Хелпикс

Главная

Контакты

Случайная статья





A Força do Desejo 9 страница



— Porquê?

— Como você vai se apaixonar por um homem que nã o gosta de você?

— Muito fá cil...

— Ah, Helen! — exclamou Mike, estendendo a mã o para segurar na dela. — Você nã o acha que tudo isso é fruto da imaginaç ã o? Está bom... você encontrou um homem bonito, simpá tico, e achou que estava apaixonada por ele. Mas agora está tudo acabado, nã o é mesmo? O que se há de fazer? Nã o tem sentido arruinar a vida, nã o dormir nem comer decentemente por um motivo desses...

— Você pensa que já nã o me repeti isso uma centena de vezes?

— Alé m do mais, ele é provavelmente casado, noivo, ou desquitado. Você pensou nisso? De qualquer maneira, há uma mulher por perto...

— Nã o, ele nã o é casado - disse Helen com convicç ã o.

— Noivo, entã o.

— També m nã o!

— Como você sabe?

— Porque eu fiquei na casa dele!

No mesmo instante, Helen arrependeu-se de ter dito isso. Mike olhou para ela com os olhos arregalados e sua face estava pegando fogo.

— Você ficou na casa dele? — repetiu Mike incredulamente. — Como é possí vel?

Helen balanç ou a cabeç a lentamente.

— Nã o me pergunte nada, Mike. Eu nã o posso contar.

— Você morou com ele?

— Você quer saber se dormimos juntos? A resposta é nã o!

Mike pareceu momentaneamente aliviado.

— Mas você teve alguma forma de contato?

— Mais ou menos.

— Ah, Helen! Por que você nã o me conta a verdade? Eu quero ajudá -la.

Helen terminou de tomar o chá e afastou a xí cara da frente, recusando tomar a segunda que Mike lhe ofereceu.

— Está bem - disse lentamente. — Vou contar o que aconteceu.

Meu carro enguiç ou na neve...

— Que neve?

— Ué, no Norte, onde estava viajando.

— Ah, você foi realmente para o Norte?

— Fui. — Helen fez uma pequena pausa. — Como disse, meu carro parou no meio da neve e nã o quis andar mais... Esse homem me socorreu.

— E aí?

— Ele me ofereceu a casa para passar a noite e eu aceitei.

— E depois?

— Bem, na manhã seguinte, o tempo estava pior e eu fiquei lá.

— Sozinha... com esse homem?

— Nã o. Havia um criado na casa. É ramos trê s.

— E você passou a semana toda lá?

— Isso.

— E você se apaixonou por ele?

— Foi.

— Por que você voltou entã o?

— Porque ele me mandou embora.

— Nã o! — exclamou Mike com os olhos voltados para o alto. — Por quê? O que você fez?

— Eu nã o fiz nada. — Helen evitou encontrar os olhos dele. — Foi só isso que aconteceu.

— Uma parte do que aconteceu...

— Por que você diz isso?

— Ah, Helen, por que motivo esse homem ia convidá -la para ficar na casa dele se nã o gostasse de você? E por que ele mudou de idé ia repentinamente? Alguma coisa deve ter acontecido Ele é bonito, pelo menos?

Helen deu um suspiro.

— Nã o. Ele tem um defeito na perna.

— É aleijado? — exclamou Mike espantado.

— Nã o aleijado exatamente. Mas necessita de repouso.

— E foi por esse homem que você se apaixonou? — Mike estava sinceramente espantado. — Um homem que nã o gosta de você e que é aleijado ainda por cima! Pelo amor de Deus, Helen, eu podia pensar tudo menos isso!

— Eu sei onde você está querendo chegar, Mike. Você nã o entende como fiquei fascinada por esse homem quando podia casar com algué m normal e que tem uma bela conta no banco!

— Mais ou menos isso.

— Pois é. — Helen balanç ou os ombros com resignaç ã o. — Meu pai diria exatamente a mesma coisa, se eu lhe contasse o que me aconteceu.

— Talvez.

— Foi por isso que nã o contei nada a ele.

