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CAPÍTULO X



 

Com o coraç ã o batendo descompassado, Luana tentou se afastar, mas ele a segurava com forç a. Ela parecia um salgueiro agitado pelo vento. . . a espuma de uma onda mergulhando naqueles olhos da cor do mar, quando ele se inclinou para acariciar os lá bios, o pescoç o, o ló bulo de sua orelha e por fim a boca, abafando um murmú rio de protesto.

Nos lá bios dele havia o gosto do mar. Na tempestade daquele beijo ela se sentiu indefesa, incapaz de fazer qualquer coisa senã o submeter-se. Quando tudo terminou, estava tã o chocada quanto uma donzela vitoriana beijada a contragosto. Reagiu ao ultraje dando-lhe um tapa no rosto.

Ele riu. . . riu e a abraç ou, o cabelo caí do na testa, os olhos ainda mais brilhantes.      

— A quem você está querendo punir, a mim ou a você mesma? — ele zombou.

— Eu o odeio!

— Por quê? Por tê -la despertado do sonho que tomou conta de você quando Powers a tocou pela primeira vez? Você realmente acha que os beijos dele foram tã o maravilhosos que nã o pode corresponder a nenhum outro homem. . . nem mesmo a mim?

— Você me beijou à forç a!

— E você gostou! Você ainda nã o se conhece, Luana Perry, e muito menos sabe o que é um homem. Você nã o quer algué m que dobre o joelho, galante e trá gico. Você nã o quer admitir, mas um beijo roubado à s vezes é muito mais doce do que um beijo dado. Quem é que gosta de receber tudo embrulhado para presente? Nenhuma mulher de verdade, com certeza, e nenhum homem com um pouco de sangue nas veias.

— Nã o! — ela respondeu vivamente. — Você só quer um brinquedo. Está acostumado com moç as que consideram o amor uma mera brincadeira, como tirar uma fruta de uma á rvore ou nadar numa lagoa, mas nã o estamos numa ilha tropical e eu nã o sou uma í ndia!

Ele deu uma risada.

— Você tem uma opiniã o bem estereotipada a meu respeito, nã o é verdade? O pirata que durante quinze anos viveu e amou onde sua fantasia o levava. Em alguns aspectos você tem razã o, mas todos esses anos nunca deixei um coraç ã o partido quando o Pandora ia embora. Nã o sou santo, mas també m nã o sou um devasso.

Largou-a, dirigindo-se para uma mesa onde havia uma garrafa e alguns copos. Ela ouviu um ruí do e viu por entre lá grimas que ele estava despejando vinho em dois copos. Depois se aproximou com os copos na mã o.

— Isto vai acalmar seus nervos abalados — ele zombou. — Nã o é sempre que você é beijada por um homem de quem nã o gosta.

— Vinho. . . à tarde?

— Nã o há hora determinada para qualquer tipo de prazer, Luana. — Ele lhe estendeu um dos copos com um vinho cor de rubi. — Lembre-se de que sou um Talgarth. Minha avó costumava tomar champanhe no café da manhã.

— Você deve ter saí do a ela!

— Você acha? — O sorriso que ele deu era enigmá tico. — Porque ela sempre fez o que quis?

— Você sabe o que quer e está resolvido a obter. . . como quando reconquistou o castelo e os tesouros pertencentes à sua famí lia.

— Sou um homem teimoso, mas sei que há um limite entre o que quero e o que posso ter. Tenho um sonho, mas sei que nã o posso forç ar certas coisas que estã o nas mã os do destino. . .

— Você me disse que os sonhos nã o sã o tã o satisfató rios quanto a realidade.

— Nã o sã o mesmo, Luana, se continuam sendo sonhos. — Ele tomou um gole de vinho. — Talvez você e eu estejamos condenados a isto, amarrados ao mastro de um navio de sonho que nunca chegará num porto. Quero obter aquilo que desejo, mas pela primeira vez em minha vida estou com medo. Acho que prefiro ficar com a metade do sonho a perdê -lo por inteiro, uma concessã o que nã o faria quando era mais moç o. Eu teria dito " para o diabo" e ficado com o que queria. Nã o me importaria com o futuro.

