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A intrusa 8 страница



Alice podia imaginar o que ia acontecer, se ambos fossem levados a um casamento sem propó sito. Levantou-se e começ ou a andar pelo balcã o. Estava com Stefan há uma semana e precisava lutar contra aquela forte atraç ã o fí sica. Era isso o que ela tinha de fazer com todas as forç as. A solidã o poderia estar esperando por ela em Londres, mas o que Stefan oferecia poderia levá -la a uma vida miserá vel...

Era Alice Sheldon e, se Stefan nã o poderia amá -la, nã o podia sonhar em se casar com ele. Voltaria para a Inglaterra e ele certamente se consolaria com outra garota grega. Uma jovem ”bonita com uma visã o simples da vida, que ficasse feliz com seus filhos e que nã o achasse essencial que ele a amasse totalmente.

Alice encostou-se na grade do balcã o e apanhou uma flor. Ficou ali com o rosto contra o sol. A paixã o que sentia era como o sol queimando a pele. Era parte da sua vida, corria em suas veias, mas nunca iria satisfazer os sonhos de Alice. Naquele momento, estava convencida disso e nada ia mudar seu modo de pensar.

 

 

                                   CAPÍ TULO VIII

 

 

Estava uma tarde incrí vel! O cé u parecia em chamas. O perfume inebriante dos pinheiros entrava pelas janelas abertas e, para alé m deles, o mar com seu brilho fosforecente refletia os pá ssaros em seu voo à busca de abrigo nos rochedos avermelhados pelo entardecer.

com o passar dos dias, Alice foi descobrindo os lugares maravilhosos que a rodeavam. Havia explorado o castelo e descoberto salas atrá s de recantos escondidos e escadas que levavam a só tã os de onde se podia ver toda a ilha. A cozinha era muito grande, com um fogã o enorme. Na despensa, os armá rios estavam cheios de potes de compotas de frutas, gelé ias, conservas, mel e vinho, tudo feito na ilha.

Ela nã o se cansava de passar pelo jardim, onde trepadeiras cresciam pelos muros e romã zeiras ostentavam seus frutos. Nos pomares, cresciam os pé s de pistache, com suas flores rosas, amendoeiras, pessegueiros e outras á rvores frutí feras.

Aquela ilha fazia Alice acreditar nas antigas lendas gregas e, muitas vezes, com o sol a pino, imaginava que as sereias deviam estar saindo de suas grutas azuis para enfeitiç arem os marinheiros com seus cantos.

Alice contemplou o cé u, que estava raiado de vermelho como se fosse acabar em chamas. O seu pró prio vestido tinha uma tonalidade avermelhada. Enquanto estava ali, no balcã o, ela sentiu um cheiro de queimado no ar, misturado com o perfume dos ciprestes e o cheiro forte das algas grudadas nos rochedos do mar.

Ela sentiu medo, pressentindo alguma coisa no cé u. Alguma coisa invisí vel parecia pairar sobre o mar. Será que Miklos, o barqueiro, estava de volta com a resposta de Berta? Stefan ia saber entã o que ela nã o estava envolvida com Damaskinos e teria de cumprir sua palavra e deixá -la ir embora.

De repente, Alice sentiu um leve tremor. Ouviu uma trovoada e imaginou que estava para desabar um temporal. O cé u e o mar estavam vermelhos. O sol era como uma bola de fogo prestes a tocar o mar. Outra vez, sentiu o chã o tremer levemente debaixo dos pé s. Será que suas pernas estavam tremendo na expectativa de que Stefan lhe contasse, na hora do jantar, que finalmente tinha recebido a resposta de Berta?

Ficou algum tempo apoiada na grade do balcã o olhando o brilho do pô r-do-sol que a deixava de certa forma assustada. De repente, recuou assustada e um raio cortou o cé u em sua direç ã o, fazendo saltar fagulhas da grade que ela acabava de deixar. Alice correu para dentro e fechou as venezianas. Ia cair uma tempestade e era por isso que ela estava tã o sensí vel. Geralmente, nã o tinha medo de tempestades, mas nunca havia visto uma numa ilha, completamente desprotegida. Nã o lhe agradava pensar que as á rvores, as flores e os animais selvagens pudessem ser atingidos impiedosamente pela chuva e pelos raios.

