Хелпикс

Главная

Контакты

Случайная статья





CAPÍTULO VII



 

O apartamento de Gil era no andar té rreo de uma casa em estilo espanhol, com um pá tio interno para onde convergiam todos os cô modos. Salas altas, venezianas coloridas, um violã o com fitas vermelhas e muitos vasos com plantas. Convidou Paula para se sentar no sofá, despretensiosamente coberto com um xale de franjas. Em frente ao sofá, havia uma mesa baixa com cigarros americanos e um isqueiro de prata em forma de coruja. No chã o, um tapete tipicamente mexicano, de cores vivas.

— Que sala bonita! — exclamou Paula, olhando ao seu redor. Sorria tranqü ila. Seu nervosismo desaparecera talvez pelo fato da casa ser tã o pertinho e por ter a certeza de que Juan Feliz nã o a vira. Recostou-se no sofá. Agora podia descansar. Percebeu entã o que Gil a observava atentamente. O vestido bem justo delineava seu corpo tomando-o ainda mais atraente.

— Deve estar nervosa — disse ele baixinho. — Se eu tivesse uma mulher como você, eu me zangaria muito se fosse tomar chá com outro homem!

— Agora nã o estrague as coisas com seus elogios.

— Quer o chá com leite ou limã o?

— Com limã o. Quer que eu o ajude?

— Nã o, limite-se a enfeitar a minha casa, alé m disso só eu sei onde estã o guardadas as coisas. O apartamento é um pouco pequeno, mas a sua localizaç ã o é boa e a locatá ria nã o se intromete com as minhas visitas. — Quando Gil se dirigiu à cozinha, Paula sorriu. Ao mencionar visitas ele se referia certamente a garotas. Era charmoso e bonito, portanto devia gostar da companhia de mulheres. Ao ouvi-lo cantarolando e se mexendo de um lado para outro, Paula se admirava dele ser divorciado. Achava que qualquer mulher deveria se sentir feliz a seu lado, sem precisar pensar em outro homem.

— Costuma receber muitas visitas? — perguntou Paula, olhando para o violã o de fitas vermelhas. Lembrou-se entã o da mú sica nostá lgica tocada pelas jovens mexicanas, na fazenda.

— À s vezes, para almoç ar ou jantar — respondeu, entrando na sala com a bandeja completa para o chá, os pã ezinhos de minuto e a gelé ia de amoras. Colocou a bandeja na mesinha ao lado do sofá e trouxe o resto depois.

— Quer servir o chá? — perguntou Gil, sentando-se num dos almofadõ es.

Paula sentiu-se nervosa. Tentou disfarç ar e só entã o serviu o chá.

— Isto é tã o bom! Parece que estou de volta à Inglaterra! Sua sala é tã o acolhedora!

— As salas da fazenda devem ser muito maiores e luxuosas, cheias de objetos raros...

— Saiba que eu nã o me casei com Dom Diablo por causa de dinheiro. A fazenda é muito bonita, mas para mim nã o passa de uma prisã o.

— Conte-me entã o, por que se casou, Paula. Se nã o o amava deve ter tido um motivo muito forte para que o fizesse!

— Ele apareceu em minha vida no momento em que eu havia perdido um ente muito querido. Eu nã o tinha mais para onde ir e deixei-me convencer que o casamento seria a ú nica saí da, pois nã o me sentia preparada para enfrentar a vida sozinha. Quando eu soube que o ú ltimo desejo de Marcus era que eu me casasse com Dom Diablo, entã o concordei, como uma sonâ mbula que nã o quisesse acordar para a realidade!

— Mas ele como marido fez com que você voltasse logo para a realidade, nã o é verdade?

— Inclinou-se para a frente com uma expressã o muito sé ria. — Ele a quis assim como se quer uma pedra rara, só que nã o a colocou onde devia... Foi um casamento no real sentido da palavra, ele tomou posse da esposa...

— Foi realmente o que aconteceu. — Sorriu um pouco sem jeito. — Nó s nos casamos numa igreja cató lica e tenho a certeza de que ele jamais permitiria que eu fosse embora...

— Entã o quer dizer que você está pensando em fugir? — perguntou Gil seriamente. — Tem que procurar refú gio nos Estados Unidos. Nã o pode continuar a levar esta vida infernal com um homem que nã o a ama, tendo que se entregar a ele, segundo os seus caprichos! Isso chega a ser quase amoral!

