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Quando chegou ao interior da Austrália, Joanna logo percebeu o desafio que teria 1 страница



 

O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear

Sabrina no. 263

Livros Florzinha - 1 -

Quando chegou ao interior da Austrá lia, Joanna logo percebeu o desafio que teria

de enfrentar. Sem dinheiro e sozinha naquela terra agreste, tinha que conseguir

emprego na fazenda Vale das Paineiras de qualquer maneira. E, para isso, devia

provar ao dono, o arrogante Arthur Corraine, que ela era uma mulher forte e

decidida, apesar da aparê ncia frá gil. Começ ou, entã o, a trabalhar feito uma

escrava. Só sentia prazer quando Robert, o româ ntico primo do patrã o, lhe fazia

galanteios. Mas Arthur nã o estava disposto a vê -la nos braç os de outro. Por trá s

daqueles olhos cinzentos havia um desejo de posse tã o grande, que Joanna nã o

podia imaginar.

O destino de Joanna

“Raintree Valley”

Violet Winspear

O destino de Joanna (Raintree Valley) Violet Winspear

Sabrina no. 263

Livros Florzinha - 2 -

CAPÍ TULO I

Depois de atravessar um grande canavial, o ô nibus deixou para trá s a

paisagem tipicamente tropical, que durante muitas horas ocupara o olhar

pensativo de Joanna. Agora, sentia-se no ar um cheiro de maresia,

denunciando a proximidade do litoral.

Joanna olhava pela janela, imaginando se o emprego que arranjara

seria tã o agradá vel quanto o nome do lugar para onde estava indo: Vale das

Paineiras. Era um nome româ ntico, mas no fim da viagem talvez ela ficasse

desapontada.

Soltou um suspiro e recebeu um olhar atento do passageiro ao lado,

que reparou també m nos seus cabelos castanhos, no conjunto azul que usava,

e em suas mã os finas e sem ané is. Joanna Dowling parecia ser uma pessoa

calma e controlada, até meio reservada, mas agora estava tensa e nervosa.

Joanna tinha vindo da Inglaterra para a Austrá lia, para morar com

sua irmã gê mea, Judy. sem imaginar que esta continuava tã o impulsiva e

irresponsá vel como quando saí ra de casa, aos dezesseis anos, para trabalhar

no teatro, ainda em Londres.

Judy era independente, alegre e atraente, apenas uma hora mais

moç a do que Joanna, mas completamente diferente dela. Sempre detestara

a escola, a nã o ser as aulas de danç a. Nunca achara a menor graç a em morar

numa fazenda, junto com uma avó meio severa. Conseguira uma vaga num

corpo de baile e, quando o espetá culo se transferiu para a Austrá lia, Judy

havia ido junto, terminando por arranjar emprego num teatro em Sí dnei.

Um dia Joanna recebera uma carta de sua irmã, sugerindo que ela

també m fosse para lá: " Querida, você tem que tocar para a frente", Judy

havia escrito. " Agora que vovó vai vender a fazenda e morar com a irmã,

você nã o precisa mais se sentir responsá vel por ela. Devia vir para cá, viver

sua pró pria vida. Venha para a Austrá lia! Vamos viver juntas. "

A avó nã o tinha gostado muito da idé ia.

— Preste atenç ã o — dissera. — Você vai ver que, de repente, Judy

largará você na mã o, para se aventurar por outro canto qualquer. Ela é

igualzinha ao pai, que arrastou sua mã e pelo mundo todo, sem criar raí zes

em nenhum lugar. Judy puxou por ele, é encantadora e egoí sta. Olhe o que

eu digo: ela está chamando você para a Austrá lia, mas nã o vai se prender

por isso!

E acontecera exatamente o que a avó havia dito: as gê meas acabaram

nã o se encontrando. O gerente do teatro ficara com a tarefa de explicar a

Joanna que a irmã havia ido para a Nova Zelâ ndia, estrelar um musical. A

oportunidade aparecera de repente, e ela nã o a podia perder... Judy havia

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Livros Florzinha - 3 -

deixado milhõ es de abraç os, tinha certeza de que Joanna iria se firmar na

Austrá lia, longe da barra da saia da avó...

