Хелпикс

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A intrusa 10 страница



No dia seguinte, ela falou com Katerina para arranjar um vestido grego. nã o foi difí cil. Katerina tinha um guardado em seu guarda-roupa. Estava protegido por uma capa de linho para que as traç as nã o o furassem. Emprestou-o a Alice com o maior prazer, assegurando-lhe que ia ficar quase igual a uma garota grega.

— Você nã o acha que os outros vã o rir? — perguntou Alice vacilante, quase desistindo da idé ia.

— Na verdade, vã o gostar que a hó spede do patrã o queira se parecer com eles — garantiu Katerina, apesar de Alice notar um certo ar especulativo em seus olhos negros. — Eu vou buscar o vestido para ver se precisa de algum ajuste. Quando jovem, eu era magra como a senhorita, por isso acho que o vestido vai cair muito bem.

— Você acha que o sr. Kassandros vai gostar? — perguntou Alice meio ansiosa. Ela nã o queria aborrecê -lo de jeito nenhum.

— Por que nã o? A senhorita vai ficar muito bonita. Agora, se tingisse o cabelo de loiro ou pintasse os lá bios e os olhos, nesse caso um verdadeiro grego nã o ia gostar de vê -la usando um vestido tí pico. Mas você é diferente, age e se comporta como uma dama. Hesta gostaria de dizer-lhe que está se sentindo bem melhor depois que você ficou ao lado dela na noite do terremoto. Ela me disse que você estava tã o calma, mesmo sem estar acostumada com esses acontecimentos.

— Acho que é porque sou inglesa. — Alice sorriu. — Nó s temos um certo controle que funciona bem durante as crises, mas que pode sufocar outros sentimentos que gostarí amos à s vezes de demonstrar.

— Emoç õ es, heim? — Katerina entendeu e sorriu. — Você nã o deve pensar que os gregos nã o tê m esse problema també m, senhorita; — Quanto mais profunda a emoç ã o, mais difí cil se torna demonstrá -la. Acho que somos como a terra: a pressã o aumenta até que se dá a explosã o que provoca certos estragos.

— Como o terremoto da outra noite — murmurou Alice, esperando nã o estar brincando com fogo ao aceitar a sugestã o de Katerina para usar o vestido grego no casamento. Stefan era imprevisí vel e Alice tinha medo disso. Seria diferente se ele a amasse... O amor poderia modificar as emoç õ es e transformar a có lera mais profunda no perdã o mais sublime. As brigas dos amantes seguidas da reconciliaç ã o seriam sempre o lado mais excitante do amor. E Alice ansiava pelo amor de Stefan.

— vou buscar o vestido para que a senhorita prove. — Katerina dirigiu-se para a porta, mas ainda em dú vida, com medo da reaç ã o de Stefan, Alice exclamou:

— Nã o, mudei de idé ia! Acho que vou ao casamento com meu conjunto azul.

Katerina parou na porta.

— A senhorita é quem resolve, mas nã o custa nada experimentar o vestido. Deve ver como fica nele.

— Mas será que ele gostará? — As palavras escaparam, revelando o verdadeiro motivo da sua incerteza.

— Se as mulheres imaginassem o sofrimento que o amor a um homem lhes traz, na certa iam se esconder num convento — disse Katerina. — Por outro lado, també m pode ser muito agradá vel amar essas criaturas voluntariosas, desatentas, poré m apaixonadas. Os homens precisam de cuidados e atenç ã o, como a terra precisa da chuva e do sol, e isso basta!

— Basta, Katerina? — perguntou Alice brincando com os ó culos.

— Mesmo que a mulher tenha que dividi-lo com uma lembranç a?

— Uma lembranç a nã o corresponde ao seu afeto, senhorita.

— E isso é tudo?

— Descubra por si mesma.

— Entã o por que você, sendo viú va, nã o se casou de novo, Katerina?

— Por que sou grega.

— Nã o! É porque seu marido a amava e você ainda pertence a ele, nã o é verdade?

— Sim. — Katerina teve de admitir. — Nó s é ramos inteiramente um para o outro, e acho que nunca vou encontrar outro igual.

