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trabalho. 4 страница— Acho que o sr. Corraine nã o aprovaria. — Arthur? — Claro. — Ele tem um belo nome, mas você nunca o pronuncia. — Nã o tenho tanta intimidade assim com o patrã o. — Bobagem. Os Corraine nã o sã o orgulhosos, nã o se consideram mais importantes que as outras pessoas só porque sã o proprietá rios de terras, e O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 67 - Arthur ainda é mais simples do que os outros. — Os olhos da velha senhora se fixaram em Joanna. — Você nã o gosta dele? — Acho que ele é um homem muito capaz e cheio de recursos. — Nã o respondeu à minha pergunta. Joanna. Por acaso Arthur disse alguma coisa que a magoou? — Nã o... bem, ele disse, daquele seu modo seco, que eu nã o devia me aproximar muito de Robert — Nã o me diga! — Tia Carol parecia espantada. — É verdade, ele me disse na cara que eu nã o era a garota certa para Robert. — Ora, ora... eu nunca soube que Arthur intervinha na vida do primo. Desde meninos, cada um sempre seguiu sen pró prio caminho com relaç ã o aos divertimentos e romances. E Arthur sempre preferiu a floresta nativa à praia de Baí a das Á guias... Aquilo parecia tã o tí pico do Chefe que Joanna nã o pô de deixar de rir. — A senhora gosta demais dos dois, nã o é? — Eles sã o os filhos que eu nunca tive. Joanna sentiu-se comovida com o olhar que apareceu no rosto da velha Carolina, e debruç ou-se para beijar sua face enrugada. — Como era o seu vestido na festa dos dezoito anos? — resolveu perguntar, — Era de renda, rosa-pá lido, com fitinhas azuis. O bolo de aniversá rio estava delicioso, com ameixas e vinho. Danç amos a noite toda e eu tive um par para cada mú sica. Ainda me lembro bem... Teve també m um delicioso ponche de frutas... — Nó s poderí amos fazer um ponche para a festa de Sally — sugeriu Joanna. — Poderí amos usar a tigela de prata. Tia Carol deixou de lado as lembranç as da juventude e encarou Joanna por um longo momento. — Acredito que você seja uma exceç ã o nos tempos de hoje, minha querida. Acho que tem um coraç ã o româ ntico. Esqueç a o que eu disse sobre o casamento e siga seu coraç ã o. Vai se apaixonar quando estiver pronta para isso, e eu espero sinceramente, Joanna. que seu amor seja retribuí do pelo homem certo. — Acabamos ficando sé rias demais — disse Joanna. — Vamos nos concentrar na festa, que é melhor. A manhã passou rapidamente. Os rapazes vieram para o almoç o, e já haviam ido embora quando Joanna encontrou ura envelope com seu nome, encostado no bule de chá. A pessoa que o deixara sabia que ela costumava tomar uma xí cara de chá depois da correria do almoç o. O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 68 - A casa estava quieta enquanto ela rasgava o envelope e lia o bilhete, que havia sido escrito na má quina de escrever do escritó rio. O recado era breve: '" Srta. D. Preciso voar até uma fazenda vizinha, a serviç o. Talvez a senhorita goste do passeio, que demorará apenas umas duas horas. Se tiver vontade, encontre-me na pista. Sr. C". Joanna sorriu. Percebia, pelo modo como estava escrito o bilhete, que era de Robert, convidando-a para um passeio. A mã o dele havia sarado, e a perspectiva de um passeio aé reo era ó tima. Usaria sua blusa de seda e a calç a jeans mais nova... Arthur Corraine que pensasse o que quisesse! O ar estava parado e o cé u era azul-anil, Joanna estacionou o jipe na sombra e andou até o monoplano. Usava um chapé u num â ngulo atrevido, sobre um olho, e os cabelos presos na altura do pescoç o. Vestia uma blusa de um rosa forte e calç a azul-escura, e calç ava sandá lias de tiras leves. Podia ver um vulto alto encostado no aviã o, observando sua aproximaç ã o, que disse, quando ela chegou mais perto: — Vejo que caprichou... — O olhar atento do piloto nã o perdia nem um detalhe da aparê ncia