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CAPÍTULO VI



 

Quando finalmente conseguiu coragem para voltar à sala, encontrou Juan Castillo inclinado sobre uma bandeja de café que acabava de depositar numa mesa de centro. Nã o havia sinal de Miguel, e isto deixou-a muito preocupada.

Emma olhou em volta, confusa, e levou a mã o nervosa aos cabelos.

— Onde ele foi?

Juan olhou-a fixamente.

— Agora está se sentindo melhor, señ orita? Já passou o mal-estar?

— Acho que sim. — Emma ainda estava um pouco tonta.

— Acabei por convencer o sr. Salvaje a voltar para a cama. Aceita um café antes de ir embora, señ orita? Tenho certeza de que só lhe fará bem.

— Acho que nã o conseguiria engolir nada. — Emma tremia. — Eu poderia, isto é, seria possí vel ver Miguel novamente?

— Novamente, señ orita? Pelo que pude entender, a conversa de você s dois já acabou.

Emma torceu as mã os.

— Eu gostaria de vê -lo mais uma vez — insistiu.

Juan suspirou.

— Entendo. — Ele parecia indeciso. — Já é muito tarde, señ orita.

— Isso nã o o preocupou quando me trouxe para cá — disse Emma, com raiva.

Juan hesitou e depois concordou.

— Tem toda razã o. Um momentinho só, señ orita.

Atravessou a sala e sumiu atrá s da porta por onde Miguel tinha entrado antes. Por alguns instantes houve silê ncio absoluto. Emma sentia-se nervosa. O impulso de escapar enquanto tinha oportunidade era muito forte, mas alguma coisa ainda mais forte fez com que ficasse.

A porta foi aberta novamente, Juan apareceu e chamou-a:

— Venha! Eu disse ao sr. Salvaje que você tem mais alguma coisa para lhe dizer.

Emma se perguntava se aquela era a verdade. Tinha ainda alguma coisa para dizer? E se tivesse, o que era? Mas se moveu automaticamente, e entrou no quarto de Miguel.

Miguel estava deitado, coberto até o peito com uma colcha de cetim. O quarto todo era ricamente mobiliado, mas ela sabia que Miguel nã o teria escolhido nada daquilo se tivesse a oportunidade de escolher.

Juan esperou um momento ao lado da porta aberta e depois saiu. Emma continuou em pé. Estava indecisa, nã o podia sequer imaginar o que ia dizer a Miguel.

— Sente-se melhor, señ orita?

Emma concordou com a cabeç a.

— Desculpe-me.

— Por que desculpá -la?

— Bem, por ter... — Ela se interrompeu, indecisa.

— Juan disse que você tem alguma coisa para me dizer. — Sua voz era fria, controlada.

— Eu queria perguntar o que pretende fazer a respeito do ataque.

— Está preocupada com seu noivo, claro — disse, ironicamente.

— Estou preocupada com tudo. — Olhava para as mã os feridas dele, envoltas em bandagens, sob a colcha. — Quanto tempo vai levar para poder usar seus dedos novamente?

Miguel mordeu os lá bios.

— De quatro a seis semanas.

— E sua temporada está cancelada. Vai voltar para o Mé xico?

— Sim, dentro de poucos dias.

Emma deu um passo à frente.

— E depois, depois que seus dedos estiverem cicatrizados, quanto tempo levará... quero dizer, tudo será como antes, nã o é?

— Você está querendo me perguntar se serei capaz de tocar novamente, nã o é isso?

— É.

Ele deu de ombros.

— Está nas mã os de Deus, como costumam dizer. Um pianista é um caso à parte. Seus dedos precisam ser muito á geis, constantemente em uso, continuamente flexí veis. Se nã o sã o usados, começ am a ficar rijos, os mú sculos endurecem e acabam perdendo a flexibilidade. Para se tornar um pianista de concerto, leva-se muitos anos e é necessá rio muita prá tica e dedicaç ã o. Nã o dá para saber ainda a gravidade dos ferimentos. Se você veio aqui acalmar sua consciê ncia, esperando que eu a absolva de toda a culpa, entã o pode ir embora.

Os lá bios de Emma tremiam.

— Eu nã o esperava nada disso. Muito pelo contrá rio, estou bastante consciente de que a culpa de tudo é só minha.

