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Tempestade de Amor. Violet Winspear. Digitalização e Revisão: Alice Maria. CAPÍTULO I



Tempestade de Amor

" THE CHATEAU OF ST. AVRELL"

Violet Winspear

                                     

 

 

  Azuis da cor do mar, tempestuo­sos como a costa bravia da Cornua­lha —  aquela terra à beira-mar, ao sul da Inglaterra, povoada de len­das e perigos  —, os olhos de Eduard fitavam Luana com uma forç a estranha. Ele era um lobo­ do mar, um homem solitá rio e forte, disposto a tirar o melhor da vi­da. Luana o temia e o amava. Mas nã o podia se entregar à quele fascí nio, porque em seu peito ardia ainda uma chama de amor por Tarquin, o grande ator de teatro, o poeta que povoou a solidã o de Luana de beijos e sonhos. Eduard. . . Tarquin. . . fantasia e realidade travando uma luta de morte em seu co­raç ã o, dilacerando sua alma. . .

                                     Digitalizaç ã o e Revisã o: Alice Maria

 

 

Copyright: VIOLET WINSPEAR

Tí tulo original: " THE CHATEAU OF ST. AVRELL"

Publicado originalmente em 1970 pela

Mills & BoonLtd., Londres, Inglaterra

 

Traduç ã o: EDITH MARTINS

 

Copyright para a lí ngua portuguesa: 1981

EDITORA EDIBOLSO LTDA. — Sã o Paulo

Uma empresa do GRUPO ABRIL

Composto e impresso nas oficinas da

ABRIL S. A. CULTURAL E INDUSTRIAL

Foto da capa: KEYSTONE

 

CAPÍ TULO I

 

Foi tudo culpa de Taffy — ele entrou no MaskTheatre por uma porta lateral, que estava entreaberta, e Luana teve que ir atrá s. Ela o chamou insistentemente, mas o poodle continuou correndo, com as orelhas levantadas e abanando o rabo curto. Taffy gostava de aventuras, por isso passou por alguns cená rios, depois disparou na direç ã o do vasto auditó rio, dando um latido quando uma voz recitou alguns versos no palco.

A voz maravilhosa parou de repente e Luana, passando por cima de algumas cordas, chegou ao palco e viu uma figura alta que olhava para o animalzinho que tinha ousado interromper um ensaio de Hamlet.

— Que incrí vel, é um poodle! — Uma mulher riu, mas os olhos de Luana estavam presos no ator, que usava um sué ter preto de gola alta. As calç as justas, també m pretas, faziam suas pernas parecerem ainda mais longas quando ele se encaminhou com passos á geis para um canto do palco, e fixou o olhar nã o no cachorrinho, mas em Luana.

Ele a examinou com curiosidade. Os olhos cinzentos, no rosto bem cinzelado, pareciam assustadores. Luana sentiu imediatamente a graç a, a forç a, o fascí nio de um ator nato, e um arrepio percorreu seu corpo. Sabia que ele era TarquinPowers; entretanto, parecia muito humano quando se ajoelhou perto do poodle.

— Este cachorro é seu?

— É de minha irmã de criaç ã o. — Intimidada por aqueles olhos cinzentos, Luana desceu do palco e pegou o cachorro. — Taffy gosta de ficar sem a correia quando nos aproximamos da margem do rio e é muito curioso quando encontra portas entreabertas.

— Nã o somos todos? — murmurou o ator com uma voz grave e excitante. — Acho que o porteiro estava ocupado com outra coisa, por isso nã o viu quando entraram. Você s dois estã o quebrando uma das regras estabelecidas pelos atores para os ensaios. . . ningué m no auditó rio.

— Desculpe-me, entã o, pela invasã o.

— Nã o se preocupe com isto. — Havia tanta magia no sorriso que ele deu, que Luana sentiu o coraç ã o parar de bater por um momento. Era inacreditá vel que estivesse conversando com o ator principal de Otelo, peç a que ela tinha assistido algumas noites atrá s. Seu padrasto sempre reservava um camarote para a temporada inteira, muito concorrida. Mas Luana gostava de teatro pela representaç ã o em si, e nã o como um lugar ao qual era elegante comparecer  quando uma companhia famosa se apresentava.

