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Quando chegou ao interior da Austrália, Joanna logo percebeu o desafio que teria 2 страница



uma pessoa difí cil — disse ela, experimentando um pedaç o de torta de

banana e achando deliciosa. — Afinal, vai me levar até o Vale das Paineiras

para conhecer seu primo, e ter pelo menos uma oportunidade de ficar com o

emprego?

— E o que vai fazer se ele nã o aceitar você?

— Vou ficar muito desapontada.

— Já está meio intrigada com a fazenda e seus habitantes? —

Robert recostou-se na cadeira e estudou Joanna com os olhos apertados.

— Joanna, você é româ ntica demais, e parece tã o delicada quanto um

bichinho de pelú cia. O Chefe está querendo uma garota durona, que, alé m de

ajudar no serviç o domé stico, també m sirva de companhia quando Sally sair a

cavalo... —

Eu aprendi a lidar com cavalos quando ainda estava na escola —

interrompeu ela. — Nossa propriedade fica perto de uma famosa fazenda

de criaç ã o de cavalos.

— Nossos cavalos sã o muito mais bravos que os dos ingleses —

caç oou Robert. — Aqui nada é completamente manso. Nem homem, nem

animal.

— Sr. Corraine, se eu fosse do tipo medroso, nã o teria nem saí do da

Inglaterra. Na verdade, isso é um ponto favorá vel para mim, nã o acha?

Apesar de nã o ter uma aparê ncia rude, nã o sou covarde...

— Estou perfeitamente satisfeito com a sua aparê ncia, Joanna.

Joanna olhou para ele e desviou o olhar, pois seu sorriso era lento,

atraente, perigoso demais para uma garota tã o longe de casa... Ah, se

Robert Corraine fosse o todo-poderoso das Paineiras!

— Quer café ou prefere dar uma volta no jardim? — perguntou ele,

provocante. Sem deixar que ela respondesse, Robert estendeu-lhe a mã o.

Joanna enfrentou o desafio, estendendo-lhe a sua, sentindo o tato daquela

palma á spera pelo uso das ré deas, mas assim mesmo agradá vel de tocar.

— Será que você ficou com medo? — perguntou ele brincando,

enquanto a levava para fora. Quase nã o se escutava a mú sica do

restaurante, mas o perfume das flores era forte! Robert recostou-se numa

á rvore, ainda segurando a sua mã o. — Deixou algum namorado na

Inglaterra?

— Dú zias — retrucou ela brincando.

— Se isso fosse verdade, você nã o estaria tã o retraí da comigo... Está

morrendo de medo que eu beije você. Aposto que nunca foi beijada de

verdade.

O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear

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Livros Florzinha - 12 -

Joanna olhava para Robert, imaginando como seria ser abraç ada por

aquele rapaz musculoso e simpá tico, que iria beijá -la como já devia ter

beijado dezenas de outras garotas. Nã o. ela é que nã o ia ser mais um nome

em sua lista de conquistas! Nenhum homem iria beijá -la apenas porque as

estrelas brilhavam e porque o ar estava perfumado. O homem que fosse

beijá -la pela primeira vez, teria que desejar aquilo mais do que tudo no

mundo.

— Eu nã o pensava que os rancheiros fossem tã o namoradores. Achei

que estivessem sempre no campo, cuidando do gado.

— Namorar uma garota bonita é coisa que todo homem faz com

naturalidade — disse Robert, passando de leve a mã o no braç o dela. —

Joanna, você está muito tensa, como se nã o pudesse esquecer o conselho da

vovó, para ter cuidado com os rapazes. Mas é um perigo gostoso, faz parte

da vida...

— O senhor está querendo me namorar porque acha que nã o vou ficar

trabalhando na fazenda. Arthur Corraine parece ser do tipo que nã o gosta

de ver a criadagem envolvida com o primo!

Robert largou Joanna e estendeu as mã os para o cé u estrelado.

— Você é uma pessoa fria e controlada, nã o é, Joanna Dowling? Será

que é fria assim inteirinha?

— Sou apenas uma moç a sensata — retrucou ela, sabendo que a

maioria dos homens odiava aquela palavra. — Minha irmã é quem brilha. Ela é

que é a pessoa fabulosa da famí lia.

— Linda como um quadro...

— Sim, mas ela també m sabe o que quer. Tenho certeza de que

qualquer dia desses vai ficar famosa. Ela tem personalidade.

