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CAPÍTULO III



 

Depois do primeiro passeio, eles passaram a se encontrar todos os domingos. Com o barco que Tarquin tinha alugado, percorriam o rio Avon, parando para fazer um piquenique, ou para procurar alguma hospedaria antiga, onde saboreavam rosbife e batatas coradas, num ambiente de outras é pocas.

Luana estava descobrindo o quanto ele se desgastava com o teatro e como precisava relaxar com algué m como ela, que nã o exigia nada, que ouvia e ria, e explorava com ele os velhos moinhos d'á gua e as ruí nas de castelos no coraç ã o da Inglaterra.

Naquele dia estavam em silê ncio ao voltarem para o barco. Por fim, ele deu um beijo leve na mã o dela.

— Ninfa querida, você sabe ler no coraç ã o, nã o é mesmo? Você sabe que ele está dividido.

Luana concordou, sem deixar de sorrir. Embora ele ainda nã o a tivesse beijado nos lá bios, sabia que havia alguma coisa entre eles. Tarquin a ajudou a entrar no barco, depois começ ou a remar com a mesma graç a que mostrava no palco. A tarde caí a e tudo estava em silê ncio. Por um momento seus olhos se encontraram.

— Você é uma criatura fora do comum, Luana. Eu já lhe disse que a natureza lhe deu flores em lugar de olhos?

Muitas vezes Tarquin dizia coisas assim, mas ela nã o ousava entendê -las como palavras de amor.  

O que ele precisava era de uma companheira, algué m com quem pudesse ficar à vontade.

Quando se separaram no fim da tarde, numa ponte muito antiga, Tarquin tirou do bolso um anel com a forma de um escaravelho, com uma inscriç ã o embaixo da asa.

— Em nome da nossa amizade — disse ele, mas colocou o anel no dedo em que os homens costumam colocar a alianç a.

— Nã o. . . nã o quero! — Aquilo era demais para ela, por isso arrancou o anel do dedo, jogando-o aos pé s de Tarquin. Depois saiu correndo, pretendendo nunca mais vê -lo... pois já nã o se satisfazia em ser apenas uma amiga dele.

— Luana?

Ela atravessou a ponte correndo, com o brilho do sol agonizante nos olhos cheios de lá grimas e, antes que pudesse impedir, tropeç ou nos degraus da ponte e caiu estatelada na relva cheia de flores.

— Luana! — Estava ao lado dela, ajoelhado. Seu rosto parecia sombrio e preocupado quando ele a puxou de encontro ao peito.

— Nã o. . . por favor! — Ela lutou com ele. — Estou bem, deixe-me ir para casa.

— Nã o. . . — Tarquin continuou a abraç á -la.

Ela viu o rosto  dele muito pró ximo, muito definido, como se seus traç os tivessem sido desenhados por estrelas. Prendeu a respiraç ã o quando Tarquin a beijou levemente. . . mas de repente o calor transformou-se em chama e a carí cia desapareceu para dar lugar ao desejo de um homem que havia esperado ardentemente aquele momento.

Beijos cobriram os lá bios, os olhos e o pescoç o de Luana. As comportas se abriram e ela se viu inundada de amor, até que por fim pediu, rindo mas um pouco amedrontada, que ele parasse, senã o morreria sufocada de tantos beijos.

— Você é tã o doce. . . — Ele murmurou, abraç ando-a com forç a. — Percebi isso quando a vi embaixo do palco, naquele teatro quase à s escuras, segurando aquele cachorro absurdo. Vi tanta inocê ncia e tanta confianç a que jurei comigo mesmo nã o tocar em você. Pretendia que passá ssemos apenas algumas tardes juntos. Nã o queria quebrar o encantamento dos nossos passeios pelo rio.

Ela nã o podia falar, nã o podia perguntar por que aqueles beijos eram perigosos. Ficou olhando para ele, aninhada em seus braç os, percebendo, entretanto, como o rosto dele estava tenso.