de Joanna. — Se demorasse mais cinco minutos eu teria ido embora. Ele saiu debaixo da sombra da asa e Joanna estacou atô nita. — Você? — exclamou. —Pensei que tivesse sido Robert... — Pensou? — Arthur falava macio. — Quer mudar de idé ia e nã o ir comigo para a Colina dos Baobá s? — E ria da cara dela. — Jeff Brennan tem dessas á rvores na fazenda dele, e a esposa dele, Sarah, deu esse nome à casa da fazenda quando eles se mudaram da cidade para cá. Sarah tinha um problema no pulmã o, mas agora já está bem, graç as ao ó timo ar daqui. — Bem... — respondeu Joanna, ainda meio trê mula. — Como é que eu deixaria de conhecer uma casa com um nome desses? — Ó timo, garota! Os Brennan tê m um casal de filhos, e a menina nasceu aqui. Você vai ver como ela é engraç adinha, é minha afilhada. Arthur ajudou Joanna a subir no aviã o e a apertar o cinto. Logo o motor estava funcionando e o monoplano corria pela pista. Joanna nã o sabia o que trepidava mais: se o aviã o ou seu coraç ã o. Aquele homem conseguira enganá -la direitinho com o bilhete, fingindo ser Robert. O estilo do bilhete e a semelhanç a fí sica... ele devia saber que mesmo quando esperava por ela, à sombra da asa, podia muito bem ser confundido com o primo. Joanna só nã o conseguia entender por que ele fizera aquele jogo, e olhou para Arthur desconfiada. Ele estava atento aos controles, o perfil bem-delineado contra o azul do cé u. Subiram bem alto sobre o vale, e ela sentiu uma coisa estranha, como se estivesse em perigo. Arthur era imprevisí vel. O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 69 - CAPITULO VI — Por que você se fez passar por Robert? — perguntou Joanna, num impulso. — Você teria vindo ao passeio se eu a tivesse convidado?. — Mas por que quis me convidar? — Ora, nã o seja tã o modesta assim — caç oou ele. Joanna olhou para o perfil má sculo de Arthur, que deixava entrever um ar de humor. — O fato é que eu preciso tratar de negó cios com Jeff, e achei que Sarah e a garotinha iriam gostar muito de conhecer você. Sabe, ela era secretá ria, e veio de um lugar chamado Leigh-on-Sea, na Inglaterra. Você conhece? — Conheç o — disse ela, encarando-o admirada. — Fica a poucos quiló metros de onde nasci e morei quase toda a minha vida. Diversas vezes eu es-five lá, para nadar ou almoç ar num dos restaurantes à beira da praia. — Com um namorado? — Nã o... depois que a minha irmã foi embora de casa, as coisas por lá perderam a graç a. À s vezes eu pegava um ô nihus até Leigh e ia nadar um pouco. Nã o é um lugar tã o movimentado como Baí a das Á guias, mas é bem agradá vel. — Ó timo, como você conhece a terra de Sarah, vã o ter muito o que conversar. Joanna olhava pensativa a paisagem lá embaixo. — Você já sabia que eu morei perto da cidade dela? — É... sou culpado por consultar um mapa da Inglaterra. — Por que usa a palavra culpado? Será que está esperando que eu fique com tanta saudade de casa depois de conversar com seus amigos, que venha a querer voltar correndo para Hadley? — Agora, escute uma coisa... Joanna virou-se e viu que ele apertava os lá bios. — Toda vez que ficamos sozinhos acabamos discutindo. Eu estava só querendo ser gentil. Desculpe se fui mal interpretado. — Gentil? — Por alguma razã o, de repente ela começ ou a rir. Sentiu calor e acabou tirando o chapé u, deixando o sol bater em cheio em seus cabelos. Encarou Arthur, que podia ser tudo, menos gentil. O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 70 - — Eu acho que você nã o faz nada por impulso — disse ela. — É a pessoa mais determinada que já conheci. . Nunca mira um alvo sem ter certeza de atingi-lo. Prefere arrumar os fatos à sua vontade para nã o ser dominado por eles. — Você faz com que eu pareç a arrogante demais. — E é arrogâ ncia mesmo achar que pode dirigir a vida dos outros. — Quer dizer, a sua e de Robert? Joanna