Хелпикс

Главная

Контакты

Случайная статья





A intrusa 9 страница



— Este ar dá sono — disse ele. — vou dormir e se você també m for posso acompanhá -la até seu quarto, Alicia.

Como ela hesitasse, Stefan se adiantou:

— Preciso falar com a senhorita Sheldon a só s, Alex.

Alex olhou significativamente para Alice e depois para Stefan. Dirigiu-se a ela com um aceno de cabeç a e, antes de sair, disse:

— Tomara que a tempestade nã o piore durante a noite. Durmam bem você s dois.

Alice ficou parada, olhando para Stefan, cheia de apreensã o.

 

 

                                 CAPÍ TULO IX

 

 

Stefan se dirigiu vagarosamente para a lareira e atiç ou o fogo, depois se voltou para Alice. Seu rosto tinha uma expressã o determinada.

— Acho que você está sabendo por que eu quis falar a só s com você. — Seu tom de voz era tã o duro quanto seu olhar.

— Miklos trouxe o telegrama, nã o? — A voz de Alice estava ligeiramente tré mula.

Stefan tirou o telegrama do bolso e estendeu-o para ela. Nervosa, ela o pegou e leu. Ficou parada, sem acreditar na resposta de Alberta, mas ali estava escrito: ”Eu e meu marido desconhecemos o nome Damaskinos. Recomendaç õ es. Berta”.

— O que tem a dizer? — perguntou Stefan.

— Berta nã o está dizendo a verdade! — exclamou, ató nita. — Ela está com medo da reaç ã o do marido. Harry é muito rigoroso e ela já o perdeu uma vez por causa das suas atitudes e agora nã o quer que isso aconteç a outra vez, por isso nega que conheç a Damaskinos! Você tem de acreditar em mim, Berta sempre foi desleal quando se tratava de se proteger. Acho que ela nã o imaginou que sua mentira poderia me prejudicar.

— Sua mentira? — Stefan estava parado com os braç os cruzados.

— Realmente, minha cara, nã o vejo por que sua irmã iria roubar seu nome, e por que, sendo uma aventureira, iria deixar um milioná rio para se casar com um plantador de chá.

— Porque percebeu em tempo seu amor por ele.

— Amor? — Stefan observou Alice com os olhos semicerrados. É assim que você ama sua irmã? Querendo usá -la para poder fugir de mim? Seu plano nã o deu certo, querida. Eu lhe disse que a deixaria sair da ilha se estivesse dizendo a verdade, mas o telegrama confirma que você é uma mulher que veio para se casar com o dinheiro de Damaskinos.

Ele parou de falar e ficou olhando para Alice. Depois, dirigiu-se para ela, arrancando-lhe o telegrama das mã os e o jogou no fogo.

— Eu també m tenho dinheiro, Alicia. E mais do que suficiente para satisfazer uma mercená ria como você.

— Mercená ria? — Alice encarou-o e sentiu que tinha forç as para desencadear uma tempestade ali mesmo naquela sala. — Você nã o tem o direito de dizer que alguma vez...

— É o que você diz sempre — interrompeu-a ironicamente. Você é a santa que nunca faz nada, que quer que eu acredite em tudo o que diz. Pode ser que eu tenha sido enganado uma vez quando era muito jovem. Mas agora já nã o sou tã o inexperiente assim!

Enquanto falava, Stefan se aproximava de Alice, como uma pantera prestes a saltar sobre a presa. Instintivamente, ela se afastou e se deixou cair no sofá, morta de medo. Ele a agarrou e quando ela tentou se soltar, o vestido se rasgou no ombro.

— Oh, veja o que você fez! — soluç ou. — Você é insuportá vel!

— Posso lhe comprar centenas de vestidos iguais a esse. — Ele a apertou nos braç os e Alice viu um brilho de emoç ã o em seus olhos.

— Eu já estava pensando que tinha me enganado com você, Alicia. Vendo-a todos esses dias tã o inocente pela casa, com seus desenhos na praia, voltando dos pomares com o perfume nos cabelos. Você poderia ser a mulher que tinha vindo para se vender a um homem!

