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Quando chegou ao interior da Austrália, Joanna logo percebeu o desafio que teria 1 страница
O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 1 - Quando chegou ao interior da Austrá lia, Joanna logo percebeu o desafio que teria de enfrentar. Sem dinheiro e sozinha naquela terra agreste, tinha que conseguir emprego na fazenda Vale das Paineiras de qualquer maneira. E, para isso, devia provar ao dono, o arrogante Arthur Corraine, que ela era uma mulher forte e decidida, apesar da aparê ncia frá gil. Começ ou, entã o, a trabalhar feito uma escrava. Só sentia prazer quando Robert, o româ ntico primo do patrã o, lhe fazia galanteios. Mas Arthur nã o estava disposto a vê -la nos braç os de outro. Por trá s daqueles olhos cinzentos havia um desejo de posse tã o grande, que Joanna nã o podia imaginar. O destino de Joanna “Raintree Valley” Violet Winspear O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 2 - CAPÍ TULO I Depois de atravessar um grande canavial, o ô nibus deixou para trá s a paisagem tipicamente tropical, que durante muitas horas ocupara o olhar pensativo de Joanna. Agora, sentia-se no ar um cheiro de maresia, denunciando a proximidade do litoral. Joanna olhava pela janela, imaginando se o emprego que arranjara seria tã o agradá vel quanto o nome do lugar para onde estava indo: Vale das Paineiras. Era um nome româ ntico, mas no fim da viagem talvez ela ficasse desapontada. Soltou um suspiro e recebeu um olhar atento do passageiro ao lado, que reparou també m nos seus cabelos castanhos, no conjunto azul que usava, e em suas mã os finas e sem ané is. Joanna Dowling parecia ser uma pessoa calma e controlada, até meio reservada, mas agora estava tensa e nervosa. Joanna tinha vindo da Inglaterra para a Austrá lia, para morar com sua irmã gê mea, Judy. sem imaginar que esta continuava tã o impulsiva e irresponsá vel como quando saí ra de casa, aos dezesseis anos, para trabalhar no teatro, ainda em Londres. Judy era independente, alegre e atraente, apenas uma hora mais moç a do que Joanna, mas completamente diferente dela. Sempre detestara a escola, a nã o ser as aulas de danç a. Nunca achara a menor graç a em morar numa fazenda, junto com uma avó meio severa. Conseguira uma vaga num corpo de baile e, quando o espetá culo se transferiu para a Austrá lia, Judy havia ido junto, terminando por arranjar emprego num teatro em Sí dnei. Um dia Joanna recebera uma carta de sua irmã, sugerindo que ela també m fosse para lá: " Querida, você tem que tocar para a frente", Judy havia escrito. " Agora que vovó vai vender a fazenda e morar com a irmã, você nã o precisa mais se sentir responsá vel por ela. Devia vir para cá, viver sua pró pria vida. Venha para a Austrá lia! Vamos viver juntas. " A avó nã o tinha gostado muito da idé ia. — Preste atenç ã o — dissera. — Você vai ver que, de repente, Judy largará você na mã o, para se aventurar por outro canto qualquer. Ela é igualzinha ao pai, que arrastou sua mã e pelo mundo todo, sem criar raí zes em nenhum lugar. Judy puxou por ele, é encantadora e egoí sta. Olhe o que eu digo: ela está chamando você para a Austrá lia, mas nã o vai se prender por isso! E acontecera exatamente o que a avó havia dito: as gê meas acabaram nã o se encontrando. O gerente do teatro ficara com a tarefa de explicar a Joanna que a irmã havia ido para a Nova Zelâ ndia, estrelar um musical. A oportunidade aparecera de repente, e ela nã o a podia perder... Judy havia O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 3 - deixado milhõ es de abraç os, tinha certeza de que Joanna iria se firmar na Austrá lia, longe da barra da saia da avó... Joanna ficou meio perdida durante umas duas semanas. O contrato de aluguel do apartamento de Judy havia vencido, e Joanna acabou indo para um hotelzinho barato. Foi na saleta daquele hotel que uma outra hó spede, uma. senhora viú va, sugeriu