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A Força do Desejo 8 страница



Saiu de cabeç a baixa da cozinha e atravessou o corredor em direç ã o à sala de estar. Abriu a porta com cuidado e olhou para dentro, mas nã o avistou ningué m. Dominic devia estar trabalhando no escritó rio. Foi até lá, bateu na porta, mas nã o ouviu resposta. Uma espiada para dentro certificou-a de que ele nã o estava lá també m. Onde podia estar?

— Dominic está de cama— disse Bolt, em pé junto da escada.

— Ele está doente?

— Mais ou menos— disse Bolt, subindo a escada.

Helen acompanhou-o em direç ã o ao quarto no fundo do corredor. Bolt abriu a porta e afastou-se para lhe dar passagem. O quarto de dormir era austero, com poucos mó veis, muito diferente do quarto de hó spedes. O assoalho era de madeira e havia apenas alguns tapetes pequenos espalhados pelo chã o; as paredes eram lisas e nuas. A cama parecia-se com a de Helen, mas estava coberta apenas por uma colcha cor de areia, e o ar frio de fora entrava pela janela aberta. Helen voltou-se para o homem deitado na cama, apoiado no travesseiro, o rosto sombrio e abatido, vestido com um robe de chambre azul-marinho, visí vel junto à borda da colcha.

— Muito obrigado, Bolt. Você pode nos deixar sozinhos.

— Pois nã o.

Bolt retirou-se e Dominic voltou sua atenç ã o para Helen.

— Por que você está de cama? — perguntou ela com ansiedade. — Sua perna está doendo muito?

— Isso nã o tem importâ ncia, no momento— disse Dominic com frieza. — Eu a chamei porque estou decidido a deixá -la partir.

— Deixar-me ir embora? — repetiu Helen perplexa.

— Exatamente. Bolt consertou seu carro e ele está funcionando perfeitamente. Neste momento ele está arrumando suas malas para você partir o mais depressa possí vel.

Helen nã o podia entender o que se passava.

— E você? Você també m vai partir?

— Nã o, acho que nã o. Espero que você nã o revele meu paradeiro a ningué m.

Helen passou a lí ngua pelos lá bios ressequidos. Ah, Deus do cé u, ela nã o queria ir embora naquelas condiç õ es! Nã o agora, com ele de cama!

— O que aconteceu? Por que você está de cama? Eu faç o questã o de saber.

— Para quê? Você gosta de saber que eu sou fraco?

— Você nã o é fraco...

— Ingê nuo, entã o. Que diferenç a faz? Você vai logo se esquecer de mim e de meus males.

— Nã o, nã o vou. Dominic, eu...

— Por favor, Helen, vá embora. — A voz era fria e definitiva. — Adeus. Com as instruç õ es que Bolt vai lhe dar, você nã o terá dificuldade em encontrar o caminho de volta.

Helen torceu as mã os com nervosismo.

— Eu posso ficar, se você quiser— murmurou com a voz suplicante.

— Eu nunca quis que você ficasse! — retrucou Dominic com dureza.

Bolt estava saindo do seu quarto quando ela se aproximou de cabeç a baixa, na maior depressã o de sua vida. Ele estava com as malas nas mã os e Helen pensou, no primeiro momento, que havia um brilho de simpatia nos olhos dele. Mas mesmo isso desapareceu, no instante seguinte, quando Bolt fez um gesto para dizer que podia descer a escada na sua frente.

— Guardei tudo o que estava no quarto— explicou, com a mesma voz apá tica que tinha usado antes. — Você vai apanhar o seu casaco ou quer que eu o pegue?

— Eu o pego. — Helen abriu o quartinho embaixo da escada. — Ah, esqueci uma pilha de roupa que estava na cozinha...

— Já a guardei na mala. Mais alguma coisa?

Helen balanç ou a cabeç a e acompanhou-o ao pá tio. O carro estava estacionado diante da porta, com o motor funcionando, os vidros limpos. Bolt inclinou-se, colocou as malas no interior, bateu a porta e lhe estendeu a chave do porta-malas.