Stefan agarrou-a pelos cabelos e a olhou fundo nos olhos.

— Sim, você quase me enganou! Eu devia mandar você para o inferno, mas eu nunca fui muito prudente e vou me casar com você. Algué m tem de fazer isso, já que Damaskinos nã o vai mais querê -la. Como todo mundo, ele vai achar que somos amantes.

— Mas você nã o tem de... — Alice tentou desesperadamente se livrar dos seus braç os. — Oh, como você pode falar em casamento quando me despreza?

— Eu a desejo e isso apaga tudo mais quanto possa sentir por você.

— Seus olhos pareciam velados por pensamentos secretos e Alice teve medo da sua boca sensual e desejou ter forç as para se safar de seus braç os. Aquele nã o era o momento para sentir fraqueza. Muito pelo contrá rio, ela precisava de toda a forç a de vontade para se opor à quela proposta de casamento.

Ele nã o a amava. Por isso nã o confiava nela e preferia acreditar em Berta. Estava certo de que ela era uma mulher à venda, e o brilho arrogante em seus olhos demonstrava que ele ia cumprir o que tinha prometido.

— Nã o lute, Alicia — aconselhou-a, percebendo sua resistê ncia.

— Nó s dois estamos cansados de viver sozinhos e é melhor que fiquemos juntos. Eu sei que você gosta da minha casa e ela precisa de uma mulher para que se torne um verdadeiro lar.

— Você tem uma governanta muito boa — Alice respondeu. Seus braç os a envolveram com mais forç a e seus dedos mergulharam fundo nos cabelos dela.

— Eu nunca encontrei uma mulher que pusesse tã o à prova a minha paciê ncia como você — disse ele baixinho. — Algumas vezes penso que a ú nica maneira de tratá -la é como faziam os guerreiros espartanos que agarravam suas mulheres à forç a, sem se importarem com os gritos. Será esse o jeito, minha cara? Aqui na sala, sobre o tapete?

Alice sentiu o calor de seu há lito contra a pele e a forte pressã o dos seus mú sculos. Ele forç ou sua cabeç a para trá s e a beijou selvagemente, movendo a boca contra a dela sem parar.

— Possuí -la vai me dar o maior prazer — sussurrou ele. — E eu vou fazer isso se você continuar a me desafiar com suas garras de gata manhosa.

— Oh, Stefan... — Ela sentia suas forç as acabando. — Você é mau, bruto e eu estou cansada de lutar contra você. Nã o tenho mais forç as, estou em suas mã os!

— bom, muito bom... — Ele a prendeu pelos cabelos e voltou a beijá -la com paixã o, e de tal forma que ela nã o conseguiu mais opor resistê ncia, entregando-se totalmente a ele.

Quando voltou à consciê ncia, Alice estava de braç os” entrelaç ados na nuca de Stefan e seu corpo tremia de desejo, mesmo sabendo que naquele momento nã o existia amor em Stefan, apenas a paixã o dos sentidos. Stefan beijou-a até levá -la à loucura. Quando ela nã o aguentou mais, com um soluç o, enterrou o rosto em seu peito.

— Pelo menos você nã o desmaiou desta vez — murmurou. Você quase conseguiu demonstrar paixã o. Eu nã o acho que devemos nos preocupar com um noivado longo, mas devo selar o nosso compromisso com alguma coisa. Vamos ao meu escritó rio.

— Nã o há necessidade disso, Stefan.

— Decerto que há. — Ele passou a mã o pelo rasgo de seu vestido. — Desculpe-me por isso, mas você vai ter muitos vestidos e ané is antes que eu termine com você!

— Eu nã o quero presentes. — Ela olhou suplicante para ele. Só queria que você acreditasse em mim.

— Esqueç a tudo isso. — Ele a levou até a porta e depois até o hall onde os relâ mpagos se refletiam nas paredes.

Stefan abriu a porta do escritó rio e puxou Alice para dentro. Lá havia uma grande escrivaninha e poltronas de couro sobre um esplê ndido tapete turco que se estendia de parede a parede. Sobre a escrivaninha havia um porta-canetas de bronze com faunos e sá tiros em relevo que projetou sua sombra nas paredes quando Stefan acendeu a luz do abajur. Ele se dirigiu a um cofre escondido atrá s de um quadro.

