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CAPITULO IV



 

Seu jeans tinha sido comprado há muitos anos, e agora estava terrivelmente apertado, marcando bastante seu corpo. Mas quando o vestiu e abotoou a camisa azul de corte masculino que tinha escolhido para usar, Emma percebeu que aquela roupa lhe assentava muito bem. Estava atraente e jovem, completamente diferente da Emma que costumava ser nos ú ltimos anos.

Ficou indecisa sobre o que fazer com o cabelo. Finalmente repartiu-o no meio, tranç ou-o e prendeu-o no alto da cabeç a. E a maquilagem? Escolheu uma sombra clarinha e um brilho de lá bios, que uma das garotas da agê ncia lhe dera no ú ltimo aniversá rio, na tentativa de lhe mostrar que tipo de cosmé ticos deveria usar.

Desceu as escadas o mais silenciosamente possí vel. Esperava que a sra. Cook nã o ouvisse. Mas quando abriu o armá rio para pegar o casaco, a governanta apareceu. Durante algum tempo, olhou para Emma, fazendo com que o rubor lhe subisse ao rosto, e depois disse, escandalizada:

— Você vai sair assim?

— Vou. Por quê? — Procurou ser natural.

— Essa calç a. Está praticamente indecente! Srta. Emma, seu pai ficaria muito chocado se descobrisse isto.

— Mas ele nã o sabe, nã o é mesmo? E, de qualquer forma, já passei da idade dos consentimentos.

— Sim, senhorita.

— A senhora precisa tentar entender como eu me sinto. Eu nunca... Bem, por muitos anos só houve Victor para mim. As pessoas precisam de um pouco de liberdade uma vez ou outra.

— Nã o posso fazer nada para detê -la. A vida é sua.

— Sim, a vida é minha.

Atravessou o hall e parou na porta da sala. Quando olhou para trá s, entretanto, a sra. Cook já tinha voltado para a cozinha.

Agora nã o havia mais som de piano. Encontrou Miguel esticado preguiç osamente no sofá, com os olhos fechados. Parecia completamente à vontade lá, como Victor nunca tinha feito, e seu coraç ã o disparou. Estava sendo louca de permitir que ele entrasse em sua vida. Isto todo, no final das contas, só ia fazê -la sofrer.

Primeiro, pensou que tivesse adormecido, mas quando chegou no meio da sala, os olhos dele piscaram e se abriram, brilhando.

— Está pronta?

Emma concordou com a cabeç a e sentiu a garganta, seca. Se suas roupas tinham chocado a sra. Cook, nã o pareceram surpreender Miguel Salvaje. Quase se sentiu desapontada.

O carro dele os esperava à porta da entrada. Emma entrou rapidamente, com medo de que algué m a visse. Saí ram devagar e logo estavam se afastando do trâ nsito.

Emma tentou relaxar. Agora que já estava ali, devia fazer o possí vel para parecer natural. Havia o mesmo cheiro gostoso dentro do carro, o mesmo que sentiu na noite da carona. Couro, bom fumo e també m o que devia ser loç ã o de barbear. Mas agora era dia e podia ver alguns detalhes que nã o tinha notado antes. Nem mesmo a luxuosa limusine de Victor tinha um toca-fitas ou ar refrigerado.

Miguel nã o falava muito. Estava concentrado na confusã o do trâ nsito, manobrando com bastante seguranç a, e Emma tentava nã o observá -lo. Mas isto era muito difí cil e quase nã o estava conseguindo controlar seus olhos, que teimavam em procurar o rosto dele.

A cidade foi ficando para trá s, e o carro ganhou um pouco mais de velocidade. Apesar de haver poucos carros agora, Miguel continuava concentrado na estrada, e, com uma tosse nervosa, ela disse:

— Onde vamos?

— Bem, para onde acha que estamos indo?

Emma sacudiu os ombros.

— Estamos na estrada Brighton. É para lá?

— Nã o conheç o estes lugares muito bem. Meu agente londrino me levou lá uma vez, mas acho que deve haver algum outro lugar fora da cidade onde possamos apenas andar.

— Estou pensando no tempo. Você nã o tem que voltar cedo a Londres para o concerto?