que ela procurasse trabalho em uma das fazendas de criaç ã o de gado, onde uma garota criada no campo sempre acharia serviç o. Joanna examinou as pá ginas de anú ncios de diversos jornais e teve sua atenç ã o despertada por um deles. Era o de uma fazenda de criaç ã o de gado, onde precisavam de uma moç a para ajudar no serviç o da casa e para fazer companhia a uma jovem. A sede estava situada num lugar chamado Vale das Paineiras. Ao contrá rio da irmã, Joanna nunca apreciara muito as luzes da cidade, e, apesar de poder achar emprego facilmente num dos hoté is de Sí dnei, gostava muito do campo. O Vale das Paineiras parecia ser o local apropriado. Ela respondeu ao anú ncio e perguntou à viú va se já ouvira falar, daquele lugar. A velha respondeu que a Austrá lia era um paí s enorme e que talvez ficasse em Queensland. Vá rios dias se passaram, sem que houvesse nenhuma resposta. Joanna tinha algumas esperanç as, mas nã o muitas. Aquela gente do Vale das Paineiras talvez preferisse empregar uma garota australiana, e nã o uma recé m-chegada da Inglaterra, pouco acostumada aos costumes da terra. Mas, para sua alegria, ela recebeu uma resposta positiva. Vinha escrita num ó timo papel de carta, numa bela e antiga caligrafia, e era assinada pela srta. Carolina Corraine. As instruç õ es eram precisas: Joanna deveria tomar um ô nibus para Brisbane e descer num pequeno povoado. Baí a das Á guias, onde algué m da famí lia Corraine a encontraria para levá -la até o Vale das Paineiras. Em Baí a das Á guias havia um pequeno hotel, chamado O Peixe-espada, e ali Joanna seria procurada pelo sr. Robert Corraine. Agora, ali no ô nibus. ela e diversos outros passageiros apanhavam as bagagens de mã o, preparando-se para descer. Joanna deu um retoque no batom claro que usava e ajeitou melhor os cabelos. A carta da srta. Corraine tinha um charme nostá lgico, e. por isso, Joanna acreditava que Baí a das Á guias fosse um lugarejo bem antigo. Entretanto, era um lugar moderno, com sorveterias e butiques bastante movimentadas, na avenida à beira-mar. Suas praias estavam repletas de jovens praticando o surfe. As cores vivas do lugar deixaram Joanna meio desapontada. Provavelmente, há muito tempo a srta. Carolina Corraine nã o vinha a esse O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 4 - lugar. Na carta, ela transmitira a idé ia de um lugar calmo e antiquado, sem a invasã o do turismo. Mas até o hotel era moderno, brilhante e cheio de painé is de vidro. Joanna indagou na recepç ã o sobre o sr. Robert Corraine. Disseram-lhe que ele estava na praia, e que a encontraria no bar à s seis horas da tarde. Se ela desejasse, poderia usar o apartamento dele para descansar um pouco, depois da longa viagem. — Oh... obrigada — disse ela, aceitando a chave. Sentia-se acalorada peia viagem, e bem que gostaria de um chuveiro. — Talvez fosse melhor eu me registrar e ficar com um quarto... — começ ou, mas o funcioná rio sacudiu a cabeç a. — O hotel está lotado, senhorita. Alé m disso, acredito que o sr. Robert vá embora hoje, depois do jantar, e a senhorita vai com ele, nã o é verdade? Ele veio em seu aviã o particular... — Aviã o? — ecoou Joanna, percebendo que havia se envolvido com pessoas que nã o eram simples fazendeiros. O recepcionista sorriu para ela, notando, pela pronú ncia, que Joanna era da Inglaterra, e que nã o devia conhecer o homem com quem iria se encontrar. — O sr. Corraine avisou quando voltaria? — perguntou Joanna, meio apreensiva. — Ah, senhorita... quando um australiano entra na á gua... Ele deve estar de volta só ao anoitecer. — Claro... — respondeu ela, sentindo um arrepio de expectativa. Robert Corraine era australiano, e ela iria trabalhar para a famí lia dele. Estranhamente, talvez por influê ncia da carta da srta. Carolina, Joanna imaginara que a famí lia fosse inglesa també m. Um carregador subiu com ela no elevador, levando suas malas até um dos melhores