Хелпикс

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CAPITULO I



 

 

Copyright: 1973

 

 

Disponibilizaç ã o do livro: Valeria O.

Digitalizaç ã o: Joyce

Revisã o: Né ia

 

 

Miguel Salvage entrou na vida de Emilia numa noite fria de neblina. Um belo desconhecido de sangue latino, quente e explosivo, que lhe deu carona numa estrada deserta e virou sua vida pelo avesso. Pela primeira vez, ela se sentia jovem e desejada, a ponto de esquecer tudo: até que tinha um noivo. Incapaz de resistir à tentaç ã o, envolveu-se em uma chantagem e pagou o preç o que Miguel exigia: casar com ele e viajar para o Mé xico. Suas aventuras estavam apenas começ ando: ia viver num paí s estranho, com um marido indiferente e hostilizada pela famí lia dele. Entã o, descobriu que Miguel tinha um segredo que destruiria suas vidas.

Chantagem de Amor

A Savage Beauty

Anne Mather

 

CAPITULO I

 

O

 cé u estava escuro. Caí a uma daquelas chuvas finas que surgem de repente, ensopando as pessoas até os ossos. Era a noite ideal para sentar ao lado de uma lareira acesa e aconchegante, junto da pessoa amada. Aborrecida, Emma afastou o cabelo molhado do rosto e olhou para a estrada, como se algué m pudesse aparecer de uma hora para a outra, no meio daquela escuridã o.

Nã o podia acreditar que estivesse tã o distante de Londres, num lugar desolado que nã o conhecia, sem uma casa à vista. Era ridí culo, mas tinha se perdido na neblina. Ao pensar nisto, estremeceu de medo. E o pior era que o carro nã o pegava.

Resolveu deixá -lo para trá s e caminhar, e agora nã o podia voltar, pois nã o tinha a menor idé ia de onde estava. Viajara pela estrada principal para Londres, mas num cruzamento acabou se confundindo e, quando percebeu, era tarde demais.

Victor ia ficar furioso. Em primeiro lugar, nã o queria que ela fosse a Guildford. Tinha sido uma estú pida — concordava agora — mas, para dizer a verdade, quando saiu de casa estava apenas chuviscando e ningué m podia imaginar que o tempo fosse piorar tanto.

Visitava Stafford Lawson todos os anos, no dia de seu aniversá rio. Era seu padrinho e já estava com mais de oitenta, nã o haveria mais muitos aniversá rios. Alé m disso, queria provar a Victor que era perfeitamente capaz de guiar até Guildford sem que ele a acompanhasse apesar do mau tempo. E lá estava ela, perdida e sozinha, sem carro.

Suspirou. Nã o devia se preocupar agora com o que Victor pudesse dizer. No momento, seu maior problema era descobrir um telefone e chamar um tá xi. Entã o, ir para o conforto da casa de seu pai em Kensington. Santo Deus, o que aconteceria se nã o achasse rapidamente um lugar mais quente? E quem poderia encontrar? Havia muitas histó rias de mulheres jovens que se perderam e nunca mais foram encontradas, ou foram achadas assassinadas.

Que diabos estava fazendo? Nã o podia ficar pensando naquelas coisas horrí veis. Para seu bem, tinha que tentar se convencer de que, daqui a pouco, ia encontrar uma porç ã o de casas ou uma fazenda.

Mas entã o outro pensamento lhe veio a mente mas já era bastante tarde quando ela saiu da casa do padrinho. Agora devia ser quase meia-noite, é quem estaria acordado aquela hora, com aquela chuva? Os fazendeiros costumavam dormir cedo. Devia ser exatamente por isso que nã o tinha visto nenhum sinal de luz. Já era tarde, e todos tinham ido dormir!

Estremeceu ao perceber que um carro se aproximava. Estava toda molhada, sentia muito frio e sua situaç ã o era lastimá vel. Depois dos pensamentos desagradá veis de alguns minutos atrá s, só podia imaginar que o motorista fosse um criminoso. O que devia fazer? O que podia fazer? Pedir carona ou se esconder até que ele passasse e torcer para que nã o a notasse?