— A outra chave está no contato— disse, enfiando as mã os nos bolsos da calç a. — Você está pronta?

Helen balanç ou a cabeç a em silê ncio. Nã o conseguia dizer uma palavra.

— Bom. — Bolt tirou a mã o do bolso e apontou na direç ã o que ela tomara na noite anterior. — Siga esse caminho durante uns dois quilô metros. Você vai encontrar uma estradinha à sua esquerda. Siga sempre em frente e vai dar numa cidadezinha. Chama-se Hawksmere. Lá você poderá se informar com qualquer pessoa sobre onde fica a rodovia principal.

Helen tornou a balanç ar a cabeç a.

— Muito obrigada— disse por fim, com a voz sumida.

— Nã o tem de quê. Boa viagem.

— Adeus, Bolt.

Helen olhou uma ú ltima vez para a casa e para o homem que estava em pé embaixo da porta, e, sem dizer mais uma palavra, entrou no carro e partiu.

 

Chegou à cidadezinha mencionada por Bolt em questã o de minutos. O funcioná rio do correio indicou a direç ã o da rodovia que levava a Londres e ela rumou para lá automaticamente, sem pensar em nada, a nã o ser nos problemas imediatos da estrada. Estava retornando a sua casa, isso pelo menos era certo. Nã o tinha mais o menor interesse em passar alguns dias na regiã o dos lagos, como pretendia originalmente. No momento, até mesmo a casa paterna era um porto tranqü ilo para suas emoç õ es feridas.

Nã o parou para almoç ar na estrada. Nã o estava com fome e aproveitou que o tempo tinha melhorado para manter uma boa velocidade mé dia e chegar o quanto antes em casa.

Passava das duas da tarde quando fez a volta na pracinha e estacionou o carro defronte de casa, atrá s do Mercedes cinza de seu pai. Seus nervos se contraí ram automaticamente. Agora tinha que enfrentar a fú ria paterna e isso nã o seria nada agradá vel.

Saiu do carro, bateu a porta e sentiu as pernas dormentes, apó s as quatro horas a fio na direç ã o. Estava com dor de cabeç a també m, mas isso nã o tinha nada a ver com a viagem. Era pura tensã o nervosa.

Subiu a escada de casa e abriu a porta da frente com a chave que tinha na bolsa. O ruí do da porta chamou a atenç ã o de uma mulher morena que estava no hall. Ela levantou as mã os para o alto quando avistou Helen.

— Ah, Virgem Santa! — exclamou com alegria. — Você está de volta!

Helen fechou a porta da entrada e apoiou-se um momento no batente, reunindo todas as forç as que ainda tinha.

— Olá, Bessie. Tudo bem em casa?

— Tudo mal! — disse Bessie com uma risada. — Estã o todos à sua procura!

— É você, Helen?

A voz, alta e sonora que vinha do alto da escada era inconfundí vel. Helen voltou-se naquela direç ã o e viu o pai descer os degraus rapidamente, olhando para ela como se nã o pudesse acreditar nos seus olhos. Ela sentiu um movimento de vergonha quando avistou as olheiras fundas no rosto do pai. No instante seguinte, foi estreitada nos braç os dele, afogada contra o peito largo.

— Ah, minha filha, graç as a Deus você voltou! — exclamou Philip sem prestar atenç ã o à presenç a da empregada. — Onde você estava?

Helen sentiu os olhos ú midos, mas nã o queria fazer uma cena diante do pai. Se ele percebesse que estava chorando porque o encontrava de novo, a pequena vantagem que tinha ganhado estaria perdida.

— Você nã o recebeu meu bilhete? — perguntou, enquanto o pai a examinava fixamente, como se nã o se fartasse de vê -la sã e salva.

— Bilhete? Claro que recebi seu bilhete! Se nã o o tivesse recebido estaria no hospí cio, a esta altura! Pelo amor de Deus, minha filha, onde você se enfiou? Eu contratei a metade dos investigadores de Londres para procurá -la!