Alice tirou os ó culos. Se ela se casasse com Stefan, ia ter que aceitar um segundo lugar na vida dele, e nã o tinha percebido até entã o que també m podia ser tã o possessiva e ardente em relaç ã o a ele quanto qualquer mulher grega.

Era a atmosfera daquela ilha no mar Egeu que a fazia se sentir assim? Ou era porque Stefan havia feito explodir seu potencial emocional? Agora que admitia amá -lo, nã o podia deixar de aceitar o fato de achá -lo o mais excitante dos homens.

Olhou para a governanta e percebeu em seu olhar que ela tinha adivinhado o que se passava entre os dois, mas nã o ousava perguntar.

— A senhorita deve experimentar o vestido — disse ela. — E deve també m ter a coragem de enfrentá -la.

— Timareta?

— Mostre a ele que a senhorita tem magia.

— Eu sou uma pessoa comum, Katerina.

— Você nã o vai pensar assim quando se vir num vestido grego

— garantiu-lhe a governanta. — Acredite-me, se a senhorita nã o fosse a pessoa indicada eu nã o ia lhe oferecer o meu vestido.

— Você é muito boa — disse Alice. — Você s gregos nã o sã o fá ceis, mas eu estou começ ando a perceber a bondade por detrá s desses olhos desconfiados. No começ o a gente fica com medo.

— Quanto ao patrã o isso é verdade — disse Katerina. — Até conhecê -lo a gente pensa que ele é duro, fechado e insensí vel. Mas a verdade é que ele vive muito só. Nó s da ilha nos preocupamos muito com ele. Queremos que ele seja feliz. Já apareceram mulheres querendo casar com ele, por causa do seu sucesso nos negó cios. Ele tem a forç a do verdadeiro homem desta terra e merece uma mulher que se entregue a ele sem reservas, que dê mais do que irá receber, você entende? Esse é o problema do homem poderoso, ele nunca tem certeza das intenç õ es de uma mulher.

— Um homem como Stefan? — perguntou Alice. — Ao lado dele, nenhuma mulher ia pensar primeiro em dinheiro!

— Nã o uma mulher verdadeira — concordou Katerina. — Mas algumas sã o infantis, querem brinquedos, presentes. Nã o percebem que o amor é dar e nã o tomar. E os homens? Mesmo o mais desconfiado pode ser enganado pelos belos olhos de uma garota que quer coisas em troca dos seus beijos. Você nã o é uma dessas, senhorita. Posso ver isso. Você tem muito para dar e tudo está guardado esperando uma oportunidade para fazê -lo. O patrã o é um tolo se nã o...

— Ele me pediu em casamento — interveio Alice.

— Ah! — Os olhos de Katerina brilharam. — A senhorita aceitou, nã o?

— Eu nã o sei se devo, Katerina. Ele nã o me ama realmente e um casamento assim pode nã o dar certo. Eu tenho uma profissã o e posso voltar, eu acho que seria melhor...

— A senhorita nã o seria feliz.

— E seria feliz sabendo que meu marido, quando me olha, está me comparando com outra pessoa, procurando um sorriso, um gesto que nã o me pertence? Que quando me toca fecha os olhos para fingir que sou outra?

— Longe dele se sentiria mais feliz? Sem vê -lo nunca mais, sem tocá -lo?

— Oh! Mas há mais coisas na vida alé m de pertencer a um homem, Katerina!

— A senhorita pensa assim, heim? — Katerina meneou a cabeç a vagarosamente,. como se estivesse ouvindo as tolices de uma adolescente. — Toda menina grega acredita que os deuses lhe reservam um homem e que vai reconhecê -lo quando o encontrar e se casar com ele se possí vel. Pode parecer que ele nã o a ame, ou que se interesse apenas pelo seu dote. Isso nã o importa. Aquele é o homem que ela deve ter, e ela aceita a tarefa de conquistá -lo. Acredite, senhorita, muitos casamentos gregos começ aram assim e acabaram como uma verdadeira histó ria de amor.

— Uma tarefa — murmurou Alice, lembrando-se do orgulho e teimosia de Stefan, da sua certeza de que era uma mercená ria atrá s do homem rico.

