|
|||
CAPITULO VII
O rosto de Victor ficou vermelho e depois tã o pá lido que Emma pensou que ele estivesse doente. Mas se recuperou depressa e disse, nervoso: — Que diabos, o que você está insinuando? Emma suspirou, relutante em continuar. Tudo era cruel e só rdido. Já tinha visto tudo o que precisava ver no rosto do noivo. — É verdade, nã o é? — disse, baixinho. — Você fez aquilo, nã o fez? — Nã o sei do que está falando. Só porque o rapaz me maltratou, acha que eu ia contratar gente para lhe dar uma surra? Se isto é uma brincadeira, fique sabendo que é de muito mau gosto. — Eu també m acho. Nã o se preocupe em continuar a dar explicaç õ es, pois eu já sei de tudo! Victor respirava com dificuldade, andando pela sala, murmurando para si pró prio: —- Nunca ouvi coisa igual. Acusando-me! Se Hanson está envolvido, eu nã o tenho nada com isso. — Está bem, está bem, se você nã o está metido nisto, entã o nã o tem nada a temer, nã o é? — O que quer dizer? — Eu estou dizendo que quando Miguel colocar tudo nas mã os da polí cia, seu nome nã o será envolvido. Victor parou, sem graç a. — Está insinuando que Salvaje tem provas contra Michael? — Exatamente. — Ele lhe disse? — Disse. — Foi por isso que mandou virem buscá -la? — Foi. — Entendo. — Victor mordeu os lá bios com muita forç a. — Que homem desgraç ado, aquele — Pelo jeito, você está muito preocupado com Michael. Victor olhou-a por algum tempo e entã o desistiu de negar. — Está bem, está bem. Eu estou por trá s desse rolo todo. Mas nã o era para acontecer do jeito que aconteceu. — Nã o estou entendendo o que você quer dizer. — Emma sentia um grande desprezo ao olhar para ele. Victor balanç ou os ombros. — Bem, nã o era para ter sido uma coisa tã o sé ria. Pelo amor de Deus, Emma, nã o sou nenhum chefe de quadrilha. Sei que tudo foi realmente ridí culo. Eu estava no clube duas noites atrá s com Hanson, Miles Hanson e Bob Verity, e já tinha bebido bastante... sabe como é. Bem, acabei contando que esse tal Salvaje estava perturbando você. . — Oh. Deus! — Bem, era verdade, nã o era? — Estava agressivo. — De qualquer forma, eles concordaram comigo. Nã o deviam permitir que esses estrangeiros viessem aqui e perturbassem as nossas garotas! Claro que, quando disseram que ele merecia uma liç ã o, eu concordei imediatamente, mas nã o era para acontecer daquele jeito. Combinamos tudo diferente. — Entã o você só queria humilhá -lo? — Exatamente isso. — Victor parecia ansioso. — Isso mesmo. Como é que eu podia imaginar que o cara ia reagir? Ele enfrentou os trê s. Mas eles nunca deviam ter pisado nos dedos dele... — Oh. pare, pare com isso! Você acha que só porque nã o queria que tivessem sido tã o brutos está isento da culpa? Meu Deus, Victor, podiam ter destruí do a carreira dele. — Que disparate! — Acha? E se os dedos dele perderem os movimentos? Isso pode acontecer. E aí? — Você está dramatizando a coisa toda! Bem, deixe que ele vá à polí cia. Vamos ver quem tem mais influê ncia por aqui. Emma tinha ouvido o suficiente. Tremendo, tirou o anel de noivado. — Tome! Leve isto! Nã o temos mais nenhum compromisso. Victor estava realmente assustado. — Agora, escute aqui, Emma... — Nã o, você escute aqui! Pensei que o conhecesse. Pensei que sabia tudo a seu respeito. Mas nã o sei. Está bem, eu concordo que Miguel nã o devia tê -lo atacado aquela noite, mas se nã o o fizesse, ele ia ser atirado para fora de casa. — E por que motivo eu nã o devia agredir o homem? — Está bem, talvez a culpa seja minha. Quem sabe, se eu nã o tivesse me envolvido com ele, nada disto teria acontecido. Você nã o o teria conhecido e agora nã o estarí amos nesta situaç ã o. — Eu me perguntava quando que você ia perceber isso. Estava agindo como uma tola. Ele fez você parecer uma boba! Foi por causa dele que resolveu mudar o cabelo e comprar essas roupas ridí culas de adolescente... — Nã o sã o roupas de