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CAPITULO X



 

Havia cinco pessoas para a leve refeiç ã o que foi servida perto das duas horas — Loren, Juan, Carmen, Carlos e Emma. Comeram numa pequena sala de jantar junto ao salã o principal. Lá as paredes eram lisas e sem decoraç ã o, exceto por duas pinturas muito boas, que Juan explicou terem sido feitas por um artista local.

Foi servida uma grande tigela com salada mista e costelas de porco, alé m de abacate amassado, frutas frescas e queijo. Emma nã o estava acostumada à quela variedade de frutas como abricó e tangerina, e olhou com desagrado quando Loren comeu um sapoti.

Comiam ouvindo os lamentosos acordes das sonatas de Chopin que vinham atravé s de uma porta aberta, e a todo instante o pianista tocava uma nota errada e ficava com raiva disso.

Emma se perguntava se todos estavam tã o conscientes daqueles sons como ela. Nã o agü entava mais de vontade de levantar para procurar a sala de mú sica onde estava Miguel e acabar de alguma forma com a sua angú stia. Fazê -lo entender que o que Carlos tinha feito nã o tinha importâ ncia alguma, ela nã o estava chateada por ter ido lá, muito pelo contrá rio.

Mas como poderia? Miguel nunca aceitaria sua solidariedade e, sem seu consentimento, nã o tinha o direito de se meter na vida dele. Alé m do mais, julgando pelo desprezo que demonstrou quando ela chegou em casa há cerca de duas horas, devia ser a ú ltima pessoa que ele gostaria de ver.

Sentiu até um pouco de ná useas ao se lembrar daquela cena do hall. Entã o estava claro por que Carlos tinha se comportado daquela forma e por que Maria tinha ficado tã o chocada! Emma sentiu frio. Ele tinha feito uma coisa muito cruel. Nã o apenas para ela e para Miguel, mas para Maria. Mesmo agora, ainda nã o sabia de toda a verdade. Carlos teve um caso com Maria e, quando o filho deles nasceu, foi adotado?

Mas Carlos també m tinha dito que Miguel nasceu naquela casa. Embora sua esposa estivesse morta, agora, onde estaria naquela é poca? Será que ficou sabendo do caso dele com Maria? Tudo parecia muito irreal, bá rbaro. Franziu a testa e tentou se concentrar no pê ssego que estava comendo. Aquilo continuava voltando a sua cabeç a, nã o sabia mais o que pensar, queria muito achar uma soluç ã o.

Houve uma confusã o de notas embaralhadas e ela instintivamente olhou na direç ã o da porta aberta. Miguel nã o devia estar tentando locar. Seus dedos ainda nã o estavam completamente bons. Poderia prejudicar a recuperaç ã o. Ele nã o se importava? Ningué m se importava? Olhou desesperada a sua volta e encontrou o olhar de Carlos.

— Alguma coisa está errada, Emma?

Ela apertou as mã os.

— Algué m deveria fazê -lo parar. Nã o deveria estar tocando piano ainda.

— E quem você sugere que fale com ele? Eu? Ou você?

— Que tal Juan?

— Eu acho que Juan sabe que nã o deve fazer isso.

Emma olhou para o empresá rio, mas ele suspirou e balanç ou a cabeç a. Carmen Silveiro riu e disse de maneira desagradá vel:

— Todos o temem, señ ora. Quando Miguel está nervoso, é melhor deixá -lo sozinho. Se você o conhecesse melhor, nã o iria sugerir que algué m interferisse. Miguel está nervoso... e infeliz. Ele ofendeu o pai e está aborrecido.

— Isso é o suficiente, Carmen! — A voz de Carlos era grave e isso fez com que ela se calasse. Agora sua voz era gentil. — O dia está maravilhoso. Vamos aproveitá -lo enquanto podemos. Tomaremos café no terraç o e talvez apanhemos um pouco de sol...

Mas Emma nã o podia mais suportar aquilo, desculpou-se e foi para o quarto. Ao entrar fechou a porta, como se estivesse fechando todo o resto do mundo lá fora. Depois de algum tempo, quando já tinha certeza que os outros estariam no terraç o, saiu novamente e foi até a sala de mú sica.

