Хелпикс

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A intrusa 2 страница



— O que está dizendo? — Alice se encolheu para longe dele, quase derrubando a caneca de café. Impacientemente ele a arrancou das mã os de Alice e a colocou sobre a estante.

— Você nã o sabe? Ele nunca lhe contou nada sobre a maravilhosa famí lia dele? — O grego deu uma risada amarga. — Nã o, provavelmente ele ia se revelar só depois do casamento.

— Você nã o percebe que um homem rico como ele nunca se casaria com algué m como eu!

— Algué m como você? — Seus olhos frios a percorreram cinicamente. De repente, ele a agarrou pelos ombros e a sacudiu fortemente. Quando a manta caiu, Alice se sentiu completamente nua debaixo do tecido transparente do penhoar. Começ ou a lutar e isso pareceu despertar nele o instinto animal. com mã os fortes puxou-a contra seu corpo e ela sentiu o mundo parar quando a beijou brutalmente.

Foi um beijo de ó dio que aterrorizou ainda mais Alice. Reagiu como uma crianç a maltratada; gemeu em seus braç os com as lá grimas escorrendo. Logo em seguida, ele jogou-a contra as almofadas do sofá e disse com desdé m;

— Quem é você, hein? Uma grande atriz ou uma crianç a num corpo de mulher?

— Eu sou Alice Sheldon — afirmou. — Por que você nã o acredita?

— Eu acredito em você. — Ele inclinou-se observando-a com os olhos semicerrados. — Você veio à Gré cia para se casar com um homem preso a uma cadeira de rodas. Isso é tí pico de pessoas como você, pá lidas e insensí veis. Você veio com a intenç ã o de arrancar tudo que pudesse desse homem que nã o pode exigir nada de você como mulher. Só que o negó cio nã o vai ser assim nã o, minha cara. Você está em minhas mã os! Todinha, da cabeç a aos pé s! E quando eu terminar com você, meu doce iceberg, Damaskinos vai sofrer o diabo sabendo que você suportou tudo nas minhas mã os!

Alice estava hipnotizada com as palavras do raptor. As lá grimas marcavam seu rosto e ela se controlava para nã o gritar.

— Por que você o odeia tanto?

— Isso lhe importa? — perguntou. — Quer me enganar que se preocupa com ele?

— Eu nem o conheç o! — exclamou.

— É verdade; só seus inimigos o conhecem realmente. — Sua mã o correu pelo corpo de Alice numa carí cia rude e vagarosa; sorria, cí nico.

Alice se encolheu toda.

— Você reage à minha carí cia como se nã o estivesse acostumada. Entretanto, ouvi dizer que as garotas inglesas perdem a virgindade no recreio da escola. Nã o vai me dizer que ainda é virgem! Será possí vel que lonides arranjou uma virgem só para conservá -la intacta? É o jeito dele, quando nã o as destró i!

— Eu nã o sei o que você está querendo dizer com isso. — Alice procurou levantar-se. — Por favor, deixe-me ir! — suplicou.

Ele sacudiu a cabeç a.

— Depois de todo o trabalho que tive para raptá -la? Esperei muito tempo para isso. Se você é a virgem de lonides, terei maior satisfaç ã o ainda em gozar o que ele nã o pode. E isso, veja bem, vinga só um pouco o que ele fez a Timareta. Disseram que foi suicí dio, depois de a acusarem de afogar o filho da irmã de Damaskinos!

Alice escutava como em transe e se lembrou de tudo o que Berta lhe havia dito sobre a tragé dia dos Damaskinos: o afogamento da crianç a e da enfermeira na piscina.

Alice olhava com medo e fascinaç ã o o homem que lhe contava tudo aquilo com amargura, e de repente o nome que ele havia mencionado veio-lhe aos lá bios.

— Timareta era a enfermeira?

— Ah! Entã o você está sabendo do que aconteceu naquela casa!