adolescente. E comprei-as porque queria provar algo para mim mesma. Quanto a ser feita de boba, eu nã o vejo por quê. Victor deu um sorriso de desdé m. — Nã o? Acha que nã o sei por que terminou o nosso noivado? Provavelmente acha que, agora que está livre, Miguel virá correndo atrá s de você. Eu nã o teria tanta certeza, se fosse você. Pelo que tenho ouvido, nã o é a ú nica mulher da vida dele. O rosto de Emma ficou vermelho. — Eu gostaria que você fosse embora, Victor. — E se eu nã o quiser ir? Emma olhou em volta desesperada. Tinha certeza de que a sra. Cook nã o ia ajudá -la naquelas circunstâ ncias. — Por favor. Nã o temos mais nada para dizer um ao outro. — Discordo. — Victor respirava ruidosamente, gotas de suor escorriam por sua testa. — Emma, seja sensata. De repente, tocaram a campainha, como da outra vez em que Miguel chegou inesperadamente. A porta da sala foi aberta e a sra. Cook apareceu. — É o sr. Castillo, senhorita — disse, sem expressã o. Emma conteve a respiraç ã o. — Oh, bem. por favor. sra. Cook. faç a-o entrar. Victor franziu a testa. — Castillo? Quem é? Emma ignorou-o e foi atender Castillo. O olhar do mexicano pousou em Victor e depois ele dedicou sua atenç ã o a Emma, notando, admirado, como estava mudada. — Buenos dias, señ orita. — Olá. Este é o sr. Harrison. Victor, este é o empresá rio do sr. Salvaje, sr. Castillo. Victor nã o fez menç ã o de apertar a mã o do outro. Emma sentiu-se tensa. O que devia fazer agora? Mas Juan nã o pareceu ficar inibido. — Miguel pediu que eu viesse vê -la. Ele achou que deve haver algumas perguntas que você precisa fazer e estou aqui para tentar responder. — Oh, eu entendo. — Emma olhou sem jeito para Victor. Depois, indicou uma poltrona para Juan. Ele desabotoou o casaco, mas nã o se sentou. Emma suspirou. — O sr. Harrison já estava de saí da. — Oh, estava? — Victor mordeu os lá bios e, por alguns instantes, Emma pensou que ele fosse criar um caso. Mas era só brio demais para discutir na frente de estranhos. Olhou para ela, balanç ando o anel que lhe devolvera. — Conversaremos um outro dia. — Acho que nã o, Victor. Ele hesitou, enfiou o anel no bolso da jaqueta e saiu da sala. Emma ia acompanhá -lo, mas Juan fechou a porta entre eles. — Já tomou sua decisã o, señ orita? Emma olhou para ele e estremeceu. — Eu... acho que sim. — Ó timo — disse com satisfaç ã o, e tirou o casaco. Emma tentou se controlar. — Gostaria de tomar alguma coisa? — Um café, talvez. A ú nica coisa que costumo beber é tequila, mas nã o acredito que tenha esse tipo de bebida aqui, nã o é? — Nã o, infelizmente. Vou pedir para a sra. Cook preparar um café para nó s. Juan inclinou a cabeç a polidamente, e entã o Emma juntou as xí caras que ela e Victor tinham acabado de usar e levou-as na bandeja para fora. A sra. Cook continuava de cara amarrada, mas Emma nã o deu atenç ã o. Pediu o café e saiu. Nã o tinha intenç ã o de discutir agora com a governanta. Juan era uma companhia agradá vel. Tomou o café falando animado sobre as diferenç as entre seu paí s e o dela, fazendo-a rir ao contar seu primeiro contato com o clima frio da Amé rica do Norte. Depois, como já se sentia mais à vontade com ela, disse: — Você quer saber a respeito de Miguel, si? Emma corou. — Você faz isto parecer muito... muito comercial. — Mas, nã o. No meu paí s, onde os casamentos ainda podem ser combinados entre os pais quando as crianç as sã o de colo, é muito comum o acordo ser discutido por ambas as partes. No entanto, no seu caso, seu pai está viajando, nã o é mesmo? Seu pai! Emma estremeceu. O que ele ia dizer de tudo aquilo quando descobrisse que tinha terminado o noivado com Victor? Quase podia ouvir a tristeza de sua voz. Gostava de Victor, tinham muito em comum. Mas isso nã o significava que ela teria que se casar com ele. Mas o que ele iria pensar de Miguel? Já podia imaginar sua reaç ã o: um sul-americano! E