— E você, o que quer da vida, Joanna? — Robert tirou um cigarro,

ofereceu outro a ela, que recusou, e ficou observando-a à luz do isqueiro.

Depois fechou-o com um dique e a fumaç a subiu, misturando-se com o

cheiro das flores.

Joanna nunca havia pensado na Austrá lia como uma terra româ ntica.

Mas aquele paí s o era, de um modo muito sutil e perturbador. Ela nunca se

preocupara muito com o que queria. Nã o era ambiciosa como Judy. Naquela

terra, poré m, começ ava a sentir certo desassossego, um desejo sem nome.

— Como a maioria das pessoas, eu quero... a felicidade — murmurou.

— E a felicidade pode ser definida, Joanna? — De repente, na voz

dele havia uma sú bita seriedade, e ela ficou pensando por quê. Afinal,

Robert Corraine devia ter a maior parte das coisas que trazem

a felicidade. Tinha um lugar seguro na fazenda, e provavelmente ganhava

bastante dinheiro. Era inteligente, atraente e podia aproveitar as alegrias

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Livros Florzinha - 13 -

da vida. Ela nã o podia imaginar o que estaria lhe faltando, a nã o ser uma

esposa. Mas, pelo jeito dele, estava melhor solteiro que casado.

— A felicidade é uma bolha, brilha por um instante e logo acaba —

disse ela, por fim.

— Uma coisa fugidia... — A luzinha do cigarro brilhou forte e depois

diminuiu novamente. — Você já andou de aviã o nas horas calmas da

madrugada?

— Nã o. — À luz do cigarro, Joanna viu que ele sorria, e admirou-se

por ter conhecido Robert há tã o pouco tempo. Havia nele alguma coisa que

dava a idé ia de que fossem velhos amigos. Era uma sensaç ã o

estranha, e ela julgou que aquela fantasia se devia à longa viagem que fizera

pelo cé u.

— Joanna, nó s vamos voar por entre as estrelas esta noite, e você

vai ver o. Vale das Paineiras com o sol nascendo, deixando tudo dourado.

Talvez eu esteja sendo cruel em deixar que você veja a fazenda desse modo

pela primeira vez, mas sei que é do tipo que se apaixona por um lugar à

primeira vista...

— Cruel, por que talvez Arthur nã o me deixe ficar?

— Você disse que ia enfrentar essa possibilidade. Ele é do tipo que

pega o que quer para a fazenda, assim como se descarta sem hesitaç ã o do

que nã o acha necessá rio.

— Arthur, o durã o — murmurou ela, sentindo que o Chefe devia ser

um homem mais fá cil de ser odiado que amado.

De repente sentiu-se indecisa: — se ia se apaixonar pelo Vale das

Paineiras talvez fosse melhor nem ir até lá. Robert chegou mais perto e

segurou seu queixo.

— Nã o perca a coragem, Joanna Dowling. Se meu primo nã o deixar

você ficar na fazenda, eu me caso com você.

Joanna percebeu um tom de humor na voz dele. Sabia que Robert

estava brincando e afastou-se rindo.

— Nã o devia sair por aí falando uma coisa dessas. Qualquer dia uma

garota aceita e você acaba preso a uma esposa a quem nã o ama de verdade...

— Joanna, será que você nunca age no impulso do momento?

— Sou sensata demais, já disse!

— Você? — ele riu outra vez e passou o dedo lentamente pelo rosto

dela. — É tã o sensata quanto um canguruzinho na bolsa da mã e. Se você já

está com um pouco de medo de mim, nã o sei como irá fazer para enfrentar

Arthur. Nem ela mesma sabia, mas aquilo era uma coisa para pensar só no dia

seguinte. Nessa noite ela iria voar pelo cé u da Austrá lia, e seu piloto seria

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Livros Florzinha - 14 -

esse rapaz bronzeado, de olhos azuis tã o expressivos. Um rapaz para nã o

ser levado a sé rio, mas ao mesmo tempo muito perturbador.

— Seu aviã o é grande? — perguntou ela.

— É um monomotor de dois lugares — disse ele, enquanto voltavam

para o hotel. — Eu o chamo de Magrela, mas é bom de voar, e leva uma boa

quantidade de carga. Leva suprimentos para a fazenda, que fica a uns 160

quiló metros da cidade mais pró xima. A correspondê ncia vem de aviã o,

assim como o mé dico, quando necessá rio. No mais, somos uma comunidade

relativamente independente. É quase como no sistema feudal, com o vilarejo

à volta do castelo, onde o senhor é Arthur.