— Pode deixar que eu mesmo tomo conta dos meus negó cios — ele disse secamente, e Emma afundou-se no assento do carro.

Durante algum tempo, tudo foi silê ncio e Emma sabia que nã o seria ela a começ ar a conversa desta vez. Em sua casa ele tinha sido algo diferente! Atraente, agradá vel, gentil. Agora, nã o dizia nada e parecia mais preocupado com os pró prios pensamentos.

Ventava muito em Brighton. Ele estacionou e, depois de trancar as portas, olhou para o reló gio de pulso.

— É quase uma hora, vamos procurar algum lugar para comer?

Emma, que nã o tinha tomado café, estava começ ando a sentir fome, mas a idé ia de se sentar num restaurante com ele, com o risco de algué m reconhecê -lo, assustava-a.

— Um sanduí che está ó timo para mim.

Miguel observou-a, com severidade.

— Por quê? Nã o costuma almoç ar? Você nã o parece ser do tipo de mulher que precise de regime.

— Eu pensei que você preferisse comer um sanduí che num barzinho qualquer do que se arriscar a ser identificado em algum restaurante.

— Por que eu devia me preocupar em ser identificado?

Emma fez um gesto indefeso.

— A ú ltima vez que você me convidou para comer fora, disse...

— Eu sei muito bem o que disse. No entanto, nó s vamos fazer uma refeiç ã o de verdade.

Emma nã o fez maiores comentá rios. Caminharam juntos como estranhos, e ela enfiou as mã os nos bolsos da jaqueta para que ele nã o pensasse que queria que a tocasse. Havia alguma coisa melancó lica no dia, como se o humor de Miguel fosse o culpado.

Almoç aram no restaurante do Capricorn Hotel, um dos maiores hoté is à beira-mar. A comida estava boa, mas o apetite de Emma, nã o. Apesar de estar em jejum, percebeu que aquela sensaç ã o de vazio no estô mago nã o tinha nada a ver com fome. Só o vinho lhe fez bem. Miguel desprezou a sopa, mas pareceu gostar da carne, e por algum tempo falou da comida de seu paí s. Emma ouviu, fascinada, mas, quando se atreveu a perguntar mais coisas sobre o Mé xico, ele se fechou como uma ostra e nã o disse mais nada. Era uma pessoa que mudava de humor com muita facilidade e ela se sentiu magoada.

Saí ram no vento gelado, atravessando a estrada em direç ã o da praia. Miguel pisava com forç a nas pedras e observava o mar cinzento.

— Tã o triste, tã o sombrio. Você já viu o Pací fico? Já esquiou nas ondas em alta velocidade?

— Você deve saber que nunca fiz nada disso — respondeu, com raiva.

— Como é que eu podia saber disso? Conheç o muito pouco da sua vida, Emma.

— Eu sei ainda menos de você, — disse Emma.

— E daí? Nã o sou importante. Venha, vamos andar.

Andaram em silê ncio uma longa distâ ncia, afastando-se da praia e passando pelas dunas. A tarde morria e começ ou a esfriar. Será que ele nunca ia se cansar? Como se lesse seu pensamento, ele parou e sentou na grama. Pegou um cigarro e tragou com prazer. Depois olhou para Emma, que estava em pé a seu lado.

— Vai ficar aí?

Ela sentou-se, cruzando as pernas e passando os braç os em volta, tentando se esquecer.

— Humm. Aqui está ó timo. O ar está muito bom.

— Pensei que você achasse aqui triste e insosso — disse Emma, sem olhar para ele.

— Você acha difí cil me entender, nã o é, Emma?

Emma sacudiu os ombros.

— Acho que é isso mesmo.

— Por quê? Só porque nã o sou como você acha que devia ser?

— Nã o me atreveria a lhe dizer o que você devia ser — disse e riu.

— Por que nã o? Por que você nem sempre consegue as reaç õ es esperadas?

— Já percebeu que passa das cinco horas? E que estamos bem longe?

— Oh, Emma! Você é sempre muito correta! Você nunca... Como se diz, droga? Esquece da hora? A hora é relativa.

— E se por acaso chegar atrasado para o concerto de hoje?