Mas as solas de suas botas estavam ú midas e lisas e quando ela tentou se afastar do meio da estrada, escorregou e perdeu o equilí brio. Caiu de costas, desajeitada, bem na frente do automó vel.

Quem quer que fosse o motorista, era muito bom. Freou imediatamente e o carro ainda derrapou na estrada molhada antes de parar bem perto de Emma. Esperou sentir, a qualquer momento, o peso daquele carro sobre seu corpo. Entã o, ouviu que abriram a porta e respirou fundo, aliviada. O tombo a deixou meio atordoada e, só de pensar que esteve perto da morte, achou que ia desmaiar. Continuou no mesmo lugar, sem poder se mover. Mã os fortes e firmes fizeram-na levantar-se sem cerimô nia.

— Olá! Como é que algué m pode se atirar no meio da estrada como você fez? Está ficando maluca? Costuma tentar se matar desta forma? — disse o homem, colocando-a de pé.

Para Emma, a raiva dele era o cú mulo, e seus olhos se encheram de lá grimas. Fez o possí vel para contê -las, endireitou o corpo e o encarou corajosamente.

O homem a observava, mas estava muito escuro para que pudesse distinguir o rosto dele. Diante de seu silê ncio, o desconhecido tornou a perguntar:

— Você quer fazer o favor de me explicar o que está fazendo a esta hora da noite numa estrada particular? Deve haver alguma explicaç ã o.

— Que tipo de explicaç ã o?

Sem dú vida alguma, o homem estava muito impaciente, pensou Emma, enquanto tentava responder, e continuou:

— Escute, estou toda molhada e com muito frio.

— O que está querendo? Visitar Gregory?

— Gregory? — Emma nã o entendia nada e entã o, percebendo que ele nã o fazia a menor idé ia de sua situaç ã o, explicou: — Nã o! Eu estava indo para Londres, mas acho que acabei me perdendo.

Nã o cabia outra resposta. À quela hora da noite, seu motivo para estar na estrada particular de Gregory poderia ser mal-interpretado se nã o fosse sincera.

O homem hesitou por alguns momentos e voltou-se para olhar a estrada.

— Entendo. Tem o costume de andar longas distâ ncias com este mau tempo?

Ele estava zombando dela.

Emma deu um sorriso amarelo, depois estremeceu de frio.

— Venha! També m estou indo para Londres. Posso levá -la, se conseguir me dar uma explicaç ã o razoá vel para o seu passeio na estrada particular de Paul Gregory, a esta hora da noite.

Emma foi forç ada a acompanhá -lo, mas o fez sem entusiasmo. Embora ele tivesse concordado em levá -la de volta para a cidade, nã o se sentia aliviada com isso. Nunca tinha visto aquele rosto, nã o seria capaz de identificá -lo novamente, e alé m do mais parecia muito altivo e dominador. Isso a perturbava um pouco.

O carro dele era um tipo esporte muito confortá vel. Olhou para o homem por cima da capota quando ele mandou que ela entrasse. Emma pediu a Deus que nã o estivesse perto de cometer o maior erro de sua vida. E se ele tivesse bebido demais? Nã o tinha sentido cheiro de á lcool no há lito dele, mas até entã o estava muito perturbada para notar esse detalhe. Nã o devia ficar pensando bobagens. Se fosse um motorista bê bado, a teria atropelado quando apareceu no meio da estrada.

Entrou devagar no carro, acomodou-se no assento e fechou a porta. Ele fez o mesmo, depois levou a mã o ao interruptor e acendeu a luz. Emma piscou e, involuntariamente, passou as mã os pelo cabelo.

Devia estar com uma aparê ncia horrí vel, pensou, e sabia que se Victor a visse daquele jeito, ficaria horrorizado, pois era um homem que dava muita importâ ncia à s aparê ncias.

Seu acompanhante virou-se para observá -la, com o olhar frio.

— É interessante vê -la no claro, señ orita.