assentiu, mantendo o olhar longe daqueles olhos cinzentos e perigosos. — Estamos voando sobre a á gua — exclamou ela entã o. Houve uma pausa comprida, enquanto o aviã o se inclinava, e o coraç ã o de Joanna ia parar na garganta. Daquela altura, os recifes submersos pareciam cobras entre as ondas verdes, — Estamos sobrevoando uma parte do Mar de Coral, achei que você gostaria de ver — disse Arthur. — Assim, vai compreender melhor como os vizinhos e amigos nesta parte do mundo vivem separados. Um bate-papo no rá dio nã o é substituto para um aperto de mã o, e uru encontro cara a cara é muito importante. Por isso, e nã o por qualquer outra razã o, é que eu queria que você conhecesse os Brennan, mocinha, Sarah quase nunca vê outra mulher, ainda mais uma que tenha morado pró ximo da sua cidade, na Inglaterra. — Deve estar com vontade de me bater — disse Joanna com um sorriso, que o enterneceu. — É que levei um susto quando o vi lá na pista, esperando por mim. — Você esperava Robert... vinha tã o animada... deve ter ficado desapontada. — Por favor, vamos decretar uma tré gua? Os olhos de Arthur capturaram os dela por um instante, e havia algo estranho no sorriso dele. — Sou completamente a favor. Acontece que os Brennan sã o meus melhores amigos. Jeff era o administrador do frigorifico onde eu desembarco minhas reses, e eu nã o quero que Sarah perceba que eu nã o consigo impressionar a minha mais bela funcioná ria! — Nã o... — Joanna corou, — També m nã o é preciso chegar ao outro extremo, sr. Corraine. — Meu nome é Arthur. — Eu... eu nã o poderia... — Nã o? — Ele levantou uma sobrancelha. — Nã o consegue dizer meu nome, e está com medo de que eu me atreva a tentar conquistá -la aqui, dentro do aviã o! També m nã o é preciso chegar ao outro — Mas o senhor é o Chefe. O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 71 - — Ah, sim... — o sol se refletia nos olhos de Arthur, mas, assim mesmo, se via neles uma certa ironia. — Uma certa cerimô nia tem que ser mantida, nã oé? É tã o inglesa, srta. Dowling... Joanna olhou novamente pela janela. Viu que o mar havia ficado para trá s e que a sombra do aviã o corria agora por colinas douradas, cobertas aqui e ali por rebanhos de carneiros. — É a terra de Jeff— disse Arí hur. — Agora voce sabe quem fornece as deliciosas costelas de carneiro que comemos lá na fazenda. — Pensei que ele criasse gado, como você — comentou ela, espiando para baixo. Logo enxergou a pista que se desenrolava bem à frente. Prendeu o fô lego ao ver que o monoplano descia, e logo as rodas tocaram o chã o. Num lado da pista, estava parado um carro conversí vel. Um braç o abanou, depois um chapé u e algué m pequenino pulava de um lado para o outro. — Eles vieram encontrar a gente —- disse Arthur rindo. — E trouxeram Mandy també m. De repente, Joanna sentiu-se retraí da. Aquela gente era muito amiga de Arthur, e talvez achassem estranho ele tê -la trazido para conhecê -los. O afeto que eie sentia por aquela famí lia transpareceu-lhe nos olhos e no sorriso, que englobou Joanna també m, enquanto ele a ajudava a descer do aviã o. Arthur pegou no colo a garotinha, que o beijou e abraç ou forte. — Tio Arthur! Mamã e disse que você vinha ver a gente, e você veio de aviã o, nã o é? — Mandy, calma... nã o seja assim tã o curiosa. — Uma moç a chegou correndo perto deles, o sorriso aberto no rosto meio magro, coberto de sardas. Uma mecha de cabelos vermelhos escapava do chapé u. — É tã o bom vê -lo novamente, Arthur. E també m trouxe Sally... oh, desculpe! — Um par de olhos esverdeados encarou Joanna com surpresa e curiosidade. — Mamã e, olhe só! — A menina havia encontrado o pacote surpresa que procurava. — Diga obrigada ao tio Arthur — disse Sarah, sem tirar os olhos de Joanna, enquanto o marido se aproximava do grupo. — Ah, amigã o velho, como tem passado. Arthur passou a crianç