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CAPITULO XI



 

Na manhã seguinte, depois do café, Emma estava sentada preguiç osamente no terraç o quando um helicó ptero passou. O barulho inesperado quebrou o silê ncio, afastando todos os pá ssaros. O helicó ptero sobrevoou os jardins e tomou a direç ã o da linha azul das montanhas.

Emma franziu a testa. Desde sua chegada, há duas noites, o helicó ptero esteve guardado no hangar perto do está bulo e nã o tinha ouvido nenhuma conversa a respeito de algué m ir viajar.

Carlos entrou no terraç o nesse instante e ela estremeceu. Esperou que nã o fosse convidá -la para sair a cavalo outra vez.

— Buenos dias, Emma.

— Bom dia.

E já ia entrar na sala, quando ele perguntou:

— Você estava vendo a partida de Miguel?

— O que você disse?

— Eu disse: estava olhando Miguel partir?

Carlos parecia inocente, mas ela sabia que a pergunta nã o tinha nada de inocente, muito pelo contrá rio.

— Está tentando me dizer alguma coisa, senhor?

— Oh, senhor! Que formalidade! Minha querida, eu sou seu sogro. Como diz Miguel, logo serei o avô de seu filho. Certamente você tem o direito de me chamar de Carlos.

Emma ferveu de raiva.

— O que quer dizer com o fato de Miguel ter partido, senhor?

— Carlos!

— Está bem, Carlos! — Emma cerrou os dentes.

— Assim fica melhor. — Ele sorriu novamente. — Nó s nã o precisamos ser tã o formais um com o outro.

— Quer fazer o favor de continuar, Carlos?

— Muito bem. Miguel foi embora. O que podia ser mais simples do que isto? Ele nã o avisou?

— Você já devia saber que nã o. — Emma estava trê mula, mas se recusava a permitir que ele percebesse seu tremor. — Para onde ele foi?

— Nã o sei se devo lhe contar. Afinal de contas, ele deve ter omitido de propó sito. Talvez nã o queria que você ficasse sabendo. Depois de ontem à tarde, tenho muito medo de me meter com a vida dele, pode até ser que se zangue comigo.

Emma nã o acreditava nele. Nã o acreditava numa palavra do que estava dizendo. Simplesmente brincava com ela, e a primeira coisa que lhe veio à mente foi deixá -lo falando sozinho. Se pensasse que estava interessada, ia continuar brincando como um gato com o rato.

Oh, sim, ela pensou, Miguel certamente tinha desculpa por sua frustraç ã o e tristeza. Naquele exato momento, sua vontade era esbofetear aquele rosto sorridente.

— Bem. se você realmente acha que eu nã o devo ser avisada, entã o nã o posso forç á -lo. Desculpe, mas quando você chegou eu já estava saindo para o meu quarto.

Carlos estudou-a intensamente, e havia um traç o de irritaç ã o em seus olhos.

— Você pensa que é muito inteligente, nã o é mesmo? Forç ou meu filho a se casar com você pelo mé todo mais antigo do mundo!

Emma arregalou os olhos. Isto significava que ele tinha acreditado na histó ria de Miguel. Imaginava que o casamento deles tinha sido idé ia dela. Ou esta era simplesmente uma maneira de acalmar sua consciê ncia? De assegurar a si mesmo que Miguel nunca teria sido contra a vontade dele sem uma boa justificativa?

Fez menç ã o de sair, mas ele a agarrou pelo braç o. Emma soltou-se.

— Você ainda nã o está legalmente casada, señ orita — disse, e nã o havia ironia em seu tom agora. — Uma cerimô nia no civil acontecida na Inglaterra nã o significa nada para a minha igreja. Você é uma boba se pensa que pode usar o nome Salvaje antes de se casar diante do padre na catedral de Puebla!

Emma afastou-se rapidamente. Seu corpo todo tremia e ela sabia que, se nã o fosse muito rá pida, acabaria caindo no choro na frente dele.

