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A intrusa 7 страница



Ao colocar o cá lice sobre a mesinha, notou um livro ali, e ajeitando os travesseiros por detrá s dos ombros, pegou-o e distraidamente o abriu. Chamava-se ”O Haré m” e era uma traduç ã o do francê s com ilustraç õ es originais. Era o texto original, sem cortes. Alice virou as pá ginas e respirou fundo quando viu o tipo de ilustraç ã o. Sentiu-se envergonhada, pois mesmo olhando sob o aspecto artí stico, os detalhes das figuras nã o deixavam nada a imaginar. Teve plena certeza de que aquele livro tinha sido colocado ali de propó sito, como se Stefan quisesse mostrar que, em seus braç os, ela poderia se parecer com a garota das ilustraç õ es, que tinha a cabeç a jogada para trá s, os olhos semicerrados de prazer, enquanto o rapaz a possuí a com seu forte corpo moreno. Alice fechou o livro depressa e, ao colocá -lo sobre a mesinha, imaginou que seria um daqueles volumes que Stefan havia comprado num leilã o.

Recostou-se nos travesseiros com um leve sorriso nos lá bios. Era pró prio dele atormentá -la por causa do terror que ela tinha passado em seus braç os no barco. Apagou a luz e deslizou entre as cobertas. Seria sua timidez ou sua inibiç ã o que o provocava? Será que ele estava querendo provar que era capaz de fazê -la responder à sua paixã o tal como a garota do livro?

Alice enfiou o rosto no travesseiro frio e tentou afastar do pensamento as figuras do livro, mas nã o conseguiu. Sentiu o coraç ã o acelerado e imaginou se o verdadeiro amor seria uma entrega tã o crua quanto a que aparecia nas ilustraç õ es. De certa forma, era paté tico ser tã o ingé nua aos vinte e quatro anos! Nã o era à toa que Berta sempre caç oava dela e que Stefan tivesse deixado o livro em sua cabeceira para provocar sua curiosidade.

Deu um suspiro e logo pegou no sono. Sonhou que uns braç os fortes e morenos deslizavam por seu corpo... braç os aos quais ela nã o podia resistir, ao contrá rio, se entregava. Aninhou-se entre eles. Estremeceu e despertou. Mas na verdade estava sozinha!

CAPÍ TULO VII

 

 

Alice assustou-se ao acordar numa cama estranha. Sentou-se depressa olhando para o í cone que brilhava à luz do sol que entrava pela janela. Espreguiç ou-se debaixo das cobertas e lembrou-se de onde estava; em vez de ter medo, sentiu certo prazer em observar os detalhes do quarto. Tã o grego! Completamente diferente dos quartos só brios ingleses, com suas mobí lias simples e carpetes de cor neutra.

Levantou-se e vestiu o penhoar; antes de ir para o banheiro, saiu para o balcã o. Tocou as flores da trepadeira que cobria a grade e olhou para baixo. No pá tio, um homem com uma toalha nos ombros conversava com outro homem mais velho que segurava uma longa alfange de cortar grama. Alice percebeu a sonoridade das palavras gregas e pelos ombros largos e cabelos castanhos nã o teve dú vida que o homem com a toalha nos ombros era Stefan. Depois de falar com o jardineiro, ele se afastou certamente para ir tomar seu banho de mar matinal. Como levasse apenas uma toalha, Alice imaginou que estivesse de maio por baixo das calç as. Ou seria ele tã o pagã o a ponto de nadar nu?

Apertou forte as grades do balcã o e sentiu vontade de que ele a tivesse convidado para ir nadar junto. Estava fazendo uma linda manhã, cheia de sol. Por entre os ciprestes, podia-se ver o mar com suas ondas convidativas. Por que nã o? Seus olhos brilharam. Haviam dito para ela agir como hó spede e nadar era uma das suas habilidades. Era muito melhor que Alberta, que preferia se exibir num biquini em vez de nadar.

Mas Alice nã o estava usando um biquini quando desceu para a praia pelos degraus ao lado das rochas. Vestia um maio branco inteiriç o e levava uma toalha de cores alegres nos ombros, que combinava com as sandá lias multicoloridas. O maio mostrava suas curvas firmes e as pernas longas de cuja palidez ela queria se livrar com o sol forte da Gré cia.

