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A intrusa

”THE AWAKENING OF ALICE”

Violet Winspear

 

 

Disseram que viajar ia lhe fazer bem. Entretanto, durante a viagem para a Gré cia, a cabeç a de Alice parecia girar num tormento sem fim. Atravé s da janela do aviã o, ela olhou para o cé u, e teve a impressã o de ver o rosto bonito e amedrontado de sua irmã mais nova. - Ele vai me matar! - A voz sedutora de Berta tinha um tom de medo. - Nenhuma garota promete se casar com ele e depois desiste. Ainda mais que vendi o anel que ele me deu para pagar a passagem do aviã o...

 

Digitalizaç ã o: Dores Cunha

Revisã o: Fá tima Tomá s

 

 CAPÍ TULO I

 

Disseram que viajar ia lhe fazer bem. Entretanto, durante a viagem para a Gré cia, a cabeç a de Alice parecia girar num tormento sem fim. Atravé s da janela do aviã o, ela olhou para o cé u, e teve a impressã o de ver o rosto bonito e amedrontado de sua irmã mais nova.

— Ele vai me matar! — A voz sedutora de Berta tinha um tom de medo. — Nenhuma garota promete se casar com ele e depois desiste. Ainda mais que vendi o anel que ele me deu para pagar a passagem do aviã o. vou ao encontro de Harry e nã o tente me fazer mudar de idé ia. Agora que sua mulher morreu, estamos livres para ficarmos juntos. Você sabe que ela bebia e estava destruindo a vida dele. Eu nunca me importei com lonides. Foi seu dinheiro que me atraiu e ele deve ter percebido como eu me sentia. Como se alguma mulher pudesse amar algué m como ele!

— O que você quer dizer? — perguntou Alice. Ela nã o conhecia o grego que Berta havia encontrado numas fé rias em Creta, mas imaginava que devia ser vá rios anos mais velho que a irmã.

— Você nunca me falou sobre seu magnata grego. Por isso é melhor que explique o que quer dizer.

— Bem, ele nã o pode andar — disse Berta olhando com impaciê ncia para Alice. — Ele é paralí tico da cintura para baixo, o que já dá uma idé ia, nã o?

Alice e Berta nã o eram muito unidas. Entretanto, aquela revelaç ã o chocou profundamente Alice.

— Parece difí cil que ele possa matá -la — disse ela. — Acho que você diz isso para aliviar a consciê ncia.

— Você nã o conhece os gregos. — Berta sacudiu os cabelos louros e seus olhos azuis se fixaram desdenhosamente no rosto franco da irmã que a fitava por detrá s dos ó culos. — Nã o essa espé cie! Ele tem guarda-costas que lhe sã o totalmente fié is. Se ele desejar que espanquem uma garota, eles o farã o sem pestanejar.

— Nã o seja melodramá tica! — exclamou Alice. — Pessoas civilizadas nã o agem assim.

— Pessoas civilizadas nã o — concordou Berta -, mas há alguma coisa com os homens gregos que você nã o poderá entender se nã o conhecer algum. lonides tem muito dinheiro. É dono de uma frota de petroleiros e de navios cargueiros. Basta um estalar de dedos para que realizem todos os seus desejos. Eu estou apavorada. Amo Harry e nã o posso viver sem ele. Tenho medo que lonides possa prejudicá -lo de alguma forma.

— Isso é imaginaç ã o sua — disse Alice. — Como pode um homem que sequer anda prejudicar algué m que trabalha tã o distante, no Ceilã o? Seja razoá vel, Berta. Se você nã o quer se casar com ele, procure-o e explique suas razõ es. Diga-lhe que Harry ficou viú vo e que você s se conhecem desde a adolescê ncia. Estou certa de que se ele teve inteligê ncia para fazer fortuna, també m a compreenderá.