— A idé ia é excitante, heim? — observou Katerina. — Lutar contra a adversidade e vencer é uma das coisas mais estimulantes da vida. Posso trazer o vestido?

— Sim, por favor. — Alice tinha decidido e seus olhos ganharam um brilho novo, iluminando seu rosto e afastando sua incerteza. Talvez o que a tinha impedido de se divertir como as outras garotas fosse sua falta de confianç a em si mesma. Os rapazes achavam que ela era fria e indiferente, e ela nã o tentava provar o contrá rio. Mas, agora, ia provar a Stefan que ele estava enganado a seu respeito. Ia ao casamento apoiada em seu braç o para mostrar a todo mundo que pertencia a ele e que mal podia esperar pelo dia do seu.

Tinha de fazer isso! Vencer a timidez e a reserva, sem pensar que ele nã o estava interessado no seu amor, mas apenas em seu corpo.

Katerine trouxe o vestido e Hesta deixou seu trabalho para ajudar na prova. O vestido era irresistí vel com sua saia de babados estampada com pequenos buques de flores. Tinha um bolero de veludo e uma blusa de seda com as mangas bordadas. Junto vinha uma touca com contas e vá rios saiotes para armar a saia. Vestida, ela ficou de pé para que Katerina e Hesta a admirassem de todos os â ngulos.

— Está bem? — perguntou Alice, ansiosa. — Ficou bem em mim?

— Olhe no espelho, senhorita. — Katerina estava sorrindo. O vestido parece que foi feito para você!

Alice olhou no espelho e viu algué m que ela nã o conhecia. O vestido grego parecia revelar a pessoa que sempre estivera escondida dentro dela. A mistura das cores do vestido parecia se refletir em seus olhos. Ela era toda vida e esperanç a, como uma garota que tivesse saí do de um mosaico bizantino.

— Ficou lindo! — Katerina ajeitou a saia. — Que achou, senhorita?

— Eu mesma levei um susto! — exclamou. — Acho que vou me beliscar para saber se sou eu mesma. Nã o tem nada a ver comigo! Pareç o outra!

— Talvez pela primeira vez a senhorita esteja se vendo. Todos nó s temos um eu escondido e a roupa o revela.

— Eu pareç o algué m do outro sé culo, como se meu rosto e meu corpo nã o combinassem com as roupas modernas. — Alice sorriu quando se afastou do espelho. — Nã o é à toa que as outras pessoas sempre me acharam uma garota fora de moda! Essa era a impressã o que eu dava.

— A senhorita vai parecer uma de nó s, se usar esse vestido no casamento de Marina — disse Hesta. — Os rapazes vã o ficar apaixonados!

— Nã o fale bobagem, Hesta — reprovou Katerina. — A srta. Sheldon vai estar lá como convidada do patrã o e os outros homens vã o ficar longe.

Hesta nã o entendeu o que a tia queria dizer e continuou:

— Mas isso só acontece quando há um compromisso entre uma garota e um homem. Alé m do mais, vai haver baile e a senhorita vai ser convidada para danç ar. No casamento vai haver muitas jovens da sua idade e ela nã o vai querer ficar sentada com as outras senhoras só porque é convidada do patrã o.

— Menina faladeira! — Katerina olhou sem graç a para Alice.

— Minha sobrinha só tem idé ias româ nticas na cabeç a e vai continuar assim mesmo depois de casada.

— Acho que vai ser bom participar das danç as gregas — disse Alice e sorriu só de imaginar. — Será que eu vou ter de ficar muito sé ria? Acho que o Stefan nã o vai gostar disso.

— A senhorita é quem sabe — disse Katerina evasivamente.

— Em qualquer casamento inglê s, as pessoas danç am e se divertem juntas. Stefan nã o ficará sem se distrair só para manter a dignidade. Sei que é o convidado de honra, mas també m é jovem e tem muita energia para gastar e como a mú sica grega é muito contagiante...

— Ele vai danç ar com a noiva, porque é tradiç ã o, mas você só vai poder danç ar com outro homem com a permissã o dele.