Helen deu um sorriso.

— Ah, é?

— E Isabel está quase louca, com toda essa confusã o. Onde você estava?

Helen soltou-se das mã os do pai e olhou para Bessie.

— Você me faz um chá, Bessie? Nã o comi nada desde hoje de manhã.

— Num minuto— disse Bessie, saindo à s pressas em direç ã o à cozinha.

Philip levou a filha ao escritó rio e fechou a porta dupla atrá s de si.

— Agora me conte tudo nos mí nimos detalhes— disse, apó s sentar-se numa poltrona confortá vel.

Helen deu um suspiro e olhou para as mã os em cima do colo.

— Bem, eu nã o tenho muito que contar...

— Como nã o tem? Você passou duas semanas fora!

— Fui para a regiã o dos lagos.

— O quê? Neste inverno?

— Pois é. Fiquei hospedada naquele hotelzinho onde costumá vamos passar as fé rias quando eu era menina.

Philip apertou os olhos e uma ruga se formou na testa larga.

— O Black Buli?

— Você lembra? — exclamou Helen com um sorriso sem graç a. — Nó s passamos umas fé rias maravilhosas lá!

Philip levantou-se da cadeira com impaciê ncia e caminhou até a lareira. Dali voltou-se na direç ã o dela, com um pé em cima da grade de ferro.

— E você ficou lá todo esse tempo?

— Fiquei— murmurou Helen, com os dedos cruzados. — Eu pensei que seria o ú ltimo lugar onde seria procurada.

— De fato, o ú ltimo lugar. — Philip tirou uma cigarreira do bolso e colocou um cigarro entre os lá bios. — Por que você sumiu desse jeito?

Helen descontraiu-se. A conversa tomava a direç ã o que desejava. Fora mais fá cil do que tinha previsto. Philip ficaria com raiva, naturalmente, passado o primeiro momento de alegria, mas ela saberia enfrentá -lo sem maiores problemas.

Ela o contemplou com carinho. No fundo, o pai nã o era tã o bravo assim... Depois da experiê ncia traumatizante da ú ltima semana, em casa de Dominic, os problemas familiares pareciam insignificantes. Ao lembrar-se de Dominic, sentiu uma pontada no coraç ã o e apertou os lá bios. Era preferí vel ouvir atentamente o que o pai estava dizendo e nã o pensar em mais nada.

— Eu queria refletir com calma sobre a situaç ã o— disse por fim. — Tirei umas fé rias para botar as idé ias em ordem e decidir o que pretendo fazer com minha vida.

Philip afastou o pé da grade de ferro e endireitou o corpo. Era um homem de altura mediana, mas o corpo robusto fazia-o parecer mais alto do que era na realidade.

— Entendo— disse lentamente, — Suponho que essa decisã o esteja ligada diretamente com Mike.

— Exatamente.

— Você nã o quer definitivamente casar com ele?

— Nã o.

— Entã o com quem você estava todo esse tempo? — perguntou Philip com impaciê ncia. — Porque de uma coisa eu tenho certeza, você nã o se hospedou no Black Buli, em Bowness!

Helen deu um suspiro de alí vio quando Bessie entrou no escritó rio com o carrinho de chá. Com a familiaridade de muitos anos de serviç o, a velha empregada nã o batia na porta. Foi diretamente até perto de Helen, pousou a bandeja e apontou para o pratinho de sanduí ches.

— Você emagreceu, menina— disse Bessie, examinando-a com atenç ã o. — Está com cara de quem andou passando fome nesse tal lugar

— Você estava ouvindo nossa conversa, Bessie? — perguntou Philip de mau humor.

A pequena empregada levou um susto com a inflexã o irritada da voz.

— Nã o, senhor. Nã o costumo ouvir a conversa dos outros. Mas ouvi o senhor dizer que sua filha nã o tinha ficado no hotel...

— Está bem, Bessie— disse Philip, balanç ando a cabeç a com resignaç ã o. — Você pode sair agora. Helen vai se servir sozinha.

