Хелпикс

Главная

Контакты

Случайная статья





Quando chegou ao interior da Austrália, Joanna logo percebeu o desafio que teria 3 страница



de turistas. Sentiu que naquele lugar seria capaz de encontrar felicidade...

se Arthur Corraine tivesse paciê ncia e a deixasse se acostumar

com as coisas. Imagine só, tí mido com as mulheres! Ele era um egocê ntrico,

isso sim. Estava sempre acostumado a ser obedecido em tudo.

Arthur fora o neto favorito de Adam Corraine, um homem que tinha

sido quase um rei na regiã o. Favorito porque era mais ambicioso, mais duro

e, por isso mesmo, mais propenso a tratar melhor os animais do que as

pessoas.

Ela olhou novamente para Robert, sentindo que gostava ainda mais

dele. Ele podia até ser meio parecido fisicamente com o primo, mas era o

mais agradá vel dos dois.

— Este vate é lindo — murmurou ela, — Quase um paraí so.

— Quando o vento sopra é o vale dos gemidos!

Joanna respirou fundo, sentindo o cheiro gostoso das á rvores. Robert

diminuiu a marcha do jipe, mostrando-lhe dois koalas brincando num

eucalipto. Tinham focinhos como botõ es pretos, olhos inocentes e o pê lo

como o de um ursinho de pelú cia.

— Engraç adinhos, nã o? — perguntou ele. — Sã o macios e bonzinhos,

nunca mordem ningué m.

— Preciso tirar uma foto deles! — disse Joanna, esticando o braç o

para trá s e pegando sua câ mera da sacola. Ajustou a má quina e tirou um

instantâ neo dos bichinhos.

O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear

Sabrina no. 263

Livros Florzinha - 21 -

— Você vai ver dú zias deles em volta da sede.

— É que quero mandar fotos para minha avó. Quando ela constatar

que o Vale das Paineiras é um lugar lindo, nã o vai ficar preocupada,

imaginando que estou no sertã o selvagem, correndo perigo.

— Mas, Joanna — Robert chegou mais perto —, isto aqui é sertã o

mesmo, e nó s, os Corraine, somos meio selvagens...

Joanna encarou aqueles olhos azuis, bem diferentes dos olhos cinza

de Arthur, mas logo perguntou:

— Aquela porteira branca é a entrada da sede?

— Sim, ali é a entrada do impé rio — disse ele brincando.

Quando o jipe chegou perto, um garotinho nativo desceu da cerca e

abriu a porteira. Olhou admirado para Joanna, puxou a calç a para cima e

subiu novamente na cerca.

— Você devia estar na escola — gritou Robert ao passarem por ele.

— Adoniah vai ficar zangado.

— Ah, a gente nã o precisa saber contar para ser um vaqueiro — disse

o menino, dando de ombros.

— Nã o tenha tanta certeza — disse Robert, segurando o riso. — As

vacas precisam ser contadas quando vê m do pasto.

— O Chefe faz isso. O Chefe faz todas as contas.

— Claro, o Chefe é esperto. Mas foi para a escola para ser desse

jeito.

O garotinho parecia meio cé tico, como se a esperteza de Arthur

fosse um presente de Deus.

— Venha, suba no estribo que a gente deixa você na escola.

O menino olhou novamente para Joanna, e quando ela lhe sorriu, ele

correu, deu um pulo e se acomodou no estribo ao lado dela. O garoto tinha a

pele escura como chocolate e os dentes brancos brilharam quando ele sorriu

timidamente.

Joanna ainda iria descobrir que os melhores vaqueiros de Arthur

eram nativos, originá rios das antigas tribos do lugar. Moravam na fazenda

com suas famí lias, nas casas da colô nia, construí das no meio de bosques de

mangueiras.

A escola era feita de tá buas, tinha uma cerca branca à volta e um

sino de bronze para chamar as crianç as. Todos já haviam entrado e

cantavam um hino quando o aluno relutante chegou.

