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CAPITULO V



 

Paula estava sem fô lego quando se aproximou do carro. Olhou logo para dentro, suspirando aliviada ao ver que Dom Diablo ainda nã o havia chegado. De repente sentiu suas mã os fortes nos ombros e girando sobre si mesma viu-se cara a cara com ele. Observou-a demoradamente e quando seus olhos se contraí ram, sentiu o coraç ã o palpitar de apreensã o. Ele tinha um jeito diabó lico de saber tudo o que se passava e ela realmente preferia que ele nã o soubesse que havia se encontrado e falado com Gil Howard. Iria pensar que ela estivera flertando. Embora o tivesse feito, queria apenas um amigo, pois se sentia como uma exilada nessa terra estranha!

— Parece que andou fazendo compras numa feira de quinta categoria! Meu Deus, o que é isto? — perguntou, apontando o chapé u.

— Disse-me para comprar um chapé u e eu comprei. Nã o gosta dele, senhor? — Sentia-se menos medrosa.

EIe nunca a censurara por tratá -lo formalmente de senhor. Levantou ligeiramente as sobrancelhas, tocou nas duas laranjas coloridas que enfeitavam o chapé u e disse:

— Este enfeite parece um sí mbolo fá lico! Mas imagino que você nem percebeu, nã o é?

O rubor de Paula aumentou depois de ouvir suas palavras. Seu tom era seco e havia malí cia em seu olhar.

— Claro que nã o!. Eu simplesmente achei que era um chapé u divertido. Nã o vai me deixar usá -lo, nã o é verdade?

— Será que me acha assim tã o tirâ nico, ou sem o menor senso de humor? Se quiser usar esse negó cio absurdo, use... Mas só na praia...

Ajudou-a a subir no carro e dirigiram-se ao café Valentino, um restaurante alegre e colorido, à beira-mar. As mesas era protegidas por guarda-só is. Na frente se estendia uma praia larga de areia muito branca que contrastava com o azul forte do oceano.

Era o tipo de lugar que Paula gostava. Ficou imaginando por que Dom Diablo se propusera a lhe proporcionar um dia tã o agradá vel. Observou-o curiosamente enquanto se sentavam e quando seus olhos se encontraram com os dela, desviou o olhar. Será que apó s cinco semanas juntos esperava que ela já estivesse disposta a lhe dar o que realmente pretendia dela? Vestido com aquele elegante terno cinza-claro que contrastava com sua pele morena, deixava transparecer uma elegante satisfaç ã o. Ele lhe havia dito que admirava o espí rito combativo dos britâ nicos e Paula supunha que ele gostaria de ter um filho que herdasse estas qualidades: produto do cruzamento do sangue de dois povos completamente diferentes. Paula teve que admitir que seria uma combinaç ã o ideal. Mas, e o amor, que papel tinha nisso tudo? Espera-se que um filho seja fruto do amor e nã o dos planos ambiciosos de uma das partes! Uma crianç a devia ser gerada pela uniã o absoluta de duas pessoas apaixonadamente ligadas. Apertando o copo de suco, ela pediu a Deus que a ouvisse, nesta terra tã o profundamente religiosa, e que nunca gerasse um filho de Dom Diablo.

Há muito tempo, ou pelo menos assim lhe parecia, pensara que se um dia se casasse e tivesse um filho, gostaria de lhe dar o nome de Marcus. Mas naquela é poca nã o imaginava este tipo de casamento... Naqueles momentos tranqü ilos, na poltrona de seu quarto em Stonehill, imaginava ingenuamente que quem quer que se casasse com ela a amaria como Marcus a amara.

— E o que mais comprou? — A voz profunda de Dom Diablo interrompeu seus pensamentos. Teve um sobressalto, mas encarou-o sem disfarç ar que estivera sonhando.

— Duas blusas muito simples — respondeu. — Os desenhos sã o bem vistosos.

— Ah, é? Entã o você está querendo ficar bonita para mim? Tomou um gole de pisco.

— Nã o, o que quero dizer é que sã o bem informais, para serem usadas a qualquer hora, simplesmente isto. — Inclinou a cabeç a e começ ou a tomar o suco. Era bem doce e gelado e refrescava-lhe a garganta. — As lojas aqui estã o cheias de coisas bonitas. O povo é muito habilidoso! O artesanato é realmente magní fico!

— É habilidoso sim, e agora você també m pertence à nossa raç a, querida. Você e eu somos uma pessoa só, ou ainda pensa em se libertar de mim? — Apesar de negligente, havia em seu tom uma certa malicia. — Somos uma pessoa só, querida, entendeu bem?

— Entendi, senhor — respondeu ela muito tensa. — Nã o duvido um instante sequer que só pensa em uma coisa, só pensa em meu corpo, que gosta de ver envolto em sedas e coberto de jó iasvaliosas; excita-o ver a mulher que considera sua propriedade, adornada pelo mestre e senhor. Deve haver sangue mouro em suas veias, Dom Diablo. Seria capaz de me matar, se eu o traí sse?

