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CAPÍTULO VIl



 

Tomaram um chá delicioso numa confeitaria que ele conhecia e, enquanto respiravam a brisa que atravessava as acá cias, Eduardo propô s levá -las para casa.

— Você s nã o gostariam de atravessar as charnecas numa charrete, no estilo antigo? — Ele olhou para Luana. — Gosto das coisas antigas, com sua aura româ ntica.

— Já vi você dirigindo um carro esporte muito moderno — ela retrucou, embora estivesse com vontade de ir de charrete.

— Você já andou no meu carro, nã o é mesmo?

Imediatamente surgiu entre eles a lembranç a da noite em que ela tinha passeado à s margens do rio, admirando o teatro todo iluminado. Naquela noite havia estrelas em seus olhos, e aquele homem tinha visto. . . e tinha visto mais ainda, pois parecia ser adivinho. Desde aquela ocasiã o ele sabia que Luana ia conhecer a Cornualha e as charnecas, onde as urzes eram tã o altas que encobriam uma moç a.

— Temos que viver no mundo de hoje — ele continuou —, mas isto nã o nos impede de gostar de ir até as í ndias de barco, ou de atravessar as charnecas de charrete.

— Parece irresistí vel. — Patrí cia distendeu o corpo para afastar a sonolê ncia que a dominava. — Adorarí amos ir com você!

— Luana? — Ele levantou uma sobrancelha. — Você sabe que també m vai gostar, por que nã o admite logo?

Ele a desafiou com o olhar, mas daquela vez Luana nã o pô de resistir.

— Temos que passar no Camelot para pegar a mala de Patrí cia.

Ele concordou, pagou a conta e acompanhou-as até a hospedaria.

Quinze minutos depois, estavam voltando para casa ao som dos sininhos colocados ao arreio do cavalo.

Luana sentia a magia que impregnava o ar da Cornualha enquanto passavam por muros de pedra e á rvores vergadas pelo vento. O longo chicote de Eduard cantava no ar, mas nã o tocava o cavalo. Ele mostrou as ruí nas de uma abadia numa colina, com uma velha á rvore retorcida contra o cé u vermelho.

— Parece assombrada, nã o? — Eduard falava com seriedade. — Dizem que há um fantasma no meu castelo, um ancestral francê s que fica numa torre olhando para o mar, esperando um navio que nã o chega nunca. Diz a lenda que ele estava esperando sua noiva, que vinha da Franç a, mas ela foi pega durante a revoluç ã o e nunca mais foi vista.

— O que aconteceu com ele? — perguntou Patrí cia. — Ficou desesperado?

— Casou-se com uma moç a da Cornualha. — Eduard sorriu. — Tiveram uma filha que mais tarde se casou com um Talgarth. Foi assim que o castelo veio parar em nossas mã os.

— É um lugar fabuloso! — Os olhos de Patrí cia estavam brilhando. — Luana, parece um cená rio de uma lenda de cavaleiros e donzelas infelizes.

— Você e seus cavaleiros! — Luana sorriu.

— Todas as jovens sonham com Tristã o. . . ou com Hamlet. — Ele olhou para Luana, de propó sito. — Mais tarde superam o sonho. . . geralmente.

Ela percebeu imediatamente o que ele queria dizer, que seu amor por Tarquin baseava-se num sonho e como tal devia permanecer. " Você está enganado, ele me amava! " Ela queria jogar estas palavras no rosto moreno do cornualê s. " Era amor, como você nunca vai sentir. Você, com sua arrogâ ncia de comerciante, que acha que nã o há nada que nã o possa comprar, desde que ofereç a o preç o certo! "

Ele a olhou como se estivesse lendo seus pensamentos. Depois, com

uma risada, parou a charrete numa curva da estrada.

— Olhem — murmurou, mostrando um passarinho que atravessava a charneca em direç ã o a um monó lito de pedra, escuro e sinistro. Em seu redor, as samambaias pareciam fumaç a dourada na penumbra que se espalhava pela charneca.

— Chamam-no de " Harpa do Diabo" — disse Eduard. — Vamos ouvir a mú sica que o vento faz?