— Ele nã o compreenderá — insistiu Berta, passando distraidamente a mã o pelos cabelos suaves como os de uma crianç a. Ela tinha uma aparê ncia enganadoramente inocente. Poré m, Alice sabia que sob aquelas feiç õ es angelicais existia um egoí smo obstinado, que havia levado o confuso Harry Melvin a se casar com uma mulher muito mais velha para arrependimento de ambos. Até certo ponto, Alice podia entender os sentimentos da irmã. Mas estava certa de que Berta estava dramatizando as informaç õ es sobre o grego a quem nã o queria mais, agora que Harry estava livre para se casar com ela. També m era verdade que ela nunca havia encontrado um grego. A maioria dos homens a ignorava e ela havia crescido acostumada a uma vida sem romantismo, apesar de ter somente vinte e quatro anos. Certamente os gregos nã o seriam tã o vingativos!

— Para um grego, o noivado é quase tã o sé rio quanto o casamento — disse Berta torcendo as mã os. — lonides me deixou voltar à Inglaterra para comprar meu enxoval. Foi quando Harry me escreveu pedindo que fosse encontrá -lo e pareceu-me um verdadeiro pecado desperdiç ar tanta roupa maravilhosa com lonides Damaskinos quando eu poderia encontrar-me com Harry vestida como num sonho.

— Suponho que lonides pagou pelas roupas, nã o? — perguntou Alice.

— De certo! Onde eu ia arranjar tanto dinheiro? — respondeu Berta. — Minha conta na loja de alta-costura ficou muito alta e o que papai me deixou já se acabou há muito. Oh! Alice, você nã o pode me ajudar? Você é tã o sensata e sempre deu um jeito nas minhas dificuldades.

E o que de sensato você me sugere fazer? — perguntou Alice secamente. — Ir à Creta e oferecer-me ao grego em substituiç ã o à sua Vé nus loura?

Oferecer-se em meu lugar? — Berta, que nã o tinha senso de humor, olhou espantada para a irmã. Sacudiu desdenhosamente a cabeç a e disse:

Homens ricos como lonides somente se interessam pelas aparê ncias das mulheres, e você, querida irmã, nã o tem a menor possibilidade!

Alice sorriu, acostumada a esse tipo de sarcasmo. Como seu pai costumava dizer, ela era o cé rebro e Berta a beleza.

— Se você se meteu nessa encrenca, Berta, trate de sair dela sozinha. Aconselho-a a ser franca com o grego. Estou certa de que nã o faltarã o outras Marilyn Monroe sob medida para ele.

— Você sempre teve inveja de mim — disse Berta de mau humor.

— Está com raiva porque tenho dois homens a escolha e você, nenhum. É muito excitante ter dois homens me querendo, mas eu amo Harry. O problema é que nã o tenho coragem de encarar lonides. Devo voar para o Ceilã o imediatamente.

— Usando o dinheiro conseguido com a venda do anel de esmeraldas que, por direito, tinha de ser devolvido ao seu noivo! exclamou Alice. Ela nã o tinha inveja da beleza da irmã, da qual os homens, de uma forma ou outra, sempre quiseram se aproveitar. Estava perturbada com o tratamento desumano dado a um aleijado que desejava Berta mais como um adorno do que como amante. Realmente, o amor nã o devia fazer parte do trato. Mas mesmo assim ele ia sentir seu orgulho ferido por ser abandonado dessa forma.

— vou mandar um telegrama para lonides — disse Berta desafiadoramente. — Ele terá de aceitar o fato de eu ter mudado de idé ia.

— Visivelmente tré mula, acrescentou: — O problema é que ele tem um temperamento perigoso. Dizem que se vingou do homem que fez a infelicidade da irmã, e falam també m da morte misteriosa da enfermeira que deixou seu sobrinho se afogar.

— Por Deus! — Alice arfou como se tivesse levado um golpe no estô mago.

— E tudo é verdade — disse Alberta, passando a mã o pelos cabelos sedosos. — Foi sua irmã Elektra quem me contou, sem dú vida també m para me amedrontar. Ela teve o filho, embora o homem fosse casado, o que é muito grave na Gré cia. lonides ficou com a crianç a e a tratou como filho. Logo depois que ele se afogou, a enfermeira foi encontrada morta na piscina. Foi considerado legalmente como suicí dio por distú rbio mental. Entretanto, há rumores de que lonides pagou para que a liquidassem.