— Eu a aconselharia a nã o provocar a minha ira, com este tipo de comportamento, Paula. Como você mesma disse, uma das maiores alegrias da minha vida foi quando me certifiquei de que você era virgem. Para mim, a virtude ainda é a maior qualidade numa mulher!

Ao ouvir estas palavras, — Paula sentiu-se transportada para os aposentos da fazenda. Em vez do restaurante via seu quarto, ouvia o roç ar de sedas sob seu corpo frá gil enquanto Dom Diablo, com suas mã os esguias, que nã o admitiam qualquer resistê ncia, a subjugava, possuindo-a completamente.

— Foi um dos piores momentos de minha vida — retrucou violentamente, a voz ligeiramente trê mula, os olhos refletindo o ó dio que sentia por tê -la feito lembrar-se daquela cena. — Descobri que havia me casado com um monstro!

— Minha querida, será que todos os dias você se empenha em descobrir novos objetivos para me insultar? Nã o, nã o me responda. Vejo que nã o lhe custa nada encontrá -los, pois parecem brotar naturalmente dos seus lá bios... Bem, pelo menos sã o sinceros, nã o sã o as costumeiras palavras adocicadas de uma mulher que finge estar apaixonada. Com você, minha querida, sei onde estou pisando.

— Sabe mesmo? — perguntou ela, dirigindo-lhe um olhar deliberadamente provocante. — Eu, em seu lugar, nã o estaria tã o certo disso Á guas paradas sã o geralmente mais profundas...

— E os britâ nicos sã o profundos, nã o sã o? Poré m parcialmente submersos como os icebergs. — Ao dizer isso, preparou-se para comer a deliciosa truta que o garç om, silenciosamente, colocara diante dele. Espremeu limã o, serviu-se de pimenta e sorriu.

— Sim, e os icebergs podem ser perigosos, senhor. Já ouviu falar do naufrá gio do Titanic?

— Vejam só! — Está adquirindo o há bito dos latinos, de enrolar um punhal num pedaç o de seda? Tenha cuidado, senã o logo estará impregnada de nossos costumes!

— Deus me livre! — replicou ela. — Eu detestaria tornar-me cruel e egoí sta, sem pensar noutra coisa que nã o fosse a ambiç ã o...

— Como pode saber o que existe realmente no meu coraç ã o? — perguntou, enquanto passava manteiga numa fatia de pã o preto. — Aliá s, se preocupou realmente em saber? Pensa que em lugar do coraç ã o tenho um bloco de cimento, nã o é verdade?

Paula levantou os olhos do prato, olhando-o friamente.

— O que sei é que nã o abriga em seu coraç ã o nenhum sentimento de afeto em relaç ã o a mim. Para você nada mais sou que uma jovem atraente, a quem você trata como trataria uma jovem potranca que nã o quisesse aceitar o cabresto! Pensa que pode exercer o poder sobre todo mundo, mas se pensa que posso amá -lo desse jeito, engana-se muito.

— Estou esperando, querida... Aliá s, eu nã o me lembro de ter-lhe pedido uma só vez que me amasse. Veja, eu gosto desta truta e eu a como inteirinha, fora os espinhos, mas nunca me passaria pela cabeç a compartilhar a minha vida com uma truta!

Paula teve que reconhecer, apesar da hostilidade que sentia, que ele tinha um fino senso de humor com o qual ela nã o podia competir. Teve vontade de rir alto ao ouvir a piada, mas mordeu os lá bios para nã o dar o braç o a torcer. Nã o lhe daria jamais, pensou consigo mesmo, o prazer de vê -la achando graç a.

Dom Diablo levantou a cabeç a. Seus olhos faiscavam. Pegou entã o o copo de vinho e disse:

— É melhor você rir, senã o vai engasgar. Você acha, Paula, que nã o fiquei sabendo muita coisa a seu respeito depois desta semana juntos? Você gosta de uma piada, gosta de ser natural. Sabe o que significa isto?

— Nã o. Diga-me, senhor, já que sabe tanto a respeito das mulheres...

— Quer dizer, querida, que você tem todas as qualidades para se tornar uma mulher, uma verdadeira mulher... Poré m como as mulheres de seu paí s, que fazem questã o de manter isto escondido sob uma capa de altivez e reserva. Mas você tem uma chama interior que quando se acende afasta toda essa discriç ã o, derretendo a capa de gelo que a protege. Esta chama de amor é muito curiosa, especialmente na mulher que aparenta frieza.

— Amor! — Paula sorriu com desdé m. — Se tivesse falado ó dio estaria mais perto da verdade. Alguma vez alguma mulher já lhe disse: eu o odeio, Dom Diablo?