a para o braç o esquerdo, para apertar a mã o de Jeff Brennan. — Você s dois me parecem ó timos. Eu trouxe uma visita... algué m que viveu perto de sua cidade na Inglaterra, Sarah. Esta é Joanna Dowling, que O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 72 - trabalha para a gente, nas Paineiras, ela é uma espé cie de assistente da tia Carol, e antes de vir para a Austrá lia morava na costa de Essex. — Em que parte? — Sarah sorria para Joanna, mas por trá s de seus olhos verdes existiam pontos de interrogaç ã o. Joanna queria explicar de uma vez por todas que nã o tinha nada com Arthur Corraine. Ela já sabia que a famí lia e os amigos esperavam que ele se casasse com Sally Ryan. — De Hadley, imagine só! O sr. Corraine me disse que a senhora morava em Leigh. Conheç o bem o lugar. — A Broadway, os penhascos, a Estalagem Marinha onde os harcos pesqueiros aportam? — Sarah estava tã o ansiosa que até se esquecia de suas suspeitas em relaç ã o a Joanna. — Oh, como eu sentia. saudades de lá, quando vim trabalhar em Brisbane! Estava a ponto de voltar correndo para casa quando... quando conheci Jeff — disse olhando para o marido com um sorriso. J eff era um homem magro, queimado de sol, e já com alguns cabelos grisalhos. Usava uma camisa xadrez, calç a caqui e levava na mã o um chapé u velho. — E Terry, como está? — perguntou Arthur, enquanto iam para o carro, com Mandy sentada em seu ombro, tocando a gaita que ele lhe trouxera. — Estava lidando com um motorzinho elé trico, quando saí mos para buscar você s — explicou Jeff. — Desconfio que ele nã o vai dar para ser criador de carneiros. Mas nã o sou do tipo que vai obrigá -lo a trabalhar numa coisa que ele nã o gosta. — Eu vou tomar conta dos bichos, papai. — Você? — Jeff passou a mã o pelos brilhantes cabelos ruivos da filha. — Você está sempre de orelha em pé, hein? Entende tudo o que a gente diz, nã o é? Joanna olhava e sorria, ao ver a garota apertar o rosto contra a cabeç a de Arthur dizendo: — Tio Arthur trouxe a moç a no aviã o, nã o foi? Arthur caiu na risada. Foi um riso tã o cheio de ternura que fez com que Joanna o olhasse com outros olhos. Nas Paineiras ele era sempre o Chefe, prá tico, ocupado, percorrendo a fazenda no lombo do belo alazã o. À noite, perdia horas e horas com os livros, estudando novos mé todos para serem aplicados na propriedade. Acomodaram-se todos no carro, Arthur na frente com a menina e seu pai, e Joanna atrá s, com Sarah. Mandy espiava por cima do ombro de Arthur e acabou perguntando: — Oi, você é mulher do tio Arthur? O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 73 - — Oi para você també m. — Joanna esperava que Arthur, entretido na conversa com o amigo, nã o tivesse ouvido a pergunta. — Eu trabalho para o seu tio e cozinho coisas bem gostosas para os vaqueiros da fazenda. — Eniã o você també m veio de Essex... é tí pico de Arthur aprontar uma surpresa dessas para nó s. Gostamos de receber visitas, e faz tempo que nã o converso com ningué m sobre a velha Inglaterra. Há quanto tempo está aqui, Joanna? Soubemos que havia uma nova empregada, mas nunca pensei que pudesse ser tã o moç a. Gosta de trabalhar para os Corraine? Sarah parecia nã o se incomodar que Arthur estivesse escutando suas perguntas. E ao ver que Joanna olhava para ele meio hesitante, esclareceu: — Esses dois estã o tã o mergulhados em lã de carneiro e couro de vaca, que nã o prestam a mí nima atenç ã o em conversa de mulher. Fale-me de você. Joanna. — Nã o há tanta coisa assim para contar... — Oh, eu era bem assim como você, quando vim para cá. Reservada, achando que esses australianos eram todos uns atrevidos e machõ es. Mas, no fundo, eles sã o gente agradá vel e boa, como a lã dos carneiros que criam. Joanna encarou Sarah Brenan, vendo que ela ainda continuava curiosa sobre sua relaç ã o com Arthur. Lá ha pista de