— Esteve formidá vel em Otelo, sr. Powers. — Ela deu um sorriso tí mido, enquanto Taffy se mexia em seus braç os. Os outros membros da companhia pareciam agitados.

— Temos que continuar, tovarish. — Uma mulher alta com cabelo curto e voz forte aproximou-se. — Diga para esta matushka ir logo embora.

Luana sentiu que todos olhavam para ela, com ar divertido, como se fosse uma crianç a. Era claro que nã o era, apesar do rosto ansioso e dos olhos que ainda conservavam uma inocê ncia rara.

— Nossa diretora fala e eu obedeç o — disse TarquinPowers, mas havia uma luz que danç ava em seus olhos.

Luana teve a sensaç ã o excitante de que compartilhava um segredo com ele. Aquele homem gostaria de passear nas margens do Avon com ela e o cachorro. Era incrí vel que pudesse pensar nisso, mas era o que sentia instintivamente. Nos olhos dele havia uma expressã o que quase a amedrontou. Ele era o ator mais importante da temporada teatral e tinha a fama de conquistar todas as mulheres, mesmo as mais renitentes.

Ele olhou para a mulher alta e, por um instante, o rosto enrugado dela pareceu mais feminino. Ela era Valentinova, uma diretora de teatro que havia fugido da Rú ssia alguns anos  atrá s. Tinha fama de ser excelente, mas també m de ser muito dura, fazendo à s vezes com que as atrizes

chorassem e os atores praguejassem. Mas ela parecia ter se rendido aos

encantos de TarquinPowers.

— Vou me despedir dessa moç a e do cachorro. Pode ser que nã o nos encontremos de novo, radouchka.

— Você nã o se corrige! — Valentinova olhou para os outros membros da companhia e uma moç a loira deu uma risada.

— Já estou indo embora. . . — Luana deu as costas para o palco e num instante o ator estava ao seu lado.

Notou como era alto quando ele colocou o braç o ao redor dela e de Taffy, levando-os pelo corredor do centro do auditó rio, depois pelo saguã o, até a porta principal do teatro que dava para o rio. O sol estava brilhando e havia no ar os aromas da primavera. Os cisnes deslizavam na á gua e o pré dio parecia muito grande ao lado dela e do homem que, no palco, era dono dos coraç õ es e das emoç õ es de quem amava o teatro.

— Parece uma cena do Lago dos Cisnes. — Ele sorriu. — Daqui a pouco, os cisnes vã o começ ar a danç ar para nó s.

Luana olhou para ele maravilhada, pois ningué m que conhecia falava assim: nenhum dos amigos de sua irmã de criaç ã o usava tã o bem as palavras, e os só cios de seu padrasto só sabiam falar de dinheiro.

— O rio e os cisnes sã o maravilhosos nesta é poca do ano — disse ela, sentindo-se muito prosaica e sem graç a em comparaç ã o com as pessoas que o esperavam no teatro, especialmente a bela atriz de longos cabelos loiros.

— Há muitas coisas maravilhosas! Uma á rvore, uma torre, um rosto que se vê na multidã o e que nunca se esquece. . . — Ele começ ou a examinar o rosto dela, até que deu uma risada. — Você só tem uma covinha! É para dar mais graç a?

Luana ficou muito atrapalhada. Nunca ningué m tinha se incomodado em falar daquele jeito com ela. E agora, quem o fazia era TarquinPowers!

— Você parece envergonhada — comentou ele, já sé rio.

— É porque o senhor é um ator muito famoso. — Ela largou Taffy, que correu até a beira da á gua, pondo-se a olhar para os cisnes. — Desculpe ter interrompido o ensaio de Hamlet.

— Você já viu essa peç a no palco? — Com uma graç a natural, ele se encostou na parede de pedra do teatro, um Hamlet vestido de preto, com um sorriso um pouco triste nos lá bios.

Luana fez que sim com a cabeç a, sabendo que iria adorar a interpretaç ã o dele, só por causa daquela conversa.