— Adoniah é um homem fora do comum — comentou Robert. — Alé m

de ser o professor, sabe ferrar cavalos e tem um lindo viveiro de rosas.

Imagine, Joanna, rosas neste clima! E sã o lindas.

vermelho-escuras...

O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear

Sabrina no. 263

Livros Florzinha - 22 -

— Estou começ ando a acreditar que este lugar é mesmo o

vale encantado de Shangri-lá — disse ela, olhando as casinhas no meio das

á rvores, os gramados bem-cuidados, as cores vivas dos brinquedos das

crianç as e as roupas coloridas dependuradas nos varais.

Um ganso vinha caminhando pela grama, e uma moç a morena abanou a

mã o quando eles passaram.

— Aquela é Lenita, a esposa italiana de um dos nossos vaqueiros.

Tiveram um filho há pouco tempo, e Peter está muito orgulhoso da

crianç a! J oanna olhou para trá s, e viu a italiana balanç ar um bercinho

pendurado no galho de uma á rvore, cheia de flores vermelhas.

— Ah, se eu fosse pintora! Uma pessoa pode até ficar

maluca, tentando passar para a teia essas cores tã o vibrantes.

Robert achou graç a.

— Tia Carol é pintora amadora, e eu tenho umas aquarelas dela no

meu bangalô.

— Mas você nã o vive com o resto da famí lia, na sede? — perguntou

Joanna, surpresa, imaginando se haveria algum antagonismo entre ele e seu

primo Arthur.

— É que eu prefiro uma moradia de solteiro. Faç o as refeiç õ es na

sede, mas gosto mais de ter um canto, com as minhas coisas. Você precisa

me fazer uma visita.

Joanna nem escutou direito, pois sua atenç ã o foi atraí da pela

construç ã o que aparecia agora, no topo de uma colina, bem à frente. Era a

casa da fazenda, construí da há muitos e muitos anos por Adam Corraine.

Era espaç osa, como toda boa casa de fazenda deve ser, com uma

varanda à volta, cheia de trepadeiras: primaveras, alamandas e diversas

outras. As portas-venezianas que davam para a varanda estavam abertas

para que a brisa, que soprava entre as altas á rvores que rodeavam a casa,

pudesse entrar. Joanna esperava saber um dia os nomes de todas aquelas

á rvores, mas agora estava apenas embevecida, sentada no jipe, que Robert

estacionara na frente da casa.

A sede tinha uma aparê ncia de solidez, de forç a pró pria, plantada

naquele lugar, acima do vale. Os homens podiam se sentar na varanda,

quando chegavam dos pastos, para admirar as estrelas e tomar uma xí cara

de café cheiroso...

Joanna seguiu Robert pela varanda e entrou na sala, onde funcionava

um enorme ventilador. No chã o havia vá rios tapetes de lã de carneira. Era

um lugar repousante, com muitas poltronas de aparê ncia confortá vel,

e Joanna chegou a se assustar quando Robert tocou um pequeno sino, que

estava numa mesinha.

O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear

Sabrina no. 263

Livros Florzinha - 23 -

— Tia Carol deve estar na cozinha, ajudando a preparar o almoç o —

explicou ele. — A cozinha fica iá no fundo, por isso ela pode demorar um

pouco para chegar até aqui. Ela quebrou um ossinho do pé e ainda está

engessada. Está ouvindo as batidas da bengala?

Era um ruí do bem ní tido, no silê ncio da casa, à quela hora da manhã.

Joanna sentiu novamente aquela ansiedade por ser bem aceita por mais um

membro da famí lia Corraine. Nem sabia por que queria tanto ficar ali. Mas

seria terrí vel se encontrasse novamente a frieza e a falta de entusiasmo

com que Arthur Corraine a recebera.