artista, ainda por cima! Juan notou sua preocupaç ã o. — Você acha que seu pai nã o vai aprovar, nã o é? — Você aprova? — Nã o sei. Nã o a conheç o o suficiente para responder. — E eu també m nã o conheç o Miguel! — É exatamente por isso que estou aqui. — Está bem, fale-me sobre ele. Quantos anos tem? Onde mora? Tem famí lia? Juan tirou um charuto do bolso e perguntou se ela fazia alguma objeç ã o. Emma negou com a cabeç a e, depois de acendê -lo, ele disse: — Bien, eu tentarei explicar. Miguel vive com o pai em Lacustre Largo. É um lugar maravilhoso, a parte mais linda do paí s! O pai é um homem muito, muito rico, dono de terras. Dom Carlos sempre quis que Miguel se tornasse um pianista famoso e se orgulha muito dele. — Você nã o mencionou a mã e de Miguel. Ela morreu? Ele nã o tem nenhuma irmã ou irmã o? Juan hesitou, e entã o finalmente disse: — Si, señ orita, Miguel tem irmã os e irmã s. A mã e dele també m é viva mas o pró prio Miguel poderá lhe contar a respeito de sua famí lia. O que mais quer saber? — Quantos anos ele tem? — Trinta e trê s, señ orita. — Juan sorriu. — É tudo? Emma colocou o queixo nas mã os. — Nã o. Há muitas outras coisas, mas terã o que esperar. A minha decisã o nã o é muito fá cil, senhor. Nã o me disse como ele estava agora de manhã. — Estava bem melhor, acho. Pelo menos as costelas doem menos. Dormiu depois que você saiu, e é exatamente disso que ele precisa: descanso! Mas vai descansar bastante na casa do pai, em Lacustre Largo. — Ele vai embora? Quando? — No final da semana que vem. Emma estava apavorada. — E se eu concordar em me casar com ele, voltará depois do Natal? Juan pareceu surpreso. — Depois do Natal, señ orita? Nã o. Se você se casar com Miguel, terá que partir com ele daqui a uma semana, mais ou menos. Emma estremeceu. — Mas eu nã o poderia! Quer dizer, tenho que escrever para o meu pai, ele está no Canadá. Tenho certeza de que gostaria de estar aqui para o casamento. Juan levantou-se, olhando-a pacientemente. — Temo que isto será impossí vel, señ orita. — Mas nã o posso me casar com Miguel antes que ele volte para o Mé xico! — É exatamente essa a intenç ã o dele, señ orita. E sabe de uma coisa? Acho que você també m quer. Emma foi visitar Miguel naquela noite. Demorou algum tempo para decidir o que ia usar e finalmente escolheu um vestido muito simples, sem enfeites. Ficou tentada a vestir a roupa nova, mas nã o era adequada para a ocasiã o. Alé m disso ela nã o precisava mais provar coisa nenhuma, para ningué m. Para sua surpresa, uma moç a levou-a para a suí te, uma moç a morena e alta que usava um vestido longo, preto e branco. Era bem atraente e Emma sentiu ciú mes pela primeira vez. — Boa noite, señ orita. — A moç a era educada, mas fria. — Por favor, entre aqui. O sr. Salvaje virá atendê -la dentro de alguns instantes. — Guardou a capa preta de Emma e lhe ofereceu um drinque. Emma escolheu um licor. — Por favor, sente-se. É a srta. Seaton, claro. Meu nome é Loren Delmar. Sou a secretá ria do sr. Salvaje. A secretá ria de Miguel! Emma estava surpresa. Nã o sabia que ele tinha uma secretá ria. Mas, pensando bem, sabia muito pouco de sua vida. Nã o havia nenhum sinal de Juan Castillo esta noite e ficou muito desapontada. Sentia-se à vontade com aquele homem calmo e mais velho. Estava acostumada com pessoas mais velhas do que ela. — Você trabalha, señ orita? — Sim. Sou uma espé cie de secretá ria, també m. Trabalho numa agê ncia. Loren parecia polidamente interessada. — Você mora em Londres? — Kensington. Houve um longo silê ncio, enquanto as duas pensavam em alguma coisa para dizer uma para a outra, entã o a campainha tocou e Loren levantou-se. — Ah! Deve ser Paul — disse, meio sem graç a. — Desculpe-me por alguns instantes. Emma viu um outro homem entrando na suí te. Era mais ou menos da mesma altura de Juan, mas mais claro, com cabelos grisalhos que caí am