Paula nã o tinha pensado ainda na situaç ã o em termos tã o drá sticos e ficou surpreendida com a veemê ncia de Gil Howard. Achou-o puritano demais ao se mostrar chocado com a idé ia de uma jovem como ela viver com um homem contra a sua pró pria vontade. Mas nã o queria que ele se envolvesse pessoalmente no problema e bastava que a ajudasse a sair do Mé xico, quando chegasse a hora...

— É o fim do mondo um sujeito viver como ele vive, num esplendor feudal! Ele a deixou porque sabia que seus subordinados nã o arriscariam o pescoç o ajudando-a a fugir. Mas ele nã o contava comigo. O sujeito me olhou o outro dia na praia como se fosse um verme!

Nã o quero aborrecê -la nem assustá -la doç ura, só quero ajudá -la a livrar-se de Dom Diablo. Você nã o pode continuar a viver assim. Aposto que nunca havia tido um namorado antes, pois Marcus deve ter sido bem severo! Talvez mais severo que um pai de verdade!

— Marcus nã o era velho, nem tinha idé ias antiquadas! A companhia dele me bastava. Nã o sentia necessidade de flertar com rapazinhos idiotas da minha idade. Mas o que Marcus planejava para mim era o que ele chamava de um bom casamento!

— Um super casamento! — ironizou Gil. — O dinheiro é muito cô modo, mas nã o quando com uma mã o se segura a bolsa e com a outra o chicote! Você já pensou em fugir, nã o é verdade?

— Sim, mas há alguns problemas! — confessou Paula.

— Nã o serã o insolú veis se você realmente quiser resolvê -los. Você nã o sente nenhum amor por Dom Diablo e nem poderia, pois ele pertence a outra raç a e religiã o, alé m de ser muito mais velho! Ele considera você aquilo que se chama capricho de um homem rico! Pudera, você é tã o bonita! — Gil inclinou-se para a frente, segurando-lhe as mã os. — Estes ané is tê m um valor enorme, você sabe? Tem idé ia por quanto poderia vendê -los?

— Eu nã o poderia vender os ané is! — respondeu nervosamente. Sã o jó ias da famí lia Ezreldo Ruy. Tenho outra jó ia, um broche que ele me deu. Nã o é antiga, mas creio que vale bastante. Pensei em vendê -la.

— Seria aquela libé lula que usava no primeiro dia em que nos encontramos? — Gil encarou-a. — Foi por isso que veio à joalheria? Para saber se nó s a comprarí amos?

— Queria que a avaliassem no caso de eu precisar de dinheiro. — Paula tremia mas suas mã os continuavam presas nas de Gil. – Pensei em abandonar Dom Diablo, mas ele está com todos os meus documentos, inclusive o passaporte. Nã o posso ir muito longe sem isto e dentro das fronteiras do Mé xico, ele logo me encontraria e depois seria pior.

— Pior? — Apertou-lhe com forç a-a mã o. — Espero que ele nunca tenha lhe batido!...

— Nã o, ele é muito sutil. Nã o precisa usar da forç a para dominar!

— Quer dizer que a domina só com o olhar?

— Mais ou menos isso — Paula procurou evitar o olhar de Gil. As tapeç arias coloridas chamaram-lhe a atenç ã o. Alé m disso a decoraç ã o descontraí da fazia com que sentisse inveja da liberdade de Gil e de seu modo de vida descompromissado.

— Você sabe onde ele guardou seus documentos? Certamente poderá pegá -los se quiser.

— Estã o trancados numa escrivaninha em seu escritó rio.

— Quer dizer que ele nã o tem nenhuma ilusã o sobre os seus sentimentos já que desconfia de você... Sabe que o detesta mas nã o a deixa ir embora. Bem, isso é bem tí pico dos homens de sua raç a. Acham que as mulheres nã o tê m nenhum direito e só as tê m para... bem prefiro nã o dizer o que penso... Nã o quero que fique encabulada, mas entendeu bem o que eu quero dizer?

Ela sabia mas nã o queria discutir o assunto com Gil Howard. Era muito doloroso, muito pessoal! Desvencilhou-se de suas mã os e foi até a porta que dava pata o pá tio interno. No jardim havia uma profusã o de cravos plantados ao redor de uma velha fonte. Paula pensou novamente como devia ser agradá vel a vida nesta casa alegre e despretensiosa.

— Este lugar me agrada muito! — exclamou. — E você, Gil, gosta de viver no Mé xico?

— Bem, há certas vantagens. Vive-se melhor aqui e com menos dinheiro do que nos Estados Unidos. A comida é ó tima, a roupa nã o é cara, alé m do que há mar e solo ano inteiro!

— E belas mulheres! — Paula sorriu. — Algumas incrivelmente charmosas, os cabelos negros lisos, os olhos tã o escuros...