As batidas foram se aproximando, e de repente a porta se abriu. Lá

estava Carolina Corraine, encarando Joanna com olhos penetrantes, tí picos

da famí lia. Reparou na pele clara e nos olhos assustados de Joanna, e,

balanç ando a cabeç a como fazem os velhos, em sinal de afirmaç ã o, disse:

— É verdade, você é inglesa até a raiz dos cabelos — sorriu, e em seu

rosto envelhecido pelo sol inclemente dos tró picos surgiram vestí gios de

uma antiga beleza. Sua voz ainda tinha um leve sotaque inglê s, quando

convidou Joanna a sentar-se.

— Sua viagem foi longa, srta. Dowling. mas espero que

tenha aproveitado. Será que gostaria de uma xí cara de chá? Robert, será

que você poderia ir até a cozinha fazer um pouco de chá? Tilly está ocupada,

picando uma tigela de cebolas...

Robert sorriu e fez uma leve mesura para a tia.

— À s suas ordens, duquesa. Nó s dois ainda nã o tomamos café, por

isso posso preparar mais alguma coisa.

— Isso mesmo, pegue algumas fatias de bacon e alguns ovos frescos.

Ele se afastou, deixando Joanna a só s com a tia, que se acomodou em

uma das poltronas, colocando o pé engessado sobre um banqumho.

— Nunca pensei em usar uma bengala antes dos noventa anos —

disse, com um ar de riso nos olhos. — Você parecia meio apreensiva quando

entrei, ainda agora. Será que esperava encontrar uma velhota chata, que

gosta de dar ordens?

— Estava com medo de que nã o gostasse de mim, sra. Corraine.

— Oh, e porquê?

— Seu sobrinho acha que nã o vou conseguir me acostumar com o

trabalho aqui.

— Robert acha isso? Tive a impressã o de que ele estava satisfeito

com o arranjo...

— Eu me referia ao seu sobrinho Arthur...

— Ah, Arthur! Entã o ele estava na pista, esperando por você s... E o

que disse, entã o? — indagou tia Carolina.

O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear

Sabrina no. 263

Livros Florzinha - 24 -

Joanna contou por alto como havia sido o encontro, e apesar de

tentar falar calmamente, nã o conseguiu esconder certa indignaç ã o na voz.

— Acho que ele pensa que vim para cá passar as fé rias!

— A maioria dos homens que lidam no campo acham que só uma

mulher rude e musculosa serve para o trabalho puxado de uma fazenda —

disse Carolina secamente. — Nã o adianta dizer a eles que um arbusto apenas

verga com o vento, enquanto que uma á rvore forte muitas vezes cai, numa

tempestade. Preciso de algué m de confianç a para me ajudar aqui nas

Paineiras, principalmente depois que quebrei o pé. Percebi essa qualidade em

você, atravé s da sua carta. També m gostei do espí rito de aventura que a

trouxe para a Austrá lia.

— Nã o, menina — continuou a senhora, sacudindo a cabeç a para

Joanna —, nã o me diga que veio por causa de sua irmã. Veio para procurar

um novo tipo de vida, como eu mesma fiz, muitos anos atrá s. Apesar de

Robert e Arthur me chamarem de tia, eu era prima de Adam Corraine, e,

por intermé dio dele, comecei a me corresponder com Logan. que era seu

melhor amigo aqui na Austrá lia. Recebi um pedido de casamento por

carta, e ainda que você ache impossí vel, eu e Logan está vamos apaixonados.

Só que ele morreu num estouro de boiada, no dia em que cheguei em

Esperanç a, onde Logan era o administrador. Depois da morte da esposa de

Adam, fiquei como governanta.

Carolina alisou o cabo da bengala, e um rubi brilhou em seu dedo

anular direito. Era um anel antigo, provavelmente o anel de noivado enviado a

ela há tantos anos, pelo amor que nã o chegara a conhecer.