Sentiu um arrepio e decidiu descer para se aquecer junto à lareira do salã o. Se durante o dia fazia calor na ilha, quando o sol se punha esfriava rapidamente. Alice adorava esses extremos de calor e frio. A lareira funcionava permanentemente e ao entardecer sempre se podia sentir o perfume de cipreste queimado.

Tentando parecer tranquila, Alice desceu a longa escadaria, lembrando-se mais uma vez que aqueles degraus gastos tinham sido pisados por monges. Era estranho andar por aquele mesmo lugar, já que outrora era proibida a entrada de mulheres no mosteiro, por se acreditar que tivessem parte com o demó nio. Era isso o que Stefan tinha contado quando lhe mostrou algumas frases entalhadas na pedra de um arco que conduzia para o pomar de oliveiras. Ali, provavelmente, um jovem monge havia trabalhado e fatalmente teria pensado em mulheres. Um dia, revoltado contra essas tentaç õ es, resolveu escrever na pedra aquela advertê ncia: ”As mulheres sã o a porta do inferno e o caminho que conduz a ele é coberto com seus ossos. Ela é o anjo profano e a transgressora das leis divinas e os homens caem em pecado por causa delas”.

— Caem mesmo! — Stefan tinha dito traç ando com os dedos as palavras inscritas na pedra e que o tempo nã o havia apagado. A mulher é o misté rio dos tempos, nã o? No fundo, nã o passa de um punhado de cabelos longos e sedosos sobre formas divinas. Por causa dela houve a guerra de Tró ia onde morreram muitos homens para que apenas um só homem tivesse Helena nos braç os.

— O que você teria feito? — perguntou-lhe Alice. — Mandaria cortá -la em pedacinhos para que os soldados a exibissem nas pontas das espadas?

— Por que nã o? — disse Stefan com um brilho malicioso nos olhos. — Provavelmente teria dado um belo prato.

— Você nã o é nada româ ntico — replicou Alice, ao que ele concordou com um aceno de cabeç a.

— Romantismo você tem em quantidade suficiente para nó s dois

— disse ele.

Alice parou na escada de volta à realidade, quando viu o grande candelabro de bronze balanç ando como se fosse um grande sino. Desceu correndo o resto dos degraus, como se estivesse sendo perseguida por algum fantasma.

Chegou ao hall aflita, mas o silê ncio foi subitamente quebrado pela risada de Stefan que chegava acompanhado de outro homem. Era Alex Kassandros, um primo da mesma idade de Stefan e que havia chegado num aviã o anfí bio há poucos dias. Era encarregado da contabilidade dos negó cios de Stefan e foi com um ar de complascê ncia e divertimento que aceitou a explicaç ã o de que a srta. Sheldon era hó spede em Fí reglow.

Os dois homens pararam de conversar quando Alice correu para eles sem fô lego.

— Tem alguma coisa errada — gaguejou. — Olhem para lá! Ela apontou para o grande candelabro de bronze da escada, agora completamente imó vel.

— O que você acha que está acontecendo? — perguntou Stefan.

— O candelabro de bronze estava balanç ando! — Alice olhou assustada para ele. — Pensei que estivesse acontecendo um terremoto.

Alex se dirigiu para a escada e examinou atentamente o candelabro que continuava imó vel. Voltou-se para ela e sorriu.

— Acho que você imaginou coisas. Eu sempre disse a Stefan que esta casa tem uma estranha atmosfera quando a noite começ a a cair e posso jurar que uma vez vi a sombra de um monge na parede do corredor.

Alice mordeu os lá bios. Ela estava certa de ter visto o candelabro balanç ar em sua corrente, mas quando olhou para Stefan percebeu alguma coisa em sua expressã o e resolveu nã o insistir. Ele estava com as mandí bulas cerradas e o olhar duro.

— Parece que vai haver tempestade — disse ele. — Disso eu tenho certeza! O cé u estava carregado quando o sol se pô s e eu vi um raio cair aqui perto.

