Хелпикс

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A intrusa 6 страница



— É muito ruim? Você pode comê -la diretamente sem tirá -la da casca, ou com o talher, de maneira mais sofisticada.

Ele voltou para sua cadeira e demonstrou como comer as ostras, pondo-as diretamente na boca e engolindo-as juntamente com o caldo de uma só vez. Figo e ostras, pensou ela, tudo misturado com crenç as pagã s sobre o amor. Aquele homem tinha impregnado aquela casa com sua personalidade de tal forma que era difí cil imaginar que os monges tivessem entoado câ nticos religiosos nos seus corredores e mesmo comido pã o preto e sopa em tigelas de madeira ali, naquela mesma sala.

— Você nã o se importa sabendo que esta casa já foi lugar de oraç ã o e penitê ncia?

— Por que deveria? — Tomou um grande gole de vinho. Trabalhei duro para ter o que tenho; por que deveria viver como os monges que aqui viveram um dia? É possí vel a um homem sublimar seus instintos no trabalho e você sabe que é á rdua a vida de quem ingressa numa ordem religiosa. Mas nã o é uma vida natural. Se tivesse de ser assim, para que Deus teria criado a mulher? Naturalmente seria mais fá cil se os seres humanos se reproduzissem como as plantas. Acontece que ele nos deu a paixã o, nã o foi? — Sua voz tornou-se mais suave nas ú ltimas palavras, como se quisesse que ela lembrasse da cena no Phaedra, quando ela tinha sentido, pela primeira vez, a forç a do desejo de um homem.

— Estou certo de que você deve ter uma opiniã o sobre o assunto

— afirmou sorrindo. — O que complica as coisas entre um homem e uma mulher é a extrema diferenç a que existe entre eles.

— Alguns homens sã o mais complicados do que os outros!

— Algumas mulheres també m. Você, por exemplo, tem medo de ser o que é realmente. Mas uma semana na ilha lhe fará bem. Há alguma coisa pagã nela que faz a gente perder as inibiç õ es. Você vai acabar diferente, livre, correndo pelas praias.

Como Timareta, pensou.

— O senhor viu a verdadeira Alice Sheldon em seu barco; uma profissional correta que usa ó culos e que ficará muito contente se voltar a trabalhar em sua terra, sem o perigo de piratas raptores! Ela quase se levantou ao dizer isso, como se já estivesse para partir.

— Sente-se! — ordenou ele. — Você nã o vai a lugar algum sem minha ordem!

 

 

                                   CAPÍ TULO VI

 

Alice obedeceu contra a vontade, olhando espantada para ele que segurava o cá lice de vinho na mã o.

— Nã o acredito em você! Quem quer enganar? — Ele estava tã o furioso que poderia ter atirado o vinho no rosto dela.

— Pouco importa! — exclamou. — Você é um porco chauvinista!

— A maioria dos homens gregos é, na sua infinita sabedoria. Agora vamos parar com essa discussã o idiota e comer antes que a comida esfrie. — Ele a serviu de carneiro assado, batatas e berinjela recheada com arroz.

— É suficiente?

— Sim, obrigada. — Ela deu uma olhada para ele quando pegou a faca e começ ou a cortar a carne.

— Nó s gregos gostamos que apreciem nossa hospitalidade.

— Hospitalidade? Você é quem está enganado. Eu nã o vim para cá por vontade pró pria!

— Vamos esquecer isso por enquanto. — E antes que ela pudesse responder, ele encheu novamente seu cá lice de vinho. — Eu devo me portar como perfeito anfitriã o e você como perfeita hó spede. O carneiro está bom, nã o?

— O carneiro sim — respondeu. Se pelo menos pudesse acreditar nele, seria maravilhoso relaxar e gozar uma semana de fé rias naquela ilha cheia de sol.

— Você mora aqui? — perguntou, curiosa.

— Venho algumas vezes durante o ano para ver as coisas e descansar dos negó cios em Atenas. Nã o quero me tornar escravo das obrigaç õ es; muitas vezes, penso em vender meus hoté is e vir para Solitá ria cultivar minhas figueiras e oliveiras tal como faziam os antigos monges.