Desceram da charrete e caminharam pelo mato alto até o monó lito, e era verdade! O vento em redor da pedra, que tinha a forma de uma harpa, parecia produzir uma mú sica sobrenatural, como se uma mã o invisí vel estivesse tocando na rocha escura.

— Oh, nã o gostaria de vir aqui sozinha. — Patrí cia agarrou no braç o de Eduard. — Adoro as charnecas à luz do dia, mas quando começ a a escurecer parece que elas mudam, ficam ameaç adoras.

— A caí da da noite revela o que há de primitivo em todas as coisas — ele comentou. — O rosto da amada fica diferente; os olhos femininos enchem-se de misté rio.

Ao ouvir a voz dele, que tinha a harmonia da mú sica celta, Luana percebeu o quanto estava perturbada pela charneca e por aquele homem.

Um passarinho piou no meio do mato, o cé u estava dourado.  

O vento trazia perfumes... Ela percebeu que Eduard a fitava e que a luz do crepú sculo estava refletida em seus olhos.

— É dramá tico, nã o é mesmo? Como o cená rio de uma peç a. . .

— Você precisa falar disso? — ela murmurou.

Ele levantou as sobrancelhas e olhou para Patrí cia, que tinha ido brincar com o cavalo e nã o os ouviria se falassem baixo.

— Diga-me uma coisa. . . TarquinPowers lhe contou que já era casado antes ou depois de fazer com que você se apaixonasse por ele?

— Como. . . como você sabe que ele já era casado?

— Resolvi investigar.

— Nã o é da sua conta!

— Você diz isso com muito vigor.

  — Você foi a Avendon como amigo de Charme.

— E nã o foi por Charme que TarquinPowers se interessou, nã o é? Se tivesse sido por ela, entã o meu interesse seria vá lido?

— Acho que sim. Foi por causa dela que você foi a Avendon, e poucos homens olham para mim quando Charme está por perto.

— TarquinPowers olhou.

— Aquilo foi diferente. Ficamos nos conhecendo no teatro e, embora eu saiba agora que alguma coisa em mim deve ter-lhe lembrado a esposa, houve uma certa magia no nosso encontro.

Os olhos dela prenderam os de Eduard; na luz do crepú sculo seu rosto parecia de pedra, como os menires que se erguiam nas charnecas.  

Ele jamais entenderia que o coraç ã o podia ser afetado por uma determinada expressã o do olhar, que revelava tanta solidã o. Eduard Talgarth era auto-suficiente demais para vir a precisar de algué m como Tarquin precisou dela. . . embora por pouco tempo.

— Foi um encontro muito româ ntico — disse ela suavemente.

— Você está querendo dizer que nã o há romance em mim, apenas uma alma voltada para o comé rcio?

— Por acaso estou enganada?

— Nã o inteiramente. Nunca acreditei num ú nico amor. Nã o há muito tempo para sonhar na vida de um homem que viaja de porto em porto, e chega a formar sua pró pria companhia de navios. A vida é muito difí cil, muito cheia de transaç õ es comerciais, como você concluiu. Mas há uma coisa que nunca faria embora eu seja um diamante bruto... nunca faria uma mulher me amar, sabendo que nã o poderia lhe dar o meu nome. . . Ah, foi por isso que você fugiu, Luana, porque ele pediu que você se tornasse sua amante?

— Eu. . . o amava. Nã o ficaria envergonhada se. . .

— Foi por isso que você fugiu? — Eduard insistiu.

— Nã o. Ele se esqueceu de mim depois da operaç ã o. Nã o me reconheceu. Nã o se lembrou do tempo que passamos juntos. Tudo isto é muito doloroso... e, de qualquer maneira, por que lhe interessaria?

— Porque você é jovem e nã o tem ainda aquela camada de autodefesa que protege algumas pessoas por toda a vida. Você é como Patrí cia.

— Bem — ela teve que sorrir —, é bom saber que Patrí cia e eu temos a sua proteç ã o. . . uma espé cie de tio.

Ele prendeu a respiraç ã o e Luana percebeu imediatamente que corria perigo, porque aquele homem se parecia tanto com um tio quanto um tigre se parece com um gatinho. Com uma risada, ela correu até a charrete. Patrí cia estava dormindo no banco e se recostou em Luana enquanto atravessavam a charneca no escuro.

