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CAPÍTULO VIII



 

O grito do leã o da montanha perturbou o silê ncio da noite e Emma sentou-se assustada na enorme cama de casal, cobrindo-se toda com a colcha. Parecia tã o pró ximo aquele uivo. Será que os animais costumavam se aproximar muito da casa? Será que alguma vez já tinham entrado nos jardins?

Olhou para o terraç o atravé s da janela do quarto, mas nã o havia nada para ser visto. A luz do amanhecer se espalhava pelas cadeiras de palhinha e, acima do terraç o, o brilho tropical das plantas era incrivelmente vivo.

Tremendo, ela se deitou novamente e tentou dormir. Mas tudo foi inú til. Sentia-se perdida e solitá ria, e tentou dizer a si mesma que era bobagem ficar daquela maneira, quando agora era uma mulher casada e o marido estava a apenas alguns metros de distâ ncia, no quarto ao lado.

Mas tudo aquilo nã o importava, pensou desesperada. Lá grimas quentes rolaram por seu rosto. Tinha pensado que sabia por que Miguel quis casar com ela, tinha imaginado vagamente que era uma combinaç ã o de atraç ã o mú tua e desejo de afastá -la de Victor. Mas agora nenhuma dessas coisas parecia real.

Desde a noite que foi visitá -lo no hotel em Londres e aceitou sua proposta de casamento, ele nã o tinha mais tocado nela. Agora nã o sabia até quando ia agü entar tudo aquilo.

Era muito inocente no que dizia respeito aos homens. Tinha tido muito pouca experiê ncia, no fim das contas. E esta noite, depois da chegada deles em Lacustre Largo, tinha percebido claramente toda a sua estú pida ignorâ ncia.

Uma vez aceita a proposta de Miguel, sua vida pareceu se transformar num turbilhã o. Miguel nã o permitia que nada nem ningué m se metesse no caminho dela, e tudo aconteceu tã o depressa que nã o teve oportunidade de pensar novamente. Nem teria ousado. Ele telefonou para o pai dela em Perisoire, um subú rbio de Montreal, e Emma contou por que tinha acabado o noivado com Victor e se casado com Miguel Salvaje em seguida. Naturalmente, nã o contou toda a verdade para o pai, e percebeu sua ansiedade. Mas quando explicou que iam passar por Montreal antes de ir para o Mé xico, ele pareceu muito feliz.

Depois daquilo, nã o havia mais nada para atrapalhar o caminho deles. Emma fez exames mé dicos, tomou uma porç ã o de vacinas e entã o estava totalmente preparada para a viagem. Mas a maior parte do tempo ficou atordoada, e a sra. Cook achou tudo muito perturbador. Já nã o era tã o contra Miguel, mas percebeu que ele exercia muita influê ncia sobre Emma e, assim que teve uma chance, pediu-lhe que tomasse bastante cuidado com sua patroa. Miguel pareceu assustado com o incidente, mas Emma foi incapaz de discutir isto com ele. Aliá s, pouco se falavam.

Ela dizia para si mesma que as coisas iam mudar. Que, logo que se casassem, voltariam a ser carinhosos, pois era exatamente isso que estava faltando no relacionamento deles. Mas nada aconteceu como esperava.

A ú nica pessoa com quem podia realmente falar era Juan Castillo. Alé m de empresá rio, Juan també m era amigo e assistente de Miguel, capaz de dar-lhe a mã o em qualquer assunto. Era a ú nica pessoa que parecia entender a tensã o em que Emma vivia na é poca e fez o melhor que pô de para facilitar as coisas para ela.

Mas apenas Miguel podia realmente lhe dar tranqü ilidade, e ela o viu muito pouco antes do casamento. A cerimô nia civil foi simples, apenas com Juan, Loren Delmar e Paul Gregory presentes. A notí cia só foi dada à imprensa depois de tudo acabado. Emma usou uma roupa azul, bem simples, e um chapé u de abas largas; nã o foi, de jeito nenhum, o casamento com que tinha sonhado. Miguel beijou-a na testa — e foi só.