na testa. Nã o tinha a menor idé ia de quem ele era, por isso permaneceu onde estava. Loren trouxe o visitante para perto de sua poltrona. — Deixe-me apresentar: sr. Paul Gregory; srta. Seaton. — Ela nã o tem um nome? — perguntou Paul Gregory, com um sorriso, e Emma gostou dele na hora. Lembrou de já ter ouvido seu nome. Miguel estava voltando da casa de Paul Gregory na noite em que lhe deu carona. — Sim — disse, quando ele tomou sua mã o para cumprimentá -la. — Eu sou Emma. — Emma! Sim, gosto do seu nome. — Virou-se para Loren. — Seja uma boa garota e me sirva um uí sque. Estou com a garganta seca. O trâ nsito da cidade está horrí vel a esta hora da noite. Loren Delmar torceu o nariz e, com um gesto indiferente, foi preparar a bebida dele. Paul Gregory pareceu nã o notar e procurou a cadeira mais pró xima dela. — Nã o é terrí vel o que aconteceu com os dedos de Miguel? Emma apertou o copo com tanta forç a que teve medo de quebrar. — Sim — forç ou-se a dizer. — Terrí vel! — Há quanto tempo você s se conhecem? Nã o sabia o que responder. Nem precisou. Miguel apareceu na sala, moreno e atraente em seu terno cinza. O coraç ã o de Emma batia descompassado. Paul levantou-se e foi ao encontro dele, trocando algumas palavras em particular antes de dizer: — Acabava de perguntar a Emma quando você s se conheceram. O olhar de Miguel pousou no rosto dela e era quase insolente. Os ferimentos dele nã o estavam mais inflamados e a palidez tinha desaparecido. Apenas sua mã o parecia do mesmo jeito. — Nó s nos conhecemos há cerca de trê s semanas, numa noite muito chuvosa e com neblina, nã o foi, Emma? — É, mais ou menos trê s semanas. Como você está se sentindo agora à noite? — Estou bem. — Miguel sorriu, mostrando os dentes muito brancos e certinhos. — E você? — Bem. — Emma sentiu o olhar curioso de Loren. Miguel parecia totalmente indiferente à sua tensã o. — Dei ordens para que o jantar fosse servido dentro de meia hora. Está bem para todos? Paul bateu no estô mago. — Para dizer a verdade, está. Nã o me importo de dizer que estou morrendo de fome. — Você estava morto de sede quando chegou — corrigiu Loren secamente. — Estava mesmo. Bem, nã o é desse jeito que devemos ir a um jantar? Prontos e dispostos para desfrutar a hospitalidade do anfitriã o? Todos riram e Emma tentou relaxar. Mas aquela nã o era a cena que queria ter encontrado. Queria ver Miguel a só s e lhe dar sua resposta, e nã o jantar com uma porç ã o de gente estranha. Foi forç ada a se comportar como se estivesse preparada para enfrentar tudo aquilo. O jantar foi servido na mesa do canto da sala. Uma refeiç ã o deliciosa mas, como da outra vez que Emma almoç ou com Miguel, també m nã o conseguiu comer muito. A sobremesa foi uma torta de morango e aí ela nã o resistiu. Limpava a boca com o guardanapo quando percebeu o olhar insistente de Miguel. Embaraç ada, imediatamente virou-se para Paul e fez algum comentá rio sem importâ ncia a respeito de estarem comendo morangos em novembro, esperando que, quando voltasse o olhar para a mesa, Miguel já tivesse achado alguma outra coisa com que se ocupar. O café foi servido na mesinha de centro, perto do confortá vel sofá. Emma ia se sentar numa das poltronas quando sentiu os dedos de Miguel em seu pulso. Ele a arrastou para o sofá e nã o a soltou até que se sentassem. Emma sabia que tanto Loren como Paul tinham percebido a intimidade daquele gesto. A noite, passou depressa, embora ela achasse difí cil se concentrar em algo que nã o fosse Miguel. Ouvia com atenç ã o quando ele falava e nã o conseguia tirar os olhos de seu rosto moreno. Precisava dele. Agora tinha certeza disso. Mas seria amor? Aquela agonia era paixã o? E estaria deixando que aquele magnetismo tomasse conta dela e a cegasse? Ela nã o sabia. Mas sabia de uma coisa: queria se casar com ele. À s onze horas. Paul finalmente disse que tinha que ir