Хелпикс

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A intrusa 4 страница



— Nã o consigo ver bem sem ó culos. — Ela sabia que agora nã o havia mais jeito de fugir. Tirou os ó culos do bolso do casaco, colocou-os e disse: — Sou muito mí ope.

— Nã o se desculpe por isso. Essa armaç ã o grossa a faz parecer vulnerá vel.

— As pessoas que nã o enxergam direito se tornam vulnerá veis.

— Ela ergueu a cabeç a e olhou para ele. — Meus ó culos nã o o desanimam? A maioria dos homens trata as mulheres que usam ó culos como assexuadas, como se todo nosso corpo fosse feito de vidro.

— Parece que os gregos sã o um pouco mais perceptivos, nã o acha, Alicia? Eu nã o acho que você possa dizer que eu a tenha tratado como uma mulher assexuada. Diabos, o que é que fiz com minhas chaves?

Foi uma observaç ã o tã o domé stica, como se eles fossem um casal que tivesse passado o dia fora e estivesse voltando para casa. As cores voltaram ao rosto de Alice enquanto ela o observava procurando as chaves no bolso do casaco. Olhou para seu rosto moreno e reviveu seus beijos ardentes. Se eles tivessem se encontrado em circunstâ ncias normais e Stefan nã o pensasse que ela fosse a noiva de Damaskinos, ele a teria ignorado por sua total falta de atrativos.

— Espero que você as tenha perdido no mar — disse ela provocando-o. — Nã o quero entrar em sua casa. Isso é a ú ltima coisa que pretendo fazer na vida.

— É mesmo? — Stefan mostrou sorrindo a chave que havia achado no bolso de dentro do casaco. — Você prefere entrar sozinha ou quer que eu a carregue?

— Você sempre foi assim fanfarrã o?

— Digamos que eu fui muito mais bonito na mocidade — disse ele, colocando a chave na fechadura. A porta se abriu para um grande pá tio com arcos de pedra, por onde se chegava ao interior do castelo. Nos extensos pavimentos superiores, as janelas brilhavam com a luz do pô r-do-sol. As paredes eram de um vermelho profundo, sombreadas de verde aqui e ali por trepadeiras.

Eles caminharam pelo piso de lajes já gasto pelo tempo e pelas sandá lias dos monges que por ali tinham passado para fazerem suas meditaç õ es nos claustros e sob as amplas arcadas encimadas por treliç as de ferro, nas quais se enredavam trepadeiras. Alice olhou ao redor e sentiu o perfume das flores que pendiam dos galhos das á rvores.

— Sã o as pimenteiras dos monges — disse Stefan ao notar seu olhar. — Dizem que essas á rvores servem para acalmar a paixã o dos homens.

— Entã o acho bom você se sentar debaixo delas! — A exclamaç ã o escapou da boca de Alice sem ela perceber.

Stefan deu uma sonora gargalhada.

— com você aqui, pretendo evitá -las de toda forma possí vel. Ficou vermelha? — Ao tocar o rosto de Alice com a mã o, ela se afastou nervosamente para longe dele.

— Pensei que nã o se usasse mais correr de vergonha em seu paí s.

— Eu já lhe falei que os homens nã o costumam fazer propostas à s mulheres que usam ó culos!

— De verdade? E eu fui informado pelos meus tios que os marinheiros ingleses que vieram para cá na ú ltima guerra davam em cima de tudo quanto usasse saia. Acontece que alguns dos nossos pastores usam uma espé cie de saiote.

Alice quase riu mas se conteve. Se ela compactuasse com seu humor, estaria perdida.

— Você sempre fala de tios e primos — observou ela. — Seus pais nã o sã o vivos?

Ele sacudiu a cabeç a.

— Minha mã e morreu quando nasci e meu pai, que era pescador, naufragou com o navio quando eu tinha nove anos. Fui criado por parentes. Eles foram muito bons para mim; agora retribuo a atenç ã o.