Miguel ainda estava tocando e o som parecia vir de muito longe atravé s do corredor, abaixo de seu quarto e do quarto de Miguel, que ficava ao lado do dela. Alisando o cabelo com as mã os, caminhou depressa até parar em frente das duas portas de onde vinha a mú sica. Estava em dú vida se devia entrar sem pedir licenç a mas, por precauç ã o, bateu levemente na porta almofadada. Os sons melancó licos de Brahms continuaram e compreendeu que ele nã o a ouvira. A incerteza tomou conta dela. Sua determinaç ã o estava se esvaindo a cada minuto que passava, e imaginou como ele a receberia quando entrasse na sala.

Entã o ouviu uma nota dissonante e houve alguns minutos de silê ncio. Respirando fundo, girou a maç aneta e entrou. Foi andando rente à parede, como se fizesse parte daquele grande mural que apresentava as lutas do Mé xico pela independê ncia. Olhou em volta, interessada. Todos os cô modos da casa a surpreendiam por sua individualidade, e aquele era um dos mais interessantes. O assoalho bem encerado brilhava enquanto o teto era de doze blocos de vidro que refletiam o som e garantiam aquela maravilhosa acú stica. As cortinas verde-jade e as grandes janelas estavam fechadas. Miguel havia se isolado dei tudo e de todos.

A porta bateu violentamente fazendo com que o sangue de Emma gelasse. Só entã o ele se virou e percebeu sua presenç a.

— O que você está fazendo aqui? Pensei que tivesse ficado claro que nã o queria ser perturbado.

— Por que você fechou as cortinas? — perguntou, tentando ganhar tempo. — Está fazendo um dia maravilhoso lá fora!

Miguel fez um gesto impaciente.

— Eu perguntei por que você veio aqui. Foi meu pai quem a mandou?

Olhou para ele, fingindo estar interessada na pilha de papé is em cima do piano.

— Nã o. Por que motivo ele iria me mandar aqui?

— E por que nã o? Acho que isto é perfeitamente ló gico. Ele sabe que seria melhor mandar você do que vir pessoalmente.

Emma suspirou.

— Vim porque estou preocupada com você. Sabe que pode estar prejudicando a recuperaç ã o de seus dedos. Nã o devia estar tocando piano.

— E isto é problema seu?

— Esta é uma preocupaç ã o de todos que gostam de você. Só que ningué m teve coragem de vir aqui.

— Acho que você deve ir agora.

— Nã o, Miguel, seja sensato, nã o se comporte como uma crianç a mimada.

— Uma crianç a mimada? É isso que você acha que eu sou?

— Nã o. Isto é, bem... Oh, Miguel, por que você está fazendo isso? Nã o percebe que é uma tolice? Está apenas ferindo a si pró prio. O que vai conseguir com isso tudo?

— Bien, isso já é alguma coisa, nã o é? Pelo menos nã o estou interferindo na vida de outras pessoas.

— Com isso você quer dizer que seu pai interfere?

— Você percebeu!

— Ora, Miguel, se está se referindo ao que aconteceu esta manhã...

— O que aconteceu esta manhã foi apenas a continuaç ã o do que tem acontecido durante toda a minha vida.

— Nã o foi importante!

— Mas foi para mim!

— Se você acha que me encontrar com sua mã e daquele jeito me chocou...

— Nã o?

— Nã o. — Emma corou.

— Acho que nã o acredito em você. Mas nã o importa. O que está feito, está feito, e eu nã o posso mudar.

— Seu pai ama você...

— Oh, sim, sim. — Torceu os lá bios. — Realmente, nã o? Como a aranha ama o mosquito... para destruí -lo.

—- Isso nã o é verdade, seu pai nã o é assim.

— Nã o é? Ora, noto que ele encontrou uma aliada em você! Como ia ficar feliz de ouvi-la defendê -lo dessa maneira.