— Pierrete — ele falou com a boca de encontro ao cabelo dela — você nunca se perguntou por que combati esta. . . por que tentei convencer de que nã o podí amos ser nada mais do que amigos? Nã o posso pedi-la em casamento.

Por um instante, ela ouviu apenas as batidas de seu pró prio coraç ã o, mas de repente a verdade começ ou a tomar forma, antes mesmo que ele falasse.

— Sou casado, Luana — disse ele simplesmente. — Você nunca desconfiou? Você nunca se perguntou por que nã o a beijava? Você pensava que nã o me atraí a?

— Nunca. . . ningué m falou de sua esposa, Tarquin.

— Só meus amigos mais í ntimos sabem que sou casado. — Com um suspiro, ele ajudou Luana a levantar-se, depois voltaram para a ponte.

Tarquin acendeu um isqueiro e logo encontrou o anel que ela havia jogado no chã o... prevenida por algum instinto de que ele nã o tinha o direito de lhe dar aquele anel.

— Por favor, Luana — ele lhe estendeu o anel —, use no dedo que quiser. Nã o tem importâ ncia. Entre nó s só pode existir amizade, embora gostemos um do outro.

— Por que ningué m fala de sua esposa? — Ela tinha que saber todo o segredo. — Você s vivem separados?

— Sim. Casamos quando eu estava começ ando a carreira; quatro anos depois ela ficou doente e teve que ser internada num hospital para doenç as nervosas na Califó rnia. — Ele suspirou. — Ela é italiana, muito bonita e nã o pode mais voltar a ser minha mulher. . . mas será minha esposa até a morte de um de nó s. Na é poca em que casamos, eu estava tã o apaixonado que adotei a religiã o dela. Você sabe o que isto significa, Luana?

— Sim — murmurou e suas mã os estavam tremendo quando colocou o anel no dedo. Ela o usaria para sempre. Era tudo o que podia ter dele. — Sim, sei todas as implicaç õ es, Tarquin, e estou muito triste. Pensei que você se mantinha reservado porque eu nã o combinava com o seu mundo no teatro. . . e també m me achava muito jovem, muito ingê nua e até feia demais. . .

— Ninfa adorada — ele a pegou pelos ombros —, como é que você pode ser feia com esses olhos cor de violeta? Como poderia nã o me afeiç oar com seu sorriso, sem nenhum dos artifí cios que vejo todos os dias? Menos nesses domingos tã o maravilhosos. . . Nesses passeios de que nunca me esquecerei. . .

— Nã o fale como se estivesse indo embora, Tarquin!

— Eu pertenç o ao palco, minha querida. Eu me entrego à multidã o como um gladiador aos leõ es. . . e agora você sabe por quê. Nó s dois nã o deví amos ter nos encontrado, eu devia tê -la deixado em paz. . . Aquela festa louca! Nã o pude resistir quando algué m me disse que Charme St. Cyr tinha uma irmã chamada Luana. Será que havia duas moç as em Avendon com um nome tã o raro? Precisava descobrir! Entã o vi você, vestida de Pierrete, minha Luana, fresca como a chuva de primavera nos brotos verdes. Estraguei a minha primavera, pois devia ter ficado longe de você. . .

— Nã o me arrependo de nada. Nem um minuto sequer. — Ela sorriu para ele, pois nada do que havia dito tinha empanado a magia de conhecê -lo; seu amor nã o iria morrer porque nã o havia um futuro para eles. — Daqui a duas semanas você vai representar Hamlet — disse ela suavemente. — Só mais dois domingos. Nã o vamos desperdiç á -los.

— Agora pode ficar perigoso — ele a advertiu. — Sou apenas um homem, e quando ficarmos sozinhos. . . Pierrete, você nã o é uma crianç a!