De onde estava, podia ver a praia que tinha a forma de uma ferradura. No cé u voavam as gaivotas e, mais distante, o mar era de uma beleza incrí vel, batendo contra rochas gigantescas e formando espuma branca. Ela nã o tinha esquecido o que Stefan havia dito sobre o perigo dos tubarõ es. Mas queria nadar e viu que Stefan já tinha sumido nas á guas. Ajeitando a touca branca na cabeç a, apressou-se em descer o resto dos degraus.

Os tubarõ es do mar e o grego alto e moreno faziam uma boa combinaç ã o, muito perigo no ar! Quando chegou à praia, Alice tirou as sandá lias e dependurou a toalha no galho de um arbusto. Depois correu para o mar. As ondas lhe batiam no corpo enquanto ela entrava na á gua até ficar suficientemente fundo para poder nadar. com firmes braç adas nadou em direç ã o do Phaedra que estava ancorado a uma boa distâ ncia alé m da baí a. Imaginava que Stefan tivesse ido para o barco e achou mais prudente estar por perto em caso de aparecer algum tubarã o.

Fazia muito tempo que Alice nã o se divertia tanto. Virou de costas e deu algumas braç adas. Ela nã o podia negar que até aquele momento sua vida tinha sido bem desinteressante. Muito trabalho e pouco divertimento. Naquele exato momento ela estava a milhares de quiló metros da civilizada Londres onde tinha de trabalhar continuamente para se manter com um relativo conforto.

Ah, mas agora ela nã o ia pensar nessas coisas, pelo menos por uma semana. E muito menos deixar que seus pensamentos a fizessem se lembrar dos acontecimentos da noite anterior. A noite tinha o poder de intensificar as emoç õ es e Stefan só havia brincado com ela quando falou em casamento. Agora, era dia claro e ela podia ver a cena do quarto com mais calma. Era um homem que preenchia seus dias com vá rias atividades, mas que achava as noites solitá rias e vazias, portanto era normal que um homem com tal vitalidade se excitasse tendo uma mulher debaixo do mesmo teto.

Perdida em seus pensamentos, Alice nã o percebeu que tinha nadado até perto do Phaedra e que seu casco já estava sobre ela.

— Olá, você!

Ela afastou o cabelo do rosto e olhou para cima. Stefan estava na murada do barco, olhando para ela.

— Quer dizer que veio nadando para me encontrar, hein?

Ela sacudiu a cabeç a negando e ele riu atirando uma escada de corda para ela, num convite claro. Como ela hesitasse e começ asse a nadar em roda, ele ordenou que segurasse a escada e subisse para bordo.

Venha! Um objeto em movimento é muito convidativo para

um tubarã o.

Agarrou a escada quando ele disse aquilo e tratou de subir. Quando ele a tocou, ela sentiu um arrepio como se uma corrente elé trica percorresse todo seu corpo. Ele riu da confusã o de Alice e agarrou-a pela cintura, apoiando-a sobre seu corpo. Estava usando calç as desabotoadas de marinheiro e camisa aberta ao peito.

— Podí amos ter nadado juntos, mas achei que você gostaria de ficar mais tempo na cama depois do cansaç o de ontem. Dormiu bem?

— Muito bem, obrigada — respondeu controlada, procurando esconder o tumulto que sentia ao contato do seu corpo com o dele.

— Você dormiu logo? — perguntou. — À s vezes é difí cil dormir bem em cama diferente, numa casa onde nada é familiar. Eu nã o ia gostar que você tivesse passado a noite acordada se agitando.

— Nã o? — Alice, entã o, percebeu pelos seus olhos maliciosos que ele estava apenas brincando de anfitriã o preocupado. — Eu estava cansada e caí no sono mal pus a cabeç a no travesseiro.

— Verdade? — Ele ergueu uma sobrancelha e apertou-a mais forte contra seu corpo. — Eu achava que você era uma dessas pessoas que precisam ler alguma coisa para poder dormir.

