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CAPÍTULO V



 

Só havia uma luz acesa e a saleta do hospital estava muito silenciosa.

Tarquin tinha passado o dia prostrado e Luana havia esperado horas a fio, com todos os nervos de seu corpo muito tensos, que algué m viesse lhe dizer que ele já estava melhor. Era horrí vel nã o poder fazer mais nada alé m de esperar.

— Srta. Perry!

Luana levantou-se, olhando ansiosamente para o homem grande, de ombros largos e cabelos vermelhos, com mã os tã o delicadas quanto as de uma mulher. Hugh Strathern aproximou-se, pegando-a pelos ombros.

— Você está sempre aqui, esperando. Bem, venha comigo, jovem, vamos ver se o rapaz reage ouvindo sua voz. A ciê ncia pode fazer tudo, menos o papel de uma mulher. . . você está me entendendo?

— Sim. — Por fim, algué m precisava dela para alguma coisa.

Luana passou a noite inteira sentada ao lado de Tarquin, falando com ele de sua infâ ncia, de coisas tristes ou alegres, das peç as que tinha visto.

Ele permanecia muito quieto, ouvindo o som da voz dela. Vida, amor, uma mulher a seu lado. . . mas quando, afinal, ele murmurou um nome, foi o de Nina.

No momento em que a luz da manhã começ ou a penetrar no quarto, Hugh Strathern olhou para seu paciente com ar satisfeito. Depois tirou Luana do quarto.

— O rapaz está dormindo. Vamos tomar café, depois você pode ir para casa dormir.

— Você quer dizer... — Ela estava esperanç osa.

— Já vi isso antes. Os homens nascem de uma mulher, e nã o querem morrer se há uma mulher ao lado, lutando por eles. Powers está bem agora. Era uma espé cie de crise e ele precisava saber se uma determinada mulher estava a seu lado.

— Eu? — perguntou, ansiosa, lembrando que ele tinha murmurado um nome que nã o o dela.

— Nã o. Nina, a mulher dele. Provavelmente Powers se culpa em parte pela doenç a dela, e na noite passada confundiu você s duas. Ele melhorou por causa dela, e nã o por sua causa. Você está entendendo?

— Nã o muito. — Ela olhou para o neurocirurgiã o. — Diga-me tudo. Quero entender direito.

— Está bem! Powers sofreu uma fratura no crâ nio, provocada pelo raio e pelo trovã o, coisas sobrenaturais, que fazem parte das peç as que ele costuma representar. Os atores sã o pessoas estranhas, mocinha. Vivem seus papé is dentro e fora do palco. Veja esse negó cio de Nina, a mulher dele. Ele a amou, talvez ainda a ame, mas há ocasiõ es em que quer que ela fique fora de sua vida. Isto cria uma barreira de culpa, que foi o que aconteceu na noite passada. Powers precisava encontrar Nina. . . por isso pus você ao lado dele, e ele pensou que você fosse Nina. E agora é muito prová vel que, quando se recuperar, esqueç a-se de você e de tudo o que significou para ele.

O coraç ã o de Luana bateu com toda a forç a. Ela estava exausta, mas todos os seus sentidos permaneciam alerta.

— Você quer dizer que, por causa desse sentimento de culpa, Tarquin pode me excluir da vida dele?

— Você deve estar preparada para isto — Strathern avisou.

— Na noite passada, eu o salvei porque ele pensou que eu fosse Nina. Você está dizendo agora. . . — Mas ela nã o conseguiu pronunciar as palavras. Era doloroso demais.

— Se ele nã o a reconhecer quando a vir — explicou Hugh Strathern —, nã o vai se lembrar de que a amava. Por isso, é melhor nã o ficar por perto, sofrendo.

— O que vou fazer? — ela perguntou, muito triste. — Para onde vou? Tí nhamos planejado, Tarquin e eu, ir para Roma.

— Você teria sido realmente feliz? — perguntou o cirurgiã o, sem nenhuma cerimô nia.

Ela hesitou, pois alguma coisa no homem a obrigava a dizer a verdade.

— Eu o amo, é tudo o que sei.

— Se ele a reconhecer, você irá embora com ele?

— Sim. . . se ele me quiser. — Ela encontrou os olhos do cirurgiã o. — Você acha que nã o estaria certo e que no fim Nina surgiria entre nó s?