Houve uma recepç ã o no hotel dele, també m para poucas pessoas — um ou dois amigos e alguns mú sicos da orquestra. Entã o, Miguel anunciou que iam se casar na igreja quando chegassem ao Mé xico, mas foi a primeira vez que ouviu isso. Depois do bolo ser partido, dos cumprimentos de felicidades, todos se foram, ficando apenas Paul, Loren e Juan.

Emma estava terrivelmente nervosa. Odiava pensar no momento em que os dois ficariam sozinhos. Porque ele a atraí a de tal forma que, só de pensar no tipo de intimidade que teriam, se assustava. Nunca tinha dormido com um homem antes, e a idé ia de ficar nua diante dele, de dar-lhe o direito de repartir seu quarto e sua cama, deixava-a aterrorizada. Nã o sabia o que ele realmente significava para ela; parecia-lhe um estranho e, desesperada, queria ficar sozinha e pô r seus pensamentos e sentimentos em ordem.

Nã o precisava ficar tã o alarmada. Paul ficou lá até as onze horas e Loren foi dormir logo depois. Mas Juan nã o fez menç ã o de deixá -los a só s. Muito pelo contrá rio, depois que Paul saiu, pegou, alguns papé is de sua maleta e ele e Miguel começ aram a discuti-los como se nem notassem a presenç a de Emma.

Foi Juan quem percebeu que ela nã o se sentia bem ali e sugeriu a Miguel que mostrasse o quarto dela. Emma esperou alguma reaç ã o do marido, alguma tentativa de ficar a só s com ela mas, em vez disso, Miguel simplesmente concordou e pediu que Juan a levasse até seus aposentos.

Nã o foi levada, como esperava, ao quarto de Miguel. O dela ficava do outro lado do corredor e suas malas já estavam lá. Era um quarto muito bonito, decorado em rosa e dourado, com uma enorme cama de casal; mas para Emma era um lugar frio e nada acolhedor.

Lembrava-se agora quanto tempo tinha ficado deitada, esperando que Miguel aparecesse, tremendo na camisola que comprara para sua noite de nú pcias. Mas ele nã o apareceu. Estava dormindo há pouco tempo, quando Juan entrou com o café da manhã numa bandeja.

Nos dias anteriores, pensara muito na famí lia de Miguel. Ficou triste que nenhum deles tivesse ido ao casamento. Mas afinal eles iam viajar quase imediatamente para o Mé xico. E tantos quilô metros era uma tremenda distâ ncia para se viajar apenas por uns dois dias.

A vida de casada foi outra decepç ã o. Como Juan Castillo e Loren, ela era tratada como um outro membro da comitiva, mas sem a mesma consideraç ã o. Parecia que Miguel a estava evitando e só quando algué m de fora aparecia é que ele a tratava melhor. Nã o conseguia entender isso e, ferida, fechou-se numa couraç a para se proteger. Mal usou o magní fico enxoval que Miguel tinha insistido que ela comprasse antes de deixarem Londres. Nada compensava o sofrimento de saber que ele tinha se casado por capricho, sem sentir nada por ela. Simplesmente nã o era o mesmo homem que a levou para as dunas e foi tã o carinhoso. Sua cabeç a doí a com o constante tormento de tentar achar uma razã o para o que ele tinha feito.

Nã o viu mais Victor, embora a sra. Cook lhe contasse que ele tinha telefonado vá rias vezes. Mas ela nunca estava em casa. Miguel providenciou tudo, mesmo nã o estando com ela o tempo todo.

Partiram para Montreal no sá bado de manhã e aquilo, para Emma, foi uma outra revelaç ã o. O pai de Miguel tinha seu pró prio aviã o, um jatinho. Foi nele que atravessaram o Atlâ ntico. Nã o era um aviã o muito grande, mas bastante luxuoso e confortá vel. Emma nã o conseguia se controlar. Sentia-se feliz por ver o pai novamente mas, quando mencionou isso num dos breves momentos a só s com Miguel, ele apenas sorriu enigmá tico e disse que só passariam umas duas horas no Canadá.

