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CAPITULO V



 

Emma se recusou a olhar para Miguel. Olhou para Victor, cujo rosto estava roxo de raiva e confusã o. Tentava encontrar alguma explicaç ã o razoá vel para tudo aquilo, para aquele intruso indesejado. Parecia um bicho que de repente se vê preso nas garras de um animal maior e mais forte.

— Afinal, o que está acontecendo, Emma? Você conhece esse homem? Vai deixar que ele entre aqui sem ser convidado, sem ser desejado?

Emma sabia que agora a decisã o estava com ela. Escolhendo as palavras cuidadosamente, respondeu:

— Tenho a impressã o de que está havendo um engano, Victor. O sr. Salvaje telefonou ainda há pouco e me convidou para jantar com ele. Eu recusei, claro, mas parece que ele nã o entendeu muito bem.

— Sr. Salvaje! — Victor virou-se, incré dulo, para Miguel. — Diabo, você quer dizer que é o pianista que nó s fomos assistir ontem à noite? — Balanç ou a cabeç a, sem poder acreditar no que via e ouvia. Depois olhou para Emma novamente. — E este homem, o sr. Salvaje, convidou-a para jantar esta noite?

Emma dirigiu um olhar de apelo na direç ã o de Miguel, silenciosamente pedindo ajuda, mas nã o obteve nada daqueles olhos escuros e enigmá ticos.

— Sim, foi isso mesmo.

Victor fez um gesto frustrado.

— Mas por quê? Por quê? Por que você? Ele a conhece?

Emma pensou rá pido numa desculpa.

— O empresá rio dele contratou os serviç os da agê ncia! — Odiava envolver Fenella naquela histó ria, mas se lhe explicasse toda a situaç ã o, depois, tinha certeza de que ia compreender.

— Entendo. E pelo visto Fenella deu o seu endereç o para ele.

Emma deu de ombros.

— Está na lista telefô nica.

— Claro.

Victor pareceu se contentar com este pouco de informaç ã o. Virou-se para Miguel.

— Acho que agora devo lhe pedir que se retire, senhor. Como já pô de ouvir da pró pria srta. Seaton, ela nã o deseja ir jantar em sua companhia. Se você entendeu, ó timo; caso contrá rio, eu sinto muito.

Miguel entrou na sala, fechando a porta na cara da sra. Cook.

— Concordo — disse polidamente, e por alguns minutos Emma pensou que tudo ia acabar bem. Mas nada disso aconteceu. — É uma infelicidade. Nã o para mim, señ or, mas para você!

Victor endireitou o corpo e limpou a garganta.

— Nã o entendi.

— Você ouviu o que eu disse, señ or. — Miguel estava calmo, mas ameaç ador.

— Miguel, por favor! — Emma choramingou e, ao chamá -lo tã o intimamente pelo primeiro nome, Victor olhou para ela, assustado.

— Você o chamou de Miguel!

— Claro que chamou — afirmou Miguel, friamente. — Ela ainda nã o lhe contou que passamos o dia inteiro juntos?

— Miguel! — Emma levou as duas mã os à boca.

— Bem? E nã o é verdade? — Os olhos dele desafiaram os dela. Victor olhou para ela, sem poder acreditar.

— Isto é verdade, Emma?

Estava louca de raiva.

— E se for?

Victor respirava com dificuldade.

— Você está me dizendo que é verdade?

— Claro que está. — Miguel continuava em pé, braç os cruzados, observando os dois. — Isto o surpreende, Harrison? Fica surpreso de saber que sua noiva possa encontrar um outro homem atraente? Certamente você conhece muito as mulheres e já devia saber como sã o instá veis! Você foi casado, nã o foi?

— É muito insolente, senhor!

Emma balanç ava a cabeç a, sem saber o que fazer.

— Por favor! Parem com isto! Por que veio aqui, Miguel? O que esperava conseguir insultando a nó s dois?

— Eu vim para vê -la. Você nã o queria me ver?

Quando olhou para ela, foi como se os dois estivessem sozinhos na sala e Emma se sentiu confusa. Mas desviou o olhar, sacudindo a cabeç a violentamente de um lado para o outro.

— Nã o, eu nã o lhe pedi que viesse aqui.