— Nã o. — Miguel ficou em pé. — Nã o — repetiu. — A culpa nã o é só sua. Todos nó s somos culpados, de certa forma. Mas se cabe puniç ã o ao crime, fica para você decidir.

Ele se levantou, andou os poucos metros que os separavam, e ficou parado olhando para ela, a mã o ferida novamente escondida no bolso do roupã o.

— Você parece tã o tensa, Emma. Por quê? Nã o pretendo prejudicar o seu noivo!

— Você ainda continua afirmando que Victor está por trá s disso tudo? Como pode ter tanta certeza?

— Você conhece um rapaz chamado Michael Hanson?

Emma gaguejou.

— Claro.

Michael Hanson era o filho mais velho de Miles e Delia, tinha dezenove anos e foi na casa dele que Victor e Emma tinham ido aquela noite. De repente, lembrou-se do rosto satisfeito de Victor; ria à toa, coisa muito difí cil de acontecer com ele.

— Por quê? Por quê?

— Ele era um dos homens que me atacou.

— Nã o!

— Sinto muito, mas era ele mesmo.

— Mas, como é que você sabe que era Michael?

— Ele perdeu algo que lhe pertence.

— Mas o que foi que ele perdeu? Como é que você pode provar que nã o achou na rua?

— Ora, Emma, isso é o de menos. Depois, quero ver como é que ele vai explicar a cara toda arrebentada. Sabe, eu apanhei, mas també m bati um bocado. Tenho um bom caso para contar para a polí cia.

— E é isso que pretende fazer? — Passou a lí ngua pelos lá bios.

— Você tem outra sugestã o?

— Como é que eu podia ter? —Emma sentia-se mal novamente. — Acho que é melhor eu ir embora.

Miguel nã o fez nenhum gesto para impedi-la, mas, quando já estava com a mã o na maç aneta, ele disse:

— Eu tenho uma sugestã o a fazer.

Emma olhou para trá s.

— Sim?

Miguel cruzou os braç os.

— Case-se comigo e venha para o Mé xico, que esquecerei de tudo. E prometo nã o prejudicar Harrison.

Emma segurou-se com forç a na maç aneta.

— O que você disse?

— Acho que você escutou o que eu disse. Emma. Case-se comigo e a polí cia nunca vai ouvir a minha histó ria.

Aquilo era demais. Saiu do quarto, confusa. A sala estava vazia e ela ficou lá, em pé, tremendo. Suas pernas pareciam gelatina. Simplesmente nã o conseguia acreditar no que acabara de ouvir de Miguel.

Ele a seguiu e ficou parado na porta, observando-a enquanto procurava o casaco:

— O que há de errado? — perguntou, friamente. — A minha sugestã o parece nã o ter-lhe agradado muito, nã o é verdade?

Emma voltou-se para ele, muito confusa:

— Nã o gosto de ser feita de boba.

— Ser feita de boba? Por que você pensa que eu a estou fazendo de boba?

Emma cerrou os punhos.

— Sinceramente, nã o pode esperar que eu acredite que está me pedindo em casamento.

— Por que nã o?

— Por que você ia querer se casar comigo?

Miguel fez um gesto indiferente.

— Tenho meus motivos.

Emma olhou para ele e depois suspirou.

— Oh, honestamente! Onde está meu casaco?

— Você está me recusando?

Emma parou novamente.

— Miguel, isto aqui é a Inglaterra! Nã o sei que mé todos você s usam para escolher uma noiva no Mé xico, mas deve ser mais do que um simples acordo! Alé m do mais, nã o acredito que fale sé rio.

— Por quê? Por que razã o eu nã o posso querer casar com você?

Lá grimas quentes de frustraç ã o vieram aos olhos de Emma e ela as enxugou com a mã o.

—- Pare com isso! Nã o quero escutar mais nada!

Miguel aproximou-se e, quando ela fez menç ã o de se afastar, ele segurou-a pelo pescoç o e apertou com tanta forç a que Emma foi obrigada a dar um passo em direç ã o dele. Seus joelhos roç aram a barra do robe de seda e ela tremeu mais ainda.

— Agora, diga-me por que eu nã o devia querer me casar com você.