— E você quem é? Um dos cavaleiros do feudo?

Nesse instante, haviam chegado ao terraç o, Joanna olhou para ele,

achando que nã o era tã o difí cil imaginá -lo como um cavaleiro medieval, que

iria levá -la para seu castelo...

— Joanna — disse ele sorrindo. — Você é româ ntica demais.

CAPITULO II

O sol já estava raiando quando Joanna acordou.

— Tem café na garrafa, atrá s de você — avisou Robert, sorrindo. Ela

abriu os olhos meio espantada, os cabelos castanhos em desalinho. — Sirva

duas canecas... logo estaremos sobrevoando o vale.

— Eu, dormi... —disse ela. ainda meio sonolenta.

— Foi — concordou ele. — E no meu ombro!

Meio confusa, Joanna conseguiu encontrar a garrafa dentro de uma

caixa. Voar pela noite estrelada tinha sido uma experiê ncia estranha, meio

má gica. Ela percebeu, ansiosa, que logo iriam chegar e descer na pista

particular da fazenda.

Q café havia se conservado quente e saboroso e ajudou-a a acordar

de vez, fazendo com que reparasse na paisagem abaixo deles. Era uma

floresta densa, que se estendia sobre uma serra, por onde os rios corriam

como fitas prateadas.

— É uma floresta nativa — explicava Robert. — Cheia de cipó s,

á rvores de espinhos e enormes morcegos. A á rvore de espinhos é terrí vel,

se esconde entre samambaias e belas trepadeiras. Isso aí é um belo lugar

para caç adas, mas eu prefiro o campo aberto, onde se pode ver tudo o que

acontece. — Robert riu da cara espantada de Joanna e continuou: — Eu

avisei que as coisas aqui eram selvagens. Estamos a uma enorme distâ ncia da

civilizaç ã o, e a vida continua sendo a mesma, como a que levavam os

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Livros Florzinha - 15 -

primeiros Corraine, eles chegaram da Inglaterra e atravessaram o paí s em

carroç õ es. Era apenas um casal, e o primeiro filho nasceu no caminho.

— Você deve ter orgulho de ser forte e auto-suficiente, nã o é

verdade. Robert? — Agora ela conseguia dizer o nome dele sem tanta

inibiç ã o. Afinal, parecia ridí culo chamar pelo sobrenome o homem com quem

ela voara por entre as estrelas e em cujo ombro dormira.

— Está no sangue, Joanna. A gente nã o saberia levar outro tipo de

vida. Quando Arthur e eu ainda é ramos crianç as, í amos levar a boiada junto

com os vaqueiros. Aprendemos muito cedo o que é a vida dura de um

boiadeiro, e també m o doce encanto das toadas ao pé das fogueiras dos

acampamentos. Sabemos o que é dormir numa rede, em noites

quentes ou de vento frio e cortante.

— Mas você també m parecia perfeitamente à vontade sobre as ondas

em Baí a das Á guias — disse Joanna, lembrando-se daquele corpo

bronzeado coberto de espuma.

— Entã o, você me viu! —exclamou orapaz.

— Sim, vi você fazendo surfe. Havia uma garota esperando-o na

praia.

— Um vaqueiro de folga tem certas regalias, Joanna.

— Claro — retrucou ela. — O que eu quis dizer é que você é muito

mais sofisticado do que eu imaginava.

— Raramente as pessoas sã o como imaginamos... Aposto como o

Chefe vai levar um susto quando vir você. Olhe, Joanna: estamos voando por

cima dos rebanhos!

Joanna olhou pela janelinha, e lá embaixo estava a massa de costados

vermelhos contra o capim das colinas. Eram tantos que ela prendeu o fô lego.

Misturados ao gado estavam os vaqueiros, que, daquela altura, pareciam de

brinquedo.

— Nunca vi nada parecido com isso! Nã o é perigoso andar com o

cavalo no meio daquela massa de animais?

— A gente acaba se acostumando — explicou Robert. — O pior é

tocar a boiada quando o dia está quente e seco. O gado fica nervoso. As

coisas ficaram mais fá ceis desde que Arthur resolveu transportar o gado

com as carretas. Adam, meu avô. nã o teria gostado de toda

essa modernizaç ã o, mas temos que acompanhar o progresso e levar o gado,

o mais gordo possí vel, até os centros consumidores.