— Você mora aqui em Avendon-upon-Avon ou está só de visita?

— Moro aqui. É um lugar muito bonito.

— Sim. — Ele olhou pensativo para a paisagem. — Se pudé ssemos voltar para trá s no tempo e ver como era este lugar no sé culo XVI. . . Você gostaria?

— Mas isto acontece, sr. Powers, quando pessoas como o senhor sobem num palco e pronunciam as palavras de Shakespeare.

— É verdade. — Ele a examinou devagar, desde os cabelos castanho-avermelhados até os sapatos simples. — Você já quis ser atriz?

— Eu? — Ela riu. —- Tenho sardas e sou muito tí mida.

— Muitos atores sã o tí midos, senhorita.

— É verdade? — Ela arregalou os olhos. — O senhor me parece muito seguro.

— Ah, mas você ainda nã o me viu sem a má scara — ele brincou.

Ela o olhou, indecisa. Aquele rosto que mostrava forç a e sensibilidade era apenas uma má scara? Aquele sorriso era forç ado? Aquele ar ligeiramente triste pertencia ao verdadeiro TarquinPowers?

— O. . . o senhor precisa voltar para o ensaio.

— Antes de ir, você precisa me dizer seu nome. — Pegando no queixo dela, ele levantou seu rosto. — Olhos estranhos, cor de violeta. Um pouco de sangue celta, se nã o me engano?

— É. . . eu me chamo Luana Perry. — O coraç ã o dela palpitava, movido por uma emoç ã o que preferia ignorar, pois aquele estranho era mais atraente do que qualquer pessoa que conhecia.

— Pierrete — disse ele imediatamente. — Outro nome nã o combina com você. Será que vamos nos encontrar de novo, Pierrete, para falar de cisnes e de torres? Você acha possí vel?

Luana achou que era quase impossí vel, por isso sentiu-se triste.

  — Vou vê -lo em todas as montagens desta temporada — respondeu apenas.

— Sim, venha me ver com a má scara, Pierrete. — Ele a largou e, antes que pudesse se despedir, estava sozinha de novo, pois ele já tinha voltado ao teatro.

Ela chamou Taffy, que veio obedientemente e deixou que ela prendesse a correia. Tinha que atravessar a rua principal para chegar ao local onde morava com o padrasto e a irmã de criaç ã o. A casa enorme, dirigida por Charme com a ajuda de duas empregadas eficientes e de uma cozinheira.

A casa elegante com um Jaguar na porta e uma sala à altura das festas que Charme gostava de organizar.

Dentro de uma semana. Charme ia comemorar seu aniversá rio com uma festa à fantasia que Stephen St. Cyr iria pagar de bom gosto.

Quando chegou na calç ada, com Taffy correndo atrá s dela, Luana olhou para o teatro e para o rio. Eles eram reais, assim como també m tinha sido real sua conversa com TarquinPowers. Tinha encontrado o homem que havia por trá s da figura romanticamente apaixonada de Otelo e que a havia maravilhado com sua interpretaç ã o.

Apenas no palco os atores eram invulnerá veis, como deuses. Na vida real, tinham problemas como qualquer outra pessoa; tinham que vencer seus temores e podiam até se sentir solitá rios, apesar de suas vidas agitadas. Ela tinha certeza de ter notado solidã o nos olhos cinzentos de TarquinPowers.

A casa dos St. Cyr estava localizada numa rua com á rvores cheias de dores. A construç ã o era isolada e bastante grande, com uma entrada em forma de meia-lua e degraus que levavam à porta da frente. As janelas tinham cortinas de renda e todo o local achava-se impregnado de um ar de conforto e elegâ ncia. Luana nunca se sentiu à vontade naquela casa. Nem mesmo quando sua mã e ainda era viva.

Enquanto procurava a chave da casa no bolso da saia, um carro esporte parou na entrada. Do alto da escada, Luana ficou olhando um rapaz sair do carro e abrir a porta para Charme St. Cyr. Ela saiu exibindo suas pernas bem-feitas e o sorriso que reservava para os homens bonitos.