Miguel disse um palavrã o baixinho, em espanhol. Emma esperou, imó vel, que ele se fosse mas, em vez disso, virou-se para Victor.

— Bem, señ or? — desafiou. — O que vai fazer em relaç ã o a isto?

— O que vou fazer? — Victor estava furioso. — Senhor, nã o gosto de você e nã o admito suas insinuaç õ es. Se Emma concordou em sair com você hoje, entã o sem dú vida ela tinha alguma boa razã o para isso. No entanto, nã o vou fazer nenhuma sessã o de perguntas e respostas com minha noiva, na sua frente!

O rosto de Miguel enrijeceu e Emma mentalmente aplaudiu a resposta de Victor. Mas aquilo nã o durou muito tempo.

— As razõ es de sua noiva sair comigo, señ or, eram excelentes — Miguel observou, satisfeito. — Será que preciso lhe dizer quais eram? Ela está fascinada por mim, señ or. Queria que eu fizesse amor com ela!

Emma estava horrorizada.

— Isso nã o é verdade!

Victor atravessou a sala e agarrou o mexicano pelo colarinho. Mas Miguel o empurrou com tanta forç a que ele caiu no chã o com um gemido de dor.

— Oh, você é um monstro! — choramingou Emma, correndo em socorro do noivo, ajudando-o a se sentar numa cadeira. — Como você ousa falar uma coisa como essa?

Ela estava tremendo dos pé s à cabeç a. Tinha sido louca em se envolver tanto com um homem como ele. Devia ter ouvido sua intuiç ã o que, desde o começ o, avisava que ele era um homem mau. Devia ter ouvido os conselhos da sra. Cook.

Miguel olhava-a com desprezo.

— Você é uma hipó crita, Emma. Finge afeto por este homem, quando na verdade nã o o ama. Agora, confesse: tem coragem de me dizer cara a cara que estou errado?

Emma deixou de massagear os ombros de Victor e olhou para Miguel.

— Nã o tenho que lhe dizer coisa alguma. Agora quer fazer o favor de se retirar?

Miguel encarou-a por alguns instantes ainda e depois, sem uma palavra, virou-se e saiu da sala, batendo com forç a as portas da casa.

Depois que ele saiu, Emma deu um suspiro de alí vio. Aproximou-se da cadeira de Victor, observando-o, ansiosa.

— Você está bem, Victor?

— Acho que sim. Emma, por que isto tinha que acontecer?

Ela apertou as mã os.

— Eu pensei que já estivesse tudo explicado.

— Nã o, Emma, você nã o explicou nada. A sua histó ria foi que o conheceu na agê ncia e ele a convidou para jantar esta noite. Mas, naturalmente, você recusou.

— Sim.

— No entanto, a histó ria dele é bem diferente da sua. Disse que saiu com você hoje.

— E acreditou?

— Nã o é verdade? Emma, quando eu vim aqui hoje à tarde, a sra. Cook disse que você estava deitada porque tinha uma forte dor de cabeç a. Você estava deitada?

Emma suspirou.

— Está bem. Nã o, eu nã o estava deitada. Fui a Brighton com Miguel Salvaje.

Victor olhou-a, sem poder acreditar. Emma virou-se.

— E agora, o que você vai fazer?

— Eu agradeceria se as pessoas parassem de me perguntar o que vou fazer com situaç õ es que elas mesmas criaram. O que você espera que eu faç a?

Emma deu de ombros.

— Nã o sei. Talvez, que termine o nosso noivado.

Victor levantou-se, mancando um pouco.

— É isto que você espera que eu faç a?

— Se fizesse, eu nã o ficaria surpresa — admitiu, virando-se para olhá -lo novamente. — Oh, Victor, eu sinto muito. Sinto muito por tudo.

— Eu també m. No entanto... — Foi para o bar e se serviu de uma dose bem generosa de uí sque. — No entanto, nã o quero perder você, Emma. Nó s, bem, nó s nos damos bem. Gostamos das mesmas coisas. E vamos ter um bom casamento, tenho certeza. Você nã o é dessas garotas instá veis, que estã o constantemente à procura de novas diversõ es. É jovem, atraente, e vou ficar muito feliz de viver com você o resto de minha vida.