Para seu desgosto, Emma sentiu o rosto queimar e ficar. vermelho na hora. Era um dos homens mais perturbadores que já encontrara na vida. Seu cabelo era escuro e grosso, roç ando o pescoç o, e usava a jaqueta azul-escuro de uma maneira tã o displicente que teria feito Victor torcer o nariz de forma arrogante. Ele odiava homens de cabelo comprido; costeletas eram a ú nica concessã o que fazia à ú ltima moda.

As costeletas daquele homem eram longas e escureciam ainda mais as maç ã s de seu rosto. Tinha olhos negros. Suas feiç õ es nã o eram regulares; tinha rosto fino, nariz aquilino e um furinho no queixo. Sua boca era sensual, arrogante, atraente. Isto tudo fazia com que Emma se sentisse inquieta, com um frio na espinha.

— Posso lhe garantir que minhas razõ es para estar aqui sã o perfeitamente respeitá veis.

— É, tenho absoluta certeza de que sã o — ele respondeu divertido. — Poré m, terá que me perdoar se eu preferir tirar minhas pró prias conclusõ es.

Emma respirou fundo.

— Se eu realmente fosse um assaltante, por exemplo, nã o teria esperado o carro começ ar a andar, nã o é mesmo? De qualquer forma, o que é que poderia fazer com você, agarrado ao volante?

— Um pensamento muito inteligente.

Emma desviou o olhar. Nã o conseguiria enfrentar aqueles olhos irô nicos e, para completar, sentia-se desconfortá vel quando ele a olhava. Obviamente, estava acostumado a se impor diante das mulheres. Pela atitude dele, devia saber muito bem do fascí nio que exercia sobre elas. Era jovem, devia ter trinta e poucos anos, e embora ela soubesse que nunca o havia encontrado antes, notava alguma coisa vagamente familiar. Reprimiu sua curiosidade. Nunca iria saber de onde o conhecia. Desde que entraram no carro e se instalaram, o homem fazia o possí vel para ela perceber o seu charme.

Como se tivesse notado seu desconforto, ele apagou a luz.

— Muito bem — disse, aumentando a velocidade do carro. — Por que você estava passeando com toda esta neblina? Talvez algum problema com um homem?

Emma, que entã o se sentia mais à vontade, suspirou.

— Oh, claro que nã o — negou com veemê ncia.

— Por que claro que nã o? É uma suposiç ã o bastante razoá vel. Pelo seu olhar podia jurar que você nã o está tendo problemas só com o mau tempo!

Emma se mexeu, desajeitada. Claro que devia estar parecendo uma irresponsá vel. Seu cabelo estava todo desmanchado e solto nas costas e a maquilagem tinha escorrido.

— Fui visitar um amigo em Guildford — explicou, tentando se controlar. — Mas na volta me perdi no meio da neblina. Quando descobri que estava no caminho errado, tentei virar o carro e acabei caindo numa valeta.

— E você veio a um lugar tã o longe de Londres, com este tempo, só para ver esse amigo? Deve ser um homem de verdade, señ orita.

— Nã o do modo que você está insinuando — Emma respondeu aborrecida.

— O que estou insinuando?

Emma teve que morder os lá bios para nã o responder à altura. Ele estava tentando irritá -la de propó sito, divertindo-se à s suas custas; sem dú vida, estava acostumado com aquele tipo de ataque verbal. Emma, muito pelo contrá rio, nunca estivera numa situaç ã o tã o constrangedora assim. Victor nunca agira daquela forma.

— Acho que minhas razõ es para ir a Guildford nã o sã o da sua conta. Eu lhe ficaria muito grata se simplesmente me levasse ao ponto de tá xi mais pró ximo.

— Nã o seja tã o rá pida em retribuir com ofensas, señ orita. Para uma pessoa que até poucos minutos atrá s estava perdida, com frio e ensopada, você mostra uma grande falta de consideraç ã o.

Tinha razã o. Ela lhe devia um grande favor e nã o podia esquecer disso, apesar de seus maus modos. Esforç ando-se para falar com naturalidade, disse:

— Sinto muito, sei que devo parecer mal-agradecida, mas na verdade nã o sou. O que acontece é que nã o estou acostumada a enfrentar este tipo de situaç ã o. — Deu um sorriso forç ado. — Devo estar com uma aparê ncia horrorosa!