— Dessa vez ele a agarrou pelos cabelos com tanta forç a que ela deu um grito de dor. — O que eles lhe contaram? A mesma histó ria de sempre? Que Timareta, a moç a com quem eu ia me casar, levou a crianç a para nadar e a deixou morrer afogada? Ela nunca faria uma coisa dessas! Eu a conhecia desde a infâ ncia; crescemos juntos na mesma vila e sei que ela era tã o boa quanto carinhosa. Qualquer crianç a estaria segura com ela. Nã o! Foi Elektra Damaskinos que se livrou do filho e depois, com medo da brutalidade do irmã o, pô s a culpa em Timareta.

Os dedos forç aram-lhe mais os cabelos como se os quisesse arrancar. As lá grimas escorreram pelo rosto de Alice.

— Você é tã o brutal quanto ele — murmurou ela. — Acha justo machucar uma mulher, nã o?

— Acho justo machucar a mulher dele! — Ele sacudiu a cabeç a de Alice com tal forç a que ela gritou de dor. — Ah! Eu poderia arrancar todos os cabelos da sua cabeç a! — Deixou-a de repente, e ela, estremecendo, escondeu o rosto entre as mã os para nã o vê -lo.

— Nã o tenho nada a ver com isso. — Alice tremia sem parar.

— Vim para a Gré cia para dizer a Damaskinos que minha irmã queria desmanchar o noivado.

O grego nã o escutava o que ela dizia, pois já estava saindo da cabine.

— Tenho de ir ao convé s para ver se o barco está no curso certo. Nesta viagem levo só um rapaz comigo, alé m de você, srta, Sheldon.

— Nã o pode fazer isso comigo! — ela correu para ele. — Sou inglesa e isto é rapto. Há leis contra isso!

— A ú nica lei que conheç o é para Damaskinos e gente como ele.

— Inclinou-se contra a porta e a olhou com os olhos semicerrados e uma expressã o ameaç adora.

— Ele ficou impune pelo que fez com minha garota. Mas nã o ficará mais depois do que eu fizer com a dele! Quando nos encontramos na noite passada no hotel, percebi que vai ser muito desagradá vel para ele receber má s notí cias sobre você. Ele que a queria receber tí mida e pura. Agora sei por que ele a quer. Você tem um ar de modé stia e virtude que vai ficar bem em sua coleç ã o de jó ias imaculadas, nã o é?

— Eu nã o sei o que ele coleciona! — exclamou. — Quantas vezes mais tenho de dizer que nã o sou a garota de Damaskinos! Se você visse minha irmã, ia logo perceber o erro. Ela é loura, bonita e todos os homens andam atrá s dela.

— Você acha que os homens gregos gostam de mulheres que já passaram pelas mã os dos outros? — disse ele vagarosamente com um ar gozador. — Damaskinos é tã o grego quanto eu e ele rugirá como um leã o ferido quando eu a devolver sem esse ar de pureza. Meus olhos, meus beijos, minhas carí cias terã o estado em todo seu corpo, srta. Sheldon.

Alice olhou para seu raptor como se atravé s de uma neblina, mas suas palavras eram bem claras.

— Você está fora de si! — exclamou. — Damaskinos nem me conhece.

— E nem desejará conhecer depois do que eu vou fazer com sua gema rara. Nã o poderá exibi-la junto com os outros tesouros e isso vai ferir seu orgulho mais do que se eu lhe quebrasse o pescoç o e a deixasse intacta. Tanta inocê ncia numa garota da ilha da liberaç ã o feminina e da pí lula! Dificilmente se pode acreditar nisso, a menos que você represente muito bem.

— Eu nã o estou representando nada e você vai cometer um crime se... — Alice mordeu os lá bios. Ela já tinha experimentado um pouco da sua forç a fí sica. Ainda podia sentir as dores dos puxõ es que ele lhe havia dado. Ele odiava Damaskinos pelo que havia feito à sua garota e queria vinganç a. Os apelos de Alice de nada adiantavam e o fato de ela se chamar Sheldon bastava para ele. Ele a tinha nas mã os. Procurou cobrir-se com a manta. Berta tinha uma pele menos perfeita que a dela, mas Alice nunca havia imaginado que um homem saberia disso em circunstâ ncia tã o desesperadora.