— Nã o. — Ela sacudiu a cabeç a. — De repente fiquei muito mais velha e mais sabida, por isso nã o quero perder os ú nicos momentos que podemos passar juntos. Você disse que irí amos a Stratford na semana que vem, nã o se lembra?

— Eu vivia num inferno antes de você aparecer. — Ele a abraç ou, encostando o rosto no cabelo dela. — Vou para Roma depois de Hamlet, para fazer um filme, pois preciso de dinheiro para o tratamento de Nina. Isto vai durar anos e talvez eu passe a dedicar bem menos tempo ao teatro, que é toda a minha vida.

— Pobre Tarquin. — Ela pegou na cabeç a dele e ali, na ponte, beijaram-se com uma tristeza infinita.

 

Luana chegou pensativa e encontrou a casa cheia de amigos de Charme. O toca-discos estava tocando o sucesso do momento e um casal danç ava no hall iluminado.

— Nã o é uma notí cia formidá vel? — Algué m que Luana conhecia vagamente sorriu-lhe com uma taç a de champanhe na mã o. — Charme vai se casar! Eles resolveram hoje!

Luana olhou em volta, atordoada, pensando ainda naquilo que Tarquin tinha revelado... que tinha uma mulher na Amé rica, jovem, bonita, mas invá lida.

— Estive fora o dia todo. Nã o sabia do noivado. — Luana hesitou na escada. Devia ir cumprimentar a irmã de criaç ã o, mas alguma coisa a impedia. Sabia que Eduard Talgarth tinha ido embora algumas semanas atrá s, mas devia ter voltado.

— Simon sempre teve muita sorte. — Vá rias taç as de champanhe se levantaram. — Que eles sejam muito felizes!

Simon? Simon e Charme!

Luana apoiou-se no corrimã o e quase deu uma gargalhada por imaginar que a irmã fosse desistir de um jovem muito rico como Simon para ir morar num lugar agreste como a Cornualha. Agora percebia que Charme e Talgarth nã o combinavam em nada, pois a irmã gostava de levar uma vida boa, e o cornualê s era um homem rude, com a luz do mar nos olhos e um ar de quem é dono de sua pró pria vida.

Charme e Simon tinham em comum o gosto pelos divertimentos e, com toda a certeza, ela o dominaria. Isto nã o aconteceria com Talgarth. Luana o vira pela ú ltima vez na loja onde trabalhava. Ele tinha entrado para comprar uma peç a de porcelana, muito cara, e Luana quase disse que Charme ia preferir uma jó ia ou um porta-pó.

— Vi um cartaz das peç as do Mask na vitrine — comentou ele lentamente. — Parece que você vai regularmente ao teatro. Nunca a encontro quando vou à sua casa.

— Sempre gostei de teatro — disse ela, na defensiva, como acontecia sempre que conversava com aquele homem. — E é fascinante quando vê m atores famosos.

— Tome cuidado, Luana. Um deles pode iludi-la e você vai sofrer.

Ele foi embora e ela nunca mais o viu. Mas nas duas semanas seguintes pensou muitas vezes naquela conversa, quando entrava nos bastidores do Mask.

Luana nã o era do tipo que queria ter um caso com um homem, e Tarquin nã o podia legalizar o que sentiam um pelo outro. Teria ela coragem de se tornar sua amante? Tentou evitar esta pergunta muitas vezes, mas quando estava com Tarquin nada parecia importar, exceto fazê -lo feliz, ser o que ele queria que ela fosse. . . até sua amante em Roma. Tarquin nã o queria lhe pedir isso, mas, à medida em que se aproximava o dia da separaç ã o, achou que talvez ele mudasse de idé ia.

Era o que percebia em seus olhos, em seus braç os e em seu beijo. Ele queria acabar com a solidã o. . .

No dia em que foram a Stratford, ambos estavam muito tensos. . . Pararam para almoç ar numa hospedaria, onde havia um poç o ainda do tempo dos romanos. Tarquin quis tirar uma fotografia dela encostada numa das pedras cheias de musgo.

