Хелпикс

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A intrusa 3 страница



— Você está querendo me amedrontar.

— Experimente entã o, pedhaki mou. Acho que eu e Miki vamos ter de tentar costurar você com barbante de vela.

Alice estremeceu e perguntou:

— Do que você me chamou em grego?

— De meu amorzinho.

— Eu nã o sou nada disso!

— Mas vai ser — disse ele, olhando para seus cabelos soltos ao vento. — Eu prefiro imaginá -la assim, doce e tí mida. E tenho esperado tanto tempo por isso... É a minha vinganç a e eu quero que seja assim!

— Sem se importar com os meus sentimentos? — perguntou ela com voz tré mula. Ela sabia que Stefan nã o estava brincando, que nã o falava por falar. Era o que ele pretendia fazer com ela quando chegasse na ilha.

— Seus sentimentos vã o ser considerados — disse ele devagar. Acho que nã o vou ter de chicoteá -la para conseguir o que quero.

— Eu acho que sim! Nã o pense que vou me entregar como uma qualquer! Está muito enganado!

— Você vai ceder, Alice; de um jeito ou de outro. Ah, lá vem Miki com o café, um pouco atrasado mas bem-vindo, nã o?

Por ela, Stefan podia jogar o café no mar, mas estava com muita fome e a comida da bandeja tinha um cheiro delicioso. O rapaz lhe deu um sorriso, como se estivesse acostumado a assistir a raptos de mulheres. Talvez ele pensasse que ela fosse uma daquelas passageiras especiais a bordo do barco. Tudo era possí vel quando se tratava de Stefan Kassandros.

— Ajeite aquele caixote para que a srta. Sheldon possa se sentar

— disse ele em inglê s para Miki. — Miki fala inglê s como muitos jovens gregos — explicou ele. — Seu pai, meu primo, morou alguns anos na Amé rica e se casou com uma americana de origem grega. Muitos daqui vã o para os Estados Unidos, ficam lá um pouco e depois voltam. Poucos paí ses tê m a nossa histó ria e as nossas vantagens, mesmo o seu, que está sendo destruí do pelo progresso. Concorda?

Tanto ela concordava que teve de admitir, sentando-se no caixote que Miki tinha colocado parcialmente na sombra. Aceitou dele um prato de bacon defumado, pequenas salsichas, tomate e pã o torrado. Enquanto servia o café, Miki olhava para ela com seus olhos de fauno que combinavam tã o bem com seus cabelos encaracolados. Ele era bonito e Alice nã o pô de deixar de lhe sorrir. Sem dú vida, todos os homens do clã Kassandros eram atraentes, esguios e á geis, seguros da sua masculinidade.

— Cuide do leme, Miki, enquanto como — disse Stefan. O rapaz se apressou para cumprir o que o patrã o mandava.

— Pois nã o, capitã o. — O rapaz se apoiou no timã o e Stefan Kassandros foi para perto de Alice com uma expressã o maliciosa nos olhos. O sol brilhava em seus cabelos castanho-claros e nas suas sobrancelhas cerradas.

Parecia inacreditá vel que ela, Alice Sheldon, habituada a ficar em casa enquanto as outras garotas se divertiam, pudesse ter despertado desejos naquele grego. Stefan se recostou no mastro e começ ou a comer com apetite. Alice podia perceber que esse desejo por ela estava enraizado no ó dio que ele tinha por Damaskinos, de quem ele acreditava que ela fosse noiva. Assim, possuindo-a ele poderia se vingar de toda tristeza por que tinha passado. Devia ter sido um um amor muito grande; por isso ele se manteve afastado de qualquer mulher até entã o, embora fosse um homem que qualquer uma gostaria de ter.

Alice baixou os olhos para o prato ao perceber que Stefan despertava sensaç õ es diferentes nela. Será que estava tã o carente de amor a ponto de sentir prazer em ser raptada?

— No que está pensando? — perguntou ele de repente.

— Acho que posso ter meus pró prios pensamentos — respondeu confusa. — Você nã o pretende me impedir de pensar també m, nã o?