— Você quer entrar para tomar alguma coisa, Simon, depois de ter sido tã o bonzinho, levando-me para fazer compras?

— Gostaria muito, querida, mas tenho que aparecer um pouco na fá brica, senã o papai me deserda.

Charme riu, um som alegre e brilhante, que combinava com sua aparê ncia.

— Entã o nos encontramos hoje à noite, no jantar dos Castles.

— Venho buscar você, Charme.

Luana sorriu quando o rapaz resolveu ser galante, beijando a mã o de Charme. Sem dú vida, ela era a jovem mais bonita de Avendon e seu casaco de pele de leopardo falava mais sobre sua natureza do que Simon Fox imaginava. Ele entrou no carro, acenou e desapareceu. Charme subiu lentamente os degraus, recebendo um latido de boas-vindas ao poodle.

— Alô, querido! — Charme falou com o cachorro. Depois dirigiu um olhar frio para Luana, reparando no cabelo despenteado. — Você parece que tem dezesseis anos. Por que nã o tenta ser mais elegante? Talvez entã o homens atraentes como Simon Fox prestem um pouco de atenç ã o em você.

Havia um segredo no sorriso de Luana. Qual seria a reaç ã o de Charme se lhe contasse que TarquinPowers tinha falado com ela, sugerindo que havia um encanto em seus olhos?

Luana destrancou a porta e Charme entrou na frente. Dirigindo-se para a sala de estar, largou os pacotes num sofá e foi preparar uma bebida.

Nã o ofereceu nada para Luana, uma de suas maneiras sutis de sugerir que ela nã o era bem-vinda naquela casa.

— Sei que é sua tarde de folga na loja — disse rispidamente, sem se incomodar em gastar seus tons aveludados com a irmã de criaç ã o —, mas você nã o deve se esquecer de que papai e eu temos uma posiç ã o importante nesta cidade e você está parecendo uma pobre coitada com essas roupas. Você ganha um bom salá rio na loja de antigü idades e meu pai sempre foi muito generoso. Tem que se vestir melhor e andar com o cabelo penteado! Meus amigos acham que você é uma piada.

— Ainda bem que eles se divertem um pouco comigo — disse Luana friamente. — Já percebi que à s vezes eles parecem muito entediados.

— Garotinha impertinente! — Charme olhou para ela com ó dio. — Se nã o fosse por causa da bondade de meu pai, você estaria morando numa pensã o!

— Nã o me incomodo de ir embora. — Luana levantou o queixo. — Seu pai é que nã o quer. Sempre que toco no assunto, ele fala de minha mã e e de como ela ficaria aborrecida se soubesse. Ele tem medo de que as pessoas achem que nã o liga para mim. . . como se algué m fosse se incomodar com isso! E minha mã e morreu há cinco anos!

— É uma prova da generosidade de meu pai o fato de ele ter se casado com sua mã e e cuidado nã o só dela como també m da filha ilegí tima.

Luana sentiu a chicotada das palavras de Charme, uma arma que a irmã usava desde que descobrira que a mã e de Luana, uma irlandesa muito bonita, tinha tido um amor insensato na vida e que havia se casado com Stephen St. Cyr por desespero, ao perceber que sofria de uma doenç a cardí aca que finalmente a matou. Nessa é poca Luana tinha sete anos, e a mã e, Catarina, era muito alegre e corajosa. St. Cyr, um viú vo com uma filha de dez anos, apaixonou-se por ela, livrando-a do trabalho pesado que tinha de fazer para manter a filha. Por isto Luana lhe era grata. Por causa dos poucos anos de conforto que ele deu à sua mã e, ela nã o se incomodava em morar naquela casa e suportar a hostilidade de Charme.

Charme nã o entendia que algué m pudesse viver sem a admiraç ã o das outras pessoas, especialmente a dos homens. As duas moç as olharam-se por um instante e, como Luana desviou o olhar, Charme sacudiu os ombros, terminando seu drinque.