A empregada sacudiu a cabeç a miú da e saiu da sala à s pressas.

Helen apanhou o bule com toda naturalidade, como se nã o estivesse surpresa nem assustada com o desmentido do pai.

— Estou esperando, Helen— repetiu Philip, voltando a sentar-se na cadeira defronte da dela, apó s apagar o cigarro pela metade, no cinzeiro. — Quero saber onde você estava.

Helen encolheu os ombros.

— Como você sabe que nã o estava em Bowness? — perguntou, para ganhar tempo.

— Pelos mé todos normais. Mandei saber e me informaram que você nã o estava registrada no hotel.

— Mas como você sabia que ia para lá?

— Eu nã o sabia. Mas quando concluí mos que você nã o tinha saí do do paí s pelos meios usuais, comecei a indagar comigo mesmo onde você poderia estar.

— Mas por que Bowness?

— Por que nã o? Foi lá que passamos umas fé rias muito agradá veis. Eu me lembro perfeitamente. Era uma possibilidade...

Helen balanç ou lentamente a cabeç a de um lado para o outro. Se tivesse ido para o pequeno hotel na regiã o dos lagos, teria sido descoberta em questã o de dias. Era incrí vel! Devia prever que algué m tã o astuto nos negó cios nã o seria tapeado com essa facilidade... Devia ter pensado nisso e feito algo completamente iló gico. Mas, neste caso, nã o teria conhecido Dominic, nã o teria se apaixonado por ele e nã o teria sofrido toda a humilhaç ã o dos ú ltimos dias...

O sentimento de desâ nimo aprofundou-se. Preferia sinceramente nã o ter conhecido Dominic? Nã o dividir nem por alguns dias a angú stia de sua solidã o?

Nã o. Aquilo tinha que acontecer. E agora ia experimentar uma angú stia semelhante em sua pró pria casa!

— É incrí vel! — disse por fim. — Eu nã o posso me afastar alguns dias de casa sem criar toda essa confusã o. Por que você queria tanto me encontrar? O que você teria feito se eu estivesse hospedada no hotel?

Philip fungou nervosamente, sem atinar, no momento, com o alcance da pergunta.

— Nã o me obrigue a demonstrar o que eu teria feito, filha— disse, controlando a impaciê ncia que estava prestes a explodir. — Eu perguntei onde você passou todos esses dias. Você vai me responder ou nã o?

Helen levantou a cabeç a, os olhos abatidos pelo cansaç o da viagem.

— E seu eu disser nã o?

Philip ergueu-se com um pulo da cadeira, como se ficar sentado o irritasse, naquela circunstâ ncia.

— Helen, pela ú ltima vez...

— Eu nã o estava com ningué m.

— Você acha mesmo que vou acreditar nisso?

— Bem, se você nã o quer acreditar...

— Helen, nã o abuse de minha paciê ncia!

— Ah, papai, por favor, vamos parar com essa conversa! Será que nã o posso tomar meu chá em paz?

Philip enfiou os dedos nos bolsinhos do colete.

— Muito bem, muito bem— disse, controlando-se com evidente dificuldade. — Tome seu chá. Eu tenho tempo.

Helen bebeu lentamente o lí quido quente. Havia alguma coisa revitalizante numa xí cara de chá. Mal terminou a primeira, serviu-se de uma segunda, acrescentou leite e uma colherinha de aç ú car. Philip a observava com atenç ã o, acompanhando seus menores gestos. Ela podia sentir o antagonismo que crescia dentro dele, mais intenso a cada minuto que passava. Se pudesse, arrancaria a filha à forç a da cadeira e a sacudiria com violê ncia pelos braç os, até ela confessar onde tinha estado. Mas Helen nã o era mais uma crianç a, para empregar essas tá ticas terroristas. Ele sabia disso. Ela tinha, por sinal, muito da teimosia e da determinaç ã o do pai.