— Nã o quando estou cansada — respondeu friamente. Por nada no mundo ela ia confessar que tinha visto o livro que ele havia colocado sobre a mesinha de cabeceira. — Quando estou sem sono, o má ximo que posso fazer é ler alguma histó ria policial.

— Realmente, é menos perturbador, nã o? Pensei que as mulheres preferissem ler histó rias de amor.

— As solteironas nã o acreditam mais nos romances de amor. Histó rias de crime distraem mais do que as de amor. As pessoas que amam sã o como os jogadores viciados: parecem incapazes de se satisfazer no jogo, que na realidade nunca os satisfaz.

— Essa é uma afirmaç ã o bem cí nica, Alicia. Isso me faz querer demonstrar que você está errada! — Puxou-a mais contra seu corpo com tanta forç a que quase a machucou. — Quer dizer que você gosta de nadar, hein?

— Muito — respondeu, ruborizada. Podia sentir o calor do corpo de Stefan atravé s do maio molhado. Viu-se de repente invadida por uma sensaç ã o de desproteç ã o.

— Nadar faz você ” se sentir viva, nã o é? Obriga você a usar todos os mú sculos do corpo para chegar ao prazer, concorda? — Olhou-a longamente dentro dos olhos. — Se você nã o mente, por que negou que viu o livro no quarto?

— Eu... — gaguejou. — Você nã o tinha o direito de deixar aquele livro lá!

— Por quê? Nã o há crianç as em minha casa, Alicia. Pelo menos ainda. Só um homem, seus empregados e uma mulher de vinte e quatro anos. Já é tempo de você deixar de pensar que nã o é capaz de se relaxar nos meus braç os. Se você pode fazer isso nadando, por que nã o consegue se entregar a seus pró prios sentimentos quando eu a abraç o? Nã o tenha vergonha disso. O corpo nã o provoca terror para os gregos e as palavras que eles usam há sé culos para se referir a ele estã o incorporadas em sua pró pria lí ngua. Quando você aprender a falar minha lí ngua, notará que muitas palavras lhe soarã o familiares.

— Eu nã o tenho a intenç ã o de aprender grego — respondeu, tentando se afastar dele. — Você está fazendo um jogo comigo e eu nã o aceito isso;

— Entã o por que nadou até o Phaedra se nã o queria ficar sozinha comigo? Confesse que foi por isso que você veio! — Sua voz era tã o insistente quanto a pressã o de seus braç os cobertos de pê los negros.

— Nã o é verdade que nadei até aqui para ficar com você!

— Qual era sua idé ia entã o? — Ele a observava com os olhos semicerrados enquanto a abraç ava. — Você acha que ia poder subornar o rapaz para ele a deixar fugir? O que ia dar em troca? Esse corpo que fica todo tenso quando eu a toco?

— Como ousa dizer uma coisa dessas? — protestou Alice, cheia de indignaç ã o. — Que mente mais suja!

— Era mais pura antes de conhecer você. Ou você é uma garota impulsiva que nã o sabe o que faz, ou é uma aventureira calculista que anda atrá s de marido rico sem qualquer escrú pulo.

— Você acha que eu quero você para marido? — perguntou, procurando afastar-se dele. — Você é insolente e está me insultando. Se nã o me largar...

— Sim. É melhor você ir — disse ele, largando-a com um safanã o. Ficou parado na murada do convé s, enquanto o Phaedra ondulava sobre as ondas preso à â ncora. Alice olhou para ele e percebeu que toda sua tensã o ia explodir de uma forma ou de outra.

— Quer dizer que ia achar um insulto se eu me casasse com você! — exclamou com uma calma inquietante, as mã os firmes na murada do barco. Embaixo, o mar cintilava.

— Nã o há razã o para você pensar assim. Eu sou antiquada e acho que as pessoas devem estar apaixonadas, ou pelo menos atraí das uma pela outra, para decidirem se casar.

— Um passo no escuro, hein?

— De certa forma. — Alice engoliu em seco, sentindo o salgado do mar nos lá bios. — Eu nã o quero dizer que saiba muito a esse respeito.

— Ora vamos! — A voz de Stefan estava carregada de ironia.