Alice permaneceu junto da escrivaninha enquanto ele mexia no cofre. Aquele momento parecia o mais irreal de todos desde que tinha chegado. Daquele momento em diante, ela pertencia à ilha e nunca mais voltaria para o seu apartamento em Londres. Ali tinha passado horas solitá rias junto à prancheta de desenho, trabalhando até tarde para se esquecer de que nã o tinha ningué m para amar. Alice nã o podia acreditar que aquele homem tã o poderoso e atraente que se aproximava com um estojo de couro nas mã os estivesse para lhe dar alguma coisa que simbolizasse o futuro casamento. Ela nã o podia aceitar o fato de que se tornariam marido e mulher.

Enquanto se aproximava, Stefan trazia um sorriso iró nico nos lá bios.

— Geralmente, as mulheres sã o loucas por jó ias — disse ele. Quer me enganar que nã o gosta de receber presentes como este?

— Eu nunca soube como proceder — respondeu baixinho. — Nunca ganhei jó ias de um homem.

Stefan a observava quando abriu o estojo de couro. Nele havia um jogo de colar, bracelete e anel de esmeraldas incrustadas em ouro. Alice conteve a respiraç ã o. Nunca em sua vida tinha visto pedras tã o puras e brilhantes.

— Esmeraldas, querida. Elas nã o fazem seus olhos brilharem? Stefan retirou o colar do estojo e segurou-o de tal modo que a luz fazia as facetas das pedras cintilarem. — Tê m uma linda cor, nã o? Mais claras e bonitas que as outras pedras, alé m disso combinam com os seus olhos.

Alice olhou para o colar brilhando contra o moreno das mã os de Stefan e sentiu um arrepio.

— Você quer dizer com os olhos de Timareta. As jó ias pertenciam a ela!

— Timareta está morta. — A voz de Stefan era cortante. — As esmeraldas sã o suas, Alicia, para serem usadas com aquele vestido branco. Vamos, pegue seu presente e nã o finja que nã o está emocionada com eles. Posso colocá -las em você? Estas jó ias vã o fazer seu coraç ã o bater mais depressa.

Alice olhava para ele sem poder falar... que apenas as jó ias nã o podiam fazê -la feliz. Que um sonho desfeito nã o podia ser reconstituí do, como se fosse um vaso ou espelho quebrado.

— Pegue o colar — ordenou. — Nã o tenha vergonha, minha cara. Você vai merecê -lo!

Alice ficou vermelha quando seus dedos tré mulos pegaram o colar que parecia lhe queimar as mã os.

— Eu nã o posso! — soluç ou. — Nã o é certo que você queira que eu faç a as vezes de uma garota morta. Eu nã o posso! — Ela olhou suplicante para ele, deixou o colar cair sobre a escrivaninha e saiu correndo do escritó rio.

Quando chegou junto à escada, o chã o começ ou a tremer sob seus pé s. Ela teria caí do se nã o tivesse se apoiado no pilar da escada, segurando-se firme.

Terremoto!

A terrí vel palavra ecoou em sua mente e seu significado se transmitiu para todos os nervos do seu corpo. Ela sentiu a ameaç a de uma violê ncia alé m do controle humano. Podia ouvir o som das telhas se partindo e bem em cima de sua cabeç a o grande candelabro de bronze começ ou a oscilar loucamente em sua corrente para depois se desprender do teto.

Desceu com toda a sua carga mortal na direç ã o de Alice, que estava grudada de terror à pilastra da escada. Ela nã o tinha forç as para se mover e sabia que ia ser esmagada. Sua cabeç a rodava e ela sufocou um grito de terror, quando foi arrancada da pilastra por Stefan e erguida no momento exato em que o candelabro caí a com um barulho surdo bem no lugar onde ela tinha estado até aquele momento.

Levou-a para um corredor lateral e Alice permanecia confusa em seus braç os, enquanto Fireglow era sacudido pelos tremores. O chã o se desfazia deixando entrar á gua e detritos no hall. Pedaç os de pedra e caliç a caí am ao redor deles e as peç as da mobí lia se entrechocavam numa danç a macabra ao som dos cristais partidos. Alice se agarrava em Stefan desesperadamente. Naquele momento, ele era a sua ú nica realidade.