Emma ouviu em silê ncio e ele continuou:

— Seu pai e eu discutimos os detalhes de nosso casamento antes de ele partir para o Canadá, e tenho certeza de que concordaria comigo em tais circunstâ ncias; acho que seria uma boa idé ia se marcá ssemos a data para breve.

— Marcar a data para breve?

— Isso mesmo. Nã o há mais motivos para adiar. Umas duas semanas antes do Natal. Isto será, deixe-me ver, de hoje a quatro semanas.

Emma estava espantada. Nã o conseguia pensar em começ ar o Ano Novo casada com Victor, e també m lhe parecia muito pouco tempo.

— Nã o sei se estarei pronta até lá — mentiu.

— Por que nã o? O que falta fazer? Qualquer costureiro de Londres poderá fazer em tempo seu vestido de noiva e todo o resto que precisar. Vá providenciar e mande a conta para mim. É exatamente isso que você deve fazer.

Emma pô s a mã o na cabeç a.

— Você está sendo muito apressado para o meu gosto. Me dê um tempinho para pensar melhor no caso, Victor. Santo Deus, é capaz de papai nã o ter voltado até lá.

— Mas você mesma disse que ele estaria de volta. Se nó s escrevermos contando a nossa decisã o, ele provavelmente virá, nã o é? Talvez seu irmã o e sua cunhada també m possam vir.

Emma sacudiu a cabeç a.

— Duvido muito que possam fazer uma despesa dessas.

— Entã o escreva-lhes que eu assumo a dí vida deles. — Victor estava sendo muito generoso. — Emma, minha querida, eu sei que nã o sou uma pessoa muito expansiva, mas realmente penso muito em você, gosto de você e quero que sejamos felizes juntos.

— Eu sei que você quer, Victor. Mas agora é muito tarde e estou com uma forte dor de cabeç a.

Victor suspirou.

— Oh, sim, Salvaje! Quase me esqueci dele. Nã o sei o que fazer a respeito daquilo.

— Nã o há nada para ser feito, há?

— Acho que nã o — disse Victor, esfregando os mú sculos dos braç os. — Acredite-me, eu gostaria de ser capaz de fazer alguma coisa. Vir aqui, na sua casa, nos ofender! Machucar-me! Que diabo ele pensa que é? E onde pensa que está? Isto aqui é a Inglaterra. — Colocou o copo de lado e abotoou o casaco. — Ele precisa aprender que nã o pode se comportar daquele jeito tranqü ilamente. Tenho influê ncia, posso até dar queixa na Embaixada.

— Oh, realmente, Victor, vamos esquecer isto de uma vez por todas. Já está tudo acabado. Nã o procure mais encrencas, porque de certa forma eu acredito que Mig... o sr. Salvaje nã o se importa a mí nima com regras e regulamentos.

— Entã o, talvez já seja hora de ele começ ar a se preocupar. Você está defendendo aquele homem?

— Nã o, Victor. Estou cansada e quero ir para a cama, é tudo. Victor observou seu rosto pá lido.

— É verdade, parece bem cansada. Está bem, minha querida, vou embora. E nã o se preocupe mais com aquele mexicano. Vou providenciar para que ele nã o a perturbe novamente.

Emma queria fazer algum comentá rio a respeito do acordo deles, mas estava muito cansada, e de qualquer forma no dia seguinte Victor estaria tã o ocupado com o negó cio da Messiter que acabaria esquecendo.

No dia seguinte, Emma reassumiu seu trabalho na agê ncia. Depois de um questioná rio preliminar sobre sua saú de, Fenella nã o disse mais nada e Emma decidiu deixar as coisas correrem. Alé m do mais, Victor nunca iria desabafar com outra pessoa.

Sentiu-se vazia por dentro, como se todos os seus sentimentos tivessem desaparecido. Fez seu trabalho eficientemente, mas como uma má quina, recusando-se a permitir recordaç õ es do dia anterior passado com Miguel, da companhia dele e daqueles momentos nas dunas, quando lhe mostrou que sua forç a diante dele nã o era nada.

O projeto do casamento com Victor era assustador, principalmente porque sabia que, pelo menos naquilo, Miguel estava certo: nã o amava Victor. Mas nã o tinha certeza se era porque amava outro homem. E nem queria descobrir.