— É verdade, mas já reparou como ficam quando passam dos trinta? — Uma mulher como você, doç ura, continua bonita até depois dos sessenta!

— Por favor Gil, nã o fique sentimental — pediu-lhe. Estremecera poré m quando ele a tocara. Ele tinha todo o direito de pensar que ela gostasse das atenç õ es de um homem menos autoritá rio do que seu marido! Tinha, pois, que mantê -lo a distâ ncia. — Tem alguma... algumas... namoradas aqui no Mé xico?

— À s vezes uma garota ou outra — admitiu. — Desde que me separei de Louise evito envolver-me seriamente com algué m, pois eu amava realmente minha mulher. Ela era cantora num clube noturno em Santa Mô nica e nã o quis deixar sua profissã o para me acompanhar em minhas viagens. É quase uma ironia, agora que minha vida está mais organizada, eu nã o ter uma esposa que a compartilha comigo.

— Pobre Gil! — exclamou Paula e ao tentar pegar um cacho de uvas deixou-o cair no chã o.

— Pobre Paula! — As mã os de Gil envolveram seus ombros frá geis. — Será que chegará algum dia, para consolá -la, algum homem diferente de seu marido prepotente?

— Eu... eu nã o sei... — Paula sorriu, libertando-se suavemente de seu abraç o e dirigindo-se ao pá tio. O ar estava morno.

— Será que vamos ter uma tempestade? — perguntou um pouco alarmada. — Tenho que ir embora. Nã o gostaria de voltar para casa com chuva forte, pois parte da estrada é quase deserta. Seria uma experiê ncia desagradá vel.

Gil observou o cé u, as sobrancelhas franzidas, um ar carrancudo.

— Bolas! Como o ar ficou carregado! Lembro-me de ter ouvido um sujeito dizer lá no mercado que a terra estava rachando. É uma forma deles dizerem que a terra necessita de muita chuva. Aqui no Mé xico, quando a seca se prolonga muito tempo, a terra começ a a rachar.

Paula lembrou-se do potrinho e sentiu um arrepio gelado por dentro, pois seu corpo estava quente como se estivesse perto de uma fogueira.

— Gil, creio que é melhor eu ir andando, tenho que estar no carro à s quatro horas. Juan Feliz vai ficar mais nervoso se tiver que dirigir com chuva.

— Quer dizer que Dom Diablo faria o diabo com ele se acontecesse alguma coisa com você? — Gil segurou-lhe os ombros novamente, fazendo com que olhasse para ele. Parecia angustiado. – Tem certeza de que Dom Diablo nã o a ama loucamente? Afinal, você é suficientemente atraente para amolecer qualquer coraç ã o, por mais duro que seja...

— Nã o, ele nã o me ama assim como você pensa. — Paula falava com uma convicç ã o inabalá vel. Seu marido nunca lhe falara em amor, pois só a via como um objeto de sua propriedade. — Dom Diablo é apenas dono e senhor. É de natureza possessiva e ficaria furioso ao se ver lesado em qualquer das suas propriedades. Vou indo agora. Obrigada pelo chá e por ter tido a paciê ncia de me ouvir. Gil, por favor, deixe-me ir! Preciso ir embora!

— Eu deixo você ir, doç ura, poré m só se me prometer que voltará novamente — puxou-a novamente para perto dele. — Você é macia como um gatinho e precisa ser acariciada. Sou especialista em fazer as gatinhas enlouquecerem de prazer... — Ao dizer isto Gil acariciou seus quadris. — Nã o seria uma boa forma de se vingar, especialmente com algué m que a faz feliz? Algué m assim como eu?

— Sabe o que ele faria se soubesse que o estou traindo com outro homem?

— Mas nã o vejo por que ele teria que saber — um largo sorriso se espalhou pelo rosto de Gil. — Você é um tanto ingê nua, sabe? Veja agora, por exemplo, por acaso algué m sabe que estamos juntos aqui? Quando os mexicanos fazem a sesta nem um terremoto é capaz de acordá -los. Poderí amos combinar neste horá rio...

— Nã o, nã o me importo com Dom Diablo nem com sua bendita honra mas sim com a minha. Você mesmo diz, Gil, que eu nã o sou do tipo que gosta de aventuras. Eu me sentiria descarada e ordiná ria se agisse como uma mulher que Dom Diablo e eu vimos outro dia. Deve estar tã o acostumada a entregar seu corpo que por pouco nã o o fazia ali mesmo, na frente de todo mundo. Nã o, eu preferiria morrer!...