— Que tristeza — murmurou Joanna. — Deve ter sido um golpe

terrí vel ter perdido o noivo desse modo.

— Nunca o perdi, minha crianç a! Quando você ama muito

uma pessoa, ela nã o desaparece enquanto você continuar viva. Fica fazendo

parte de você. Eu me encontrei com ele em meus sonhos, e os sonhos nã o

desaparecem quando a gente envelhece. Ficam até mais reais, como

acontece com as lembranç as, as recordaç õ es.

Houve um momento de silê ncio em que se ouvia apenas o ruí do dos

pá ssaros nas á rvores lá fora. Entã o, tia Carolina soltou uin suspiro. — Há

anos eu nã o falava sobre isso. Acho, na verdade, que talvez ningué m

quisesse me ouvir. Os rapazes tê m seu trabalho, e Sally iria apenas rir das

lembranç as de uma velhota.

— Pelo que entendi, devo també m fazer um pouco de companhia para

a afilhada do sr. Arthur, nã o é? — Joanna agora se sentia bem mais à

vontade. Podia até tocar no nome de Arthur sem tremer de raiva.

Ningué m havia olhado para ela daquele modo antes, como se fosse apenas

uma garota leviana, que Robert trouxera para se divertir.

O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear

Sabrina no. 263

Livros Florzinha - 25 -

— Bem, é verdade. Arthur tem a impressã o de que Sally

anda precisando de companhia feminina — disse Carolí na. franzindo a testa.

— Robert disse que ela é linda.

— Ela é instá vel, Joanna. Nã o sabe o que quer e vive

falando bobagens. Um dia quer ser bailarina clá ssica, e no outro,

enfermeira. Enfermeira, imagine! Outro dia quase desmaiou, quando caí e

quebrei o pé. Arthur fica aborrecido comigo por eu tentar fazer tudo. mas

a gente nã o pode confiar nas ajudantes de cozinha. Tenho que ficar o tempo

todo vigiando, senã o elas se esquecem do fermento na massa do pã o ou de

pô r o chá na á gua fervendo. Arthur me pediu que pusesse um anú ncio,

pedindo uma moç a robusta para me ajudar. Ele queria algué m que nã o se

incomodasse com a solidã o desta vida, onde nã o temos televisã o, nem bailes,

nem cinema. Só umas festinhas no celeiro, onde se toca mú sica caipira...

Carolina sorriu meio desalentada para Joanna c perguntou:

— Quanto tempo você acha que conseguirá viver sem

essas comodidades?

— O sr. Corraine me deu um prazo de quinze dias. Durante esse

tempo, vou ter que provar minha utilidade no serviç o da casa. Se eu nã o

chegar a satisfazê -lo, vou ter que fazer as malas e voltar para Baí a das

Á guias. Ele disse que eu me daria muito melhor trabalhando numa

butique! Como é que ele pode ser assim tã o á spero?

— Ele é assim desde crianç a. Adam o ensinou a ser desse jeito,

porque o Chefe de uma fazenda como esta tem que ser um homem muito

forte, o centro de todas as atividades. Com um homem forte na direç ã o, as

coisas ficam mais fá ceis. Arthur sempre tem todas as respostas quando os

outros estã o perdidos. Pode suportar enormes responsabilidades. Claro que,

para ser assim, um homem tem que abolir todo seu charme. Mas Robert tem

charme pelos dois... como tenho certeza de que você já percebeu.

— Ele foi muito gentil comigo lá em Baí a das Á guias, e fez da viagem

para cá um lindo passeio. — Joanna sorriu para si mesma. — Eu podia

estender as mã os e tocar nas estrelas...

— Entã o quem, a nã o ser um rapaz atencioso, ia pensar em trazê -la

voando por entre as estrelas? — riu a velha senhora. — Arthur nunca

seria assim tã o româ ntico...

— Tenho certeza que nã o! — Joanna deixou escapar, e mordeu o

lá bio. — Provavelmente ele me convidaria para dar uma volta no meio dos

espinheiros.