— Por que você podia ir embora no Pandora?

— O Pandora ainda é meu. Ainda posso ir embora, levando a metade de um sonho como carga.

Ele tomou o resto do vinho e ficou olhando para um quebra-cabeç a persa que estava em cima de sua mesa de trabalho, mexendo com ar ausente nas peç as de marfim e é bano.

— A vida é composta de luzes e de sombras, do dia e da noite. Nã o podemos ter a luz do dia no meio da noite, temos que esperar a aurora e torcer para que o dia seja ensolarado. — Ele procurou os olhos de Luana. — Pode rir agora. Talgarth está sendo sentimental e profundo.

Mas ela nã o tinha vontade de rir. Segurando o copo de vinho, foi até a janela e viu que o sol tinha desaparecido e que as sombras tomavam conta do castelo. Quando se voltou, ele estava descobrindo a está tua inacabada de Ondina.

— Você gostaria de posar por meia hora? Quero ver se acabo isto antes que o telhado do chalé esteja pronto e você s voltem para Pencarne.

— Nã o. . . estou com o vestido.

— Está bem assim. . . Por favor, pose para mim.

Ela fez a pose, que agora já lhe vinha naturalmente, o perfil delineado pelo cabelo, a insinuaç ã o da espera na silhueta esguia de seu corpo. Era mais fá cil posar quando deixava os pensamentos vagarem e naquele dia eles foram até Avendon, até Charme, que era linda, mas que dificilmente era a figura frá gil dos sonhos de um homem. Se Eduard a quisesse mesmo, poderia tê -la tomado de Simon Fox. . . mas ele nã o se incomodou.

Lembrou-se das palavras de Charme: " Ele só quer algué m para morar no castelo. Qualquer pessoa serve. . . até você, Luana".

Pelo menos uma vez Charme havia errado a respeito de um homem. Eduard estava apaixonado por uma mulher e nã o sabia se era correspondido. Se nã o pudesse tê -la, pretendia ir embora no Pandora.

Quem seria a mulher com quem ele sonhava?

— Pronto. — A voz dele veio de longe. — Agora você pode descansar e se preparar para o jantar.

Ela estremeceu, percebendo que estava com frio. Uma rajada de vento entrou pela janela da torre.

— Parece que vai chover. — Ele cobriu a Ondina, um fantasma no meio do estú dio. Embaixo ouviram as ondas batendo nas pedras e, por uma janela, avistaram a luz intermitente de um farol que ficava alé m da curva da baí a. Uma sentinela solitá ria guiando os navios que passavam ao largo das pedras.

— Qual é a sensaç ã o de estar num navio no meio de uma tempestade? — Luana perguntou.

— E assustador, mas deixa de ser excitante quando descobrimos que continuamos vivos depois que o perigo passou.

— Você acha entã o que somente quando passamos por um perigo, um sofrimento ou nos ferimos é que sentimos a alegria de estarmos vivos?

— É mais ou menos isso, Luana. Como pode haver um grande amor, por exemplo, sem antes ter havido um amor menor? Um daqueles que parecem oferecer o paraí so, enquanto duram, mas que no fim nã o sã o verdadeiros. Nã o se pode ser capitã o de navio antes de se ser marinheiro. Nã o se pode amar de verdade antes de se amar pela metade.

Ela se sentiu atraí da pelos olhos dele.

— O que você está dizendo?

— Você sabe muito bem.

Ela sabia, mas nã o queria ouvir mais nada. Desculpou-se, saiu do estú dio e subiu para o quarto depressa, fechando a porta atrá s de si, como se quisesse deixar Eduard de fora. Mas ele nã o a seguiu. Apenas as palavras que ele tinha dito nã o se silenciaram, enquanto o vento soprava mais forte e as ondas batiam como se quisessem invadir o castelo.

 

Durante o jantar, a tempestade ficou mais forte. Eduard nã o apareceu e Jancey estava preocupada. Depois Luana e Patrí cia ficaram um pouco na sala, mas cada rajada de vento as assustava.

— Vamos para a cama — disse Luana.

— As duas jovens atravessaram o hall como crianç as assustadas. A porta do escritó rio de Eduard estava fechada e nã o havia sinal de Medevil.

