habituar a vista com a escuridã o, e abafou um grito de surpresa quando percebeu que o carro guardado na garagem nã o era o jipe, mas seu carrinho esporte. Nã o tinha pensado mais nele desde o dia em que chegara e pensava que ainda estivesse afundado na neve. Lembrava-se agora de que Dominic pedira a Bolt para rebocá -lo na primeira oportunidade, e Bolt, pelo visto, conseguira trazê -lo até a casa. Ah, se ela estivesse com as chaves na bolsa! Ou se soubesse fazer uma ligaç ã o direta!

Tornou a fechar a porta da garagem. Nã o podia perder tempo.

Procurou mais uma vez o jipe. Havia muitas marcas de pneumá ticos na neve e elas pareciam cruzar-se umas sobre as outras. Só havia, poré m, um ú nico lugar que podia abrigar o jipe, e Helen dirigiu-se para lá na esperanç a de encontrá -lo.

Dessa vez estava com sorte. Nã o só o jipe estava lá, como a chave estava no contato! Suas mã os tremiam quando subiu ao jipe e bateu a portinhola. Os botõ es eram semelhantes aos do seu carro. Com o rosto contraí do, imaginando o barulho que o motor ia fazer, virou a chave lentamente. No primeiro instante, Helen pensou que o motor nã o ia funcionar, mas logo depois, com um pequeno toque no acelerador, o motor começ ou a girar com regularidade. Ela tinha apenas alguns minutos para dar o fora dali.

Engatou a marcha e o jipe saiu lentamente da garagem, em direç ã o ao pá tio interno. Dobrou a direita, fez a volta à casa, acendeu os faró is para nã o bater em nada e tomou o caminho de pedras que levava ao portã o. Por que Bolt dissera que um carro com traç ã o nas quatro rodas era difí cil de dirigir? Que nada! Era mais fá cil que o seu e nã o tinha o perigo, dessa vez, de ficar atolada na neve. O carro dela dava trancos e derrapava, numa estrada esburacada, mas o jipe se comportava divinamente. Helen estava seguindo as marcas dos pneus deixadas por Bolt no dia anterior, quando fora ao correio, e sua excitaç ã o era suficiente para esquecer-se dos outros problemas. Nã o queria nem pensar na cara que Dominic ia fazer quando descobrisse que tinha partido. Estava fugindo dele, e era só nisso que pensava, no momento. Tinha conseguido finalmente libertar-se daquela casa, para sempre.

Um banco de neve surgiu de repente na estrada e ela pisou automaticamente no acelerador para passar por cima. O jipe respondeu na hora, transpô s a pequena lombada e ganhou velocidade ao descer do outro lado. Helen sentiu os primeiros sinais de alarme quando tirou completamente o pé do acelerador. Estava indo mais depressa do que podia e tinha de reduzir rapidamente a velocidade para fazer a curva seguinte. Pisou de leve no freio, embora soubesse que era arriscado fazer isso numa estrada coberta de neve. O jipe imediatamente derrapou com a roda traseira e descreveu um semicí rculo.

Sem perder a calma, ela desviou-o para o meio da estrada. O caminho, poré m, era tã o estreito, com a neve que cobria os dois lados, que a traseira do jipe bateu numa massa congelada. Com o rosto assustado, Helen tentou novamente dirigir o carro para o meio da pista. As rodas da frente patinaram, dessa vez, e ela bateu no lado oposto do banco de neve. Foi uma experiê ncia terrí vel, especialmente porque o carro continuava descendo a ladeira com uma certa velocidade, batendo num lado e no outro da estrada. Ela avistou a curva que se aproximava e tentou virar a direç ã o, mas, nessa altura, nã o tinha mais controle de nada, e o jipe mergulhou de bico na massa de neve, jogando-a para frente, de encontro à direç ã o de madeira.

 

Quando abriu os olhos, estava deitada na estrada, e uma voz que nã o pensava nunca mais ouvir na vida repetia com ansiedade:

— Helen, Helen, você está bem?

Os olhos focalizaram o vulto que estava agachado ao seu lado; os cabelos louros caí am em cima da testa, os traç os morenos e angulosos pareciam recortados sobre a brancura da neve, os olhos castanhos fitavam-na atentamente, angustiados.

— Ah, eu derrapei!

— Eu vi. Você é uma louca! Podia ter morrido.

— Que diferenç a faz? Você nã o se importaria a mí nima, se eu morresse.

— Nã o seja crianç a! — ele murmurou, levantando-se do chã o.

Enquanto Dominic olhava impacientemente para a estrada, Helen sentou-se com dificuldade em cima da neve. Alé m de uma forte dor de cabeç a, nã o tinha sofrido nenhuma lesã o grave. Ajeitou-se no chã o e limpou a neve dos ombros.

Dominic voltou-se na sua direç ã o.

— Fique deitada onde você estava! — disse com voz autoritá ria.

— Bolt vai trazer o trator para rebocar o jipe.

Ignorando sua ordem, Helen levantou-se, vacilante.

— Eu disse para você nã o se levantar! — repetiu Dominic com impaciê ncia.

— Você nã o manda em mim! Eu nã o sou sua criada.

— Eu sei disso. Mas você me dá mais trabalho que Bolt.

— Foi sem querer. Desculpe.

Helen estava perdendo rapidamente a compostura. A emoç ã o fora muito forte para ela, a conversa cruel na sala, a tensã o de fugir decasa, agora, esse acidente que terminava com todas as suas esperanç as. Fora a gota d'á gua. Estava trê mula e as lá grima rolavam livremente pelas faces. Estava se sentindo um trapo.