— Eu ainda nã o estou muito convencido do contrá rio, querida. Ainda tenho de provar que você nã o está me pregando uma peç a. Mas a verdade é que você desperta desejos em mim. Desejos que sublimava no trabalho, e se sua vida nã o tinha nenhum significado em Londres, por que nã o pensar na possibilidade de ficar comigo? Eu nã o peç o que me adore, mas espero que seja leal. Alé m disso, você deve saber que um casamento grego é para sempre!

Enquanto ele falava, Alice permanecia imó vel. Ele tinha feito a proposta de casamento friamente, tal como ela imaginou que ia ser, sem qualquer ternura e sem se importar com os seus sentimentos. Parecia que tinha perdido a capacidade de ser carinhoso há muito tempo, provavelmente tinha sido enterrada com a garota grega que ele nã o podia esquecer.

Alice percebeu que tudo o que ele queria era seu corpo, vagamente parecido com o de Timareta. Sentiu uma vontade desesperada de fugir para que nã o a convencesse com suas carí cias de que a paixã o pudesse substituir o verdadeiro amor entre duas pessoas, amor que compensaria suas noites de solidã o.

Era solitá ria e sabia disso, mas nã o ia aceitar, como se fosse um caso de desespero, a proposta de Stefan Kassandros. Alé m da paixã o ele oferecia muito sofrimento, muita dor... Sem hesitar, Alice saltou da murada do barco para o mar e começ ou a nadar para a praia. Alguns minutos depois, ela ouviu Stefan mergulhar atrá s dela. Ela era boa nadadora, mas Stefan era muito mais forte e logo estava ao seu lado.

— Nã o tente me deter!

— Eu nã o ia fazer isso — respondeu. Por alguns instantes seus olhos se encontraram, um dominador e o outro desafiante num duelo silencioso. Continuaram a nadar e ele ficou de propó sito para trá s.

— Nade depressa agora — ordenou com a voz tensa. — Nã o tenha medo, mas nade como se quisesse ganhar a medalha de ouro para a Inglaterra.

Ela o olhou interrogativamente sobre os ombros, mas nã o teve de perguntar o porquê da sua atitude, pois viu uma barbatana azulada deslizando sobre a á gua a pouca distâ ncia deles. Os tubarõ es sã o rá pidos e instintivos quando estã o atrá s de uma presa, qualquer que seja ela. Alice sentiu o coraç ã o disparar e sua primeira reaç ã o foi de pâ nico. Percebendo isso, Stefan adiantou-se e passou o braç o ao redor dela, tentando acalmá -la.

— Nade como nunca e sem fazer barulho. Estou logo atrá s de você.

Ela o sentia nadando atrá s dela, oferecendo suas longas pernas aos dentes do tubarã o se este resolvesse atacá -los. Nunca ningué m havia feito algo tã o despreendido por ela, em toda a sua vida. Soluç ava enquanto nadava com toda a energia que ainda lhe restava, pois quanto mais depressa nadasse melhor seria para Stefan que a protegia naquela corrida de vida ou de morte.

— bom, menina! bom! — Stefan a animava. — Falta pouco, logo estaremos na praia.

Alice estava tremendo e sem ar quando saí ram da á gua. Na areia ela se deixou cair de joelhos, tentando recuperar o fô lego. Olhou para Stefan de pé ao lado dela, afastando o cabelo molhado do rosto com a á gua escorrendo pelo corpo. Tudo estava quieto. O sol brilhava nos olhos e nos ombros molhados de Stefan. Ele tinha tirado as calç as e a camisa antes de mergulhar atrá s dela. Estava nu, tal qual uma está tua grega sobre a areia.

— Graç as aos deuses, o tubarã o estava sem fome. Foi uma corrida, hein? — Stefan olhava para ela, que se sentiu terrivelmente perturbada com toda a sua vigorosa nudez, com seu corpo moreno coberto de pê los negros que se grudavam à pele. Ele nã o se conteve e a tomou nos braç os de repente. Inclinando a cabeç a de Alice para trá s, esmagou-lhe os lá bios num beijo selvagem. Seus pé s afundaram na areia macia e ela respondeu à carí cia e se deixou beijar até que ele a largou sorrindo.