Um reló gio deu as horas. Eram dez e meia e naquela noite devia ser horrí vel estar nas charnecas ou no mar.

Luana dormia agitada quando foi despertada por uma sirene. Sentou-se imediatamente na cama, percebendo que o ruí do vinha de fora do castelo.

Algué m abriu a porta do quarto.

— Luana, você está acordada? — Patrí cia parou na soleira da porta, arfando. — Desci para ver o que era aquele barulho horrí vel e Jancey me contou que um navio bateu nas pedras. Eduard e Medevil foram socorrer. Nã o é horrí vel? Pode ser que haja pessoas se afogando!

Luana levantou-se rapidamente e começ ou a se vestir. Patrí cia acendeu a luz, exclamando:

— Parece que você está chorando!

— Vamos descer. A sirene está soando perto do castelo e é bem prová vel que os passageiros salvos sejam trazidos para cá. Vamos ajudar Jancey a fazer sanduí ches e a preparar as camas.

No instante seguinte as duas jovens estavam no andar de baixo, recebendo ordens de Jancey, que era calma e prá tica e, como filha de pescador, acostumada a esses desastres. Por volta de meia-noite, Patrí cia dormia no sofá da sala, mas Luana e Jancey estavam ocupadas na cozinha, onde havia um grande caldeirã o de sopa e vá rios bules de café.

A mesa estava arrumada com sanduí ches de carne e de ovos e já havia vá rias camas preparadas.

Os passageiros do navio deviam estar chegando. Dois homens tinham vindo da praia com a notí cia de que o navio saí ra da Amé rica e se dirigia para o porto quando se chocou com os rochedos de St. Avrell. O casco fora atingido e o navio estava adernando, mas seus passageiros estavam chegando no barco salva-vidas. O barco voltaria depois ao navio para buscar a tripulaç ã o.

Luana e Jancey trocaram um olhar preocupado, pois dentro de uma hora o navio avariado estaria afundando, de modo que seria muito perigoso salvar a tripulaç ã o. Luana pegou uma caneca de chá e foi para junto da lareira, muito nervosa, tentando nã o pensar nas ondas cobrindo o navio, nos passageiros transportados pelo barco salva-vidas, que tinha que contornar os rochedos crué is para atingir a praia.

Os passageiros chegaram meia hora depois, muitos deles chorando, trazendo alguns pertences catados à s pressas.

Enquanto entravam na grande cozinha aquecida, Luana lhes oferecia café, cobertores e algumas palavras de conforto. Patrí cia, já acordada, dava-lhes comida enquanto fazia perguntas ansiosas.

Todos queriam falar ao mesmo tempo, agora que estavam em terra, debaixo de um teto seguro. Uma mulher contou que um dos passageiros tinha ficado com a tripulaç ã o para nã o sobrecarregar o barco salva-vidas.

Luana ouvia tudo numa espé cie de sonho, sem parar de socorrer as pessoas. Por volta de duas e meia, os passageiros salvos estavam acomodados para passar a noite e havia silê ncio na cozinha. Patrí cia bocejava diante do fogo, mas nã o queria ir para a cama.

— Quero ficar acordada — ela explicou. — Preciso saber se Eduard está bem.

— Nã o vai acontecer com o sr. Eduard — disse Jancey. — Ele é bom marinheiro, é um Talgarth dos velhos tempos, quando os homens desta famí lia eram tã o vigorosos quanto meus dois irmã os, que saí ram com seus barcos quando os soldados desembarcaram nas praias de Dunquerque. Estou ficando velha, srta. Luana, e vivo de minhas recordaç õ es, mesmo que sejam um pouco tristes.

Luana ouvia o barulho do mar e do vento. Naquela noite suas recordaç õ es estavam especialmente melancó licas. Estremeceu, muito nervosa, quando o reló gio deu as horas e contou trê s batidas. A maré estava alta e o barco salva-vidas teria que lutar para trazer os homens para a praia.

— Meu Deus, fazei com que eles se salvem — ela rezou. — O capitã o, a tripulaç ã o, e també m o passageiro que ficou no navio.