— Entendi a indireta - disse Mike com um movimento da cabeç a. — Mas diga uma coisa... Esse relacionamento que você teve com esse homem... foi puramente emocional?

— Você pode dar esse nome, se quiser.

— E ele nã o estava interessado nisso?

— Nã o.

— Você tem certeza?

Helen deu um suspiro fundo.

— Como disse antes, ele me pediu para sair de sua casa.

— Sim, eu sei. — Mike desenhou um rabisco na toalha com a colher. — Mas já lhe ocorreu que a razã o para isso pode estar ligada ao tal defeito fí sico?

— O que você quer dizer exatamente?

— Bem... é possí vel que ele julgue sua incapacidade grande demais para ser partilhada por outra pessoa.

— Ah, nã o, nã o foi isso!

Helen nã o queria aceitar essa possibilidade perturbante. Nã o era possí vel. Mike nã o conhecia todos os fatos para fazer uma suposiç ã o correta. Ele nã o sabia, por exemplo, que Dominic nã o a convidara para morar na casa... que ele a prendera ali contra sua vontade. Ele nã o sabia també m que, desde o desastre terrí vel de carro em que o irmã o morrera, Dominic evitava a companhia das mulheres. Finalmente, Mike nã o sabia que Dominic desejava fazer amor com ela, desejo que fora perturbado por sua confissã o repentina de amor. Amor que ele tinha rejeitado no mesmo instante. Ah, nã o, Dominic nã o era impotente como Mike estava sugerindo veladamente!

— E agora? O que você vai fazer?

A voz de Mike acordou-a do devaneio com um sobressalto.

— Nada! O que eu posso fazer?

— Você sabe que seu pai continua decidido a descobrir onde você estava?

— Ele disse isso? Ele pediu a você para me sondar?

— Hummm.

Helen balanç ou a cabeç a pensativamente.

— Eu imaginava...

— Mas você pode confiar em mim.

Os dedos dele estavam por cima dos seus.

— Eu sei disso - murmurou Helen com um sorriso triste. — Se nã o soubesse, nã o estaria conversando com você sobre esse assunto.


CAPÍ TULO IX

Embora Helen negasse a sugestã o de que Dominic podia ter um motivo sé rio para mandá -la embora, nos dias seguintes refletiu constantemente sobre essa possibilidade. Quem sabe se nã o havia um pouco de verdade na suspeita de Mike? Talvez Dominic aguardasse uma iniciativa sua nesse sentido. Ele dissera que Helen ia se esquecer de tudo quando voltasse para Londres. Talvez coubesse a ela provar que nã o havia esquecido.

Planos, todos abandonados, fatigavam sua mente. Foi somente quando Isabel expressou claramente sua opiniã o que Helen resolveu tomar uma decisã o.

Fazia uma semana que voltara para casa. Philip já tinha saí do para o trabalho, mas Helen e Isabel estavam terminando o café. Isabel estava especialmente bonita naquela manhã com o robe de chambre de seda, e olhava para Helen com o queixo apoiado na mã o.

— Você está com uma pé ssima aparê ncia - disse Isabel em dado momento, com a franqueza que lhe era habitual. — Por que nã o vai ver esse homem de uma vez?

— Que homem? — perguntou Helen surpresa.

— Ah, nã o se faç a de sonsa! — Isabel apanhou um cigarro em cima da mesa, e olhando para Helen afirmou: — Esse homem que tirou seu sono e seu apetite. Nã o adianta esconder. Eu conheç o perfeitamente os sintomas.

Helen abaixou os olhos em direç ã o à s mã os.

— Papai pediu para você conversar comigo?

— Imagine! Seu pai sabe perfeitamente que você nã o ouve meus conselhos.

— Nem sempre.

— Bem, nã o importa. Por que você nã o toma a iniciativa e vai procurar esse homem? Deve ser um homem como os outros. Eu nunca vi você assim...

— Falar é fá cil.

— Ele é casado?

— Nã o.

— Entã o o que a impede de visitá -lo?

Helen olhou para Isabel no fundo dos olhos.

— Nada - disse em voz baixa, tomando uma decisã o no mesmo instante. — Absolutamente nada.