Ele olhou rapidamente em sua direç ã o e depois voltou a olhar para a estrada.

— Eu nã o devia deixá -la preocupada. Uma bela mulher geralmente faz o possí vel para parecer bem em qualquer circunstâ ncia.

Emma prendeu a respiraç ã o. Bela? Corou mais ainda quando pensou ter visto um leve sorriso nos lá bios dele.

— Você é muito gentil!

— Gentil? Você é linda e tenho certeza de que está cansada de saber disso. Para que negar, entã o?

— Ningué m nunca me descreveu desta maneira antes.

— Nã o? Bem, eu sempre achei que os homens ingleses tê m muita falta de percepç ã o. — Seus dedos compridos correram agilmente pelo volante. — Entre muitas outras coisas! — acrescentou, zombeteiro.

Luzes começ aram a surgir mais adiante e isto significava que estavam se aproximando da estrada de Londres. Emma suspirou aliviada: finalmente sabia onde se encontrava.

Precisava contratar um carro-socorro para localizar seu carro. Nã o queria pedir a ajuda de Victor nem lhe explicar os detalhes de sua viagem, principalmente depois de ele tê -la aconselhado a nã o ir até Guildford. Se tivesse ouvido o conselho, agora nã o estaria naquele automó vel bonito e luxuoso, com um homem que alé m de ser arrogante, deixava-a tensa com suas insinuaç õ es maliciosas. Nã o conseguia tirar os olhos daquele perfil magro e moreno.

Alguns minutos mais tarde, ele a assustou ao se inclinar de repente para abrir o porta-luvas e pegar uma pequena cigarreira.

— Fique calma. Sã o só cigarros. Quer um?

— Nã o pensei que fosse outra coisa — respondeu, indignada.

— Nã o? Quer um ou nã o quer?

— Sim, quero.

— Pois entã o, pelo amor de Deus, pode pegar!

Emma abriu a cigarreira que ele colocou em seu colo. Mas quando pegou a bolsa à procura do isqueiro, ele, num gesto rá pido, aproximou o cigarro aceso. Ela se inclinou e suas mã os se aproximaram, havendo um ligeiro contato que queria evitar. Afastou-se rapidamente.

Ele continuou fumando como se nada tivesse acontecido, concentrado nas luzes de um carro solitá rio um pouco à frente. Logo estariam nas redondezas da cidade e nã o demoraria para Emma chegar em casa. Se a sra. Cook ainda estivesse acordada, provavelmente estaria muito preocupada com ela. Só queria que a governanta nã o tivesse tido a idé ia de telefonar para Victor. Enquanto o pai estava fora, a sra. Cook se sentia muito responsá vel por ela, como se fosse ainda uma crianç a.

Assim que se aproximaram dos subú rbios, o trá fego começ ou a piorar, embora já fosse bem tarde. Atravessaram a ponte Putney. Quando pararam para esperar que o sinal abrisse, Emma disse:

— Agora eu já posso tomar um tá xi; daqui fica bem mais fá cil e nã o demoraria muito a chegar em casa.

O sinal abriu e o potente carro esporte arrancou sem lhe dar tempo para saltar.

— Se você me disser onde mora, posso deixá -la em sua casa. Mas terá que me ensinar o caminho. Meu conhecimento de Londres é limitado, e realmente nã o sei andar muito bem aqui.

— Nã o é necessá rio, muito obrigada. Nã o quero desviá -lo de seu caminho.

— Está com medo de que seu marido nos veja juntos?

Emma arregalou os olhos.

— Ora, claro que nã o.

— Você tem marido?

— Nã o.

— Hombre, estou surpreso. A maioria das garotas inglesas da sua idade já nã o é casada?

— Tenho vinte e cinco anos, senhor. Nã o me acho nenhuma solteirona!

Ele franziu as sobrancelhas escuras.

— Em meu paí s é muito diferente. Aos dezoito anos uma garota já é esposa e mã e.

Emma se perguntou de que paí s ele devia ser. Embora fosse obviamente espanhol, ou pelo menos descendente de espanhó is, duvidava de que vivesse na Espanha. Havia uma ondulaç ã o vagamente americana em seu inglê s e ela pensou que devia vir da Amé rica do Sul.