— Simplesmente chego atrasado — respondeu calmamente. — Já estou metido em encrenca por nã o ter ido ao ensaio. Entã o, nã o faz diferenç a se arrumar mais problemas.

Emma suspirou, e ele se virou para olhá -la com uma intensidade perturbadora.

— Ficou desapontada, nã o ficou?

— Desapontada?

— Sim, desapontada. Porque nó s falamos pouco, porque eu a estou usando apenas como companhia.

— Nã o sei o que está dizendo.

— Oh, sim, Emma, você sabe. Concordar em vir comigo até aqui foi uma ousadia para algué m como você e agora está achando que tudo foi uma perda de tempo.

— Bobagem! — Emma corou.

— Mas é verdade. Nã o tenha medo de ser honesta com você mesma.

Ela desejou que ele parasse de olhá -la. Sentiu que podia ler seus pensamentos.

O que estava fazendo ali, se perguntou desesperada, esquecendo-se da zanga de Victor e de seu trabalho na agê ncia?

Miguel passou as costas da mã o fria no rosto dela, acariciando-lhe a face e o pescoç o. Os olhos dele estavam escondidos por detrá s dos ó culos negros e ela nã o conseguia ver direito sua expressã o. Sentia-se paralisada, assustada como um coelho.

— Por que você prende o cabelo para trá s deste jeito? — ele perguntou, puxando as mechas delicadamente, até que os grampos se soltassem um pouco. — Deixe-o solto para mim.

— Nã o seja tolo!

— Estou falando sé rio. Você quer que eu mesmo o faç a? Aviso que posso nã o ser muito gentil. — Sem dizer uma palavra, começ ou a puxar os grampos, machucando-a de propó sito.

— Está bem, está bem, eu solto. — Ela engoliu em seco e, abaixando a cabeç a, começ ou a desmanchar as tranç as.

— Melhor, muito melhor — ele murmurou, e acariciou o cabelo dela.

Emma desprezou-se por permitir que aquele homem a forç asse a fazer o que nã o queria. Inclinando a cabeç a, ele tomou uma mecha de seu cabelo e levou-a aos lá bios. Depois, puxou-a, de modo que ela foi forç ada a se virar e encará -lo. Sabia que ia beijá -la novamente e tentou protestar — o que ele ignorou completamente. Correspondeu ao beijo com paixã o. E sentiu que a deitava na grama e apertava o corpo sobre o dela, quase a impedindo de respirar.

Levantou as mã os na tentativa de empurrá -lo, mas foi traí da pela emoç ã o. Em vez de lutar, ela o abraç ou, acariciando seus cabelos, puxando-o mais para perto. Sentiu que ele desabotoava sua jaqueta e em seguida a dela, mas quando começ ou a desabotoar-lhe a blusa e suas mã os deslizaram por sua pele quente, Emma se debateu, desesperada.

— Nã o. Por favor, nã o!

— Por quê? — ele murmurou junto de seu pescoç o, o há lito quente na pele suave. — Você nã o quer que eu a toque?

Agora Emma ofegava, tanto por causa de sua luta interior como pela necessidade de fazê -lo parar.

— Miguel, por favor! Deixe-me ir!

De repente ele se controlou e, sem uma palavra, rolou para o outro lado, afastando-se dela. Só entã o se deu conta de que estava frio e escuro. Ele se levantou, abotoando a jaqueta e alisando o cabelo com as mã os. Emma també m se levantou, sentindo as pernas fracas.

Olhou para ele, nervosa, tentando calcular seu humor. Mas Miguel estava olhando para o mar, com o rosto moreno sombrio e ela nã o podia sequer imaginar o que estava pensando.

— Está zangado comigo?

— Por que eu devia estar zangado com você? — perguntou, sem rancor.

— Bem, eu apenas pensei...

Ele se virou e começ ou a abotoar a jaqueta de couro que ela usava, atraindo-a para si com um sorriso triste.

— Oh, Emma — disse, carinhosamente. — Acha que poderia me ter feito parar se eu tivesse resolvido tirar sua virgindade?

O rosto dela ficou em brasa e ele continuou:

— Porque você ainda é virgem, nã o é?

Emma estremeceu e ele passou um braç o em volta de seus ombros.