Hesta levou um susto quando sua tia disse aquilo e foi entã o que compreendeu.

— Ah! Entã o é isso que está acontecendo, hein?

— E você nã o vai falar nada para ningué m, ouviu? — advertiu-a Katerina. — Ela me contou mas ningué m pode saber até que o patrã o anuncie o casamento.

— Eu já sabia! — exclamou Hesta. — Ela está muito parecida com a primeira namorada do sr. Kassandros.

— Hesta! — repreendeu a tia com severidade. — Vá já para a cozinha e comece a descascar as batatas. Você fala demais e a senhorita nã o está interessada nisso!

— De qualquer modo é verdade — disse Alice. — Tenho de substituí -la da melhor maneira possí vel. Eu sei e todos sabem que ele vai se casar comigo só por causa disso. Alé m do mais o castelo precisa de uma senhora. Por que ele nã o deveria realizar seus desejos?

— Alice voltou-se para o espelho e sorriu novamente, mas sua voz era dura quando disse:

— Pelo menos em seu vestido, Katerina, eu fico linda. Sim, vou usá -lo no casamento e lhe agradeç o muito por me emprestar.

— Eu tenho prazer nisso, senhorita — respondeu Katerina cheia de preocupaç ã o com Alice. Parecia adivinhar o que se passava em seu coraç ã o.

Nã o sabia o que ia acontecer quando desceu os degraus naquele sá bado para se encontrar com Stefan, que ia levá -la ao casamento da filha de Aleko. Ele estava incrí vel num terno azul-marinho, camisa branca e gravata bordo. Alice quase tropeç ou nos degraus, preocupada com o que ele poderia achar do seu vestido.

— Importa-se? — disse ele estendendo a mã o para recebê -la. Ele a fez se aproximar e Alice sentiu seu olhar crí tico, dos cabelos até os sapatos. Seu coraç ã o tinha disparado e ela mais do que nunca queria que ele gostasse dela, nã o porque estivesse usando um vestido grego. Que nã o pensasse que ela estivesse fantasiada de Timareta, mas que fosse tã o amá vel e carinhoso como seria com ela.

— Onde estã o os ó culos? E o cabelo, mudou? — Stefan sorriu.

— Quer dizer que esta é a Alice que me garantiu ser feia e sem graç a?

Sua mã o se contraiu na dele, visivelmente ferida pelo seu jeito de falar e de olhar, como se ela estivesse mal vestida, numa ridí cula imitaç ã o da jovem grega que ele havia amado e perdido.

— Você quer que eu mude de roupa? — perguntou. — Eu sabia que estava cometendo um erro ao usar este vestido.

— Um erro que poderia ser remediado se houvesse tempo — disse ele friamente. — Nã o sei que jogo você está fazendo, mas vai ter que levar até o fim, minha querida.

— Eu nã o sou sua querida — protestou, fazendo forç a para soltar

sua mã o da dele, mas sem conseguir. — Eu fui uma louca em pensar que você ia gostar de meu esforç o em parecer com as outras jovens da festa.

— Mas você nã o é uma delas, nã o é? — Olhou para ela com desdé m. — Você é a garota inglesa com quem decidi me casar e nã o pedi para que você se fantasiasse de grega.

— Entã o me deixe ir trocar — pediu ela. — Nã o vai levar muito tempo, por favor, Stefan! Eu nã o vou ficar feliz sabendo que você nã o gosta que eu use este vestido.

— Quer dizer que você o está usando para me agradar? Vamos, a charrete já está esperando e eu nã o quero chegar atrasado.

Nã o houve jeito e teve de acompanhá -lo. Ajudou-a a subir na charrete e depois tomou seu lugar e empunhou as ré deas conduzindo os cavalos num trote cadenciado pelas alamedas. Longe, Alice podia ver o brilho azul do mar, e por momentos desejou ter ido embora com Alex. Casar com Stefan, mesmo amando-o, era apostar no sofrimento. Naquele momento, ela sofria demais com sua rudeza.