Joanna ficou meio perdida durante umas duas semanas. O contrato de

aluguel do apartamento de Judy havia vencido, e Joanna acabou indo para

um hotelzinho barato. Foi na saleta daquele hotel que uma outra hó spede,

uma. senhora viú va, sugeriu que ela procurasse trabalho em uma das

fazendas de criaç ã o de gado, onde uma garota criada no campo sempre

acharia serviç o.

Joanna examinou as pá ginas de anú ncios de diversos jornais e teve

sua atenç ã o despertada por um deles. Era o de uma fazenda de criaç ã o de

gado, onde precisavam de uma moç a para ajudar no serviç o da casa e para

fazer companhia a uma jovem. A sede estava situada num lugar chamado

Vale das Paineiras.

Ao contrá rio da irmã, Joanna nunca apreciara muito as luzes da

cidade, e, apesar de poder achar emprego facilmente num dos hoté is de

Sí dnei, gostava muito do campo. O Vale das Paineiras parecia ser o local

apropriado. Ela respondeu ao anú ncio e perguntou à viú va se já ouvira falar,

daquele lugar. A velha respondeu que a Austrá lia era um paí s enorme e que

talvez ficasse em Queensland.

Vá rios dias se passaram, sem que houvesse nenhuma resposta. Joanna

tinha algumas esperanç as, mas nã o muitas. Aquela gente do Vale das

Paineiras talvez preferisse empregar uma garota australiana, e nã o uma

recé m-chegada da Inglaterra, pouco acostumada aos costumes da terra.

Mas, para sua alegria, ela recebeu uma resposta positiva. Vinha

escrita num ó timo papel de carta, numa bela e antiga caligrafia, e era

assinada pela srta. Carolina Corraine. As instruç õ es eram precisas: Joanna

deveria tomar um ô nibus para Brisbane e descer num pequeno povoado. Baí a

das

Á guias, onde algué m da famí lia Corraine a encontraria para levá -la até

o Vale das Paineiras. Em Baí a das Á guias havia um pequeno hotel, chamado O

Peixe-espada, e ali Joanna seria procurada pelo sr. Robert Corraine.

Agora, ali no ô nibus. ela e diversos outros passageiros apanhavam as

bagagens de mã o, preparando-se para descer. Joanna deu um retoque no

batom claro que usava e ajeitou melhor os cabelos.

A carta da srta. Corraine tinha um charme nostá lgico, e. por isso,

Joanna acreditava que Baí a das Á guias fosse um lugarejo bem antigo.

Entretanto, era um lugar moderno, com sorveterias e butiques bastante

movimentadas, na avenida à beira-mar. Suas praias estavam repletas de

jovens praticando o surfe.

As cores vivas do lugar deixaram Joanna meio desapontada.

Provavelmente, há muito tempo a srta. Carolina Corraine nã o vinha a esse

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Livros Florzinha - 4 -

lugar. Na carta, ela transmitira a idé ia de um lugar calmo e antiquado, sem a

invasã o do turismo. Mas até o hotel era moderno, brilhante e cheio de

painé is de vidro.

Joanna indagou na recepç ã o sobre o sr. Robert Corraine.

Disseram-lhe que ele estava na praia, e que a encontraria no bar à s seis

horas da tarde. Se ela desejasse, poderia usar o apartamento dele para

descansar um pouco, depois da longa viagem.

— Oh... obrigada — disse ela, aceitando a chave. Sentia-se acalorada

peia viagem, e bem que gostaria de um chuveiro. — Talvez fosse melhor eu

me registrar e ficar com um quarto... — começ ou, mas o funcioná rio sacudiu

a cabeç a.

— O hotel está lotado, senhorita. Alé m disso, acredito que o

sr. Robert vá embora hoje, depois do jantar, e a senhorita vai com ele, nã o é

verdade? Ele veio em seu aviã o particular...

— Aviã o? — ecoou Joanna, percebendo que havia se envolvido com

pessoas que nã o eram simples fazendeiros.

O recepcionista sorriu para ela, notando, pela pronú ncia, que Joanna

era da Inglaterra, e que nã o devia conhecer o homem com quem iria se

encontrar.

— O sr. Corraine avisou quando voltaria? — perguntou Joanna, meio

apreensiva.

— Ah, senhorita... quando um australiano entra na á gua... Ele deve

estar de volta só ao anoitecer.

— Claro... — respondeu ela, sentindo um arrepio de expectativa.

Robert Corraine era australiano, e ela iria trabalhar para a famí lia dele.