Era como se estivesse num navio que apesar de fundeado nã o pudesse se manter firme. Alice gritou quando o chã o se abriu ao seu lado e metade de uma có moda caiu dentro do buraco. Praguejando em grego e dando um puxã o nela que quase lhe quebrou as costelas, Stefan colocou-a contra a parede protegendo-a com o corpo. Ele gemeu quando foi atingido por alguma coisa e Alice sentiu o calor da sua respiraç ã o ofegante. Estavam desesperadamente unidos. Alice sentia um imenso prazer em ficar perto dele, mesmo sabendo que nã o a amava.

— Coragem! — Ele comprimiu seu rosto contra o dela, enquanto uma nuvem de tijolos partidos os envolvia. — Esses tremores vã o parar daqui a pouco e també m essa barulheira toda. Parece o fim do mundo, nã o?

Tremendo, Alice agarrou-se nele enquanto os ú ltimos tremores abalavam Fireglow, estremecendo tudo de alto a baixo, com um estrondo de pedras despedaç adas, como se o teto houvesse desabado no abismo. Um grito de mulher ecoou e Stefan imediatamente se preparou para socorrer a ví tima.

— Nã o se vá! — pediu Alice e agarrou-se a ele. — Fique comigo, deixe tudo passar e depois você vai ver quem gritou.

O barulho e os tremores foram desaparecendo gradualmente e tudo foi seguido por um silê ncio quebrado apenas pelo barulho do que caí a das paredes e do teto danificado. O chã o parou de tremer mas a á gua jorrava no hall. O encanamento fora destruí do. Em tudo pairava uma nuvem de poeira e fumaç a. Stefan se ergueu e foi para o salã o de onde saí a a fumaç a. Quando Alice chegou à porta, ele estava apagando as chamas com uma cortina de veludo. Uma lí ngua de fogo chegou até onde ela estava.

— Cuidado com o vestido! — gritou Stefan. — Ele pode pegar fogo.

Alice arrancou o vestido pela cabeç a e o pô s de lado. De combinaç ã o correu para ajudar a apagar o fogo que começ ava a entrar no hall.

com isto! — gritou Stefan, atirando-lhe outra cortina que acabara de arrancar da janela.

Ofegante e com os olhos ardendo pela fumaç a, Alice conseguiu apagar as chamas que acabaram praticamente com a beleza daquela sala. Ficou parada com os restos da cortina nas mã os, as lá grimas escorrendo-lhe pelo rosto na tristeza de ver tudo destruí do.

— Nã o se preocupe. — As mã os de Stefan pousaram em seus ombros nus. — A gente arruma isso. Mas alguma coisa aconteceu lá em cima. Você nã o ouviu aquele grito? Olha, ponha o meu paletó e vamos para lá ver o que aconteceu.

Ela obedeceu e seguiu pelo hall até a escadaria. Lá em cima no corredor, Alex estava apoiado na balaustrada com sangue correndo pelo rosto.

— Você está bem? — perguntou Stefan.

— Cortei o rosto com algum vidro — Alex desceu até a metade dos degraus e ficou examinando o estrago. — Vai ter de ser consertada. Sorte que ningué m estava embaixo quando o candelabro caiu.

— Alice e Stefan se entreolharam.

— O que aconteceu aí em cima? — perguntou Stefan a Alex. Ouvimos um grito de mulher. Algué m está ferido?

— Nã o, mas com muito medo. — Alex olhou para cima e a governanta apareceu com os braç os ao redor de Hesta que chorava. Ambas estavam de camisola e tinham o rosto coberto de poeira.

— Tudo está bem, patrã o — tentou Katerina falar com calma. Foi Hesta que teve medo. Tudo está bem agora.

— Um lado inteiro da estrutura superior parece ter desabado disse Alex. — Um dos quartos está completamente destruí do, sorte que nã o havia ningué m dentro.