Berta deu um suspiro e seus olhos azuis procuraram confiantes o rosto de Alice, como se ela pudesse livrá -la da confusã o em que tinha se metido.

— Agora você entende por que lonides me causa tanto medo, nã o? Alice estava preocupada. Se houvesse um mí nimo de verdade no que sua irmã tinha contado, entã o lonides Damaskinos era um homem difí cil e mesmo perigoso.

— Sim, é melhor que você se case com Harry — disse por fim. Eu vou à Gré cia explicar as coisas a esse magnata grego.

— Você realmente vai fazer isso? — perguntou Alberta. — Ele vai descarregar toda a raiva em você!

— Será? — Alice ajeitou os ó culos sobre o nariz e acrescentou: Bem, pelo menos ele nã o pode prejudicar minha beleza.

Berta olhou para a irmã, e por um momento pareceu sair do seu egoí smo para imaginar como seria a vida de uma jovem ignorada pelos homens e alheia a todo e qualquer envolvimento amoroso. Há muito tempo consciente de sua falta de atrativos para o sexo oposto, Alice escolheu uma profissã o e dedicou-se inteiramente a ela. Trabalhava como desenhista e seus trabalhos eram muito solicitados. Muitas vezes se sentiu magoada em festas. Ficava sempre de lado enquanto Berta arranjava mais admiradores do que podia dar conta. Nã o ia mais se aventurar a ouvir novamente um jovem dizer ao amigo:

— Aposto que nã o tem graç a nenhuma beijar Alice Sheldon. Ela nã o passa de uma estudantezinha feiosa, comparada com aquela coisa linda que é a irmã. Ela sim pode excitar a gente!

Eles haviam rido, cú mplices, e Alice nã o teve dú vida de que Berta já havia experimentado a sensaç ã o de estar colada a um homem, de ter seus lá bios roç ando pela pele e seus desejos sussurrados em seus ouvidos. Alberta amava tudo isso e divertia-se. Alice, que tinha no fundo muito mais sensibilidade, estava certa de desejar essas emoç õ es. Seus ó culos e o rosto calmo e reservado escondiam seu í ntimo. Ela nã o podia borbulhar como champanha e namorar com a seguranç a de Berta. Nã o podia demonstrar que suas emoç õ es podiam fazer correr o sangue mais depressa nas veias.

Ela apertou o cinto de seguranç a quando o jato se preparava para aterrissar no aeroporto de Hellenikon, a poucos quiló metros de Atenas. Imaginava qual seria a reaç ã o de lonides Damaskinos quando se defrontasse com ela e nã o com Berta.

Imaginava també m por que razã o havia aceitado a tarefa de dizer ao grego que sua irmã ia se casar com outro. Seria pena ou alguma espé cie de emoç ã o em particular naquela trama?

Meia hora depois, o tá xi deixou-a no centro sombrio de Atenas. Em minutos ela estava assinando o registro na recepç ã o do hotel Metró polis, onde havia reservado um apartamento por uma semana.

Os quartos eram claros e confortá veis. Alé m disso, havia a vantagem de poder fazer seus pedidos em inglê s e nã o ter de gaguejar palavras gregas contidas no livro guia de turistas. Que lí ngua! Parecia tã o difí cil quanto o á rabe. Alguns homens que havia notado eram tã o escuros quanto os turcos.

Andou descalç a pelo quarto enquanto arrumava as roupas no armá rio. Depois, decidiu tomar banho e jantar alguma coisa grega. Chamou a portaria pelo telefone:

— Desejo pedir o jantar.

— Sim, madame. O que gostaria de pedir?

— Estava pensando em moussaka. É uma torta de carne com berinjela, nã o?

— Isso mesmo, madame, e é um prato grego muito gostoso. Posso sugerir medula recheada e batata doce para acompanhar?

— Parece bom!

— Melã o como entrada, madame, e depois talvez torta turca e café?

— Perfeito! — respondeu, sentindo um calor subir pelo rosto. Havia algo de viril e quase arrogante naquela voz. Nã o pô de deixar de imaginar como seria o dono dela.