— Pode lhe parecer estranho, senhor, mas nã o tenho nenhum desejo particular de me tornar mã e ainda.

— Mã e talvez nã o. E esposa?

— Se insiste em me levar para casa, senhor, moro em Kensington. No pró ximo cruzamento, vire à esquerda.

A neblina estava menos densa agora. Ele nã o teria dificuldade em encontrar o caminho de volta para a estrada principal. Quando o carro parou suavemente em frente aos portõ es, Emma se virou para ele, educada, e disse:

— Muito obrigada. Nã o sei como poderia ter chegado em casa se nã o fosse a sua ajuda.

Ele balanç ou os ombros largos.

— Se continuasse a andar sempre em frente, você teria chegado à casa de Paul Gregory.

— De qualquer forma, você foi muito gentil.

Emma procurou o trinco da porta sem encontrar. Ele se debruç ou sobre ela e abriu a porta. Por um momento, o braç o dele ficou contra seu seio e ela sentiu o aroma masculino de sua loç ã o. Saiu rapidamente do carro, quase tropeç ando em sua pressa.

— Boa noite.

— Adió s!

Ele sorriu meio forç ado e ligou o carro. Enquanto se afastava, Emma teve novamente aquela sensaç ã o perturbadora de já tê -lo visto antes. Mas como aquilo era possí vel? Nã o era o tipo de Victor nem se parecia com nenhum dos amigos dele. Mas tinha certeza de que a fazia se lembrar de algué m. Quem?

Assim que fechou o portã o, a luz do hall foi acesa e a porta aberta. A sra. Cook apareceu, enrolada em uma manta de lã sobre a camisola.

— Srta. Emma! — disse aliviada. — Graç as a Deus que voltou! Já passa da uma hora. Estava muito preocupada. Ia ligar para o sr. Harrison e perguntar se estava lá, quando ouvi o barulho do carro.

Emma entrou no hall, despindo o casaco branco de couro.

— Algo errado, senhorita? Está com uma pé ssima aparê ncia. Houve algum acidente? Por favor, diga-me o que aconteceu.

— Nã o exatamente um acidente, sra. Cook. E estou feliz que nã o tenha telefonado ao sr. Harrison. Nã o havia necessidade de preocupá -lo.

Atravessou o hall e dirigiu-se para uma sala bastante confortá vel, onde a lareira estava acesa.

— Que noite horrí vel!

A sra. Cook perguntou com a familiaridade de quem trabalhava há muito tempo na casa:

— Onde estava, srta. Emma? E por que veio para casa em outro carro? Onde está o seu?

— Está tudo muito bem. — Emma passou as mã os pelos cabelos. — Diga-me, há algum café no fogã o?

— A esta hora da noite?

A sra. Cook parecia horrorizada. Depois suspirou e disse:

— Oh, bem, tem sim, vou buscar um pouco para você.

Emma seguiu a governanta até a cozinha moderna e grande, no fundo da casa, e sentou-se numa banqueta enquanto a sra. Cook acendia o fogo e punha uma caneca de á gua para esquentar.

— Agora — ela disse, quando o café já estava pronto —, o que aconteceu?

— Eu caí numa valeta por causa da neblina — disse Emma, sem rodeios. — Tive que pegar uma carona para chegar em casa.

— O quê? — A sra. Cook estava apavorada.

— É verdade, eu me perdi no caminho; depois, quando tentei virar o carro, ele derrapou e caiu numa valeta. Nã o consegui tirá -lo de lá.

— Ainda bem que seu pai nã o está aqui. Já imaginou como ele estaria preocupado? — A velha franziu a testa. — E quem foi que lhe deu carona? Você já o conhecia?

— Nã o, nã o conhecia, foi a primeira vez que o encontrei. Nã o perguntei como se chama, nem ele procurou saber o meu nome.

A sra. Cook virou-se para cuidar do café.

— Bem, acho que você teve muita sorte em conseguir uma carona a esta hora da noite. Onde está seu carro?