— Os homens começ am a trabalhar cedo — comentou Joanna, pois o

sol começ ava a despontar sobre as montanhas.

— E geralmente terminam o serviç o ao meio-dia, quando o sol está

alto e todos param para descansar. Agora estamos sobrevoando o vale! Veja

os penhascos e o despenhadeiro... lá esta a ponte que leva à casa da

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fazenda, e logo atrá s da sede, como um jardim selvagem, o bosque das

paineiras. O vale, a floresta e tudo a seu redor pertencem aos Corraine. É o

nosso mundo, e aqui só entra quem a gente quiser.

Robert deu uma volta sobre o vale, antes de descer na pista, a alguns

quiló metros de distâ ncia da sede.

— Aqui estamos — disse ele, levantando uma sobrancelha ao notar

que Joanna prendia os cabelos e assumia novamente o olhar calmo e

sossegado. — Sabe, eu prefiro você com os cabelos em desordem.

— É a seu primo que eu preciso impressionar. . Pronto, estou nova em

folha — disse ela. guardando o batom e o pente na bolsa, e sorrindo para

Robert. Ainda vestia o blusã o forrado de pele de carneiro que ele lhe

emprestara. Era um casaco muito grande, o que fazia com que ela parecesse

perdida dentro dele. Os raios de sol atingiram o aviã o e brilharam na pele

clara e nos cabelos de Joanna. Robert chegou mais perto, como se ela o

puxasse como um imã.

— Arthur nã o tem nada com isso, se eu quiser confraternizar com a

criadagem — ele disse com um jeito maroto.

— Eu ainda nã o fui contratada — disse ela alarmada, porque a cabine

era muito pequena. — Será que nã o é melhor a gente descer? —

perguntou aflita.

— Está tã o ansiosa assim para se encontrar com o Chefe?

— Quando o remé dio é amargo, é melhor bebê -lo depressa, diria

minha avó.

— Acho que nesta hora o remé dio nã o vai fazer efeito. Você se

lembra do que eu disse na noite passada, no caso de Arthur nã o aceitá -la?

— Aquilo foi bobagem. Efeito do champanhe.

— Quer que eu prove que o champanhe nã o tinha nada com o caso? —

insinuou ele, chegando mais perto. Joanna já estava segurando-o à

distâ ncia, com as mã os em seus ombros, quando um punhado de

pedrinhas bateu contra a janela da cabine. Robert olhou para fora, e ali na

pista, abaixo do aviã o, alguns homens abanavam os braç os.

— Bem na hora... — resmungou Robert. — O pessoal quer

descarregar o aviã o, e acho melhor levar você para conhecer o Chefe.

Joanna, ele nã o é como eu, a nã o ser talvez no fí sico. O que eu quero dizer

é...

— Eu sei o que quer dizer. — Ele nã o vai levar em conta o fato de eu

estar tã o longe de casa e nem de ter os cabelos castanhos...

Robert acabou sorrindo.

— Alé m de coragem e forç a de vontade, você tem senso de humor. Eu

poderia me casar mesmo, com uma garota assim, Joanna.

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— O casamento é uma coisa muito sé ria, sr. Corraine. Nã o se pode

começ ar, como se fosse apenas praticar algum esporte, e depois largar, se

ficar monó tono demais. É um relacionamento para durar a vida toda!

— Viva! Uma garota de ideais! — Ele sorria com malí cia. — A gente

já tem o nosso pró prio inferno, mas o cé u depende de mais algué m,

nã o acha? — É isso que é o amor, nã o é? — disse ela com simplicidade.

— Dito assim, parece ó timo. O problema é encontrar... — Robert

abriu a porta da cabine, e Joanna sentiu de repente o calor do sol e o cheiro

do mato, ao descer do aviã o. Os homens que haviam vindo

descarregar o monomotor olhavam espantados para aquela

figurinha esbelta, com o casaco grosso por cima do vestido plissado. Nã o

havia dú vidas de que eles nunca tinham visto algué m parecido no Vale das

Paineiras.

Joanna deixou o pessoal pasmo, mas subitamente o silê ncio se

quebrou com o ruí do de cascos. Os homens se viraram depressa para ver

quem vinha. Um deles gritou:

— É o Chefe! É melhor começ ar logo a descarregar esse aviã o!