Na sexta-feira à noite, foram ao jantar dos Hanson. Foi agradá vel, Emma, naturalmente, era uma das pessoas mais jovens. Mas serviu para evitar que, pelo menos por uma noite, Victor deixasse de falar que queria que ela escrevesse ao pai sobre o casamento.

Bebeu bastante champanhe e estava meio tonta quando Victor a levou para casa, tarde da noite. Sabia que ele desaprovava sua atitude, mas nã o se importou. Embora soubesse que aquilo ia lhe dar uma forte dor de cabeç a, agora estava adorando o efeito.

Victor acompanhou-a até a porta, mas recusou o convite para entrar e tomar café.

— Já é muito tarde. Acho melhor você ir direto para a cama; vai se sentir melhor.

— Eu me sinto bem! — exclamou Emma, alegremente.

— Nã o importa, tenho que ir. — Abriu a porta para ela e depois entregou-lhe a chave. — Telefono para você depois, quando estiver se sentindo melhor.

— Está bem, Victor. Claro, Victor. — Emma estava provocativamente irô nica.

Victor hesitou, como se fosse dizer alguma coisa, e entã o, com uma breve saudaç ã o, caminhou rá pido pelo jardim em direç ã o ao carro.

Emma torceu o nariz logo que ele virou as costas e entrou no hall. Quando fechou a porta, percebeu luz na sala, e imediatamente sentiu um calafrio. Podia ser a sra. Cook, embora ela normalmente nã o ficasse acordada até tarde, ou també m podia ser Miguel...

Antes que tivesse tempo de considerar as duas hipó teses a porta da sala foi aberta e um homem estranho apareceu. Um homem parecido com Miguel Salvaje.

A sra. Cook veio atrá s dele, embrulhada em sua manta de lã.

— Como você chegou tarde! O sr. Castillo está esperando-a há muito tempo, ele quer lhe falar.

O nome nã o lhe parecia estranho e Emma se lembrou das referê ncias de Miguel ao seu empresá rio. Castillo. Sim, era aquele o nome.

— Sim? — disse, com muita frieza.

O homem apontou para a sala.

— Por favor, vamos entrar e nos sentar, señ orita — sugeriu, polidamente.

Emma olhou para ele, curiosa. Era tã o moreno como Miguel Salvaje, mas nã o tã o alto e talvez um pouco mais gordo. Era també m dez ou quinze anos mais velho.

— Muito bem — concordou, e olhou para a governanta. — Você fica aqui comigo, sra. Cook?

— O que eu tenho para lhe dizer é confidencial, señ orita — ele disse. — Pelo que pude entender esta boa senhora é apenas sua governanta, nã o é?

— A sra. Cook també m é minha amiga. Seja o que for que tem a me dizer, qualquer coisa que o sr. Salvaje mandou me dizer pode ser falada na frente dela.

A sra. Cook nã o sabia o que fazer.

— Seja boazinha e nos deixe a só s, señ ora — disse Castillo, friamente. — Apesar do que a srta. Seaton diz, ainda insisto em falar com ela em particular.

Emma estava para explodir.

— Devo lembrar-lhe, Senhor, que esta é a casa de meu pai, e, como ele nã o está aqui, sou temporariamente a proprietá ria. Nã o estou acostumada a ser tratada como se os meus sentimentos nã o tivessem valor.

Castillo fez uma careta.

— Sinto que o que tenho para lhe dizer, señ orita, nã o é a seu favor, e pode se arrepender de seu impulso de confiar tais assuntos a uma governanta.

O rosto de Emma queimava e a sra. Cook bateu-lhe carinhosamente no braç o.

— Escute, querida, estarei esperando na cozinha. Talvez você aceitassem uma xí cara de café, hein?

Emma se mexeu, desajeitada.

— Oh, sra. Cook.

— Como já disse, estarei esperando na cozinha. Se precisar de mim, basta chamar!

— Está bem.

Sem nenhuma outra palavra, Emma entrou na sala e ouviu os passos de Castillo atrá s dela. Fechou a porta e se virou para encará -lo calmamente, mas por dentro seu estô mago estava virando.