— É que você me intriga, Alice, pois nã o tem nenhum dos truques femininos costumeiros. É como se tivesse levado uma vida de reclusã o,

— o que nã o é possí vel para quem pretendia pescar Damaskinos. Ele vai ficar louco quando você nã o aparecer!

— Provavelmente, ele vai mandar seus navios de guerra atrá s de nó s — disse Alice antes de pesar as consequê ncias das suas palavras. Stefan deu uma risada ameaç adora.

— Quer dizer que você acha que ele pode tirar suas conclusõ es e vir atrá s de nó s, hein? Bem, estaremos lanç ando â ncoras em Solitá ria antes que o dia termine, e quando ele mandar uma missã o de resgate para buscá -la já terei realizado a minha vinganç a.

— O que você quer dizer com isso?

— Minha querida, devo explicar o que quero dizer? — Ele levantou uma melancia entre as mã os a rachou ostensivamente ao meio. O caldo caiu-lhe pelo corpo. Alice nã o estava certa do que ele pretendia dizer com aquele gesto, quando entã o ele lhe estendeu um pedaç o, sorrindo maliciosamente.

— Eu acho que você está querendo me assustar — disse ela.

— Acha, hein? — Stefan deu uma dentada na melancia e a olhou cinicamente. — Entã o você vai levar um grande susto quando minhas ameaç as se tornarem realidade. Coma, está doce como mel.

Alice percebeu um tom sensual em sua voz e ficou vermelha quando mordeu a melancia.

— Justamente o contrá rio da histó ria — disse ele pausadamente.

— Agora é o homem que seduz a mulher e como nunca se soube qual foi o fruto da tentaç ã o na histó ria de Adã o e Eva, podemos usar a melancia.

— E você sabe o que aconteceu no Paraí so? — perguntou ela. Sua ilha pode parecer um paraí so, mas será que vai continuar assim depois que você me usar para sua vinganç a?

— Alice, você tem uma opiniã o muito modesta sobre você, se realmente pensa que eu nã o vou gozar minha vinganç a. — Ele jogou a casca da melancia no mar e Alice, ao vê -lo, se lembrou da estatueta de um lanç ador de dardos que tinha visto numa loja de antiguidades em Londres. Ela adorou a estatueta mas nã o pô de comprá -la porque era muito cara. Depois, quando conseguiu o dinheiro suficiente, voltou à loja mas a estatueta já tinha sido vendida. Ela olhou entã o para Stefan. Era como se a estatueta de bronze tivesse adquirido vida, no movimento á gil e na expressã o determinada do seu rosto orgulhoso.

— Você nã o se sente curiosa em relaç ã o à minha casa em Solitá ria? — perguntou. — Afinal você vai ter de morar lá.

— Acho que vou causar muito falató rio entre os habitantes da ilha. Ou vou ter de passar por prima sua, sr. Kassandros?

— A opiniã o geral é de que passei muito tempo sem mulher, por isso vã o ficar felizes quando você chegar. Os gregos podem ser incrivelmente compreensí veis a respeito de ligaç õ es desse tipo. Ele acendeu o charuto fino que tinha posto na boca. — Alé m disso, isso é assunto meu. — Ele falou com tanta arrogâ ncia que Alice sentiu vontade de dar uma bofetada na cara dele.

— Imaginei que estivesse envolvida nisso! Nã o sou nenhum objeto. Tenho sentimentos e nã o estou acostumada a ser tratada como prostituta!

— Que expressã o mais fora de moda, querida — disse ele, soltando a fumaç a com ar divertido. Estava encostado no mastro principal com as grandes velas enfunadas por cima da cabeç a. — Em muitas coisas você é uma garota fora de moda, nã o? Você tranca os sentimentos a sete chaves. Imagino que foi por isso que se sentiu atraí da por um homem que pode usar somente a metade do corpo. Você poderia ter a fortuna dele sem dar nada em troca.

— Você acha que sou assim? — perguntou Alice.

— Os fatos falam por si, nã o?