Dominic ouviu o soluç o abafado e voltou a cabeç a na sua direç ã o. Os olhos dele se estreitaram quando viu sua expressã o de desâ nimo. Ela estava com neve nas roupas e nos cabelos, e parecia tremendamente infeliz.

— Pelo amor de Deus, Helen, nã o faç a essa cara! — exclamou Dominic com impaciê ncia.

Antes que ela tomasse consciê ncia do que estava acontecendo, levantou-a nos braç os e partiu em direç ã o da casa.

Ela lhe passou os braç os em volta do pescoç o e aninhou a cabeç a no seu peito. Teve entã o a sensaç ã o deliciosa de calor e bem-estar. Alguns minutos depois, lembrou-se de repente de que Dominic nã o podia fazer forç a, por causa da perna dolorida.

— Ponha-me no chã o! Eu posso andar! Você nã o deve me carregar.

— Eu nã o estou completamente invá lido ainda — disse Dominic com o queixo tenso, sem olhar para ela.

Helen aceitou a explicaç ã o e abandonou-se ao prazer de estar de novo em seus braç os. Durante alguns minutos, os dois andaram em silê ncio pela estradinha coberta de neve.

Estavam subindo a ladeira onde Helen tivera seu problema com o jipe quando ouviram o ruí do do trator que se aproximava. Bolt vinha na direç ã o. Parou diante dos dois e pulou do banco com uma expressã o de desagrado no rosto.

— Eu vim o mais rapidamente possí vel! — Aproximou-se de Dominic. — Pode deixar que eu a carrego. Ela está ferida?

— Estou bem — disse Helen, levantando a cabeç a. Nã o foi nada.

Dominic estendeu-a para Bolt, que a segurou no colo.

— Eu posso andar — protestou Helen, mas nenhum dos dois prestou atenç ã o à s suas palavras.

Percorreram a pé a distâ ncia que os separava da casa. Dominic estava mancando pesadamente, devido ao esforç o que fizera, e Helen recriminou-se por ser a culpada daquilo.

Bolt colocou-a no chã o quando chegaram à sala da entrada.

— Deite-se, agora. Eu vou levar uma bebida quente ao seu quarto.

— Nã o é preciso — disse Helen. — Eu estou bem.

Bolt, poré m já tinha partido em direç ã o à cozinha. Helen subiu a escada com lá grimas nos olhos. Os dois nã o estavam absolutamente preocupados com o fato de que ela podia fugir de novo à quela noite. E por que haveriam de estar? Ela estava tã o deprimida, depois de tudo o que acontecera, que nã o tinha desejo nem disposiç ã o para tentar fugir de novo.


CAPÍ TULO VIII

Helen nã o ficou sabendo se Bolt levara ou nã o a bebida quente ao seu quarto. Adormeceu no mesmo instante em que afundou a cabeç a no travesseiro. Acordou na manhã seguinte, com os raios do sol filtrando atravé s da cortina. Felizmente a dor de cabeç a tinha passado. Quando se examinou no espelho viu que estava apenas com um pequeno galo na testa, conseqü ê ncia da batida que dera no vidro da frente do jipe.

Tomou banho, vestiu a saia verde-limã o, uma blusa da mesma cor e estava escovando os cabelos diante da penteadeira quando Bolt apareceu com a bandeja do café.

— Dominic quer conversar com você — disse Bolt, colocando a bandeja em cima da mesinha.

— Você tem idé ia do que seja?

— Ele vai explicar pessoalmente — disse Bolt, afastando-se em direç ã o à porta.

— Bolt! — exclamou Helen, correndo atrá s dele. — O que aconteceu? Você está zangado comigo?

— Nã o.

— Eu sei que você está. — Ela deu um suspiro. — Procure entender, Bolt. Eu tinha que ir embora daqui, antes que fosse tarde demais.

— Eu entendo.

— Entã o por que você está com essa cara? A menos que seja porque eu nã o consegui fugir.

— Talvez.

— Você queria realmente que eu fosse embora?

— Teria sido melhor.

— E você sabia que eu ia tentar? Foi por isso que você deixou a chave no jipe?

— Eu sempre deixo a chave no contato. Nã o há ladrõ es aqui.

— Eu fiz o que pude.

— Nã o é bom você ficar aqui. Para ningué m.

Apó s este comentá rio enigmá tico, Bolt saiu do quarto.

 

Helen tomou o café com o coraç ã o pesado. Na ú ltima semana, Bolt fora seu amigo, naquela casa, e até mesmo isso lhe era negado agora. Sobre o que Dominic queria conversar com ela?

Examinou o conteú do da bandeja. Cereais, ovos fritos com bacon, torradas e gelé ia. Nada disso lhe despertou apetite. A idé ia de comer lhe causava ná usea, mas bebeu, mesmo assim, uma xí cara de café para acalmar os nervos.

Quando levou a bandeja à cozinha, ficou contente por nã o encontrar Bolt por perto. Jogou rapidamente os restos do café na lata de lixo para Bolt nã o perceber que nã o comera praticamente nada. Ao olhar para o lado, avistou uma pilha de roupa em cima da cadeira. Eram as roupas que trocara no dia anterior; estavam lavadas e passadas, à sua espera. Sentiu um nó na garganta. Como podia enfrentar a raiva de Dominic, quando se sentia tã o comovida com esse pequeno gesto de Bolt?



  

© helpiks.su При использовании или копировании материалов прямая ссылка на сайт обязательна.