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Quando chegou ao interior da Austrália, Joanna logo percebeu o desafio que teria 2 страницаuma pessoa difí cil — disse ela, experimentando um pedaç o de torta de banana e achando deliciosa. — Afinal, vai me levar até o Vale das Paineiras para conhecer seu primo, e ter pelo menos uma oportunidade de ficar com o emprego? — E o que vai fazer se ele nã o aceitar você? — Vou ficar muito desapontada. — Já está meio intrigada com a fazenda e seus habitantes? — Robert recostou-se na cadeira e estudou Joanna com os olhos apertados. — Joanna, você é româ ntica demais, e parece tã o delicada quanto um bichinho de pelú cia. O Chefe está querendo uma garota durona, que, alé m de ajudar no serviç o domé stico, també m sirva de companhia quando Sally sair a cavalo... — Eu aprendi a lidar com cavalos quando ainda estava na escola — interrompeu ela. — Nossa propriedade fica perto de uma famosa fazenda de criaç ã o de cavalos. — Nossos cavalos sã o muito mais bravos que os dos ingleses — caç oou Robert. — Aqui nada é completamente manso. Nem homem, nem animal. — Sr. Corraine, se eu fosse do tipo medroso, nã o teria nem saí do da Inglaterra. Na verdade, isso é um ponto favorá vel para mim, nã o acha? Apesar de nã o ter uma aparê ncia rude, nã o sou covarde... — Estou perfeitamente satisfeito com a sua aparê ncia, Joanna. Joanna olhou para ele e desviou o olhar, pois seu sorriso era lento, atraente, perigoso demais para uma garota tã o longe de casa... Ah, se Robert Corraine fosse o todo-poderoso das Paineiras! — Quer café ou prefere dar uma volta no jardim? — perguntou ele, provocante. Sem deixar que ela respondesse, Robert estendeu-lhe a mã o. Joanna enfrentou o desafio, estendendo-lhe a sua, sentindo o tato daquela palma á spera pelo uso das ré deas, mas assim mesmo agradá vel de tocar. — Será que você ficou com medo? — perguntou ele brincando, enquanto a levava para fora. Quase nã o se escutava a mú sica do restaurante, mas o perfume das flores era forte! Robert recostou-se numa á rvore, ainda segurando a sua mã o. — Deixou algum namorado na Inglaterra? — Dú zias — retrucou ela brincando. — Se isso fosse verdade, você nã o estaria tã o retraí da comigo... Está morrendo de medo que eu beije você. Aposto que nunca foi beijada de verdade. O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 12 - Joanna olhava para Robert, imaginando como seria ser abraç ada por aquele rapaz musculoso e simpá tico, que iria beijá -la como já devia ter beijado dezenas de outras garotas. Nã o. ela é que nã o ia ser mais um nome em sua lista de conquistas! Nenhum homem iria beijá -la apenas porque as estrelas brilhavam e porque o ar estava perfumado. O homem que fosse beijá -la pela primeira vez, teria que desejar aquilo mais do que tudo no mundo. — Eu nã o pensava que os rancheiros fossem tã o namoradores. Achei que estivessem sempre no campo, cuidando do gado. — Namorar uma garota bonita é coisa que todo homem faz com naturalidade — disse Robert, passando de leve a mã o no braç o dela. — Joanna, você está muito tensa, como se nã o pudesse esquecer o conselho da vovó, para ter cuidado com os rapazes. Mas é um perigo gostoso, faz parte da vida... — O senhor está querendo me namorar porque acha que nã o vou ficar trabalhando na fazenda. Arthur Corraine parece ser do tipo que nã o gosta de ver a criadagem envolvida com o primo! Robert largou Joanna e estendeu as mã os para o cé u estrelado. — Você é uma pessoa fria e controlada, nã o é, Joanna Dowling? Será que é fria assim inteirinha? — Sou apenas uma moç a sensata — retrucou ela, sabendo que a maioria dos homens odiava aquela palavra. — Minha irmã é quem brilha. Ela é que é a pessoa fabulosa da famí lia. — Linda como um quadro... — Sim, mas ela també m sabe o que quer. Tenho certeza de que qualquer dia desses vai