— Você vai sumir de novo? — perguntou Isabel com um sorriso, ao ver a expressã o alterada de Helen.

— Quem sabe?

— ó tima idé ia! Eu digo a seu pai que você foi passar alguns dias com uma amiga.

Helen levantou-se da mesa.

— Vou seguir seu conselho dessa vez.

— Querida, eu só quero que você seja feliz.

 

Helen só terminou os preparativos da viagem por volta do meio-dia. Levou uma sacola de mã o porque podia estar muito cansada para voltar no mesmo dia. Tinha certeza de que acharia o caminho da casa de Dominic sem dificuldade. Agora, pelo menos, nã o havia neve para dificultar a viagem. A neve continuava visí vel no alto dos morros, mas as estradas estavam livres, e no norte, como em Londres, as á rvores e as plantas renasciam para a vida.

Helen chegou no fim da tarde à cidadezinha de Hawksmere, o lugarejo mais pró ximo da casa de Dominic. Prestou atenç ã o ao atravessar a praç a principal para ver se avistava algum pequeno hotel onde pudesse passar a noite. Havia um, o Swan, e ela tomou nota mentalmente do endereç o no caso de uma emergê ncia. Dominic iria recusar-se a recebê -la depois de toda essa viagem? Ela nã o queria pensar nessa eventualidade e afastou-se rapidamente da cidadezinha antes que mudasse de idé ia.

Era fá cil encontrar o casarã o durante o dia, mas a tarde estava caindo rapidamente e Helen aumentou a velocidade do carro até o momento em que avistou o grande portã o de ferro no meio das á rvores. Nã o havia sinal de vida quando atravessou a entrada estreita de pedras. Nã o saí a fumaç a pela chaminé, nem ouviu o ruí do dos animais no fundo da casa.

Parou o carro e desceu, tremendo de apreensã o quando olhou para as janelas fechadas. Ela estava ali finalmente e nã o havia motivo para prolongar por mais tempo a expectativa.

Sentiu a tentaç ã o de virar a maç aneta da porta e entrar na sala, mas a idé ia de que Sheba podia estar no corredor dissuadiu-a disso. Bateu por isso levemente na porta e como nã o houve resposta tocou a campainha, aguardando pacientemente que Bolt viesse abrir.

Ningué m respondeu, contudo. O som da campainha ecoou lugubremente pela casa que parecia vazia e uma onda de frustraç ã o tomou conta dela. Suas suspeitas eram corretas. A casa estava vazia. Nã o havia ningué m.

Tentou girar a maç aneta na esperanç a de que pudesse estar enganada, mas a porta estava firmemente trancada. Uma volta rá pida pelo quintal confirmou a suposiç ã o que nã o havia nenhum animal no está bulo. Para onde tinham ido? Quando? Por quê? Deu um suspiro de frustraç ã o. Dominic tinha medo de que ela revelasse seu paradeiro? Nã o confiava nem um pouco nela?

Deprimida, como se nã o pudesse entrar na casa por uma proibiç ã o formal do dono, tomou o carro e retornou rapidamente à cidadezinha. No trajeto só cruzou com um carro na estrada, um automó vel grande, cinzento, mas os dois ocupantes eram gordos, louros e pequenos, e nã o tinham nenhuma semelhanç a fí sica com Dominic e Bolt.

O gerente do hotel ofereceu-lhe um quarto para passar a noite, um quartinho pequeno e gostoso, no ú ltimo andar. Helen lavou o rosto e descansou alguns minutos na cama confortá vel de casal; em seguida, desceu ao salã o de jantar. Havia apenas um outro hó spede no hotel, um homem baixo, louro, de bigode, e ela tinha quase certeza de que era o mesmo indiví duo que avistara na estrada ao sair da casa de Dominic. Estava muito preocupada no entanto com outros problemas mais urgentes para prestar atenç ã o naquele homenzinho insignificante. Depois do jantar, puxou conversa com o gerente.

— Gostaria de saber uma coisa - disse Helen com um sorriso. — Aquele casarã o antigo, a uns dois quilô metros daqui...

— O solar de dois andares? — perguntou o gerente com a fisionomia prestativa.