Estranhamente, talvez por influê ncia da carta da srta. Carolina,

Joanna imaginara que a famí lia fosse inglesa també m.

Um carregador subiu com ela no elevador, levando suas malas até um

dos melhores apartamentos do hotel. Joanna tomou um banho morno, e

colocou um vestido leve, sem mangas e de saia plissada. Arrumou os cabelos

em frente ao espelho, reparando que estava meio pá lida. Beliscou o rosto,

pensando em Judy, em como ela estaria se saindo na Nova Zelâ ndia. A irmã

era bem diferente dela. Nã o ligava muito para as coisas sé rias da vida,

enquanto que Joanna sempre se preocupava com o futuro.

Agora mesmo, pensava que no dia seguinte, nessa mesma hora, já

estaria instalada no Vale das Paineiras, a milhares de quiló metros da avó e

da fazenda, onde passara a maior parte dos seus vinte e um anos. Joanna

gostava de animais, do cheiro da chuva caindo na terra, do barulho que as

galinhas faziam quando vinham comer milho no pá tio cheio de sol. Nã o tinha

medo do trabalho pesado, mas se sentia apreensiva em relaç ã o aos Corraine.

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Livros Florzinha - 5 -

Desceu, levando as malas, e pediu ao rapaz da portaria que olhasse

por elas enquanto dava uma volta. Saiu pelas portas de vaivé m, reparando

que era bem diferente das garotas queimadas de sol que passavam pela

calç ada. Alé m disso, Joanna era uma garota um tanto tí mida e retraí da. Seus

olhos eram meio cinza, e ela nunca encontrara um homem que chegasse tã o

perto para descobrir que eles tinham pontinhos azuis.

A baí a estava ensolarada, barcos de velas coloridas corriam sobre as

á guas azuis. Joanna atravessou a rua e começ ou a andar pelo jardim que

beirava a praia, observando os surfistas e imaginando qual deles seria

Robert Corraine, que pilotava seu pró prio aviã o e que logo iria levá -la até o

Vale das Paineiras.

Comprou um sorvete de abacaxi, e escutou uma garota rindo na praia,

mais abaixo. Ela abanava o braç o para um rapaz de pé, numa prancha, no

meio de uma onda prestes a arrebentar.

Joanna observava o rapaz. Era como uma está tua de bronze, os pé s

firmes na prancha, enfrentando a onda numa manobra perfeita, levando

apenas alguns borrifos de espuma.

— Robert... — a moç a riu novamente, quando o rapaz se aproximou —

nã o há nada que derrube você, nã o é verdade?

— Uma onda nã o é nada, comparada a um touro selvagem. E eu já

joguei muitos deles no chã o... — gritou ele, rindo també m. — Sou um

Corraine!

Joanna reparou no tom de arrogâ ncia na voz do rapaz. Resolveu voltar

para o hotel e esperar o anoitecer.

Já soprava a brisa fresca do entardecer quando Robert Corraine

entrou na sala de estar do hotel, à procura de Joanna. As luzes dos

candelabros refletiam-se nos seus cabelos castanhos, quando ela levantou o

rosto e encarou pela primeira vez o impacto daqueles olhos azul-escuros. Ele

estava de terno e fumava um cigarro.

— Você deve ser Joanna Dowling — disse o rapaz, e

Joanna lembrou-se da voz que ouvira na praia, firme e segura,

demonstrando uma cultura muito maior do que a que se deveria esperar de

um rancheiro. Ele pronunciava seu nome como se fosse darling, " querida", e

Joanna sentiu que corava.

— Deve ser o sr. Corraine — respondeu ela, levantando-se. Notou um

ar de surpresa nos olhos dele e imaginou que devia ser muito diferente da

garota de corpo escultural que brincara com ele na praia.

— Gostaria de tomar um aperitivo aqui mesmo, antes do jantar? Sei

que você quer me fazer algumas perguntas sobre o Vale das Paineiras, e o

bar fica meio barulhento quando chega a turma da praia.

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Livros Florzinha - 6 -

— Sim, é verdade, estou meio curiosa sobre o Vale das Paineiras. E

acho que també m deve ter algumas perguntas para me fazer, sr. Corraine.

— Sim. Em sua carta para minha tia você disse que estava

acostumada com o serviç o domé stico, e que també m sabia ajudar numa

fazenda. Espero que tenha dito a verdade.