Eduard parou a charrete no alto dos penhascos, perto do atalho que descia até a casa, e carregou Patrí cia, enquanto Luana caminhava na frente, com a mala. Ela abriu a porta, acendeu a luz e, quando se voltou, Eduard estava parado na soleira, muito alto, com uma mecha de cabelo escuro caí da na testa, o cabelo dourado de Patrí cia espalhado em seu ombro. Parecia um corsá rio carregando sua presa. O sorriso que deu aborreceu Luana, pois era como se ele tivesse lido o que se passava por trá s dos olhos cor de violeta.

Patrí cia estremeceu quando ele a deitou no sofá.

— Você está em casa, minha flor.

— Oh, já acabou o dia maravilhoso?

— Teremos outros, menina, prometo.

— Podemos ir ao castelo?

— Medevil virá buscá -las. Você se lembra dele? Era marinheiro e veio trabalhar comigo quando vim para o castelo.

— Ele me contou que você lhe salvou a vida, que ele perdeu parte da perna esquerda por causa de um tubarã o, e que ia perder a outra perna se você nã o tivesse mergulhado com uma faca entre os dentes.

— Medevil teria dado um jeito! — Eduard deu uma risada. — Ele veio de uma aldeia onde dizem que as pessoas tê m sete vidas. Estava procurando pé rolas quando o tubarã o o atacou.

— O guardiã o das pé rolas. . . — Patrí cia sorriu.

— Sim, podia ser. — Eduard endireitou o corpo, quase encostando a cabeç a no teto baixo. — Boa noite, Patrí cia... Luana. Medevil virá buscá -las quando eu voltar de Londres. Tenho que ir falar com o capitã o de um dos meus cargueiros.

— Você vai estar com Pops em Londres?

— Acho que sim. Eu lhe devo um almoç o.

— Entã o diga para ele que eu gostei muito de Luana e que pode ficar sossegado, que tudo está correndo bem.

— Você s duas vã o ficar bem até eu voltar? — Ele olhou para Luana.

— Eduard Talgarth, nã o preciso de um tigre guardando nossa porta. Vamos ficar muito bem. Diga isto para Hugh.

— Hugh?

— Dr. Strathern — corrigiu logo, depois mal conteve um grito quando ele segurou seu pulso, fazendo com que ela o acompanhasse até a porta.

Luana só pensava numa coisa: ele ia beijá -la! Se ele a beijasse. . . bem, o que faria? Chamaria Jim Lovibond, o ú nico homem das redondezas que se equiparava fisicamente a Eduard Talgarth, que havia passado muitos anos no mar e que era dono de seu destino?

— Você está tremendo — ele observou. —- Que diabo está pensando? Que quero beijá -la no escuro?

— Você é um bruto! — Luana ofegou. — Você faz todo o possí vel para me embaraç ar.

— Nã o devia mostrar tã o claramente, jovem, que nã o gosta de mim. Eu me sinto desafiado e fico louco para que você mude a opiniã o que tem a meu respeito — Pegou no queixo dela, fazendo-a levantar o rosto. — O que há em mim que a aborrece tanto? Meu rosto? Ou é porque nã o uso palavras ternas? Ou porque a avisei que TarquinPowers podia magoar uma moç a ingê nua como você?

— Você deve estar muito satisfeito por ter acertado — ela respondeu.

— Isto quer dizer que você nã o gosta de mim pelas trê s razõ es? Bem, entã o nã o há remé dio. Nunca tive mel em minha boca, nem um rosto bonito, e você nã o pode evitar que um gatinho se aproxime do fogo depois de um longo inverno. Você acha que nã o percebi, no momento em que entrei na casa dos St. Cyr, que você era tratada como se estivesse lá por caridade? Cheguei um pouco tarde. . .

— O que você quer dizer com isso? — As palavras saí ram antes que ela pudesse impedir.

— Você poderia gostar um pouco mais de mim, Luana Perry, se eu fosse o primeiro homem a tratá -la com mais consideraç ã o.