— Você é cruel e teimoso — acusou-o. — Nã o quer me dar razã o. Nã o quer acreditar que eu nã o tenho a menor ligaç ã o com a morte de sua namorada. Você tem de se vingar em algué m, nã o? Bata-me, pode até quebrar meu pescoç o, mas isso nã o vai afetar nem um pouco Damaskinos. Eu serei a ú nica a sofrer, alé m da sua consciê ncia!

— Você representa muito bem! — respondeu ele. — Haverá um certo prazer na minha vinganç a. Uma certa doç ura que poderá desfazer um pouco a tristeza destes meus ú ltimos anos. Eu ainda sofro com a morte de Timareta, mas o que você sabe do amor, srta. Sheldon? Uma garota preparada para se vender a um animal rico.

Realmente, pensou Alice, o que ela sabia do amor? Uma mulher que os homens evitavam. Agora ela encontrava aquele homem que a confundiu com Berta e a levou para o barco. Seu barco? Mas até a noite passada ele era garç om no Hotel Metró polis!

— Quem é você? — perguntou. — O que faz?

— Alé m de demó nio? — caç oou. — Meu nome é Stefan Kassandros e nã o sou garç om do Hotel Metró polis. Eu sou o dono. Tenho muitos hoté is iguais a ele. Trabalho bastante para manter a cabeç a e o corpo ocupados. A garota que poderia compartilhar da minha prosperidade está perdida para mim. Desde sua morte, tenho me dedicado ao trabalho duro e vivido quase como um monge. Mas isso vai mudar quando nó s dois chegarmos à ilha Solitá ria, nã o é srta. Sheldon? — Ele parou de falar e olhou para ela significativamente. Em seguida continuou: — Eu també m tenho uma ilha, mas bem diferente daquela que lonides governa como um tirano. A minha é selvagem, isolada bem longe no mar Egeu. Lá, comigo, você pagará com seu corpo todas as horas de solidã o que passei debaixo das estrelas, sentindo o cheiro das ervas silvestres, vagando sozinho pelas praias. Você vai ficar comigo na ilha Solitá ria até eu me cansar de você... Você será minha em tudo, menos no nome! Deu para entender?

Claro como á gua. Cada palavra soava nos ouvidos de Alice com terrí vel clareza.

Aquele grego terrí vel estava dizendo que ela ia ser uma propriedade. Ela, Alice Sheldon, que atrá s dos ó culos e de suas blusas severas nunca havia atraí do um homem. Numa ilha grega selvagem, debaixo do sol, ela teria de viver com aquele homem numa intimidade que ela nunca havia imaginado. Esses pensamentos nã o faziam bem a uma mulher solitá ria. Só aumentavam sua solidã o... E como tinha sido solitá ria até entã o! Sua vida tinha sido só de trabalho. E agora esse homem dizia que ela tinha de ser dele em tudo, menos no nome!

— Nã o faç a isso comigo! — apelou erguendo as mã os. — Nó s dois nos degradaremos.

— com todo o prazer — replicou ele, aproximando-se dela, ajoelhada no sofá. Alice pô de ver a beleza dos seus olhos escuros e notar o maxilar forte debaixo da pele queimada de sol. Estremeceu quando suas mã os fortes deslizaram pelos seus ombros até as costas.

— Nã o tem mais jeito. Você já está indo comigo, por isso pare de lutar. É melhor se acostumar com a idé ia, senã o pode se machucar.

— Você já me machucou — disse ela com voz tré mula. — Nã o estou acostumada a ser tratada assim.

— Realmente, nã o está. — As mã os dele correram pelos cabelos de Alice. — Sã o como fios de seda envolvendo a pele mais clara do que qualquer uma que já vi. É tarde para arrependimentos, você já está comigo no meu barco. També m é tarde para compaixã o porque meu coraç ã o alimentou durante muito tempo este ó dio por lonides.