ficar famosa. Ela tem personalidade. — E você, o que quer da vida, Joanna? — Robert tirou um cigarro, ofereceu outro a ela, que recusou, e ficou observando-a à luz do isqueiro. Depois fechou-o com um dique e a fumaç a subiu, misturando-se com o cheiro das flores. Joanna nunca havia pensado na Austrá lia como uma terra româ ntica. Mas aquele paí s o era, de um modo muito sutil e perturbador. Ela nunca se preocupara muito com o que queria. Nã o era ambiciosa como Judy. Naquela terra, poré m, começ ava a sentir certo desassossego, um desejo sem nome. — Como a maioria das pessoas, eu quero... a felicidade — murmurou. — E a felicidade pode ser definida, Joanna? — De repente, na voz dele havia uma sú bita seriedade, e ela ficou pensando por quê. Afinal, Robert Corraine devia ter a maior parte das coisas que trazem a felicidade. Tinha um lugar seguro na fazenda, e provavelmente ganhava bastante dinheiro. Era inteligente, atraente e podia aproveitar as alegrias O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 13 - da vida. Ela nã o podia imaginar o que estaria lhe faltando, a nã o ser uma esposa. Mas, pelo jeito dele, estava melhor solteiro que casado. — A felicidade é uma bolha, brilha por um instante e logo acaba — disse ela, por fim. — Uma coisa fugidia... — A luzinha do cigarro brilhou forte e depois diminuiu novamente. — Você já andou de aviã o nas horas calmas da madrugada? — Nã o. — À luz do cigarro, Joanna viu que ele sorria, e admirou-se por ter conhecido Robert há tã o pouco tempo. Havia nele alguma coisa que dava a idé ia de que fossem velhos amigos. Era uma sensaç ã o estranha, e ela julgou que aquela fantasia se devia à longa viagem que fizera pelo cé u. — Joanna, nó s vamos voar por entre as estrelas esta noite, e você vai ver o. Vale das Paineiras com o sol nascendo, deixando tudo dourado. Talvez eu esteja sendo cruel em deixar que você veja a fazenda desse modo pela primeira vez, mas sei que é do tipo que se apaixona por um lugar à primeira vista... — Cruel, por que talvez Arthur nã o me deixe ficar? — Você disse que ia enfrentar essa possibilidade. Ele é do tipo que pega o que quer para a fazenda, assim como se descarta sem hesitaç ã o do que nã o acha necessá rio. — Arthur, o durã o — murmurou ela, sentindo que o Chefe devia ser um homem mais fá cil de ser odiado que amado. De repente sentiu-se indecisa: — se ia se apaixonar pelo Vale das Paineiras talvez fosse melhor nem ir até lá. Robert chegou mais perto e segurou seu queixo. — Nã o perca a coragem, Joanna Dowling. Se meu primo nã o deixar você ficar na fazenda, eu me caso com você. Joanna percebeu um tom de humor na voz dele. Sabia que Robert estava brincando e afastou-se rindo. — Nã o devia sair por aí falando uma coisa dessas. Qualquer dia uma garota aceita e você acaba preso a uma esposa a quem nã o ama de verdade... — Joanna, será que você nunca age no impulso do momento? — Sou sensata demais, já disse! — Você? — ele riu outra vez e passou o dedo lentamente pelo rosto dela. — É tã o sensata quanto um canguruzinho na bolsa da mã e. Se você já está com um pouco de medo de mim, nã o sei como irá fazer para enfrentar Arthur. Nem ela mesma sabia, mas aquilo era uma coisa para pensar só no dia seguinte. Nessa noite ela iria voar pelo cé u da Austrá lia, e seu piloto seria O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 14 - esse rapaz bronzeado, de olhos azuis tã o expressivos. Um rapaz para nã o ser levado a sé rio, mas ao mesmo tempo muito perturbador. — Seu aviã o é grande? — perguntou ela. — É um monomotor de dois lugares — disse ele, enquanto voltavam para o hotel. — Eu o chamo de Magrela, mas é bom de voar, e leva uma boa quantidade de carga. Leva suprimentos para a fazenda, que fica a uns 160 quiló metros da cidade mais pró xima. A correspondê ncia vem de aviã o, assim como o mé dico, quando necessá