— É para seu á lbum de recordaç õ es? — ela perguntou, pretendendo mostrar-se alegre, mas sem conseguir.

— Se eu fosse romano e você minha escrava — respondeu ele, segurando-a pelo queixo —, nã o falarí amos de recordaç õ es nem de despedidas.

Quando ele a beijou subitamente no pescoç o, Luana prendeu a respiraç ã o, meio amedrontada.

— Tarquin, vamos sair daqui. . . — Luana estava ofegante. — Tem mais gente no jardim. . . por favor!

— Por favor? — ele caç oou. — As regras tê m que ser obedecidas, nã o é?

— Que regras?

— As das convenç õ es, minha querida. Ou de repente você ficou com medo do meu amor?

— Você está sendo cruel!

— O amor é cruel. — Ele a puxou para fora do campo de visã o das trê s pessoas que chegavam para almoç ar naquele jardim. — Por que fingir que é fá cil sermos amigos? Olhamos um para o outro, Luana, e as pessoas simplesmente deixam de existir. Por que negar, feiticeirinha, que seus olhos tomam conta de mim cada vez que se encontram com os meus?

— Nã o. . . — Ela nã o podia negar o que seus olhos revelavam. — O que sinto me amedronta, Tarquin.

— Ah, Luana! Você acha que eu també m nã o tenho medo, minha querida? Que nã o vou sofrer ao me despedir de você . . algué m que nã o deveria pertencer a mais ningué m alé m de mim? Algué m que devo deixar, e que mais tarde talvez torne a encontrar o amor com outro homem?

Tarquin encostou o rosto no cabelo dela, abraç ando-a com forç a, e imediatamente Luana percebeu o que ele ia lhe pedir. Havia alguma coisa na atmosfera que dava a impressã o de que estavam num cená rio preparado para a pergunta que ele ia fazer e para a resposta que ela ia dar.

— Quero que você vá para Roma comigo — disse ele. — Nã o agü ento mais ficar sozinho. Nã o agü ento mais o vazio de nã o ter algué m que goste de mim como eu sou e nã o como um  í dolo. Quero que você fique comigo, Luana.

Ela virou a cabeç a lentamente, pressionando os lá bios contra a mã o fina que estava segurando seu rosto. O beijo silencioso foi a resposta que deu.

— Minha querida! — Ele a beijou com ardor, murmurando palavras de amor. Ela fez forç a para ouvir somente isto, para ver apenas o rosto dele.

Seria insuportá vel ver o rosto de Catarina, censurando-a. . . e havia també m um outro rosto, moreno, forte e muito celta, advertindo-a, que ela tentou afastar. A vida era dela. Tarquin era a ú nica pessoa no mundo que se incomodava com ela.

— Tarquin, é melhor irmos embora.

— Sim, acho que é melhor.

Como ele ameaç asse beijá -la de novo, Luana saiu correndo por entre as á rvores.

Foram em silê ncio até o carro, e juntos visitaram os principais pontos turí sticos da regiã o. O sol já estava mais baixo quando pararam para admirar a paisagem. Foi entã o que ela percebeu que Tarquin estava rodeado por um grupo de pessoas que pediam autó grafos. Uma jovem olhava para ele com admiraç ã o, e Luana lembrou-se de seu primeiro encontro com Tarquin. Ela també m tinha ficado com aquele ar de adoraç ã o? Foi por isso que ele resolveu ir à festa de Charme? Será que Tarquin a queria por causa dessa adoraç ã o e porque ela nã o iria jamais interferir em sua vida pú blica?

Oh, estava sensí vel demais! Nã o podia esperar que Tarquin fosse puxá -la pela mã o, apresentando-a: " Esta é a moç a que escolhi". Ele nunca diria nada em termos assim tã o simples. Ele nã o era livre. Entã o Tarquin se despediu das admiradoras e voltou para Luana. As mulheres nã o tiravam os olhos dela, curiosas em saber se també m era atriz.