— Nã o o estou defendendo. Simplesmente estou tentando fazê -lo entender que, se comportando dessa maneira, está apenas tornando as coisas mais difí ceis para todos.

— O que você quer que eu faç a? Dizer gracias, padre, por ter levado minha esposa para conhecer minha mã e sem que eu soubesse? Gracias, por mostrar a ela que a minha mã e nunca foi a esposa do meu pai?

Emma suspirou, frustrada.

— Você mesmo devia ter me contado essas coisas todas.

Miguel cerrou os punhos c virou-se, novamente.

— Claro. E como é que eu podia lhe falar sobre isso?

— Mas eu estava muito curiosa para saber.

— Sim, naturalmente. Você estava mesmo tentando descobrir. Eu Deveria tê -la apresentado a ela. Gostaria de estar lá quando ela a viu pela primeira vez. Isto pode lhe parecer estranho, Emma, mas eu amo a minha mã e. Amo meus irmã os e irmã s; a ú nica coisa que eu realmente queria é que Alfaro Dí az fosse meu pai!

Emma dirigiu-lhe um olhar triste.

— Nã o, você nã o gostaria.

— O que você quer dizer?

— Miguel, nã o importa como você aceite isso, mas é filho de Carlos Salvaje. E se nã o fosse, nã o seria o homem que é agora. Nã o consegue compreender isso? Você é um homem de muita sorte. Tem um talento invejado por milhõ es de pessoas, tem um poder má gico de extrair notas maravilhosas de um instrumento feito de madeira e metal! Isso nã o é um dom fá cil de se conseguir. Nã o seja mal-agradecido. Nã o importa os erros de seu pai, ele o ama, e você nã o deve duvidar disso. E foi por este motivo que ele me levou para conhecer sua mã e esta manhã, porque ele queria ferir você como você o feriu, casando-se comigo.

— Eu? Eu nã o o magoei. — Miguel riu. — Eu nã o o feri! Eu apenas o desafiei, foi tudo.

— Está bem, faç a como quiser. Mas de qualquer maneira, você nã o está conseguindo nenhuma vitó ria escondendo-se aqui, tentando destruir a ú nica coisa no mundo com que realmente se importa, a sua mú sica!

Emma estremeceu com a violê ncia do rosto dele.

— Como é que você pode saber com o que eu me importo? Como é que você pode imaginar que o meu triunfo como concertista de piano é mais importante do que vencer uma disputa com meu pai?

— Eu acredito nisso porque já vi você tocar tanto com as mã os como com as emoç õ es. As pessoas percebem isso; é uma qualidade indefiní vel que ningué m pode fingir. É alguma coisa que nasceu com você. Nã o vê, nã o entende? Você nã o faz idé ia da sorte que tem de possuir um dom como esse.

Ela fez um gesto de desgosto, e continuou:

— Eu nã o tenho dú vida de que existem pianistas por todo o mundo sem as facilidades ou as oportunidades para usar seu talento, mas você nã o é um deles. Você tem tudo isso, tudo que algué m podia desejar, mas ainda continua fingindo que seu pai está fazendo isso para benefí cio dele, usando seu talento e seu sucesso para ganhar prestí gio! Que necessidade ele tem dessas coisas? Você nã o acha que o que ele conseguiu já é suficiente?

Miguel deu de ombros num gesto de pouco caso.

— Você nã o entende. Eu nunca quis ser um pianista brilhante. Gostava de tocar, sim, mas nã o pensava em ser um concertista. Quando meu pai percebeu, contratou os mais caros professores que pô de encontrar. Eu nã o fiz objeç õ es. Por que devia fazer? Eu amava a mú sica. E queria aprender. Eu toquei de tudo. Nã o apenas mú sica clá ssica, mas todos os tipos de mú sica. Costumava passar horas tocando, apenas por divertimento. Mas entã o meu pai se meteu. Aliá s, seu passatempo preferido, como você mesma poderá perceber mais tarde.