— Os fatos sã o como você os interpreta. Já me cansei de dizer que nã o sou a mulher que pensa, mas sua arrogâ ncia é tanta que você nã o admite a possibilidade de poder se enganar. Você diz que sou desajeitada e de alguma forma sou. Nesse caso como é possí vel que um homem rico e sofisticado como lonides Damaskinos possa querer se casar com algué m como eu? — Alice se levantou e contornou o pró prio corpo com as mã os. — Sou o que aparento ser, sr. Kassandros; inibida e tí mida, e nã o me meto em ligaç õ es promí scuas e em abortos casuais. Tenho uma vida calma em meu apartamento de Londres e trabalho como desenhista numa revista. Como toda jovem conservadora, tenho um gato; quando posso, vou ao teatro, mas me faltaria coragem de ir a um restaurante sozinha. També m nã o conheç o os homens e desde há muito tempo me conformei em viver sozinha. Mas se um dia amar algué m, nã o será por causa do seu dinheiro, ou porque nã o possa fazer amor. Eu nã o sou fria! Projeto-me simplesmente para nã o sofrer!

Stefan Kassandros continuou a fumar em silê ncio por alguns momentos e depois, vagarosamente, sacudiu a cabeç a com surpresa.

Você é uma boa atriz! Por que nã o seguiu a carreira? Sabe

de uma coisa? Estou realmente tentando descobrir quem é a verdadeira Alice Sheldon.

— Quer dizer que nã o acredita em mim?

— Cara menina, me propus a saber sobre a garota de Damaskinos e descobri que ela era em todos os sentidos uma bela mulher inglesa, à beira dos vinte anos, com cabelos bonitos e esbelta de corpo... e que seu nome era Alice Sheldon!

— Berta! — exclamou.

— Minha informaç ã o mais definitiva era a de que o nome dela era Alice. — Sua voz era cortante. — Sei que você se chama Alice porque tomei a liberdade de examinar seu passaporte enquanto você estava dormindo. Sei que nasceu no condado de Middlessex e que tem exatamente vinte e quatro anos. Nã o tem cicatrizes ou marcas; só uma pequena mancha marrom debaixo do seio esquerdo. — Seus olhos pousaram na abertura de sua blusa, procurando o colo alvo.

— Muitas mulheres dariam tudo para ter a sua pele, Alice. Os homens sempre vã o querer tocá -la. — De repente, ele jogou o resto do charuto no mar e ordenou:

— Venha cá!

— Vá para o inferno! — respondeu ela. Percebeu entã o os mú sculos do braç o de Stefan se retesarem e sentiu medo.

— Você vai fazer como eu mando, se nã o quiser sofrer. Tanto posso ser bom como mau, depende de você. Faç a sua escolha agora! Neste momento vamos definir o nosso relacionamento. Eu a quero agora, assim, com os cabelos batidos pelo vento e as mã os crispadas como as de uma gata pronta a me atacar. Venha, Alice, e seja boazinha!

Alice nã o sabia o que pensar. Uma pergunta martelava sua cabeç a: por que Berta tinha dito que seu nome era Alice! Ela se lembrou de muitos anos atrá s quando ambas eram crianç as e liam livros de histó rias. Berta dizia que ela é quem devia se chamar Alice, porque tinha cabelos bonitos e olhos azuis e era a mais inteligente da famí lia.

Interrompeu suas divagaç õ es quando Stefan a pegou pelos braç os e a apertou fortemente contra o peito. Alice olhou espantada para ele e viu seu rosto se aproximando com uma expressã o selvagem nos olhos. Soluç ou quando seus lá bios foram esmagados por um beijo do qual nã o havia jeito de escapar. Ele a apertou mais, até ela sentir dor.

— Entã o é assim que você quer, nã o? — perguntou com a cabeç a colada à dela. — Se você nã o ceder eu vou forç ar!

— Oh, que mais você quer de mim? — perguntou ela, lutando para se libertar.

Os braç os de Stefan poré m a apertavam mais. O esquerdo entã o a enlaç ou e a mã o direita começ ou a percorrer-lhe as costas, à busca dos pontos mais sensí veis.