Seguiu-se um silê ncio profundo, contrastando com o barulho de talheres e vozes vindo das outras mesas. E este som chegava até Paula, muito tensa, como se fossem choques sonoros. Amedrontada, começ ou a observar com certa fascinaç ã o, os dedos de Dom Diablo apertando o cá lice de vinho. Estava certa de que acabaria estraç alhando o copo. Mas os copos do restaurante nã o era tã o finos como os cá lices de cristal da fazenda. Ele continuava a apertá -lo com tanta forç a, que os nó s de seus dedos ficaram brancos.

— Quando estamos no meio de outras pessoas você demonstra muita coragem, já percebi... — observou ele com um certo tom de ameaç a. Paula temia outra discussã o inú til, ela reagindo com todas as suas forç as e ele vencendo-a inexoravelmente. Seria inú til mordê -lo, arranhá -lo, insultá -lo com palavrõ es. Já o chamara de demô nio, e agora ia fazê -lo novamente. Inclinou-se para a frente e fulminou-o com o olhar.

Dom Diablo inclinou a cabeç a, enfrentando ironicamente o seu olhar, sabendo o que ela pensava...

— E o que vai querer como sobremesa? Algum doce? — perguntou sarcá stico. Chamou o garç om, enquanto Paula brincava com as pé talas da rosa da lavanda, à sua frente. De repente, percebeu que na mesa do lado trê s mulheres olhavam fixamente seu marido.

Eram mulheres latinas, sem dú vida, elegantemente vestidas, provavelmente esposas de funcioná rios, que viviam naquela cidade. O olhar delas expressava a admiraç ã o por aquele macho atraente. Paula nã o podia ignorar que as mulheres gostavam muito dele, exceto ela mesma. Aquela pele lustrosa contrastando com a seda branca da camisa e o cinza-claro do temo, o olhar quente sob os cí lios espessos, os ombros fortes, tudo prometia um vigor má sculo que fascinava as mulheres.

Gil Howard dissera que os mexicanos tê m o sangue quente, mas Dom Diablo nã o era assim. Seu sangue jamais ferveria, a nã o ser de raiva... Oh, seria uma tal megera que ele se arrependeria do dia que a escolhera! Jamais olharia para ele como aquelas mulheres descaradas o faziam!

O desdé m transformou o rosto de Paula numa má scara de gelo. De repente, uma das mulheres, vestida de roxo, conseguiu chamar a atenç ã o dele. Encarava-o, seus olhos negros e brilhantes eram como dois poç os profundos que o convidavam para o amor. Com uma certa curiosidade, Paula olhou para o marido, tentando adivinhar como ele reagiria à quele convite aberto e descarado de uma mulher que, provavelmente, farta do pró prio marido, procurava uma aventura que a distraí sse...

Dom Diablo també m olhava para ela, poré m seu rosto parecia de bronze, uma daquelas má scaras astecas que faziam Paula estremecer. Parecia um poderoso chefe asteca prestes a levantar o chicote para aç oitar um de seus escravos.

Seus olhos frios trespassaram a mulher vestida de roxo, fazendo com que ela desse uma risadinha nervosa e sem jeito, voltando-se depois para dizer qualquer coisa à s companheiras. Mas Paula notou que a mulher enrubescera. O olhar de Dom Diablo tinha tanto desprezo que certamente se sentira humilhada, como uma prostituta se oferecendo no mercado. Só com um olhar ele lhe dera uma liç ã o e como que para reforç ar seu modo de pensar estendeu a mã o vagarosamente e apertou a mã o de Paula, onde reluzia a alianç a de ouro... É minha, parecia indicar o seu gesto. Esta mulher que nunca olhará para outro homem e que se emociona com o simples toque da minha mã o...

— Nunca faç a o que fez aquela mulher. Se algum dia você o fizer, eu acabo com sua vida.

— Nã o a acha incrivelmente atraente? Tã o latina, os olhos tã o negros, seu corpo tã o curvilí neo e langoroso? Surpreende-me, senhor. Poderia jurar que ela faz exatamente seu gê nero...

Ao ouvir estas palavras ele apertou-lhe os dedos com tal forç a que a machucou, mas Paula nã o quis se dar por vencida. Ele soltou-lhe a mã o só quando o garç om chegou com a sobremesa, uma saborosa salada de frutas com maracujá, uvas e banana cortada em rodelas, acompanhada de um creme rico e espesso, como só uma cozinha mexicana conseguia obter.

A sobremesa estava realmente deliciosa, Paula nã o podia negar embora estivesse sempre pronta a pô r defeitos em tudo que Dom Diablo programava. Percebeu que ele a observava atentamente enquanto ela saboreava a salada de frutas.

— Parece estar com muito apetite, querida! — comentou. – Será o ar do mar ou haverá alguma outra razã o?