Seus lá bios estavam secos, mas ele falava:

— Ele me disse que eu estava perdendo o meu tempo, perdendo todo o treino que ele havia pago tã o caro. Disse que eu devia desistir de compor. Naquela é poca, costumava escrever mú sicas. Nada de extraordiná rio, você me entende, mas pequenas peç as que me davam prazer. Imaginava que um dia ia compor alguma coisa maravilhosa... uma sinfonia ou talvez um concerto. Isto era o que eu realmente queria. Nã o desejava me tornar um famoso concertista, tocar diante de milhares de pessoas...

— Mas você faz isso, tã o naturalmente.

— Porque eu finjo.

A ira desapareceu de seu rosto.

— Eu fingi, e agora estou aqui sozinho, e quando acabo fico quase chocado, à espera de ouvir os aplausos. A demonstraç ã o feliz de algué m da platé ia. Mas nã o há nada da platé ia, eles nã o me admiram como dizem admirar. Fico sempre contente quando tudo acaba.

Emma se lembrou da primeira vez que ele tinha ido à casa de seu pai em Londres; a maneira como insistiu para ela aceitar seu convite para jantar; como quis evitar que as pessoas o reconhecessem. Chegou a pensar que estava com vergonha de ser visto com ela. Pela primeira vez, sentiu-se pró xima, bem pró xima do marido, como se admitisse a sua vulnerabilidade e abrisse a porta para que pudesse entendê -lo melhor.

— Bravo! Bravo!

A voz sarcá stica foi como uma ducha de á gua fria. Carlos Salvaje entrou na sala e tudo voltou a ser como antes. Sua presenç a destruiu a intimidade que nascia entre eles, e o rosto de Miguel tornou-se frio ao olhar para o pai.

— Que garota cheia de talento você é, Emma — Carlos continuou dizendo, ignorando sua tensã o. — Nã o acreditei muito quando você disse que conseguiria!

— Eu nã o consegui, isto é...

Emma olhou para Carlos, nã o acreditando que ele fosse capaz de dizer aquelas coisas e entã o olhou implorando para o rosto do marido.

— Miguel, eu nã o disse que...

— Se disse ou nã o, isto nã o importa.

Nã o era necessá rio ser adivinho para perceber o quanto estava irritado com ela.

Carlos olhou-o, impaciente.

— Será que devo entender que a conversa está acabada?

— O que você está dizendo soa tã o dramá tico, padre!

Miguel se afastou do piano e, puxando os pingentes das longas cortinas cor de jade, deixou o sol entrar na sala. Carlos virou-se para Emma.

— E o que meu filho lhe disse que a faz parecer tã o desesperada, garota? — Tocou sem carinho nas faces dela, mas Emma desviou-se e ele sorriu, irô nico. — Entã o você també m está zangada comigo? Apenas porque eu brinquei com você? Ou esta foi a hora de confissõ es e de chorar um no ombro do outro?

Miguel voltou-se, irritado.

— Por que veio aqui, padre? Nã o há nada mais divertido no terraç o? Os nossos hó spedes nã o conseguem diverti-lo mais?

Carlos mordeu os lá bios.

— Acho que você está mais apto para responder esta pergunta do que eu.

— O que quer dizer com isso?

Emma só queria estar longe dali, longe daquela discussã o. Era uma estranha, estava sobrando naquela casa. Eles pareciam ter esquecido sua presenç a.

Carlos cruzou os braç os.

— Você sabe muito bem o que quero dizer, Miguel. Nã o finja que os meus desejos em relaç ã o a você e Carmen foram totalmente frutos de uma imaginaç ã o fé rtil!

Emma prendeu a respiraç ã o e o gemido que saiu de seus lá bios chamou a atenç ã o de Miguel. Ele mordeu os lá bios e dirigiu-se para ela, tomando-a nos braç os.

— Que infelicidade, padre! Pela primeira vez, tenho que desapontá -lo. Emma e eu estamos muito felizes, como você pode ver, e, quando o nosso filho nascer, estou certo de que vai ficar muito feliz em se tornar avô.

Abuelo. Emma conhecia aquela palavra; significava avô. Olhou para o marido protestando mas, para manter as aparê ncias, ele a olhava carinhosamente.

Carlos parecia incré dulo.