— Ele continuou a falar, com os dedos entre os cabelos de Alice, dessa vez sem machucá -la:

— Por mais que você negue, você é a mulher dele, o tipo de garota que aquele indiví duo poderia atrair com seu dinheiro. Eu nã o condeno você por querer ficar rica, o dinheiro serve para muitas coisas. Eu mesmo trabalhei muito, construindo meus hoté is e hospedando turistas que vê m à Gré cia atraí dos por sua histó ria e pelas lendas que cercam suas ruí nas.

Alice olhou espantada para ele. Nunca em sua vida havia ouvido um homem falar assim, com tanta paixã o por sua terra natal. Paixã o que parecia vibrar em todos os seus nervos, em tudo o que ele fazia.

Ele se inclinou sobre ela e falou em tom de ameaç a:

— Agora você é minha! Tornou-se minha no momento em que eu entrei em seu quarto na noite passada e a vi sair do banheiro. Pude sentir o perfume da sua pele e quando você tropeç ou e caiu em meus braç os, gostei demais. Você percebeu, nã o? Eu podia possuí -la naquele momento. Mas na ilha será muito melhor. Lá ficaremos quase que sozinhos. Existem poucas famí lias de empregados que cuidam da minha propriedade. Lá perpetrarei minha vinganç a e sentirei prazer no mais alto grau. Posso ver em seus olhos!

Hipnotizada pelos seus olhos ardentes, Alice sentiu o sangue correr mais depressa. Seu coraç ã o parecia bater num compasso desconhecido.

Todas as suas sú plicas nã o resultaram em nada diante da resoluç ã o inflexí vel daquele homem. E a cada momento seu coraç ã o batia mais depressa, pois o barco se aproximava cada vez mais da ilha Solitá ria.

Selvagem. Sem dú vida pitoresca, com o vento do mar batendo contra as rochas. Alguns poucos camponeses aravam a terra. Talvez uma casa de paredes brancas estivesse à espera de um homem e uma

mulher... A casa que ele havia construí do para si e para Timareta.

Alice lutou contra o magnetismo dos olhos dele e falou tré mula:

— Eu nã o sou a pessoa que você pensa! Eu uso ó culos e os homens me acham sem graç a.

Stefan riu e a largou no sofá.

— Na pró xima vez você vai dizer que usa dentadura e que seus cabelos sã o falsos.

— Eu sou mí ope, enxergo muito mal sem ó culos — explicou ela.

— Eu nã o tropecei de propó sito naquele tapete ontem à noite, se é o que está pensando.

— Nã o. Eu percebi o olhar de susto no seu rosto quando você caiu, foi por isso que corri para segurá -la. — Stefan sorriu.; - Você nã o sabe quanto tempo faz que nã o seguro uma mulher tã o junto de mim. Eu tinha quase esquecido o gosto. Aquilo selou sua sorte.

— O que quer dizer? — Alice olhou para ele completamente desamparada. Era assim que ele a fazia se sentir, seus ombros largos inclinados sobre ela e aquele sorriso de caç oada.

— Eu já havia decidido o que fazer com você quando você chegou. Pensei em pedir um resgate a Damaskinos para dá -lo depois à s obras de caridade. Mas isso foi antes de sentir seu corpo perfumado em meus braç os. No momento em que isso aconteceu, percebi que os deuses haviam arranjado uma maneira mais sutil e excitante de vinganç a pela morte de Timareta.

— Você é um criminoso louco! — acusou-o Alice. — Nã o pode querer realmente fazer uma coisa dessas. Nã o imagina que eu possa nã o querer ser tratada como um objeto e depois ser posta de lado?

— Quem pode impedir? Sou muito mais forte do que você e nã o volto atrá s, quando resolvo fazer alguma coisa. Damaskinos me roubou o amor e eu vou fazer a mesma coisa com ele!

— Mas ele nã o me ama! — exclamou Alice. — Nã o sou nada para ele, tem de acreditar em mim!

— Concordo plenamente que ele nã o possa amar uma mulher com ternura ou respeito — disse Stefan. — Ele só sabe como dominar as pessoas e eu vou fazer a mesma coisa com você. Só que com muito mais eficiê ncia. E isso vai ficar entalado na garganta dele.