— A verdade? — exclamou Joanna, meio aborrecida, mas també m

divertida, vendo que ele duvidava da sua capacidade. — Posso lhe dizer que

sei muito bem distinguir um cavalo de uma vaca, senhor. Sei fazer pã o

caseiro, limpar um paiol, alimentar os porcos e preparar salada de

rabanetes. Será que o senhor sabe fazer tudo isso?

Ele ergueu uma sobrancelha diante da resposta e depois caiu na

risada. Era o som mais agradá vel que ela já ouvira, meio iró nico, meio

indulgente...

— Admito que nunca fiz uma salada de rabanetes, mas, veja bem,

você parece muito frá gil e delicada para suportar por muito tempo o sol

quente lá do lugar. A fazenda fica na regiã o tropical, sabia?

— Desconfiava — disse ela seca. — As paineiras crescem nos lugares

quentes, nã o é mesmo?

— E as flores inglesas nã o aguentam... — comentou ele com um

brilho nos olhos. — Ter que enfrentar o clima tropical e os Corraine ao

mesmo tempo pode fazer você murchar...

— Será que os Corraine sã o assim tã o terrí veis?

— Acho melhor arranjar um aperitivo para nó s, antes de responder

— disse Robert, virando-se para um garç om que acabava de entrar. — Como

você é do campo, acho melhor eu pedir.

— Gostaria de gim com abacaxi — retrucou ela, calmamente.

— Entã o gosta de abacaxi?

— Muito.

— Nó s temos uma plantaç ã o, na fazenda.

Joanna ajeitou a saia plissada, que marcava suas pernas bem

torneadas. Usava sandá lias e sentiu quando Robert a observou dos pé s à

cabeç a. —

Acho melhor nã o levar você para lá — disse ele por fim.

— Sua tia me contratou para ajudar nos serviç os domé sticos,

sr. Corraine, e nã o para trabalhar nos currais — respondeu ela. os olhos

brilhando.

— É bem decidida, hein? — disse o rapaz, recostando-se na cadeira e

encarando Joanna. Ele era uma figura muito atraente, queimado do sol, os

olhos muito azuis, um homem que garota alguma poderia ignorar... — Tia

Carol gosta de gente assim — acrescentou ele, com um sorriso.

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Livros Florzinha - 7 -

— Sr. Corraine, estou achando isso meio estranho. O senhor diz que

sua tia vai gostar de mim, mas insinua que nã o sirvo para o emprego...

— Sabia que seus olhos mudam de azul para cinzento quando fica

preocupada?

— Ainda nã o fiz um estudo pormenorizado sobre meus olhos —

retrucou Joanna. — Prefiro conversar sobre meu trabalho. Foi por causa

dele que vim. A srta. Carolina parecia bastante satisfeita com as minhas

qualificaç õ es, na carta que me escreveu. E eu també m acho que elas sã o

muito boas.

Robert riu outra vez.

— Gosto do seu senso de humor, mas nã o sou eu, nem minha tia, quem

vai dizer se você serve. Isso é com o Chefe. É ele quem trata das admissõ es

e das demissõ es.

— O Chefe? Mas...

— Arthur Corraine, meu primo, ele administra a fazenda das

Paineiras e mais duas, Solidã o e Esperanç a, que ficam um pouco mais longe.

Elas nã o sã o muito grandes. O gado engorda nos pastos das Paineiras e

depois é levado para uma das outras fazendas, antes de ser comercializado.

— Eu pensei que... — Joanna tentou interromper.

— Pensou que eu fosse o encarregado de tudo? — Robert olhava para

ela interrogativamente. — Sou apenas o ajudante de Arthur. Isso

quer dizer que divido com ele algumas responsabilidades, mas ele é o Chefe.

Nó s sempre moramos em Paineiras, mas ele foi treinado pelo meu avô,

Adam Corraine, para assumir a administraç ã o depois de sua morte. Meu pai

foi uma espé cie de filho pró digo, que pegou sua parte e perdeu tudo na

cidade, enquanto que o pai de Arthur trabalhava dia e noite para o velho.

Depois veio a guerra e ele foi chamado. Morreu em Burma e vovô apelou

para Arthur, ensinando a ele tudo o que podia. Meu primo conseguiu fazer

das Paineiras a melhor fazenda de Queensland. Quando meu avô morreu, eu

fiquei sendo o segundo nos negó cios. Vovô sempre dizia que eu tinha o

charme, e que Arthur tinha a forç a.