Certamente estava insinuando que poderia ser uma gravidez, e sentiu-se tentada a responder que preferia morrer a ter um filho dele, mas se conteve a tempo. Olhou para ele inexpressivamente como se nã o tivesse entendido sua insinuaç ã o, como se nã o soubesse que ele desejava ansiosamente um filho e um herdeiro.

— Gosto muito de doces, especialmente de creme — respondeu. — Este meu cabelo loiro nã o é um halo de santidade. Sou humana, tenho minhas gulas e ví cios como també m os tem, senhor.

— Encantador, querida! — exclamou ele. — Você tem uma lí ngua bem afiada!

— Estar naquela fazenda a seu lado é como se estivesse no inferno.

— Nã o há nada ali que a agrade? — perguntou secamente, como se já soubesse da animosidade que ela sentia pela casa. — Nem a beleza dos jardins, dos caminhos floridos, das fontes antigas? Nã o aprecia o encanto de seus pá tios, de seus quartos? Eu diria que há muito mais coisas bonitas e agradá veis na fazenda do que eu pude ver em Stonehill. Pareceu-me muito cinza e muito triste...

— Stonehill era a minha casa, o meu lar — respondeu Paula, lanç ando-lhe um olhar de ressentimento. — Eu simplesmente gostava de lá, o que nã o acontece em relaç ã o à fazenda, que para mim nã o passa de uma prisã o.

— E eu sou o seu algoz, nã o é? — completou, fazendo um gesto para o garç om que passava. Pediu-lhe café e uma determinada marca de charutos. Quase que imediatamente o rapaz trouxe-lhe uma caixa. Ele escolheu um, girou-o entre os dedos, como que testando sua textura. O garç om, muito solí cito, adiantou-lhe um isqueiro aceso. Apó s alguns instantes, trouxe, junto com o café, um prato de bombons colocando-o sobre a mesa. Os sabores eram exó ticos. Alguns de nugá, outros de chocolates puros, outros de frutas tropicais cristalizadas. O garç om sorriu ao olhar para Paula, em cujo rosto se alternavam a luz e a sombra projetada pelo guarda-sol. Parecia muito jovem com o vestido decotado e sem mangas, sua pele alva contrastando com a figura morena e poderosa de Dom Diablo.

— Doces para um doce — disse ele, colocando o prato de bombons diante de Paula, assim que o garç om se retirou. — Vamos, você disse que era gulosa e gostava de doces, sirva-se...

— Está querendo que eu engorde? — perguntou com ar displicente, evitando olhar para ele enquanto se servia. — Em geral os mexicanos gostam de mulheres gordas e eu nã o me enquadro nesse padrã o... Na verdade, senhor, eu me pergunto sempre por que escolheu para esposa uma mulher que evidentemente nã o o ama e nã o lhe tem respeito...

— Respeito? — estranhou ele, sacudindo a cinza do charuto com um gesto impaciente.

— Certamente nã o pretendo aquele afeto infantil de uma colegial como o que tinha por seu tutor, mas exijo que respeite sua posiç ã o como minha mulher. O que se passa entre nó s dois, enfim nossa vida privada, nã o diz respeito a ningué m, mas exijo que, quando estiver em pú blico, se comporte como uma verdadeira senhora, recolhendo suas garras afiadas e moderando sua lí ngua ferina. À s vezes me pergunto se Marcus Stonehill teria sido a pessoa mais indicada para tomar conta de uma garota tã o sensí vel como você. A casa de Marcus era freqü entada só por homens. Disseram-me que à s vezes parecia um verdadeiro cassino. Foi uma sorte ele nã o ter transformado você num pseudo-garoto...

— Antes o tivesse feito — respondeu mexendo o café com tanta violê ncia que derramou metade no pires. — Antes tivesse me ensinado a ganhar a vida jogando cartas, pelo menos eu nã o dependeria completamente de você! Sim, Marcus gostava de jogar, mas me mantinha completamente afastada disso.

— Como você é inocente em acreditar numa coisa destas — observou ele. — Eu acho, querida, que ele a usava como isca para atrair os jogadores e os ricaç os. Se me atirar este bombom em pú blico, prepare-se para uma desforra quando estivermos a só s!

— Você é realmente um demô nio! — Paula empalideceu, olhando para ele com uma, expressã o assustada e magoada. — Se pensa que pode sujar a memó ria de Marcus, está muito enganado. Eu conhecia seus defeitos e suas virtudes e o amava apesar de tudo. Mas você, eu odeio, nã o consigo ver nenhuma qualidade em você, a nã o ser que considere qualidade tratar melhor os peõ es que a pró pria esposa!

— Nã o levante a voz — interrompeu ele. Seus olhos brilhavam, refletindo uma ira incontida. Paula já se sentira em pâ nico antes com esse seu olhar. Da primeira vez, fugira como um animal assustado, procurando um lugar para se esconder. Naquela ocasiã o, refugiara-se na cozinha, mas ali no restaurante, nã o havia para onde fugir... Sacudiu nervosamente a cabeç a e encarou-o.