Emma engoliu em seco.

— Por favor, Miguel, deixe-me ir embora!

— Nã o. Nã o, eu nã o vou deixá -la ir. E você nã o quer mesmo ir. — Ele ergueu seu queixo. — Quer?

Emma tentou lutar. Quando as mã os dele escorregaram por suas costas, atraindo-a, percebeu que apenas o roupã o de seda os separava. Com um gemido, ela se afastou, aproveitando-se do fato de ele ter apenas uma das mã os livre.

— Oh, o que você quer de mim? — choramingou.

— Eu quero você. Nos meus termos.

O estranho é que ela nã o conseguia sentir ó dio dele, como devia. Estava preocupada.

— Você precisa voltar para a cama! Nó s podemos falar sobre isso depois que descansar um pouco.

— Nã o. Quero que você responda agora, antes de ir embora.

— Mas eu nã o conheç o você, nã o sei nada a seu respeito!

— Você terá tempo para me conhecer.

— Espera que termine meu noivado com Victor e me case com você sem dar tempo para que eu pense direito?

— O que há para pensar? — O rosto de Miguel era duro. — Eu gostaria de saber o que o Harrison diria se soubesse que a reputaç ã o dele está nas suas mã os.

— Isto nã o é justo!

— Nem isto. — Miguel mostrou a mã o machucada.

— Nã o, eu sei que nã o. Mas nã o posso me decidir imediatamente. Nã o posso.

— Por quê?

— Bem, porque, porque é tã o, tã o...

— Bá rbaro? — ele murmurou. — Muito bem, señ orita, você tem vinte e quatro horas para decidir. E estou sendo mais do que generoso.

O corpo de Emma tremia.

— Posso ir embora agora?

— Sim. Você pode ir.

Virou-se e voltou para o quarto. Emma o olhava, indefesa. Nã o tinha dito onde estava seu casaco, nem como podia ir para casa. Olhou o reló gio, eram cinco horas da manhã!

Depois de alguns minutos, procurando na sala toda, achou o casaco dentro de um armá rio. Vestiu-o e depois olhou fixamente para outra porta, que se abriu. Mas era apenas Juan Castillo.

— Vai para casa, señ orita?

Emma se perguntou se ele estava esperando que ela fosse ficar. Talvez tivesse pensado que, uma vez no quarto de Miguel, tinha poucas chances de sair de lá antes do dia clarear.

— Sim, vou para casa.

— Eu a levo.

— Nã o é necessá rio. Posso tomar um tá xi.

— Eu insisto.

Havia a mesma nota de decisã o na voz de Juan que havia na de Miguel e Emma desistiu, agradecida. Estava muito perturbada e cansada para fazer objeç õ es e, alé m disso, precisava desesperadamente ficar sozinha em casa para tentar colocar as idé ias no lugar. Estava muito confusa.

A sra. Cook nã o estava quando chegou em casa. Resolveu preparar uma xí cara de chá e estava na cozinha, esperando a á gua ferver, quando a governanta entrou, esfregando o rosto, cansada.

— Graç as a Deus você voltou! Como é que ele está?

Emma despejou á gua quente no bule.

— Aceita uma xí cara?

— Sim, por favor. — A sra. Cook a olhava estranhamente. — Como está o sr. Salvaje?

— Ele vai sobreviver. — Emma colocou leite na segunda xí cara. — Quanto de aç ú car?

— Dois tabletes. — A velha sentou-se numa das banquetas. — Como é que ele foi ferido?

— Aparentemente, alguns homens lhe deram uma surra quando ele saiu do teatro na noite passada. Aqui está seu chá.

— Obrigada. — A sra. Cook tomou o lí quido quente, distraí da. — Isso é terrí vel! Ele ficou muito ferido?

— Muitos cortes e arranhõ es. Mas o pior foi que lhe quebraram trê s dedos.

— Oh, nã o! — A governanta estava realmente chocada. — Que coisa horrorosa!

— Eu també m acho.