— Inevitavelmente. Entrei em contato com a clí nica em Los Angeles. Nã o é o fato de Nina poder se recuperar. . . o fato de ela nã o poder é que vai fazer com que o sentimento de culpa que Powers tem acabe se tornando intolerá vel para você.

Luana ouvia em silê ncio. O que aquele homem estava lhe dizendo era a mais pura verdade.

— Você é jovem — ele continuou. — Vá procurar um outro lugar para morar, um outro amor para ajudá -la a esquecer. Agora você precisa dormir. Vá para casa descansar, e talvez eu ache alguma coisa para você fazer.

— Você?

— Sim, mocinha. Este velho clí nico, que já esteve apaixonado. Fomos casados, Sheila e eu, mas a perdi quando nossa filha nasceu.

— Eu nã o sabia. Lamento muito.

— Nã o gosto de falar nisto. Patrí cia está na escola. . . uma espé cie de convento na Franç a. . . e daqui a duas semanas ela vai entrar de fé rias. Ela é muito delicada. Gostaria que passasse as fé rias perto do mar. Talvez. . .

— Talvez o quê?

— Bem, vamos esperar um pouco. Ver o que acontece.

— Nã o, por favor, continue, agora que já fomos tã o longe!

— Bem, estava pensando que vou precisar de algué m para ficar com Patrí cia. . . e estou preso a meu trabalho. Uma das professoras vai trazê -la da Bretanha... acho que você poderia ir ao encontro dela e talvez passar o verã o a seu lado.

— Você parece ter muita certeza de que vou ficar na mã o.

— Conheç o a minha profissã o. Powers deu algum sinal de que a reconheceu?

— Nã o. — A palavra saiu como um suspiro.

— Lamento muito, mocinha. Mas talvez seja melhor assim.

— Mesmo que eu sofra muito?

— Sempre há dor quando alguma coisa precisa ser corrigida.

— A loucura que eu ia fazer?

— Você ainda é muito jovem, Luana. Mas é uma moç a corajosa. Você ficou ao lado dele na noite passada e falou quando seria muito fá cil chorar. Ele é um homem e tanto, nã o? Bonito como um desses deuses gregos. . .

— E bom. É por isso que ele fica aborrecido por poder ser feliz e Nina nã o. Foi um casamento muito triste. Tarquin merecia o melhor. . . calor, companheirismo, filhos. Ele é mais do que um ator de talento.

— Você nã o o amaria se nã o fosse assim. Se as coisas nã o derem certo, você gostaria de fazer companhia para minha filha durante o verã o? Patrí cia é uma ó tima criatura. . . Muito imaginativa, bem do seu tipo. Mas ela tem a constituiç ã o frá gil da mã e e nã o a minha.

— Você tem um coraç ã o de ouro.

— Sim, para quem eu gosto, e só gosto de gente sincera.

 

Luana foi para o hotel onde morava há uma semana. St. Cyr tinha tentado convencê -la a voltar para casa, mas ela nã o quis. Depois que tudo se resolvesse, talvez fosse trabalhar em Londres, onde poderia encontrar acomodaç õ es definitivas.  

Nã o poderia ficar em Avendon, se Tarquin tivesse se esquecido dos passeios pelo rio e do amor que lhe tinha jurado.

Ia regularmente ao hospital, mas, obedecendo ao conselho de Strathern, nã o via Tarquin. Tinha que esperar para saber se ele perguntava por ela.

Mas ele nã o perguntou.

Tarquin nunca falou dela para Ann, nem

mostrou qualquer indí cio de que tinha se apaixonado por uma moç a enquanto representava no Mask.

Ele se lembrava do teatro, conhecia todos os membros da companhia e todas as peç as. Lembrava-se de cada detalhe. . . menos uma coisa. Quando Ann mencionou casualmente uma moç a chamada Luana, Tarquin perguntou se ela fazia parte da companhia, acrescentando que nã o se recordava daquele nome.

Tudo tinha terminado!

Luana já sabia disso antes de ser convidada por Hugh Strathern para jantar no Mill Loft. Ela se arrumou muito bem, colocando até um batom nos lá bios. Ningué m precisava saber como estava sofrendo. Ela, que tanto amava Tarquin, tinha se tornado uma estranha para ele, excluí da de suas recordaç õ es, de sua vida.