— Você nã o quer dizer que...

— Mas sim, padre, isto mesmo que estou dizendo. — Passou a mã o no ventre de Emma. — Nó s vamos ter um filho!

— Mas como? Você s estã o casados há apenas uma semana.

— Nã o seja antiquado, padre! Emma é uma garota moderna, nã o uma duenna-doncella! Nó s nos amamos desde o dia em que nos conhecemos.

O pô r-do-sol foi magní fico, mas Emma nã o prestou muita atenç ã o. Nas horas seguintes, ficou deitada na cama, olhando para o teto sem ver coisa nenhuma. Odiava o momento em que teria que descer para se juntar aos outros para o jantar, porque sabia que Carlos nã o perderia tempo em contar a todos sobre seu estado.

Nã o tinha mais visto Miguel depois que abandonou a sala de mú sica. Nã o sabia o que Carlos tinha falado depois que ela saiu da sala; só sabia que nã o ia agü entar ficar lá, ouvindo os dois discutirem a respeito de sua gravidez fictí cia.

Enterrou o rosto no travesseiro, mas as lá grimas nã o vieram. Que coisa mais horrorosa! Amava um homem que se casou com ela apenas para desafiar o pai... Nã o conseguia entender aquilo.

Levantou-se e, depois de uma boa ducha, vestiu uma de suas batas novas, uma longa, de chiffon, que delineava o bonito contorno de seu corpo e que punha à mostra suas curvas bem-feitas. Olhando-se no espelho antes de deixar o quarto, compreendeu que nunca tinha estado tã o atraente, as linhas de ansiedade dando a seu rosto uma beleza selvagem.

Juan estava sozinho na sala quando ela apareceu e dirigiu-lhe um olhar de admiraç ã o.

— Maravilhosa! — Beijou as pontas dos dedos dela.

Emma esboç ou um sorriso.

— Posso tomar uma bebida?

— Mas claro. O que você quer? Licor? Ou alguma coisa mais forte?

— Algo um pouco mais forte, por favor.

Emma dirigiu-se para as janelas que davam para o terraç o. Estava escuro lá fora, mas a fragrâ ncia do jardim continuava no ar. Respirou fundo, procurando acalmar-se, e entã o aceitou o gim com vermute que Juan lhe oferecia.

Ele ficou em pé a seu lado, segurando um copo de tequila.

— Alguma coisa está errada. Você quer dizer alguma coisa?

Emma suspirou, passando as pontas dos dedos sobre o corpo.

— Eu fiquei conhecendo a mã e de Miguel hoje de manhã.

— Eu soube. Isso a perturbou?

— Nã o do modo que você está pensando. Oh, por que Miguel e o pai parecem se odiar um ao outro?

— Eles nã o se odeiam. Emma, eu sei que isto é difí cil para você entender, mas é por serem muito parecidos que Carlos e Miguel estã o sempre entrando em atrito. Infelizmente, Miguel gosta muito da mã e, e é exatamente isto que de tempos em tempos prejudica o relacionamento dos dois.

— Infelizmente? Por que deveria ser uma infelicidade Miguel gostar da pró pria mã e? Isto me parece a coisa mais normal do mundo. Todo filho adora a mã e, e deve ser muito leal, para com ela.

— Como eu disse, é difí cil para você poder entender, Emma. Nossos costumes sã o bem diferentes dos seus, e o que aconteceu trinta e trê s anos atrá s nã o devia destruir o presente. Carlos é um homem tã o possessivo quanto Miguel e fica muito sentido quando Miguel tenta se libertar dele. — Olhou para o lí quido em suas mã os, pensativo. — Talvez ele quisesse que Miguel nunca descobrisse a verdade a respeito de seu nascimento, mas Elisa fez tudo ao contrá rio.

— Elisa? Quem é Elisa?

— Elisa era a esposa de Dom Carlos. Ela morreu há quase vinte e cinco anos.

— Oh, sim. Ele me contou que a esposa estava morta.