— Exatamente. Uma casa muito bonita por sinal...

— Está interessada em comprá -la?

— Bem, gostaria de examiná -la primeiro.

O gerente balanç ou a cabeç a desconsoladamente.

— Infelizmente, ela nã o está à venda.

— Mas ela está vazia!

— Sim, eu sei. O dono viajou. Ouvi dizer que foi para o hospital.

— Hospital? — exclamou Helen sem querer. Fez um esforç o para se controlar. — O que aconteceu? É alguma coisa sé ria?

— Nã o posso dizer com certeza. Nã o conheç o muito bem os dois.

— Os dois?

— O dono tem um empregado de confianç a. Um homem careca, muito forte, chamado Bolt. Ele vinha aqui fazer as compras para a casa. — Deu um sorriso. — Mas isso provavelmente sã o detalhes que nã o interessam...

— Pelo contrá rio, me interessam muito - disse Helen com vivacidade.

— Ah, conhece entã o o dono da casa? — indagou o gerente, com um olhar curioso. Helen contentou-se em abaixar os olhos para a xí cara vazia de café. — Bem, de qualquer maneira, acho que os dois vã o voltar dentro de alguns dias. E nã o creio que tenham a intenç ã o de vender a casa.

— É pena - disse Helen, antes de fazer a pergunta seguinte: — Uma casa tã o bonita, vazia desse jeito... Eu pensava que esse tal de como você disse?... Bolt... eu pensava que esse tal de Bolt fosse ficar tomando conta da casa, enquanto o patrã o estivesse fora...

— Ah, sim. Mas segundo ouvi dizer, os dois foram para Londres. Talvez ele esteja internado lá.

— Foram para Londres?

Helen sentiu as pernas moles. Pensar que tinha feito toda essa viagem à toa! Dominic estava internado num hospital de Londres. Mas por quê? O que tinha acontecido com ele? Seu primeiro impulso foi entrar no carro e voltar imediatamente para Londres.

Mas nã o tinha condiç õ es para fazer uma viagem de quatro horas sozinha, à noite. Quando o gerente levantou da mesa e foi conversar com outros clientes, Helen aproveitou e subiu para o quarto. Dormiria cedo e, no dia seguinte, partiria nas primeiras horas da manhã.

 

Ela dormiu melhor naquela noite do que nas ú ltimas semanas. Estava completamente exausta e deprimida por ter perdido a viagem e ter batido com o nariz na porta.

Na manhã seguinte, contudo, acordou animada e cheia de disposiç ã o. A viagem de volta foi bem mais rá pida do que a de ida. Philip e Isabel nã o estavam em casa quando chegou. Helen comeu a omelete que Bessie lhe preparara antes de fechar-se na sala e tentar descobrir o hospital onde Dominic podia estar internado. Telefonou para diversos hospitais, clí nicas e casas de saú de que encontrou na lista telefô nica, mas nã o obteve nenhuma informaç ã o em nenhum deles.

Estava sentada na cadeira, cansada e desanimada, com os olhos ardendo de procurar nas pá ginas da lista telefô nica, quando o pai entrou na sala. Helen percebeu imediatamente que ele estava furioso.

— O que você está fazendo? — perguntou Philip de mau humor, pisando sem querer na lista que estava caí da em cima do tapete.

— Estou telefonando - disse Helen, mantendo a voz baixa.

— Isso eu estou vendo! Mas para quem você está telefonando?

— Para um conhecido meu. Por quê? Nã o posso mais telefonar?

— Nã o seja malcriada! — berrou Philip sem se conter. — Por que você viajou para o Norte?

— Como você sabe que eu viajei? — perguntou Helen boquiaberta. — Ah, nã o! Você está me seguindo?

— E daí? Faz trê s semanas que você está sendo seguida!

— Essa nã o!

Philip parou diante dela, com o olhar impaciente.

— O que você foi fazer em Hawksmere? Ou você prefere que lhe diga?

— Você sabe, por acaso?

— Claro que eu sei! Você foi ver o tal sujeito que mora lá. Dominic Lyall.

Helen cobriu os olhos com as mã os.