— Espero que você procure parecer mais atraente na minha festa de aniversá rio. Convidei as pessoas que tê m alguma importâ ncia, e isto inclui um só cio de meu pai, que vem da Cornualha. Eu queria que se hospedasse aqui, mas ele já reservou seu apartamento no Hotel BardandHarp. Um homem que só faz o que quer. . .

Luana nã o estava prestando atenç ã o. Os amigos e os conhecidos dos St. Cyr nã o a interessavam. Enquanto olhava pela janela, pensava no encontro com o ator de olhos cinzentos, desejando que tornassem a se encontrar.

Naquele momento o telefone tocou e ela sentiu-se aliviada quando Charme saiu da sala para atender. Luana podia ouvir a voz dela vindo do hall, animada e encantadora de novo, enquanto falava com algué m chamado sr. Talgarth.

— Entã o o senhor já chegou? Que bom! Sim, Avendon é uma cidadezinha muito agradá vel e sem dú vida nosso teatro é muito famoso e atrai as melhores companhias. Oh, garanto que o senhor vai gostar muito. . . Papai reservou um camarote para a temporada, por isso o senhor tem que ir conosco! Venha jantar aqui na sexta-feira, depois iremos todos ao Mask. Sim, uma peç a de Shakespeare. O senhor gosta dele? E claro que eu també m! Quem nã o gosta?

Ao ouvir, isso, Luana sorriu. Sabia que Charme preferia peç as mais leves. Gostava de se sentar decorativamente no camarote do pai e Luana se distraí a com a maneira como ela se mantinha alheia à magia das peç as.

Esta era uma das razõ es pelas quais Luana preferia sentar-se na platé ia para observar, apreciar e perder-se num mundo que entendia sem nenhum esforç o. Era como se a parte celta que havia nela correspondesse ao misté rio e ao encantamento do teatro. Avendon era um lugar muito querido para ela e a vida com os St. Cyr era suportá vel porque todos os anos, de abril a setembro, realizava-se na cidadezinha uma temporada teatral. Já estava subindo a escada para ir para o quarto quando Charme perguntou:

— Você vai ao teatro na sexta-feira?

— Tenho uma poltrona. Se quiser, posso jantar no OldMí llLoft.

— Isto simplifica tudo, querida. — Charme sabia ser encantadora quando conseguia o que queria. — Convidei aquele amigo de papai da Cornualha para jantar aqui, e, como Simon Fox també m vem, somos quatro.

— Trê s homens para uma mulher. — Luana comentou com uma certa ironia, o que fez com que Charme estreitasse os olhos, como uma gata.

— Você seria demais.

— Já estou acostumada. — Luana continuou a subir a escada. — Vou comer no Mill, assim nã o atrapalho. Estou louca para que sexta-feira

chegue logo.

— Por alguma razã o especial? — A risada de Charme subiu pela escada. — Nã o me diga que você tem um compromisso!

A definiç ã o de Charme de compromisso era um encontro com um rapaz da cidade, que a levasse a um restaurante elegante e depois a um show ou a uma festa. Ela nã o entenderia o prazer de Luana em ver TarquinPowers no palco e sua satisfaç ã o em trocar algumas palavras com ele. Charme iria caç oar dela, roubando toda a magia do encontro.

— Sim, tenho um compromisso — ela mentiu, só pela satisfaç ã o de ver o ar de curiosidade da irmã de criaç ã o. Depois, antes que Charme pudesse perguntar o nome do rapaz em questã o, Luana fugiu para o quarto, seu pequeno oá sis, com livros, cadeiras fundas e um toca-discos.

Pô s para tocar um noturno de Chopin e sentou-se ao lado da janela para sonhar.

 

Na sexta-feira, Luana teve um dia muito agitado na loja, pois a estaç ã o turí stica estava começ ando. A regiã o atraí a muita gente de fora, que vinha para ver as peç as e os atores que se apresentavam em Stratford e no histó rico MaskTheatre, em Avendon, e també m para conhecer o velho castelo. Avendon ficava entre Stratford e o castelo, de modo que era um ponto de parada para o almoç o e para um passeio pela cidade, com suas casas com madeiramento à vista e suas lojas pitorescas.