Emma tomou o chá devagar. Mas ainda nã o se sentia bem. Parecia que tudo aquilo era um pesadelo. Nã o podia ser real. Victor nã o podia ter mandado aqueles homens atacarem Miguel, só porque o mexicano o tinha feito passar alguns maus momentos. E Miguel nã o podia ter pedido que ela se casasse com ele, deixando tudo para trá s, e que fosse viver num paí s desconhecido. Tudo era muito louco. Um sonho ruim que ia acabar assim que o dia amanhecesse.

— Entã o nã o vai haver mais concertos. — A sra. Cook continuou: — Vai haver indenizaç ã o, claro.

— O quê? — Emma estava distante.

— O seguro, cé us! Os dedos de um pianista sã o segurados por muito dinheiro. Nã o sã o?

Emma suspirou.

— É, acho que sim.

— Você nã o parece estar muito preocupada. Bem, quem quer que seja o responsá vel, deve pagar. Ele pode até ter arruinado a carreira do sr. Salvaje. A violê ncia que vem acontecendo em Londres hoje em dia realmente me assusta!

— Oh, será que nã o dá para você parar com isto? — Os nervos de Emma estavam em frangalhos.

A sra. Cook olhou surpresa para ela.

— Bem, desculpe.

Emma balanç ou a cabeç a e segurou o braç o da mulher com forç a.

— Nã o! Nã o se aborreç a, sra. Cook. Nã o consigo ouvir isto agora.

— O que está acontecendo? O que há com você? Por que está com essa cara? — Uma expressã o de compreensã o veio-lhe ao rosto. — Aquele homem, ele, ele nã o...

Emma fez um gesto impaciente.

— Nã o, nã o, nã o! Ele nã o me seduziu se é isto que está pensando. Nã o é nada disso.

— Entã o o que está errado?

Emma passou as mã os pelas pregas da saia de lã.

— Uma porç ã o de coisas — respondeu, distraí da.

A sra. Cook fungou.

— Oh, srta. Emma! Sempre que vê esse pianista aparecem problemas! Pelo amor de Deus, tire esse homem da sua cabeç a!

Emma deu uma gargalhada histé rica, e a velha olhou para ela, realmente preocupada.

— Você está cansada. Suba para o seu quarto e tente dormir um pouco. Se o sr. Harrison vier aqui agora de manhã, eu lhe direi que você nã o pode vê -lo.

— Oh, sra. Cook, se fosse assim tã o simples — disse, com um sorriso triste.

— O que você quer dizer?

Percebeu que nã o adiantava fingir, pois mais cedo ou mais tarde ela leria que ficar sabendo. Respirou fundo.

— Ele quer que eu me case com ele.

A sra. Cook nã o podia ter ficado mais assustada.

— Quem? Este tal Salvaje?

— Exatamente isto. Ele me pediu em casamento há poucos minutos atrá s.

A velha se levantou e serviu mais uma xí cara de chá.

— Eu... eu nã o posso acreditar no que acaba de me contar. Por que ele haveria de querer casar com você, se quase nem a conhece?

— Eu nã o o conheç o muito bem, també m.

— Oh, é ridí culo! Você nã o acha?

— É?

— Bem, você nã o acha que sim? Você nã o... bem, nã o aceitou o pedido, aceitou?

— Nã o.

— Graç as a Deus! Entã o, por que está preocupada?

— Mas també m nã o recusei.

— O quê? Mas, e o sr. Harrison?

— Realmente! E o sr. Harrison?

— Você vai se casar com o sr. Harrison. Santo Deus, está falando uma porç ã o de bobagens! Tenho certeza de que ama o sr. Harrison e ele a ama. Acho até que está sendo muito paciente com você nessa histó ria toda.

— Acha? — Emma soou cí nica. — Claro que gosto de Victor:. .

Mas quando disse isso, a imagem de Miguel com os dedos quebrados lhe veio à cabeç a. O Victor de que ela gostava nunca seria capaz de tal monstruosidade. Talvez nã o o conhecesse de verdade. Sempre dizem que nã o se conhece um homem até viver sob o mesmo teto com ele...

A sra. Cook tamborilava com os dedos no centro da mesa.

— Acho que está dizendo tudo isso só para me chatear. Nã o pode estar pensando seriamente em se casar com esse... esse estrangeiro!

Emma suspirou.

— Você nã o gosta dele?

— Eu o encontrei apenas duas vezes, e em nenhuma dessas vezes ele se comportou de maneira que eu pudesse aprovar.