— Eu nã o pude evitar — tentou dizer -, mas nã o sou Timareta. Passaram por ruas estreitas com casas caiadas de branco, todas com suas parreiras. Chegaram finalmente ao pá tio da capela com sua torre caracterí stica, brilhando ao sol. O cé u estava azul e cachos de primavera pendiam dos muros vizinhos.

— Estamos atrasados — disse Stefan, enquanto a ajudava a descer.

— Todos já estã o lá dentro. Vamos, venha comigo.

Alice ficou com ele durante toda cerimó nia, apesar de notar que quase todas as mulheres estavam sentadas juntas e os homens, de roupa escura, mais atrá s.

Observou atentamente o belo e estranho ritual do casamento realizado defronte a um altar onde havia vá rias velas acesas e í cones. A noiva usava um vestido bordado com estampas tradicionais, coberta com um vé u longo que ia até os pé s. O noivo tinha um rosto muito moreno e cabelos pretos encaracolados e toda vez que ele olhava para a noiva as mulheres na assistê ncia se entreolhavam como se a dizer que se tratava de um casamento de amor, pois o rapaz nã o ia se casar só por causa do dote da noiva. Dote feito de cabras, uma parelha de cavalos e um baú de roupas de cama e de mesa, alé m de louç as, que os noivos iam levar para sua casinha em Rhodes.

Sobre as cabeç as dos noivos pendia uma coroa de flores brancas enfeitada com fitas també m brancas, enquanto o padre abenç oava as alianç as que iam ser usadas para sempre, na mã o direita.

Depois, os recé m-casados deram trê s voltas ao redor do altar carregando velas acesas. O casal bebeu vinho de um cá lice que depois foi entregue ao padrinho. Os dois beijaram a bí blia e os sinos começ aram a repicar na torre principal.

Alice sentiu um arrepio de emoç ã o e nã o ousou olhar para Stefan, mas estava certa de que sua expressã o devia ser dura e distante como seu pensamento.

Fora da capela, todos jogaram arroz e pé talas de rosa sobre os noivos sorridentes, que conduziram os convidados em procissã o até uma taverna pró xima, onde a comida foi servida debaixo da sombra das á rvores. Um leitã o girava lentamente num espeto sobre o fogo e havia grandes assadeiras de pã o caseiro, pipas de vinho, garrafas de licor de morango e suco de lima. Algumas mulheres começ aram a descarregar cestos contendo vá rios tipos de doces e frutas.

Era um espetá culo colorido. Podia-se sentir a alegria no ar. Alice queria participar de tudo, mas nã o conseguia se relaxar. Sorria tensa quando era apresentada aos demais convidados.

Seu vestido, apesar da desaprovaç ã o de Stefan, foi admirado. Ela sentiu o olhar iró nico de Stefan quando uma tia da noiva perguntou se ela nã o tinha um pouco de sangue grego nas veias, porque nã o era comum uma estrangeira ficar tã o bem usando uma roupa tí pica. Stefan, em poucas palavras, traduziu o comentá rio para Alice e ela agradeceu. E depois, já que era uma festa de casamento e como ela quisesse acabar com aquela frieza entre os dois, Alice, de repente, apoiou seu braç o no de Stefan sentindo na hora que ele ficara tenso.

— Você nã o precisa fingir que se preocupa comigo em frente dos outros — disse ele.

Alice sentiu-se insultada e afastou-se dele. Pô s-se entã o a caminhar debaixo das á rvores, até que chegou a uma alameda, depois de atravessar um portal. Lentamente deixou a festa para trá s com seus ruí dos. Continuou caminhando, pois queria ficar sozinha. Ouvia-se apenas o canto das cigarras.

Só parou quando sentiu que estava suficientemente longe dele que a ferira tã o intimamente. Sentou-se na grama à sombra de um moinho de vento. Ningué m estava trabalhando naquele dia por causa do casamento. Só ela estava fora de toda aquela alegria. Um soluç o subiu-lhe à garganta e começ ou a chorar. Ela nã o queria amá -lo! Stefan a forç ara e agora ela estava sofrendo com suas crí ticas, seu gé nio, sua rejeiç ã o!

— Nã o aguento mais — murmurou baixinho. — Nã o posso continuar assim.