apartamentos do hotel. Joanna tomou um banho morno, e colocou um vestido leve, sem mangas e de saia plissada. Arrumou os cabelos em frente ao espelho, reparando que estava meio pá lida. Beliscou o rosto, pensando em Judy, em como ela estaria se saindo na Nova Zelâ ndia. A irmã era bem diferente dela. Nã o ligava muito para as coisas sé rias da vida, enquanto que Joanna sempre se preocupava com o futuro. Agora mesmo, pensava que no dia seguinte, nessa mesma hora, já estaria instalada no Vale das Paineiras, a milhares de quiló metros da avó e da fazenda, onde passara a maior parte dos seus vinte e um anos. Joanna gostava de animais, do cheiro da chuva caindo na terra, do barulho que as galinhas faziam quando vinham comer milho no pá tio cheio de sol. Nã o tinha medo do trabalho pesado, mas se sentia apreensiva em relaç ã o aos Corraine. O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 5 - Desceu, levando as malas, e pediu ao rapaz da portaria que olhasse por elas enquanto dava uma volta. Saiu pelas portas de vaivé m, reparando que era bem diferente das garotas queimadas de sol que passavam pela calç ada. Alé m disso, Joanna era uma garota um tanto tí mida e retraí da. Seus olhos eram meio cinza, e ela nunca encontrara um homem que chegasse tã o perto para descobrir que eles tinham pontinhos azuis. A baí a estava ensolarada, barcos de velas coloridas corriam sobre as á guas azuis. Joanna atravessou a rua e começ ou a andar pelo jardim que beirava a praia, observando os surfistas e imaginando qual deles seria Robert Corraine, que pilotava seu pró prio aviã o e que logo iria levá -la até o Vale das Paineiras. Comprou um sorvete de abacaxi, e escutou uma garota rindo na praia, mais abaixo. Ela abanava o braç o para um rapaz de pé, numa prancha, no meio de uma onda prestes a arrebentar. Joanna observava o rapaz. Era como uma está tua de bronze, os pé s firmes na prancha, enfrentando a onda numa manobra perfeita, levando apenas alguns borrifos de espuma. — Robert... — a moç a riu novamente, quando o rapaz se aproximou — nã o há nada que derrube você, nã o é verdade? — Uma onda nã o é nada, comparada a um touro selvagem. E eu já joguei muitos deles no chã o... — gritou ele, rindo també m. — Sou um Corraine! Joanna reparou no tom de arrogâ ncia na voz do rapaz. Resolveu voltar para o hotel e esperar o anoitecer. Já soprava a brisa fresca do entardecer quando Robert Corraine entrou na sala de estar do hotel, à procura de Joanna. As luzes dos candelabros refletiam-se nos seus cabelos castanhos, quando ela levantou o rosto e encarou pela primeira vez o impacto daqueles olhos azul-escuros. Ele estava de terno e fumava um cigarro. — Você deve ser Joanna Dowling — disse o rapaz, e Joanna lembrou-se da voz que ouvira na praia, firme e segura, demonstrando uma cultura muito maior do que a que se deveria esperar de um rancheiro. Ele pronunciava seu nome como se fosse darling, " querida", e Joanna sentiu que corava. — Deve ser o sr. Corraine — respondeu ela, levantando-se. Notou um ar de surpresa nos olhos dele e imaginou que devia ser muito diferente da garota de corpo escultural que brincara com ele na praia. — Gostaria de tomar um aperitivo aqui mesmo, antes do jantar? Sei que você quer me fazer algumas perguntas sobre o Vale das Paineiras, e o bar fica meio barulhento quando chega a turma da praia. O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 6 - — Sim, é verdade, estou meio curiosa sobre o Vale das Paineiras. E acho que també m deve ter algumas perguntas para me fazer, sr. Corraine. — Sim. Em sua carta para minha tia você disse que estava acostumada com o serviç o domé stico, e que també m sabia ajudar numa fazenda. Espero que tenha dito a verdade. — A verdade? — exclamou Joanna, meio aborrecida, mas també m divertida, vendo que ele duvidava da sua capacidade. — Posso lhe dizer que sei muito bem distinguir um cavalo de uma vaca, senhor. Sei fazer