— Mas no meio dos espinheiros é que crescem as mais

lindas orquí deas, minha querida.

Joanna olhou espantada para Carolina Corraine, e, naquele instante.

Robert abriu a porta trazendo uma bandeja, de onde vinha um aroma

O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear

Sabrina no. 263

Livros Florzinha - 26 -

delicioso de bacon, ovos e torradas. Ela percebeu que estava morta de

tome, e sentou-se perto de Robert, enquanto a tia tomava apenas uma

xí cara de chá e observava atentamente os dois jovens.

— Está vendo — comentou Robert —, você nã o precisava ter medo

de tia Carol. Ela tem um coraç ã o de ouro.

— Meu filho, nã o diga bobagens — riu a tia.

— Trouxe uma lagosta viva para você. Está num cesto, no jipe. E um

frasco de perfume para Sally. Assim ela perde o ar emburrado por uma

meia hora.

— Você tem que entendê -la. Sally está numa idade difí cil. À s vezes

parece crianç a, e, em outras, quer experimentar as asas, como uma

mulher adulta.

— Mas à s vezes ela é tã o insuportá vel, que se eu fosse Arthur

dava-lhe umas boas palmadas no traseiro — disse Robert secamente. — Eu

fico espantado, tia Carol, como ele mima a garota. Será que tem algum

complexo de pai em relaç ã o a e! a?

— Ele era muito amigo dos Ryan, e foi um golpe terrí vel para Sally

perder os pais assim tã o de repente. — A velha senhora encarou Joanna.

que ouvia atentamente a histó ria. — Eu acho que foi um ato de coragem de

Arthur assumir a responsabilidade da garota, e ainda contar a ela que os

pais haviam morrido na enchente. Muitos homens fogem de uma tarefa

dessas. Isso me lembra Adam, quando precisou me contar que Logan

havia...

Carolina interrompeu a frase e levantou-se, apoiada na bengala.

— Vou ver como é que anda Tilly, com aquelas cebolas. Depois levo

você ao seu quarto, Joanna.

— É muita bondade sua, srta. Corraine — disse ela, com sinceridade.

Tinha gostado muito da velha senhora, que durante toda a vida cuidara das

crianç as dos outros: dos filhos de Adam e agora, dos netos dele.

— Você pode me chamar de tia Carol, como todo mundo — disse ela a

Joanna. — Aqui nas Paineiras somos como uma grande famí lia.

E se afastou, o ruí do da bengala ecoando pela casa.

— Ela é ó tima — disse Robert. — Durante anos viveu agarrada à

memó ria de um homem: acho que uma mulher normal nunca devia fazer uma

coisa dessas, jogar fora sua vida...

— Nã o acho que ela tenha jogado fora sua vida. Nã o completamente

— disse Joanna baixinho. — Ajudou a fazer das Paineiras o que é

hoje, e

deve se sentir orgulhosa de sua contribuiç ã o. Pode nã o ter seus

pró prios filhos, mas tem você e seu primo.

O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear

Sabrina no. 263

Livros Florzinha - 27 -

— Eu pensei que você nã o gostasse dele. — Os lá bios de Robert se

ergueram num sorriso, enquanto os olhos azuis estavam fixos no rosto de

Joanna. —

Nã o estou dizendo que gosto dele — retrucou Joanna. — Nã o é da

natureza humana gostar de algo ou algué m que nos magoa. Mas é claro que

ele sabe comandar, e acredito que, no fim, irá transformar em

realidade os sonhos do avô.

— E eu, onde fico? — perguntou Robert com certa ironia.

Ele estendeu a mã o sobre a mesa, com a palma voltada para cima, cheia de

calos do serviç o pesado da fazenda. — O que você vê em minha mã o? Uma

vida longa e feliz?