Entretanto, para isso eu teria de estar tranquilo. — Ele encolheu os ombros significativamente. — Contente com a vida. E você nã o está tranquilo? — perguntou, achando impossí vel associar tranquilidade com algué m tã o ativo.

— E você? Acha que já encontrou a resposta para os seus sonhos? Ela sabia do que ele estava falando mas nã o queria começ ar outra discussã o. Pela resposta de Berta, logo ele ia saber que ela nã o tinha nada a ver com o armador grego. Nã o era de admirar que Alberta tivesse perdido a vontade de se casar com Damaskinos e quisesse que algué m fosse lhe dar a notí cia do rompimento. Pensando bem, tinha sido pura tolice sua ter se encarregado da tarefa, especialmente depois que a irmã lhe avisou que os homens gregos eram difí ceis.

— Fale-me de sua ilha, sr. Kassandros. Está satisfeito em tê -la? O resto do jantar ele falou sobre Solitá ria e das coisas boas que tinha para divertir um hó spede. Era boa para nadar desde que as pessoas ficassem de olho nos tubarõ es. Havia rochas para se explorar e praias para se tomar sol. Falou també m sobre as plantaç õ es e dos locais de culto pagã o. Fazia tudo parecer fascinante! Alice concluiu que ali seria o lugar ideal para suas fé rias, se pelo menos fosse senhora da pró pria vontade e pudesse confiar em Stefan como um verdadeiro anfitriã o.

Quando serviu café de um bule de cobre, Stefan sorriu parecendo advinhar os pensamentos de Alice.

— Este nã o vai fazer você dormir.

— Como posso ter certeza disso?

— É só você ver como eu bebo. Ah, delicioso! — exclamou com os olhos semicerrados. — É desse jeito que os gregos gostam do café, quente e doce como um beijo de virgem. Vamos, você deve aprender a acreditar em mim já que vamos viver juntos.

— É difí cil achar que isto seja viver juntos — respondeu com raiva.

— Nã o? — Por momentos seus olhos brilharam. — Nó s vamos dormir debaixo do mesmo teto, ou você pensa que eu vou dormir no Phaedra? Nã o acredito nessas falsas gentilezas!

— Nunca imaginei que acreditasse. Mas lembre-se de que estou apenas na sua casa e nã o vivendo nela.

— Ah, em inglê s deve haver uma leve diferenç a, nã o?

— Você sabe muito bem que há e nã o queira fingir que nã o entende.

— Está assim tã o desapontada com a Gré cia? Nó s temos uma histó ria tã o interessante quanto a da Inglaterra; uma cultura mais antiga que a dos romanos e certamente muito mais sol. Mas nã o vamos ficar aqui conversando sobre os pratos, vamos para o salã o; os sofá s de lá sã o mais aconchegantes para você tã o pouco vestida.

Alice sentiu vontade de dizer que preferia ir para a cama, mas, ao mesmo tempo, sentia-se fascinada por aquele grego tã o senhor de si. De ó rfã o, havia se tornado um rico hoteleiro e isso devia ter custado muita luta. Da mesma forma como a tinha raptado sem se importar com a lei,. apenas para se vingar de um inimigo. Em sua vida, Alice nunca tinha conhecido algué m igual. Ela o acompanhou até o salã o. Sentou-se num sofá macio perto da lareira, de onde vinha um aroma agradá vel de cipreste queimado.

Numa mesinha de tampo incrustado com pequenos pedaç os de vidro colorido, havia uma baixela cheia de biscoitos recheados de nozes e pedaç os de frutas cristalizadas.

— Você é totalmente grego? — perguntou.

— Por que pergunta? — Ele estava de pé ao lado da lareira, com a xí cara de café na mã o.

— Nã o sei. Ouvi dizer que muitos gregos tê m sangue turco.

— Minha mã e veio das montanhas da Macedô nia — disse ele. Uma raç a dura e pagã. Isso responde sua pergunta?