— Você vai ficar feliz em descarregar todo o seu ó dio contra mim?

— perguntou Alice, com a voz fraca de medo.

— Vai me dar um imenso prazer. — Ele acompanhou com a ponta do dedo o contorno do rosto de Alice. — Que felicidade a mulher de Damaskinos nã o ser frí vola e insensí vel, mas sim uma mulher de sensibilidade. Gosto disso, Alice. Você é a mulher mais desprotegida que já vi.

Alice nã o podia desviar os olhos dele. Era o homem mais atraente que ela já havia visto e ao mesmo tempo o mais rude. Já havia passado muitas horas desde que ele havia entrado em seu quarto no hotel e servido o café com soporí fero, e nã o havia ningué m no mundo que se importasse com o que poderia acontecer com ela. Berta havia ido para o Ceilã o ao encontro de Harry, e Alice nã o tinha amigos com quem pudesse contar. Estava numa situaç ã o difí cil e tinha a impressã o que, como mulher, deveria estar gritando e arrancando os cabelos. Nã o era essa a atitude que uma mulher prestes a ser seduzida deveria tomar?

— Você é o homem mais inescrupuloso que conheci — disse ela.

— Absolutamente! — Stefan sacudiu a cabeç a. — Comparado com o demó nio com quem você ia se casar, eu sou um santo. Sou muito mais jovem que Damaskinos e meus desejos em relaç ã o à s mulheres sã o normais.

— Você acha normal o que está fazendo comigo? — replicou Alice.

— Nã o estou fazendo nada por enquanto. — vou deixá -la sozinha agora. Nã o chore e nem se desespere. Suas malas estã o do lado do sofá. Vista-se e suba para o convé s. vou mandar o rapaz fritar algumas salsichas e bacon. Nã o está com fome?

— Nã o!

— Acho que está. — Dessa vez ele se dirigiu definitivamente para a porta. — Quanto mais cedo você aceitar o inevitá vel, Alice, melhor será para você. Estou lá em cima esperando.

A porta se fechou e Alice encolheu-se no sofá ouvindo seus passos. Berta tinha avisado que os gregos podiam ser demoní acos e ela nã o quis acreditar. Foi para a Gré cia num impulso altruí sta e estava agora nas mã os de um demó nio. Ferido por um amor trá gico, ele queria se vingar nela, sem acreditar que lonides nem sabia da sua existê ncia.

Ela se levantou do sofá e foi para uma das escotilhas, com a manta ainda sobre os ombros. O mar estava incrivelmente azul, as ondas passavam rá pidas pelo barco que navegava velozmente pelo mar Egeu, separando-a cada vez mais da civilizada Atenas.

Essa era a realidade e nã o aquelas histó rias româ nticas para as quais fazia ilustraç õ es em seu apartamento de Londres. Lá em cima, no convé s, estava o grego alto resolvido a se vingar; e ali embaixo, uma mulher tremendo, embrulhada numa manta, tal como uma puritana inglesa.

Só que ela nã o ia ter mais nenhum desmaio e o demó nio ia ter de lutar muito para conseguir o que queria! Alice deixou a manta cair, arrumou os cabelos para trá s e colocou sua mala em cima do sofá. Se ele pensava que tinha raptado uma sereia, tudo bem. Ela ia lhe mostrar como ela era de saia e blusa, ó culos e o cabelo preso num coque.

CAPÍ TULO III

 

O barco deslizava facilmente sobre as ondas e, debaixo de suas velas de um vermelho ferrugem, o mar brilhava como se sua superfí cie fosse feita de milhares de escamas.

Alice subiu para o convé s muito quieta e se escondeu por detrá s de alguns equipamentos, observando Stefan Kassandros no leme do barco. Ele tinha tirado o casaco e seus ombros largos se realç avam com a camisa branca. Dentro da calç a de marinheiro desbotada pelo sol, se movimentava com a agilidade de um animal. Alice se contraiu enquanto o observava. Nã o imaginava que a simples presenç a de um homem pudesse ser tã o arrebatadora. Apesar de levar uma vida solitá ria, Stefan tinha um ar determinado, conduzindo o barco de madeira atravé s das á guas, revoltas. Estava em seu elemento, queimado de sol, batido pelos ventos. Um homem que vivia como um monge desde a morte da amada, mas que queria mudar tudo quando chegasse à ilha com a mulher que havia raptado.