rio. No mais, somos uma comunidade relativamente independente. É quase como no sistema feudal, com o vilarejo à volta do castelo, onde o senhor é Arthur. — E você quem é? Um dos cavaleiros do feudo? Nesse instante, haviam chegado ao terraç o, Joanna olhou para ele, achando que nã o era tã o difí cil imaginá -lo como um cavaleiro medieval, que iria levá -la para seu castelo... — Joanna — disse ele sorrindo. — Você é româ ntica demais. CAPITULO II O sol já estava raiando quando Joanna acordou. — Tem café na garrafa, atrá s de você — avisou Robert, sorrindo. Ela abriu os olhos meio espantada, os cabelos castanhos em desalinho. — Sirva duas canecas... logo estaremos sobrevoando o vale. — Eu, dormi... —disse ela. ainda meio sonolenta. — Foi — concordou ele. — E no meu ombro! Meio confusa, Joanna conseguiu encontrar a garrafa dentro de uma caixa. Voar pela noite estrelada tinha sido uma experiê ncia estranha, meio má gica. Ela percebeu, ansiosa, que logo iriam chegar e descer na pista particular da fazenda. Q café havia se conservado quente e saboroso e ajudou-a a acordar de vez, fazendo com que reparasse na paisagem abaixo deles. Era uma floresta densa, que se estendia sobre uma serra, por onde os rios corriam como fitas prateadas. — É uma floresta nativa — explicava Robert. — Cheia de cipó s, á rvores de espinhos e enormes morcegos. A á rvore de espinhos é terrí vel, se esconde entre samambaias e belas trepadeiras. Isso aí é um belo lugar para caç adas, mas eu prefiro o campo aberto, onde se pode ver tudo o que acontece. — Robert riu da cara espantada de Joanna e continuou: — Eu avisei que as coisas aqui eram selvagens. Estamos a uma enorme distâ ncia da civilizaç ã o, e a vida continua sendo a mesma, como a que levavam os O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 15 - primeiros Corraine, eles chegaram da Inglaterra e atravessaram o paí s em carroç õ es. Era apenas um casal, e o primeiro filho nasceu no caminho. — Você deve ter orgulho de ser forte e auto-suficiente, nã o é verdade. Robert? — Agora ela conseguia dizer o nome dele sem tanta inibiç ã o. Afinal, parecia ridí culo chamar pelo sobrenome o homem com quem ela voara por entre as estrelas e em cujo ombro dormira. — Está no sangue, Joanna. A gente nã o saberia levar outro tipo de vida. Quando Arthur e eu ainda é ramos crianç as, í amos levar a boiada junto com os vaqueiros. Aprendemos muito cedo o que é a vida dura de um boiadeiro, e també m o doce encanto das toadas ao pé das fogueiras dos acampamentos. Sabemos o que é dormir numa rede, em noites quentes ou de vento frio e cortante. — Mas você també m parecia perfeitamente à vontade sobre as ondas em Baí a das Á guias — disse Joanna, lembrando-se daquele corpo bronzeado coberto de espuma. — Entã o, você me viu! —exclamou orapaz. — Sim, vi você fazendo surfe. Havia uma garota esperando-o na praia. — Um vaqueiro de folga tem certas regalias, Joanna. — Claro — retrucou ela. — O que eu quis dizer é que você é muito mais sofisticado do que eu imaginava. — Raramente as pessoas sã o como imaginamos... Aposto como o Chefe vai levar um susto quando vir você. Olhe, Joanna: estamos voando por cima dos rebanhos! Joanna olhou pela janelinha, e lá embaixo estava a massa de costados vermelhos contra o capim das colinas. Eram tantos que ela prendeu o fô lego. Misturados ao gado estavam os vaqueiros, que, daquela altura, pareciam de brinquedo. — Nunca vi nada parecido com isso! Nã o é perigoso andar com o cavalo no meio daquela massa de animais? — A gente acaba se acostumando — explicou Robert. — O pior é tocar a boiada quando o dia está quente e seco. O gado fica nervoso. As coisas ficaram mais fá ceis desde que Arthur resolveu transportar o gado com as carretas. Adam, meu avô. nã o teria gostado de toda essa modernizaç ã o, mas temos que acompanhar o progresso e levar o