— Nã o faç a isso — pediu-lhe. — O rapaz pode ver!

— Ah, você quer escondido? — Arrastou-a rudemente para detrá s de algumas pilhas de caixas e a beijou à forç a, na boca, no pescoç o e nos seios. Seus lá bios eram quentes e á cidos.

com seu corpo poderoso, Stefan forç ou Alice contra as lonas amontoadas. Ela tentou se desvencilhar, mas isso fez com que Stefan ficasse mais louco. Inesperadamente, levantou-a nos braç os e carregou-a para a cabine. Jogou-a no sofá e trancou a porta.

— Nã o! — pediu-lhe, atordoada. — Você nã o pode...

— Eu posso! — Arrancou-lhe os ó culos e ela viu tudo embaç ado. Stefan respirava forte.

Alice deu um gemido e levantou as mã os para se defender. Seus golpes apenas resvalavam pelos ombros dele.

— Ah, nã o! — Ela estava imobilizada nos braç os dele, os cabelos desfeitos, a saia amontoada em seus quadris, a blusa aberta... Os lá bios de Stefan sugaram sua garganta e sentiram o pulsar de seu coraç ã o. Alice entã o perdeu os sentidos.

Algum tempo depois, abriu os olhos languidamente... e ele estava lá, sentado ao lado do sofá, molhando seus lá bios com conhaque. Colocou o copo de lado quando ela voltou a si, atordoada no começ o, mas lembrando-se de tudo depois.

Ele se debruç ou sobre ela e afastou seus cabelos da testa. Alice olhou bem fundo nos olhos de Stefan cuja expressã o era de um fascí nio odioso.

— Parece que eu assustei você — observou secamente. — Está bem agora?

— Acho que sim. — Alice ainda sentia medo. — Eu nunca desmaiei antes.

— Você apagou feito uma vela. — Ele tocou-lhe o rosto com o dorso da mã o e Alice estremeceu. — Pensei que isso só acontecesse nas novelas. Realmente, você é uma criatura extraordiná ria.

— Por sua culpa — disse ela, tremendo. — Fui drogada e trazida para este barco para ser maltratada; o que mais você queria que eu fizesse? Que me jogasse nos seus braç os, louca de amor?

Ele esboç ou um sorriso apó s suas palavras.

— Nã o quer terminar o conhaque? Talvez faç a com que você recupere a cor.

— Você sabe bem o que eu quero. — Alice olhou suplicante para ele, quase em desespero. — Por favor, eu quero voltar para Atenas!

Sem qualquer emoç ã o, ele respondeu:

— Estamos a meio caminho da ilha e nã o tenho a intenç ã o de voltar para Atenas, só porque você teve um ataque de nervos. O que tenho de fazer é ir mais devagar com você, Alice. Você é diferente daquelas inglesas liberadas que vê m para cá com idé ias româ nticas sobre rudes armadores gregos. Agora você me intriga mais do que nunca.

— Maldito, maldito! — soluç ou baixinho. Sentiu o rosto arder quando se lembrou do que tinha acontecido. Enterrou as unhas nas almofadas, fazendo o que gostaria de fazer no rosto dele. Ela nã o tinha mais argumentos e nã o podia suportar o olhar possessivo dele, que parecia mais excitado depois do seu desmaio. — Você é duro como pedra! — disse ela com raiva.

— E você, nã o? — As mã os dele tocaram-lhe os ombros suavemente. — Você é sensí vel demais e acho que estou fazendo um favor em tirá -la de Damaskinos. Você é muito ingé nua para perceber que tipo” de homem ele é.

— Espero, que você nã o se julgue um santo! — exclamou Alice com desprezo. — Nã o acho que haja muita escolha entre você e Damaskinos. Você s dois conseguiram dinheiro e por meio da forç a, sem se importarem com o resto.

Alguma coisa mudou no rosto dele quando Alice disse aquilo. Ficou tenso e respondeu:

— Cuidado! Nã o vou permitir que você me compare com aquele assassino!

— O senhor é bem melhor do que ele no seu trabalho sujo, nã o é, sr. Kassandros?