— Bem? Que segredo é esse?

Castilho observou-a por alguns instantes e depois disse:

— Já viu isto? — Entregou-lhe um jornal. Era a ediç ã o noturna do News.

Emma pegou o jornal, indiferente, mas, quando leu o pequeno artigo, suas mã os começ aram a tremer. As palavras danç avam diante de seus olhos.

A notí cia era a respeito de um pianista mexicano, Miguel Salvaje, que estava em Londres para dar concertos e recitais. Descrevia como o jovem pianista tinha sido envolvido numa briga depois de dar um concerto, já tarde da noite, e que seus ferimentos tinham sido graves. Devido a isso, a temporada tinha que ser cancelada.

Emma parecia horrorizada.

— Oh. Deus!

Castillo rapidamente a ajudou a sentar e, indo para o bar, despejou uma dose de conhaque num copo.

— Aqui! —- ele disse, pegando o jornal de suas mã os nervosas. — Tome isto!

Emma aceitou, tomando grandes goles. Seu rosto estava pá lido e amargurado.

— Miguel — ela murmurou. — Como ele está? Está muito machucado?

Castillo estava diante dela, mã os cruzadas nas costas.

— Para qualquer outra pessoa os ferimentos seriam considerados mí nimos. Para Salvaje, sã o gigantescos.

— O que você quer dizer? — Emma olhou fixamente para ele.

— Ele está com algumas manchas roxas no rosto, algumas suspeitas de ossos quebrados e alguns cortes e arranhõ es pelo corpo todo.

Emma inclinou-se para a frente.

— E é tudo?

— Nã o. Eles també m quebraram trê s de seus dedos.

— Oh, nã o! — Emma sentiu uma sensaç ã o de enjô o. — Isso é terrí vel!

— É, eu també m acho. Mas fique tranqü ila, os culpados serã o encontrados e presos.

— Como... como pode ter tanta certeza disso?

— Por quê? Bem, porque eu tenho certeza. — Castillo sentou-se na cadeira em frente dela. — Agora, você vai comigo ver Miguel?

— Eu?

— Sim, você. Ele quer vê -la.

Emma terminou de beber o conhaque e quase engasgou.

— Por que ele quer me ver?

— Eu achei, poucos minutos atrá s, que estava preocupada com ele.

— Eu estava, estou! Oh, sim, eu estou.

— Entã o venha comigo! Meu carro nã o está muito longe daqui.

— Agora?

— Mas é claro. Miguel ainda está sentindo dores. Ele nã o consegue dormir muito bem.

— Claro. — Emma balanç ou a cabeç a, os olhos muito abertos. — Mas como foi que isto aconteceu? Quer dizer, quem poderia querer; brigar com Miguel?

Castillo franziu o cenho.

— Isto nã o é para eu dizer.

Emma levantou-se da cadeira, olhando para o vestido azul de crepe que estava usando. i

— Nã o posso ir deste jeito.

— Nã o. Você vai se trocar, si?

Emma concordou e, com um gesto indefeso, saiu em direç ã o de quarto. Imediatamente ao ouvir o barulho da porta sendo aberta e depois fechada a sra. Cook saiu da cozinha.

— O que está acontecendo?

— Miguel foi ferido. Eu tenho que ir vê -lo.

— A esta hora da noite?

— Sei que é tarde, mas tenho que ir.

— Você está se envolvendo com aquele homem novamente, logo agora que tudo estava caminhando normalmente. E o que o sr. Harrison vai dizer se souber disto?

— Eu nã o sei. Mas para ser bastante sincera, sra. Cook, eu nã o me importo. Nã o neste momento.

A governanta balanç ou a cabeç a.

— Nã o é pró prio de você comportar-se desta maneira. O que andou bebendo esta noite?

Emma quase riu.

— Champanhe. Acha que foi por isso que aceitei ir? Posso lhe garantir que estou perfeitamente só bria.

— E a que horas estará de volta?

— Nã o sei, mas nã o me espere acordada.

Castillo estava guiando o carro de Miguel. Sentada a seu lado, eu silê ncio, Emma sentia vontade de tomar outro conhaque para acalmar um pouco os nervos. Por que Miguel queria vê -la depois da ú ltima vez em que se encontraram? O que ele teria para lhe dizer?