— Por quê? Por que ele nã o seguiu as regras?

— Regras? Que regras? — A sra. Cook estava mais confusa do que nunca.

Emma sacudiu a cabeç a.

— Nã o importa.

— Bem, se vai continuar falando desse jeito, vou voltar para a cama. Nã o consigo entender o que está se passando com você. Já disse isso antes e torno a repetir: esse homem só vai lhe causar problemas, e você será uma tonta se voltar a se encontrar com ele novamente.

Emma olhou para ela.

— Uma porç ã o de garotas sentiria inveja de mim. Ele é um homem charmoso, atraente. Você nã o acha?

A velha mordeu os lá bios.

— Eu nã o tenho nada a ver com isso. Mas acho que seria melhor você escrever para seu pai e perguntar a opiniã o dele, antes de tomar qualquer decisã o precipitada.

— Nã o posso fazer isto. — Emma voltou a atenç ã o à xí cara de chá. — Tenho que lhe dar uma resposta ainda hoje.

A sra. Cook reteve a respiraç ã o, depois voltou-se e saiu da cozinha.

Depois que ela saiu, Emma colocou os cotovelos na mesa e apoiou o queixo nas mã os.

Se ao menos seu pai estivesse lá, pensou. Mas, se estivesse, ela nunca ia poder lhe dizer toda a verdade; só o que tinha acabado de contar à sra. Cook.

Mas havia uma pessoa para quem ela podia contar: Victor. Ele devia saber. E, alé m do mais, queria ver seu rosto quando lhe falasse da acusaç ã o de Miguel.

Parecia nã o haver motivo para ir para a cama. Sabia que nã o conseguiria dormir. E tinha muitas coisas para fazer. Tomou um banho e vestiu um vestido azul de lã. Desceu as escadas à procura da sra. Cook. Sabia que a governanta estava acordada e já em pé. Encontrou-a na sala, limpando os mó veis.

— Está querendo tomar café?

— Nã o quero nada, obrigada. Vou sair um pouco. Se Victor ligar, Por favor, diga-lhe para vir até aqui lá pelo meio-dia.

— Muito bem, senhorita.

Era ó bvio que, pelo menos por enquanto, a sra. Cook estava receosa. Deu de ombros, pegou o casaco e a bolsa e saiu de casa.

Dirigiu-se para West End e estacionou com dificuldade. Era sá bado de manhã e, embora ainda nã o fossem nove horas, as ruas estavam bem movimentadas. Encontrou o salã o de beleza que estava procurando, na Oxford Circus. Uma das garotas da agê ncia tinha dito que lá era bem selecionado e exclusivo, e era exatamente aquilo que ela queria. Nunca tinha ido num lugar daqueles e sentiu-se terrivelmente sem jeito quando se aproximou da mesa da recepcionista.

Mas quando deixou o salã o, cerca de duas horas mais tarde, sabia que estava parecendo outra pessoa. Usava uma maquilagem diferente e o cabelo solto, cortado um pouco abaixo dos ombros com as pontas viradas para dentro. Nunca poderia imaginar que, se mudasse o corte de cabelo, ficaria com uma aparê ncia tã o jovem. Até mesmo o vestido de lã azul, tã o puritano, tinha perdido a severidade. A beleza natural de sua pele tinha sido valorizada e uma sombra verde clara dava a seus olhos uma aparê ncia meio oriental.

Um calafrio percorreu-lhe a espinha quando pensou na reaç ã o de Miguel quando visse o que tinha feito, mas afastou estes pensamentos imediatamente. Nã o tinha feito isso por Miguel, forç ou-se a acreditar, mas para provar a Victor que nã o era o ratinho que ele pensava que fosse.

A caminho do estacionamento, um conjunto de calç as compridas e jaqueta de jé rsei azul lhe chamou a atenç ã o. Num impulso, entrou na loja — e saiu meia hora depois, de roupa nova. Parecia jovem e moderna, e muito atraente. Percebeu que muitos olhos masculinos a acompanhavam enquanto andava pela Oxford Street. Era uma experiê ncia excitante para algué m que sempre tinha evitado chamar a atenç ã o. Quando chegou ao carro, estava corada e encantada.