Os sanduí ches no carrinho nã o despertaram seu apetite. Estava vazia por dentro, é verdade. Mas era um vazio da alma, mais do que do corpo. A imagem de Dominic, pá lido e abatido, apoiado no travesseiro da cama, nã o saí a de sua cabeç a. Sobretudo agora, que nã o estava mais com a atenç ã o dirigida para a estrada. Sentia-se terrivelmente responsá vel por sua recaí da, e o fato de saber que Dominic se negava a manter qualquer contato com ela era uma realidade insuportá vel.

— Entã o, Helen? Você vai me dizer onde esteve? A voz do pai trouxe-a de volta à triste realidade domé stica. Voltou-se para ele com relutâ ncia.

— Eu nã o vou discutir com você, papai— disse em voz baixa. — Nã o basta eu dizer que passei alguns dias fora?

— E onde você passou esses dias? Num hotel?

— Onde mais podia ser?

— É isso exatamente o que eu quero saber.

Helen deu um suspiro de impaciê ncia.

— Prefiro nã o tocar nesse assunto, se você nã o se importa...

— Claro que me importo! — exclamou Philip com os punhos cerrados. — Helen, você me deve uma explicaç ã o. Nã o apenas a mim, como aos investigadores que eu contratei. O que vou dizer a eles?

— Diga que foi tudo um equí voco muito grande... que eu nã o estava desaparecida, como você pensava... Mostre o bilhete que eu deixei.

— Você acha mesmo que vou mostrar seu bilhete a eles? Você está ficando louca, filha!

Helen pousou a xí cara vazia em cima da mesa.

— Olhe, eu peç o desculpas por toda essa confusã o que causei. Mas nã o quero mais falar nesse assunto.

— Por quê? O que aconteceu, Helen? Talvez eu nã o seja muito arguto, mas sei que você está escondendo alguma coisa. Alguma coisa aconteceu com você... ou com algué m! E estou disposto a tirar isso a limpo. — Os olhos dele se estreitaram. — O que é esse galo na testa?

Helen passou a mã o no galo, com a ponta dos dedos.

— Nã o foi nada. Eu bati com a cabeç a.

— Onde? Como?

— Como é que a gente bate com a cabeç a? Ah, papai, pelo amor de Deus, estou cansada e farta desse interrogató rio! Vou subir e descansar um pouco no meu quarto...

— Algué m bateu em você? Foi isso o que aconteceu? Ah, se foi isso o que aconteceu e eu descobrir quem foi esse patife...

— Nã o seja tã o dramá tico, papai! Olhe, você se lembra do que eu disse a respeito de Mike antes de sair de casa? Pois bem, eu nã o quero ser forç ada a casar. Nã o quero. Nã o adianta insistir.

Philip andou com nervosismo pela sala.

— Por que você nã o quer casar? O que há de errado nesse casamento? Você e Mike vê m namorando há um tempã o. Eu estava certo de que gostavam um do outro. Aliá s, o pai dele é da mesma opiniã o...

— Gostá vamos, concordo. Mas gostar é muito diferente de amar e querer casar com algué m...

— Nã o vejo em quê. Você acha que Isabel e eu...

— O que Isabel e você decidiram nã o é da minha conta. Eu nã o tenho nada a ver com isso!

— Ei, espere um momento! — O rosto de Philip estava se tornando rubro de có lera. — Se você nã o quer casar com Mike só pode ser porque conheceu outra pessoa.

— Ah, essa é boa!

— Claro que sim!

— Como eu poderia conhecer algué m se você e Mike tomam conta de mim dia e noite?

Philip fungou sem jeito.

— Nã o sei. Você encontrou algué m sem a gente perceber.

— Nã o, nã o encontrei.

Ele a fixou no fundo dos olhos.

— Quer dizer entã o que você passou esses dias sozinha, sem a companhia de um homem?

Helen baixou a cabeç a rapidamente, para ele nã o ver sua expressã o.

— Foi.

— Eu nã o caio nessa. Nã o acreditei antes e nã o acredito agora. Olhe, filha, se você estiver mentindo para mim...