O recepcionista do hotel olhou-a curioso quando entrou com Castillo, mas era ó bvio que ele era conhecido, e passaram sem comentá rios. Castillo conduziu-a até o fim do corredor e Emma acompanhou-o sem fazer perguntas: estava muito nervosa para dizer qualquer coisa. Tudo estava em silê ncio.

Entraram numa suntuosa suí te e, quando Castillo acendeu as luzes, Emma olhou em volta com muito interesse. O carpete e as paredes eram de cor damasco, combinando com as cortinas bronze-prateadas. Era um apartamento magní fico, dominado pelo piano, que ficava ao lado da janela.

— Onde está Miguel?

Castillo tirou seu casaco.

— Um momento, e entã o eu a levarei para vê -lo.

— Mas onde ele está?

— Aqui!

A voz baixa assustou-a e ela se virou nos calcanhares quando viu Miguel entrando na sala atravé s de uma das portas internas. Vestia apenas um roupã o de seda, e seu rosto moreno estava muito pá lido, poré m, ainda havia alguma coisa muito atraente nele; teve que se controlar para nã o sair correndo e atirar-se em seus braç os. Havia vá rias contusõ es feias em seu rosto e um corte fundo, que parecia doer muito. Mas os olhos de Emma se dirigiram para suas mã os machucadas, escondidas no bolso do roupã o.

Castillo balanç ou a cabeç a, impaciente.

— Miguel! Você nã o devia ter saí do da cama! Precisa descansar. Sabe muito bem que o mé dico...

— Basta! — Miguel torceu os lá bios. — Nã o quero discutir com você, Juan. A srta. Seaton nã o ia gostar de uma entrevista no meu quarto, nã o é mesmo?

Juan Castillo deu um suspiro.

— O que a srta. Seaton sente nã o é importante diante da sua saú de, Miguel. Eu imploro que você...

Miguel o ignorou, olhando para Emma.

— Por favor — disse polidamente. — Sente-se.

Emma deu alguns passos em direç ã o a uma poltrona e Juan tentou persuadir Miguel a sentar-se no sofá. Ela estava chocada e nervosa com a aparê ncia dele e desejou do fundo do coraç ã o poder fazer alguma coisa.

— Deixe-nos a só s, Juan.

O empresá rio hesitou.

— Juan!

Agora havia um tom imperativo na voz de Miguel e com um suspiro relutante o empresá rio saiu da sala.

— Agora, venha sentar-se aqui, Emma. — Ele indicou a ponta do sofá.

Fez o que mandou, sem argumentar. Miguel estava deitado no sofá. Ficou bem pró xima de seus ferimentos e sentiu vontade de beijar seu rosto machucado. Ele deve ter percebido, porque olhou sé rio e disse:

— Nã o me olhe deste jeito. Lembre-se de seu noivo! Nã o há necessidade de haver mais fingimentos entre nó s!

Emma estremeceu. Cruzando os braç os, disse baixinho:

— Castillo me contou da briga. Como foi que isso aconteceu?

Miguel deu de ombros:

— Aconteceu muito depressa. Está vamos saindo do teatro depois do concerto. Juan tinha ido buscar o carro e eu fiquei sozinho por alguns instantes. — Ele franziu a testa. — Entã o apareceram trê s homens. Acho que eram trê s, mas nã o tenho muita certeza.

Emma olhou fixamente para ele!

— Você quer dizer que... que eles o esperavam?

— Claro!

— Mas eu pensei... Isto é, os jornais diziam que foi uma briga!

— É, mas a verdade é bem outra.

— Mas eles disseram... Oh, você sabe o que estou tentando dizer, nã o sabe?

— Sim, sei.

—-Mas por que algué m ia esperar para atacá -lo?

— Você nã o sabe?

— Eu? Por que você acha que eu devia saber?

Miguel levou a mã o ferida ao corte no rosto.

— Você estava em casa quando Castillo foi procurá -la? Ele demorou muito.

Ela corou.

— Nã o. Victor e eu fomos a uma festa de aniversá rio de casamento.

— Um aniversá rio de casamento! — Miguel observou seu rosto vermelho. — E como está o seu inestimá vel noivo? Já se recuperou do grande choque que eu lhe dei outro dia?