— Acho bom parar por aí, e você deve me chamar de Stefan. Seu rosto estava contraí do e havia raiva nos olhos. — Estamos indo para Solitá ria a toda velocidade. Você pode gritar, desmaiar e despedaç ar essas almofadas. Mas nã o vai conseguir nada, apenas cansaç o. Relaxe, acalme-se e pare de querer me insultar.

— Garanto que é o meu ú nico prazer — respondeu ela. — É a ú nica coisa nesta viagem que está me distraindo!

— Entã o se distraia sozinha! — Ele se levantou bruscamente e apontou para a garrafa de conhaque. — Beba e vá dormir.

— Vá para o inferno, sr. Kassandros! — disse ela. – Nunca vou perdoá -lo por me forç ar a ir para sua ilha, mas quando chegar lá, vou arranjar um jeito de me livrar de você!

— Sonhe com isso, e muito. — Ele deu uma risada e se dirigiu para a porta. Num momento de ó dio, Alice pegou o cá lice de conhaque e jogou-o contra ele. Errou a pontaria e o copo espatifou-se no chã o.

Ele olhou para ela e disse:

— Sente-se melhor agora?

— Muití ssimo melhor. — Ela se virou para a parede mordendo os lá bios. Stefan saiu rindo.

— Que morra! — murmurou Alice. Algumas vezes, na solidã o do seu apartamento, ela tinha sonhado com um homem carinhoso. Em vez disso, o destino a tinha jogado nos braç os de um grego que buscava vinganç a à s custas dela. Por causa de Timareta, Berta e Damaskinos! Ela sofria por causa da imprudê ncia da irmã que, depois de tantas mentiras, estava certamente muito feliz nos braç os do amado.

Um leve tremor percorreu o corpo de Alice. Ela nã o conhecia o grau de desamparo que um homem podia fazer uma mulher sentir. Stefan Kassandros nã o gostava dela, mas isso nã o ia impedi-lo de levar avante a sua vinganç a. Ela ia sentir de novo aqueles lá bios, aquelas mã os que lhe provocavam reaç õ es inconfessá veis, e, dessa vez, com certeza nã o ia poder escapar com outro desmaio.

Alice ficou pensando no seu destino; sempre tinha pensado que sua reserva em relaç ã o aos homens fosse uma defesa contra o sofrimento. Mas aquilo tinha se tornado uma maneira bá sica de ser que lhe parecia muito difí cil de se livrar. Existiam muitas mulheres assim. e até o encontro com Stefan ela nã o tinha sentido a necessidade de saber se era passional ou fria.

Aconchegou-se nas almofadas e se sentiu terrivelmente só, perdida, enquanto o Phaedra a levava atravé s do mar Egeu para a ilha daquele homem que a tinha nas mã os.

 

 

                                    CAPÍ TULO IV

 

 

Alice permanecia tensa na murada enquanto o barco era habilmente manobrado entre as rochas que se agrupavam alé m da praia de Solitá ria. A tarde caí a e o cé u estava raiado de vermelho. O vento jogava seus cabelos nos olhos e seus lá bios estavam mais vermelhos do que de costume, contrastando com sua palidez.

A ilha parecia rodeada de rochas escuras que submergiam no mar azul, tornando-a uma espé cie de fortaleza bem de acordo com o espí rito aventureiro de Stefan Kassandros. Alé m das areias, viam-se altos rochedos dourados pelo sol poente, e mesmo dali ela podia ver o castelo que Stefan chamava de Fireglow, construí do sobre as rochas maciç as, ameaç ador em sua solidã o. Dominava o mar de onde se erguia há muitos sé culos.

— Aquele é o castelo — disse Stefan com orgulho na voz. Ele segurava firmemente o leme com os pé s plantados no chã o do convé s enquanto conduzia o Phaedra atravé s dos recifes para o porto. A â ncora rangeu em sua corrente quando a baixaram, e ainda que estivesse ali contra a vontade, Alice sentiu uma certa excitaç ã o em desembarcar numa ilha grega.