— Completamente — respondeu, dando uma olhada em seu corpo forte debaixo de smoking bordo. A roupa era, na realidade, a coisa mais civilizada nele. Nos seus ossos fortes e cabelos castanho-claros ela podia adivinhar a origem pagã que estimulava sua ambiç ã o por dinheiro e poder. Se Timareta nã o tivesse morrido, poderia ter domado Stefan, apesar de ele nã o ser o tipo que se permitisse a isso.

Alice sobressaltou-se com esses pensamentos. Continuou a beber o café enquanto olhava o fogo na lareira. Chamas azuladas saltavam da tora sustentada pelo suporte de ferro. Ela ouviu o ruí do do isqueiro e depois sentiu o cheiro forte de charuto.

— Prove alguns doces turcos — disse ele. — Sã o feitos em casa e da maneira como você comeu no jantar, acho que você nã o é daquelas que se preocupam muito com regimes estú pidos. De qualquer forma você tem um belo corpo.

Alice sentiu um arrepio. Nã o queria que ele pensasse em seu corpo e nem que falasse dele, mas ao mesmo tempo sentia certo prazer em ouvi-lo falar assim. Ela inclinou-se para a mesinha e pegou um punhado de doces recheados.

— Acho que a receita deles vem de um antigo haré m turco disse Stefan devagar. — Os beys costumavam encher suas mulheres de doces, tanto que algumas ficavam tã o gordas que precisavam ser carregadas para o leito em liteiras. Quando comprei esta casa e comecei a mobiliá -la, comprei uma pequena coleç ã o de livros num leilã o; se você gosta de ler, Alicia, acho que vai gostar muito deles. Parece que o autor passou algum tempo pesquisando sobre a vida nos haré ns orientais e é fascinante ler o que ele descobriu naqueles lugares.

— Por que imagina que eu esteja interessada em haré ns turcos?

Alice olhou friamente para ele. — Acho que deve ser horrí vel

ficar presa num lugar daqueles esperando ser desejada pelo bey.

Esse poderia ter sido o seu destino! — exclamou soltando a fumaç a do charuto pelo canto da boca. — Algumas dessas mulheres eram muito espertas e se tivessem sorte conseguiam um lugar permanente no coraç ã o do amo. Mas mesmo para elas havia um certo perigo, pois as outras mulheres, enciumadas, subornavam os eunucos para conseguirem venenos que colocavam nos doces ou sorvetes.

Stefan olhou preguiç osamente pelo salã o, cuja mobí lia e cortinas tecidas a mã o davam um ar extremamente acolhedor. — Você acha que minha casa faria uma mulher feliz. Alicia?

Ela seguiu seu olhar pelos tapetes, cortinas, pelas janelas ovais com vidraç as protegidas por arabescos de ferro. No que ele estaria pensando? Que tinha uma mulher ali ao seu dispor e que essa mulher há muito tempo ansiava por seu amor?

Stefan prosseguiu:

— Sim, é uma coisa estranha! Nã o importa quã o bem mobiliada esteja uma sala, ela nã o terá vida sem a presenç a de uma mulher. Tudo muda, o sofá onde você está, o tapete em que pisa quando se inclina para apanhar os doces. É como se as mulheres tivessem uma espé cie de luz que torna tudo mais vivo e gostoso... um fogo interno que se expande aos poucos. Os homens tê m energia, mas as mulheres tê m aquela chama que atrai.

Alice se encolheu no sofá e percebeu como a casa estava silenciosa, como se todos os empregados tivessem ido dormir, deixando-a completamente só com Stefan.

— Está ficando tarde. Eu acho que...

— Você quer ir dormir, é isso?

Seu tom de voz era insinuante e Alice teve de fazer forç a para ficar sentada, quando sua vontade era correr para a porta.. Tal atitude seria idiotice. Se ela fugisse, ele a perseguiria e tudo o que tinha acontecido no Phaedra ia se repetir.

Na verdade, Alice nã o acreditava que ele fosse um homem cruel ou perigoso. No fundo seu mal era a profunda solidã o. Uma atitude impensada dela somada à sua semelhanç a com Timareta bastaria para fazer tudo explodir. Ela tinha desmaiado no barco porque estava muito fraca. Nessa noite, entretanto, tinha jantado bem, bebido vinho e se aquecido ao fogo da lareira, mas Stefan a fazia sentir outra espé cie de fraqueza!