Tudo era incrí vel, como num sonho fantá stico. Sentia-se como se estivesse enfeitiç ada. Alice aspirou o cheiro do mar e sentiu o sol queimar a pele e, pela primeira vez, pô de ver Stefan Kassandros com clareza.

Alice procurou entã o pelos seus ó culos e nã o os encontrou. Lembrou-se que eles tinham ficado sobre o armá rio do banheiro no hotel. Por sorte ela tinha trazido os ó culos de sol de lentes nã o muito escuras: eles serviriam para o uso diá rio. Usava uma saia justa escura e uma blusa azul abotoada até o pescoç o. Seus cabelos estavam presos num coque e o rosto sem nenhuma maquilagem. Era Alice Sheldon novamente, a comportada irmã da glamourosa Berta.

Endireitou o corpo delgado, acentuando a natural elegâ ncia que ela desconhecia ter mas que lhe dava um ar orgulhoso quando caminhava pelas ruas de Londres. Ajeitando os ó culos sobre o nariz, pretendia dar uma esfriada nos desejos do seu raptor.

— Aqui estou, sr. Kassandros — disse ela num tom impessoal. Vesti-me e vim para cima como o senhor mandou.

Olhou para ela vagarosamente e a primeira coisa que percebeu foi o cabelo preso.

— Solte os cabelos! — disse ele.

Apesar de haver prometido a si mesma controlar os nervos, no momento em que ouviu sua voz, Alice sentiu a mesma sensaç ã o anterior e seus joelhos começ aram a tremer.

— Vá para o inferno — respondeu-lhe com ó dio. — O cabelo é meu e eu sempre me penteei assim. Só solto quando vou para a cama.

— Muito sugestivo, mas acontece que eu gosto dele solto, mesmo quando você nã o está na cama! Solte-os e deixe que eles voem ao vento.

— Alguma ordem a mais, capitã o? — perguntou ela. — Acho que o senhor deve se habituar com a minha aparê ncia real.

Alice notou, pela primeira vez, que ele usava um medalhã o de jade no pescoç o.

— Afinal, o que há de errado com a sua aparê ncia? — perguntou ele. — Solte os cabelos; você fica muito melhor.

— Eu sou assim! — insistiu ela. — Nã o sou mais adolescente para usar cabelos soltos.

— Entã o por que os usa compridos? — replicou ele com ironia.

— Por que nã o os corta? Acho que sei por quê. Você sabe que fica muito sedutora quando os solta, mas nã o tem coragem de andar assim na rua, tem medo de se comprometer. Você é uma mulher medrosa, nã o é?

— Eu acho que você, alé m de hoteleiro, marinheiro e raptor, é psicó logo també m — respondeu. — O que sou é só da minha conta!

— Nã o mais! Agora você está por minha conta e posso fazer de você o que quiser.

— Você está agindo como um pirata! — exclamou ela. — Quero ver só quando a polí cia pegar você!

— Nã o acho que vã o me pegar, Alice. Estava escuro quando a tirei do hotel e a trouxe para o Phaedras. Alé m disso, seu nome foi apagado no livro de registro do hotel e nã o há provas de que você esteve lá.

— E o que me diz do recepcionista que me registrou? — perguntou.

— É um primo meu que gosta do emprego — respondeu. — Alé m disso, as relaç õ es familiares na Gré cia sã o muito fortes.

— E o rapaz que está neste barco? Ele vai me ver!

— Sem dú vida — respondeu com um sorriso de desdé m. — Ele é filho de outro primo e nã o vai haver nenhuma pergunta sobre o que eu venha a fazer com a mulher de Damaskinos. Nossa lealdade é de ferro.