— Se queria uma mulher medrosa e covarde, bateu na porta errada! Nã o sou uma má quina, sei muito bem o que eu quero! — desabafou. O veneno tinha que ser posto para fora, pois estava dentro dela desde a manhã, quando Carmenteira lhe contara sobre a espanhola. Meu Deus, tinha só vinte anos! Se tudo que pretendia dela era que gerasse um filho, o herdeiro, entã o só lhe restava morrer...

— Essa conversa já foi longe demais. — A expressã o de Dom Diablo era terrí vel quando chamou o garç om e pediu a conta. Deixou uma gorjeta generosa, e segurando Paula pelo braç o, levou-a para fora do restaurante. O sol brilhava forte. A paisagem era estonteante e Paula via tudo enevoado, seus olhos estavam baç os d'á gua. Começ ou a caminhar em silê ncio, dirigindo-se com ele para o carro, pois imaginou que voltariam para a fazenda. Qual nã o foi sua surpresa ao vê -lo pegar o calç ã o de banho, seu maiô e as toalhas, e o chapé u que ela comprara aquela manhã e que ele achara tã o engraç ado.

— Vai estar muito quente na praia — disse Dom Diablo.

— Ainda quer ir? — perguntou ela desconfiada. — Nã o me importo se formos para casa...

— Nã o seja crianç a e pegue este chapé u ridí culo. Por Deus, se pensa que vou renunciar a um mergulho no mar, só porque discutimos você se engana muito — ironizou ele. — Fique no carro se nã o quiser ir comigo para a praia. Seria bem capaz de fazer uma tolice destas! — Ao dizer isso, afastou-se do carro, caminhando em direç ã o aos degraus de pedra que desciam até a areia. Paula olhou para ele, indecisa. A brisa do mar bateu entã o em cheio em seu rosto. Estremeceu ao sentir o cheiro das algas. Bolas, pensou, ele que fosse para o inferno! Iria nadar até ficar atordoada e esquecer sua desgraç a. Ele que se danasse. com a sua arrogâ ncia! Nã o renunciaria ao prazer que lhe daria o banho de mar só por sua causa!

Chegando à areia, Paula viu que ele alugara uma dessas cabanas com teto de sapé onde a areia nã o chegava. Ficou do lado de fora esperando que ele saí sse. Vestia um maiô preto. Seus quadris eram fortes mas estreitos, o torso, o pescoç o e as pernas longas e musculosas. Ele passou por ela e caminhou para o mar onde vagalhõ es se sucediam, formando uma espuma branca e tentadora. Entrou na á gua até a altura da cintura, os braç os reluzentes ao sol, como se fossem de cobre.

O barulho das ondas que arrebentavam fez com que Paula se trocasse rapidamente. Pô s o maiô bem justo, e prendeu o cabelo com uma fita que encontrou na bolsa. Saiu da cabana e começ ou a correr sobre a areia morna e muito fina. Respirou fundo. Sentia um prazer que há muito tempo nã o sentia; uma sensaç ã o que a fazia voltar à infâ ncia. Ao mergulhar na á gua sentia uma carí cia vibrante, envolvendo seu corpo jovem. Nadar no mar novamente lhe causava uma sensaç ã o quase de volú pia. Sempre gostara de nataç ã o, e Marcus foi seu professor. Deixou que as ondas levassem para longe suas preocupaç õ es e suas má goas. Tentou se desligar de tudo que a fazia sofrer, e usufruir plenamente o prazer daquele instante. Nem se voltou para procurar o marido que deveria estar nadando ali por perto. Queria fazer de conta que estava completamente só. Agora ela era só Paula e nã o a mulher dominada e sob as ordens de um homem que odiava. Marcus certamente nã o reconheceria mais a menina dó cil, bem-humorada e obediente que ele criara. Essa nã o existia mais. Seria para ele como uma estranha, com seu olhar selvagem, suas crises de raiva, suas explosõ es de ó dio! Tinha a certeza de que Marcus ficaria chocadí ssimo se a visse agora. Ele nunca imaginaria que Dom Diablo nã o fosse um bom marido, mesmo sendo rude e dominador.

Paula nadava com facilidade. A temperatura da á gua estava agradá vel. Resolveu entã o nadar de costas, os olhos fitos na azul intenso do cé u. Tudo estava tã o calmo, tã o tranqü ilo, podia até imaginar que Dom Diablo tivesse mergulhado e desaparecido... De repente, sentiu-se tentada a olhar à sua volta, mas nã o viu ningué m; nã o havia ningué m por perto. Sobreveio-lhe, em seguida, um espasmo no estô mago...