— 0 que está se passando aqui? Que gritaria é essa?

A voz fria e lâ nguida de Isabel foi como uma brisa num dia de verã o. Pela primeira vez Helen sorriu de contentamento, ao avistar sua madrasta, embora as palavras seguintes de Isabel nã o fossem muito amá veis.

— Está vendo? Eu nã o disse que ela ia voltar? — comentou Isabel com frieza, dirigindo-se ao marido. — É assim que você recebe a filha pró diga, Philip?

Philip curvou os ombros diante da mulher.

— Estamos discutindo um assunto sé rio, Isabel. Você voltou mais cedo para casa? Nã o foi jogar golfe como tinha combinado?

— Sua atenç ã o me comove, querido, mas estava frio demais. Friorenta como sou, nã o posso jogar golfe com os dedos gelados. — Lanç ou um olhar indagador na direç ã o de Helen. — Entã o, onde você estava? Resolveu acampar no meio do mato?

— Isabel!

A voz do marido silenciou-a e Helen levantou-se sem graç a da cadeira.

— Posso ir para o quarto, papai? — perguntou em voz baixa.

Philip fez um gesto de impaciê ncia.

— Sim, pode ir. Mas nã o pense que terminamos nossa conversa!

— Está bem, papai.

Helen caminhou até a porta com toda a calma que podia exibirno momento. Estava tudo voltando a ser como antes. O mundo agressivo, em que fora criada estava tomando conta dela novamente e odiava a artificialidade de tudo aquilo. Dominic estava certo em escolher a solidã o. Talvez fizesse o mesmo, um dia. Uma coisa pelo menos estava evidente: nada mais seria como antes.

Nas semanas seguintes, Helen procurou reatar as pontas de sua vida anterior. As amigas, ao saberem que estava de volta, convidaram-na para festas e jantares, mas ela perdera todo o entusiasmo por programas desse gê nero. Desejava sentir-se novamente em paz consigo mesma. Queria esquecer todas as recordaç õ es amargas e doces da semana que passara na regiã o dos lagos, mas era impossí vel. Dominic dominava todos os seus pensamentos. Perdeu o apetite e passou a sofrer de insô nia, pela primeira vez na vida. Pouco a pouco, essa tensã o do cotidiano começ ou a transparecer no seu fí sico.

Foi Mike quem notou primeiro a mudanç a.

Ela começ ara a vê -lo novamente, em parte porque ele e o pai esperavam isso dela; em parte porque Mike era uma companhia agradá vel e pouco exigente. Ele tinha curiosidade de saber o motivo de sua fuga, mas era suficientemente educado para nã o fazer nenhuma pergunta nesse sentido. Helen, no entanto, sabia que mais dia menos dia contaria tudo a ele. Podia confiar em Mike, mas tinha suas dú vidas se seria compreensivo nesse ponto.

Uma tarde em que foram visitar uma exposiç ã o de arte numa galeria, Mike convidou-a para tomar lanche numa casa de chá perto do rio Tamisa. Estava quente e gostoso para uma tarde de iní cio de primavera, e havia muitas flores amarelas brotando nos jardins.

— Você pretende continuar muito tempo assim, Helen? — perguntou Mike em dado momento, depois que a garç onete trouxe o bule de chá e um pratinho com doces.

A pergunta inesperada assustou-a. Ela estava distraí da, traç ando o desenho da toalha com a ponta da unha, e nã o se lembrava mais da presenç a do rapaz na sua frente.

— Assim como? — perguntou, com o rosto subitamente corado.

— Você está sempre no mundo da Lua— disse Mike, servindo o chá em lugar dela. — Quanto tempo você vai agü entar essa solidã o? Você nã o está comendo... e ouvi dizer que nã o está dormindo muito bem...

— Estou tã o acabada assim? — indagou Helen surpresa.

Mike deu um suspiro antes de responder.