— Sim, notei como o cé u estava vermelho — concordou Alex.

— Cé u vermelho ao anoitecer, prazer dos pastores – observou

Stefan com os olhos ainda fixos em Alice. Pode ser que amanhã tenhamos um dia inesquecí vel.

Naquela noite, Alice estava muito sensí vel à s má s vibraç õ es e percebeu um sinal perigoso no rosto de Stefan. Seu coraç ã o bateu mais forte e ela teve certeza de que Miklos já tinha voltado do continente trazendo a resposta de Berta. Só podia ser a confirmaç ã o do que ela havia contado a Stefan. Essa a razã o de seus olhos estarem impenetrá veis quando olhavam para ela. E isso só podia significar uma coisa: ele estava desapontado porque nã o ia poder prendê -la mais para se vingar de Damaskinos. Tinha de libertá -la ou quebraria sua palavra de honra, coisa que um grego nã o faria.

— Vamos tomar um aperitivo antes do jantar — propô s Stefan, dirigindo-se para o salã o. Na porta esperou que Alice e o primo entrassem. Quando ela passou, sentiu os olhos dele fixos em seus cabelos, que prendera numa tranç a ao alto da cabeç a.

— Você está excepcionalmente charmosa esta noite, Alicia comentou ele. — A gente podia até pensar que você está vestida para comemorar alguma coisa especial!

Alice olhou para ele e começ ou a sentir uma certa apreensã o. Em seu terno impecá vel ele tinha um ar felino que aumentava a sensaç ã o de perigo.

— Ora, uma mulher nã o precisa de pretextos para se fazer charmosa — disse Alex. — Chego a tremer só de pensar o que seria da vida se as mulheres nã o fossem vaidosas. Elas gostam de se enfeitar e nó s gostamos mais ainda, a menos que você, Stefan, esteja se deixando dominar pelo espí rito moná stico.

— Posso garantir a você, Alex, que isso nã o está acontecendo comigo. O que você quer, primo? Um cherry?

— Cherry é para as senhoras. — Alex sentou-se no braç o de um grande sofá de couro e olhava diretamente para Alice, imaginando se ela nã o tinha se vestido especialmente para impressionar Stefan. O vestido verde de listras lhe dava um ar exó tico e parecia que tinha se aprontado com esmero como se estivesse dando um adeus a Solitá ria. Se Stefan já estava com a resposta de Berta, aquela seria a sua ú ltima noite na ilha. No dia seguinte iria para Atenas no aviã o de Alex.

Ela se sentou com um ar tranquilo e aceitou o cá lice de cherry que Stefan lhe ofereceu. Depois de servir um uí sque para seu primo, ele foi para seu lugar habitual ao lado da lareira, com seu copo na mã o.

— Você deixou esta casa muito confortá vel — disse Alex para Stefan. — Eu nã o me importaria em viver num lugar que já foi mosteiro, mas para isso a gente tem de ser muito româ ntico. Eu prefiro um apartamento moderno no centro de uma grande cidade.

— Você sempre foi muito prá tico, Alex. — Stefan tomou um gole de uí sque. — Duvido poré m que a srta. Sheldon concorde em que eu seja româ ntico. Ela acredita que eu tenha alguma coisa de pirata, nã o é Alicia?

Alice nã o respondeu.

— Stefan tem a sagacidade de um magnata grego, mas seu coraç ã o esconde um lado româ ntico — comentou Alex. — Pelo que posso perceber, Alicia, você també m é româ ntica e certamente nã o deve ser como algumas europeias faná ticas pelo sol e que vê m para a Gré cia para fazerem propostas desavergonhadas aos homens. De nenhuma forma consigo imaginá -la fazendo isso. Posso chamá -la de Alicia? É um nome muito bonito.

— Na verdade, me chamo Alice, mas seu primo prefere me chamar à maneira grega.

Alex olhou atentamente para ela e para Stefan. Parecia que ia dizer alguma coisa mas parou. Alice sabia o que ele tinha pensado! Só podia ser sua semelhanç a com Timareta!

— Você tem belos olhos, Alice — disse Alex. — Mas o que você acha desta casa em cima dos rochedos?