pouso, Sarah imaginara que ele havia trazido Sally. Em vez disso, ele trouxera uma empregada. Joanna acabou rindo. — É, esses homens tê m mesmo tendê ncia a serem mandõ es... O sr. Corraine achou que a senhora gostaria de conhecer algué m que morasse perto da sua terra natal. Faz só trê s meses que eu saí de lá. Pelo que entendi, a senhora já está aqui há alguns anos. — Você pode me chamar de Sarah. Bem, conheci Jeff uns seis meses depois de chegar a Brisbane, e nosso filho tem agora treze anos. Mandy tem trê s e meio, nã o é verdade, querida? A menina deu uma risadinha e debruç ou-se sobre o ombro de Arthur, com um braç o ao redor do pescoç o dele, que continuava entretido com Jeff. — Você nã o é morena — disse ela para Joanna. — É só um pouquinho clara. O comentá rio deve ter sido ouvido por Arthur, porque instantaneamente ele se virou para trá s e indagou: — E como é que você s duas estã o se dando? — Ó timamente — respondeu Sarah, sorrindo. — Sabe, Arthur, você é um homem surpreendente. Por que nã o falou pelo rá dio que ia trazer uma garota inglesa para nos conhecer? — Porque sou o que você disse... gosto de despejar surpresas em cima das pessoas. O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 74 - — Joanna é uma ó tima surpresa, Arthur. Depois de chegarmos em casa, e com um copo de refresco nas mã os, ela vai me contar como é que está a minha terra, depois de catorze anos. Catorze anos! Nã o posso acreditar que já se passou tanto tempo! — Isso é um elogio, querida — disse Jeff por sobre o ombro. — Prova que ó timo marido você arranjou... — Os homens australianos nã o sofrem de excesso de modé stia, Joanna — avisou Sarah. — Todos sabem muito bem que a natureza os fez fortes e grandes como este paí s. Arthur, e como está Carolina? E Sally, continua tã o linda como sempre? — Mais linda — disse ele, acariciando os cabelos de Mandy, — Vai fazer dezoito anos no sá bado, e vamos dar uma festa para ela. — Dezoito? Já? Joanna percebeu que Sarah olhava de lado para ela. Logo depois, chegaram à casa, na Colina dos Baobá s. Era uma casa atraente, espaç osa, com os grandes baobá s crescendo um pouco afastados. Havia uma varanda com pilares de madeira, por onde subiam trepadeiras floridas. Confortá veis cadeiras de vime, algumas mesinhas espalhadas por toda a varanda, e das vigas do telhado pendiam lampiõ es e esculturas indí genas de madeira. Aquela era uma casa acolhedora, com sinais da presenç a de crianç as. Num canto havia alguns brinquedos, e um cavalo de pau, onde a garotinha logo se empoleirou. — Olhe, tio Arthtir, olhe só... — Isso, vaqueiro! — respondeu ele, rindo. Todos se acomodaram nas cadeiras da varanda. Sarah foi buscar uma jarra de suco e fatias de melã o gelado. Mandy desceu do cavalo e veio se 82 sentar ao pé da espreguiç adeira de Joanna, e nã o demorou para ficar com a cara toda suja de melã o. — Eu ainda me lembro como os sinos da igreja de Leigh tocavam alegres nos domingos, e també m daquela parte dos penhascos que se parecia com um jardim suspenso — disse Sarah. suspirando. — É engraç ado: quando o tempo passa, coisas que você achava sem graç a passam a ter uma espé cie de beleza diferente. Eu trabalhava no escritó rio de uma imobiliá ria, e à s vezes nã o tinha nada para fazer. Meu pai, que era viú vo há muitos anos, havia se casado de novo, e eu nã o suportava ser enteada de uma moç a de trinta e poucos anos! Aí, um dia entrou na imobiliá ria um homem que havia passado muitos anos na Austrá lia e que procurava uma casinha em Leigh. Começ amos a conversar... e o resultado é que eu resolvi vir para cá, trabalhar. Sarah olhava para seu copo de refresco e a menina indagou: O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 75 - — O que é, mamã e? — Nada, querida, só estou voltando um pouco no tempo. — Sarah sorriu. — Nunca me arrependi de ter