— Venha, está ficando tarde, nã o quero que você pegue um resfriado por minha causa.

Percorreram o caminho de volta para o carro em silê ncio. A viagem de volta para Londres pareceu muito mais rá pida do que a ida para a praia, e Emma se viu odiando o momento em que ele a deixaria em frente do portã o de sua casa. Nã o queria deixá -lo, e só de pensar que talvez nã o o visse mais fazia seu peito doer. Nunca sentiu isto em relaç ã o a Victor, e a perspectiva de passar o resto da vida ao lado dele pareceu fria e triste.

Oh, Deus, pensou desesperada, o que estava acontecendo?

A hora do rush tinha começ ado quando eles chegaram aos subú rbios, mas, como a maioria dos carros deixava a cidade, continuaram sem incidentes. Miguel parou o carro devagarinho em frente da casa dela e Emma juntou todas suas forç as para dizer boa-noite. Mas quando se virou, ele estava sorrindo. Levou uma de suas mã os frias aos lá bios e beijou a palma.

— Obrigado. E agora preciso ir. Castilho, o meu empresá rio, deve estar... Como é mesmo? Deve estar louco da vida.

— Deve estar muito bravo.

— Ah, sim, muito bravo. Nã o importa. Ele saberá me desculpar.

Emma afastou a mã o dos lá bios dele e procurou o trinco da porta, sem encontrar. Suspirou impaciente. Sabia que tinha lá grimas nos olhos e queria fugir o mais rá pido possí vel dali, antes que começ asse a chorar de verdade.

Miguel saiu do carro e a ajudou a descer. Emma saltou tã o apressada que tropeç ou, mas ele a segurou com forç a.

— O que está acontecendo? O que há de errado? Por que você parece tã o aflita?

Emma balanç ou a cabeç a, muda, e ele continuou:

— O problema sou eu? Alguma coisa que eu fiz?

Emma tentou um sorriso.

— Nã o.

Mas ele nã o ficou convencido.

— Você está arrependida de ter saí do comigo? Nã o se divertiu?

Emma levantou os olhos.

— Estou dizendo a verdade, nã o aconteceu nada.

Miguel mordeu os lá bios, impaciente.

— Nã o acredito, mas agora nã o tenho tempo para descobrir o que a perturba. Isto terá que esperar até mais tarde.

Emma teve um sobressalto.

— Mais tarde?

— Si. Depois do concerto, venho ver você.

— Nã o. Isto é, você nã o pode!

— Por que nã o posso? — havia arrogâ ncia em sua voz.

— Victor estará aqui.

Miguel deu de ombros.

— E daí? Nã o tenho um pingo de medo de encontrar o sr. Harrison.

— Você nã o entende. Ele nã o ia aceitar isto!

— E daí? Mais cedo ou mais tarde, nã o vai importar o que ele pensa.

Emma suspirou, olhando para seus pulsos que continuavam presos nas mã os dele.

— Emma, Castilho deve estar parecendo uma onç a na jaula! Nó s nos falamos mais tarde, si?

Emma balanç ou a cabeç a devagarinho. Desde que desceu do carro, uma onda de frio lhe percorria a espinha, o que nã o era simplesmente devido ao tempo. Hoje era um dia muito diferente, aquilo ia mudar ele uma vez por toda a sua vida, mas amanhã tudo voltaria ao normal, voltaria a pertencer a Victor. Estaria se enganando se imaginasse que, só porque Miguel Salvaje se divertiu em sua companhia, isto mudaria alguma coisa em sua vida. Se Victor soubesse, ela podia estar jogando fora seu futuro. E quando, dentro de duas semanas, Miguel fosse embora para outra capital da Europa para continuar seus concertos, ela ficaria sozinha para juntar os pedaç os.

— Emma, tenho que ir. Nã o fique desse jeito.

— De que jeito? — Esforç ou-se para parecer natural. — Agradeç o muito pelo dia de hoje. Diverti-me bastante. Adeus.

Miguel soltou as mã os dela e se afastou, murmurando alguma coisa inaudí vel. Depois entrou no carro com impaciê ncia. O motor roncou e, alguns segundos mais tarde, sumia em alta velocidade.