— Alguns dos seus parentes vivem aqui no castelo? — perguntou ela. Seu coraç ã o começ ou a bater mais depressa enquanto esperava pela resposta. Se só com ele a situaç ã o já estava difí cil, imagine viver no meio de membros da famí lia. Para seu alí vio, ele negou.

— Este castelo é meu retiro particular. Tenho alguns parentes vivendo na ilha como agricultores.

— vou ter de me encontrar com eles? — perguntou baixinho.

— Será inevitá vel — respondeu, como se nã o percebesse o embaraç o dela quando soubessem que ela estava vivendo na casa sem ser apenas uma visitante.

— Você nã o se importa com o que todos vã o pensar? — Em seu nervosismo Alice tirou os ó culos. Olhou entã o para ele suplicante.

— Eu sei que você acha que as inglesas nã o se importam com a pró pria reputaç ã o como as gregas, mas nã o somos todas iguais e acho que nã o mereç o o que você está fazendo comigo.

— O pessoal da ilha logo vai se acostumar a vê -la por aqui. As mã os de Stefan apertaram seu ombro com agressividade. — Nã o tente apelar para os meus bons sentimentos porque nã o tenho nenhum quando se trata da mulher de Damaskinos. Você deve aceitar que agora é minha mulher e que apenas eu posso gozar por enquanto da sua companhia. Você é um tipo incomum de mulher, Alicia, e eu estive sozinho por muito tempo. Minha casa pode ter sido um mosteiro, mas eu nã o sou um monge.

— Eu sei que nã o — concordou ela, sacudindo os ombros para se livrar dele. — Você nã o tem nada de monge!

Stefan sorriu.

— Nó s soltamos os demó nios um do outro, você nã o percebeu isso? É muito excitante, mesmo que você nã o queira admitir. — Falando isso, puxou-a firme contra seu corpo, apertando-a num abraç o que ela nã o podia desfazer. Tocou seu rosto com os lá bios e disse: Mesmo que nã o tivesse mais razã o para mantê -la aqui, ainda assim eu a conservaria comigo. Estou faminto pelo calor do corpo de uma mulher e cheio de desejo por você. Você é tã o tí mida e tã o selvagem nos meus braç os! Mas eu vou ter o prazer de domá -la antes de perder o interesse por você! vou lhe ensinar todas as formas de amar antes de abandoná -la. vou ensiná -la a preferir um homem de verdade a um que funciona só pela metade.

Seus abraç os e as coisas que ele dizia fizeram Alice se sentir fraca. Ela sentia a rigidez de seu sexo, a vibrante intenç ã o do seu corpo, e sentia arrepios correndo pela espinha, enquanto ele movia a boca pela sua garganta. Estava indefesa nos braç os de Stefan. Nã o tinha chance de pedir ajuda a algué m. Sentia-se como um pá ssaro preso numa gaiola.

Ele a apertou ainda mais e ela percebeu pelo modo como a beijou que queria que ela correspondesse a seus carinhos. Fez forç a para manter o corpo o mais tenso possí vel.

— Relaxe — disse ele. — Você nunca vai gostar de mim se nã o me aceitar. E você vai ter de me aceitar. Timidez, resistê ncia, nada disso vai me fazer parar. Se eu quisesse agir como cavalheiro, nã o teria trazido você para cá. Pare de agir como crianç a e ponha na cabeç a que eu nã o colho uma fruta só para olhar!

— Posso lhe assegurar que nã o o tomo por um cavalheiro — respondeu friamente. — E nem me considero uma fruta.

— Deixe de ser tã o modesta — caç oou Stefan, olhando-a de cima em baixo. — Você vai aprender a mudar de opiniã o sobre você.

— A minha opiniã o?

— Sim, a sua.

— Eu devo ser moldada aos seus desejos, como se fosse um monte de argila, nã o é?

— Eu nã o a descreveria como um monte de argila, minha cara. Lembro-me ainda do seu corpo suave envolto naquele penhoar vermelho. Digamos que você seja um pê ssego. Que tal? Quando você perder essa mania de ser tã o consciente de si mesma, vai desaparecer esse seu jeito afetado e algum dia vai poder ver no espelho o mar grego refletido nos seus olhos. Enquanto isso, poderei ter a satisfaç ã o de ter à minha disposiç ã o, para amar, uma mulher virtuosa.