O vento havia diminuí do e o dia estava começ ando a raiar quando o som de vozes quebrou o silê ncio... vozes masculinas, aliviadas, algumas risadas cansadas.

Mais alguns minutos e a cozinha ficou cheia de gente. Homens altos aglomeram-se ao redor do fogo, comendo sanduí ches, tomando sopa, café ou chá.

Enquanto entregava cobertores, Luana procurava Talgarth. Ele nã o estava lá, mas um homem perto da porta chamou sua atenç ã o e ela abafou um grito. Seus olhos se encontraram enquanto ele tomava um gole de café.

— Luana!

— Tarquin!

Ela só acreditou no que estava vendo depois que atravessou o bando de homens e pegou no braç o dele.

— Era você quem tinha ficado com a tripulaç ã o!

— Sim. — Ele riu. — É inacreditá vel, Luana. Você é real?

— É claro. — Era o Tarquin do primeiro encontro, os olhos cinzentos brilhando no rosto bonito. Lembrou-se de todos os momentos que tinham passado juntos, até o dia em que o raio a afastou da memó ria dele. — Você me reconheceu!

— Assim que a vi, uma ninfa entre todos esses marinheiros.

— Você nã o me reconheceu depois do acidente no teatro, Tarquin.

— Que coisa estranha. . . Mas agora tudo me voltou à memó ria de repente. Luana. . . ninfa querida!

— Estou tã o contente de ver que você está bem! Deve ter sido horrí vel. . . Tarquin, vou lhe dar um cobertor. . .

— Nã o. Ele a segurou. — Estou agasalhado e nã o me molhei. Fique mais um pouco. Diga-me o que você está fazendo aqui, na casa de Eduard Talgarth.

— Ele devia estar junto com a tripulaç ã o. Você nã o o viu?

— Sim. Um homem alto e moreno, fazendo o trabalho de trê s pessoas para nos tirar daquele navio infernal, que afundou assim que o capitã o saiu. Acho que ele está agora com o capitã o Lake. Havia homens da guarda costeira na praia e parece que ele é o mandachuva de St. Avrell.

— Ele é apenas Talgarth — ela sorriu —, e as outras pessoas tê m que se curvar diante de sua forç a e de tudo o que ele sabe sobre o mar. Ainda bem que nã o aconteceu nada com ele.

— Você nã o me contou o que está fazendo aqui na Cornualha.

— Estou fazendo companhia para Patrí cia durante as fé rias. . . Ela está ali adiante, dando sopa para aquele marinheiro. Tarquin — ela procurou os olhos dele —, ouvi dizer que você tinha ido para a Amé rica. O dr. Strathern contou para Eduard. . .

— Eduard? — ele comentou, com uma careta. — Você estava pá lida e muito tensa até que eu lhe disse que ele estava bem. Você nã o gostava dele. Por acaso Talgarth nã o era o namorado da sua irmã de criaç ã o?

— Nã o. — Ela ficou espantada com o vigor de sua negativa. — Ela foi apenas uma distraç ã o... como eu també m fui.

— Você, Luana?

— Sim. — E ela até pô de sorrir quando acrescentou: — Para você.

— Nã o é verdade — ele protestou. — Tí nhamos tanta coisa em comum... Sempre que nos encontrá vamos era como se fosse uma festa. Sempre que nos beijá vamos era como se o sol estivesse despontando.

— Mas o amor é uma tempestade — ela se ouviu dizer —, e nã o apenas o sol que brilha durante parte do dia. Amar é saber que as rosas murcham assim como desabrocham, e eu acho que nã o querí amos mais do que aquelas horas agradá veis que passamos no rio. Nã o chegamos a olhar mais longe.

— Nem podí amos, naquela ocasiã o.

Ela o olhou com mais atenç ã o, notando certa tristeza em seu rosto.

Descobriu, entã o, por que ele tinha voltado da Amé rica.

— Minha mulher morreu tranqü ilamente e foi um alí vio para nó s dois. Ela nã o ia sarar nunca.

— Lamento tanto, Tarquin.

— Mas, Luana, agora podemos ir para Roma. Já lhe pedi isto antes e você disse que queria ficar comigo.