— Ela ficou doente muito tempo e tornou-se uma mulher amargurada e má. Nã o que eu esteja desculpando o que aconteceu. Ningué m poderia desculpar. Mas sem dú vida alguma você já adivinhou, apesar do pouco tempo que está nesta casa, que Dom Carlos consegue tudo o que quer. E Miguel foi o filho que ele tanto desejava e nã o conseguia ter com a esposa.

— Está insinuando que o pai de Miguel tomou Maria como amante para ter um filho?

— Sim. — Obviamente, Juan estava achando muita dificuldade em continuar. — Maria já estava na idade de se casar. Tinha dezesseis anos e aqui as pessoas se casam muito cedo. Vinha de uma famí lia de fazendeiros.

— Sim, continue.

— Eles eram de ascendê ncia espanhola e muito orgulhosos. Alfaro já trabalhava para Dom Carlos nesta é poca. Ele é o que se pode chamar de mestiç o, de sangue espanhol e í ndio. E depois que o filho de Dom Carlos nasceu, conseguiu convencer os pais dela a permitirem o casamento de Maria com Alfaro. Deu-lhes dinheiro e uma casa, com a promessa de que nada devia ser revelado. A crianç a teria que crescer como filho de Dom Carlos, seria legalmente adotado, e embora Elisa tivesse odiado a histó ria toda, nã o fez nenhuma objeç ã o.

Juan deu de ombros, e continuou:

— Talvez o bebê, pequeno e indefeso, nã o fosse algo para ser odiado. Mas logo que Miguel começ ou a crescer, parecendo cada vez mais com o pai, Elisa ficou contra ele. Quando tinha sete anos, ela lhe contou quem era sua verdadeira mã e.

Emma percebeu que nã o tinha sequer tocado sua bebida e levou automaticamente o copo aos lá bios.

— E Dom Carlos?

— Ele estava furioso, como você pode imaginar, mas Elisa moreu logo em seguida, escapando assim de sua ira. Pois ele estava com tanta raiva que poderia maltratá -la.

— Imagino que Miguel quisesse passar alguns dias com a mã e e com seus irmã os e irmã s de sangue.

— Claro. Conhecendo Miguel como você conhece, deve saber que ele nã o é homem que evita problemas simplesmente porque esta é a maneira mais fá cil. Dom Carlos certamente fez objeç õ es, nã o queria se afastar do garoto. Ele o amava, isso era a coisa mais importante. Talvez ele o amasse mais do que devia.

O ruí do de passos no hall interrompeu a conversa e Juan afastou-se quando Carmen Silveira entrou na sala. Vestia uma roupa preta e realmente estava muito bonita; irradiava beleza. Emma sentiu um nó na garganta de tanto desespero. Como é que ela podia esperar substituir uma mulher como aquela? Uma mulher confiante e sofisticada, segura de si e de sua posiç ã o dentro daquela casa. E que outro motivo teria Miguel para rejeitá -la, a nã o ser um desejo doentio de contrariar o pai? Carmen olhou indiferente para Emma, ignorando-a e desprezando-a. Em seguida, olhou para Juan.

— Onde está Miguel esta noite? Estou certa de que, se ele nã o almoç ou, deve estar morrendo de fome! Ou será que o amor — o modo como pronunciou essa palavra era muito irô nico — destruiu seu apetite?

— Miguel saiu para jantar fora — explicou Carlos, entrando na sala e se pondo atrá s dela, elegante e muito bonito em seu traje de noite.

Olhava para Emma e ela se sentiu como um rato na ratoeira.

— Temo que todos nó s estejamos privados da companhia dele esta noite, até mesmo Emma.

Era agora que ele ia dizer, ia ser naquele instante que contaria a todos a conversa com Miguel na sala de mú sica. E o que ela ia responder?

Mas estava enganada. Carlos virou-se para Juan, fazendo algum comentá rio sobre a propriedade. No entanto, durante toda aquela longa noite ela esperou, tensa, uma palavra que fosse sobre sua gravidez. Mas Carlos nã o disse nada. Apenas ficou lá, vendo-a desesperada, sabendo que seus nervos deviam estar à flor da pele...

 

 



  

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