— Ah, meu Deus! Por que você nã o me deixa em paz?

— Helen, você é minha filha, minha filha ú nica. Você acha que vou ficar de braç os cruzados e deixar você arruinar sua vida, a vida que eu planejei com tanto cuidado para você?

— Eu tenho vinte e dois anos, papai!

— E daí? Você continua sendo minha filha e eu tenho o direito de saber o que você anda fazendo.

— Papai, você nã o entende!

— Entendo perfeitamente. Vamos, responda! O que você pretendia com essa visita a Dominic Lyall? Foi com ele que você passou a semana fora?

— Se você sabe, por que pergunta?

— Para comprovar a eficiê ncia de Barclay.

— Que Barclay é esse?

— O investigador que eu contratei.

— Ah, entã o era ele que estava no restaurante ontem à noite?

— Exatamente. Um homem baixo, louro, que nã o chama a atenç ã o de ningué m, como todos os bons investigadores. O trabalho deles exige o anonimato. Nã o adiantaria nada se chamassem a atenç ã o aos outros e despertassem suspeitas.

— Nã o, nã o adiantaria nada.

— Quer dizer entã o que você bateu com o nariz na porta?

— Foi.

— Claro. Dominic está em Londres.

— Onde? — exclamou Helen com os olhos repentinamente brilhantes. — Você sabe onde ele está?

— Evidente que sei.

— Ah, papai, por favor, me diga onde ele está! — suplicou Helen.

Philip franziu as sobrancelhas.

— Por que eu haveria de dizer?

— Ah, seja bonzinho!

— Está certo, vou dizer. Ele está numa clí nica particular.

— Como você descobriu?

— Barclay é mais eficiente que você, filha. Ele conseguiu no correio o endereç o provisó rio de Dominic em Londres.

— Ah, eu me esqueci disso! — exclamou Helen.

— Provavelmente eles nã o teriam dado o endereç o a você. Mas os investigadores conseguem tudo com suas carteirinhas

— Vou fazer uma visita a ele! — disse Helen com decisã o.

— Talvez nã o seja boa idé ia.

— Por quê? — Helen levantou-se impaciente da cadeira. — Olhe, se você nã o me disser onde ele está, vou sair de casa e nunca mais voltar!

— Nã o seja crianç a! — disse Philip, alarmado com a idé ia. — O que esse homem significa afinal para você? O que você significa para ele? Como você o conheceu, antes de mais nada?

— Eu conto tudo se você me disser onde ele está!

— Combinado. Mas eu quero saber tudo nos menores detalhes.

Helen ajeitou-se na cadeira e contou lentamente os acontecimentos que a levaram a conhecer Dominic. Falou da tempestade de neve, do carro enguiç ado, das condiç õ es em que foi parar na casa dele.

Explicou que tinha a impressã o de conhecê -lo de algum lugar e como acabou identificando-o pela fotografia na parede.

— Nã o é possí vel! — interrompeu Philip, boquiaberto. — Nã o me diga que esse homem é o mesmo que corria de carro?

— O mesmo. Eu pensei que você soubesse.

— O nome de fato nã o é muito comum, mas nunca pensei... Bem, isso nã o vem ao caso. Continue.

Estimulada pela curiosidade do pai, Helen contou com mais animaç ã o o resto da aventura. Philip, que fora um fã incondicional do piloto famoso, ouviu a narrativa com o maior interesse. " Será que ainda o admirava depois de tantos anos? " pensou Helen consigo.

No momento em que terminou finalmente de contar a histó ria, Philip deu uma exclamaç ã o prolongada de surpresa.

— Em que sinuca você se meteu, minha filha!

— Entende agora por que nã o podia contar?

— Você podia confiar em mim.

— Podia mesmo? — perguntou Helen, fitando-o nos olhos.

Philip abaixou a cabeç a, envergonhado.

— Bem, talvez você tenha motivo para desconfiar de mim - admitiu por fim, balanç ando a cabeç a. — Mas, seja como for, Dominic tem o dobro de sua idade! Deve estar com mais de quarenta anos!

— Ei, nã o exagera! Ele tem no má ximo uns trinta e oito anos.