— Muito interessante — ela respondeu. — Andei fazendo alguns desenhos dela e vou levá -los como lembranç a para a Inglaterra.

Enquanto falava, Alice percebeu que Stefan a observava. Depois, num tom de caç oada, disse:

— Fico feliz em saber que você vai ter recordaç õ es da minha casa, Alicia. Será que fez també m alguns desenhos do dono?

— Nã o é fá cil captar sua expressã o — respondeu. E era verdade; cada vez que tentava fazer um esboç o de Stefan, suas mã os começ avam a tremer e ela nã o podia continuar desenhando. Isso nã o acontecia com a casa e as pessoas da ilha. Ela se aborreceu ao se dar conta de que ele a perturbava a tal ponto. Era um rosto que gostaria de desenhar, com suas linhas fortes, um ar de ironia na boca e aquela intensidade no olhar.

— Acho que Stefan tem um rosto de linhas marcantes — disse Alex. — Nã o sei por que você acha difí cil desenhá -lo.

— Ele parece estar olhando sobre os meus ombros quando tento.

— Alice riu para disfarç ar seu nervosismo e continuou: — Você prefere entã o viver numa grande cidade a viver numa ilha? Eu moro em Londres.

— Você gosta da vida na cidade, Alicia? — perguntou Alex como se duvidasse. — Para viver na cidade, é preciso que se tenha uma boa vida social, se nã o você se sente isolada. E me parece que você nã o gosta de muito movimento. Nã o que eu esteja querendo dizer que você pareç a antissocial, mas acho que você e Stefan nã o parecem gostar de muita gente. Estou certo?

— Você me faz sentir um bicho-do-mato, Alex. É que sempre tenho muito trabalho para fazer e nã o me sobra tempo para ir à s festas.

— É a mesma desculpa de Stefan! — Um brilho passou pelos olhos de Stefan quando notou que o primo tinha insinuado que havia alguma coisa em comum entre ele e Alice. — Só trabalho, sem divertimento, é como viver de pã o e á gua.

— Por outro lado — interrompeu Stefan -, só champanha e bolo de creme poderiam se tornar insuportá veis depois de algum tempo. O difí cil é ficar no meio-termo, levar uma vida que nã o embote os sentidos ou a mente. Pã o e vinho, talvez.

— Talvez — concordou Alex, franzindo a testa, como se a conversa estivesse ficando filosó fica demais para o seu gosto. — Acho que você s nã o vã o ficar trabalhando sem parar a vida toda; e mesmo você, Stefan, nã o tem a disposiç ã o de um monge, apesar de viver num lugar que já foi um mosteiro. Dizem que as casas transmitem as vibraç õ es dos que já moraram nela.

— Você acha que eu ia trazer uma mulher cujas vibraç õ es sã o opostas à s delas? — perguntou Stefan olhando intencionalmente para Alice. — Você sentiu alguma influê ncia sinistra nesta casa, Alicia? Alguma coisa que tenha perturbado seu sono, por exemplo?

— Nã o, nada de estranho me perturbou — respondeu ela, olhando dentro dos olhos de Stefan, para que entendesse que ele era o ú nico motivo de sua intranquilidade naquela casa. — Nã o acredito no sobrenatural e, se houver misté rios alé m da nossa imaginaç ã o, acho que nã o ia me impressionar muito.

— Teria de ser algué m real, hein? Um homem de carne e osso e nã o sombras na parede! — disse Stefan intencionalmente.

— Sim — respondeu ela. — Apesar de todas as anedotas de solteirona olhando debaixo da cama para ver se encontra algum homem lá, a verdade é que a mulher sozinha, solteirona, sente medo de ser atacada. Os homens nã o entendem isso porque sã o mais fortes fisicamente, mas nó s mulheres temos muito medo de sermos abordadas por estranhos.

— Acredito que sim — disse ele com profunda ironia. — Uma mulher numa situaç ã o dessas deve provavelmente desmaiar.