— O perigo faz soltar coisas que estã o escondidas. Guarde sua virtude, minha cara, apesar de eu poder tomá -la aqui mesmo, sobre a areia.

Alice estava com os olhos arregalados, ainda sob o impacto da ameaç a do tubarã o. Se ele tivesse atacado, Stefan a teria protegido da melhor maneira possí vel, mesmo com a possibilidade de perder as pernas. Alice afastou-se dele tremendo, apesar de sentir necessidade de ficar ali e sentir a proteç ã o de seus braç os.

— Você é um excelente nadador — conseguiu dizer. — Podia ter me abandonado e ningué m ia poder censurá -lo.

— Ningué m em Solitá ria — concordou. — Vamos para casa agora, para você tomar um banho de chuveiro e comer alguma coisa. Vamos!

Ela seguiu na frente dele, confusa porque ele vinha atrá s em toda sua perigosa nudez. Quando chegaram junto ao arbusto onde Alice deixara a toalha, ofereceu-lhe para que a enrolasse na cintura.

— É para proteger a virtude de quem, a minha ou a sua?

— Você sabe para que é e nã o precisa caç oar. — Ela ficou olhando enquanto ele enrolava a toalha na cintura.

— Acho que nã o sou tã o puritana assim, pelo menos espero.

— Eu també m, Alicia — respondeu, malicioso. Nã o havia dú vida quanto ao que ele queria dizer enquanto entravam na caverna do elevador. Uma escuridã o momentâ nea desceu sobre eles e Alice ficou tensa quando Stefan deslizou a mã o de leve sobre suas costas.

— Você tem coragem, menina, e, alé m disso, tem um corpo muito forte e isso indica saú de mental. Você nã o deve se subestimar só porque sua irmã tem um rosto mais bonito e atrai os jovens inexperientes. Beleza na mulher é a sua capacidade de sentir as coisas com profundidade. — Enquanto ele falava, Alice sentia seus dedos acariciando suas costas e o que a separava do seu corpo moreno era apenas uma toalha de banho.

— Eu sei que os homens nã o admiram somente a beleza do rosto

— disse ela, lembrando-se do ar provocante de Berta e do convite em seus olhos quando os homens estavam por perto. A proximidade deles parecia acender alguma coisa dentro de sua irmã. Isso nã o acontecia com Alice; mas agora Stefan estava fazendo com que toda aquela emoç ã o acumulada explodisse num desejo fí sico incontrolá vel.

— O que os homens esperam das mulheres? — perguntou, pressionando mais forte o ombro de Alice.

— Os homens gostam de mulheres excitantes e receptivas. Tê m antenas que os avisam quando seus sinais forem recebidos.

— Vejo que você entende do assunto — disse, caç oando.

— Nem tanto, sr. Kassandros. Se você nã o tivesse algum motivo para querer se encontrar com Alice Sheldon, nem teria olhado para mim.

— Meu Deus! — exclamou. — Uma mulher é feia só quando tranca seus sentimentos dentro de si como se tivesse vergonha deles! Entã o por que foi que você se arrumou toda, soltou os cabelos e tirou os ó culos? Foi só para testar a reaç ã o do garç om?

— Nã o!

— Mentirosa! Você se banhou, se perfumou e pô s uma roupa transparente. A reaç ã o que provocou foi maior do que você esperava, nã o? Você estava querendo seduzir um homem.

— Isso nã o é verdade — protestou. — Eu trouxe algumas roupas bonitas e quis experimentá -las, foi só.

— Para excitar o garç om na solidã o do quarto do hotel? Atitude tí pica de uma falsa moralista!

Alice olhava para ele sem saber o que falar. Queria sentir raiva mas só sentia tristeza. Nã o podia entender por que ele a estava tratando assim, quando lá no mar a havia protegido com risco da pró pria vida. Será que faria aquilo por qualquer pessoa? Esse pensamento a fez sentir mais tristeza e mais frio. Ele abriu a porta do elevador e a seguiu enquanto se dirigiam silenciosamente para o castelo. Ao atravessarem o pá tio, lagartos passaram correndo por entre as lajes iluminadas pelo sol e Alice notou que eles tinham a expressã o de demó nios.