Tinha que aprender a viver sem ele e agora estava pronta para aceitar a proposta do neurocirurgiã o.

— Você está muito bem, mocinha — ele a elogiou. — Sinto-me quinze anos mais moç o jantando com uma jovem bonita. O que você quer tomar? Vou querer um gim-tô nica.

— Eu també m. Foi muito gentileza sua ter vindo de Londres para me ver.

— É um prazer para mim. — Ele pediu as bebidas para o garç om, depois ficou olhando para ela. — Você nã o chorou nem uma vez, nã o é mesmo? Poderia ajudar.

— Nã o costumo chorar. — Ela forç ou um sorriso. — E nã o me arrependo de ter conhecido Tarquin, de amá -lo. Mas sei que vai ser difí cil esquecê -lo. Ele nã o é um tipo insignificante como eu.

— Você nã o deve imaginar que o que ele sentia por você era superficial. Pelo contrá rio, mocinha, sã o as coisas profundas que à s vezes tê m que ser sepultadas, senã o enlouquecemos.

— Você acha entã o. . . que um dia. . . — Ela o olhou com ansiedade e seus olhos cor de violeta lembravam misté rios celtas.

— Pode ser que um dia ele se recorde de você, Luana mas você tem que aceitar que agora é uma estranha para ele. Pensou em minha sugestã o de tomar conta de Patrí cia durante o verã o?

— Tinha pensado em ir para Londres — disse ela, depois de hesitar um pouco. — Preciso arranjar um emprego fixo.

— Mas você nã o pretende tirar fé rias?

— Estas duas semanas, foram as minhas fé rias.

— Mas você nã o descansou nem um minuto. Olhe, Luana, preciso mesmo de algué m para tomar conta da minha filha durante o verã o. Nã o estou sugerindo isto porque esteja com pena de você. De jeito nenhum! — Ele a olhou por cima da borda do copo. — Você vai gostar. Seis semanas à beira-mar e a amizade de Patrí cia. Se você nã o aceitar, vou ter que procurar outra pessoa... alguma mulher mais velha, sem dú vida, o que nã o vai ser tã o divertido para a garota.

— Você é muito persuasivo — Luana sorriu.

— Acho que você quer ser persuadida — disse ele francamente. — Londres é um lugar barulhento, confuso, e você vai se sentir muito sozinha. É melhor descansar algum tempo, preparar-se para a cidade grande. Ficando ao lado da minha filha, talvez você esqueç a um pouco a ansiedade destas ú ltimas semanas. Talvez isto torne mais suportá vel a dor que está sentindo agora.

— Você acha que Patrí cia vai gostar de mim?

— Ela é minha filha, Luana, e eu gosto de você. — Ele fez uma pausa enquanto o garç om servia o primeiro prato. — Você já pensou em ser enfermeira?

— Prefiro trabalhar com antigü idades. Coisas inanimadas nã o sentem dor quando se partem.

— Você é muito vulnerá vel, Luana, por isso precisa de um homem forte para cuidar de você.  Algué m diferente daquele ator; mais velho, menos româ ntico, com o pé na terra.

— Nã o quero me apaixonar de novo. É tã o maravilhoso. . . Mas quando tudo acaba sente-se mais a solidã o do que antes. — Ela deu um sorriso triste.

— Você devia sorrir mais vezes, Luana. Forma uma covinha.

— É esquisito. Só tenho covinha de um lado — acrescentou. Queria se esquecer que uma vez algué m també m havia reparado na covinha, que mais tarde tinha recebido muitos beijos. Para tirar aquela recordaç ã o da cabeç a, perguntou: — Onde Patrí cia vai passar as fé rias?

— Ah, num lugar encantador e cheio de lendas. — Os olhos dele iluminaram-se. — Tenho uma casa lá, ou melhor, dois chalé s ligados por dentro e modernizados, mas com a parte externa intacta. Sabe, paredes de pedra envelhecidas pelo tempo e um telhado de sapé bem espesso. Costumo ir lá para descansar, de vez em quando. Aí, tiro meu barco e pesco um pouco. Tenho um amigo que mora a alguns quilô metros. Fica mais agradá vel, se é que se pode dizer isto de um lugar tã o agreste, mas maravilhoso!

— Você só pode estar falando da Cornualha!