Seus pensamentos voaram para a Inglaterra, para o seu apartamento calmo e digno, onde podia viver em paz, sem todo aquele medo. De repente, ouviu um ruí do de pedras perto do caminho que levava ao moinho, mas nã o viu ningué m. O ruí do voltou a se repetir. Talvez fosse alguma ovelha pastando, pensou Alice, levantando-se e ajeitando os cabelos. Seria melhor voltar à festa; Stefan podia estar zangado com sua ausê ncia.

Alice estava arrumando os cabelos quando o animal surgiu por entre as oliveiras. Ela levou um susto. Parado ali, com a lí ngua de fora, estava um cachorro de pê lo maltratado, rabo felpudo. Tinha um aspecto assustador. Alice ficou imó vel porque tinha medo que o animal se assustasse e saltasse sobre ela. Pela aparê ncia era um cachorro sem dono e faminto. Suas costelas eram visí veis.

Engolindo em seco e com muito cuidado, Alice tirou da bolsa o sanduí che que pegara na festa. Separou a carne do pã o e, aos pedaç os, começ ou a jogá -la para o cã o. Mas o animal continuava parado, olhando desconfiado para ela, apesar de contrair o focinho ao sentir o cheiro do alimento.

Estava visivelmente atraí do pela carne, mas Alice pertencia ao gé nero humano e ele, provavelmente, tinha sido muito maltratado pelos homens. Ele se mexeu e mostrou os dentes.

— Você é um bom rapaz — disse ela suavemente. — Nã o vai me morder, vai? Eu nã o quero fazer mal a você. Venha que a carne está gostosa.

O cachorro deu um ganido e, com os olhos fixos em Alice, começ ou a se aproximar da carne e sem poder resistir passou a comê -la sofregamente. Depois, Alice deu-lhe o pã o que ele comeu com a mesma voracidade. Aproximou-se dela querendo mais comida, mas nã o havia mais e Alice percebeu que estava à mercê do animal. Criando coragem, tentou atraí -lo.

— Venha — disse ela. — Eu sei que você nã o é mau como parece. Sei que está só e com fome e que ningué m o ama. Eu sei como você se sente, velho amigo. Eu sei o que é querer se chegar aos outros mas ter medo. Quem machucou você? Algué m em quem você confiava? Pobre amigo, pode vir, eu nã o vou maltratar você. Só queria ter um prato de comida para lhe dar. Você nã o é o cachorro selvagem que andam dizendo que vai matar as ovelhas? Desse jeito você vai acabar mal. Você é um cachorro bonito que precisa encontrar algué m em quem confiar.

Suavemente, em voz baixa, Alice se chegou ao animal. Sentiu seu focinho frio tocar seus dedos e o ouviu rosnar baixo. Depois, deixou que lhe acariciasse a cabeç a e ganiu como para provar que acreditava nela. Deitou-se na grama ao lado de Alice com a cabeç a sobre seus joelhos.

— Deus do cé u! — exclamou Stefan. — Você está facilitando, garota.

Alice virou a cabeç a e olhou para ele, de pé, pronto para defendê -lo do cachorro.

— Nã o fale alto — pediu-lhe. — Acho que ele está com muita fome e falta de carinho. Nã o pode ferir ningué m, mas acho que foi algum homem quem o deixou assim! Os homens sabem ser crué isEu bem sei!

O cachorro estremeceu, levantou a cabeç a e olhou para Stefan por algum tempo e voltou a deitar novamente sua cabeç a no colo de Alice

— Parece que ele tem carrapato — observou Stefan.

— Um bom banho com sabã o vai livrá -lo deles. Espero que você nã o se importe se eu levá -lo para casa. Ele nã o é selvagem como dizem; é apenas carente de afeto.

— Fico feliz em saber que você percebeu que o que faz um homem ficar selvagem é a falta de amor.