— Que importa se eu gosto de você ou nã o?

— Vamos nos encontrar muitas vezes nas pró ximas semanas, por isso eu a trouxe aqui. Falamos com mais facilidade no escuro e eu quero lhe dizer uma coisa: preciso de amigos tanto quanto você, pois passei muito tempo longe de St. Avrell e me tornei um estranho para as pessoas que conheci. Vamos, Luana! Nã o é sempre que peç o para algué m gostar um pouco de mim.

Ela o olhou, distinguindo apenas o rosto dele na escuridã o da noite.

Podia-se ouvir o murmú rio do mar que se misturou com o suspiro que ela deu.

— As pessoas sã o tã o complicadas.

— Você está querendo dizer que é difí cil gostar de mim?

— Vai. . . levar algum tempo.

— Hugh Strathern també m precisou de algum tempo?

— Hugh estava a meu lado quando precisei de um amigo e ele foi muito bom. — Ela sorriu, sem querer levar a sé rio aquela má goa de Eduard Talgarth. E observou, mais de perto a fenda profunda no queixo, as sobrancelhas grossas sobre os olhos azuis da cor do mar. Estes eram os traç os do homem que dirigia seu pró prio destino com tanta firmeza quanto um navio.

Ele era o ú ltimo dos Talgarth. Havia passado- quinze anos de sua vida ganhando dinheiro para comprar de volta o castelo da famí lia, e agora queria se casar. Era preciso que houvesse novamente descendentes dos Talgarth no castelo; a linhagem nã o devia se interromper como tinha acontecido no tempo do pai dele.

 Luana examinou-o e se sentiu apreensiva por ele estar procurando uma moç a corno ela.  

Uma moç a solitá ria que tinha encontrado o amor e o perdera. Que nã o tinha famí lia a nã o ser os St. Cyr.

Ela estava tensa... e um tremor percorreu sua espinha quando Eduard tocou seu cabelo.

— Vou me despedir e deixá -la em paz — disse ele. — É o que você está querendo, nã o é mesmo?

— Estou cansada — respondeu, abalada. — O dia hoje foi muito longo.

— Deve ser um alí vio, Luana, saber que vou passar uma semana em Londres. — Ele deu uma risada, soltando-a. — Vou dar as lembranç as que você mandou para Strathern e talvez lhe traga um presente do meu navio, que acabou de chegar do Oriente com peç as de seda pura.

— Nã o sei como poderia usá -la aqui na Cornualha.

— Nem mesmo para cobrir as almofadas? — ele perguntou devagar. — Até logo, srta. Perry.

Ele se afastou noite adentro e ela nã o se mexeu enquanto nã o ouviu os sininhos da charrete e o barulho dos cascos do cavalo diminuindo na estrada que levava a St. Avrell. O mar murmurava na praia e a atmosfera voltou a ficar serena.

— Estou fazendo chocolate, Luana. — A voz de Patrí cia chegou até ela. — Venha tomar logo, antes que esfrie.

Luana sorriu, pois o chocolate quente e a tagarelice da menina eram deliciosamente normais depois de sua conversa com Eduard Talgarth. As coisas que haviam dito um para o outro tinham um sentido mais profundo, que lhe causava a sensaç ã o de estar diante de um perigo que precisava combater. Ele pediu a amizade dela, ofereceu-lhe sedas, mas mesmo assim nã o se sentia à vontade ao lado dele. Quando o olhava, tinha vontade de fugir... e seu toque era insuportá vel, porque nã o era o de Tarquin.

Fechou a porta do chalé e foi se encontrar com Patrí cia na sala de estar.

— De que você estava falando esse tempo todo? — ela perguntou. — Por que você nã o me disse que já conhecia Eduard Talgarth? Por que tanto segredo?

— Nã o achei que fosse importante. — Luana tomou um gole do chocolate. — Vamos nadar amanhã e fazer piquenique na praia?

— Vamos, que maravilha! — Patrí cia olhou Luana por cima da xí cara. — Você acha que Eduard esperaria trê s anos até eu ficar mais velha? Ele vive muito sozinho e eu gostaria tanto de morar no castelo. . . Seria muito româ ntico ser a noiva do ú ltimo dos Talgarth.