vindo para cá, mesmo quando fiquei doente, há cinco anos, e Jeff resolveu se mudar para o campo. É curioso como, à s vezes, na vida você parece chegar a uma encruzilhada. E é como se algué m a empurrasse na direç ã o certa. Você nã o sentiu isso. Joanna, quando resolveu sair de casa e vir para o sertã o de Queensland? — Talvez. — Joanna sentia o impacto de dois olhos cinzentos fixos nela. Estava com a cabeç a apoiada numa almofada vermelha, e a seus pé s sentava-se a garotinha. Estava estranhamente em paz, como se pela primeira vez nã o se sentisse culpada, por ter saí do de casa, deixando a avó. — E, acho que eu tinha chegado no está gio certo para ser empurrada para fora da casca... — Você nã o se sente assustada com a vastidã o desta terra? — Sarah queria saber. — Durante nove anos eu vivi na cidade, e quando cheguei aqui, costumava ficar acordada à noite, escutando todos aqueles ruí dos estranhos, e tinha certeza de que nunca iria me acostumar com tanto espaç o aberto. Sarah olhou para Arthur e acrescentou: — Entretanto, para um Corraine, isso é tã o fundamental quanto o ar que ele respira, nã o é mesmo? — É uma das coisas de que eu mais gosto — confirmou ele. De repente, um rapazinho surgiu num dos lados da casa. Usava calç a de brim, mas estava sem camisa. Tinha o cabelo loiro, queimado, o rosto sardento e os mesmos olhos do pai. — Oi, Arthur. — Ele subia aos pulos os degraus da varanda. — Eu escutei quando o aviã o desceu, mas estava ocupado consertando o motor da bomba da piscina. Você s nã o querem nadar? A á gua está uma delicia. — Quer nadar? — Arthur perguntou a Joanna, enquanto o garato olhava espantado para a visitante, com a blusa rosa e a calç a jeans. — Este é meu filho Terry — disse Jeff, a voz cheia de orgulho. — A piscina foi idé ia dele, Joanna. Obrigou a mim e aos rapazes a lidar com pedra e cimento, — Joanna — disse Terry, estendendo a mã o. — É um nome bonito... — Eu quero nadar... — A menina danç ava por entre as cadeiras. — Tio Arthur, eu sei nadar. — Numa bó ia! — caç oou Terry. — Cuidado, gente, porque ela espirra á gua por todos os lados. Sarah levou Joanna para o quarto, para trocarem de roupa. As duas acabaram rindo do contraste da pele clara de Joanna com a de Sarah, já bem queimada do sol. O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 76 - — Fiquei boa de vez, morando aqui — disse Sarah, satisfeita. — Tanto Jeff quanto eu ficamos muito preocupados na ocasiã o! Ele ia ter uma promoç ã o no frigorí fico, mas talvez eu tivesse morrido se ele nã o mudasse para o ramo de criaç ã o de ovelhas. Arthur nos ajudou muito. No primeiro ano tivemos um grande prejuí zo, mas ele nã o nos deixou afundar. Foi por intermé dio dele que Jeff encontrou mercado para toda a nossa produç ã o de lã. A menç ã o do nome de Arthur. Joanna sentiu-se retraí da: teria que usar um maiô na fronte dele! Com Robert nã o haveria esse constrangimento. — Foi bom que eu tivesse guardado esse maiô — disse Sarah, observando Joanna no maiô inteiro, amarelo-claro, que lhe emprestara. — Eu engordei depois que tive Mandy. Ah, que saudades do tempo em que eu tinha o seu corpo! Jeff quase podia circundar minha cintura com as mã os! — Mas agora você tem dois belos filhos — lembrou Joanna. — Meu filho da cidade e minha garota do campo. É engraç ado, mas Terry vai querer voltar para a cidade, para seguir alguma carreira, enquanto que Mandy adora o campo. Você precisava vê -la com os carneirinhos novos... — Posso imaginar. — Arthur gosta muito dela. Foi batizada aqui mesmo. O padre veio de aviã o. Algumas pessoas daqui també m se casam assim. As duas se juntaram aos outros na piscina, com as bordas pavimentadas de pedra, onde se viam cadeiras de lona. Algumas á rvores sombreavam uma parte da á gua, enquanto a outra cintilava ao sol.
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