Robert olhou para o copo de bebida em sua mã o, um sorriso triste no

rosto.

— Acho que se pode dizer que Arthur herdou o orgulho pela fazenda.

Joanna olhou para Robert sentindo nascer um antagonismo pelo primo

dele, um homem que ela ainda nem conhecia. Afinal, o Chefe tinha o

poder de deixá -la ficar na fazenda ou de mandá -la de volta para a cidade,

onde uma pessoa como ela se sentia muito mais solitá ria do que no campo.

Joanna estava habituada à vida rú stica, a acordar com o canto dos

passarinhos, e a encher a cozinha de uma fazenda com o cheiro gostoso de

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pã o recé m-saí do do forno. Joanna nã o era frá gil, mas Arthur Corraine

parecia ser duro como pedra.

— Sr. Corraine, nã o tenho medo do seu primo — disse ela em voz

alta.

— Mas você nem o conheceu ainda!

— E verdade, mas pelo menos dê -me a chance de conhecê -lo.

— Você é mesmo decidida, Joanna Dowling. — Robert levantou-se,

estendendo a mã o para ela. — Vamos jantar e, entã o, vai me contar tudo

sobre você.

A mã o de Robert estava quente e forte, e as pessoas olharam quando

os dois entraram no restaurante. Ele parecia nã o perceber, mas Joanna

sentia-se intimidada. Nã o estava acostumada com um lugar sofisticado como

aquele, e procurou se controlar, escondendo o rosto atrá s do grande

cardá pio.

Quando chegou a hora de escolherem o vinho, ele lhe perguntou se

gostava de champanhe.

— Nunca experimentei.

Para um rancheiro, Robert parecia muito refinado, e mais uma vez

Joanna ficou admirada. O garç om trouxe lagosta e abriu a garrafa de

champanhe, vertendo a bebida em duas taç as altas e estreitas. Robert

levantou sua taç a num brinde:

— À luta!

— Isso mesmo! — apoiou ela, sentido as bolhas do champanhe

fazerem có cegas em seu nariz. Joanna achou a bebida levemente á cida, mas

deliciosa. — Acho que vou precisar de toda a minha coragem, depois do que

me contou sobre seu primo.

— Agora fale-me sobre você — pediu ele, ensinando-a a retirar os

pedacinhos da lagosta com um pequeno garfo.

Joanna estava adorando a lagosta, achando que combinava

perfeitamente com o molho. Tomou mais alguns goles de champanhe e

começ ou a falar, sentindo que a conversa fluí a com facilidade. Contou sobre

a fazenda de sua avó, sobre Judy e sobre a viagem que fizera. Contou, por

fim, como se desencontrara da irmã, apesar dos planos de viver e trabalhar

em Sí dnei com ela.

— Entã o você é a irmã caseira? — perguntou Robert. — E como é que

está se sentindo, assim, solta no mundo?

— Estou achando tudo estranho e admirá vel... — ela admitiu. —

Venho de um lugarzinho calmo e sossegado, onde as mesmas coisas

acontecem, dia apó s dia, e onde você se sente seguro porque nã o existem

surpresas.

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Livros Florzinha - 9 -

— E é isso o que você sempre quis, Joanna Dowling? Sentir-se

segura? — Robert Corraine olhava interessado para ela. Joanna era toda

feita de coloridos suaves, dos olhos misteriosos aos cabelos castanhos,

ligeiramente ondulados. Mas agora enrubescia.

— Sr. Corraine, alguns de nó s tê m o que se costuma chamar de noç ã o

de responsabilidade. Eu nã o podia deixar minha avó enquanto ela

precisava de mim. A fazenda era pequena e tí nhamos um rapazinho para

ajudar. Mas vovó nã o conseguiria tocar aquilo sozinha...

— Mas, no fundo do coraç ã o, você desejava novos

horizontes,

confesse.

— Acho.., acho que sim — concordou Joanna. — Talvez, no fundo, eu

seja mais parecida com Judy do que supunha... Ela sempre vai atrá s do que

quer, até conseguir. E eu quero esse emprego no Vale das Paineiras.

— Gostaria de saber por quê — disse o rapaz, começ ando a se servir

da carne, que viera como segundo prato.