— Espero que sim. — Emma se mexia, desconfortá vel. — Nã o sei o que isso tem a ver com os seus ferimentos. Eu gostaria de poder fazer alguma coisa por você...

— E pode. — Miguel sorriu, mas nã o era um sorriso agradá vel. — E foi exatamente por isso que pedi para o meu empresá rio ir a sua casa buscá -la.

Emma franziu a testa.

— Que posso fazer?

— Você pode levar uma mensagem minha para o seu noivo.

Emma estava perplexa.

— Uma mensagem? Para Victor?

— Isso mesmo.

— Mas que mensagem?

— Apenas lhe diga que eu reconheci um dos homens, está bem?

Emma viu um brilho de crueldade em seus olhos e estremeceu.

— Mas por que razã o Victor estaria interessado na identidade de um dos seus atacantes?

— Você nã o faz idé ia?

— Você nã o está querendo me dizer que Victor tem alguma coisa a ver com seus ferimentos! — Ela olhava para ele sem poder acreditar, um sentimento de histeria crescendo dentro dela. — Ora, isso é ridí culo!

— Acha? — Miguel parecia perfeitamente calmo.

— Claro que é. Victor nã o tem nenhum negó cio com esse tipo de gente. Com esses criminosos.

— Eu disse que eles eram criminosos?

— Nã o. Mas é claro que sã o.

Miguel sacudiu os ombros.

— Eu devia ter imaginado que você nã o ia acreditar em mim. Mas nã o importa, eu lhe ficaria imensamente grato se lhe desse o recado.

— Por que você mesmo nã o fala com ele?

Emma virou-se, respirando rapidamente. Sentia-se ferida e enjoada com as palavras dele. Nã o sabia o que devia esperar quando concordou em vir vê -lo, mas certamente nã o era isto. Tremendo um pouco, ela disse:

— Pode me fazer o favor de pedir a Juan que pegue o meu casaco? Por hoje já ouvi muita bobagem, agora quero ir embora.

Nã o ouviu Miguel se mover, mas alguns minutos mais tarde sentiu sua respiraç ã o no pescoç o e percebeu que estava em pé, atrá s dela.

— Por que acha tã o absurdo acreditar em mim? — ele perguntou, suavemente. — Mas acho que posso entendê -la. Nas mesmas circunstâ ncias, eu faria o mesmo que você está fazendo.

— Victor nã o é do jeito que você está dizendo — ela protestou, desesperada.

— Todos os homens sã o assim!

Os joelhos de Emma tremiam tanto que ela quase achou que isso fosse visí vel.

— E se eu der o seu recado, o que você pensa em fazer a respeito?

— O que você espera que eu faç a?

— Nã o sei. Acho que deve ir à polí cia. Vai haver alguns processos, nã o vai? Você quebrou trê s dedos.

— Eu nã o quebrei trê s dedos — ele acrescentou, secamente. — Nã o, Emma, nã o foi assim que aconteceu. A histó ria é bem diferente. Meus dedos foram quebrados de propó sito.

— Oh, nã o!

— É isso mesmo. Você gostaria de ouvir como tudo foi feito?

— Nã o! — Emma sentia-se enojada. — Eu, oh, por favor, nã o estou me sentindo muito bem. Pode me dizer onde fica o banheiro?

As sobrancelhas de Miguel se juntaram sem poder compreendê -la, mas com um gesto silencioso ele indicou uma porta à direita. Sem dar explicaç ã o, ela atravessou a sala correndo e entrou no luxuoso banheiro branco de peç as douradas, alcanç ando a pia no exato momento em que sentiu o estô mago virar.

Quando acabou, encostou-se no azulejo, sentindo-se ainda muito fraca.

Oh, Deus, pensou desesperada, por que estas coisas estavam acontecendo com ela? Ela que sempre se imaginara calma e muito bem organizada. Durante toda a vida foi uma mulher muito controlada, nã o costumava se abalar com coisa alguma, e agora, quando se tratava de um desconhecido, Miguel Salvaje, sentia-se fraca, muito fraca. Só conseguia pensar nele. Seus sentimentos estavam totalmente confusos.

 

 



  

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