gado, o mais gordo possí vel, até os centros consumidores. — Os homens começ am a trabalhar cedo — comentou Joanna, pois o sol começ ava a despontar sobre as montanhas. — E geralmente terminam o serviç o ao meio-dia, quando o sol está alto e todos param para descansar. Agora estamos sobrevoando o vale! Veja os penhascos e o despenhadeiro... lá esta a ponte que leva à casa da O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 16 - fazenda, e logo atrá s da sede, como um jardim selvagem, o bosque das paineiras. O vale, a floresta e tudo a seu redor pertencem aos Corraine. É o nosso mundo, e aqui só entra quem a gente quiser. Robert deu uma volta sobre o vale, antes de descer na pista, a alguns quiló metros de distâ ncia da sede. — Aqui estamos — disse ele, levantando uma sobrancelha ao notar que Joanna prendia os cabelos e assumia novamente o olhar calmo e sossegado. — Sabe, eu prefiro você com os cabelos em desordem. — É a seu primo que eu preciso impressionar. . Pronto, estou nova em folha — disse ela. guardando o batom e o pente na bolsa, e sorrindo para Robert. Ainda vestia o blusã o forrado de pele de carneiro que ele lhe emprestara. Era um casaco muito grande, o que fazia com que ela parecesse perdida dentro dele. Os raios de sol atingiram o aviã o e brilharam na pele clara e nos cabelos de Joanna. Robert chegou mais perto, como se ela o puxasse como um imã. — Arthur nã o tem nada com isso, se eu quiser confraternizar com a criadagem — ele disse com um jeito maroto. — Eu ainda nã o fui contratada — disse ela alarmada, porque a cabine era muito pequena. — Será que nã o é melhor a gente descer? — perguntou aflita. — Está tã o ansiosa assim para se encontrar com o Chefe? — Quando o remé dio é amargo, é melhor bebê -lo depressa, diria minha avó. — Acho que nesta hora o remé dio nã o vai fazer efeito. Você se lembra do que eu disse na noite passada, no caso de Arthur nã o aceitá -la? — Aquilo foi bobagem. Efeito do champanhe. — Quer que eu prove que o champanhe nã o tinha nada com o caso? — insinuou ele, chegando mais perto. Joanna já estava segurando-o à distâ ncia, com as mã os em seus ombros, quando um punhado de pedrinhas bateu contra a janela da cabine. Robert olhou para fora, e ali na pista, abaixo do aviã o, alguns homens abanavam os braç os. — Bem na hora... — resmungou Robert. — O pessoal quer descarregar o aviã o, e acho melhor levar você para conhecer o Chefe. Joanna, ele nã o é como eu, a nã o ser talvez no fí sico. O que eu quero dizer é... — Eu sei o que quer dizer. — Ele nã o vai levar em conta o fato de eu estar tã o longe de casa e nem de ter os cabelos castanhos... Robert acabou sorrindo. — Alé m de coragem e forç a de vontade, você tem senso de humor. Eu poderia me casar mesmo, com uma garota assim, Joanna. O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 17 - — O casamento é uma coisa muito sé ria, sr. Corraine. Nã o se pode começ ar, como se fosse apenas praticar algum esporte, e depois largar, se ficar monó tono demais. É um relacionamento para durar a vida toda! — Viva! Uma garota de ideais! — Ele sorria com malí cia. — A gente já tem o nosso pró prio inferno, mas o cé u depende de mais algué m, nã o acha? — É isso que é o amor, nã o é? — disse ela com simplicidade. — Dito assim, parece ó timo. O problema é encontrar... — Robert abriu a porta da cabine, e Joanna sentiu de repente o calor do sol e o cheiro do mato, ao descer do aviã o. Os homens que haviam vindo descarregar o monomotor olhavam espantados para aquela figurinha esbelta, com o casaco grosso por cima do vestido plissado. Nã o havia dú vidas de que eles nunca tinham visto algué m parecido no Vale das Paineiras. Joanna deixou o pessoal pasmo, mas subitamente o silê ncio se quebrou com o ruí do de cascos. Os homens se viraram depressa para ver quem vinha. Um deles gritou: — É o Chefe! É melhor