Será que suas sú plicas aos deuses pagã os haviam sido atendidas? Teria ele desaparecido silenciosamente e para sempre de sua vida?... De repente, deu um grito; uma forma esguia saiu abruptamente do fundo da á gua e um braç o forte e bronzeado cingiu-lhe a cintura:

— Veja, temos o mar só para nó s dois — Dom Diablo deu uma risada. Parecia encantado.

— Toda essa gente preguiç osa está fazendo a sesta... Você nada bem, querida. Se pelo menos ficasse mais descontraí da, em meus braç os...

Paula percebeu que ele estava todo satisfeito por lhe ter pregado um susto. Começ ou entã o a se debater em seus braç os como uma enguia. Estava com os nervos à flor da pele, pois ficara assustada com a sua apariç ã o sú bita.

— Pensei que tivesse se afogado — disse ela. — Doce ilusã o a minha...

— Que pensamentos pecaminosos para uma jovem esposa! — caç oou ele. — Minha cara, nã o se livrará de mim tã o. facilmente. Nado como um peixe e sou resistente como o aç o! Talvez seja meu sangue í ndio...

— Acho que seria melhor compará -lo a um tubarã o! Silencioso e á gil, como esse monstro do oceano!

— Pensou entã o que estava sendo atacada por um tubarã o? Eles ficam perto dos rochedos onde se pesca, mas raramente chegam até a baí a, pois aqui é lindo e profundo. Nã o há cavernas nem refú gios para eles. Há uma lei local, sugerida por mim e atualmente em vigor, que exige que esta baí a seja conservada absolutamente limpa em benefí cio dos que freqü entam a praia. Há alguns anos houve nesta á rea, uma terrí vel epidemia de poliomielite, causada pelas pé ssimas condiç õ es de higiene existentes na ocasiã o. Poré m agora o mar aqui é limpo e seguro, apesar das ondas fortes.

Paula teve que concordar com ele. Ficou um pouco surpresa ao saber que ele se preocupava com esse tipo de coisas, como por exemplo, transformar a pequena baí a num lugar encantador, onde os habitantes da regiã o pudessem usufruir com seguranç a os momentos de lazer, em á guas livres de poluiç ã o.

— Foi muita generosidade a sua preocupar-se com o bem-estar dos outros, moradores. Poliomielite é uma doenç a tã o terrí vel!

— É mesmo — respondeu simplesmente, olhando para a praia, uma faixa branca e luminosa a uns seiscentos metros do local em que estavam. Paula continuava flutuando em seus braç os, agora sem reagir...

— Seria um tremendo golpe para você, se eu realmente conhecesse o seu outro lado, o lado fraco?

— Quem sabe? — respondeu Dom Diablo. — Vamos experimentar? — Ele a soltou e Paula começ ou a nadar imediatamente em direç ã o à praia, como jamais o fizera antes, esforç ando-se para chegar antes dele. Se ao menos ela conseguisse! Se por algum milagre pudesse provar que nã o era aquela criaturinha frá gil que ele pensava que fosse e a quem podia dominar como uma fê mea indefesa...

Olhou para o lado e viu que ele nadava sem o menor esforç o. Os movimentos de seus braç os eram vigorosos e regulares; seus dentes brilhavam muito alvos e percebia-se que ele a acompanhava com a maior facilidade, e só nã o a ultrapassava porque nã o queria. Num acesso de raiva, Paula atirou-lhe á gua nos olhos, mergulhando depois deste ato de coragem e engolindo muita á gua! Engasgou, quase se afogou, até que os braç os fortes dele a agarraram, arrastando-a a nado até a praia. Lá chegando colocou-a na areia e ali ela ficou inerte. Seguiu-se uma ladainha de palavras em espanhol e Paula podia adivinhar significado de suas imprecaç õ es... Ela tossia, ainda engasgada, a areia grudada em seu corpo molhado.

— Sua tola! Um dia acabará mal com todas as suas loucuras e criancices! Quando é que vai crescer?

O que a deixou mais mortificada foi a certeza de que ele estava totalmente com a razã o.

— É sempre infalí vel, nã o é, senhor? Será que nunca fez nenhuma tolice em sua vida? Pois saiba que a maior delas foi me obrigar a casar com você, obrigando-me avir para um paí s estranho, submetendo-me à s suas exigê ncias. Eu odeio essa sua pretensã o, essa sua arrogâ ncia!

— Este assunto já está se tornando monó tono — retrucou ele, em pé, na sua frente, como uma está tua de bronze. A á gua escorria de seu corpo e pingava sobre o dela. — Você usa a palavra ó dio com tanta freqü ê ncia, minha querida, que já está começ ando a perder o efeito!

— Quer dizer que já surtiu algum efeito? — perguntou com ironia, ajeitando o cabelo que se soltara da fita e lhe caí a solto pelas costas. O maiô estava muito colado ao corpo e Paula ficara ansiosa para tirá -lo, pois estava cheio de areia.