Emma caminhou pela entrada, prendendo o cabelo com alguns grampos. Mas sabia que era inú til. A sra. Cook ia pensar o pior, e quem podia censurá -la por isto?

Logo que ouviu o barulho da porta, a governanta saiu da cozinha, tã o preocupada que nem mesmo percebeu a desordem de seu rosto e cabelo. Emma tentou sorrir e disse, feito boba:

— Estou de volta.

— Já estava na hora.

— Por quê?

— O sr. Harrison esteve aqui procurando você.

— Victor?

— É.

— Mas o que ele queria?

— Você. — Ajudou-a a despir a jaqueta de couro e pendurou no armá rio. — Parece que ele foi até a agê ncia e...

— Fenella lhe disse que eu nã o estava bem.

— Mais ou menos.

— E o que aconteceu?

A sra. Cook deu um suspirou resignado.

— Eu disse que você estava de cama, dormindo.

Emma olhou-a aliviada.

— Oh, você é um encanto! Obrigada.

— Eu nã o disse que ele acreditou em mim.

— Como assim?

— Bem, ele disse que se você estava deitada, entã o por que as cortinas do seu quarto nã o estavam fechadas?

— E o que você respondeu?

— Perguntei se estava me chamando de mentirosa e se queria subir para tirar a dú vida.

— Senhora Cook!

— Eu sei. Foi uma temeridade. De qualquer forma, o truque deve ter funcionado, por que ele disse que nã o, nã o era necessá rio, e depois foi embora.

— Ele disse quando voltaria?

— Falou que telefonava esta noite, conforme o combinado.

Emma suspirou, aliviada.

— Bem, acho melhor eu subir, tomar um banho e trocar de roupa.

A sra. Cook cruzou os braç os.

— Bem... Valeu a pena?

Emma deu de ombros.

— Você quer dizer, ir passear? — Fez um gesto de desprezo. — É, estava bom.

— Você vai continuar a vê -lo?

— Duvido muito.

— Agradeç a a Deus por isto! A que horas você quer jantar?

— A hora que for melhor para você. — Emma respondeu, subindo a escada. — E, sra. Cook...

— Sim?

— Obrigada novamente.

A velha bufou e entrou na cozinha.

Quando Victor chegou, Emma já estava vestida. Usava um vestido longo e seus cabelos estavam muito bem arrumados, presos no alto da cabeç a. Nã o usava jó ias.

Victor entrou na sala, esfregando uma mã o na outra para esquentá -las. Emma estava sentada no sofá e ele se curvou para beijá -la suavemente na testa.

— E entã o, como está se sentindo? Devo dizer que está bem pá lida. Fenella estava muito preocupada com você.

— Estou perfeitamente bem. Pegue alguma coisa para beber.

Victor foi até o barzinho, servindo-se de uma boa dose de uí sque.

— O que você vai tomar?

Emma balanç ou a cabeç a, indicando as xí caras de café sobre a mesa.

— Nada, obrigada, a sra. Cook trouxe duas xí caras de café porque esperava-o mais cedo, mas agora já deve estar frio.

Victor tomou a metade de seu uí sque e aproximou-se do sofá.

— Precisei ficar um pouco mais no escritó rio. Este negó cio com Messiter está demorando muito mais do que eu tinha previsto.

Emma se esforç ou para parecer interessada.

— Nã o há necessidade de você trabalhar tanto assim.

Victor sorriu.

— Nã o, eu sei disso. E, logo que nos casarmos, pretendo levar as coisas mais devagar.

Os nervos de Emma saltaram.

— Entendo.

— Aliá s, precisamos pensar seriamente em escolher uma data para o casamento. Talvez logo depois do Natal. Eu pensei em fevereiro ou març o. Até lá seu pai já terá voltado, nã o é?

Emma engoliu com dificuldade.

— Oh, sim. Ele espera estar de volta para o Natal, eu acho.

— Sé rio?

— Bem, acho que ele nã o gostaria que eu passasse o Natal sozinha.

— Sozinha? Você nã o está sozinha, Emma. Estou aqui.

— Eu sei, eu sei.

Emma mordeu os lá bios.

— O que eu quis dizer foi apenas que o Natal é uma é poca da famí lia estar reunida, só isso.