pã o caseiro, limpar um paiol, alimentar os porcos e preparar salada de rabanetes. Será que o senhor sabe fazer tudo isso? Ele ergueu uma sobrancelha diante da resposta e depois caiu na risada. Era o som mais agradá vel que ela já ouvira, meio iró nico, meio indulgente... — Admito que nunca fiz uma salada de rabanetes, mas, veja bem, você parece muito frá gil e delicada para suportar por muito tempo o sol quente lá do lugar. A fazenda fica na regiã o tropical, sabia? — Desconfiava — disse ela seca. — As paineiras crescem nos lugares quentes, nã o é mesmo? — E as flores inglesas nã o aguentam... — comentou ele com um brilho nos olhos. — Ter que enfrentar o clima tropical e os Corraine ao mesmo tempo pode fazer você murchar... — Será que os Corraine sã o assim tã o terrí veis? — Acho melhor arranjar um aperitivo para nó s, antes de responder — disse Robert, virando-se para um garç om que acabava de entrar. — Como você é do campo, acho melhor eu pedir. — Gostaria de gim com abacaxi — retrucou ela, calmamente. — Entã o gosta de abacaxi? — Muito. — Nó s temos uma plantaç ã o, na fazenda. Joanna ajeitou a saia plissada, que marcava suas pernas bem torneadas. Usava sandá lias e sentiu quando Robert a observou dos pé s à cabeç a. — Acho melhor nã o levar você para lá — disse ele por fim. — Sua tia me contratou para ajudar nos serviç os domé sticos, sr. Corraine, e nã o para trabalhar nos currais — respondeu ela. os olhos brilhando. — É bem decidida, hein? — disse o rapaz, recostando-se na cadeira e encarando Joanna. Ele era uma figura muito atraente, queimado do sol, os olhos muito azuis, um homem que garota alguma poderia ignorar... — Tia Carol gosta de gente assim — acrescentou ele, com um sorriso. O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 7 - — Sr. Corraine, estou achando isso meio estranho. O senhor diz que sua tia vai gostar de mim, mas insinua que nã o sirvo para o emprego... — Sabia que seus olhos mudam de azul para cinzento quando fica preocupada? — Ainda nã o fiz um estudo pormenorizado sobre meus olhos — retrucou Joanna. — Prefiro conversar sobre meu trabalho. Foi por causa dele que vim. A srta. Carolina parecia bastante satisfeita com as minhas qualificaç õ es, na carta que me escreveu. E eu també m acho que elas sã o muito boas. Robert riu outra vez. — Gosto do seu senso de humor, mas nã o sou eu, nem minha tia, quem vai dizer se você serve. Isso é com o Chefe. É ele quem trata das admissõ es e das demissõ es. — O Chefe? Mas... — Arthur Corraine, meu primo, ele administra a fazenda das Paineiras e mais duas, Solidã o e Esperanç a, que ficam um pouco mais longe. Elas nã o sã o muito grandes. O gado engorda nos pastos das Paineiras e depois é levado para uma das outras fazendas, antes de ser comercializado. — Eu pensei que... — Joanna tentou interromper. — Pensou que eu fosse o encarregado de tudo? — Robert olhava para ela interrogativamente. — Sou apenas o ajudante de Arthur. Isso quer dizer que divido com ele algumas responsabilidades, mas ele é o Chefe. Nó s sempre moramos em Paineiras, mas ele foi treinado pelo meu avô, Adam Corraine, para assumir a administraç ã o depois de sua morte. Meu pai foi uma espé cie de filho pró digo, que pegou sua parte e perdeu tudo na cidade, enquanto que o pai de Arthur trabalhava dia e noite para o velho. Depois veio a guerra e ele foi chamado. Morreu em Burma e vovô apelou para Arthur, ensinando a ele tudo o que podia. Meu primo conseguiu fazer das Paineiras a melhor fazenda de Queensland. Quando meu avô morreu, eu fiquei sendo o segundo nos negó cios. Vovô sempre dizia que eu tinha o charme, e que Arthur tinha a forç a. Robert olhou para o copo de bebida em sua mã o, um sorriso triste no rosto. — Acho que se pode dizer que Arthur herdou o orgulho pela fazenda. Joanna olhou para Robert sentindo nascer um antagonismo pelo primo dele, um homem que ela ainda nem conhecia. Afinal, o Chefe tinha o poder