Joanna sorriu, pois a linha da vida de Robert era comprida, indo até o

fim da palma, que ela evitava tocar. Estava com um pouco de medo da reaç ã o

que teria se ele lhe segurasse a mã o.

— Vai viver ate os oitenta e terá uma famí lia bem grande — disse

rindo.

— Quer dizer que eu nã o vou continuar solteiro, Joanna?

— Um homem que anda atirando pedidos de casamento, como se atira

um punhado de pipocas, com certeza nã o vai permanecer solteiro.

— Será que nã o gostaria de se casar com um Corraine, srta. Darling?

— Nã o no momento. — Para evitar maiores complicaç õ es, Joanna

levantou-se depressa, colocou os pratos na bandeja e pediu a Robert que lhe

ensinasse onde ficava a cozinha.

— O que vai fazer?

— Isto que está vendo, sr. Corraine. Agora, por favor, ensine-me o

caminho, sim?

— E eu que a chamei de garota româ ntica... — resmungou ele,

abrindo a porta para que ela passasse com a bandeja.

— Há lugar e hora para tudo — disse a moç a.

— Isso é uma promessa? Ela apenas sorriu.

CAPITULO III

Os dias que se seguiram foram cheios de novidades para Joanna.

Havia tantas coisas para aprender que as horas voavam. Os peõ es

devoravam vastas refeiç õ es, e alé m de Tilly e Peg, duas garotas

nativas que trabalhavam na cozinha, també m havia Matthew, um velho que

nã o tinha o braç o esquerdo.

O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear

Sabrina no. 263

Livros Florzinha - 28 -

À s vezes ele mais atrapalhava do que ajudava. Mas sabia

tantas histó rias sobre a regiã o, que Joanna adorava tê -lo por perto,

enquanto depenava frangos para o jantar ou tirava caroç os de ameixas para

fazer um pudim.

Na enorme cozinha com telhas-vã s, telas nas janelas, dois fogõ es

grandes e uma geladeira dupla, ela ia aos poucos se acostumando aos ruí dos

da sua nova vida: o tilintar das esporas, o mugido do gado quando começ ava

a ventar, e os gritos das cacatuas nos eucaliptos. Algumas dessas á rvores

sombreavam a cozinha e seu aroma penetrava pela janela, junto com o

zumbido das abelhas.

Enquanto Joanna picava frutas numa grande tijela azul. Matthew

tocava sua gaita de boca.

— Aqui existe paz, menina — dizia ele. — Uma pessoa consegue sentir

o tempo passar, sem que ele voe depressa demais.

Mas, para Joanna, aqueles primeiros dez dias passaram rá pido demais

impedindo-a de saborear um pouco daquela paz. Trabalhava duro, apesar do

aviso de tia Carol, de que os peõ es nã o esperavam milagres e nã o se

incomodariam se o almoç o atrasasse alguns minutos.

Arthur Corraine, poré m, esperava milagres. Joanna estava

permanentemente atenta, sabendo que estava sendo julgada. Talvez por

isso, chegara a queimar uma fornada de pã es. Logo ela que nunca fizera isso

na vida! També m jogara alguns garfos no lixo e cortara a couve fina demais

para o apetite dos vaqueiros.

Com muita perseveranç a, tia Carol conseguira fazer uma horta, que

fornecia verduras e legumes frescos para a sede. Era Matthew quem

cuidava disso e tirava o mato dos canteiros. Certa vez, Joanna ficou

encantada ao ver os repolhos crescendo naquele lugar selvagem e tirou uma

fotografia para mandar à avó.

Matthew quis saber se a famí lia dela aceitara bem a sua ida para a

Austrá lia.

— Minha avó ficou surpresa quando eu me decidi, mas

acabou concordando, pois eu ia morar com minha irmã.