— Nunca permiti que algué m me dissesse um dé cimo das insolê ncias que você já me disse. Chegou a hora de parar com isso e mudar de atitude — disse ele lenta e pausadamente.

— O que pensa fazer? Domar-me com um chicote? — perguntou.

— Nã o preciso usar o chicote com você — inclinou-se subitamente e ajoelhando-se ao lado dela, afastou-lhe o cabelo dos olhos e, á gil como um felino, prendeu-a entre suas pernas fortes de tal modo que ela nã o poderia escapar.

— Nã o faç a isso — suplicou ela, vendo que nã o podia fugir.

— Nã o? E quem é que vai. me impedir? Estã o todos fazendo a sesta. Temos a praia inteira só para nó s dois. Você pode gritar, lutar, morder, ficará exausta mas terá que se render. Vamos querida, vamos começ ar o nosso treino antes da luta final.

— Vá para o inferno — disse ela, vendo que nã o podia fugir. Continuava ali estendida, ele reclinado sobre ela. Seu corpo emanava um calor que a queimava. Paula fechou os olhos e cerrou os dente, sentiu entã o os lá bios dele roç ando seu pescoç o.

— Puxa, está cheia de areia! — reclamou, e levantou-se. De pé, ajudou-a a fazê -lo. Seus olhos se estreitaram com um brilho malicioso. Deu-lhe um tapinha nos quadris e disse-lhe fosse se arruma um pouco. — Se bem que eu até diria que nã o há nada mais encantador que uma mulher um pouco desarrumada. Poré m, sem tanta areia e com um gê nio um pouco melhor! Corra, minha gatinha selvagem, antes que eu mude de idé ia e decida cortar suas garras!

— Imbecil! — insultou-o, mas só depois que ele a soltou e pô de se refugiar na cabana. Depois que trancou a porta sentiu-se mais tranqü ila. Tirou o maiô e esfregou-se vigorosamente com a toalha de banho. Quando nadava com Marcus tudo era bem diferente. Apó s o banho costumavam deitar-se preguiç osamente na areia, tranqü ilos, os nervos relaxados... Com Dom Diablo sempre ficava tensa, voltava-se com o menor barulho. Sentiu-se mais aliviada quando fechou o zí per do vestido.

Maldito! Provocava-a e sempre conseguia fazer com que ela se comportasse como uma idiota. Por que nã o conseguia manter uma atitude calma e digna em vez de entrar no seu jogo? Afinal terminavam sempre em discussõ es ridí culas... Escovou o cabelo até que saí sse toda a areia, prendendo-o num coque. Ao sair da cabana, já estava mais calma e mais arrumada. Com a cabeç a erguida, passou por ele, que esperava apoiado no tronco de uma palmeira. Paula desviou o olhar. Nã o queria pensar nos momentos em que estiveram deitados na areia, os corpos muito unidos...

— A cabana está à sua disposiç ã o — disse ela. — Devo esperar no carro? — Ela temia, e Dom Diablo sabia disso, que ele a agarrasse de novo e a estreitasse contra seu corpo. Sentia-se fraca para resistir ao fascí nio daquele homem forte e á gil como um felino.

— Nã o, fique aqui. Logo estou de volta!

Entrou na cabana sem trancá -la como ela o fizera. Paula ficou observando as ondas imensas que morriam suavemente na praia. A luz era crepuscular. De repente seu coraç ã o começ ou a bater descompassadamente. Um homem, segurando uma toalha e um maiô, caminhava em sua direç ã o. Ao ver aquele cabelo loiro e o jeito de andar, Paula reconheceu-o imediatamente. Nã o! Queria gritar. Nã o venha! Nã o fale comigo! Nã o me reconheç a!

— Senhora! Que prazer! — Suas palavras ecoaram no silê ncio da praia, quebrado somente pelo murmú rio das ondas que iam e vinham... Nã o poderia ignorá -lo, apesar da cabana estar pró xima e dos ouvidos aguç ados de seu marido! Nã o poderia deixar de responder a Gil Howard, nã o poderia simplesmente ignorá -lo...

— Alô, sr. Howard. Vai dar um mergulho antes que a maré suba?

— Isso mesmo. Esta é a minha praia favorita para nadar. Depois de terminar o trabalho e com a perspectiva de uma noite de lazer... — Cobriu com passos largos os ú ltimos metros que o separavam de Paula. Bem pró ximo agora, olhou-a com admiraç ã o.

— Vejo que já entrou na á gua. Parece uma sereia assim molhada...

— Por favor — pediu-lhe baixinho, os olhos sú plices voltados para a cabana onde Dom Diablo se trocava. — Nã o diga essas coisas, meu marido nã o gostaria!

— Ora que bobagem! — Gil Howard fez uma careta. – Entã o estava nadando com seu marido mexicano? Está tã o trê mula! Parece até que esta querendo me ver pelas costas... Será que seu mando é tã o monstruoso a ponto de nã o permitir que converse com outros homens? Se é assim, sua vida deve ser um inferno...