de deixá -la ficar na fazenda ou de mandá -la de volta para a cidade, onde uma pessoa como ela se sentia muito mais solitá ria do que no campo. Joanna estava habituada à vida rú stica, a acordar com o canto dos passarinhos, e a encher a cozinha de uma fazenda com o cheiro gostoso de O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 8 - pã o recé m-saí do do forno. Joanna nã o era frá gil, mas Arthur Corraine parecia ser duro como pedra. — Sr. Corraine, nã o tenho medo do seu primo — disse ela em voz alta. — Mas você nem o conheceu ainda! — E verdade, mas pelo menos dê -me a chance de conhecê -lo. — Você é mesmo decidida, Joanna Dowling. — Robert levantou-se, estendendo a mã o para ela. — Vamos jantar e, entã o, vai me contar tudo sobre você. A mã o de Robert estava quente e forte, e as pessoas olharam quando os dois entraram no restaurante. Ele parecia nã o perceber, mas Joanna sentia-se intimidada. Nã o estava acostumada com um lugar sofisticado como aquele, e procurou se controlar, escondendo o rosto atrá s do grande cardá pio. Quando chegou a hora de escolherem o vinho, ele lhe perguntou se gostava de champanhe. — Nunca experimentei. Para um rancheiro, Robert parecia muito refinado, e mais uma vez Joanna ficou admirada. O garç om trouxe lagosta e abriu a garrafa de champanhe, vertendo a bebida em duas taç as altas e estreitas. Robert levantou sua taç a num brinde: — À luta! — Isso mesmo! — apoiou ela, sentido as bolhas do champanhe fazerem có cegas em seu nariz. Joanna achou a bebida levemente á cida, mas deliciosa. — Acho que vou precisar de toda a minha coragem, depois do que me contou sobre seu primo. — Agora fale-me sobre você — pediu ele, ensinando-a a retirar os pedacinhos da lagosta com um pequeno garfo. Joanna estava adorando a lagosta, achando que combinava perfeitamente com o molho. Tomou mais alguns goles de champanhe e começ ou a falar, sentindo que a conversa fluí a com facilidade. Contou sobre a fazenda de sua avó, sobre Judy e sobre a viagem que fizera. Contou, por fim, como se desencontrara da irmã, apesar dos planos de viver e trabalhar em Sí dnei com ela. — Entã o você é a irmã caseira? — perguntou Robert. — E como é que está se sentindo, assim, solta no mundo? — Estou achando tudo estranho e admirá vel... — ela admitiu. — Venho de um lugarzinho calmo e sossegado, onde as mesmas coisas acontecem, dia apó s dia, e onde você se sente seguro porque nã o existem surpresas. O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 9 - — E é isso o que você sempre quis, Joanna Dowling? Sentir-se segura? — Robert Corraine olhava interessado para ela. Joanna era toda feita de coloridos suaves, dos olhos misteriosos aos cabelos castanhos, ligeiramente ondulados. Mas agora enrubescia. — Sr. Corraine, alguns de nó s tê m o que se costuma chamar de noç ã o de responsabilidade. Eu nã o podia deixar minha avó enquanto ela precisava de mim. A fazenda era pequena e tí nhamos um rapazinho para ajudar. Mas vovó nã o conseguiria tocar aquilo sozinha... — Mas, no fundo do coraç ã o, você desejava novos horizontes, confesse. — Acho.., acho que sim — concordou Joanna. — Talvez, no fundo, eu seja mais parecida com Judy do que supunha... Ela sempre vai atrá s do que quer, até conseguir. E eu quero esse emprego no Vale das Paineiras. — Gostaria de saber por quê — disse o rapaz, começ ando a se servir da carne, que viera como segundo prato. — É o nome da fazenda — retrucou Joanna, meio na defensiva. Ele podia começ ar a imaginar que ela estava interessada nele! Robert era muito atraente, sem dú vida, mas ela achava que talvez fosse també m meio perigoso. Um homem que praticava surfe tã o bem, que fazia parte de uma famí lia que possuí a trê s fazendas, era uma pessoa bem pouco comum. — Você nã o ficou apreensiva com o que eu lhe contei, nã o é? . . — Seu primo parece um ditador, mas acredito na minha capacidade, e quero uma oportunidade para demonstrá -la. Nã o vai me negar essa chance, nã o é, sr. Corraine? — Eu nã o gostaria de negar nada a você srta. Darling. — A pronú ncia do meu nome nã o é essa — retrucou ela. — Mas devia ser... Se a minha pronú ncia faz coisas estranhas com o seu nome, permita-me entã o chamá -la de Joanna. — Mas nó s acabamos de nos conhecer... — Aqui, a gente usa os primeiros nomes, Joanna. A terra é vasta, existe muito gado, mas pouca gente. Gostamos de fazer amigos porque, ao contrá rio do pessoal da cidade, pouco sabemos da vida dos nossos vizinhos. A gente, à s vezes, só conhece as pessoas pelos nomes, pois o ú nico contato é feito atravé s do rá dio. Mas isso é uma coisa que você ainda vai aprender: a solidã o de um lugar como as Paineiras, a dependê ncia de um mé dico que precisa ser chamado pelo rá dio, o fato de morar a quiló metros e quiló metros da cidade mais pró xima e desejar apenas escutar uma voz feminina... O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 10 - — Posso aprender tudo isso — disse ela. — Nã o sou uma garota de cidade. Na carta, expliquei à sua tia que iria precisar de algum tempo para me acostumar à rotina de uma fazenda australiana. Acho que ela nã o se importou com isso e pareceu contente por ter encontrado uma moç a inglesa para ocupar o lugar. — Tia Carol veio da Inglaterra há muitos anos e sente saudades da terra natal. Mas o caso é que se Arthur estivesse na fazenda, teria vetado os candidatos ao emprego. — Entã o acha que nã o tenho muita chance, nã o é? — disse Joanna interrompendo Robert. — Porque sou uma novata e uma estrangeira, posso atrapalhar a rotina da fazenda, e isso iria aborrecer o Chefe. Falou sobre solidã o, sr. Corraine. Talvez sua tia se sinta solitá ria e precise de algué m de sua pró pria terra para conversar com ela. Arthur Corraine por certo nã o impede que as pessoas sejam humanas e vulnerá veis, nã o é? Robert Corraine sorriu diante daquela explosã o. — Há muitos anos, meu avô perdeu a paciê ncia com Arthur e o surrou até quebrar o chicote. Arthur ainda era um menino. Agarrou os pedaç os do chicote e os jogou num poç o seco. Nunca mais ningué m o viu tã o furioso ou tã o sentido. Nunca mais ningué m em Paineiras apanhou novamente de chicote. Mas també m ningué m, nunca mais, conseguiu se tornar í ntimo de Arthur. — Está me parecendo que ele é um homem muito distante... — murmurou Joanna, tã o espantada que tinha até se encolhido, quase sentindo as chicotadas do velho no menino. — Talvez ele nã o perceba que sua tia se sente solitá ria — acrescentou. — Talvez esteja tã o envolvido com o trabalho e as coisas da fazenda, que tenha perdido o contato com as pessoas mais vulnerá veis do que ele. — Esse é um dos problemas das mulheres daqui — admitiu Robert. — Os homens sempre tê m muitas coisas para fazer, mas as mulheres ficam presas em casa. E, como nã o temos vizinhos, elas nã o tê m com quem tomar uma xí cara de chá e conversar. Tia Carol ainda é bem ativa para a idade que tem. É Sally quem se sente solitá ria. — Sally é a moç a mencionada no anú ncio? — perguntou Joanna. — Ela tem dezoito anos. O Chefe cuida dela desde que seus pais morreram numa inundaç ã o, há quatro anos. Sally estava no colé gio interno em Melbourne e Arthur resolveu adotá -la, já que era muito amigo dos pais dela. Desconfio que tia Carol anda meio esgotada com ela. Será que você está habituada com potranquinhas que sabem muito bem que sã o lindas? — Ela é tã o bonita assim? — perguntou Joanna, e sorriu, lembrando-se de Judy. Sua irmã també m havia sido difí cil, cheia O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear Sabrina no. 263 Livros Florzinha - 11 - de vontades, de explosõ es de mau gê nio e de namoricos no pomar. Judy nã o gostava da fazenda, e nunca estava satisfeita com o que a avó ou Joanna faziam por ela. — Está se esquecendo de que minha irmã gê mea també m é
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