— Querida?

— É bom se sentir admirado pelas mulheres onde quer que você vá?

— É como se elas quisessem me partir em pedaç os.

Ela riu e ele a envolveu com o braç o enquanto caminhavam até o carro.

As pessoas estavam olhando e Luana percebeu, emocionada, que Tarquin estava querendo que soubessem que ela era algué m em especial. . .

Ele a beijou levemente quando entraram no carro. Seus olhos se encontraram por um momento e Luana percebeu que Tarquin tinha lido seus pensamentos. Ele sabia que, durante alguns minutos, ela tinha se sentido separada dele pela barreira da fama, e ele a tranqü ilizou com um beijo, com um olhar. Teria que ser assim, Tarquin pareceu adverti-la silenciosamente. Se queria viver com ele, tinha que aceitar isto.

Quando partiram, o sol era uma bola de fogo no cé u e os passarinhos cantavam nas á rvores.

— Peç a alguma coisa! — disse ela de repente. — Ouvi um cuco.

— Crianç a! Já sei o que vou pedir. . . Quer que eu conte?

— Nã o! Se você contar, nã o acontece!

— Já está quase acontecendo, minha querida.

Ela percebeu imediatamente o que Tarquin queria dizer e, com o coraç ã o batendo rapidamente, um pouco apreensiva, recostou a cabeç a no ombro dele.

Anoiteceu antes de chegarem no Mill Loft, onde iriam jantar.

— Oh, olhe as estrelas. Estã o tã o paradas, tã o distantes. . . Elas me amedrontam um pouco.

— Você é estranha...

— Aposto como você nã o diria isso para suas fã s.

— Minhas fã s nã o estariam a meu lado falando de estrelas.

— Elas querem uma coisa em especial, entã o?

— Você quer que eu mostre? — Com um movimento suave, Tarquin parou o carro no acostamento e tomou Luana nos braç os, provocando-a com seus beijos. De repente ele estremeceu. — Luana. . . Luana querida, é justo pedir que você desista de tudo por minha causa? De sua casa, da possibilidade de encontrar algué m que possa se casar com você. . .

— Eu amo você. — Ela tocou no rosto dele. — Nã o tenho medo do futuro e a casa dos St. Cyr nunca foi o meu lar.

— Gostaria de me casar com você, menina. Estou seguro do que sinto, Luana, porque sou bem mais velho e porque já fui casado. Mas você també m está segura de seus sentimentos? Nã o é apenas uma ilusã o?

O coraç ã o dela bateu mais depressa. . . tome cuidado. . . um deles pode iludi-la e você vai sofrer. . .

— Nã o! — A palavra saltou de seus lá bios antes de Luana encostar o rosto no ombro de Tarquin. — Nã o fico segura de nada quando nã o estou em seus braç os. Aí entã o eu me sinto bem, porque sei que você precisa de mim. Nã o significo nada para ningué m mais. Nã o há mais ningué m que me queira. . .

— Será que você nã o está confundindo solidã o com amor?

—- Beije-me — ela murmurou — e descubra a resposta.

Luana voltou para casa muito tarde. Uma lâ mpada brilhava no hall e, quando ela se dirigia para cima, uma voz chamou-a:

— É você, Luana? — Seguiu-se uma pausa, como se Charme estivesse olhando para o reló gio. — Venha cá um instante. Quero falar com você.

Luana já estava esperando por isso desde que alguns amigos de Charme a tinham visto com Tarquin numa confeitaria. Dando um sorriso resignado, entrou na sala e encontrou a irmã sentada num dos sofá s, fumando um cigarro.

— Onde você esteve? — ela perguntou com voz divertida. — Já é muito tarde e nã o é a primeira vez que você chega procurando nã o chamar a atenç ã o de ningué m.

— Isso nã o é verdade. Se eu quisesse evitar você ou seu pai, teria entrado pela porta dos fundos.