Alice olhou para Stefan e notou em seus olhos alguma coisa diferente, que nã o havia percebido antes. Seu coraç ã o bateu mais rá pido. O que havia mudado nele? Havia agora uma ternura perturbadora em seus olhos sempre tã o orgulhosos. Ele apoiou-se sobre um joelho ao lado de Alice e perguntou:

— Por que você fugiu da festa? Foi porque eu disse que você nã o precisava fingir que se preocupava comigo diante dos outros? E nã o era verdade?

— Eu nunca fingi coisa alguma — respondeu ela sem poder afastar os olhos dele. — Eu sou eu, Alice Sheldon. Nunca fui outra coisa alé m disso; mas você parecia querer acreditar que eu tinha duas caras e que andava atrá s do dinheiro dos homens ricos. Na verdade, eu sou como este pobre cachorro. Sempre quis ter um teto para me abrigar e um pouco de amor. Sinto muito, Stefan, mas nã o posso me casar com você. Nã o posso viver com um homem que nã o acredita em mim.

— Eu nã o posso viver sem você, Alicia. Percebi isso no dia em que a trouxe para Solitá ria e se eu agi mal hoje foi porque pensei que você tinha se vestido assim para tentar se parecer com algué m que realmente você nã o é.

— Eu sei que nã o sou Timareta — disse ela. O cachorro levantou a cabeç a, mas deitou novamente ao ver que nã o era com ele. Alice continuou: — Estou cansada das comparaç õ es que você faZ entre ela e eu. E sei que você a amou e que nã o me ama!

— Eu a amo loucamente, Alicia — confessou-lhe. — Eu mato você se tiver de deixá -la ir embora. Você é minha, Alicia, e nã o há outra mulher como você no mundo. Quando recebi o telegrama de Berta, já sabia que você nã o era a noiva de Damaskinos, mas eu tinha de arranjar um jeito de você ficar comigo.

— Como você soube?

— Alex tem um amigo que disse que conhecia a noiva de Damaskinos, e entã o eu perguntei a ele como ela era. Segundo ele, a noiva de Damaskinos tinha os cabelos louros, olhos azuis e se pintava muito. Disse que ela parecia uma atriz de cinema ou, entã o, era có pia de uma. A Alice Sheldon que eu conhecia nã o era assim.

— E assim mesmo você me tratou mal hoje! — Alice sentia vontade de dar-lhe uma bofetada por fazê -la sofrer tanto, mas, ao mesmo tempo, queria se lanç ar nos braç os dele e beijá -lo muito. Quando você me viu com esta roupa, parecia que queria arrancá -la do meu corpo.

— E era isso que eu queria fazer — admitiu. — Eu queria que você se parecesse com você mesma e nã o que fosse uma imitaç ã o da garota que um dia amei.

— Você a adorava! — exclamou Alice, agoniada.

— Eu fiz aquilo que Alex contou, coloquei-a num pedestal em vez de beijá -la. Se tivesse agido de outra forma, teria descoberto o que eu desejava realmente de uma mulher. Profundidade, inteligê ncia, compaixã o pelos que sofrem. — Stefan olhou para o cachorro no colo de Alice.

— Ele nã o vai querer trocar de lugar comigo!

— Nã o agora — respondeu, acariciando a cabeç a do pobre cã o. Depois, deu um sorriso meio incerto para Stefan e disse:

— Você está com ciú mes de um pobre cachorro faminto?

— Eu estou faminto també m. Faminto de você! Você nã o vai voltar para a Inglaterra, minha querida. Vai ficar para se casar comigo e ter tudo o que quiser. Eu a farei me amar. Você vai ter de ir até o fim ou morrer de cansaç o.

Alice sorriu.

— Oh! Stefan, Stefan, seu grego tolo! Você nã o tem de me comprar e nã o vai ter de me matar de amor. Eu desejo uma vida a dois, percebe? Eu quero dar a minha parte. Nã o quero tomar nada de você, querido. Eu quero ser a sua outra metade.

— Minha outra metade — repetiu e seus olhos escuros começ aram a brilhar quando tocou os cabelos de Alicia. — Imagino que você vai querer ficar com esse pulguento, nã o é? Foi bom que ele a encontrou, pois caso contrá rio iria morrer. Todos pensavam que ele era selvagem. Foi preciso você vir de longe para domá -lo!



  

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