Alex e as mulheres conseguiram descer para o holl depois que Stefan e Alice cobriram os escombros com tapetes para que nã o se ferissem. Como o gerador de eletricidade, que ficava abrigado nos fundos do castelo, nã o tivesse sido danificado, eles poderiam contar com luz para as primeiras providê ncias.

Os empregados começ aram a aparecer e com eles os comentá rios sobre o terremoto. Todos se abraç aram contentes porque tinham sobrevivido à fú ria dos deuses, como dizia Katerina.

— Precisamos nos organizar — disse Stefan com os braç os erguidos, fazendo com que todos silenciassem; estava de pé no meio deles com a autoridade costumeira apesar do rosto sujo, a camisa fora das calç as e o cabelo grudado na testa. — Precisamos de café forte continuou. — Depois temos de tirar a á gua do chã o. Miklos, arranje uma lanterna e venha comigo para a adega onde está o registro da á gua, temos de fechá -lo antes que tudo fique inundado.

Enquanto ele dava ordens que iam manter todos ocupados, Hesta torcia nervosamente um rosá rio entre as mã os.

— Aquele quarto tã o lindo — dizia ela ainda confusa. — Tudo em ruí nas!

Katerina sacudiu-a pelos ombros.

— Vamos Hesta, tudo acabou e estamos todos salvos.

— Cuide dela — disse Stefan. — Ela ainda está em estado de choque. É melhor que descanse.

Hesta estremeceu e parou de apertar as contas do rosá rio. Olhou para Stefan e disse:

— Nada sobrou do quarto dela, patrã o, deixe-a descansar em paz! Katerina soltou uma exclamaç ã o e levou a mã o à boca da sobrinha.

— Fique quieta, você nã o sabe o que está dizendo.

— Acho que ela sabe — disse Alex, acendendo um charuto. O sangue do ferimento já tinha coagulado. — Hesta está falando do quarto onde dormia um fantasma, primo. O terremoto destruiu tudo. Se algué m estivesse lá teria morrido instantaneamente. Estava escrito, Stefan, que você teria de dar aquele quarto a um fantasma!

Enquanto Alex falava, todos no holl olhavam para Stefan esperando sua reaç ã o. Mas Alice sabia que ele nã o ia se manifestar, que ia guardar suas emoç õ es consigo, sem manifestá -las a ningué m. Seus olhos estavam indecifrá veis quando disse para Alex:

— Devemos agradecer que os danos nã o foram maiores e que todos nó s estamos vivos, e você precisa curar esse ferimento logo, Alex. Enquanto isso, poderia ir dando um jeito nas mobí lias e você, Alicia, faç a com que Hesta descanse. Dê -lhe um gole de conhaque para acalmar os nervos.

— O patrã o é tã o bom para todos — disse Hesta. — Desde que a senhorita chegou, estamos torcendo para que fique com ele. Um homem como ele nã o pode viver de uma lembranç a. A destruiç ã o do quarto foi um castigo. Está tudo destruí do, a cama, as coisas lindas sobre a penteadeira, o retrato. Ele vai ficar muito triste quando for ver.

— Mas como o patrã o disse, ningué m saiu ferido, Hesta, e isso é o mais importante para ele. Os quartos e as mobí lias podem ser consertados — respondeu Alice.

Será que ele ia mandar reconstruir o santuá rio de Timareta? Ningué m sabia que ele tinha pedido para ela se casar com ele. Se realmente quisesse ir embora, ele nã o podia impedir que ela fosse no aviã o de Alex. Mas ao se lembrar dos momentos nos braç os dele, durante o terremoto, viu que nã o dava mais para se enganar. O terremoto, alé m de estremecer toda a ilha, tinha despertado Alice para o amor. Ela nã o podia deixar de amar Stefan, tinha de ficar e dar-lhe todo o seu amor, mesmo sabendo que ele apenas queria seu corpo e os cabelos longos que lembravam Timareta.

Durante vá rios dias, todos estiveram ocupados pondo as coisas em ordem. As paredes e o chã o foram limpos na medida do possí vel. A falha no teto foi coberta com uma grande lona. Um construtor e sua equipe estavam prestes a chegar de Atenas para começ ar as obras de restauraç ã o. O quarto do fundo do corredor continuava entre escombros. Stefan evitava falar dele.