— Você está se achando muito importante, nã o?

— O que você quer dizer com isso? — Luana estava muito pá lida.

— Você sabe muito bem. — Charme soltou a fumaç a do cigarro com sofisticaç ã o. — Imagino que metade de Avendon já sabe do seu relacionamento com aquele ator do MaskTheatre.

Luana prendeu a respiraç ã o. Da maneira como Charme falava, parecia que ela estava tendo um caso com Tarquin. . . Com certeza a irmã estava despeitada porque o ator nã o se interessara por ela. . . Luana encontrou os olhos de Charme apertados como os de uma gata.

— Você nã o percebeu que está fazendo o papel de boba, correndo atrá s de um homem muito mais velho? Todo mundo sabe que os atores viram a cabeç a de garotas sem graç a, bobas, que se contentam com um pouco de atenç ã o, mas nem papai nem eu queremos que você traga problemas para casa. Deve haver promiscuidade em seu sangue, mas você nã o vai se comportar como sua mã e. . .

—- Chega, Charme! — Os olhos de Luana brilhavam de raiva. — Eu bato em você se continuar a falar assim de Catarina. Fale o que quiser de mim! Já estou acostumada e sei melhor do que ningué m que nã o fiz nada demais com Tarquin, alé m de passar com ele os melhores momentos da minha vida. Ele é culto e bom e um ator extraordiná rio. . . e nã o um galã de uma companhia de terceira categoria!

— Você está encantada com ele! Acho que com uma boboca de dezenove anos, que nã o se interessa por rapazes mais moç os, pode desempenhar o papel de grande ator com perfeiç ã o. E o que você vai fazer quando seu heró i for embora? — ela perguntou, caç oando. — Ele nã o vai querer se casar com você, pois sabe que nã o combina com o mundo sofisticado em que vive. Você só atrapalharia. Aqui em Avendon, ele se sente lisonjeado com sua admiraç ã o. Que ator resistiria a isto?

Luana bem que gostaria de responder que ia embora com Tarquin, mas manteve os lá bios bem fechados. Quando chegasse a hora, partiria sem nenhum remorso. Charme estava lhe mostrando mais uma vez como sua presenç a era indesejá vel naquela casa. Ainda por cima, agora Luana tinha se tornado uma rival. Embora nã o fosse bonita no sentido estrito da palavra, parecia uma criatura dos bosques, com os olhos grandes demais para o rosto, e tinha atraí do um homem encantador. . . Charme estava com ciú me.

Luana percebia agora que Charme nã o amava Simon Fox.

O que ela queria era se casar com um homem que pudesse dominar, de outra maneira teria escolhido aquele estranho moreno e dominador da

Cornualha.

— Se você arranjar algum problema — continuou, com despeito —, nã o venha correndo atrá s de mim ou de meu pai. Sua boba, homem nenhum do mundo vai querer alguma coisa com você alé m de se divertir um pouco. Olhe-se no espelho! O cabelo todo despenteado, baixa, sem pintura nos lá bios... ou será que o batom saiu com os beijos que você s trocaram, num carro parado em alguma estrada?

Charme tinha se aproximado da verdade, mas nã o sabia daqueles momentos de doce tormento nos braç os de Tarquin, quando ele lhe perguntou se ela tinha certeza de amá -lo; quando ele falou de uma ilusã o que podia impedi-la de ver o que realmente desejava.

Ela olhou para Charme, bem consciente do futuro, dos problemas que teria que enfrentar e de uma promessa de felicidade.

— Nã o se preocupe, Charme. Se eu precisar de ajuda ou mesmo solidariedade, nã o virei procurá -la. Prefiro uma pessoa estranha.

Entrando no quarto, Luana lembrou-se das palavras de Tarquin: " Quero você. Nã o agü ento mais ficar sozinho. Quero que você fique comigo... "

Isto queria dizer que ele a amava?



  

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