Mas, uma vez no quarto, as lá grimas nã o vinham. Em vez disto, sentou-se com os olhos secos diante do espelho, desejando nunca ter ido visitar o padrinho no dia do aniversá rio dele, com aquele mau tempo.

Ningué m sabia onde Miguel tinha ido e por quê. Se Carlos sabia, nã o contou nada a ningué m. Os dias passavam lentamente. Com tempo à disposiç ã o, Emma passava a maior parte do dia no está bulo, falando num espanhol razoá vel com José, o homem da estrebaria, e ajudando-o a cuidar dos cavalos. Havia trê s é guas e quatro cavalos, e José lhe explicou que Dom Carlos criava cavalos para corridas. Essa era uma diversã o muito cara, mas ele tinha dinheiro de sobra.

Loren parecia ter muito o que fazer na casa. Dom Carlos aparentemente apreciava o serviç o dela em organizar sua correspondê ncia e por isso estava sempre muito ocupada, nã o podendo fazer companhia a Emma.

Juan també m tinha muito trabalho para fazer, mas uma vez ou outra passeava pelo jardim com Emma e uma vez até deram um passeio de barco pelo lago.

Tudo ao seu redor era tã o magní fico que ela devia se sentir muito feliz, mas nã o se sentia. Estava desesperada por notí cias de Miguel, e começ ou a ter o terrí vel pressentimento de que ele podia nã o voltar, de que tinha sido abandonada. Onde estaria ele? Com quem estaria? E quando voltaria?

Dom Carlos nã o tinha falado nada para os outros a respeito da crianç a, e ela se perguntava por quê. A ú nica conclusã o a que podia chegar era que nã o mencionar o fato era o mesmo que fingir que nã o existia bebê nenhum.

E realmente nã o existia, dizia uma voz histé rica dentro dela. Como poderia, se o casamento deles nã o era um casamento de verdade?

Uma vez Juan levou-a de jipe para inspecionar a propriedade. Até entã o, imaginava que o ú nico meio de chegar à s montanhas fosse de helicó ptero, mas havia uma estrada, se é que podia ser chamada assim. Um caminho cheio de pedregulhos, e era possí vel chegar a Puebla em menos de uma hora. A distâ ncia nã o era grande, mas as condiç õ es eram pé ssimas e se precisava ter muito cuidado para guiar.

Juan parou o jipe no meio do caminho e Emma olhou para o Lacustre Largo lá embaixo. Era bem cedinho e o lago estava verde-claro, suas margens num verde mais escuro. A sombra das montanhas se espalhava como um gigante pela baí a, e ela ficou maravilhada que algué m pudesse transformar em tanta beleza um lugar que antigamente devia ter sido deserto e selvagem.

Olhou para Juan.

— Quando acha que Miguel vai voltar? Você nã o sabe mesmo para onde ele foi?

Juan olhou-a, como se já estivesse esperando este tipo de pergunta, mas apenas balanç ou a cabeç a.

— Eu nã o sei de nada. Nã o consigo entender por que ele quis ir sozinho.

Emma percebeu que estava magoado com isso.

— Mas certamente Dom Carlos deve saber alguma coisa. Onde está o helicó ptero? Por que ele nã o tenta localizá -lo, se está preocupado?

— Tenho certeza de que está no aeroporto em Puebla. Você se lembra, onde conheceu Felipe Alvarez.

— Você acha que Miguel está em Puebla? — Seu coraç ã o batia, desordenado.

— Nã o, mas o helicó ptero deve estar lá.

— E se Dom Carlos precisar dele nesse meio tempo?

— Dom Carlos dificilmente sai de casa. Mas se precisar, basta mandar uma mensagem.

— Claro. Nã o sei mais o que pensar!

Juan deu de ombros.

— Nã o posso acreditar que Miguel fosse confiar no pai desta vez.