— Oh, sim! — respondeu ela com veemê ncia. Depois, percebeu a intenç ã o de Stefan e sentiu-se novamente revoltada com o que ele estava fazendo com ela, como se fosse culpada e tivesse de pagar por alguma coisa que nã o tinha feito. Só desmaiando tinha podido escapar dos seus braç os. Agora que já tinha em mã os a resposta de Berta, devia saber que tinha agido mal e pedir desculpas, pelo menos.

Alice procurou algum sinal de arrependimento em seu rosto, mas nada percebeu naqueles olhos impenetrá veis, que nã o revelavam a menor emoç ã o. Stefan sugeriu que fossem jantar.

Como sempre, a comida estava excelente! Como sobremesa havia pudim de mel feito segundo uma antiga receita turca. Isso levou Stefan a falar do costume turco de pô r vé us nas mulheres e mantê -las subjugadas, algo que nã o se fazia mais. Falou de um seu amigo, chamado Khalid Bey, que lhe havia contado que muitas mulheres ainda gostavam de usar vé us durante o jantar com os maridos.

— É uma moda bonita — disse Alex e sorriu pensativamente. Um adorá vel par de olhos aparecendo num rosto velado... Tentador, nã o, Stefan? Imagine Alice com um. Ela nã o ia parecer inglesa. com os olhos de esmeralda e os cabelos escuros poderia passar por uma grega.

Alice sentiu o rosto queimar e esperou que Stefan nã o levasse a sé rio o que Alex tinha dito. Mas, ao contrá rio, ele a olhou intensamente e disse:

— Sim! Nã o é sempre que se encontra olhos com esse tom esverdeado. Alicia tem belos olhos e eu seria o ú ltimo a negar isso.

— Ela nã o lembra... — Alex parou de falar e Alice apertou o cá lice com forç a.

— Mais vinho? — perguntou de repente, oferecendo a garrafa a Alex. E foi justamente nesse momento que os vidros começ aram a vibrar e as cortinas a voar como se alguma coisa quisesse entrar na sala. A fumaç a da lareira espalhou-se pela sala e no instante seguinte o estrondo de um trovã o estremeceu Fireglow.

— É a tempestade! — disse Stefan. Alice notou que ele estava observando o vinho balanç ando em seu copo ao lado do prato de sobremesa. Lembrou-se entã o de como o candelabro da escada tinha balanç ado. No que ele estaria pensando? Que o trovã o podia ser o começ o de alguma coisa mais grave?

— Você tem medo de tempestades? — perguntou-lhe.

— E com razã o. Eu nunca presenciei um terremoto. Isso nã o é comum na Inglaterra — respondeu ela, retribuindo seu olhar.

— Por que você disse terremoto?

— Porque vi o candelabro balanç ando e imaginei que estivesse começ ando um.

— Sempre existe essa possibilidade — concordou. — Debaixo do castelo existem algumas celas onde os monges conservavam o vinho que fabricavam; se eu perceber que há algum perigo, teremos de nos abrigar lá. Abaixo do solo é possí vel a gente se livrar das pedras que podem cair, apesar do perigo do chã o se abrir.

— Oh, nã o! — Alice estremeceu. — Por favor, nã o fale disso. vi na televisã o cenas sobre aquele terremoto na Turquia. Deve ter sido uma coisa horrí vel.

— Sim, a natureza pode ser um inimigo cruel, da mesma forma como é nossa amiga, na maioria das vezes. É caprichosa como uma mulher.

— Nã o sei por que tratamos a natureza no feminino — observou Alex.

— Porque ela reproduz Á rvores, plantas, vulcõ es, tudo tem origem nela — explicou Stefan.

— E onde fica o macho nessa histó ria? — perguntou Alex sorrindo.

— É o vento que carrega as sementes, a chuva que molha a terra, o sol que faz tudo crescer.

— A antiga filosofia grega, hein? Ah, entã o é por isso que o vento, a chuva e o sol assumem a forma de deuses masculinos, na mitologia grega! — exclamou Alex, olhando para Alice. — Eu nã o disse que Stefan tinha um coraç ã o româ ntico? Em nossa vila, quando jovem, ele parecia o deus Apolo, só que nã o dava em cima das garotas como o deus grego.