E que mal tem isso?

— Ele é velho demais para você, filha - disse Philip, balanç ando a cabeç a. — Alé m disso, é aleijado...

— Ah, nã o use essa palavra! Ele tem apenas um defeito superficial. E você acha que eu me importo com isso? Ainda que ele passasse o resto da vida numa cadeira de rodas, eu gostaria dele mesmo assim!

Philip foi até o bar e serviu-se de uma dose de uí sque.

— Nã o, muito obrigada - disse Helen, quando ele lhe estendeu o copo perguntando se queria tomar um gole. — Agora me diga onde ele está internado.

— Num minuto, num minuto. — Philip levou o copo aos lá bios e virou o uí sque num gole. — Você sabe por que ele está no hospital?

— Nã o. Você sabe?

— Nã o. Nã o chegamos até aí em nossas buscas. Eu mandei Barclay suspender as investigaç õ es.

— Ainda bem!

— Por que, ainda bem?

— Ah, você já imaginou o que ele vai pensar quando souber quevocê andou investigando a vida dele? Ele vai concluir que fui eu que o denunciei!

— E você nã o me contou tudo por acaso?

— Sim, mas com a condiç ã o de você guardar segredo. Você vai me dizer agora onde ele está? — insistiu Helen com impaciê ncia.

— Vou. — Philip tirou um cartã o de visita do bolsinho do casaco. — Essa é a clí nica. É dirigida pelo Dr. Jorge Johannsen. Eu nã o sei muita coisa sobre ele, a nã o ser que é especialista em ortopedia.

— Ah, provavelmente ele vai operar a perna!

— Talvez. Se você está decidida a visitá -lo, poderá informar-se melhor no hospital.

— É o que eu vou fazer - disse Helen, correndo para a porta.

— Muito obrigada pela informaç ã o!

— Nã o vamos antecipar as coisas - disse Philip, afundando os ombros na poltrona. — Eu nã o prometi nada. Mas se você melhorar depois de ver esse homem, estou disposto a reconsiderar o assunto.

Helen hesitou um instante, como se fosse acrescentar alguma coisa; limitou-se poré m a balanç ar a cabeç a e saiu da sala.

A clí nica ficava num bairro afastado. Fora no passado um palacete residencial, antes de ser transformado num centro de saú de particular. Helen desceu do tá xi e subiu a meia dú zia de degraus que levavam à portaria. Como nã o havia ningué m na recepç ã o, apertou o botã o da campainha.

Olhou em volta de si com curiosidade, procurando distrair os pensamentos do motivo que a levara ali. As flores davam à saleta um toque de elegâ ncia e o perfume delas encobria o cheiro dos desinfetantes. O corredor que levava à escada tinha uma passadeira verde-oliva, e as paredes lisas, de cor bege, estavam cobertas com reproduç õ es e estampas coloridas. O local parecia mais o saguã o de um hotel de luxo do que uma sala de hospital.

— Helen!

A surpresa de ouvir seu nome pronunciado em voz alta acordou-a bruscamente do devaneio. Voltou-se rapidamente e avistou Bolt que descia os ú ltimos degraus da escada.

— Ah, que bom encontrá -lo aqui! — exclamou Helen com a voz emocionada. — Como Dominic está passando?

Bolt estava muito diferente, de terno cinza e gravata azul, mas quando percebeu a ansiedade no rosto dela, aproximou-se com a mesma fisionomia bondosa e cordial de antes.

— Ele está bem.

— Por que ele foi internado?

Bolt olhou em volta, antes de responder a pergunta.

— Nã o tem ningué m na portaria?

— Nã o, ningué m. Eu toquei a campainha mas ningué m apareceu até agora.

Ele olhou para o reló gio.

— Ah, sã o cinco horas. Devem estar tomando o cafezinho. — Fez sinal em direç ã o à sala de espera, no fim do corredor. — Vamos conversar ali. Nã o deve ter ningué m a essa hora.

A sala estava vazia, de fato. Bolt fechou a porta e voltou-se para ela com a expressã o simpá tica de sempre.

— O que você está fazendo aqui?

— Vim fazer uma visita a Dominic.