Muitas casas da ilha tinham sido danificadas e algum gado tinha morrido. Das pessoas, só duas crianç as e a mã e tinham se ferido e Stefan as havia mandado para um hospital em Atenas; Alex as tinha levado e Alice nã o se arrependeu quando viu o aviã o levantar voo e deixá -la mais uma vez sozinha com Stefan. Ela tinha feito sua escolha na noite do terremoto e Stefan sabia disso. Uma tarde, encontrou as jó ias sobre a penteadeira e percebeu que ele estava esperando um sinal de sua aceitaç ã o.

Naquela noite, ela usou o bracelete e, depois do jantar, enquanto passeavam pelo jardim, ele a tomou nos braç os e a beijou possessivamente. Alice nã o resistiu, procurando poré m nã o se iludir. Afinal era seu corpo que ele desejava.

— Agora você aprendeu — murmurou ele, acariciando-lhe os cabelos.

— Sá bado que vem, vamos a um casamento na vila e assim você já vai se acostumando com os nossos costumes. Um casamento grego é uma relaç ã o possessiva; você vai ter de fazer tudo o que eu quero.

— É justo — disse ela com ironia, olhando para o bracelete que brilhava em seu pulso pousado na nuca de Stefan. — Você me dá jó ias tã o caras! Katerina me disse que é costume grego a noiva dar um dote ao marido, mas você sabe que eu nã o tenho praticamente nada. Nem dinheiro e nem as peç as costumeiras que geralmente se leva no enxoval. As mobí lias e quinquilharias que tenho em meu apartamento nã o iam combinar com sua casa.

— Virgindade é o dote da jovem que nã o tem bens — respondeu ele.

— E como você pode ter certeza de que eu tenho esse dote? perguntou. — Você nã o acredita em nada que eu digo, por que iria acreditar que uma jovem inglesa de vinte e quatro anos ainda é virgem?

— A inocê ncia está nos seus olhos e na maneira como você responde aos meus beijos.

Ele inclinou a cabeç a de Alice sobre seu braç o e sua boca procurou a dela. Ela cedeu mas mesmo que seus lá bios correspondessem ao carinho dos dele, ainda se sentia tensa, incerta do que ele poderia sussurrar enquanto a beijava pelo pescoç o. Temia ouvir um nome que nã o o seu... que ele pudesse se esquecer de que ela nã o era Timareta.

Ela se contraiu com esse pensamento, ao mesmo tempo que se sentia incontrolavelmente excitada. Stefan percebeu e pensando que ela ainda o estivesse rejeitando afastou-se bruscamente. Alice permaneceu atordoada, como as mariposas brancas que se debatiam inutilmente contra as lâ mpadas da parede.

Ficou perdida. Teve certeza, entã o, que morreria se o estranho amor de Stefan por ela acabasse um dia... Um amor que surgiu de tantas dú vidas e que agora era tã o vivo.

Ele a olhou com intensidade selvagem.

— Você é minha porque quero que seja assim! — Ele a tocou no braç o sobre o tecido fino da manga do vestido. — Fria como gelo! Mas prometo que a farei derreter, nem que seja a ú ltima coisa que faç a na vida.

Ele nã o percebia que já tinha derretido o coraç ã o dela, mas ainda havia muito orgulho mesclado com timidez em Alice para que ela pudesse confessar abertamente esse amor. Mas era o que mais desejava fazer naquela noite estrelada e perfumada pelas flores dos limoeiros.

Entraram em casa e se separaram ao pé da escada, precariamente consertada, à espera dos carpinteiros de Atenas que vinham para restaurá -la em toda sua antiga beleza. No meio da escadaria, Alice parou e olhou para Stefan que estava no hall observando-a com uma expressã o enigmá tica nos olhos. Ela apertou forte o corrimã o da escada sentindo uma vontade louca de descer correndo para ele, jogar-se em seus braç os e libertar-se de toda inibiç ã o que a impedia de dizer que o amava, que estava viva e que nã o era apenas uma lembranç a já morta. Alex tinha dito que Stefan se punia por nã o ter levado Timareta com ele para Londres, contra a vontade dos pais. Mas o destino tinha determinado as coisas de outra forma e a vida tinha que continuar.