— Garotas sã o um passatempo — disse Stefan para Alex. Quanto mais, melhor.

— É sá bio brincar com o amor na juventude, primo. Uma tolice fazer dele um jogo.

— O que quer dizer? — Stefan arqueou a sobrancelha e Alice notou como seus olhos se contraí ram.

— Você sabe o que eu quero dizer, Stefan. Quando se é jovem, namora-se apenas por diversã o. A parte sé ria do amor fica para depois, quando a mente e o corpo já estã o maduros.

— Como o vinho? — retrucou caç oando.

— Sim — confirmou Alex convicto, mas de repente sua expressã o mudou como se fosse dizer alguma coisa e temesse a reaç ã o de Stefan: — Eu quero dizer, pô r uma garota no pedestal.

— O que você quer dizer com isso? — a voz de Stefan estava tensa. Alice entã o se encolheu no sofá, enquanto os raios caí am sobre as cumieiras do castelo.

— Foi o que você fez — lembrou-lhe Alex e tomou um gole de vinho. — Depois de todo esse tempo, vou lhe dizer uma coisa. Seu anjinho nã o passava todo o tempo quietinha nã o. Como as outras garotas, ela gostava de desafiar os pais e namorar. Se você quer saber, namorou comigo!

— Você é um mentiroso. Um deslavado mentiroso! — exclamou Stefan.

— Nã o sou nã o, Stefan. — E o que mais me incomoda é você nã o querer ver as coisas como sã o. Ela era uma garota comum, que gostava de se divertir, embora se protegesse com aquela má scara. Sentia-se lisonjeada porque você era o rapaz mais bonito da vila e o mais ambicioso. Enquanto isso, comigo, ela se mostrava um pouco menos sé ria.

— Se tudo isso é verdade, miserá vel, por que nã o disse nada durante todo esse tempo? — perguntou Stefan, inclinando-se para o primo.

— Nã o via razã o para isso.

— E qual é a razã o agora? — Stefan estava furioso. — Só porque a srta. Sheldon está aqui você acha que existe alguma coisa entre nó s?

— E nã o tem nada de mais! — respondeu Alex. — Alicia é jovem e você está no ponto de se casar.

— E por isso nó s necessariamente precisamos estar atraí dos um pelo outro? Seria interessante que você perguntasse a Alicia o que ela acha da sua deduç ã o. Vai lhe dizer que me acha o ú ltimo homem da terra com quem sonharia amar.

Alex deu uma olhada para Alice como se fosse fazer a pergunta, mas decidiu que era tempo de mudar de assunto antes que seu primo chegasse à s vias de fato.

— Posso ver as celas, onde os monges guardavam o vinho? — perguntou Alice. Sorriu para Stefan, fazendo forç a para nã o demonstrar seu constrangimento em relaç ã o ao que Alex tinha dito sobre Timareta. Stefan a tinha amado tanto, pensando que fosse cheia de virtudes, e agora tinha de aceitar o fato de que ela fora uma garota como qualquer outra e talvez menos apaixonada por ele do que se supunha.

— Sim, por que nã o? Você vem com a gente, Alex?

— Se trê s nã o for demais... — brincou Alex.

— Eu teria ficado agradecido se você nã o tivesse tocado no assunto, e dê -se por feliz por nã o lhe ter dado um soco na cara! — disse Stefan.

— Por dizer a verdade? — ousou Alex perguntar. — Qual é o problema, Stefan? Você nã o acredita mais nos outros? É isso que acontece com as pessoas que ficam ricas, acham que só sã o procuradas por causa do dinheiro. Isso nã o é bom, primo. Nó s admiramos você pelo seu valor. Você é dono de uma integridade que eu sempre invejei. Sou capaz de guardar seu dinheiro até o ú ltimo centavo, mas nã o posso dizer a mesma coisa em relaç ã o a uma mulher.

Alex dirigiu-se para Alice e ofereceu-lhe o braç o.

— Posso ser seu par na visita à s celas dos monges?

— Você é muito malicioso — comentou ela, sorrindo.

— Essa malí cia é caracterí stica da famí lia. Stefan nã o é nenhum santo, apesar de viver nesse mosteiro.