— Seu pai nã o aprovaria o casamento com um  homem com o dobro da sua idade — disse Luana friamente.

— Mas a idade nã o é importante quando duas pessoas se amam. Os homens mais velhos sã o mais gentis, mais experientes, e podem ensinar a uma moç a tudo sobre a vida. Aposto como vou conseguir que Eduard espere por mim.

— Você nã o vai fazer nada disso! — Luana estava chocada. — Nã o vou deixar que você namore Eduard Talgarth. Seu pai nunca me perdoaria.

— Você se sente atraí da por Pops?

— Gosto muito dele.

— Gostar de algué m nã o é a mesma coisa que sentir atraç ã o.

— Vamos parar com esta bobagem — Luana falou com firmeza. — Seu quarto já está arrumado e está na hora de ir para a cama.

— Sua chata — disse Patrí cia, mas logo se arrependeu. — Você sofre quando fala de coisas româ nticas porque nã o pode se esquecer do homem por quem esteve apaixonada?

— Nã o quero falar desse assunto, Patrí cia! Já acabou. . . tenho que me esquecer dele.

— Ele era maravilhoso?

— Era. — Luana levantou Patrí cia. — E agora, já para a cama, mocinha. Vou subir assim que acabar de lavar as xí caras.

— Luana. . .

— O que é agora, srta. Curiosa?

— Estou muito contente porque Pops pediu que você passasse as fé rias comigo. É horrí vel ser tratada como crianç a, mas você e Eduard tratam-me como se eu já fosse adulta. Você nã o o acha interessante? Já esteve em tantos lugares distantes. . . e há alguma coisa nele que o torna excitante. O que você acha que é?

— Um ar de pirata — disse Luana francamente. — Ele é um homem que nã o faz muita questã o das regras e das convenç õ es que os outros seguem.

— Como você o conheceu?

— Ele foi a Avendon para conquistar a minha irmã de criaç ã o. Charme é muito bonita, mas é suficientemente sensata para nã o se deixar levar por um cornualê s que gosta de fazer o que quer. Ela preferiu ficar noiva de outro rapaz, mas garanto como o coraç ã o de Eduard nã o ficou partido por causa disso, nem mesmo um pouquinho machucado.

— Você é muito dura com ele — Patrí cia protestou.

— Oh, garanto como ele nem se incomoda. — Luana sorriu. — Talvez seja salutar para ele encontrar uma mulher que nã o se curve diante de seu charme de pirata.

— Entã o você está admitindo que ele tem charme!

— Que homem nã o tem, quando se dispõ e a isso? E agora, para a cama, mocinha. Seus olhos já estã o fechando de sono.

Num movimento sú bito, Patrí cia envolveu Luana com os braç os.

— Gosto muito de você. É tã o diferente das minhas professoras e da minha prima! Parece uma daquelas donzelas infelizes que sã o salvas por um cavaleiro.

— De que preciso ser salva?

— De ter-se apaixonado pelo homem errado.

Luana prendeu a respiraç ã o, com o coraç ã o doendo. Como aquela menina podia saber que, enquanto durou, o amor entre ela e Tarquin tinha sido lí rico como uma canç ã o, com todas as nuanç as e todas as tonalidades corretas? Mas aquele amor nasceu condenado e o pró prio cé u os separou.

Eles tinham se amado na é poca errada. Tinham se encontrado tarde demais e aquela canç ã o nã o podia durar.

 

Todos os dias da semana seguinte iniciavam-se com o canto dos passarinhos, o cheiro do mar no ar e o brilho convidativo da á gua embaixo dos penhascos. Luana e Patrí cia pulavam da cama com o primeiro raio de sol e estavam dentro da á gua antes mesmo que a sra. Lovibond preparasse o café da manhã.

Um tempo maravilhoso, sem uma nuvem escura no cé u até a manhã de sá bado, quando o mar amanheceu agitado e as ondas altas, enchendo a caverna com seu clamor.

— Oh! — Patrí cia corria das ondas. — Hoje o mar está bravo!

— Vamos a Mawgan-in-Vale? Passamos quase uma semana inteira na praia e eu gostaria de conhecer a aldeiazinha.