— Talvez você esteja certo. Oh, Juan, eu gostaria que ele voltasse! — Seus lá bios tremiam e ele a olhou, assustado. Pegou na mã o dela.

— Você está apaixonada por Miguel! Eu nunca pensei...

Emma nã o conseguiu responder. Estava muito amargurada. Para seu alí vio, Juan percebeu e nã o disse mais nada. Ligou o jipe e voltaram para casa.

As vezes era tentada a ir visitar Maria Dí az, mas tinha medo de que, se o fizesse, Carlos nã o entendesse e fosse contar alguma coisa para Miguel.

Uma noite, cerca de dez dias depois da partida de Miguel, Emma entrou na sala antes do jantar e encontrou Carmen Silveiro. Ficou surpresa, porque Carmen geralmente era a ú ltima a aparecer.

— Sente-se — disse, apontando a mã o lâ nguida para o sofá, mas Emma escolheu uma cadeira. — O que você gostaria de beber?

— Só um licor, por favor.

Emma alisou a saia. Estava muito contente em deixar que Carmen se comportasse como a anfitriã e ela como uma visita. A mexicana estendeu-lhe o copo. Carmen nã o se serviu de nada. Ficou parada na frente dela, olhando-a com muita intensidade. Onde estaria Juan? Por que ele nã o chegava? Nã o tinha nenhuma intenç ã o de manter um diá logo com a mulher que Carlos queria que fosse sua nora.

— Diga-me, señ orita — começ ou Carmen, examinando as longas unhas pintadas —-, quando é que vai entender que Miguel nã o voltará enquanto você estiver aqui?

Suas palavras, ditas tã o calmamente e tã o baixinho, eram muito mais assustadoras para Emma do que se ela lhe tivesse gritado. Aquilo fez com que seu corpo todo começ asse a tremer. Teve vontade de sair correndo da sala. Mas entã o raciocinou melhor, e percebeu que, se fizesse aquilo, iria simplesmente dar à outra uma pequena vitó ria. Entã o, sorvendo seu licor, fingiu uma calma que estava longe de sentir. Nã o ia dar o braç o a torcer para aquela garota petulante.

— Ei, você escutou o que eu disse?

Emma levantou os olhos.

— Sim, ouvi. Mas nã o posso acreditar em você. Nã o tenho dú vida de que foi Carlos quem a mandou dizer isso. Já estou acostumada com as... pequenas excentricidades dele; portanto, nã o me importo.

A mexicana parecia furiosa.

— Como se atreve a falar comigo desse jeito?

— Como eu me atrevo? Certamente, como a esposa de Miguel, tenho muito mais direitos aqui do que você.

— Eu vivo aqui! — disse Carmen, arrogante. — Esta e a minha casa.

Emma deu de ombros.

— E por enquanto é minha també m.

— Nunca! — Carmen estava descontrolada. Andava sem parar pela sala. — Por que você acha que Miguel foi embora?

Agora Emma fingiu estar interessada em sua bebida. Nã o podia deixar Carmen perceber a incerteza em seus olhos, enquanto tentava achar uma resposta.

— Você sabe por que ele foi embora?

Carmen passava a mã o impacientemente pelo tecido de sua roupa.

— Eu sei que ele foi para a cidade do Mé xico. — Entã o, como se percebesse que estava respondendo perguntas, em vez de fazê -las, continuou: — Mas se você fosse realmente a esposa dele. se ele realmente pensasse em voltar, ele lhe teria dito tudo.

— Se ele tivesse me falado, por que você acha que eu lhe contaria?

Carmen bufou.

— Oh, por favor, nã o finja comigo! Você nem mesmo sabia que ele ia viajar. O motivo dessa viagem é um misté rio para todos nó s. Embora eu ache que Carlos sabe alguma coisa. Mas ele nã o vai dizer. Aqueles dois sã o muito amigos.

— Você acha?