— Isso mesmo, mocinha. Nã o há nenhum lugar igual. A terra do rei Arthur e de seus cavaleiros. Onde o povo ainda acredita em sereias e onde o pessoal que mora nas charnecas atravessa depressa os campos de urzes quando o sol se põ e. Dizem que os homens de pedra ainda danç am e que se ouvem seus passos na relva. Sim, a Cornualha. Patrí cia adora o lugar. No ano passado uma prima pô de ficar com ela, mas depois se casou e eu acabei na mã o. — Ele olhou para Luana, enquanto cortava o filé. — Você vai gostar muito da Cornualha. É o lugar perfeito para algué m muito imaginativo. Pode-se tomar banho de mar, há praias maravilhosas, penhascos majestosos e ruí nas de velhos castelos que você s duas vã o poder explorar. Você ainda consegue resistir à minha conversa?

Ela deu um sorriso, ainda confusa.

A Cornualha era grande, mas, quando nã o se quer encontrar algué m, qualquer lugar toma-se minú sculo.

E ela nã o queria tornar a ver Eduard Talgarth, o homem que achava que o amor podia ser comprado.

— Nã o sei o que fazer — confessou. — Fico achando que Tarquin ainda pode se lembrar de mim, e se eu for embora. . .

— Olhe — disse Strathern —, vamos fazer um trato. Vá vê -lo amanhã. Fique diante dele, agora que está se restabelecendo, veja-o ao lado daquela atriz bonita e, se ele a reconhecer, esqueç a-se da Cornualha. Por outro lado — Strathern apertou os lá bios —, se você descobrir que nã o significa mais nada para ele, faç a o que eu disse. Vá para a Cornualha, para se encontrar com o barco que vai trazer Patrí cia da Bretanha. Vá com ela para o chalé e passe o verã o lá.

— É um ultimato?

— Sim, mocinha. Algué m tem que resolver as coisas para você. Estamos combinados?

Ela ficou brincando com o saleiro e o anel lanç ou uma luz azul no ambiente româ ntico do Mill.

— Que anel estranho! — Strathern comentou.

— E um escaravelho. Foi Tarquin quem me deu. Simboliza a proteç ã o e, segundo se acredita, dá sorte.

— Você está muito ferida, nã o é? — Strathern falou com uma delicadeza que teria surpreendido seus colegas, que o conheciam como um homem rude, sem tempo para dedicar à s mulheres, a nã o ser como pacientes.

— Sim. — Embora fosse de natureza reservada, Luana, sentiu que podia se abrir com ele. — Ele me dizia coisas tã o lindas. . . que precisava de mim. E agora sou a ú nica pessoa de que ele se esqueceu, como se eu nã o tivesse importâ ncia alguma.

— Como já lhe disse, é melhor nã o pensar muito em TarquinPowers agora. Ele está se sentindo muito culpado porque a ama e nã o à quela pobre criatura doente. Ele é um homem sensí vel, caso contrá rio nã o teria esses escrú pulos.

Os olhos de Luana encheram-se de lá grimas, pois seria muito difí cil esquecer aqueles dias perfeitos em que cada coisa que diziam, cada olhar que trocavam tinha toda a emoç ã o do amor que estava crescendo. Em seu coraç ã o ele era ternura e, ao mesmo tempo, tempestade.

— Vá vê -lo amanhã — disse Strathern. — Você vai ficar ainda mais magoada se ele a fitar com olhos de um estranho, mas há um remé dio.

— A Cornualha?

— Sim. A salvaç ã o pelo sol, Luana. Uma oportunidade para você esquecê -lo, ou para ele se lembrar de você. — Strathern tomou um gole de vinho. — Você está me perguntando com os olhos quando deve ir. Será no pró ximo fim de semana. Patrí cia vai sair um pouco antes das outras porque andou muito gripada e eu quero que respire logo o ar saudá vel da Cornualha. — A voz dele tornou-se rí spida. — Nã o quero que aconteç a nada com a menina. Ela é tudo o que tenho, alé m do meu trabalho.

Luana ficou comovida com aquelas palavras. Durante o resto do jantar eles conversaram sobre outras coisas. Quando se despediram, diante do Hotel BardandHarp, ela já tinha decidido o que iria fazer.

— Está bem. Vou fazer companhia a Patrí cia durante as fé rias. . . se Tarquin nã o me quiser.