— Vamos, entã o! — Patrí cia saiu pulando pela praia. — Parece que vai chover, mas podemos levar nossas capas.

  Subiram correndo o atalho no penhasco para se preparar. Luana fez sanduí ches de tomate e presunto, encheu uma garrafa té rmica com café, acrescentou alguns pasteizinhos na cesta e depois partiram para Mawgan-in-Vale. A vegetaç ã o da charneca tremulava com o vento e elas levaram duas horas para chegar à aldeia que havia sido esconderijo dos contrabandistas. Agora parecia muito tranqü ila com suas casinhas construí das uma abaixo da outra, como uma cidadezinha de brinquedo.

Luana ficou encantada com o lugar. Parecia que o tempo tinha parado e que tudo continuava igual a antigamente.

O passeio foi muito agradá vel.

Almoç aram na margem de um rio, exploraram a aldeia, depois compraram cartõ es-postais numa pequena agê ncia do correio.

— Vou mandar alguns cartõ es para a Bretanha — disse Patrí cia. — E um para Pops. Para quem você vai mandar os seus?

Luana olhou para os cartõ es coloridos e pensou em Ann. . . mas ela podia nã o estar mais em Avendon. Se 

Tarquin já tivesse deixado o hospital, Ann e Buck teriam ido embora com ele. Os dois iam trabalhar numa peç a em Londres. Tarquin tinha uma vila nos arredores de Roma. . .

— Comprei os cartõ es como lembranç a. — Ela forç ou um sorriso. — Mawgan-in-Vale é tã o bonita. Quero me lembrar do. dia que passamos aqui.

Por volta das quatro horas as nuvens começ aram a baixar e as flores que cobriam os muros tornaram-se mais escuras. Já estava começ ando a garoar quando chegaram à charneca. Um aldeã o que passou por elas recomendou:

— Voltem para casa depressa. Já vai começ ar a chover e você s duas vã o ficar molhadas até os ossos.

Suas palavras foram profé ticas, mas elas tiveram sorte de entrar num moinho deserto assim que as primeiras gotas de chuva começ aram a cair.

Logo depois, parecia que o mundo vinha abaixo. A chuva caí a com toda a forç a e o vento uivava assustadoramente.

— Terí amos ficado ensopadas. . . podí amos até nos afogar! — murmurou Patrí cia, tirando o cabelo molhado que insistia em grudar no pescoç o. — É como ficar debaixo de uma cachoeira. . . Ouç a o barulho da chuva no telhado do moinho!

Luana olhou em volta e viu os degraus que levavam a outra sala, onde muito tempo atrá s a farinha era moí da entre as mã os. Alguma coisa se mexeu num canto e Luana tentou nã o pensar em morcegos ou em aranhas. Era melhor ficar lá do que ter que enfrentar o dilú vio.. . A  charneca e o cé u pareciam unidos pela chuva. Trovejava e os riachos que havia nas proximidades transbordavam.

Era apavorante, como se a chuva nã o fosse parar nunca mais, fazendo com que Luana se lembrasse daquela outra tempestade que tinha atingido Avendon. Patrí cia e ela estavam sozinhas naquele moinho em ruí nas. E se caí sse um raio? Estremeceu e Patrí cia voltou-se para fitá -la.

— Está tudo bem! — Luana a acalmou. — A chuva já está melhorando.

Pouco depois, a chuva parou. Apenas os riachos gorgolejavam e, da vegetaç ã o molhada, saí a um aroma muito agradá vel.

Luana respirou fundo o ar maravilhoso e sorriu para Patrí cia.

— Vamos embora logo — disse ela.

As duas enfrentaram corajosamente as urzes ensopadas, atravessando a charneca em direç ã o a Pencarne. A chuva tinha lavado o cé u, deixando-o prateado e translú cido, e as gotas d'á gua brilhavam como pedras preciosas. O espetá culo era lindo, mas quando chegaram perto dos penhascos, onde ficava o chalé, as duas estavam molhadas até os joelhos.