— Por favor, senhorita, seu nome e nú mero do quarto.

— Estou no apartamento cento e vinte e meu nome é Alice Sheldon. Houve uma pausa. Depois ele perguntou:

— A senhorita é inglesa, nã o?

— Sim.

— O jantar estará em seu quarto daqui a pouco,

Alice pô s o fone no gancho achando que Berta estava certa quanto aos gregos: eram diferentes, mesmo pelo telefone.

De qualquer forma, apó s pedir o jantar, foi tomar um banho de chuveiro. Tirou os ó culos e olhou-se no espelho, vendo o que se escondia por trá s dos aros de tartaruga e das lentes de miopia: a profundeza sonhadora e misteriosa dos seus olhos verdes. Quando crianç a, sempre desejou ter os olhos azuis, como os de Berta, com aquele brilho provocante que chamava a atenç ã o dos homens. Alice nã o era fria e nem distante, mas era assim que os homens a viam.

Sempre imaginou como seria amar totalmente. Temia pensar num futuro solitá rio, apesar de orgulhosamente esconder de todos esse medo que pairava como uma sombra sobre seu coraç ã o.

Era realmente tã o sem atrativos? Quando tirou os grampos, os cabelos escuros caí ram suavemente até os ombros. Sua expressã o estava levemente ansiosa e a pele pá lida contrastava com os cabelos.

— Você nã o dá o melhor de si. — Berta sempre lhe dizia. — Prende os cabelos para trá s e, ao invé s de valorizar os olhos com um delineador e um pouco de sombra, esconde-os atrá s desses ó culos.

— De que adianta? — Alice replicava desanimada. — Dificilmente os homens fazem propostas a garotas que usam ó culos. De alguma forma, associam ó culos à falta de sexualidade.

Ela sabia que isso nã o era verdade. Entrou debaixo do chuveiro com os cabelos protegidos por uma touca plá stica. Reagiu sensualmente à á gua quente que caí a sobre o corpo alvo. Era mais delgada que Berta e muito pá lida. Sua irmã era queimada de sol, pois ia sempre à praia com os amigos nos fins de semana. Nunca a convidavam. Todos que as conheciam associavam Berta à alegria e divertimento e Alice aos livros e cadernos de desenho.

Alice moveu-se debaixo da á gua com as bolhas de sabã o deslizando pelo corpo. Tinha um sorriso quase que malicioso nos lá bios. Ah, se tivesse a coragem de ser como Berta! Iria se envolver numa nuvem de talco perfumado e vestiria o penhoar de chiffon vermelho que havia comprado! Vermelho-sangue, havia dito a vendedora, com mangas diá fanas e debrum de cetim salientando o busto.

Teria coragem de aparecer com aquela roupa quando o garç om viesse trazer o jantar? Sua irmã nã o se importaria. Adorava sentir os olhos dos homens cravados nela. Alice imaginou como se sentiria sendo alvo desse desejo. Estava com vinte e quatro anos e nunca tinha tido essa experiê ncia. Quando um homem olhava para ela era com indiferenç a, como se nela nã o existisse aquela chama que faz o sangue dos homens correr mais depressa nas veias, levando-os à quele estado de descontrole que muitas vezes tinha percebido quando eles se aproximavam de Berta.

O talco perfumou todo o quarto enquanto Alice o passava pelo corpo. Ela havia gasto muito dinheiro nessa viagem e realmente nã o sabia por quê. Havia comprado vá rios vestidos de lingerie do tipo que nã o costumava usar, como se fosse uma solteirona querendo encontrar um homem que a descobrisse e gastasse ao menos um sorriso com ela.

com um gesto de desafio, vestiu o penhoar de chiffon e fechou-o sobre a pele perfumada. Isso lhe deu um sentimento de culpa, que aumentou quando soltou os cabelos que caí ram desordenados sobre os ombros. Foi pô r os ó culos, mas como ia somente jantar decidiu dispensá -los para nã o desfazer sua aparê ncia tã o glamourosa.

Sorriu diante do espelho e murmurou:

— Mulher livre! O que diria o garç om se entrasse agora e me visse assim?