Chegou em sua casa um pouco antes do meio-dia e Victor já estava lá. Sentiu o coraç ã o bater apressado. Estava tomando café e olhou alegremente quando ela abriu a porta da sala. Mas o sorriso morreu nos lá bios e encarou-a fixamente, como se nunca a tivesse visto antes. Sua xí cara danç ou no pires e ele se levantou, franzindo a testa.

— Que diabo você andou fazendo? Meu Deus, Emma, o que você acha que está parecendo?

Emma se olhou no espelho da parede e ficou satisfeita com o que viu.

— Eu cortei o cabelo. Você gosta desta roupa? É nova.

— Posso ver que é. — Victor estava irritado. — Nã o sei se isto está na moda, Emma, mas...

— Ora, pá ra de berrar, Victor! Tudo o que fiz foi cortar o cabelo.

— Você está... diferente.

— Você quer dizer, mais jovem? Posso tomar uma xí cara de café? Estou precisando urgentemente comer alguma coisa. Estive fora desde as oito e meia.

— Sim, a sra. Cook me disse. — Victor continuava olhando-a de modo ameaç ador. — Onde esteve?

— No cabeleireiro. Você telefonou?

— Sim, à s onze horas. Nã o pensei que fosse acordar antes.

— Eu nã o fui dormir.

Virou-se, segurando a xí cara de café, e viu o rosto de Victor ficar cada vez mais perplexo.

— Por que nã o? — perguntou, preocupado.

— Porque depois que você se foi ontem à noite, eu també m saí.

— Você saiu? — Victor cerrou os punhos. -— Está querendo me dizer alguma coisa?

— Como foi que você adivinhou? — Emma nunca imaginou que pudesse assumir o comando da situaç ã o. Inclinando a cabeç a, ela continuou: — Fui ver Miguel Salvaje.

Victor engasgou.

— O que você disse?

— Você me ouviu, Victor. Eu disse que fui visitar Miguel.

— Eu sei o que você disse. Explique-se!

— É claro que você sabe que ele teve que cancelar a temporada de concertos.

Agora ela o observava fixamente.

Victor hesitou. Obviamente, estava em dú vida se dizia que já sabia ou se bancava o inocente.

— Eu... bem, acho que li qualquer coisa a respeito. O que foi que aconteceu?

— Você sabe por que ele teve de cancelar a temporada?

Victor nã o sabia o que fazer.

— Sim. Houve uma espé cie de briga fora do hall de concerto, nã o foi isso?

— Isso mesmo. Só que nã o foi uma briga, Victor. Alguns homens bateram nele de propó sito.

Victor torceu o nariz.

— E daí? Sem dú vida alguma ele merecia. Maldito estrangeiro!

Emma olhou fixamente para ele, como se nunca o tivesse visto antes.

— Nã o pode estar falando sé rio!

Victor deu de ombros.

— O que você espera? Nã o posso sentir nenhuma simpatia por esse camarada. Nã o depois do que aconteceu aqui outro dia.

— Aquilo irritou você, nã o foi mesmo?

— Que diabos está querendo dizer com isso? Claro que irritou, e você sabe. Se quer saber, acho que ele recebeu o que merecia!

Emma estava tremendo agora, mas tinha que continuar.

— Você quer dizer que acha desculpá vel o que fizeram com ele?

— Eu nã o disse isso. Está distorcendo as minhas palavras para se justificar. Ainda nã o me disse para que foi vê -lo. Ou eu també m terei que me esquecer disso?

— Oh. nã o! Eu nã o ia contar isso, se nã o quisesse que você ficasse sabendo.

Ele mordeu os lá bios, e entã o pareceu perceber que estavam tendo a primeira briga.

— Escute, Emma. vamos começ ar do comecinho, está bem? Por que motivo você foi visitar esse tal de Salvaje?

— Porque ele mandou me buscar.

— Ele mandou algué m vir buscá -la? O que isso significa? Aquele homem tem alguma coisa com você? Porque, por Deus, se ele tem, eu...

— Você o que, Victor? Vai arrumar outra briga? Contratar alguns dos filhos dos seus amigos para bancarem os gâ ngsters? — Ela hesitou. — Como Michael Hanson, por exemplo?

 

 



  

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