— Amar? Eu nã o acredito que você saiba o significado dessa palavra!

— Eu conheci o amor, Alicia — respondeu ele, pegando as malas e entrando na casa. Ela estava com medo e ao mesmo tempo confusa com a atitude dele. Sua expressã o era melancó lica, pois nunca tinha sido posta a tal prova. Os homens, em geral, aceitavam seu ar distante como reflexo da sua personalidade, Stefan Kassandros tinha fome de vinganç a e agora só pensava em recuperar o tempo perdido sem amor depois da morte de Timareta, a bela jovem grega com quem teria se casado. Mas só havia ó dio e desejo no seu coraç ã o e Alice era um mero alvo desses seus sentimentos.

Ela nã o se esquecia disso, todos os minutos, todos os dias e especialmente à noite, quando se sentia mais vulnerá vel.

Chegaram a uma sala de teto alto e paredes brancas onde se viam dependurados alguns tapetes gregos. Os mó veis eram entalhados e os estofados cobertos com pele de animal.

— Pele de lobo — disse Stefan. — Eles vagueiam nas colinas em busca de ovelhas.

Isso confirmou sua impressã o de que a ilha era selvagem, como as pessoas que habitavam nela. Alice nã o pô de evitar um estremecimento. Aquele era um mundo novo e inesperado que ela teria que aceitar e com o qual teria de conviver.

Alice dirigiu-se para uma grande lareira onde uma tora de lenha queimava vagarosamente, exalando um agradá vel perfume. Ela se inclinou em direç ã o ao braseiro para aquecer as mã os.

— Este é o salã o — disse ele. — Você gosta?

Alice olhou ao redor e viu os armá rios com vasos de cerâ mica pintados com cabritos monteses. Havia um brilho nas mobí lias escuras que dava a impressã o que a casa permanecia sempre limpa mesmo quando seu dono estava fora. As janelas ovais tinham vitrais coloridos e grades em arabesco. As cortinas pareciam bordadas a mã o. Pelo soalho, grandes tapetes felpudos. Seu olhar foi atraí do pelo brilho de um í cone solitá rio numa parede.

— Parece que você eliminou quase toda a atmosfera do mosteiro

— comentou ela. — Pelo menos aqui.

— Você vai encontrar a mesma coisa na maioria das salas respondeu Stefan. — A estrutura bá sica do castelo é muito forte e caracterí stica, mas eu nã o quis que o interior fosse tã o austero. Na parte dos fundos há parreiras que se estendem por pé rgulas de madeira. Em cima existem muitos quartos, ou celas, como eram chamados antigamente, que transformei em banheiros.

— Parece ser uma casa muito grande para um homem solteiro

— observou Alice.

— Acho que sim — concordou ele. — Mas quando um homem consegue juntar algum dinheiro, ele quer ter sua pró pria casa.

— E també m uma ilha — disse ela, sem olhar para ele. — Onde ele possa ser o senhor e dono de todas as coisas.

— De certa forma, é exatamente isso — concordou, plantando-se em frente da lareira. Ele tinha tirado o casaco de pele de carneiro e aberto a camisa, deixando à mostra a pele morena do peito. Alice se lembrou com desconforto do momento em que aquele corpo tinha se colado ao seu. Lembrou-se das suas mã os fortes prendendo as suas e do calor daquelas pernas longas contra as suas, fazendo seu coraç ã o bater mais forte. Os olhos de Stefan brilhavam à sua frente, meio cerrados, como se ele estivesse també m lembrando da quase seduç ã o à bordo do Phaedra.

— Por enquanto a ilha e a casa vã o parecer estranhas para você

disse ele. — Mas você vai se acostumar. Você me disse que é

desenhista e eu lhe asseguro que haverá muita coisa aqui para você pintar e desenhar.

— Oh, eu vou poder fazer isso? — perguntou meio sarcá stica. pensei que ia ter de estar à sua disposiç ã o noite e dia, a todo minuto!