Contendo a decepç ã o, Emma se perguntava o que o pai iria achar de sua nova aparê ncia. Usando as roupas finas e femininas que Loren Delmar a ajudou a escolher, estava muito diferente. Agora parecia mais jovem e mais bonita, mas no que dizia respeito ao marido, ele nem a olhava. Nã o devia ter se preocupado em se enfeitar para Miguel.

Montreal era como qualquer outra cidade grande, impessoal e lotada de carros. Um tá xi levou Emma e Miguel para a casa do irmã o dela nos subú rbios, mas, quando chegaram lá, metade do tempo que tinham para gastar já tinha passado, por isso mal puderam conversar. Emma, pelo menos, ficou certa de uma coisa: o pai achou que ela era feliz. E, para dizer a verdade, com Miguel se comportando daquela maneira gentil e charmosa, ela estava feliz. Mas tã o logo saí ram, voltou a ser frio, como sempre, e Emma nã o teve coragem de perguntar o que estava errado.

Voaram para o Mé xico um pouco mais tarde do que o previsto, chegando ao aeroporto internacional da cidade do Mé xico tarde da noite. Lá, uma das limusines do pai de Miguel os esperava e levou-os para a cidade, onde passaram a noite num hotel muito luxuoso.

Ficaram trê s dias na cidade do Mé xico, enquanto Miguel consultava alguns especialistas por causa de seus dedos e Juan fez alguns negó cios. Pelo que Emma sabia, ningué m avisou a famí lia de que eles tinham chegado, e isto a deixou muito surpresa. Mas estava muito atordoada com o clima quente e com a beleza a sua volta para poder se preocupar com qualquer outra coisa.

Emma teve oportunidade de conhecer Loren bem melhor. Embora duvidasse de que um dia pudessem ser amigas í ntimas, isso nã o importava. Sendo quase da mesma idade e forç adas a uma convivê ncia diá ria, acabaram se dando muito bem. Loren conhecia toda a cidade, claro, e passearam muito tempo juntas. Emma ficou conhecendo o Parque Chapultepec e o Paseo de la Reforma quase tã o bem quanto uma garota mexicana. També m passaram muito tempo no Museu de Antropologia. Viram os murais no Palá cio Nacional, que tinham sido pintados pelos í ndios patriotas, entre eles alguns de Diego Rivera. Descreviam a histó ria de Cortez e seus conquistadores espanhó is. Emma tinha aprendido que os í ndios faziam sacrifí cios humanos e ficou muito chocada quando lhe contaram que Cortez era o usurpador, que tinha destruí do uma civilizaç ã o. O guia era um í ndio, ló gico, e ela ficou muito feliz de sair à luz do sol novamente e perceber que tudo aquilo tinha acontecido há mais de quatrocentos anos.

Uma das experiê ncias mais maravilhosas foi entrar na imponente catedral, o edifí cio mais antigo dos templos cristã os nas Amé ricas, construí do sobre ruí nas de templos astecas.

Partiram da cidade do Mé xico na quarta-feira à tarde, desta vez viajando de helicó ptero, com destino a Puebla, que era a cidade mais pró xima de Lacustre Largo.

Quanto mais eles se aproximavam da casa de Miguel, mais sé rio ele parecia se tornar e Emma nã o conseguia entender isto. Queria que ao menos ele lhe falasse, mas a cada instante, pelo contrá rio, ela precisava mais e mais do apoio dele, enquanto ele parecia precisar cada vez menos dela.

O lugar que eles sobrevoaram era lindo e assustador. Montanhas e desfiladeiros, lagos e vales fé rteis; tudo tinha uma aparê ncia selvagem, coisa que Emma nunca vira nem sonhara. Miguel estava sentado na frente, ao lado do piloto, enquanto ela, Loren e Juan estavam bem espremidos na parte de trá s. Já era tarde quando eles aterrissaram num aeroporto particular em Puebla. Emma, que nã o tinha comido praticamente nada o dia todo, agora sentia muito calor e estava fraca, mas ningué m pareceu notar. O proprietá rio do aeroporto era um homem alto e gordo chamado Felipe Alvarez, que recebeu Miguel como a um filho e ignorou os outros. Juan pareceu sem graç a.