O coraç ã o de Joanna batia no mesmo ritmo que o galope do alazã o que

se aproximava, e que estacou bem junto ao aviã o, balanç ando a cabeç a com

forç a, com a bela crina ao vento e as narinas arfantes. O cavaleiro continuou

sentado na sela, olhando o movimento dos homens que descarregavam os

caixotes.

— Oi, Robert — disse, observando Joanna com olhos que pareciam

conter uma luz interna, como um relâ mpago. Usava um chapé u desabado,

camisa xadrez e calç a de brim. Entã o, com determinaç ã o, ele desmontou e

segurou as ré deas com a mã o esquerda. Com a direita empurrou o chapé u

para trá s, deixando à mostra um rosto queimado pelo sol.

Ele era bem alto e de aspecto rude, o tipo de pessoa que gostava de

ter os pé s no chã o e rosto orgulhoso voltado para o cé u. O Chefe do Vale

das Paineiras era um homem inteiramente sob o comando de si mesmo!

— Você levou bastante tempo para aparecer de volta — reclamou ele,

olhando de relance para Robert. Joanna admirou-se da semelhanç a entre os

dois primos. Robert deu de ombros, levando aos lá bios o cigarro que fumava.

— Arthur, esta é Joanna Dowling, a garota que veio ajudar no

serviç o lá em casa.

Joanna ficou absolutamente imó vel, à mercê dos seus nervos, mas

tentando nada demonstrar. Aquele nã o era um homem que tivesse paciê ncia

com temores femininos. Nã o se importaria nem um pouco se soubesse que

ela estava morrendo de medo dele.

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— Quer dizer que foi essa moç a que o prendeu por tanto tempo em

Baí a das Á guias? Você até se esqueceu de que precisá vamos daquela broca

para a perfuradora, lá na Solidã o!

— Nã o me esqueci, e Joanna só chegou de ô nibus ontem. Tive que

esperar o conserto do dí namo.

— Joanna? — Arthur levantou uma sobrancelha. Mas ao contrá rio de,

Robert, que ficava mais atraente com esse gesto, ele parecia

mais intimidador, — Bem, srta. Darling. poderia ter poupado essa viagem

tã o cansativa. Nã o emprego mocinhas desprotegidas aqui na fazenda,

por mais que meu primo queira...

— Eu nã o sou! — interrompeu Joanna. vendo confirmados

seus temores: ele era mesmo arrogante e detestá vel. — Nã o sou

desprotegida e o meu nome é DOWLING!

— Oh, perdoe-me... — Arthur sorriu deliberada mente, mostrando os

dentes brancos. — Sobre o nome, quero dizer... mas tive mesmo a

impressã o de que meu primo disse darling,

Joanna tremia de raiva, os dedos agarrando com forç a a alç a da

bolsa.

— Como eu expliquei ao seu primo, sr. Corraine, desde crianç a,

sempre vivi e trabalhei numa fazenda. Acho que seria justo que pelo menos

me desse uma oportunidade, antes de me julgar. Acontece que sei

perfeitamente qual é a extremidade de uma vaca que dá leite, e me sinto

perfeitamente à vontade em qualquer cozinha.

— Eu tenho uma turma grande de homens, que fazem

diversas refeiç õ es todos os dias, srta, Dowling. Nã o posso imaginá -la

sujando suas mã ozinbas em baldes de verduras, depenando galinhas e

sovando massa de pã o. Aqui, o padeiro nã o vem todas as manhã s... e muitas

vezes é preciso fritar duas dú zias de ovos no café da manhã para os

rapazes solteiros. Os outros tomam café em casa, com a famí lia, claro. É

esse o serviç o! Ajudar na cozinha e na casa, e, à s vezes, andar a cavalo com

minha afilhada, ou jogar com ela uma partida de tê nis.

Arthur parecia estar sentindo uma enorme satisfaç ã o em fazer a

lista de todas as atividades. Joanna sentiu uma pontada de ó dio por aquele

ditador, que provavelmente sempre fazia tudo o que queria, desde que seu

avô morrera. Ela queria jogar-lhe no rosto que ficasse com o maldito

emprego, mas. por outro lado, estava louca de vontade de provar que era

capaz de fazer tudo o que ele enumerara. Joanna levantou o queixo e

encarou-o direto nos olhos:

— Gosta de apostar, sr. Corraine? — perguntou. Ele parecia surpreso.