— Você nã o está acabada, nem um trapo... Mas a gente se conhece há muito tempo, Helen, e eu sei quando você está com algum problema...

— É esse inverno que nã o acaba mais— disse Helen, levando a xí cara aos lá bios.

— Ah, é? Pois eu nem tinha percebido que ele custou mais a passar que nos outros anos.

— Por que você está sempre ocupado e nã o nota essas coisas...

— Pode ser. — Mike bebeu um gole do chá. — Se você nã o quer falar a esse respeito, nã o tem importâ ncia...

Helen apoiou os cotovelos em cima da mesa, com as duas mã os no queixo, em forma de concha.

— Nã o foi isso que eu disse.

— Você reconhece entã o que há algo errado?

— Acho que sim— disse Helen, balanç ando lentamente a cabeç a.

— É algum homem por acaso?

— Mais ou menos. — Ela nã o sabia como começ ar. — Mike, você sabe que papai... Você sabe que nossos pais desejam nosso casamento, nã o é verdade?

— Sim, eu sei disso.

— E você deve ter percebido... bem, você deve ter notado que eu nã o tenho a intenç ã o de me casar no momento.

Mike inclinou a cabeç a.

— Isto está evidente mesmo para mim.

— Ah, Mike! — exclamou Helen com gratidã o. — Você é um amor! Eu gostaria tanto que a gente gostasse um do outro. Como tudo seria mais fá cil!

— A vida nunca é muito fá cil - comentou Mike, fitando-a nos olhos. — E eu acho que essa é uma maneira delicada de me dar o fora.

— É uma pena - disse Helen, colocando a mã o sobre a dele em cima da mesa. — Porque você é bom, delicado, compreensivo.

— Que descriç ã o horrí vel! — exclamou Mike com um sorriso.

— Você sabe que nã o é verdade.

— Pois eu tenho certeza que sim. Em outras palavras, você nã o perde a cabeç a comigo. Mas perde com outro cara... É isso que você está querendo dizer?

Helen olhou para as mã os brancas e finas, tã o diferentes dos dedos fortes e morenos de Dominic.

— É - confessou por fim. — É isso que estou tentando dizer.

— Foi com ele que você passou essa semana?

— Eu o conheci por acaso - corrigiu Helen em voz baixa.

— Sim... — murmurou Mike com a testa franzida. — E seu pai nã o quer que você tenha nada com ele?

— Nã o, nã o é isso! Papai nã o sabe nada a respeito dele. Por falarnisso, preferia que você guardasse segredo.

— Por quê?

— Porque ele nã o vai entender.

— Como nã o? Quem é o tal homem? Onde ele mora?

— Ah, Mike, por favor, nã o vamos falar nisso. Você está se parecendo com papai.

— Desculpe. Diga-me entã o com suas pró prias palavras.

— Bem... ele é um escritor.

— Romancista?

— Nã o, necessariamente. Escreve ensaios, depoimentos...

— Eu o conheç o?

— Acho que nã o.

— Quem sabe! Eu conheç o muitos escritores.

— Ele nã o freqü enta a sociedade.

— Como ele se chama?

— Eu nã o posso dizer.

— Por que nã o, santo Deus? Escute, você sabe que eu costumo guardar segredo, caso contrá rio você nã o teria iniciado essa conversa.

— Eu sei, mas desta vez é diferente. Eu prometi nã o contar nada.

Mike encostou-se na cadeira com um movimento de impaciê ncia.

— Estamos num impasse - comentou com frieza.

Helen levantou a xí cara com as duas mã os.

— Bem, pelo menos você conhece agora a situaç ã o.

— Muito pouco. Você contou apenas que encontrou um homem que virou sua cabeç a. O que você quer dizer com isso? Que está apaixonada por ele?

Helen hesitou um momento, apertando os lá bios.

— Talvez.

— Entã o por que você s nã o se casam? — perguntou Mike com um gesto de impaciê ncia.

— Ele nã o gosta de mim.

O rosto de Mike refletiu seu espanto.

— Helen, você ficou louca?



  

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