Alice foi para a saleta justamente quando bateram à porta. Abriu-a para que o garç om entrasse com o carrinho do jantar. Enquanto olhava para ele, teve plena consciê ncia de sua aparê ncia. Arrependeu-se de ter cedido ao impulso de tentar imitar sua irmã.

— A senhorita gostaria de jantar aqui? — perguntou ele, indicando uma pequena mesa oval em frente à janela do quarto.

Aquela voz! Alice lanç ou um olhar para ele e notou que era alto e extremamente moreno. A jaqueta branca contrastava com os cabelos castanho-claros e os olhos escuros. Ele a olhou com respeito, mas havia alguma coisa nele que a fez vibrar. Talvez porque estivesse tã o pouco vestida e ele tivesse notado.

— Foi com você que falei ao telefone quando pedi o jantar? perguntou.

— Sim, senhorita. — Ele inclinou a cabeç a e começ ou a colocar os pratos sobre a mesa. Levantou uma tampa e o aroma do moussaka chegou até Alice, despertando ainda mais seu apetite. Ela havia comido muito pouco durante a viagem.

— Venha! — ele afastou uma cadeira para que ela se sentasse, mas Alice hesitou em atravessar o quarto até a mesa, consciente da sua quase nudez. Ao contrá rio dos seus, que sem ó culos faziam tudo parecer nublado, os olhos dele deviam ver muito bem.

Sentindo-se um pouco nervosa, Alice procurou parecer o mais natural possí vel. Entretanto, ao caminhar para a mesa, a ponta de seu chinelo prendeu-se na borda de um tapete que ela nã o havia notado. Perdeu o equilí brio e teria despencado no chã o se nã o fosse a agilidade do garç om, que a segurou com firmeza. Ela se sentiu presa em seus braç os fortes. Seu corpo delgado estava comprimido contra o dele e aquele momento pareceu-lhe uma eternidade. Ela pô de entã o ver seu rosto mais claramente: moreno, anguloso e altivo; boca bem delineada e sobrancelhas negras que se juntavam acima de um nariz viril e bem-feito.

Ele lhe devolveu o olhar com uma intensidade penetrante e Alice entã o percebeu intenç õ es perigosas por detrá s daqueles olhos negros.

— Eu estou bem — disse ela, tentando soltar-se dele. Por instantes pareceu-lhe que ele nã o deixaria, mas depois, aliviada, conseguiu.

— Voltarei depois para levar o carrinho, srta. Sheldon — disse ele. Apesar de gentil, havia algo diferente em sua voz que a fez pensar em pedir que mandassem outra pessoa buscar os pratos. A porta se fechou e ela ficou ali parada, com as mã os tré mulas apertando o tecido do penhoar. Pela primeira vez em sua vida, Alice tinha estado em contato tã o í ntimo com um homem. Um estrangeiro moreno, de certo modo ameaç ador, que a fez duvidar do porquê de estar ali sozinha na Gré cia, desempenhando uma missã o da qual Berta nem se lembraria quando estivesse nos braç os do seu plantador de chá.

Quando se acalmou, Alice refletiu sobre sua idiotice. Berta lhe advertira sobre os homens gregos: fortes e dramá ticos, e viris! E ela sentiu tudo isso ao cair nos braç os do garç om.

Estava com a cabeç a rodando. Precisava se alimentar. Sentando-se à mesa, abriu o guardanapo sobre o colo e serviu-se do apetitoso moussaka. Levou uma garfada à boca e achou delicioso, como de resto tudo o que pedira para o jantar. Ao final da refeiç ã o, levou sua xí cara de café turco para a janela e lá ficou olhando para as luzes e o trá fego da cidade. Na manhã seguinte ia conhecer Atenas, pois havia tempo suficiente para encontrar-se com lonides Damaskinos.

Alice tomou o café e achou forte, doce e com um sabor diferente, mas nã o desagradá vel. Talvez fosse alguma essê ncia turca.