— Por quanto tempo?

Ela sorriu com seguranç a, pois conseguia enxergar alé m da atraç ã o que ele lhe despertou em Avendon, alé m da jovem solitá ria que era naquela é poca. Tarquin era tã o bonito... mas sabia agora que nã o estava completamente acordada quando ele a beijara.

— Você deve estar com fome — disse ela. — Vou dizer para Jancey que você quer sopa, ou sanduí ches.

— Luana. . .

Mas ela tinha ido embora. Quando encontrou Jancey, disse-lhe apenas:

— Aquele homem bonito perto da porta quer comer alguma coisa. . . Vou levar a garrafa de café para a praia. O sr. Talgarth está lá e deve estar com fome e com frio.

— Estava preocupada com ele e já ia pedir para que algué m fosse lhe levar comida e també m alguma coisa para beber. Tem galinha fria na despensa, srta. Luana.

— Farei ó timos sanduí ches de frango com tomate. — Elas sorriram como conspiradoras. — Vou colocar a minha capa.

— Sim, agasalhe-se bem. A manhã está escura e deve haver neblina na praia.

 

A tempestade da noite anterior tinha terminado, mas havia neblina, o que tornava o piar das aves marinhas muito triste. A capa de Luana era uma mancha colorida no atalho que levava à praia e as á rvores pareciam fantasmas.

Havia um carvalho numa curva do atalho, de onde se avistava o mar nos dias claros. Luana estava passando por esta á rvore quando alguma coisa se mexeu, assustando-a. Uma figura alta surgiu de trá s do velho tronco, o sué ter velho afastando a ilusã o de que era um espí rito da madrugada. Era Eduard.

Ficaram olhando um para o outro, rodeados por filetes de neblina. O cabelo dele estava despenteado, seu rosto molhado e os olhos intensamente azuis, como pedacinhos de cé u surgindo nas brumas do amanhecer.

Como ele nã o dissesse nada, Luana lhe estendeu a cesta com os sanduí ches de galinha e o frasco com café quente.

— Trouxe alguma coisa para reconfortá -lo.

— Você. . . — disse ele, com aquela voz que se tornava perigosamente suave quando estavam a só s. — Pensei que estivesse conversando intimamente sobre os velhos tempos com um certo amigo seu. Uma surpresa para nó s dois o fato de ele estar a bordo do Florina.

— O navio afundou, Eduard?

— Sim. Era um belo navio, mas os rochedos de St. Avrell sã o muito perigosos. Ele foi afundando devagar.

— Foi um milagre os passageiros e a tripulaç ã o terem sido salvos.

— Um milagre para você, Luana?

— Para mim?

— TarquinPowers estava no navio.

— Eu sei. — Ela se aproximou dele. — Você nã o quer café? Está forte e amargo, como você gosta.

— Você está sendo muito amá vel comigo — disse ele, um tanto surpreso. — Está grata porque ajudei a salvar o seu namorado?

— Nã o.

— Você sempre diz " nã o". O que foi que disse para ele?

— Que estava contente por ele estar bem. . . Eduard! — ela exclamou, derrubando a cesta quando as mã os fortes dele a seguraram, prendendo-a de encontro ao tronco de carvalho. Uma prisioneira vestida com uma capa vermelha, os cabelos caindo como folhas de outono em redor das tê mporas e do pescoç o esguio. — Eduard. . .

— Entã o você ficou contente porque ele estava bem. . . Posso perguntar quando você s dois partem para Roma? Acredito que ele já tenha recuperado a memó ria, e que você s vã o recomeç ar de onde pararam.

— Se você nã o parar de brigar comigo. . . — De repente toda a tensã o daquela noite veio à tona e os olhos de Luana encheram-se de lá grimas. — Passei a noite toda tã o preocupada. . . mesmo quando tinha muita coisa que fazer. . . e agora você está me magoando.

— Preocupada... por minha causa?

— É tã o difí cil assim de acreditar?

— Você se preocuparia com uma mosca. — Ele entã o ficou em silê ncio, examinando o rosto dela, observando cada contorno, cada traç o, especialmente as lá grimas que caí am, até que uma delas desapareceu dentro da covinha. — Menina estranha, rindo e chorando, e aqui embaixo comigo em vez de ficar com Powers.