A direita ficava o rio, com as ameixeiras cobrindo a ponte Weir. Luana adorava o lugar e conhecia bem o atalho sombrio que levava ao OldMí llLoft, onde muitas vezes comia sozinha, olhando a á gua que passava pela roda do moinho, um dos encantos do lugar.

O garç om levou-a para uma mesa num vã o perto de uma janela, e ela estava resolvendo o que escolher quando viu trê s pessoas sentadas numa mesa um pouco adiante. Seu coraç ã o bateu mais depressa. Nã o havia como confundir a cabeç a escura erguida com seguranç a e també m com um pouco de orgulho. Era TarquinPowers.

Ficou abalada ao vê -lo, como se isto fizesse parte do destino, embora soubesse que os atores do Mask costumavam ir ao Mill para comer ostras e tomar cerveja. A tradiç ã o era tã o antiga quanto Shakespeare.

— Oh. . . — exclamou, extasiada.

O garç om deu um  sorriso, como se estivesse se divertindo com a admiraç ã o dela pelo famoso ator.

— Ele está comendo ostras — murmurou o garç om. — Mas nã o como aquelas que serví amos antigamente. Sã o congeladas, senhorita. É por isso que podem ser vendidas fora da temporada.

— Quero um filé com batatas fritas — ela resolveu. — E um copo de cerveja.

— Sim, senhorita.

O garç om foi embora e Luana ficou olhando para TarquinPowers. A seu lado estava uma moç a que ela tinha visto no teatro e um outro homem que lhe ensinava como tirar a ostra da casca. TarquinPowers olhava com ar divertido para a bela atriz.

Luana apoiou o queixo na mã o e ficou pensando em como seria bom ser bonita e se sentir admirada por um homem tã o favorecido pelos deuses. Suspirou, certa,  naquele instante, de que era uma daquelas pessoas destinadas a ser apenas espectadora dos amores e cios dramas dos outros. O mais estranho era que nunca tinha se preocupado com isto antes e muito menos desejado o que lhe parecia inatingí vel.

O garç om trouxe-lhe o filé e a cerveja, e ela estava comendo quando os atores se levantaram da mesa. Foi entã o que TarquinPowers olhou para o vã o onde Luana estava quase escondida, como se sentisse sua presenç a. E ele a reconheceu. Dois passos largos o levaram para junto da mesa.

— Pierrete! — exclamou. — A moç a do poodle!

— Sim. — Ela sorriu timidamente; sem Taffy para segurar como se fosse um escudo, ela se sentia exposta à atraç ã o daquele homem, ao espanto de que ele pudesse se lembrar dela.

— Jantando sozinha? — Ele levantou uma sobrancelha, espantado. — Você gosta de sua pró pria companhia, nã o é, Pierrete?

— Já estou acostumada — ela respondeu, esperando que nã o houvesse sinais de queixa em sua voz. — Quero dizer, é melhor ficar sozinha do que se sentir demais entre gente que nã o entende ou nã o gosta das mesmas coisas.

— Sim, sei o que você está querendo dizer.

— Vamos embora, Quin! — a moç a que estava com ele chamou.

O ator olhou para o reló gio, murmurando alguma coisa.

— É melhor você ir para nã o se atrasar. — Luana sorriu com alegria, embora soubesse que sempre haveria algué m para afastar TarquinPowers dela.

— Você tem lugar para a peç a desta noite? — ele perguntou.

— É claro. Nã o quero perdê -lo como Petrú cio.

— Espero que você goste. E agora é melhor eu ir embora, antes que

ela comece a jogar coisas em mim! Aurevoir, Pierrete!

—- Até logo, sr. Powers.

Ele saiu do restaurante com os outros atores e Luana tornou a ficar sozinha. Ainda podia ver o rosto dele a seu lado, tã o viril e atraente.

Estremeceu. Como ele era maravilhoso. E ainda por cima, delicado.

Por fim pagou a conta e se dirigiu para o teatro com os olhos brilhando.

As luzes estavam todas acesas, refletindo-se no rio; sobre a marquise brilhavam os nomes dos atores que faziam o espetá culo daquela noite, A Megera Domada.