— Sim, estou muito cansada — disse ela casualmente. — Você se importa que eu vá para o meu quarto? Se nã o, este calor gostoso vai me fazer dormir aqui mesmo.

Ele olhou para ela e deu um sorriso malicioso.

— E eu teria de carregá -la para a cama como uma crianç a. Sua boca contraiu-se. — Você está com medo que eu nã o cumpra minha palavra, nã o é?

— Nã o pode imaginar como!

— Acho bom que você esteja dizendo a verdade, minha querida.

— Ele semicerrou os olhos, medindo-a de alto a baixo. — Eu nã o gosto de mulheres que mentem e acho que você está querendo ganhar tempo na esperanç a de poder fugir. E isso é pouco prová vel. Você nã o deve contar com qualquer tipo de socorro. Ningué m me viu carregando você no elevador de serviç o do hotel e nem a colocando dentro do carro. Fui direto para o cais e tudo estava deserto e escuro quando a carreguei para bordo. É incrí vel como uma aç ã o rá pida pode levar um plano ao ê xito.

— Você vai me deixar partir quando receber a resposta de minha irmã? — perguntou cheia de suspeitas. — O telegrama vai provar que nunca menti para você!

— É melhor que prove mesmo — disse ele, atirando o resto do charuto no fogo. — Vamos, vou levá -la ao seu quarto.

— Oh, deixe que posso ir sozinha! — Ela ficou de pé. — Por favor, nã o precisa vir comigo.

— Lamento, mas quero ir junto. — Ele riu. — Eu já disse que vou me comportar como o mais perfeito anfitriã o e nã o vou permitir que minha hó spede vá sozinha para seu quarto. Você pode sentir medo quando subir aqueles degraus pelos quais os antigos monges costumavam passar.

Sentiu um arrepio quando ele a segurou pelo braç o conduzindo-a para a porta. Atravessaram o grande hall em direç ã o à escada e Alice notou que o grande candelabro de bronze estava apagado e que somente as arandelas da parede iluminavam os degraus que levavam ao corredor. Estava escuro pelos cantos e os degraus rangiam. Era verdade! Ela bem podia imaginar uma figura encapuç ada vindo atrá s dela se Stefan nã o estivesse ao seu lado.

Quando chegaram a sua porta, pararam, e ele levou a mã o ao ombro de Alice, apertando-a.

— Eu lhe prometo — disse ele. — Sua cama foi aquecida e perfumada com essê ncias. Espero que nã o se sinta só.

Seus olhos se encontraram. Alice sabia que ele queria entrar, que bastava uma pequena deixa. Seu coraç ã o batia forte e ela podia ler nos olhos escuros o que estava para acontecer... seus dedos iam desmanchar seus cabelos e ele mergulharia nos seus olhos verdes fazendo de conta que estava abraç ando Timareta, apertando-a em seus braç os famintos.

— Nã o! — Ela se afastou e agarrou forte na maç aneta. Abriu a porta e disse boa noite.

Entrou depressa e trancou-se, recostando-se na porta toda tré mula. Depois, colou o ouvido a ela e percebeu que Stefan ainda estava lá,

— Vá embora! — suplicou baixinho. — Por favor! — Ela sabia que ele iria, silencioso, com o fantasma de Timareta a seu lado.

Soltou um suspiro e caminhou para a cama. Sua longa solidã o amorosa nã o a tinha preparado para situaç õ es como aquela. Se fosse Berta, saberia exatamente como agir com aquele homem. Ela, entretanto, tinha entrado em pâ nico e sabia por quê! Havia uma profunda solidã o nos olhos de Stefan e ela tinha sentido uma grande vontade de abraç á -lo com ternura, esquecendo que ele a havia raptado e que nã o ligava nem um pouco para os seus sentimentos. Ele queria apenas satisfazer seus desejos.

Oh, Deus! O que estava acontecendo com ela? Alice mergulhou os dedos nos cabelos e desmanchou o coque. Deslizou as mã os pelo contorno de seu corpo. Será que estava começ ando a gostar daquele homem? Havia alguma sensualidade nela que mexia com ele, embora ele a tivesse levado para a ilha só por vinganç a?