De repente, uma lufada de vento entrou pela janela. Alice suspirou e serviu-se novamente de café. Estava acostumada com a solidã o. Agora poré m se sentia mais do que nunca sozinha ali naquela terra estranha, vestida como para receber um amante hipoté tico, num penhoar de chiffon que somente um garç om grego havia visto. Provavelmente ele já estava acostumado a ver as turistas vestidas assim nos quartos do hotel.

Sentou-se no sofá e bocejou. Estava ficando cansada e queria dormir. Esqueceria todos aqueles ridí culos anseios de solteirona abandonada. Pelo menos tinha a satisfaç ã o de saber que era um sucesso no trabalho... Ironicamente o de ilustrar histó rias de amor. Mais de uma vez os editores lhe haviam dito que ela criava o tipo de rosto masculino preferido pelas mulheres: magro, moreno e sensual.

Ela colocou a xí cara sobre a mesinha e deitou a cabeç a sobre uma almofada. Seus olhos estavam pesados. Poré m, depois do acidente com o garç om, ela nã o queria se vestir para dormir enquanto ele nã o voltasse para levar o carrinho do jantar. Nã o podia prever o que ele poderia fazer se a encontrasse, dessa vez, de pijama!

Sorriu sonolenta. Ele sabia que ela estava sozinha e mesmo que nã o fosse bela e excitante, poderia tentar seduzi-la. Especialmente depois de haver tropeç ado e caí do em seus braç os. Pô de perceber que ela vestia pouca roupa e ela, por sua vez, pô de sentir a pressã o instintiva de sua virilidade contra o corpo. Alice estava alerta para a possibilidade de ele possuí -la. com um só golpe ele poderia deixá -la sem sentidos. Nã o é isso que todos os homens querem? Uma mulher passiva em seus braç os? De certa forma, Alice duvidava que aquele grego alto, de ombros largos, tentasse alguma coisa. Provavelmente tinha uma esposa apaixonada e vá rios filhos correndo pela casa. Ele já devia ter se esquecido que seu corpo havia dado a uma mulher solitá ria a primeira emoç ã o sensual.

Deus do cé u! Será que estava tã o carente de afeto que tinha de recorrer à lembranç a daquele breve contato com um estranho? Como aquelas criaturas paté ticas que choram no travesseiro por nã o terem algué m para abraç á -las no escuro da noite e cercá -las de carinho, fazendo-as crer necessá rias e desejadas?

Alice sufocou um soluç o. Tinha sido impulsiva ao ir para a Gré cia. Quase dormindo, prometeu a si mesma que na manhã seguinte, à luz do dia, voltaria a ser a mesma Alice sensata de antes; os cabelos presos num coque, os ó culos de volta ao rosto e um simples tailleur cobrindo seu corpo. com os cabelos soltos e tentando imitar Berta, ela havia se sentido vulnerá vel e solitá ria. Protegida em suas roupas e escondida detrá s dos ó culos, estava preparada para se mostrar indiferente ao fato de nã o amar ningué m.

Sim, pela manhã apagaria da mente seu breve encontro com o corpo quente e vigoroso do grego, cujos cabelos castanho-claros formavam uma entrada sobre a testa, e cujos olhos ligeiramente oblí quos fascinavam.

Soltou um leve suspiro e sua cabeç a deslizou sobre a almofada. Procurou entã o uma posiç ã o mais confortá vel no sofá. Seus cabelos longos, escondendo parcialmente seu rosto, caí am sobre o seio. Suas pá lpebras lutavam contra o peso que as puxava para baixo, mas finalmente adormeceu.

 

 

                                    CAPÍ TULO II

 

 

O som de sinetas acordou Alice. Depois tudo ficou quieto e ela só percebeu o ranger do sofá em que estava. Mexeu-se e sentiu alguma coisa escorregar dos seus ombros. Estava completamente atordoada; parecia sonhar. Tocou no que a estava cobrindo e viu que era uma espé cie de manta escura forrada de vermelho.

Deus do cé u!, lembrou-se do sonho e olhou a seu redor. As paredes eram de madeira, havia tapetes pelo chã o, livros numa estante e um reló gio debaixo de uma cú pula de vidro. Embutidas na parede, duas janelas redondas. Ela ouviu passos do lado de fora e logo a porta se abriu. Um homem alto apareceu, vestido com um casaco de pele de carneiro. Ele tinha nas mã os uma caneca que fumegava.. — bom dia! — disse ele, Alice reconheceu a voz. — Acordou finalmente, hein?