— Nã o sei. — Emma fez um gesto de desagrado quando a governanta a olhou impaciente outra vez. — Bem, eu nã o sei. Acho que em algum lugar da estrada para Guildford. Se der alguns detalhes a uma agê ncia, eles conseguirã o encontrar e trazê -lo de volta. Só nã o quero que Victor fique sabendo, é tudo.

— O sr. Harrison com certeza vai acabar descobrindo — disse a sra. Cook, desaprovando a atitude de Emma.

— Ele só vai descobrir se a senhora contar, claro.

Ela balanç ou a cabeç a, servindo uma xí cara de café com creme.

— Essas coisas acabam sendo descobertas; dê tempo ao tempo.

— Nã o necessariamente — respondeu Emma, levando a xí cara aos lá bios e sentindo o aroma delicioso. — Hum, está uma delí cia. Obrigada, a senhora é um encanto!

A sra. Cook torceu o nariz.

— E você é muito mimada, este é o grande problema. E estou fora da cama agora por sua causa. Se já tem tudo o que precisa, vou me deitar. Preciso acordar bem cedo.

— Está bem, sra. Cook. E, mais uma vez, muito obrigada.

Mais tarde, em seu quarto, ela se observou no espelho. Ficou horrorizada ao perceber que seu nariz estava manchado de fuligem e o cabelo estava todo desarrumado. Tirou os poucos grampos que continuavam no lugar e passou uma escova nos cabelos. Quando estavam soltos tinham reflexos avermelhados, e eram grossos, sedosos, brilhantes. Mas quase sempre os usava presos para trá s num rabo de cavalo ou num coque bem alto. Victor preferia assim, nã o gostava de vê -los soltos. Talvez porque achasse que ficava mais jovem e menos sofisticada.

Apoiando o queixo entre as mã os, olhou para os olhos cinzentos. Sob a maquilagem, a pele era clara e lisa. Os cí lios escuros e grossos sombreavam suas faces.

Um algodã o embebido em loç ã o adstringente removeu a fuligem do nariz e ela se observou com olhos crí ticos. O cabelo parecia muito mais feminino solto do que preso, mas qualquer ventinho o deixava em desordem, e Victor odiava achar fios de cabelo em suas imaculadas jaquetas. Sua maquilagem estava quase sempre muito correta: base, pó e batom claro. Mas agora percebia que sem nada nos lá bios eles pareciam mais cheios e sensuais...

Levantou-se, nervosa. Que diabo estava pensando? O que estava acontecendo com ela, sentada ali, avaliando suas potencialidades? Nã o era mais uma adolescente, era uma mulher madura, de vinte e cinco anos; uma mulher que, de mais a mais, estava noiva e ia se casar com um homem bem mais velho e que estava muito. satisfeito com o jeito dela. Por que estava pensando em melhorar a aparê ncia? Isso era ridí culo, absurdo, paté tico!

Começ ou a se despir, mas antes de ir ao banheiro tomar uma ducha, olhou de relance seu corpo nu no espelho. Tinha pernas longas; quadris firmes e cheios; seios bastante rijos. Seria uma tola por nã o explorar mais seu corpo, nã o procurar se tornar mais atraente para os outros homens e para Victor?

Diabos, pensou irritada, apenas porque um homem, um estranho, tinha sugerido que já estava mais do que na hora de se casar, tinha começ ado a bancar a idiota. Nã o tinha casado ainda porque nã o queria. Era perfeitamente feliz tomando conta do pai até que Victor apareceu em sua vida. Por que deveria se sentir culpada por aquilo?

Olhou para o anel de brilhantes que usava desde que se tornou noiva de Victor, pensando no que havia sido sua vida desde aquele dia. Sem notar, entrou embaixo do chuveiro sem colocar a touca de banho e ensopou o cabelo. Estava distraí da demais, pensando no homem que encontrara aquela noite. Nã o era nada parecido com o tipo de pessoa que Victor aprovava. Ele nã o interferia na escolha de seus amigos, mas alguma coisa lhe dizia que, com o estranho homem moreno que conhecera devido ao incidente, nã o seria a mesma coisa.

 

 



  

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