Pensando no aquecedor, em roupas secas e numa boa xí cara de chá, correram para casa, mas pararam assustadas no atalho que descia até o chalé. Havia uma fenda profunda e uma corrente de lama que escoava, com pedaç os de pedra e de terra. As duas prenderam a respiraç ã o ao mesmo tempo, quando viram as ruí nas do chalé, semi-soterrado por uma parte do penhasco que havia desmoronado.

— Deus do cé u! — exclamou Patrí cia.

Luana sentiu o sangue fugir do rosto. Se ela e Patrí cia tivessem chegado antes do dilú vio, estariam dentro da casa quando a chuva pesada fez cair no telhado o que antes parecia ser um pedaç o só lido de rocha.

— Que horror! — Patrí cia ia começ ar a descer pelo atalho cheio de lama quando Luana a segurou pelo braç o.

— Nã o adianta descer! Olhe, vem vindo algué m!

— É Medevil! — Patrí cia exclamou, acenando para o empregado de Eduard Talgarth, que vinha mancando pelo atalho escorregadio e cheio de pedras.

Ele sorriu quando chegou perto delas.

— Meu patrã o mandou que eu viesse buscar as duas para tomar chá. . . mas acho que vã o ter que passar a noite no castelo, ou até ficar mais tempo. A casinha desmoronou, senhorita. — Ele olhou diretamente para Luana. — Está um horror. É preciso tirar a terra que caiu em cima dela.

— E as pessoas que moram mais embaixo do penhasco? — ela perguntou, ansiosa. — Estã o bem?

— Claro. — Seus dentes brancos brilharam no rosto moreno. — A pedra só pegou este chalé, senhorita. Fui ver se nã o estavam dentro dele e agora vou levá -las para o meu patrã o.

— Mas as nossas coisas estã o no chalé! — disse ela. — Nossas roupas e nossos objetos pessoais. Precisamos ir buscar.

— Depois o sr. Jim levará o que puder, mas agora as duas estã o tremendo e o patrã o vai ficar bravo comigo se nã o levá -las imediatamente para o castelo. Vamos! A charrete está esperando.

— Sim, vamos para o castelo. — Patrí cia pegou no braç o de Luana, afastando-a da cena do desmoronamento. — O sr. Talgarth vai cuidar de tudo quando souber do que aconteceu com o chalé.

Luana nã o duvidava e, como nã o havia mais nada que pudesse fazer, acompanhou Patrí cia e Medevil até a charrete. Ele tinha deixado o veí culo e o cavalo num lugar abrigado e sua mã o morena acariciou o animal enquanto as duas se acomodavam. Luana nã o pô de deixar de observar o homem que tinha viajado sob o comando de Talgarth até ser ferido pelo tubarã o. Entã o, ele subiu agilmente na charrete, pegou as ré deas e partiram em direç ã o a St. Avrell.

— Que excitante! — Patrí cia já tinha se recuperado do choque e seus olhos verdes brilhavam. — Vamos ficar hospedadas no castelo. Pense nisto, Luana!

Era o que Luana estava fazendo. A ú nica coisa que temia era a presenç a do dono do castelo, mas tinha que aceitar aquela situaç ã o até que o chalé fosse arrumado. Podiam se acomodar na aldeia, mas Patrí cia ficaria desapontada. O castelo era um lugar româ ntico e diferente, e Luana nã o queria aumentar a afliç ã o da menina pelo que tinha acontecido com a casinha.

O cé u agora estava esverdeado, a charneca parecia estranha e os menires que se levantavam aqui e ali tinham o aspecto de figura solitá rias, encantadas pela varinha do mago Merlin.

Luana sentiu uma mã ozinha fria esgueirar-se entre as suas.

— Você vai tomar um banho quente assim que chegarmos ao castelo — disse ela. — Nã o quero que apanhe uma gripe.

— Estou bem. . . — Mas Patrí cia começ ou a espirrar.

Medevil olhou para elas.

— As duas precisam tomar um grogue com rum, canela, limã o aç ú car queimado. — Ele apressou o cavalo, e os sininhos tilintaram depressa, enquanto o vento cantava por entre as urzes, trazendo o cheiro do mar. — Logo estaremos em casa, jovens. Logo chegaremos ao castelo.

 



  

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