— Sou um australiano — resmungou Arthur.

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— Entã o proponho um jogo — disse ela, desafiante. — Aposto que nã o

tem coragem de me deixar provar que sou capaz, e que, pelo menos uma vez,

o senhor está errado.

— Mocinha — sua voz soava perigosa, mas ele deu um sorriso irô nico

— você é até bem atrevida, apesar de parecer muito frá gil. Em que tipo de

fazenda viveu afinal? Algumas aves, duas vacas, verduras e frutas?

— Sim. — Joanna se sentiu ferida pelo tom de desprezo que havia na

voz de Arthur. Lembrando-se do mar de cabeç as de gado que avistara do

aviã o, concordou que duas vacas e umas galinhas poderiam até parecer uma

coisa engraç ada. — Pode ter sido num pequeno sí tio, mas tanto minha avó

quanto eu trabalhá vamos e muito, tirando dali a nossa sobrevivê ncia.

Os olhos de Arthur analisaram a moç a, os finos cabelos presos.

, dando ao rosto um ar mais sé rio do que tinha na verdade.

— Está bem — decidiu ele. — Pode ficar por quinze dias. Mas se nã o

servir ou nã o se acostumar com a rotina das coisas, Robert a levará de volta

à Baí a das Á guias, onde provavelmente encontrará um bom

emprego em alguma butique ou hotel.

— Acha mesmo que é só para isso que eu sirvo? — indagou ela

indignada.

— Nã o está acostumada ao campo aberto, e nem todos chegam a se

habituar — afirmou ele, encarando-a seriamente. — Com toda a

sinceridade, srta. Dowling, eu preferia uma garota daqui mesmo para o

serviç o. A rapaziada vai ficar à sua volta, porque é nova por aqui, e eu nã o

vou querer brigas e discussõ es por causa de uma mulher.

— Eu lhe asseguro que...

— Nã o me assegure nada — interrompeu ele, uma nota dura na voz. —

Em trinta e trê s anos de vida eu aprendi que nã o se pode ser bonzinho. De

um jeito ou de outro, isso só dá encrenca. O bom senso me diz para

mandá -la imediatamente de volta, mas a carta de minha tia fez com que a

senhorita acreditasse que serviria para o cargo. Por isso, tenho

a obrigaç ã o de lhe dar uma oportunidade.

— Nã o quero obrigá -lo a nada, sr. Corraine — retrucou Joanna com

frieza.

Robert, que desde o começ o procurava controlar o riso, nã o conseguiu

mais se dominar e caiu na gargalhada, diante do atrevimento de Joanna. Com

isso, atraiu a atenç ã o do resto dos homens, que olhando para os trê s, logo

entendeu o que havia acontecido. Um agente catalizador havia chegado ao

Vale das Paineiras, sob a forma de uma esbelta mocinha inglesa.

Depois do primeiro encontro com o Chefe, Robert levou Joanna para

casa num jipe. Ela ainda se sentia meio trê mula. Estava sentada ao lado dele,

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distraí da, vendo a plantaç ã o de seringueiras e as casuarinas que

sombreavam a estrada, quando surgiu um bando de pá ssaros cor-de-rosa.

— Sã o roselas — murmurou Robert. Joanna caiu em si e olhou para

ele. — Está se referindo aos passarinhos?

— Sim. Aqueles outros que estã o fazendo um barulhã o sã o

as cacatuas. Sabe, você parece arrasada depois do encontro com Arthur.

— Ele é sempre assim tã o brusco?

— Sim, com estranhos é, principalmente se for mulher. — Entã o ele

odeia as mulheres?

— Nã o... As vezes eu acho que ele é apenas tí mido.

— Tí mido? —exclamou Joanna, incré dula.

— Alguns homens podem enfrentar um rebanho em disparada se

pestanejar. Mas quando aparece uma doce garota... — Robert fez um curva

apertada. — Eu lhe avisei que ele ia achar você delicadinha demais.

— Que atrevimento! Sugerir que eu só servia para vender roupas...

— Talvez fosse mesmo melhor um trabalho mais suave. Alé m disso se

você ficasse lá em Baí a das Á guias, eu poderia visitá -la.

Joanna observava o vale, com o verde das matas cortado pelas faixas

prateadas dos regatos, e em sua mente fez comparaç ã o com a cidade, cheia



  

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