Victor balanç ou os ombros.

— Eu nã o saberia dizer, nunca tive uma.

Emma estava arrependida.

— Desculpe, eu nã o quis...

— Eu sei que nã o. — Victor engoliu seu drinque e depois olhou para ela. — Para dizer a verdade, nunca dei muita importâ ncia para o Natal. Toda a alegria artificial...

— Mas necessariamente nã o precisa ser. Quando minha mã e era viva e meu irmã o ainda morava aqui, costumá vamos ter Natais maravilhosos.

Victor parecia chateado com aquela conversa e, olhando para o copo vazio, perguntou:

— Posso tomar outro?

— Claro, sirva-se.

Quando voltou para seu lugar, junto da lareira, mudou de assunto, passando a falar da Tê xtil Messiter. Emma ouviu as explicaç õ es detalhadas e, depois, os planos que tinha feito para o futuro deles. Já tinha ouvido tudo isso antes, mas tentou mostrar interesse. As lembranç as do dia com Miguel nã o a abandonavam e era inevitá vel que comparasse aquele dia excitante com os anos seguintes e as noites, iguais a esta, ao lado de Victor.

O sentimento entrava muito pouco no relacionamento deles. També m nã o tinham os mesmos interesses e, pela primeira vez, Emma duvidava, desesperada, que aquele casamento desse certo. E como seria a vida sexual deles? Nã o podia pensar em Victor sentindo prazer com alguma coisa em que ele nã o fosse o senhor absoluto da situaç ã o. Victor sem suas imaculadas roupas de serviç o? Sem sua crescente respeitabilidade? Ela simplesmente nã o conseguia vê -lo assim.

Logo depois das dez horas, a sra. Cook apareceu com uma bandeja de café e alguns sanduí ches, e Victor foi sentar-se ao lado de Emma no sofá.

— Antes que eu me esqueç a, nó s fomos convidados para jantar fora sexta-feira que vem.

— Ah, é? Quem nos convidou?

— Os Hanson. Você conhece, Miles e Delia. Na verdade, vai ser uma espé cie de comemoraç ã o, aniversá rio de casamento deles. Estã o casados há vinte e trê s anos. Imagine só! Daqui a pouco vã o fazer bodas de prata.

Emma nem sentia o gosto do café. Aquelas pessoas eram amigas de Victor, da idade dele, e muito em breve estariam comemorando bodas de prata. Será que nunca iam ter amigos mais jovens? Amigos da idade dela?

Mas nã o. Nã o conseguia ver Victor conversando com rapazes jovens, que ainda nã o estivessem formados e nã o tivessem uma carreira. Esse tipo de gente o irritava. Seus amigos eram todos homens de negó cios e muito bem-sucedidos, assim como ele, homens que sabiam controlar dinheiro e pessoas.

Victor sorriu, satisfeito.

— Esse café está muito bom. Gosto muito dessas noites calmas, em casa. E você?

Emma forç ou um sorriso. Esperava que ele nã o fosse querer ficar lá até muito tarde. A dor de cabeç a que tinha inventado antes estava se tornando rapidamente uma realidade e queria ir se deitar.

Entã o tocaram a campainha e seu cansaç o desapareceu, levando junto sua paz de espí rito. Nã o conseguia pensar em ningué m que aparecesse em sua casa a essa hora da noite. Ningué m, exceto...

— Quem será? — Victor perguntou, curioso.

— Nã o sei. Vou ver.

— Deixe que a sra. Cook atenda. Provavelmente é algué m que bateu na porta errada.

— Provavelmente — concordou Emma, ouvindo os passos da governanta no hall e o barulho da porta sendo aberta.

Por alguns instantes, pensou que Victor estava certo; devia ser engano. Mas depois ouviu vozes altas no hall, a porta da sala foi aberta sem cerimô nia e Miguel apareceu, seguido de uma sra. Cook muito nervosa. Alto, magro, moreno, usando uma jaqueta marrom de veludo sobre a camisa social. Olhou para os dois com insolê ncia irô nica.

— Buenas noches, señ or, señ orita! — cumprimentou, fazendo uma reverê ncia com a cabeç a. — Espero nã o estar interrompendo.

 

 



  

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