— Nã o a todo minuto do dia — caç oou. — Somente à noite, quando vou precisar de toda a sua atenç ã o.

Alice ficou vermelha. Num gesto de defesa, levou as mã os ao rosto...

— Nã o seja tola — disse ele secamente. — Já é tempo de você começ ar a reagir como mulher. Se nã o fosse assim, há muito tempo a raç a humana teria desaparecido da face da terra.

— Como se os homens se importassem com isso — acrescentou ela. — Quase todos você s, homens, se preocupam apenas com dois tipos de mulher: as sensuais ou as maternais que os mimam. Eu nã o sei em que categoria estou incluí da, a menos que sirva para amante.

— Minha cara, de que livro obsceno você tirou essa palavra? Eu nã o acredito que você seja tã o recatada como demonstra. Você nã o era assim quando entrei no seu quarto na noite passada. Estava muito sensual naquele penhoar vermelho todo vaporoso, muito perfumada quando a abracei. Nã o venha me dizer que achou que eu ia achá -la sem atrativos. Para ser franco, meu bem, eu gostaria de possuir você aqui mesmo neste tapete, mas acontece que minha governanta pode chegar e eu ia perder um pouco da minha dignidade, nã o?

— Você nã o tem vergonha — disse Alice, quase sem poder respirar.

— Sem dú vida. Eu desejo imensamente fazer com que você sinta a mesma coisa. É muito gostoso, como mel, e se você fosse uma mulher de verdade, em vez de uma solteirona inglesa complexada, ia sentir muito prazer em desenvolver sua habilidade de excitar um homem.

Alice virou as costas para ele, sentindo muita vontade de se esconder, tal qual fazia quando as crianç as ou os parentes elogiavam Berta pela sua beleza e a ignoravam.

— Você está caç oando de mim — acusou-o. — Você é sá dico!

— Nã o sou sá dico! — O rosto de Stefan endureceu. — Nunca mais diga isso.

— Por quê? Você nã o gosta de ouvir a verdade?

Ele aproximou-se dela com os olhos cheios de raiva

— Nã o me confunda com Damaskinos, ouviu? Eu nunca machuquei uma mulher em minha vida. Nunca fui igual à quele animal que tem a mente tã o torta quanto o corpo! A sua ligaç ã o com ele só pode ser explicada pela sua relutâ ncia em fazer amor. Você nunca pensou, sua tonta, que ele poderia fazer outros tipos de exigê ncias? Ou você gosta desse tipo de coisa?

— Eu nã o sei do que você está falando. — Alice se sentiu confusa com o que ele falava. Olhava fixamente para ela, com os cabelos caí dos na testa, como se apesar da possí vel chegada da governanta ele pudesse perder o controle e a possuir ali mesmo sobre o tapete.

— — Quantos anos você tem, Alice? — Ele estava realmente irritado com ela.

— Vinte e quatro.

— E vai me enganar que nã o está sabendo que existem outras maneiras de se fazer sexo?

Alice olhou espantada para ele e entendeu o que ele estava querendo dizer. Ficou mais vermelha ainda.

— De certo, mas você nã o está pensando que...

— Está bem, eu entendo disse ele. — Você queria a seguranç a do casamento mas sem as obrigaç õ es da mulher. Mas se Damaskinos a fez acreditar que tudo o que ele queria era o conforto da sua companhia, entã o você é uma perfeita imbecil. É fá cil para um homem numa cadeira de rodas se fingir de heró i solitá rio, você, por sua vez, está na cara que vive no mundo dos sonhos. Eu entretanto, desde a morte de Timareta tenho sabido de coisas daquele homem que nunca contaria a uma mulher. Quando Timareta foi se empregar na casa dele, ele demonstrou ser honesto e respeitá vel, mas, debaixo dessa casca, só existe maldade e corrupç ã o.

Stefan parou e depois agarrou Alice pelos pulsos até ela sentir dor.

— Neste exato momento, você pode nã o acreditar mas está melhor comigo do que com Damaskinos. É a pura verdade! Eu vou tratá -la como mulher; ele ia transformá -la numa coisa. Compreendeu bem?