— Vamos fazer uma refeiç ã o aqui — Juan explicou para Emma, enquanto ela observava o marido desaparecer no campo de aviaç ã o com Felipe Alvarez.

— Vamos? — O tom de Emma era seco, mas ela esforç ou-se para nã o demonstrar sua frustraç ã o. — E depois?

— Depois voaremos para Lacustre Largo.

Emma nã o gostou muito da refeiç ã o que a esposa de Alvarez preparou. Até entã o tinha suportado bem aquela comida forte, escolhendo apenas pratos de que ela já ouvira falar. Mas as tortillas, recheadas com carne e cebola e servidas com molho de tomate apimentado, eram muito fortes. Tomou de uma vez a bebida que serviram para poder engolir aquilo. Só quando sua cabeç a começ ou a rodar é que percebeu que tinha bebido alguma coisa alcoó lica.

Lembrava-se pouco da viagem de Puebla para Lacustre Largo, pois dormiu quase o tempo todo. Só se lembrava de ter acordado uma vez, com a cabeç a apoiada no ombro de Juan, e ouvir Miguel muito bravo, falando alguma coisa em espanhol com Juan, que ela nã o pô de entender. Mas de qualquer forma, já estava escuro e nã o havia mais nada para ser visto.

Pousaram a alguma distâ ncia da casa de Miguel e Emma já estava bem acordada. Podia distinguir vagamente a silhueta do pai dele na varanda e havia muitas luzes e o som de vozes. A lua brilhava na á gua do que ela imaginou ser o lago Largo — Lacustre Largo —, de onde vinha o nome da propriedade.

Miguel abriu a porta de trá s do helicó ptero e saltou, ficando em pé durante algum tempo, observando o lago. Entã o ajudou Loren e Emma a desembarcar. Juan foi o ú ltimo. Respirou fundo o ar saudá vel, sorvendo-o como a um bom vinho.

— Maravilhoso — disse, com um sorriso, para Emma. — Nã o existe lugar algum como este.

Miguel observou-os por algum tempo, alto e esbelto em sua calç a e camisa de seda pretas. Por cima usava um colete verde que lhe ficava muito bem, apesar de um tanto largo. Emma achava que ele nunca tinha estado tã o bonito e atraente.

— Venha — disse, puxando-a pelo braç o, surpreendendo-a com seu gesto. — Vou levá -la para conhecer meu pai.

Emma foi com ele, mais por curiosidade do que por qualquer outra coisa. Percebeu que nã o mencionou a mã e nem os outros membros da famí lia e concluiu que, no Mé xico, os homens da famí lia deviam ser considerados de suprema importâ ncia. No entanto, nã o tinha muita certeza se era mesmo isso.

Atravessaram os jardins em frente da casa que era construí da de pedras, com o telhado caracterí stico de haciendas. Aquilo tudo. à luz do dia, devia ser uma beleza.

Mas no momento, tudo o que a rodeava era secundá rio diante do que teria que enfrentar. Antes de chegarem à casa, alguns criados apareceram, falando excitados em espanhol, cumprimentando Miguel. Estavam obviamente felizes de vê -lo de volta. As garotas í ndias tinham pele e olhos escuros, que espiavam Emma curiosamente, sem dú vida perguntando-se quem seria ela. Emma, por sua vez, se perguntava se o pai de Miguel teria lhes contado que ele estava casado com uma inglesa.

Subiram alguns degraus de pedra, atravessaram o terraç o e entraram no hall de mosaicos azuis e dourados e murais com ilustraç õ es da arte indí gena. A luz elé trica era filtrada por lâ mpadas també m desenhadas, e o vaso com orquí deas exó ticas parecia de origem asteca. Lá era tudo tã o espaç oso, tã o lindo, tã o diferente do que tinha sonhado. Imagine só ter nascido ali.