Alice hesitou por alguns momentos, e já estava para descer quando viu Stefan se afastar nas sombras, carregando consigo a certeza de que ela ia se casar com ele apenas pelo dinheiro. Retomou entã o o caminho de seu quarto, tomada de uma profunda tristeza. Por que Alberta tinha negado sua ligaç ã o com lonides Damaskinos? Estaria tã o insegura do amor do marido? Que destino o das duas!

O fim do corredor estava escuro e o quarto destruí do ainda permanecia em escombros. Ningué m havia tocado nele, esperando ordens de Stefan. Parecia que um raio tinha caí do sobre ele, esmagando a cama de dossel, destruindo os armá rios, o vestido de noiva e o retrato de Timareta.

Alice acariciou o bracelete e, de repente, esticou o braç o como se mostrasse as esmeraldas para um fantasma. Seu gesto parecia dizer: ”Ele agora é meu! vou fazê -lo esquecer-se de você! ”

CAPÍ TULO X

 

Um sussurro misterioso chegava até a galeria, mas Alice sabia que na realidade se tratava do vento penetrando atravé s das rachaduras das paredes destruí das.

Logo que chegou ao quarto, tirou o bracelete junto à penteadeira. Acariciou as pedras nã o como prova de amor, mas sim da certeza de Stefan de que Alice buscava apenas a seguranç a material. Guardou o bracelete no estojo e ficou andando pelo quarto tomada de emoç õ es que nunca havia imaginado poder sentir. Nã o ela, Alice Sheldon, a quem os homens nunca prestavam atenç ã o.

Realmente ela nunca pensou que pudesse sentir tais emoç õ es. Mas estavam tomando conta dela na simples lembranç a de Stefan! Ao mesmo tempo, sentia-se insultada por saber que ia se casar com ela mesmo pensando que era interesseira. Ela havia usado o bracelete para agradá -lo, mas na verdade preferia adivinhar amor nos olhos dele.

Alice nã o podia esquecer a maneira como ele a tinha olhado no jardim... Estaria pensando que num futuro pró ximo eles iam subir juntos aqueles degraus para entrarem no quarto como marido e mulher?

Só de pensar ela tremeu e se sentou na beirada da cama. Seria muito excitante estar nos braç os dele, mesmo sem muita ternura, já que ele queria somente dar vazã o a sua fome de amor fí sico há tanto tempo sublimada no trabalho.

Alice recostou a cabeç a no braç o que ele havia acariciado com suas mã os possessivas. Era desconcertante ser desejada por um homem igual a ele: alto, moreno e com aquele fí sico invejá vel; e ela havia reparado nem bem ele entrara em seu quarto no hotel Metró polis.

Para uma solitá ria como ela, sem dú vida ele era um tremendo partido.

Alice logo afastou esse pensamento cí nico. Qualquer que fosse o motivo pelo qual ele ia se casar com ela, nã o devia se esquecer de que os gregos levam muito a sé rio o casamento, apesar de o celebrarem com muita festa e alegria. O casamento que iam assistir juntos seria uma espé cie de ensaio para ela. Deitada na escuridã o do quarto, imaginava que vestido ia usar. Talvez fosse melhor pedir a Katerina que a ajudasse a arranjar alguma roupa tí pica. Sorriu pensando que gostaria de se vestir como grega. Mas desistiu da idé ia porque se lembrou que assim ia aumentar sua semelhanç a com Timareta. Mas, bem no fundo desse impulso, nã o estaria o desejo de pelo menos uma vez fazer de conta que era a garota a quem Stefan havia amado tanto?

Alice enterrou o rosto no travesseiro desesperada. Sim, ela ia possuir o corpo dele, mas sem a alma! Stefan tinha dado provas suficientes da sua capacidade de se dedicar a quem realmente amasse. E como Alice gostaria de ser o objeto desse amor ardente, exclusivo! O que mais ela poderia querer da vida?



  

© helpiks.su При использовании или копировании материалов прямая ссылка на сайт обязательна.