Alice estava com os olhos arregalados, toda tré mula. Se o que ele tinha dito sobre lonides Damaskinos era verdade, Berta tinha escapado na hora certa. Alice se sentiu agradecida, mas isso nã o mudava o fato de ela estar prisioneira de um outro grego. Os dedos de Stefan eram como garras e nos seus olhos havia o desejo de vinganç a e do corpo de uma mulher... por incrí vel que pudesse parecer. O corpo que nunca despertou o interesse dos homens.

O calor que vinha do corpo dele chegava a ela como em ondas. Ela deveria partilhar com esse estranho a mais í ntima das relaç õ es humanas. Ele ia forç á -la a se unir a ele. isso estava em seus olhos, em seus lá bios, em seus maxilares cerrados. Seus olhos pairavam profundos sobre ela e suas narinas tremiam. Alice sentiu que sua resistê ncia parecia estimulá -lo mais. Como româ ntica incorrigí vel, Alice nã o podia aceitar a idé ia de se entregar a ele sem amor.

— Se eu pudesse provar para você que nã o sou a Alice Sheldon, noiva de Damaskinos, você me deixaria ir embora? — perguntou.

— Ah, voltando à mesma tecla? — disse ele impaciente. — Existem duas Alices Sheldon no mundo, ambas com motivos para visitar a Gré cia?

— Eu tenho uma irmã chamada Berta que foi para o Ceilã o se casar com um homem que ela conhece desde a adolescê ncia. Ele tinha se casado e durante esse tempo minha irmã encontrou Damaskinos e ficou noiva dele. Mas ela decidiu romper o noivado, quando a esposa do outro morreu de repente. Foi por isso que vim para a Gré cia. Eu achei que nã o era certo minha irmã abandonar o noivo sem lhe dizer que nã o queria mais se casar com ele.

— À mulher que ia se casar com Damaskinos se chamava Alice Sheldon! — A expressã o de Stefan era dura.

— Berta mentiu. — Havia desespero na voz de Alice, ele tinha de acreditar nela e deixá -la ir embora. — Ela sempre preferiu meu nome ao dela, e por alguma razã o ela o usou quando ficou noiva de Damaskinos. Eu posso me comunicar com ela no Ceilã o. Posso provar que ela existe. Por favor, deixe-me esclarecer as coisas antes que nó s dois nos arrependamos!

— Eu acho que você está querendo ganhar tempo — disse ele.

— Eu nã o duvido que você tenha uma irmã no Ceilã o, mas nã o acredito na histó ria que você quer me impingir. Quando está vamos no Phaedra, você me deu a entender que Damaskinos poderia mandar seus homens atrá s de mim.

— Sim, é verdade. Mas foi por que eu estava desesperada e queria que você me levasse de volta para Atenas.

— Bater em retirada com medo daquele fulano? — disse ele com ar de pouco caso. — Você nã o me conhece, Alicia!

— Você é que nã o me conhece, se imaginou que eu poderia estar interessada no Damaskinos que você descreveu. Eu nã o sou como Berta. Nó s temos pontos de vista diferentes e també m somos diferentes fisicamente; ela é loura e bonita, eu já lhe falei!

— E o que você vai fazer, querida, para me provar que nã o foi você quem ficou noiva de Damaskinos?

Alice sentiu a pressã o de seus dedos nos pulsos, tentando controlar sua impaciê ncia.

— Será que você nã o podia deixar que mandasse um telegrama para ela? Deve estar morando numa fazenda de chá. Eu peç o a ela que telegrafe de volta dizendo a verdade.

— Sei. — Olhou demoradamente para ela. — Você s duas sã o muito unidas?

— Nã o muito. Cada uma vive sua vida.

— Dá no mesmo, Alicia. Se você pedir a ela que minta por você, ela vai fazer!

— O que quer dizer com mentir por mim?

— Afirmar alguma coisa que seja favorá vel a você, para evitar o que você acha um contratempo.

— Nã o! Alberta nã o ia fazer isso — disse Alice com certa ironia.