Ela olhou para ele espantada. Era o garç om do hotel Metró polis!

— Onde estou? — perguntou. — Aqui nã o é o hotel!

— Claro que nã o, srta. Sheldon. — Aproximou-se dela e quando chegou ao lado do sofá parecia muito alto. Seus olhos tinham um brilho frio.

Alice ficou imó vel entre as dobras da manta.

— Você está a bordo do meu barco e estamos de partida para a ilha Solitá ria. Venha, é melhor que você beba isto antes que desmaie. — Ele lhe ofereceu uma caneca de café e ela recusou, sacudindo a cabeç a.

— Nã o! Deve ter alguma droga, como o café que você me deu — ontem à noite.

— Você percebe as coisas depressa, nã o? — Ele sorriu. — Este café nã o tem nenhuma droga e a ajudará a recuperar-se. Você está muito pá lida e eu nã o quero que você se apavore. Vamos, tome o café.

Era uma ordem. Alice sentiu tanto medo que pegou a xí cara sem falar mais nada. Tomou um gole e sentiu o gosto forte, mas diferente do café turco que a havia feito dormir. Tanto que nem havia percebido quando a carregaram do quarto do hotel.

O grego a havia raptado e levado para o barco. Nã o tinha sentido algum ele fazer aquilo.

— Por que você fez isso? — Seus olhos confusos estavam fixos nele. — O que você pretende fazer comigo? Se quer pedir resgate nã o vai adiantar nada, porque sou pobre.

Ele a olhou em silê ncio, acompanhando o balanç o do barco, com as mã os nos bolsos do casaco.

— Você já ouviu falar em ekthekissis? — perguntou ele.

A palavra grega era tã o estranha quanto ele pró prio. Seus cabelos castanho-claros estavam caí dos na testa, sua expressã o, cruel.

— Quer dizer justiç a, vinganç a! — explicou. — Esperei muito tempo para isso, srta. Sheldon. E você nã o está em meu barco porque eu pretenda algum resgate.

— Entã o por que estou aqui? — perguntou com o coraç ã o disparado. Lembrò u-se da idé ia louca da noite anterior, de que ele poderia querer seduzi-la.

— Você é a prometida de lonides Damaskinos — disse ele -, por isso é que está aqui!

— Nã o! Você está enganado! — Alice sacudiu a cabeç a, afastando os cabelos com as mã os. — Meu nome é Alice Sheldon; minha irmã é que ia se casar com ele!

— Sua irmã, hein?

Ele a examinou detidamente. Estava com os cabelos desfeitos e meio enrolada nas dobras da manta.

— Você é rá pida para se defender, mas nã o me engana — argumentou. — No momento em que vi seu nome registrado no hotel, tive a certeza de que tinha vindo para a Gré cia para uma coisa: encontrar-se com o homem a quem odeio!

Ele começ ou a andar pela cabine, pensativo, com a raiva transparecendo no rosto. Alice olhou para ele e nunca na vida sentiu tanto medo de algué m. Ou nunca esteve tã o consciente de sua inexperiê ncia em lidar com os homens. Estava claro que ele tinha um grande ressentimento de lonides e queria se vingar dele usando sua garota. Só que ela nã o era Berta, e à quela altura nem a pró pria irmã era mais noiva de Damaskinos!

Alice apertou as mã os contra o peito; seu coraç ã o estava batendo acelerado.

— Por favor, acredite em mim! — pediu-lhe. — Eu nem mesmo conheç o o noivo de minha irmã,

— Nã o minta para mim! — Num salto, o raptor estava ao seu lado com os olhos cheios de ó dio. — Por que você estaria aqui na Gré cia se nã o fosse a pessoa com quem ele pretende se casar? Mentiras nã o vã o ajudar nada, srta. Sheldon, nem esses olhos suplicantes. Timareta també m suplicou, mas morreu mesmo assim!



  

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