Emma voltou a atenç ã o para o marido, quando Juan e Loren entraram no hall e, ouvindo a palavra " padre" na conversa de Miguel, percebeu que devia estar perguntando onde o pai estava. Certamente era impossí vel algué m nã o ter ouvido o barulho do helicó ptero descendo à quela hora.

E entã o, como se tivesse acabado de ouvir a voz do filho, Carlos Salvaje apareceu numa porta à direita deles. Abraç ou Miguel com muito carinho. Era tã o alto quanto o filho e muito parecido de rosto també m. O cabelo era bastante grisalho e o corpo, ainda em forma, mas menos musculoso.

— Miguel! Meu filho, meu filho!

Emma sentiu um nó na garganta ao observá -los. Entã o Carlos afastou-se para observar melhor o filho. Pegou sua mã o ferida e balanç ou a cabeç a.

— Que tragé dia!

Continuou falando em espanhol e Emma nã o pô de entender mais nada.

Aos poucos Miguel afastou-se do pai e Carlos prestou atenç ã o nos outros membros do grupo que estavam em pé no hall. Falou carinhosamente com Loren e Juan, mas seu olhar pousou longamente em Emma e nã o houve dú vida de que estava surpreso por vê -la ali també m.

O estô mago de Emma revirava e pela primeira vez pressentiu que nada estava certo. Carlos virou-se para o filho e, num espanhol rá pido, perguntou quem era aquela moç a. Entã o Miguel aproximou-se dela, colocando os braç os em seu ombro, como para protegê -la.

— Vamos falar em inglê s, padre. Minha esposa quase nã o sabe espanhol.

— Sua esposa! Miguel, você nã o pode estar falando sé rio!

— Mas estou — respondeu Miguel calmamente, e Emma percebeu o prazer que sentia ao dizer aquilo ao pai. — Você nã o vai me dar os parabé ns?

Emma levantou-se da cama. Nã o suportava ficar lá mais tempo. Dirigiu-se para as altas janelas e abriu-as, saindo para o terraç o. Nã o se importava que o ar estivesse gelado e que só usasse uma camisola de ná ilon que tinha comprado na cidade do Mé xico. O frio que ela sentia vinha de dentro, e ningué m podia vê -la à quela hora da noite. Todos já estavam dormindo.

Pensava no passado. Juan tinha lhe dito que Miguel tinha uma mã e, irmã os, mas onde estariam todos? A outra ú nica pessoa que ela conheceu foi a sobrinha de Carlos, prima de Miguel. Carmen Silveiro.

Estremeceu. Nã o tinha gostado de Carmen Silveiro, e era ó bvio que Carmen també m nã o gostou dela. Como o tio, ignorava que Miguel estava casado com uma garota inglesa, e cumprimentou-o de um jeito possessivo, como se Emma realmente nã o existisse. Carmen era muito bonita e muito mexicana: pequena, morena e exó tica. Tinha o cabelo negro, brilhante e sedoso. Fez com que Emma se sentisse alta e desajeitada. Carmen se atirou nos braç os do primo apó s Miguel ter dado a notí cia do casamento ao pai, e o beijo que ela lhe deu tinha muito mais do que um beijo de prima.

Mas quando Carlos pacientemente a informou dos fatos, a mudanç a foi bastante notá vel. Empalideceu e o olhar que dirigiu para Emma foi quase de ó dio.

O aroma das flores invadia o terraç o e ela respirou fundo, desconsolada, procurando um pouco da paz de espí rito que parecia ter perdido para sempre. Ouviu o grito do leã o novamente e estremeceu. Talvez, se ela continuasse ali. ele viesse ao seu encontro e a destruí sse, acabando com aquele sufoco. Entã o, nã o teria mais que ver Carlos Salvaje novamente; nã o teria que suportar a culpa de ver o desgosto dele por seu filho ter se casado sem seu consentimento; nem teria mais que compartilhar a casa com pessoas que sabia que nã o a aceitavam — inclusive o pró prio marido...