começ ar logo a descarregar esse aviã o! O coraç ã o de Joanna batia no mesmo ritmo que o galope do alazã o que se aproximava, e que estacou bem junto ao aviã o, balanç ando a cabeç a com forç a, com a bela crina ao vento e as narinas arfantes. O cavaleiro continuou sentado na sela, olhando o movimento dos homens que descarregavam os caixotes. — Oi, Robert — disse, observando Joanna com olhos que pareciam conter uma luz interna, como um relâ mpago. Usava um chapé u desabado, camisa xadrez e calç a de brim. Entã o, com determinaç ã o, ele desmontou e segurou as ré deas com a mã o esquerda. Com a direita empurrou o chapé u para trá s, deixando à mostra um rosto queimado pelo sol. Ele era bem alto e de aspecto rude, o tipo de pessoa que gostava de ter os pé s no chã o e rosto orgulhoso voltado para o cé u. O Chefe do Vale das Paineiras era um homem inteiramente sob o comando de si mesmo! — Você levou bastante tempo para aparecer de volta — reclamou ele, olhando de relance para Robert. Joanna admirou-se da semelhanç a entre os dois primos. Robert deu de ombros, levando aos lá bios o cigarro que fumava. — Arthur, esta é Joanna Dowling, a garota que veio ajudar no serviç o lá em casa. Joanna ficou absolutamente imó vel, à mercê dos seus nervos, mas tentando nada demonstrar. Aquele nã o era um homem que tivesse paciê ncia com temores femininos. Nã o se importaria nem um pouco se soubesse que ela estava morrendo de medo dele. O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 18 - — Quer dizer que foi essa moç a que o prendeu por tanto tempo em Baí a das Á guias? Você até se esqueceu de que precisá vamos daquela broca para a perfuradora, lá na Solidã o! — Nã o me esqueci, e Joanna só chegou de ô nibus ontem. Tive que esperar o conserto do dí namo. — Joanna? — Arthur levantou uma sobrancelha. Mas ao contrá rio de, Robert, que ficava mais atraente com esse gesto, ele parecia mais intimidador, — Bem, srta. Darling. poderia ter poupado essa viagem tã o cansativa. Nã o emprego mocinhas desprotegidas aqui na fazenda, por mais que meu primo queira... — Eu nã o sou! — interrompeu Joanna. vendo confirmados seus temores: ele era mesmo arrogante e detestá vel. — Nã o sou desprotegida e o meu nome é DOWLING! — Oh, perdoe-me... — Arthur sorriu deliberada mente, mostrando os dentes brancos. — Sobre o nome, quero dizer... mas tive mesmo a impressã o de que meu primo disse darling, Joanna tremia de raiva, os dedos agarrando com forç a a alç a da bolsa. — Como eu expliquei ao seu primo, sr. Corraine, desde crianç a, sempre vivi e trabalhei numa fazenda. Acho que seria justo que pelo menos me desse uma oportunidade, antes de me julgar. Acontece que sei perfeitamente qual é a extremidade de uma vaca que dá leite, e me sinto perfeitamente à vontade em qualquer cozinha. — Eu tenho uma turma grande de homens, que fazem diversas refeiç õ es todos os dias, srta, Dowling. Nã o posso imaginá -la sujando suas mã ozinbas em baldes de verduras, depenando galinhas e sovando massa de pã o. Aqui, o padeiro nã o vem todas as manhã s... e muitas vezes é preciso fritar duas dú zias de ovos no café da manhã para os rapazes solteiros. Os outros tomam café em casa, com a famí lia, claro. É esse o serviç o! Ajudar na cozinha e na casa, e, à s vezes, andar a cavalo com minha afilhada, ou jogar com ela uma partida de tê nis. Arthur parecia estar sentindo uma enorme satisfaç ã o em fazer a lista de todas as atividades. Joanna sentiu uma pontada de ó dio por aquele ditador, que provavelmente sempre fazia tudo o que queria, desde que seu avô morrera. Ela queria jogar-lhe no rosto que ficasse com o maldito emprego, mas. por outro lado, estava louca de vontade de provar que era capaz de fazer tudo o que ele enumerara. Joanna levantou o queixo e encarou-o direto nos olhos: — Gosta de apostar, sr. Corraine? — perguntou. Ele