— Mas claro. Oh, nã o pense que o pequeno aborrecimento com a sua chegada vai durar muito tempo. Você nã o está acostumada conosco, señ orita, nã o entende o temperamento latino. Miguel voltara e tudo será esquecido, vai ver. Mas quanto a você, nã o acredito que vá ter muita oportunidade!

— Já basta, Carmen!

Carlos entrou muito de mansinho, o que deixou Emma ainda mais nervosa.

— Isto nã o fica bem. Duas lindas mulheres discutindo por causa do meu filho. Estou com ciú mes.

Mas ele estava zombando dela e Emma sabia disto. Levantou-se, pedindo a Deus que suas pernas nã o falhassem.

— Onde está Juan?

— Você nã o sabe?

Oh, pare com este jogo de rato e gato! Emma pediu mentalmente. Já estava começ ando a ficar desesperada. Percebeu o prazer que Carlos sentia em ver seu desespero.

— Juan foi encontrar-se com Miguel. Ele partiu esta tarde. José levou-o até a estaç ã o de trem em Vasos: de lá vai tomar um trem para a cidade do Mé xico.

Emma estava espantada.

— Você quer dizer que recebeu notí cias de Miguel? E por que, eu nã o fui informada?

Carlos deu de ombros.

— A mensagem nã o era para você. Era para Juan, como já disse.

— Mas por que Juan nã o me disse que ia ao encontro de Miguel? — Emma estava realmente descontrolada agora.

Carlos fez um gesto com as mã os.

— Isso nã o é da minha conta. — Olhou para Carmen. —- Pelo que parece, Emma, no que diz respeito a Miguel, você deixou de existir.

— Nã o! — A palavra veio do fundo de seu coraç ã o. — Nã o, eu nã o acredito em você s.

Carlos sorriu com desdé m.

— Isso é problema seu, claro.

— Como é que eu posso saber que você nã o preparou tudo?

— Vá perguntar a Loren. Ela já deve estar sabendo que Juan partiu esta tarde.

Encarando os dois, Emma se sentiu uma intrusa, totalmente incapaz de continuar lá. Com um soluç o, saiu correndo da sala, atravessou o hall e alcanç ou seu quarto. Bateu a porta e atirou-se na cama, e entã o as lá grimas vieram, quentes, seguidas de soluç os que faziam seu corpo todo tremer.

Ningué m foi procura-la e nã o esperava que o fizessem. Ningué m se importava com ela naquela casa, e, agora que Juan tinha partido, sentia como se seu ú nico amigo a tivesse abandonado. Ele devia ter-lhe avisado que estava de partida... e Miguel també m. Nunca ia entender a atitude dos dois.

Um sentimento de desespero, de saudade, tomou conta dela. Como sua vida em Londres lhe parecia longe, nã o apenas em distâ ncia, mas em experiê ncia! Nos ú ltimos dias, parecia ter passado por uma porç ã o de emoç õ es, e agora nã o havia nada — sentia-se completamente vazia.

O casamento tinha sido uma farsa, cheio de rancor, e sem qualquer base. Se Miguel tivesse ficado, se eles tivessem tentado fazer alguma coisa para aumentar a atraç ã o que algumas vezes sentiam um pelo outro, talvez tudo tivesse sido diferente. Mas agora só podia culpar a si mesma pelo casamento nã o ter dado certo. Aquela noite, neste mesmo quarto, ele a tinha desejado, sabia disto, mas ela, a tonta que era, achou que podia esperar até que existisse mais do que desejo. E agora Miguel tinha ido embora, e, se pretendia ou nã o voltar, fazia muito pouca diferenç a. Parecia tudo perdido.

Algumas palavras de Tennyson, seu escritor preferido, lhe vieram à mente: " Nó s morremos, e faz alguma diferenç a quando? " Eram muito apropriadas, pois se tratava da morte de um casamento. E importava quando é que teria que terminar? Mais cedo ou mais tarde, teria que acontecer. A vitó ria era de Carlos. Para que ia querer ficar lá? Para mais humilhaç ã o, mais sofrimento? Estaria preparada para dar a Carmen a satisfaç ã o de vê -la ser tratada pelo marido como tinha sido tratada pelo pai dele? Nã o! Nã o agü entaria passar por tudo aquilo novamente.