— Ela é daquelas que colocam o pró prio interesse em primeiro lugar. Ela esteve noiva de Damaskinos e admitirá isso sem se preocupar em me livrar.

— Livrá -la de mim, nã o é?

— Posso mandar o telegrama? — insistiu Alice.

— Sou eu quem vai mandar. Você me dá o endereç o dela no Ceilã o e eu enviarei o telegrama. Em poucas palavras pedirei a ela que diga a verdade e essa verdade vai definir as coisas entre nó s, sem mais conversa, de acordo?

— Sim. — Alice estava visivelmente melhor agora. — Quanto tempo você acha que vai demorar para vir a resposta?

— Uma semana ou mais. O Ceilã o fica longe, quanto mais a tal fazenda — disse Stefan.

— E durante esse tempo? — Alice nã o pô de continuar a dizer o que estava pensando, mas ele entendeu e deu uma risada.

— Nesse tempo, eu vou deixá -la em paz, livre das minhas atenç õ es que até fazem você desmaiar. — Ele soltou seus pulsos com um safanã o. — Mas esteja certa de que se o telegrama negar o que você diz, eu vou levar minha vinganç a até as ú ltimas consequê ncias! Agora me diga uma coisa: você nã o foi amada quando era crianç a?

— Claro que sim! Só que nã o tã o paparicada quanto Berta, sempre elogiada pela sua beleza por todos os parentes e conhecidos. Eu estava sempre com o nariz enterrado nos livros, atrá s dos ó culos de aro de metal. Achavam que eu era sé ria demais!

Alice ergueu os olhos para Stefan. Ele a desejava, ainda que por vinganç a.

— Nã o é preciso me olhar desse jeito — disse ele. — vou mandar o telegrama. Nó s, gregos, costumamos cumprir nossas promessas.

— Obrigada — disse ela mais calma. Tentava nã o antecipar a resposta de Berta, e, para se acalmar, fez de conta que estava de fé rias naquela ilha. Ela tinha trazido maio e loç ã o de bronzear, alé m de cadernos de desenho e lá pis. com o canto dos olhos, estudou Stefan. Talvez pudesse até fazer um esboç o de seu rosto em carvã o.

— Como lhe contei, faz muito tempo que nã o tenho o prazer de contato mais í ntimo com uma mulher — disse ele de repente, cerrando os olhos para observar a reaç ã o de Alice. — Apesar de você ser visivelmente formal, gostaria que se soltasse mais. Estou certo que você deve ter algumas roupas iguais à quelas que vestia na noite passada. Use-as, por favor, e deixe os cabelos soltos.

— Você está dando ordens?

— Ordens? — espantou-se ele, levantando uma sobrancelha com deliberada intenç ã o. — Eu estou apenas pedindo à minha hó spede que goze da minha hospitalidade e se relaxe o má ximo possí vel. Acho que você nã o comprou roupas bonitas só para usar quando está sozinha. Isso ia me deixar muito triste.

— Eu nã o sou uma pessoa fú til, sr. Kassandros.

— Eu sei, mas quando guardei suas coisas nas malas ontem à noite, notei que você tem roupas que parecem provar o contrá rio. — Ele atirou o resto de charuto no fogo. — Por favor, use-as e me trate por Stefan.

— O que acontece se eu nã o fizer isso?

— Eu vou fazer um favor para você, Alicia, entã o por que nã o corresponder? — Ele se levantou e ela mais uma vez se deu conta de que continuaria prisioneira até que Berta mandasse uma resposta.

— Acho que nã o tenho escolha — disse ela.

— Nã o muita — ele concordou e com um leve sorriso se virou para a mulher que acabava de aparecer na porta do salã o. Ela parecia saí da de algum á lbum de fotografias antigas, com touca, vestido preto fechado até o pescoç o e brincos de pedra preta. Olhou fixamente para Alice. Seus olhos eram tã o negros quanto os brincos.

— A senhorita é minha hó spede, Katerina — disse Stefan, olhando para Alice. — Esta é minha governanta, que poderá ajudá -la muito quando precisar. É só pedir.