— Sim, nã o é uma loucura? Porque me preocupo em trazer café para você, quando Tarquin é tã o bonito, galante. . . e viú vo?

— É verdade isso? — Os olhos de Eduard estreitaram-se perigosamente. — Entã o este café que você está me trazendo, esta atenç ã o é apenas uma boa aç ã o, porque ajudei a salvá -lo?

— Bruto!

— Você acha que ele se incomodaria se eu roubasse um beijo de sua noiva? Todos os heró is ganham beijos.

— Demô nio!

Ele riu. . . riu e a segurou, embaixo do carvalho enorme, beijando-a com violê ncia. Luana só sentia o contato dos lá bios de Eduard, quentes, vivos e com gosto de mar. Esqueceu-se de tudo, até mesmo da moç a com quem ele sonhava, sobre a qual tinham conversado na noite anterior, no estú dio.

— Luana — era como se a espuma estivesse murmurando seu nome —, é melhor você nã o falar a Powers a respeito deste beijo.

— Nunca — ela murmurou. — Ele vai embora logo, acredito. Parece que tem que ir para Roma o mais depressa possí vel.

— Você vai se encontrar com ele depois?

— Nã o. Vou ficar na Cornualha, fazendo companhia para Patrí cia e posando para a Ondina. — Ela se afastou um pouco, para fitar os olhos de Eduard. — Quem é ela, a moç a que você nã o pode ter, que pode fazer com que você vá embora no Pandora com a metade de um sonho como carga? Preciso saber.

— Talvez você tenha o direito de saber. — Ele afastou uma mecha do cabelo castanho-avermelhado. — Ela é bem mais jovem do que o pescador calejado que a ama. Tem um coraç ã o que resplandece em seu olhar e beijar sua boca é como beijar uma rosa. É terna, mas també m generosa. Quando a vi pela segunda vez, quase a trouxe para o meu castelo solitá rio. Nã o sei por que nã o fiz isso, mas naquela ocasiã o ela nã o podia ver a lua porque tinha estrelas nos olhos, e eu queria que ela me amasse. — Ele parou, continuando depois suavemente: — Se ela nã o pudesse me amar de livre e espontâ nea vontade, havia o Pandora, sempre pronto à minha espera. Se você nã o puder me amar, Luana, vou embora com a metade de um sonho.

— Eu?

— Sim, desde o momento em que você se afastou correndo no saguã o do MaskTheatre, ansiosa para estar na platé ia antes da entrada em cena de seu ator.

— Mas você foi à Avendon para ver minha irmã. . .

— Fui conhecer uma moç a chamada Luana. St. Cyr falou de você e eu fiquei intrigado por causa do nome, querendo saber se pertencia a uma moç a diferente e encantadora. Luana — ele sorriu —, tendo sangue celta, você deve ter boa intuiç ã o. E mesmo assim nã o percebeu nada?

— Você nunca foi gentil comigo como era com Patrí cia.

— Patrí cia é uma crianç a e um homem nã o é gentil com a mulher que ama... ele a deseja tanto que à s vezes nã o pode deixar de ser um pouco cruel. Se você soubesse, Luana. . . Se você gostasse um pouquinho de mim.

— Mas eu gosto!

O mundo ficou azul de repente, sem nuvens, nem neblina, nem ondas enormes batendo na praia. Um raio de sol surgiu no oriente e os passarinhos começ aram a voar alegremente.

— Hoje, quando vi Tarquin, fiquei satisfeita porque ele estava bem. . . mas senti que revivia quando soube que você nã o estava ferido. Eduard, nã o é possí vel amar de verdade quando nã o se amou romanticamente. Tarquin foi o romance que tive. . . você é o meu amor.

Os olhos dele brilharam quando ela lhe revelou o que tanto queria ouvir. Eduard a abraç ou com ternura, e juntos observaram o nascer-do-sol. O dia seria ensolarado e para eles nã o haveria solidã o.

— Eduard — Luana murmurou —, seu café vai esfriar.

 

 

                     FIM

 

 

 



  

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