Seus olhos brilharam quando se lembrou dele no seu smoking elegante, com a camisa branca contrastando com a pele morena. Era o tipo do homem que nã o podia passar despercebido numa sala cheia de gente e Alice nã o podia negar que estava impressionada com seu magnetismo. Essa transparê ncia em seu rosto, na maneira de agir... Era homem até as pontas dos cabelos e nunca em sua vida Alice havia encontrado algué m como ele.

Lá fora, no corredor, teve vontade de tocá -lo, mas sentiu medo das consequê ncias. Ela nã o era fria e muito menos frí gida, mas durante muito tempo tinha reprimido seus instintos por que nã o tinha ningué m com quem pudesse se expandir. Agora ela encontrara Stefan Kassandros, um homem que a havia raptado e que a mantinha em sua ilha, e cujo coraç ã o pertencia a uma mulher morta.

Ela respirou sentindo profundamente a vibraç ã o de todas aquelas coisas estranhas. A cama aquecida por brasas e essê ncias, o brilho esmaecido das lâ mpadas refletindo-se no í cone colocado na parede em frente da cama. Tinha a impressã o de que ia acordar e descobrir que tudo nã o passava de um sonho, cheio de fascinaç ã o e terror. Stefan sabia, com seu instinto diabó lico, que ela nã o queria realmente voltar para sua vida rotineira em Londres.

A resposta de Berta ia libertá -la de Stefan e ia possibilitar sua volta à quele apartamento insignificante, onde ela trabalhava, lia seus livros preferidos e assistia alguns programas de televisã o. Limpo e ordenado, onde os ú nicos homens que entravam eram o encanador e o encarregado da leitura do reló gio da eletricidade.

Alice olhou para a porta que quase tinha batido na cara de Stefan. Por que havia feito aquilo? Qual o significado daquele gesto? Estaria tentando fechar uma porta sobre seus pró prios desejos? Colocar uma muralha entre ela e aquele homem que lhe despertava emoç õ es tã o diferentes? Será que seu romantismo a impedia de encarar a realidade de que um homem e uma mulher devem manifestar seus desejos um pelo outro da forma mais natural possí vel?

Nã o podia ficar sentada a noite inteira, atormentando-se com esses pensamentos. Estava predisposta a imaginar toda espé cie de coisas naquela casa sobre os rochedos, com balcõ es debruç ados sobre o mar e chaminé s que quase tocavam o cé u. Ao amanhecer, o sol parecia envolvê -la em labaredas de fogo como que a indicar que tudo ali era pagã o e selvagem.

Descalç a, Alice começ ou a se preparar para dormir. Tirou o vestido que tinha irritado Stefan e a lingerie. Vestiu um pijama de seda sem mangas e estava escovando os dentes no banheiro quando ouviu algué m abrir a porta do seu quarto. Pegou uma toalha e enxugou a boca. Cheia de medo foi para o quarto e viu Stefan ao lado da cama. Ficou olhando para ele, sem forç as para se mexer. Tinha vontade de gritar, mas as palavras nã o saí am. Aos poucos, poré m, sentiu que as forç as voltavam e pô de falar.

— O que você quer? — Sua voz estava estranhamente alta. O que está fazendo aqui?

— Eu bati na porta — respondeu, calmo -, mas você estava no banheiro com a torneira aberta e nã o me ouviu. Estou só trazendo uma bebida especial para acalmar seus nervos, que aliá s parecem nã o estar nada bem no momento.

Alice olhou para o vidro em suas mã os como se fosse algum veneno. Ele sorriu e ela desconfiou ainda mais.

— Eu nã o quero. Meus nervos ficam perfeitamente bem quando você nã o está por perto!

— Muito interessante! Eu a perturbei, Alicia? — Seus olhos refletiam o brilho das lâ mpadas e ele estava sem o paletó do smoking e a gravata. Sua camisa branca aberta deixava ver o moreno do peito coberto de pelos escuros. Naquele momento, se ele fosse um tigre, nã o seria tã o perturbador. Ela se afastou como se procurando proteç ã o no í cone da parede que representava a virgem em repouso. Esbarrou o corpo pouco vestido contra o canto de uma arca e recuou.