— Ó timo! Até logo, mocinha. Ligue para mini contando o que resolveu.

— Vou ligar, sim. Boa noite, Hugh.

Ela ficou sozinha, embaixo da tabuleta com o nome do hotel que balanç ava ao vento. Tarquin e ela tornariam a se encontrar. . . para se amar?

 

Luana saiu de Avendon muito cedo, de trem, dirigindo-se para

Londres, onde ia passar alguns dias. Queria conhecer um pouco a cidade, em companhia de Hugh Strathern, e comprar roupas para as fé rias que ia passar na praia. Na sexta-feira seguinte partiria para Pencarne, para abrir o chalé, arejar as roupas de cama, comprar comida. O barco que traria Patrí cia chegava no domingo, o que lhe dava algum tempo para se acostumar com o chalé e com a vizinhanç a.

Hugh foi recebê -la na estaç ã o, mas nã o perdeu tempo em consolá -la. O que mais poderia dizer? Ela tinha ido visitar Tarquin, mas isso nã o curou a falha de memó ria que a tornava uma estranha para ele.

Strathern levou-a para um hotelzinho, onde tinha reservado um quarto, depois foram almoç ar num restaurante panorâ mico, de onde se descortinava a cidade inteira.  

Depois que pediu o aperitivo, ele lhe mostrou uma carta de Patrí cia, dizendo que estava muito contente porque o pai tinha encontrado uma boa companhia para ela, durante o verã o. Ela queria mostrar para Luana toda a Cornualha româ ntica. Visitariam Tintagel e Dozemare Pool, nas charnecas. E tinham que ir també m a St. Avrell.

— O chalé é perto de St. Avrell? — Luana olhou assustada para

Strathern, pois era lá que ficava o castelo do amigo de Charme!

— St. Avrell fica a uns oito quilô metros de Pencarne. — Hugh olhou para o rosto que revelava aborrecimento. — Os penhascos escarpados e as ondas altas tiram o castelo do mapa dos turistas comuns que querem tomar sol ou fazer compras. Parece que você já ouviu falar dele. . . talvez em relaç ã o ao caso da moç a que foi encontrada numa das cavernas, estrangulada com o pró prio cabelo.

Luana prendeu a respiraç ã o.

Tinha que haver alguma coisa de dramá tico no lugar em que Eduard Talgarth morava.  

Tinha que haver imponê ncia, mares bravios e uma moç a estrangulada pelo amante.

— Você está entusiasmada com essas fé rias?

— Acho que sim.

Ela se inclinou para olhar a vista. Hugh mostrou-lhe os pontos mais interessantes e Luana procurou prestar atenç ã o. Agora tinha que olhar para a frente e tentar se esquecer do sorriso polido de um estranho que Tarquin lhe dirigiu quando se despediram. Seu ú nico consolo era que agora ele estava bem melhor. Voltaria ao palco. Iria a Roma e talvez nunca mais se lembrasse da moç a para quem tinha dito: " Venha-comigo. Nã o agü ento mais ficar sozinho. . . "

Depois do almoç o, Hugh levou-a para o terraç o, onde ela comentou que se sentia como se estivesse na popa de um navio.

— Você tem muita imaginaç ã o — disse ele. — Patrí cia vai gostar. Ela é como você, Luana. Româ ntica, idealista. . . As duas vivem no mundo da lua. Você precisa de proteç ã o.

— Oh, nã o sei. — Ela sorriu. -— Tive que me arranjar sozinha desde que minha mã e morreu. Meu padrasto nã o se preocupava comigo e Charme nunca soube o que fazer com algué m que preferia passear na margem do rio a ficar debaixo do secador de ura cabeleireiro. Tinha que ser independente e acho que me saí bem.

— Você se saiu esplendidamente — ele concordou —, mas vive muito sozinha, nã o é, mocinha? Talvez tenha sido por isso que se apaixonou tanto. . .

— Nã o. — Ela sacudiu a cabeç a. — Nã o amo Tarquin para fugir da solidã o. Foi alguma coisa má gica que aconteceu, como se estivé ssemos enfeitiç ados. Acho que nunca irei esquecê -lo.

— Entã o você estará se condenando a uma vida solitá ria, Luana.

— Uma mulher, ou um homem, nã o pode. encontrar outra coisa alé m do amor para superar a solidã o? — Ela fitou o cirurgiã o nos olhos. — Você nã o encontrou?