Luana estava excitada. Ao se dirigir para o teatro, tinha a estranha sensaç ã o de estar indo de encontro ao destino. Levava no rosto um ar quase infantil, a boina colocada de lado, usando uma jaqueta de couro e uma saia justa e curta. As pernas eram longas e esbeltas e, nos pé s, trazia sapatos confortá veis. Sentia-se mí stica e impressioná vel como o pessoal de teatro, que via sí mbolos na á gua, pressá gios numa palavra ou num olhar.

Entrou no saguã o iluminado do MaskTheatre, decorado com cupidos e rosetas douradas, espelhos e cadeirinhas, també m douradas, encostadas na parede. À direita e à esquerda saí am as escadas para o balcã o nobre e os camarotes. Com a entrada na mã o, dirigia-se para as portas girató rias que levavam à platé ia quando seu olhar se deteve num grupo de pessoas que conversavam perto da escada da direita.

Ela conhecia a figura de Charme, de cabelo platinado e um vestido branco muito elegante, e o rapaz magricela que a olhava com admiraç ã o.

Mas nã o conhecia o homem que dominava o grupo por sua altura, sua pele morena e a forç a incrí vel de suas feiç õ es. Usava seu terno elegante com muita seguranç a e Luana percebeu o brilho do ô nix nos punhos da camisa, quando ele levantou o braç o para pegar um charuto.

Deve ser o homem da Cornualha. Mas assim que pensou nisso, Luana percebeu que o grupo a havia visto e que Talgarth voltava para ela seus olhos de um azul muito intenso, como um  crepú sculo celta. Eles, chamavam a atenç ã o porque faziam um contraste muito grande com os cí lios e as sobrancelhas pretas. Olhos que enxergavam de longe. . . talvez até demais para o conforto da pessoa que ele estava olhando.

-— Luana! — seu padrasto chamou. Luana percebeu a nota de indignaç ã o na voz dele, ao reparar na maneira como estava vestida. Nã o teve outro jeito senã o obedecer. Stephen St. Cyr era um homem magro e grisalho, mas a fragilidade que aparentava era tã o enganadora quanto o fascí nio que a filha exibia.

— Menina. . . — St. Cyr segurou-a pelo braç o, puxando-a para o grupo. Havia ansiedade em sua atitude, embora seu olhar ainda continuasse a mostrar desaprovaç ã o. Seus dedos finos apertaram a mã o de Luana quando ele se virou para sorrir para o homem alto. — Eduard, quero que você conheç a minha outra filha — disse, parecendo um tanto insincero. — Era desta menina que estava falando. A mã e dela era uma irlandesa linda, e tudo foi muito trá gico. Consegui que fosse feliz por alguns anos, mas ela acabou murchando como a flor do campo que era.

Como um celta, Eduard, você nã o acredita no destino?

— Acredito, mas sem exageros — disse Talgarth friamente, Olhava para Luana, que estava impaciente para ir embora, para fugir para a platé ia, pois a peç a ia começ ar a qualquer momento.

— Muito prazer em conhecê -la, sita. Perry. — A voz era atraente, chamando a atenç ã o de Luana, que olhou para o rosto rude dele e para sua boca, que indicava ser ele capaz de grandes paixõ es. Ele lhe lembrava penhascos rochosos e ela hesitou entre aquele olhar e os ombros fortes, como uma mariposa pronta a iniciar seu vô o.

— Muito prazer em conhecê -lo, sr. Talgarth — ela o cumprimentou, apressada. Em  seguida lanç ou um olhar desafiador para o padrasto e depois se afastou, desculpando-se por sobre o ombro: — Nã o quero perder nada. Talvez nos vejamos depois que a peç a terminar.

Enquanto escapava pela porta, ela percebeu que Talgarth levantou o charuto até a boca, com ar totalmente indiferente.

— Ora essa! — exclamou Charme.