— Oh, tenho certeza de que meu anfitriã o nã o é realmente nenhum santo — disse ela, apoiando-se no braç o de Alex. Era um homem atraente, mas frí volo comparado com Stefan.

A adega era bem iluminada e tinha o teto abobadado. As garrafas de vinho de gargalo comprido estavam guardadas em suportes hexagonais formando colmeias. Havia vinhos feitos de todas as espé cies de frutas, ervas e vegetais. Stefan achou alguns cá lices e serviu um vinho de cor dourada.

— Experimente este — disse ele. — É quase como champanha; se iguala em qualidade com os melhores vinhos franceses. — Observou as garrafas nos cantos mais escondidos, cobertos de teias de aranha. — Estes vinhos tê m fó rmulas que remontam a sé culos. Os monges transmitiam o segredo das suas misturas uns para os outros.

— Pura ambró sia — disse Alex. — Nã o acredito que eles fabricassem estes vinhos e nã o os bebessem. Recuso-me a acreditar que eles vivessem só de pã o e á gua.

— Você nã o ia aguentar essa vida, hein? — Stefan recostou-se numa prateleira e ficou com o rosto na penumbra. — Estando aqui embaixo, Alex, lembrei-me da histó ria do marido vingativo que pô s droga no vinho do amante de sua mulher e depois, quando ele estava dormindo, o emparedou vivo junto da cama dela. Que vinganç a refinada!

Alex ficou olhando para o primo sabendo onde ele queria chegar.

— Nã o vamos brigar por coisas que aconteceram há tanto tempo, Stefan. Seria melhor que eu tivesse ficado de boca fechada.

— Seria realmente a atitude mais sá bia, Alex.

— Acho que você se pune demais! Naquele tempo você nã o era rico e a garota teve de ir embora ganhar a vida.

— Alé m de contador, você agora é psicanalista? — perguntou Stefan caç oando. — Você sabe como sã o os pais nessas vilas. Eles acharam que eu primeiro tinha de construir minha casa para depois me darem a permissã o para o casamento. Fui entã o para a Inglaterra fazer o curso de hotelaria e, quando recebi a notí cia da morte dela, voltei imediatamente. Sim, talvez eu me culpe pelo que aconteceu. Se tivesse sido menos grego nas minhas atitudes, poderia ter levado Timareta comigo e nada teria acontecido. — Ele parou de olhar e pegou Alice pelo pulso. — Vamos, está frio aqui e você está tremendo. Vamos terminar este vinho no salã o, ouvindo os discos que Alex trouxe de Atenas.

Sentada na funda poltrona, Alice observava Stefan apoiado na coluna da janela como se estivesse perdido ouvindo a mú sica grega. Mas Alice sabia que estava pensando na garota de rosto suave a quem tinha amado tanto. Stefan a tinha tratado de uma maneira muito especial e ela o enganara, até com o pró prio primo.

com o rabo dos olhos, ela viu Stefan apalpar alguma coisa no bolso do paletó e sentiu um frio no estô mago. Estava quase certa de que era a resposta de Berta e que ele estava esperando para lhe mostrar o telegrama no momento certo, quando Alex fosse dormir e eles estivessem a só s. Nã o queria que o primo soubesse por que ela estava na ilha.

O cheiro forte de charuto se espalhava pela sala e o barulho da tempestade era bem mais intenso agora. Cada vez que ouvia o estrondo de um trovã o, Alice nã o podia deixar de imaginar o que aconteceria se a ilha sofresse um terremoto. Aquelas paredes grossas desmoronariam e o telhado despencaria no mar? Esse pensamento nã o lhe dava medo mas sim muita tristeza. Havia alguma coisa em Fireglow que a atraí a. Talvez suas paredes grossas com os balcõ es dependurados como gaiolas de ferro sobre o mar ou os telhados em vá rios ní veis dominando os rochedos ou ainda seus jardins...

A mú sica parou e o tique-taque do reló gio fez-se ouvir. Stefan continuava no mesmo lugar, observando a fumaç a do charuto subir pelo ar. Alex bocejou e levantou-se.



  

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