— Meu trabalho é importante para mim e para os outros, mas no fim do dia vou para casa e encontro tudo arrumado, como sozinho alguma coisa preparada por minha empregada, leio, vejo um pouco de televisã o e tenho alguns amigos no golfe. Nã o, Luana! Há muito pouca coisa que pode substituir o amor.

— Entã o formamos um par! — Ela sorriu, inocente. —- Perdemos a pessoa que amá vamos. Hugh, você foi muito amá vel trazendo-me aqui.

— Temos que ir a outros lugares antes de você. viajar para a Cornualha. Você conhece bem Londres?

— Nã o muito. Antes de Catarina morrer, morá vamos em Warwick, onde ela trabalhava para uma escritora excê ntrica. St. Cyr apareceu um dia para tratar da compra de algumas terras, viu minha mã e e apaixonou-se. Acho que ela se casou mais por minha causa. Queria seguranç a e tinha medo de que me pusessem num orfanato se ela morresse enquanto eu era crianç a. Mas acho que nunca me adaptei à casa dos St. Cyr. Só fui realmente feliz com Tarquin. . . — Luana virou-se para Hugh Strathern. — Nã o estou triste. Sei que ele vai ficar bom, e isto me alegra.

Ele tem muito a dar ao mundo e acho que eu sempre soube que as horas que passamos juntos eram maravilhosas demais, parecidas demais com um sonho para durar.

Ficaram em silê ncio, como se Strathern estivesse comovido. Depois ele comentou, com a voz um tanto rí spida:

— Estou contente porque você e Patrí cia vã o fazer companhia uma para a outra durante o verã o. Foi um bom arranjo.

— Eu també m gostei.

— Sim, você parece um pouco mais alegre.

Enquanto esperavam o elevador, Luana afastou os olhos de um casal jovem, de mã os dadas. Nã o podia deixar de se lembrar do homem que costumava pegar-lhe a mã o, apertando um pouco o anel que tinha em sua mã o esquerda e que ela jogou longe, achando que ele estava caç oando dela.

Continuaria a se lembrar de tudo o que Tarquin tinha dito. Ele tinha esquecido e talvez nunca mais se lembrasse da moç a que chamava de " ninfa querida".

 

Nos dias que se seguiram, Luana explorou Londres em companhia de Hugh Strathern, sempre que ele tinha algum tempo livre. Naquele dia, estavam debruç ados na ponte Tower, olhando as á guas do Tâ misa. Antigamente era de lá que saí am as barcaç as reais para os outros palá cios à margem do rio.

— Você já quis viajar para lugares distantes? — Luana sorriu. — Ver as ilhas Molucas e os pagodes de sete andares?

— E você, mocinha?

— Oh, eu sou sonhadora. Mas acho que esses lugares, na realidade, nã o sã o tã o exó ticos quanto imaginamos. Onde será que aquele navio esteve e o que terá nos porõ es? — Luana mostrou um navio atracado. — Alguma coisa bem comum, espero. Barris de rum ou sacos de aç ú car.

— Por que nã o sedas, perfumes e pé rolas contrabandeadas?

Hugh estudou-a com um sorriso estranho.

— Você parece muito interessada nesse tipo de comé rcio, que ainda é praticado em algumas partes do Oriente.

— Sim, desconfiei disso depois que fiquei conhecendo algué m. . . um homem que estava interessado em minha irmã de criaç ã o. Tenho certeza de que já foi pirata em alto-mar! — Ela deu uma risada. — Hugh, você acha que sou tã o jovem e tã o româ ntica quanto Patrí cia?

— Em alguns pontos você é jovem. Em outros. . . — Ele colocou a mã o sobre a dela, que estava na grade da ponte. — Bem, mocinha, onde vamos almoç ar?

— Onde você quiser. — Luana tirou a mã o, para alisar o cabelo. Nã o devia flertar com Hugh. Ele era um homem solitá rio, podia dedicar-lhe alguma coisa mais do que amizade e ela nã o queria magoá -lo.  

No dia seguinte iria para a Cornualha e Hugh voltaria para seu trabalho. Logo se esqueceria daqueles momentos româ nticos e ela també m nã o sentiria mais aquele impulso traiç oeiro de procurar consolo nele.