— Muito obrigado, nunca pensei que a minha companhia pudesse ser tã o ruim assim.

— Ora, Gil, você sabe que é atraente, e eu gosto de você. Mas nã o quero um caso, tudo o que eu quero é ser livre. Deu um suspiro e depois, com um soluç o assustado, atirou-se nos braç os de Gil. Nã o era poré m um abraç o de amantes. De repente, um barulho estranho e apavorante começ ou. O chã o tremia e os dois caí ram no piso de madeira.

— É um terremoto — gritou Gil.

Paula ouvia estas palavras alguns segundos antes de bater com a cabeç a, perdendo depois a consciê ncia.

 

Quando voltou a si, estava deitada numa cama macia e sentia algo gelado na testa; eram compressas de gelo para lhe aliviar a dor. Gemeu baixinho, e ao tentar abrir os olhos viu que tudo girava ao seu redor. Nã o conseguia distinguir nada claramente. Pouco a pouco, começ ou a perceber sombras na parede e no teto. Uma das sombras, era a de um homem debruç ado sobre ela e quando ela começ ou a balbuciar, tentando chamá -lo pelo nome, ele se inclinou ainda mais, tirando a bolsa de gelo de sua testa.

— Paula, você está bem? Meu Deus, que susto você me pregou, tanto tempo inconsciente...

— Gil? Onde... onde estou? O que foi que houve?

— Um maldito terremoto — respondeu ele. — Você bateu a cabeç a e desmaiou. Como se sente agora, doç ura? Deve ter sido uma pancada bastante forte, pois você já está desacordada há mais de duas horas. Já estava até pensando em procurar um mé dico. Está doendo muito?

— Bastante — respondeu com voz fraca. — Tentou sentar-se mas o quarto começ ou a girar e Paula se viu obrigada a deitar novamente.

— Minha cabeç a dó i muito, está tudo rodando e já está escuro...

— Doç ura, a luz está acesa — Gil parecia preocupado. – Você está me vendo, nã o está? Nã o está me enxergando?

— Sim! — O olhar dela correu pelo quarto, pelas paredes claras, as sombras se moviam conforme os movimentos de Gil. — Mas já é noite, Gil, eu nã o poderia estar aqui! — Tentou se levantar novamente mas Gil fez com que se deitasse.

— Nã o pode se mexer por enquanto, doç ura. Você ainda está em estado de choque, pode estar com uma contusã o interna... Relaxe agora, o terremoto já passou, escute a chuva como cai sem parar...

Paula, relutante, deitou-se novamente.

— As chuvas chegaram e o calor diminuiu — disse Gil. – Graç as a Deus refrescou bastante senã o podiam acontecer outros tremores de terra, causando novos danos. Depois de algumas horas de chuva os jardins ficarã o floridos, transbordantes de cores! Uma maravilha!

— Ah, sim, é mesmo uma maravilha eu estar aqui com você, sem nenhuma esperanç a de poder sair nas pró ximas horas. Ai, minha cabeç a! Dó i como se tivesse levado um coice de mula!

— Minha querida, é melhor a dor do que continuar inconsciente — disse Gil, passando o braç o pelos seus ombros como que para ampará -la e colocando a bolsa de gelo em sua nuca. — Assim nã o melhora a sua dor?

— Acho que sim — respondeu Paula. Realmente a dor se acalmara, mas gostaria també m que seus nervos pudessem se acalmar com a mesma facilidade. — Sei que nã o tem culpa Gil, mas estou preocupada com Juan Feliz e com os outros empregados da fazenda. O que estarã o pensando neste momento?

— Pensarã o que você foi pega de surpresa pela chuva forte e se abrigou em algum lugar. Nã o se preocupe tanto com isso. Vamos, relaxe! Seu marido nã o poderá dizer que os elementos da natureza conspiraram para que você pudesse passar a noite comigo, nã o é verdade?

— A noite?... olhou para Gil tã o apavorada que ele deu uma risada sonora.

— Aí está você olhando para mim como se eu fosse um libertino. Os dois homens de sua vida fizeram com que você se tornasse hostil aos homens jovens e isso nã o é justo! Aposto que sou melhor que ambos, ou você tem dú vidas a esse respeito? — Sorriu abertamente. Sentia um certo alí vio ao ver que Paula estava melhor, pois chegara a pensar que ela tivesse tido alguma lesã o mais sé ria. A chuva continuava a cair pesadamente. O pá tio estava todo alagado, pois a á gua transbordava pelas calhas. Um perfume de terra molhada invadira a sala.