As bagagens foram baixadas no caí que e, cerca de vinte minutos depois, Alice pisava na ilha Solitá ria, cujas areias eram tã o pá lidas quanto vermelhos eram os rochedos.

Quando olhou para o alto, seus olhos se escureceram com o brilho. Tudo parecia meio embaç ado, o que diminuí a de certa forma o medo inicial.

— Tudo bem? — perguntou Stefan a seu lado, orgulhoso e rijo, a cabeç a desafiante sobre o pescoç o bronzeado e os ombros largos.

— Este é o momento da miroloyia, hein?

— Eu nã o sei o que isso quer dizer. — Ela ainda nã o conseguia falar com ele em tom normal, ou olhá -lo sem sentir uma sensaç ã o de fraqueza nas pernas. Sentia-se insultada com a atitude de Stefan, que demonstrava de todas as formas que ela lhe pertencia e que tinha de aceitar a situaç ã o.

Miroloyia quer dizer destino — disse ele, olhando significativamente para ela. — Se certas coisas estã o destinadas a nó s, inevitavelmente chega o momento em que elas acontecem. Você tem de aceitá -las, Alice. Só assim poderemos passar por elas sem muita contrariedade.

— Que boa saí da para você! — exclamou com ironia. — Você me carrega como um pirata e depois põ e a culpa no destino!

— Em condiç õ es normais, qualquer turista teria de pagar muito para viajar num barco como o Phaedra — argumentou secamente.

— Estou sendo muito condescendente! Basta me lembrar da maneira como Timareta foi afogada na piscina de Damaskinos.

— Oh, por favor! — pediu-lhe, erguendo as mã os. — Nã o fique me culpando pela morte daquela pobre criatura.

Ele segurou as mã os de Alice e as admirou, fascinado pelo contraste com a cor morena das suas. — Você tem mã os bonitas, querida, e que deveriam acariciar um homem com ternura. Você tem muito que aprender. Na pró xima vez que a tiver em meus braç os, espero que nã o as use para me ferir.

— Oh, eu o feri? — perguntou fingindo inocê ncia. — Fico muito contente!

— Você lutou como uma gata selvagem e arranhou as minhas costas; se eu fosse outro homem a teria esbofeteado.

— Mas você é um cavalheiro — replicou ela, desviando os olhos para o cume dos rochedos. — Nã o vai dizer que vamos ter que escalar as rochas para chegar ao castelo.

— Nã o. Iremos por aqui. — Stefan pegou as malas de Alice e caminhou em direç ã o à praia, que refletia os ú ltimos raios do sol no seu caminho para o mar. Adiante deles havia uma escavaç ã o nas rochas onde se via um elevador preso a cabos de aç o.

Quando entraram no elevador, que era suficientemente grande para duas pessoas e alguma bagagem, uma luz se acendeu automaticamente e o elevador começ ou a subir tracionado pelos cabos. Se estivesse sozinha, Alice ia sentir medo ao pensar em atravessar o longo tú nel de rochas.

— Este elevador raramente apresenta defeitos — disse Stefan, olhando para Alice como se adivinhasse seus pensamentos. — Há muitos anos atrá s, quando Fireglow era um mosteiro, os monges subiam pelas rochas. Seus suprimentos eram iç ados em grandes cestos.

Quando comprei o castelo e o reformei, mandei construir este elevador. Você tem medo de estar fechada aqui, Alicia?

Ela olhou para ele quando notou que ele havia pronunciado de modo diferente o seu nome, como se agora, em sua ilha, ela devesse se amoldar exatamente aos seus desejos.

— Eu nunca gostei muito de elevadores — disse ela. — Gostaria que me chamasse de Alice como em inglê s, se você nã o se importar. Nã o sou grega e nã o pretendo me submeter a seus crité rios!

— Verdade? Mas nó s já nã o decidimos que eu posso fazer o que quiser com você?

— Oh, sim, na base da forç a bruta — disse ela, olhando-o friamente. — Eu desprezo você e jamais poderei lhe dar meu afeto.

— Minha querida, se você imagina que preciso dele, está completamente enganada. Meu ú nico propó sito ao trazer você para cá já ficou bem claro.