— Como vai a senhora? — perguntou Alice. Katerina inclinou a cabeç a e perguntou:

— A hó spede vai usar o apartamento de hó spedes?

— Certamente — respondeu ele, olhando divertido para Alice. Você já pode levá -la até o quarto, Katerina. Ela vai querer desfazer as malas e se preparar para o jantar.

Alice evitou olhar para ele em frente da governanta, que nã o escondia sua curiosidade. A melhor defesa de Alice seria a polidez; estava certa disso.

— A que horas é o jantar? — perguntou a Stefan.

— À s nove horas, Alicia.

— Vejo você depois, Stefan.

Ele inclinou a cabeç a num assentimento, olhando significativamente para a roupa que ela usava.

— O jantar sempre é formal; um pouco de extravagâ ncia será bom

— lembrou-lhe.

— Se você insiste... — Alice forç ou um sorriso, e depois saiu acompanhada pela governanta e por um rapaz que carregava as malas. Subiu uma grande escada que saí a do hall e levava ao andar superior de Fireglow.

 

 

                                     CAPÍ TULO V

 

 

O quarto de hó spedes tinha um charme diferente. Havia nele uma pequena saleta em arco com um divã coberto por uma colcha em tons vivos, tecida a mã o. Os tapetes eram també m coloridos, contrastando com a austiridade da mobí lia escura, das paredes brancas e do azul marinho do teto.

Alguns degraus levavam a um balcã o de formato curioso. Sua grade de ferro estava coberta por uma trepadeira florida, que servia de fundo para uma grande cadeira de vime com uma mesinha lateral. Segundo a governanta, aquela era a moussandra, que em grego queria dizer quarto pequeno.

— É lindo! — exclamou Alice, debruç ando-se sobre a grade do balcã o. Lá embaixo, um pequeno pá tio dava para um jardim muito grande, onde lampiõ es bem distribuí dos iluminavam as á rvores e os arbustos.

Alice seguiu Katerina de volta ao quarto e foi levada para o banheiro. Nele havia uma grande banheira de porcelana branca e mogno, com os metais em aç o. O pedestal do lavató rio era mais colorido e adornado com golfinhos e conchas; sobre ele, um espelho antigo de extremo bom gosto.

Katerina mostrou um aquecedor elé trico embutido na parede.

— O sr. Kassandros mandou instalar um gerador de eletricidade para que haja á gua quente nos banheiros. Depois que ele fez a reforma, esta casa ficou muito confortá vel. Antes era um mosteiro muito primitivo. — Depois, baixando a voz e com os olhos fixos em Alice, acrescentou: — O sr. Kassandros dificilmente traz visitantes para a ilha, por isso eu gostaria de perguntar se sã o conhecidos há muito tempo.

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- Nã o muito — respondeu Alice. Ela nã o poderia dizer à governanta que tinha sido raptada por ele. Mesmo ela ainda parecia nã o acreditar que tivesse sido levada inconsciente de Atenas para aquela ilha.

— Gostaria de mostrar uma coisa à senhorita. Se tivesse a bondade de vir comigo — disse Katerina, olhando com curiosidade para Alice.

— Acho que vai gostar.

— De certo. — Alice a seguiu para fora do apartamento, ao longo do corredor iluminado por vá rias lâ mpadas e por um grande candelabro de bronze sobre o vã o da escadaria. Katerina parou numa porta no fim do corredor e pareceu hesitar um pouco. Depois, abriu-a e acendeu a luz, pedindo que Alice entrasse.

Alice ficou parada quando viu o quarto. Ele era todo forrado em branco e ouro, com mobí lia e uma cama de dossel em branco puro. Os pilares da cama eram entalhados com romã s e folhas de figueira e a cama estava coberta com uma manta de chinchila escura que contrastava com o branco dos travesseiros de seda. O dossel era um emaranhado de personagens da mitologia grega e de deuses morenos e poderosos, raptando ninfas. As cadeiras eram forradas de seda e uma penteadeira també m entalhada aparava vidros e recipientes de cristal. O chã o era todo coberto por um tapete branco de pele.



  

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