Debruç ou-se perigosamente no terraç o, suas mã os agarrando os pilares de pedras, o contorno de seu corpo marcado pela camisola fina, o cabelo brilhando à luz do luar.

— Dí os! Emma, você perdeu o juí zo?

Quase caiu ao ouvir a voz inesperada e grave de Miguel atrá s dela. Virou-se devagar, com uma mã o na garganta, e olhou para ele como se realmente nã o pudesse acreditar que estava ali.

— Miguel!

— O que você está fazendo aí fora?

Andou até ela. Ainda usava a roupa preta da viagem.

— Eu nã o conseguia dormir. — Só entã o se deu conta da pouca roupa que usava. Uma camisola fina de ná ilon nã o era a melhor coisa para se defrontar com um marido zangado. Ou talvez, quem sabe, fosse. Talvez fosse por isso que a fraqueza das mulheres dominava a forç a dos homens.

O grito do leã o da montanha soou mais perto agora e Emma olhou em volta, assustada, como se de uma hora para a outra pudesse encontrar a fera atrá s dela.

— É melhor você entrar. O puma está procurando caç a.

— Você acha que eu me importo?

— O que quer dizer com isto?

— Eu gostaria que esse animal aí... eu gostaria que ele viesse e acabasse comigo!

Abaixou a voz e virou-se para que ele nã o percebesse todo o seu desespero.

— Você nã o sabe o que está dizendo. Por favor, volte para a cama.

Ela balanç ou a cabeç a e ele suspirou, antes de dizer:

— Eu insisto que você faç a o que estou pedindo.

Emma ergueu um braç o e massageou o pescoç o, inconsciente de que este gesto revelava seu corpo por baixo da camisola fina. Mas Miguel notou e, com voz emocionada, repetiu:

— Madre de Dí os, Emma, faç a o que estou pedindo!

— Por quê? — Ela olhou para ele, sem perceber o brilho de seus olhos. — Por que é que deveria fazer qualquer coisa que você pede? Você percebe que esta é a primeira vez que ficamos realmente sozinhos desde aquela noite em sua suí te no hotel? Vá embora e me deixe em paz!

Miguel cerrou os punhos.

— Você está gelada. Está querendo pegar uma pneumonia?

— Eu realmente nã o me importo.

Ele atravessou os poucos metros que os separavam em alguns segundos. Abraç ou-a com forç a. Emma resistiu por pouco tempo, e entã o o calor de seu corpo e a necessidade dele invadiu o dela. Deixou que a abraç asse e a acariciasse.

— Dí os! — ele sussurrou, a boca pousada no pescoç o dela. Emma sabia que aquelas palavras queriam dizer que o que ele estava fazendo era uma loucura, mas ele nã o parou. Em vez disso, agarrou-a ainda mais e procurou sua boca com paixã o. Seus lá bios se abriram e a fraqueza fez com que se abandonasse em seus braç os. Ele a pegou no colo, carregando-a para dentro do quarto. Deitou-a na cama e, conseguindo se controlar, tentou se levantar. Mas os braç os de Emma estavam em volta de seu pescoç o. Quando ia se afastar, ela o puxou, procurando sua boca.

Entã o Miguel perdeu a cabeç a e a apertou cada vez mais, possuindo sua boca com uma paixã o que a enfraquecia e a dominava. Era a coisa mais maravilhosa do mundo ter o homem que se ama. E era excitante saber que ele era quase um estranho para ela. Mas quando Miguel começ ou a tirar a roupa, e Emma sentiu o contato da pele dele, entrou em pâ nico. Afastou-se, levantando-se da cama. No entanto, assim que se afastou, quis estar novamente nos braç os dele. Mas, quando olhou para a cama e viu Miguel ainda deitado, nã o conseguiu se mover.

Houve um momento de silê ncio e depois, com um dar de ombros, Miguel começ ou a vestir a roupa. Levantou-se, olhando para ela com o rosto duro, onde havia desprezo.

— Miguel, eu...

— Nã o diga nada! — ele ordenou. E saiu batendo a porta.

 

 



  

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