— Vou visitá -las daqui a um mê s — disse Hugh, ao se despedir de Luana mais tarde, no hotel. — As chaves do chalé estã o com a sra. Lovibond, que cuida da casa. Ela e o filho, que é pescador, moram logo abaixo, por isso você nã o vai se sentir tã o isolada. També m entrei em contato com o gerente do banco de Pencarne e deixei bastante dinheiro depositado para você e Patrí cia. Será que nos esquecemos de alguma coisa?

— Acho que nã o. Vou esperar o navio que vem da Bretanha na manhã de domingo e a freira que está acompanhando Patrí cia me entregará a menina.

— Isso mesmo. Irmã Grace estará vestida com o há bito religioso, de modo que você nã o terá dificuldade em reconhecê -la.

— Aposto como Patrí cia tem o seu cabelo.

— Sim, é verdade, mas no rosto ela se parece com a mã e e isto me preocupa um pouco... Bem, mas acho que esse verã o vai fazer muito bem para Patrí cia. Você tem que cuidar para que ela tome muito sol, respire o ar do mar e coma bastante.

— Serei uma irmã mais velha para ela em todos os sentidos — Luana assegurou. — Estou acostumada com barcos, por isso posso levá -la. . .

— Nã o! — A palavra saiu com toda a rispidez. — Você s duas sozinhas, de jeito nenhum! Jim Lovibond pode levá -las no Saucy Bride. As á guas naquele pedaç o da costa da Cornualha sã o muito bravias para você. Vá sempre com Jim. Insisto nisto.

— Está bem — ela assegurou. — Prometo fazer tudo o que você recomendou a respeito de Patrí cia. E as charnecas, Hugh? Ouvi dizer que há muitos pâ ntanos.

— Patrí cia tomará cuidado, mas nã o há muitos em redor de Pencarne. É só perto de St. Avrell que você vai ter que tomar cuidado, especialmente " num dia de neblina.

— Nã o iremos para aquele lado. . . pelo menos nã o mais de uma vez, se Patrí cia quiser visitar o castelo. — Luana estava tensa, pois nã o queria se encontrar com Eduard Talgarth. Mas era estranho... tã o estranho que ele tivesse dito que ela visitaria o lugar onde morava, onde as urzes eram tã o altas que podiam esconder uma moç a. Era como se ele soubesse. . . Entretanto, como algué m poderia saber, e Talgarth ainda menos, que um raio iria pô r fim ao que havia entre ele e Tarquin, e que iria procurar se esquecer de sua dor na Cornualha?

— É um lugar interessante — disse Hugh. Depois, ele a segurou pelos ombros e sorriu com tristeza. — Vou sentir sua falta, Luana. Você vai me escrever?

— É claro. Quero que você tenha notí cias de Patrí cia.

— Suas també m. — Ele estava muito sé rio. — Você deve ter desconfiado que a acho uma moç a extraordiná ria, com um coraç ã o de ouro.

— Obrigada, Hugh.

— Nã o seja formal! Nã o estou ainda tã o velho que nã o sinta vontade de beijar uma moç a bonita, e é o que você pede com esse ar inocente, como se estivesse com o seu tio favorito.

— Nã o quero perder sua amizade — disse ela gravemente.

— Você acha que um beijo a estragaria?

— Pode ser, Hugh. Nã o somos pessoas superficiais, acostumadas a brincar com o amor, e você sabe como me sinto a respeito de Tarquin. Nã o foi apenas o caso de uma moç a que se apaixona por um ator bonito. Estas semanas na Cornualha vã o provar quanto foi profundo.

— Muito sensata, apesar de tã o jovem, nã o é, Luana? Sim, você vai se submeter a essa prova. Tem que descobrir sozinha se seu coraç ã o pertence para sempre a TarquinPowers.

Despediram-se pouco depois e Luana foi arrumar a mala.

Terminando logo, ficou sem ter nada que fazer até a hora de embarcar. Nã o tinha cartas para escrever, nem telefonemas a dar. Já tinha ligado para Ann e soube que Tarquin estava cada vez melhor. Quis dizer: " Mando-lhe todo o meu amor", mas estas palavras nã o teriam nenhum significado para ele.

Foi até a janela do quarto e viu que os carros estavam molhados. Será que cada vez que chovia lhe acontecia alguma coisa importante?

 



  

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