— Como você soube que ele estava internado aqui?

— Ah, é uma histó ria muito comprida. Eu conto outra hora. Agora eu quero saber por que Dominic está internado.

Bolt enfiou as mã os nos bolsos.

— Ele decidiu operar finalmente, como os mé dicos tinham aconselhado na ocasiã o do acidente.

— Quer dizer que ele concordou era fazer o tal enxerto? — perguntou Helen surpresa com a notí cia.

— Foi.

— Ah, que bom! — Ela levou as mã os ao rosto. — E quando vai ser a operaç ã o?

— Já foi, duas semanas atrá s.

— Há duas semanas? Entã o logo depois que eu parti?

— Pouco depois.

— E por que ele mudou repentinamente de idé ia? — perguntou Helen espantada.

Bolt abaixou a cabeç a em direç ã o aos sapatos brilhantes.

— Isso eu nã o sei.

— Nã o acredito! Você sabe mas nã o quer contar!

— E por que você quer saber? — perguntou Bolt, evitando seu olhar.

— Porque eu gosto dele, Bolt.

— Você tem certeza? — insistiu Bolt com incredulidade.

— Absoluta! — Helen mudou de inflexã o. — Está bem, se você nã o quer me dizer por que ele operou, diga-me ao menos se a operaç ã o foi bem sucedida.

— Você promete que nã o vai comentar nada com ele?

— Prometo - disse Helen com a fisionomia repentinamente preocupada. Pela inflexã o de sua voz, podia adivinhar a resposta a sua pergunta.

— Nã o foi possí vel fazer o tal enxerto.

— Por quê? — exclamou Helen atô nita.

— Eu nã o entendi perfeitamente a explicaç ã o dos mé dicos mas ouvi dizer que a operaç ã o devia ter sido feita logo depois do acidente antes de haver deformaç ã o dos ossos vizinhos.

— Ah, meu Deus! — murmurou Helen, assaltada de compaixã o pelo homem que amava. — Onde ele está? Eu preciso vê -lo imediatamente!

— Eu nã o sei se ele vai querer recebê -la...

— Mas eu vou tentar de qualquer maneira - disse Helen com decisã o, caminhando em direç ã o à porta. — E ningué m vai me impedir!

Quando os dois saí ram novamente no saguã o da entrada, a recepcionista estava na portaria.

— Essa moç a é minha amiga - disse Bolt para a jovem. — Ela deseja fazer uma visita ao paciente do quarto 11.

Helen sentiu-se imensamente grata a Bolt por sua intervenç ã o. Nã o precisava dessa forma explicar sua presenç a ali. A recepcionista sorriu, disse que estava bem e que podia subir. Chamou em seguida uma enfermeira para acompanhá -la ao quarto de Dominic. Bolt despediu-se dela com um sorriso de conforto antes que as duas tomassem o elevador no saguã o. O corredor do segundo andar era com um piso de borracha, silencioso e macio, que abafava o ruí do dos passos, e havia ali a atmosfera caracterí stica de hospital que nã o estava visí vel no té rreo. O quarto de Dominic ficava no fim do corredor. A enfermeira abriu a porta e disse alegremente para dentro:

— Uma visita! — Voltou-se para Helen. — Pode entrar, por favor.

Helen entrou no quarto com um sentimento de culpa penoso, preparada para ser mal recebida. Entretanto, embora Dominic nã o demonstrasse nenhuma alegria especial ao vê -la, nã o disse nada que pudesse embaraç á -la diante da enfermeira. Estava reclinado na cama com um pijama encarnado e Helen permaneceu parada perto da cama, observando-o fixamente, até o momento em que a enfermeira os deixou a só s. Parecia fazer mais de trê s semanas desde a ú ltima vez que o vira, e ela estava morrendo de saudade. Mal reparou no quartinho atapetado de azul-claro, na colcha e nas cortinas da mesma cor, em tonalidades mais escuras, muito mais acolhedor que os quartos habituais dos hospitais. Quando a enfermeira fechou a porta, Dominic voltou se para ela.



  

© helpiks.su При использовании или копировании материалов прямая ссылка на сайт обязательна.