— Nã o seja tola — disse ele. — Esta bebida é endaxi e nã o uma poç ã o do amor para fazer você perder a cabeç a. Eu prefiro uma mulher que faç a as coisas sem a ajuda de afrodisí acos. Venha! Por que um simples gesto meu parece tã o sinistro para você?

O senhor ia confiar em algué m que o tivesse raptado e depois o levado para uma ilha selvagem?

— Muito bem. vou provar que esta bebida é inofensiva. — Assim falando, ele levou o cá lice aos lá bios e bebeu. O cá lice era de prata em forma de lí rio com adornos em relevo.

— vou deixar o cá lice aqui na mesinha de cabeceira. — Ao se inclinar, ele viu a cama pronta para Alice dormir, a dobra do lenç ol afastada para que ela deslizasse facilmente entre as cobertas. A luz tornava o quarto aconchegante e Alice estremeceu diante da intenç ã o do olhar de Stefan. Teve consciê ncia dos seus braç os nus e dos seus cabelos soltos... Sentiu uma necessidade incrí vel de proteç ã o e instintivamente se pô s debaixo da figura da virgem.

— Você acha que isso poderia me deter? — perguntou, sorrindo.

— Realmente, nã o pode deter ningué m que seja pagã o! — respondeu confusa. — Mas nã o acredito que você ouse ir alé m do rapto.

— Será realmente um rapto, Alicia? Se é verdade que você teve uma vida solitá ria como diz, entã o deve estar mais necessitada de amor do que imagina. Essa pele branca, essas curvas... Você nã o anseia pela carí cia de um homem? Eu nã o a machucaria, sua tolinha. Eu poderia fazê -la gritar de prazer, o prazer má ximo que um homem e uma mulher podem se proporcionar.

— Vá embora — pediu. — Deixe-me sozinha e pare de me insultar.

— Isso é insultar? — Ele ergueu a sobrancelha ironicamente. Pensei que estivesse fazendo um elogio. De acordo com o que você me contou, poucos tiveram a coragem de tentar descobrir quem você é realmente. O que você acha que é? A impecá vel mulher de carreira, de ó culos e cabelos presos, muito compenetrada e honesta para excitar um homem? — Ele olhou deliberadamente de alto a baixo como se a despisse. — É verdade que você nã o é tã o bonita quanto as outras garotas inglesas que tenho visto, mas tem um charme escondido e diferente que me faz lembrar daquelas flores que só as abelhas mais persistentes ousam explorar e nas quais à s vezes elas se perdem sem poder sair.

— E o que você quer dizer com isso?

— Minha cara Alicia, será que terei de explicar o que é a vida para você? Para uma mulher de vinte e quatro anos? Eu realmente nã o sei o que pensar de você. Se é ingé nua demais ou atriz brincando comigo por detrá s de má scaras. Como você deve saber, os atores dos dramas gregos usam má scaras.

— E a vida també m nã o nos obriga a usar má scaras? — replicou.

— A quantas pessoas podemos confiar o nosso pró prio eu?

— É verdade, você está certa! É por isso que o drama grego é representado daquela forma. — Ele olhou pelo quarto onde havia algumas peç as í ntimas jogadas, a lingerie, as meias de ná ilon atiradas sobre o tapete ao lado das sandá lias. Olhou depois para a penteadeira onde estavam os cosmé ticos e a escova de cabelo de cabo de tartaruga onde se via a inicial A em minú sculas pé rolas.

Ele foi até a penteadeira e pegou a escova de cabelo e passou o polegar sobre o relevo da inicial.

— Eu me lembro de uma garota que costumava escovar os cabelos até que eles brilhassem e caí ssem sobre seus ombros. — Ele olhou para Alice que estava ouvindo com atenç ã o, desconfiada das suas intenç õ es. — De certa forma, você s se parecem, só que ela era mais aberta, mais espontâ nea e sobretudo mais honesta.

— Você nã o tem o direito de me chamar de desonesta e alé m disso acho que nã o me pareç o nada com a garota que você amou.