Luana imaginou que mais tarde ia ser repreendida pela irmã de criaç ã o. Nã o queria parecer indelicada, mas nã o ia perder a entrada de TarquinPowers no palco por ter ficado conversando com um amigo de Charme. De qualquer maneira, eles raramente percebiam sua existê ncia. Ela achou seu lugar e ficou esperando emocionada que a cortina se levantasse. Como na outra noite em que tinha estado lá, havia excitaç ã o e tensã o no ar, o que só acontecia quando os espectadores antecipavam um espetá culo fora do comum. Todos queriam ver TarquinPowers, dominados pela magia que ele possuí a como ator; uma forç a que era irradiada de modo que no palco ele parecia muito vivo, uma pessoa especial. Tarquin podia ser amado, mas nunca possuí do. Era um solitá rio, um homem que. sabia a maneira de impressionar outras pessoas. Podia distraí -las, tê -las à sua mercê.

Enquanto esperava pelo iní cio do espetá culo, Luana olhou para os camarotes. Charme e os trê s homens já tinham se acomodado e o cornualê s estava examinando o teatro com muito interesse. Charme disse qualquer coisa e ele respondeu com um sorriso rá pido. Era estranho que fosse amigo dos St. Cyr. Talvez tivessem se conhecido na viagem que haviam feito a Penzance algumas semanas atrá s. ^Stephen St. Cyr era corretor de terras e viajava muito. No começ o do ano havia feito um bom negó cio e, recebendo uma bela comissã o, tinha adquirido um pequeno iate na Cornualha.

Ele teria comprado o barco de Eduard Talgarth? O homem tinha mesmo um ar de marinheiro. Homens com olhos azuis penetrantes sempre lembravam o mar.

Foi entã o que aqueles olhos azuis a encontraram na platé ia. Pareciam um raio percorrendo seu rosto e reconhecendo-a como a moç a que tinha sido indelicada com ele. Pela expressã o, ele nã o iria se esquecer daquilo tã o cedo; ela estremeceu. Esperava nã o encontrá -lo muitas vezes na casa dos St. Cyr, nem em Avendon. Ele parecia estranho naquele lugar, como se pertencesse aos rochedos e à s ondas enormes, tã o perigosas.

Luana olhou para Charme, uma figura fria e elegante num vestido caro. Estaria ela interessada naquele homem? Neste caso, era uma surpresa para Luana. Charme geralmente gostava de mandar, e Eduard Talgarth parecia ser dono de cada centí metro de seu corpo.

Naquele instante, as luzes do teatro começ aram a se apagar e as cortinas se abriram. O coraç ã o de Luana bateu mais depressa esqueceu imediatamente o estranho moreno para se concentrar apenas ao palco, no cená rio, nos atores com suas roupas coloridas. Esperava ansiosamente o momento em que TarquinPowers fosse entrar em cena como Petrú cio, um homem à parte, mais bonito e mais vivo do que os outros; no entanto era real para ela porque lhe tinha sorrido, falado com ela, chamando-a de Pierrete.

Nã o tinha sido um sonho e nos olhos dele havia a promessa de encontrá -la de novo em Avendon.

Mas nã o seria naquela noite. Depois da ú ltima chamada em cena, os aplausos calorosos diminuí ram, e TarquinPowers foi literalmente atacado na porta do teatro. Luana perdeu-o de vista na multidã o de fã s e, com um sorriso, levantou a gola do sué ter para se agasalhar melhor e foi para casa debaixo de uma garoa fina.

Na entrada da casa estava um Lancia preto, evidentemente do homem que procurava evitar. Tentou a porta da cozinha, que felizmente estava destrancada. Entrou muito devagarinho, tomou um copo de leite gelado, depois atravessou o hall na ponta dos pé s, em direç ã o à escada. Ouviu uma voz grave, o barulho das xí caras de café e, por fim, a risada de Charme.

O sr. Eduard Talgarth estava sendo muito bem recebido naquela casa.

Luana deu uma mordida numa das bolachas que estava levando para o quarto. Pretendia estar dormindo profundamente quando Charme subisse. Depois da magia de ver TarquinPowers, nã o estava disposta a ouvir um sermã o por causa do estranho da Cornualha.

 



  

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