Katerina estava no hall quando eles entraram e Alice percebeu seu olhar quando viu Stefan com a toalha enrolada na cintura.

— Estivemos nadando — disse casualmente. — A srta. Sheldon vai tomar café no quarto. Cuide para que seja reforç ado e para que o café esteja quente. Suba e tome um banho — ordenou. — Mais tarde nos encontraremos e eu vou lhe mostrar o castelo.

— Obrigada por tudo.

Ele sabia o que ela queria dizer e lhe deu um sorriso iró nico.

— Os cavaleiros andantes estã o fora de moda, Alicia, assim como a pirataria nos mares gregos. Você é mais impulsiva do que percebe, e se eu tivesse decidido ficar a bordo do Phaedra, a estas horas você estaria na barriga do tubarã o. — E acrescentou malicioso:

— Tudo por culpa da sua completa falta de visã o.

Ela tinha certeza de que a observaç ã o de Stefan tinha duplo sentido, mas estava cansada para discutir. Ficou contente quando chegou ao seu quarto e se trancou, apesar de nã o poder se esconder dos pró prios pensamentos. Por que quando estava perto dele sentia uma sensaç ã o confusa mais de dor do que de medo? Estava debaixo do chuveiro quando a resposta explodiu em sua mente.

Ela era uma virgem de vinte e quatro anos que nã o tinha experimentado até entã o a sensaç ã o do desejo fí sico por um homem. Foi por isso que tinha se atirado no mar quando percebeu que nã o podia mais confiar em sua resistê ncia quando Stefan a acariciava. Ele fazia seu sangue correr mais depressa nas veias e isso nã o costumava acontecer até ela chegar à Gré cia. Stefan fazia os jovens que andavam atrá s de Berta parecerem meninos desajeitados. Nenhum deles seria capaz de raptar uma mulher e enfrentar sem medo as consequê ncias. Ele nem mesmo estava se importando com a resposta de Berta. Talvez culpasse o destino por ter permitido que a mulher errada tivesse atravessado o seu caminho.

Alice fez uma ú ltima pergunta para si mesma enquanto punha um vestido verde de listras: será que ele ia deixá -la ir embora quando tivesse a certeza de que ela nã o era a noiva de Damaskinos? Por enquanto achava que tinha razã o em mantê -la presa; mas, quando soubesse a verdade, nã o ia poder mais forç á -la a ficar... ou poderia?

Prendeu os cabelos para se refrescar e desceu para tomar café. Hesta chegou com uma bandeja. Seus olhos estavam cheios de curiosidade enquanto arrumava os pratos sobre a mesinha. Sem dú vida, sua tia havia dito a ela como Stefan voltara da praia. Tal intimidade entre um homem e uma mulher só podia significar alguma coisa muito sé ria.

— Espero que o tubarã o nã o tenha assustado a senhorita. — Hesta ficou de pé segurando o bule de café, enquanto Alice se sentava à mesa, diante de um delicioso omelete acompanhado de pã ezinhos quentes.

— Estou contente porque nã o estava sozinha quando o tubarã o chegou. — Alice sorriu procurando aparentar calma, enquanto passava manteiga num pã ozinho ainda fumegante. — Acho que se tivesse mostrado medo o tubarã o ia notar nossa presenç a, mas naquela situaç ã o eu tinha de me controlar, senã o ia levar um safanã o do sr. Kassandros.

— Quer dizer que a senhora está começ ando a entender os homens gregos? — murmurou Hesta enquanto colocava creme no café.

— Pelo que percebi, as mulheres gregas tê m de obedecê -los, caso contrá rio sã o forç adas a isso, nã o é?

— Bem que lá no fundo as mulheres gostam disso, senhorita. Por que nã o deixar entã o que os homens sejam os senhores já que tê m muito mais forç a do que a gente? Nó s mulheres já temos muito com que pensar e sofrer. Para que ficar brigando para ver quem pode mais? A natureza sabe o que faz. Quando quer que nasç a uma menina, ela nasce. Quando quer um menino, logo ele está a caminho com tudo o que vai fazer dele um homem.