— Será um inferno se você nã o for já embora — deu um sorriso forç ado, visto que ele se mostrava tã o amistoso.

— Seu desejo é uma ordem para mim, jovem e loira senhora. Será que existe alguma chance de que possamos nos ver novamente a só s?

— Nenhuma — respondeu ela apressadamente. — Por favor, vá embora antes que ele o veja...

Mas já era tarde... Naquele mesmo instante afigura de Dom Diablo, imponente e viril, apareceu na porta da cabana. Desceu os degraus, o olhar duro e penetrante. Era o protó tipo do marido latinoque nã o admitia que a mulher mantivesse com outro homem nem uma simples relaç ã o amigá vel.

Gil Howard lanç ou-lhe um olhar compreensivo, continuando a passear naturalmente. Para todos os efeitos era um banhista que passava por acaso e puxara conversa com uma moç a que se encontrava sozinha na praia. Paula deu um suspiro de alí vio. Nã o queria apresentá -lo a Dom Diablo... Queria, agora o percebia, o coraç ã o batendo mais rá pido, que Gil Howard fosse um segredo só seu. Algué m em quem ela pudesse confiar e que a ajudasse a sair do paí s quando chegasse o momento.

— Aquele sujeito a estava importunando? — perguntou carrancudo.

— Absolutamente — respondeu ela, com um sorriso forç ado. — Sabe como sã o os rapazes, estava só querendo fazer novas amizades.

— Quer dizer que a convidou para sair com ele? Por que nã o me chamou? Ou quem sabe gostou do encontro? Percebi que ele nã o é mexicano...

— Nã o, talvez seja inglê s ou americano... De qualquer forma, senhor, vamos esquecê -lo. Ele nã o estragou minha reputaç ã o como sua esposa! Nã o houve tempo para isso!

— Cuidado, Paula! — segurou-a pelos ombros com dedos que pareciam de ferro. — Eu jamais toleraria em você um comportamento que fosse uma espé cie de vinganç a. Nã o permitirei que desç a ao ní vel de certas mulheres que usam outros homens para se vingarem dos maridos. Preferiria que você usasse um punhal.

— Nã o me provoque, meu caro esposo! — Desviou o olhar, pois nã o conseguia encará -lo. Olhou para o horizonte. O crepú sculo chegara tingindo o cé u de vermelho. O mar ficara mais escuro e agora ao barulho das ondas se somavam os gritos dos pá ssaros marinhos. Alguns barcos de pesca, decorados com motivos religiosos, vinham voltando para a praia. A brisa marinha soprava mais forte, desmanchando os cabelos de Paula. O sol batia em sua fronte descoberta fazendo com que seus olhos ficassem ainda mais dourados. Ao seu lado Dom Diablo começ ou subitamente a dizer algumas palavras em espanhol e como ele falava devagar, Paula pô de compreender:

Quando o fogo vai embora, as cinzas retê m o calor

Quando o amor termina, o coraç ã o sofre com a dor

 

Quando o sol desapareceu e sobreveio a noite, Paula se lembrou da fotografia que vira aquela manhã... Era neste amor que ele estava pensando? Haveria ainda dor em seu coraç ã o para que o crepú sculo o fizesse pensar nestes versos?

Entã o, se afastaram do mar, voltando pela areia até a escada que levava à calç ada. Paula estava certa de que Gil Howard a estaria observando de algum lugar na praia. Esse pensamento fez com que se descuidasse, tropeç ando na escada. Teve que se apoiar em Dom Diablo para nã o cair. Imediatamente ele a segurou pela cintura.

— Cuidado, querida! Nã o gostaria que você se machucasse!

Nã o, pensou ela ressentida, tenho que me manter intacta para gerar um herdeiro perfeito!

— Estou bem. — Escapou de seus braç os, correu para o carro e sentou-se sozinha no banco de trá s. Experimentava uma sensaç ã o de angú stia que parecia aumentar com o cair da noite.

Quando passaram pelos majestosos portõ es da fazenda, os lampiõ es estavam acesos. Logo que o carro parou, Paula desceu, dirigindo-se para casa como que fugindo dele. Queria ficar sozinha com seus pensamentos amargos e desesperanç osos, mas na verdade ficara muito magoada ao saber que ningué m jamais a amara por ela mesma...

Marcus a amara porque ela se parecia com Daisy; Dom Diablo a amava apenas por sua beleza, por seus dotes fí sicos... Eram estes os requisitos que queria para a mã e de seu filho. Ela nã o podia pô r em risco sua beleza! Ao subir as escadas, lembrou-se de Gil Howard. Desejava desesperadamente encontrá -lo sozinha, quando Dom Diablo nã o estivesse rondando por perto. Ele jamais compreenderia uma simples amizade; pensaria logo numa ligaç ã o clandestina...

 



  

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