Sentou-se rapidamente na cama. Recusava-se a pensar em tal coisa. Podia nã o ter muita coisa para ser elogiada, mas tinha seu orgulho, e enquanto continuasse ali estaria procurando desprezo. Foi até a janela, olhando a paisagem lá fora. Tudo era muito lindo. Poré m, como todos os jardins do É den, tinha que haver uma serpente. Ali, havia duas.

Entã o, o que deveria fazer? Podia ir à cidade do Mé xico, tentar encontrar Miguel e lhe perguntar quais eram as suas intenç õ es. Mas aquilo parecia loucura. Como é . que algué m podia encontrar uma pessoa numa cidade estrangeira, quando nem falava a lí ngua do povo de lá? E se fosse a Puebla perguntar ao piloto do helicó ptero? Nã o, ia parecer muito estranho. De qualquer forma, por que ele lhe diria alguma coisa, sem pedir a permissã o de Carlos?

Entã o, o que devia fazer? Havia apenas mais duas alternativas. Continuar lá ou ir embora para a sua casa! Casa!

A sra. Cook estava tomando conta da casa até que seu pai voltasse. Ficaria muito feliz de ver Emma novamente. Oh, que maravilha que era sentir-se querida e protegida!

Virou-se e estudou o quarto. Podia partir de manhã bem cedinho. Ningué m ia tentar impedir. Pelo contrá rio, estava quase certa de que todos aqueles incidentes tinham sido preparados cuidadosamente, para expulsá -la.

A idé ia de encarar Carlos e lhe dizer que estava indo embora nã o lhe agradava muito. Quase já podia ver o brilho de felicidade nos olhos dele, ouvi-lo consolá -la com palavras de solidariedade,, quando na verdade estaria rindo dela por dentro.

Nã o, teria que partir sem que ele soubesse. Podia lhe mandar um cabograma da cidade do Mé xico alguns minutos depois que seu aviã o decolasse, para nã o lhe dar a oportunidade de ir atrá s dela.

É interessante como a mente de uma pessoa funciona. Imaginou que tudo ia correr como tinha planejado. Como Juan já tinha usado o jipe com ela uma vez, nã o seria difí cil pedir a Carlos que lhe emprestasse na manhã seguinte, pois queria dar um passeio sozinha.

Carlos parecia ocupado com seus pró prios pensamentos e nã o fez nenhuma objeç ã o. Portanto, à s dez horas, Emma estava a caminho das montanhas, à procura da estrada cheia de pedregulhos. Era claro que nã o podia levar muita coisa, para nã o despertar suspeitas. Levou apenas uma valise onde colocou algumas peç as í ntimas, um vestido, uma calç a e algumas camisas. Suas roupas antigas estariam em seu armá rio em Londres, porque tinha certeza de que a sra. Cook nã o se desfizera delas.

A maior dificuldade tinha sido conseguir seu passaporte no quarto de Miguel. Nunca tinha entrado em seu quarto antes e ficou encantada. Era um quarto bem mais simples do que o dela, com o chã o coberto por tapetes, colcha e cortinas azuis. Nem mesmo tinha certeza se ia encontrar o passaporte lá, mas estava na gaveta da mesinha de cabeceira, junto com o de Miguel.

Ela olhou para a foto dele durante muito tempo. O fato de seu passaporte estar lá era uma prova de que ele nã o tinha deixado o paí s e de que pretendia voltar logo para casa. Por alguns instantes, sua decisã o de partir foi abalada. Mas já estava convencida de que, mesmo que voltasse, as coisas nunca iriam melhorar. Portanto, devia acabar com tudo agora, antes que alguma coisa irrepará vel acontecesse. Como um filho, pensou, mordendo os lá bios que tremiam.