— Ficou sim! — reclamou furiosa. — E saiba que eu odeio sua arrogâ ncia e tudo mais em você.

— Eu sei disso — concordou ele e deu uma risada de gozaç ã o.

— Eu arruinei todos os seus planos para o futuro. Você queria se sentar nos joelhos do tirano para ler romances medievais, toda servil, mas muito contente por dentro por pertencer a um homem que nunca ia poder tomá -la nos braç os e fazê -la sentir-se mulher de verdade.

— Mas nã o é isso que você pretende fazer? — disse Alice com cinismo. — Você nã o passa de um valentã o que merece cadeia. Um dia você vai pagar pelo que está fazendo! Isso se chama rapto!

— E quem é que vai me fazer pagar, querida? — Sua expressã o era de extremo gozo. — Quem vai acreditar que o respeitá vel dono da cadeia de hoté is lhe deu um café com soní fero para depois raptá -la num barco? Você nã o passa de uma estrangeira que veio para a Gré cia à busca de um protetor rico. Isso acontece todos os dias! Mulheres como você seduzem um homem saudá vel e depois vã o aos tribunais pedir indenizaç ã o.

— Você é um demó nio com quem nã o se pode falar? exclamou Alice indignada. — Você sabe que nã o sou desse tipo.

— Sei? — Stefan recostou-se contra a parede do elevador. Quando entrei no seu quarto, você estava vestida muito convidativamente e depois foi todo aquele fingimento para cair nos meus braç os. O que um homem pode pensar de uma mulher que faz tal tipo de coisa? Que ela está pedindo um copo de leite quente para poder dormir melhor?

— Eu tropecei e você sabe disso! — respondeu Alice furiosa.

— Eu sei o que sei e vai ser isso que vou dizer na Justiç a se você ousar me meter numa encrenca, entendeu bem?

— Nã o tenho dú vidas de que você iria acusar exatamente a mim que sou a parte ofendida! Ia dizer um monte de mentiras e eu passaria por uma vagabunda que o enganou. Se você está tã o seguro disso, por que nã o tentamos? Seria uma forma de vinganç a muito cruel, nã o?

— Seria mesmo, Alicia, exceto que eu nã o pretendo me privar da sua presenç a.

Alice estava sem fô lego ao dizer desesperadamente:

— Você acha que Damaskinos vai deixar as coisas assim?

— Meu bem, se eu fosse você, nã o contaria muito com a galanteria dele. Nã o posso imaginar Damaskinos querendo você depois de saber que eu a possuí. Ele é muito vivo para nã o perceber minha intenç ã o, e muito grego para nã o perceber que eu nã o faç o ameaç as à toa. Vai sofrer todos os tormentos de um homem impotente e eu sei que sã o grandes. Depois, lamento dizer, Alicia, ele vai dispensá -la. Mas nã o fique triste, vou recompensá -la muito bem depois de tudo.

— O que você quer dizer com recompensar? — Ela tinha se afastado dele tanto quanto possí vel no elevador. Mesmo assim, seus ombros largos pareciam dominá -la, fazendo-a se lembrar dos momentos de contato fí sico que ela queria esquecer.

— Dinheiro, querida — disse ele, esfregando o polegar com o indicador. — Nã o é isso que você quer de Damaskinos?

Era o que Berta desejava e Alice se sentiu afundar ainda mais na armadilha na qual sem querer ela mesma havia ousado entrar.

— Nã o sou mercená ria — protestou. — Nã o foi por isso que vim à Gré cia.

— Entã o foi o destino quem a trouxe...

Nem bem terminou de falar, o elevador parou numa plataforma. Stefan abriu a porta dando lugar para Alice passar. Desceram num vestí bulo que dava para uma porta oval, provavelmente a antiga entrada do mosteiro. Alice sentiu como se estivesse entrando numa prisã o. E era, de certa forma. Hesitou e virou-se para trá s como que tentando escapar de Stefan Kassandros e de seu castelo. Em vez disso, esbarrou nele que procurava as chaves no bolso do casaco.



  

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