— Você é que é feito de ferro! — protestou, apesar de atraí da pelo corpo forte e viril de Stefan. Quase desejou tocá -lo mas controlou-se a tempo. Aquele homem era um criminoso e ela estava agindo como uma solteirona faminta de amor.

— Eu odeio você — disse ela. — Você nã o passa de um fanfarrã o arrogante.

— Quase todos os homens sã o assim. Desde crianç a temos consciê ncia da nossa forç a fí sica e a usamos para dominar. Entretanto, do outro lado está a mulher que sabe que usando seu charme pode dominar o homem. Talvez você nã o esteja consciente do seu poder, Alice. Acho que vou ter de ensiná -la a usá -lo.

— E por acaso você acha que vai ser meu professor? — perguntou friamente.

— Pode ser que você nã o seja uma boa aluna. Veremos! Estou admirado de que Damaskinos tenha percebido dentro de você, srta. Sheldon, tã o pudica, uma outra pessoa tã o diferente, louca para se soltar! Uma gatinha medrosa e carente, hein? Diga-me, Alice, quando você era pequena, algué m lhe falou que você era sem graç a?

— Eu sei que sou — respondeu.

— Um pudim de arroz també m é, até o momento em que você prove o seu gosto com canela e aç ú car.

Ele deu uma risada sonora à qual Alice nã o estava acostumada. Ele ria e dizia aquelas coisas provocantes só porque pensava que ela era a prometida de seu inimigo mortal. Nunca, em seus sonhos mais loucos, tinha imaginado alguma coisa tã o irreal. Teve uma leve sensaç ã o de culpa, quando bem lá no fundo do coraç ã o desejou que ele continuasse a acreditar que ela era Berta. Mesmo sua irmã, tã o popular, nunca tinha encontrado um homem como Stefan Kassandros, com aquele magnetismo e aqueles olhos dominadores, que prometiam recompensas por todo sofrimento!

— Entã o você, que nunca amou, estava pronta a se entregar a um homem rico?

Assustou-se quando sentiu as mã os de Stefan retirando os grampos de seu cabelo, que se desfez em ondas suaves pelos ombros, refletindo o dourado do sol.

— Eu gosto muito de desafios, mas nã o suporto que me neguem os prazeres. Assim, você fica muito mais bonita.

— Você é muito seguro de si, nã o? — perguntou. — Nunca haviam agido assim com ela e muito menos achado que ela era bonita.

— Você está brincando comigo!

-Brincando? — Stefan sorriu e jogou os grampos no mar.

— Nunca mais prenda os cabelos. Você nã o é uma velha!

Eu nã o gosto dos meus cabelos entrando pelos olhos, nã o sou uma escolar.

— Realmente nã o é — concordou com malí cia. — Agora vamos dar um jeito nessa blusa. A cor é muito bonita, mas acho que fica melhor mais desabotoada.

— Nã o! — Alice levou as mã os ao peito. — Nã o quero me vulgarizar apenas para agradá -lo. Você nã o tem o direito de me dar essas ordens.

— Você é minha e deve fazer exatamente o que eu quero. Está na hora de você parar com essa bobagem toda, de respirar livremente. Você tem uma pele muito bonita!

Quando ele disse aquilo, Alice ficou vermelha. Ela sabia que tinha a pele bonita. Sempre se examinava no espelho do banheiro, sozinha, isolada dos outros. Agora, aquele isolamento estava para se acabar e nã o havia a menor dú vida de que se ela nã o desabotoasse um ou dois botõ es ele mesmo desabotoaria com todo prazer.

De cara fechada, Alice desabotoou o primeiro botã o, deu uma olhada para ele e desabotoou o segundo.

— Mais um — disse ele. — Trê s é um nú mero de sorte.

— Nem pense nisso — respondeu, mas fez o que ele queria ao sentir o calor da respiraç ã o de Stefan. Seus olhos escuros estavam presos em seu colo e Alice, sem jeito, se dirigiu para a murada do barco.

— As á guas estã o lindas, mas há tubarõ es nelas.



  

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