— Nã o gostaria de vir a ter dú vidas a este respeito, pois parece que vou ter mesmo que aceitar a sua hospitalidade. Com a cabeç a doendo do jeito que está sabe lá quando poderei sair daqui! Nã o sei com que cara vou chegar em casa...

— Diga a verdade — disse Gil. — Você se abrigou da chuva e do terremoto com as pessoas que lhe ofereceram abrigo.

— Nã o posso dizer que passei a noite sozinha com você! E certamente teria que dar o nome e endereç o das pessoas que me abrigaram...

— Até seu marido chegar, seu sentimento de culpa já terá passado mesmo porque ele nã o vai poder agir como inquisidor quando você chegar em casa, uma vez que se encontra tã o longe... Diga que as pessoas que a ajudaram eram muito amá veis, mas como você estava atordoada com a pancada da cabeç a, nã o se lembrou de perguntar os nomes. Tudo o que se lembra é que moravam numa casa com um pá tio interno. Há dezenas de casas assim... Faç a-se de ví tima e use a pancada na cabeç a como desculpa! Quer um pouco de conhaque? Acho que vai fazer bem para você.

— Prefiro uma xí cara de café. Paula parecia evitar os seus olhos.

Gil entã o interveio com certa rispidez:

— Nã o pense que quero embriagá -la antes de seduzi-la. Nã o acho a menor graç a se a garota nã o estiver interessada. Parece estar morrendo de medo que seu marido descubra algo a meu respeito...

O cabelo ondeado de Gil caí a-lhe sobre a testa. Parecia zangado; mas comparada com a de Dom Diablo, a zanga de Gil era ridí cula!

Um sorriso aflorou nos lá bios de Paula. Gil era um pouco vaidoso. Queria que as mulheres gostassem dele, mas nã o gostava de lutar por elas.

— Por que você está rindo?

— Por você ser tã o bonzinho. Se alguma garota tiver que passar a noite com algué m que nã o seja o pró prio marido, vou aconselhar que seja com você! Realmente nã o o considero nenhum libertino, simplesmente gosto mais de café do que de conhaque...

— Tudo bem! — Gil estava com um ar estranho quando se sentou à beira da cama. Paula estava muito pá lida, o cabelo louro desfeito, uma mancha roxa na tê mpora e um arranhã o no pescoç o.

— Você continua maravilhosa, apesar do terremoto... – disse ele. — Por acaso está querendo me dizer que comparado com Dom Diablo, sou uma espé cie de bobo alegre?

Paula sorriu e respondeu:

— Você supera meu marido em gentileza e cortesia. Ele conserva a mesma í ndole de seus antepassados espanhó is, que faz com que este povo, ainda hoje, se divirta numa arena de touros. Deus permita que ele nunca descubra que passei a noite com um americano atraente!

— Ainda bem que você me acha atraente, pelo menos descobriu uma qualidade em mim

— afagou seu rosto. — Pobre garota! Tem que encontrar um meio de fugir antes que Dom Diablo volte da viagem!

— Nã o sei como conseguir meus documentos, só se quebrar a fechadura da escrivaninha. O braç o de Dom Diablo é, poré m, muito longo. Tenho a impressã o que para onde quer que eu vá, ele conseguirá me alcanç ar! Ele nã o me ama, mas uma vez que me escolheu para esposa nã o permitirá que o abandone. Já nã o sou mais dona de mim mesma...

Paula passou a mã o pela testa, pensando o quanto Dom Diablo ficaria també m preocupado se soubesse que ela tinha se acidentado. Teria chamado o mé dico para se certificar de que as perspectivas de uma gravidez futura nã o seriam prejudicadas. Fechou entã o os olhos e se sentiu tomada por uma vertigem... Parecia estar voando do quarto de Gil para a fazenda... Sentia os braç os de Dom Diablo que a apertavam cada vez mais contra seu peito. E eIa, muito quieta, sentia a respiraç ã o e as batidas do coraç ã o dele sobre seu rosto e seu seio.

— Paula, doç ura, você está bem? — perguntou Gil.

— Estou bem sim, só me sinto um pouco cansada.

— Vou fazer um cafezinho...

Mas ela adormeceu antes que Gil chegasse. Quando acordou novamente a luz do dia já invadira o quarto e a chuva cessara. Despontava o dia! Paula tinha que voltar para a fazenda com o vestido todo amarrotado e num carro de aluguel. Iria ter que enfrentar olhares acusadores de todos os empregados e, certamente, Dom Diablo iria saber de tudo assim que chegasse da Amé rica do Sul!

 

 



  

© helpiks.su При использовании или копировании материалов прямая ссылка на сайт обязательна.