embora. Levantando-se, olhou para ela. — Posso lhe dar uma carona? Ia concordar, quando Miguel també m se levantou. — Obrigado, Paul, mas vou providenciar para que Emma chegue bem em casa. — Claro, claro. Foi muita ousadia minha, nã o foi? Está bem, Miguel. Telefono para você na semana que vem. — Ó timo. Miguel sorriu carinhosamente para o amigo e Paul apertou sua mã o com forç a. Depois, com um aceno, dirigiu-se para a porta e foi embora. Imediatamente, Miguel virou-se para Loren. — Eu gostaria de falar em particular com Emma, Loren. Você se importaria em nos deixar a só s? — Claro que nã o, Miguel. Já vou dormir. Boa noite, señ orita. — O nome dela é Emma. — Muito bem. Boa noite, Emma. Depois que Loren saiu, Miguel se afastou. Parecia fazer aquilo de pura provocaç ã o, Emma pensou com tristeza. Incapaz de conter-se, ela perguntou: — Loren dorme aqui? Na sua suí te? Antes de responder, ele acendeu um charuto. — Dorme. Por quê? — Mas isto nã o é... quero dizer, você nã o acha que é impró prio? Miguel dirigiu-lhe um olhar atravessado. — Se está insinuando que eu durmo com ela, por que nã o diz de uma vez por todas? Emma corou. — Bem, isto nã o é da minha conta. — Nã o é? — Está bem: você dorme com ela? — Nã o. — Mas... já dormiu? — Você quer dizer, no passado? Nã o. — Mas entã o, por que ela dorme aqui, na sua suí te? — Porque é conveniente. Juan també m dorme aqui. Uma suí te com muitos dormitó rios tem muito pouca diferenç a de uma casa, sabe? Houve um longo silê ncio. — Você já chegou a uma decisã o? — Sim e nã o. — Emma suspirou. — Eu me casarei com você, mas nã o posso ir para o Mé xico logo em seguida. — Por que nã o? — Sua voz era dura. — Bem, por um ú nico motivo: tenho que levar em consideraç ã o o meu pai. — Onde ele está? — No Canadá, com meu irmã o e minha cunhada. — Canadá? Você nã o pode estar querendo que eu espere você escrever para o seu pai no Canadá para pedir a aprovaç ã o dele. — É mais ou menos isso. — Nã o! — O que você quer dizer com esse nã o? — O que eu acabo de dizer. — Ele enfiou as mã os no bolso e tirou alguns papé is. — Olhe, sabe o que é isso? É uma licenç a de casamento para nó s. E isto é uma permissã o concedida pelo meu consulado aqui em Londres. Já andei averiguando e poderemos nos casar na pró xima quinta-feira. Uma vez que você seja minha esposa, as dificuldades a respeito da imigraç ã o tornam-se simples e, naturalmente, terá que se nacionalizar cidadã mexicana. Emma levou a mã o à testa. — Para o meu gosto, você está sendo muito rá pido. Como... como é que pode ter estes papé is? Nã o sabia se eu ia aceitar seu pedido! — Muito bem, entã o. Agora me responda, qual é a sua decisã o? Emma balanç ou a cabeç a, indefesa. — Eu acho que aceito. Mas realmente, Miguel, nã o posso... — Isto basta! Chega, você já disse o suficiente. Se o caso do seu pai a está preocupando, nó s voltaremos para o Mé xico pelo Canadá e você poderá entã o visitá -lo. Emma gaguejou. — Ir ao Canadá? — Quase nã o podia acreditar. Era bom demais para ser verdade. — Por que nã o? Nã o fica muito fora do nosso caminho, e alé m do mais preciso conhecer seu pai. Afinal de contas, ele será meu sogro. — Sim. — Emma, quando você se casar comigo, vai se tornar uma mulher rica, muito rica. — Mas... — Ela nã o sabia o que dizer. — Certamente isto deve significar alguma coisa para você, nã o é mesmo? Seu tom de voz era irô nico e ela se perguntava o que realmente ele estaria pensando. E se tudo voltasse a ser irreal novamente, e até mesmo o só rdido envolvimento de Victor com aqueles homens que agrediram Miguel parecesse menos fantá stico? — E se eu me recusar a casar com você? E se eu nã o quiser acompanhá -lo de volta ao Mé xico? O que você faria? O olhar de Miguel estava muito sé rio e Emma percebeu que estava com raiva. — Nã o acredito que vá recusar. Ela se perguntou se algum dia algué m tinha lhe dito um nã o.
|
|||
|