Alice nã o pô de deixar de sorrir. De fato, naquele dia ela tinha visto o que fazia de Stefan um homem.

— As gregas parecem ter uma sabedoria que as inglesas perderam

— disse ela. — Mas nã o concordo que uma mulher deva se submeter completamente à vontade de um homem. Ela é sua companheira e nã o escrava.

— Eu acho, senhorita, que ela é a amante e a amiga que torna a vida dele mais fá cil. A mulher que nunca diz ao homem que ele é importante para ela corre o risco de perdê -lo. Ele vai procurar outra que se sinta feliz por depender dele,

— Eu nunca dependi de homem algum em minha vida. — Confessou pensativa. — Você tem namorado, Hesta?

— Sim. Eu estou noiva. — Os olhos de Hesta brilharam. — Eu tinha quinze anos quando nos encontramos, mas Elias está trabalhando na cidade e nó s só vamos casar quando tivermos dinheiro suficiente para comprar uma casa.

— Você deve sentir falta dele, nã o?

— De certo! — Hesta juntou as mã os com uma expressã o sonhadora no rosto. — É duro ficar longe dele, mas pior é começ ar a vida sem ter um teto. Acho que nã o há nada melhor do que a gente ficar juntos em nossa casinha, com as portas fechadas e tudo arrumadinho e confortá vel. Nó s nos amamos, mas devemos esperar que os figos amadureç am, assim eles ficam mais doces!

Um pensamento que Alice ficou remoendo depois, sentada sozinha no balcã o coberto pelas flores da trepadeira. Estava chupando uvas pretas e se sentia relaxada naquela funda cadeira de vime. Era quase possí vel fingir que” era uma descuidada turista em fé rias e que nã o sentia nada por Stefan. Desse modo, podia apreciar as abelhas voando pelas flores para tirar delas o pó len que carregavam de flor em flor, realizando o trabalho de multiplicaç ã o da natureza, ao mesmo tempo que sugavam o mel...

A natureza é sá bia, tinha dito Hesta. Mas també m misteriosa e sutil. Alice estava agora mais do que nunca consciente da beleza da ilha. Era uma artista, uma pessoa sensí vel que nã o podia ignorar a beleza e o bom gosto daquela casa, construí da sobre as ruí nas de um mosteiro, para perpetuar a lembranç a de um grande amor. Os figos nã o haviam amadurecido para Stefan... tinham morrido. Mas ele nã o perdera o interesse por uma mulher que partilhasse do seu futuro. Nã o esperava amar ou ser amado, mas queria tudo o mais que viria com o casamento. E, sendo grego, certamente ia querer filhos. Alice recostou a cabeç a na almofada da cadeira, com os olhos escondidos por detrá s das lentes escuras dos ó culos, divagando sobre o que havia acontecido pela manhã e a proposta de casamento de Stefan.

Será que queria mesmo convencê -la a tal casamento? E será que poderia resistir a ele, envolvida como estava em sonhos româ nticos em vez de aceitar a realidade? Viver numa casa como aquela e com um marido como Stefan! O que tinha se nã o a amasse? Certamente isso nã o ia impedir que ele desse ampla vazã o à sua sexualidade. Alice sentiu um arrepio correr pelo corpo quando se lembrou dos abraç os e beijos na praia. Ele tinha despertado a mulher que dormia nela. Mas será que seria capaz de viver em Fireglow, sabendo que Stefan ia continuar visitando o quarto onde Timareta acenava para ele de um quadro dependurado na parede?

Sentiu uma sú bita revolta. Nã o! Era muito para ela. Nã o era totalmente insensí vel e tampouco se importava apenas com seu pró prio conforto. Queria amar e ser amada també m. Stefan era um homem com todas as qualidades; dinâ mico, excitante, bonito. Mas seu coraç ã o pertencia à memó ria de outra pessoa e Alice se conhecia bem para saber que nã o ia suportar viver com algué m que só queria seu corpo. O desejo, ao contrá rio do verdadeiro amor, era uma emoç ã o instá vel e o que ia acontecer com ela depois que Stefan se cansasse dela?



  

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