— Eu tive uma filha, há muito tempo, menina — disse o velho,

esfregando a gaita na manga da camisa. — Chamava-se Trudi, era uma

coisinha linda. A mã e a levou embora para Melbourne e eu só a vi umas duas

vezes depois disso. Agora ela está casada, com um sujeito que trabalha na

televisã o, mas o velho Matthew nã o seria bem recebido na bela casa que

eles tê m...

— Você nã o foi mais visitá -la, Matthew?

— De jeito nenhum. Sei onde sou bem recebido, e é aqui mesmo,

menina. Aqui, nas Paineiras. Arthur é bom para mim. Nã o me mandou embora

O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear

Sabrina no. 263

Livros Florzinha - 29 -

quando fiquei doente, e até me levou de aviã o ao hospital de Alice Springs,

para ser operado. O Chefe nã o me aposentou. ELe sabe que uma pessoa

precisa do trabalho, ou entã o acaba num canto, jogada como um cachorro

sem dono. O pessoal diz que Arthur é como o avô, mas nã o é bem assim.

— Nã o estou entendendo, Matthew. Todos dizem que ele é a cara do

avô... olhe bem para o retrato na sala!

— Mas é isso, ele se parece com o velho, sabe como dirigir a fazenda

e se dá bem com os vaqueiros. Mas Adam Corraine era um homem muito

duro, de alma dura, menina. Nunca ligava para o que uma pessoa sentia, ela

só valia por seus mú sculos e pelo que podia fazer em cima de uma sela, no

meio do gado. O velho era ambicioso demais, agitado demais.

Joanna nã o pô de deixar de sorrir, pois Arthur també m era meio

assim, desde o modo de montar até a capacidade de se enfiar embaixo de

um caminhã o quebrado e consertá -lo com eficiê ncia. Ele viera uma ou duas

vezes até a cozinha todo sujo, para se lavar na torneira da pia, molhando o

rosto e os cabelos e olhando para ela com olhos que emitiam relâ mpagos.

Joanna tinha certeza de que aquelas apariç õ es eram unicamente para ver

como ela estava indo no serviç o. Nã o falava muito com ela, mas Joanna sabia

que Arthur estava esperando pelo prazo que havia dado, para julgá -la. Mas

se fosse mandada embora seria uma injustiç a. A nã o ser peio pã o queimado

e alguns pratos quebrados. e! a se esforç ara ao má ximo.

Seria injusto també m, porque nã o era possí vel morar nas Paineiras

sem ficar apaixonada pelo lugar, como já estava acontecendo com

ela. Adorava o seu quartinho cios fundos, de onde se avistava todo o vale.

Acordava todos os dias com o canto dos pá ssaros, logo ao nascer do sol, e na

hora de começ ar o almoç o já havia alimentado as galinhas e tirado o leite

das vacas domé sticas.

Naquelas primeiras duas semanas, mal tivera tempo de conhecer

direito Sally Ryan, que sempre dava um jeito de fugir da cozinha, e passava

o tempo todo com um livro de poesias ou escutando discos de mú sica pop.

A garota era mesmo bonita, mas tinha uma boca meio petulante. Seu

cabelo escuro era macio como seda, e os olhos castanhos eram lindos.

Joanna entendia por que Arthur nã o queria que a garota andasse pela

fazenda desacompanhada. Estava numa idade româ ntica, e havia muitos

vaqueiros jovens e solteiros que faziam uma bela figura, montados em seus

cavalos, com o laç o preso nas selas.

Joanna já recebera diversos convites para o pró ximo baile no paiol,

mas ainda nã o aceitara nenhum. Afinal ela podia ser despedida antes da

festa, por nã o ter passado no teste. Podia até já estar a caminho de Baí a

das Á guias. O Chefe continuava frio e distante, como naquele primeiro dia, e

só falava com ela o estritamente necessá rio.

O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear

Sabrina no. 263

Livros Florzinha - 30 -



  

© helpiks.su При использовании или копировании материалов прямая ссылка на сайт обязательна.