— Alice nã o queria que ele soubesse que já tinha visto o retrato de Timareta e o quarto que ele havia transformado em santuá rio. Ela se sentia como uma intrusa e, ao mesmo tempo, sentia uma ponta de ressentimento. Nã o queria se parecer com algué m que ele achava impossí vel esquecer. — Tenho certeza que sua noiva era uma grega perfeita. Eu sou uma solteirona inglesa tí pica!

— Nã o acho — disse Stefan e aproximou-se dela. Alice se encolheu instintivamente. — Creio que uma simples blusa grega, uma saia bordada e o cabelo solto...

— Eu nã o sou Timareta! — Alice exclamou sem poder se conter.

— Deixe-me sozinha, eu sou eu e nã o posso reviver um fantasma. Deixe-a descansar! E me deixe sozinha se nã o eu grito!

Ela gritou de fato, desequilibrando-se para trá s num tamborete. Sem poder se equilibrar, caiu e ficou lá ofegante. Stefan abaixou-se e a levantou, amparando-a nos braç os.

— Você se machucou, tolinha? — perguntou carinhosamente.

— Você me deu medo — confessou, tré mula. — Era como se você estivesse procurando por Timareta e eu nã o posso me transformar nela. Por favor! Eu nã o posso ser ningué m alé m de mim mesma. E eu entendo como deve ser triste a gente perder a quem amamos.

— Alice Sheldon, hein? — disse ele, massageando o ombro que ela tinha machucado na queda. Suas mã os eram firmes e quentes. Ela tremeu e sentiu um arrepio nos seios em contato com o tecido fino do pijama. Era como se seu corpo fosse alguma coisa separada dela, cujas sensaç õ es estivessem em conflito com seus temores. Desesperada, tentou nã o acreditar que estava desejando ser acariciada por aquele homem. Lembrou-se de Berta, que se vangloriava de ser acariciada loucamente pelos homens enlouquecidos com sua seminudez.

Quem nã o gostava nada daquilo era Harry; mas ele, segundo Berta, era um quadrado!

Eu sou puritana, Alice pensou; mas de repente nã o estava mais certa de sua pró pria natureza, sentindo apenas uma sensaç ã o de abandono enquanto Stefan a carregava. Ele a pô s na cama e acariciou seus cabelos enquanto a observava. Ela olhou para ele e sentiu vontade de se aninhar naqueles braç os fortes. Mas nã o podia! Nã o era como Berta que desconhecia a diferenç a entre a simples satisfaç ã o fí sica e o verdadeiro amor. Alice estremeceu ante os pró prios sentimentos e Stefan, percebendo seu estado, tomou-o como sinal de repulsa e levantou-se repentinamente.

— Que espé cie de mulher é você? — Seus olhos a percorriam de alto a baixo com curiosidade. — Nã o quer ceder para me forç ar a casar com você, é isso?

Suas palavras a atingiram profundamente; depois, ele afastou-se e dirigiu-se para a porta como se nã o pudesse ficar mais sozinho com ela no quarto. Saiu sem dizer nada e Alice sentiu o quarto esfriar, como se toda a vibraç ã o de vida tivesse cessado.

Ficou como ele a tinha deixado. O braç o esquerdo dobrado sobre o travesseiro, o tecido do pijama movendo-se rapidamente ao compasso de sua respiraç ã o. Seria verdade que as palavras de Stefan continham uma proposta? Que sua solidã o era tã o difí cil de suportar que ele estava disposto a se casar com ela mesmo sem amá -la?

Casar com Stefan Kassandros!

Quando conscientizou isso, Alice se sentou na cama, afastando o cabelo do rosto. Estendeu a mã o até a mesinha de cabeceira e pegou o cá lice de prata com a bebida que ele tinha trazido. Sentia a garganta seca. Bebeu o lí quido doce com sofreguidã o, lembrando-se dos olhos arrogantes e desconfiados de Stefan sobre o seu corpo. Acariciou o cá lice com os dedos e notou que no seu alto relevo havia pequenos rostos de demó nios entre ramos de flores. Imaginou entã o qual demó nio teria levado Stefan a falar em casamento.



  

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