A viagem para Puebla foi a mais desconfortá vel de sua vida. Sem falar no desconforto das condiç õ es deplorá veis da estrada, també m foi atacada pelo medo de Carlos nã o deixar que fugisse. A qualquer minuto, esperava ouvir o helicó ptero acima de sua cabeç a, em direç ã o de Lacustre Largo.

Mas, na realidade, nada aconteceu, e seus ú nicos sentimentos eram cansaç o e tristeza quando chegou a Puebla, por volta das quatro horas da tarde. Perguntou a um policial onde ficava a estaç ã o de trem e só entendeu metade da explicaç ã o, mas foi suficiente para saber que nã o havia nenhuma estaç ã o de trem e o ú nico meio de chegar à cidade do Mé xico era de carroç a. Nã o havia nenhum ô nibus para a capital até o dia seguinte e ela nã o ousava esperar tanto tempo. Seu ú nico meio de escapar seria o jipe e, embora Carlos pudesse acusá -la de roubo, era melhor do que esperar lá e correr o risco de ele mandar algué m buscá -la.

Encheu o tanque e tomou um café de má quina. Tinha um gosto muito bom. Estava com fome e comprou algumas frutas e uma fatia de pã o de milho. Depois, partiu de jipe, em direç ã o à cidade do Mé xico. Ficava a menos de cem quilô metros de distâ ncia, mas, com a pouca experiê ncia que tinha de guiar naquelas estradas, levaria muito mais tempo para chegar.

Nã o estava preparada era para a absoluta escuridã o que se seguiu logo depois de ter deixado Puebla. Perdeu muito tempo comprando gasolina, frutas, pã o, e a noite caiu tã o rapidamente que nem percebeu e agora se encontrava naquela escuridã o desconhecida e inimiga. A lua, que esteve tã o clara na noite anterior em Lacustre Largo, nã o apareceu. Era muito azar ter que viajar numa noite daquelas.

Havia muito pouco movimento na estrada, e algumas vezes andava quilô metros sem encontrar ningué m, o que nã o era encorajador. Entã o, pisava um pouco mais no acelerador, dizendo para si mesma que nã o faltava muito, e se punha a pensar em sua casa em Londres, em seu pai, e na sra. Cook...

Chegou pouco depois das nove e foi direto para o aeroporto. Mas, claro, nã o havia aviõ es partindo naquela noite, só na manhã seguinte.

Fez reserva e depois teve que pensar sobre onde dormiria. Nã o se atrevia a ficar no hotel do aeroporto, pois temia que Carlos mandasse algué m atrá s dela. Encontrou uma pequena pensã o que nã o ficava muito longe e, depois de ser levada ao quarto, foi direto para a cama. Mas nã o para dormir. Porque, apesar de estar muito cansada, nã o conseguiu dormir. Acabou passando a noite andando pelo quarto, desejando que o novo dia surgisse rapidamente.

Finalmente, começ ou a clarear e deixou a pensã o, apressada. Estacionou o jipe no que esperava que fosse uma á rea segura, perto do aeroporto. Nã o seria difí cil encontrá -lo ali.

O aeroporto internacional tinha ar condicionado e era muito impessoal, apinhado de gente indo e vindo de todas as partes do mundo. Usava uma calç a de algodã o, camiseta sem mangas e uma jaqueta leve pendurada no braç o. Parecia uma estudante e nã o chamou muito a atenç ã o, apesar de sua falta de bagagem.

As mesas da recepç ã o estavam todas ocupadas com pessoas checando e recolhendo passagens. Emma juntou-se aos outros passageiros, resignada. Nã o tinha pressa. Seu vô o estava marcado para dentro de duas horas.

Mas quando se sentou para esperar, o homem que estava em pé, de costas para ela, virou-se, e ela ficou cara a cara com Miguel.

 

 



  

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