parecia surpreso. — Sou um australiano — resmungou Arthur. O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 19 - — Entã o proponho um jogo — disse ela, desafiante. — Aposto que nã o tem coragem de me deixar provar que sou capaz, e que, pelo menos uma vez, o senhor está errado. — Mocinha — sua voz soava perigosa, mas ele deu um sorriso irô nico — você é até bem atrevida, apesar de parecer muito frá gil. Em que tipo de fazenda viveu afinal? Algumas aves, duas vacas, verduras e frutas? — Sim. — Joanna se sentiu ferida pelo tom de desprezo que havia na voz de Arthur. Lembrando-se do mar de cabeç as de gado que avistara do aviã o, concordou que duas vacas e umas galinhas poderiam até parecer uma coisa engraç ada. — Pode ter sido num pequeno sí tio, mas tanto minha avó quanto eu trabalhá vamos e muito, tirando dali a nossa sobrevivê ncia. Os olhos de Arthur analisaram a moç a, os finos cabelos presos. , dando ao rosto um ar mais sé rio do que tinha na verdade. — Está bem — decidiu ele. — Pode ficar por quinze dias. Mas se nã o servir ou nã o se acostumar com a rotina das coisas, Robert a levará de volta à Baí a das Á guias, onde provavelmente encontrará um bom emprego em alguma butique ou hotel. — Acha mesmo que é só para isso que eu sirvo? — indagou ela indignada. — Nã o está acostumada ao campo aberto, e nem todos chegam a se habituar — afirmou ele, encarando-a seriamente. — Com toda a sinceridade, srta. Dowling, eu preferia uma garota daqui mesmo para o serviç o. A rapaziada vai ficar à sua volta, porque é nova por aqui, e eu nã o vou querer brigas e discussõ es por causa de uma mulher. — Eu lhe asseguro que... — Nã o me assegure nada — interrompeu ele, uma nota dura na voz. — Em trinta e trê s anos de vida eu aprendi que nã o se pode ser bonzinho. De um jeito ou de outro, isso só dá encrenca. O bom senso me diz para mandá -la imediatamente de volta, mas a carta de minha tia fez com que a senhorita acreditasse que serviria para o cargo. Por isso, tenho a obrigaç ã o de lhe dar uma oportunidade. — Nã o quero obrigá -lo a nada, sr. Corraine — retrucou Joanna com frieza. Robert, que desde o começ o procurava controlar o riso, nã o conseguiu mais se dominar e caiu na gargalhada, diante do atrevimento de Joanna. Com isso, atraiu a atenç ã o do resto dos homens, que olhando para os trê s, logo entendeu o que havia acontecido. Um agente catalizador havia chegado ao Vale das Paineiras, sob a forma de uma esbelta mocinha inglesa. Depois do primeiro encontro com o Chefe, Robert levou Joanna para casa num jipe. Ela ainda se sentia meio trê mula. Estava sentada ao lado dele, O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 20 - distraí da, vendo a plantaç ã o de seringueiras e as casuarinas que sombreavam a estrada, quando surgiu um bando de pá ssaros cor-de-rosa. — Sã o roselas — murmurou Robert. Joanna caiu em si e olhou para ele. — Está se referindo aos passarinhos? — Sim. Aqueles outros que estã o fazendo um barulhã o sã o as cacatuas. Sabe, você parece arrasada depois do encontro com Arthur. — Ele é sempre assim tã o brusco? — Sim, com estranhos é, principalmente se for mulher. — Entã o ele odeia as mulheres? — Nã o... As vezes eu acho que ele é apenas tí mido. — Tí mido? —exclamou Joanna, incré dula. — Alguns homens podem enfrentar um rebanho em disparada se pestanejar. Mas quando aparece uma doce garota... — Robert fez um curva apertada. — Eu lhe avisei que ele ia achar você delicadinha demais. — Que atrevimento! Sugerir que eu só servia para vender roupas... — Talvez fosse mesmo melhor um trabalho mais suave. Alé m disso se você ficasse lá em Baí a das Á guias, eu poderia visitá -la. Joanna observava o vale, com o verde das matas cortado pelas faixas prateadas dos regatos, e em sua mente fez comparaç ã o com a cidade, cheia
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