— É o nome da fazenda — retrucou Joanna, meio na defensiva. Ele

podia começ ar a imaginar que ela estava interessada nele! Robert era muito

atraente, sem dú vida, mas ela achava que talvez fosse també m meio

perigoso. Um homem que praticava surfe tã o bem, que fazia parte de uma

famí lia que possuí a trê s fazendas, era uma pessoa bem pouco

comum.

— Você nã o ficou apreensiva com o que eu lhe contei, nã o é?

. .

— Seu primo parece um ditador, mas acredito na minha capacidade, e

quero uma oportunidade para demonstrá -la. Nã o vai me negar essa

chance, nã o é, sr. Corraine?

— Eu nã o gostaria de negar nada a você srta. Darling. — A pronú ncia

do meu nome nã o é essa — retrucou ela. — Mas devia ser... Se a minha

pronú ncia faz coisas estranhas com o seu nome, permita-me entã o chamá -la

de Joanna.

— Mas nó s acabamos de nos conhecer...

— Aqui, a gente usa os primeiros nomes, Joanna. A terra é vasta,

existe muito gado, mas pouca gente. Gostamos de fazer amigos porque, ao

contrá rio do pessoal da cidade, pouco sabemos da vida dos nossos vizinhos.

A gente, à s vezes, só conhece as pessoas pelos nomes, pois o ú nico contato é

feito atravé s do rá dio. Mas isso é uma coisa que você ainda vai aprender:

a solidã o de um lugar como as Paineiras, a dependê ncia de um

mé dico que precisa ser chamado pelo rá dio, o fato de morar a quiló metros e

quiló metros da cidade mais pró xima e desejar apenas escutar uma voz

feminina...

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— Posso aprender tudo isso — disse ela. — Nã o sou uma garota de

cidade. Na carta, expliquei à sua tia que iria precisar de algum tempo para

me acostumar à rotina de uma fazenda australiana. Acho que ela nã o se

importou com isso e pareceu contente por ter encontrado uma moç a

inglesa para ocupar o lugar.

— Tia Carol veio da Inglaterra há muitos anos e sente saudades da

terra natal. Mas o caso é que se Arthur estivesse na fazenda, teria vetado

os candidatos ao emprego.

— Entã o acha que nã o tenho muita chance, nã o é? — disse Joanna

interrompendo Robert. — Porque sou uma novata e uma estrangeira, posso

atrapalhar a rotina da fazenda, e isso iria aborrecer o Chefe. Falou sobre

solidã o, sr. Corraine. Talvez sua tia se sinta solitá ria e precise de algué m de

sua pró pria terra para conversar com ela. Arthur Corraine por certo nã o

impede que as pessoas sejam humanas e vulnerá veis, nã o é?

Robert Corraine sorriu diante daquela explosã o.

— Há muitos anos, meu avô perdeu a paciê ncia com Arthur e o surrou

até quebrar o chicote. Arthur ainda era um menino. Agarrou os pedaç os do

chicote e os jogou num poç o seco. Nunca mais ningué m o viu tã o furioso ou

tã o sentido. Nunca mais ningué m em Paineiras apanhou novamente de

chicote. Mas també m ningué m, nunca mais, conseguiu se tornar í ntimo de

Arthur. —

Está me parecendo que ele é um homem muito distante... —

murmurou Joanna, tã o espantada que tinha até se encolhido, quase

sentindo as chicotadas do velho no menino. — Talvez ele nã o perceba

que sua tia se sente solitá ria — acrescentou. — Talvez esteja tã o envolvido

com o trabalho e as coisas da fazenda, que tenha perdido o contato com as

pessoas mais vulnerá veis do que ele.

— Esse é um dos problemas das mulheres daqui — admitiu Robert. —

Os homens sempre tê m muitas coisas para fazer, mas as mulheres ficam

presas em casa. E, como nã o temos vizinhos, elas nã o tê m com quem tomar

uma xí cara de chá e conversar. Tia Carol ainda é bem ativa para a idade que

tem. É Sally quem se sente solitá ria.

— Sally é a moç a mencionada no anú ncio? — perguntou Joanna.

— Ela tem dezoito anos. O Chefe cuida dela desde que seus pais

morreram numa inundaç ã o, há quatro anos. Sally estava no colé gio

interno em Melbourne e Arthur resolveu adotá -la, já que era muito amigo

dos pais dela. Desconfio que tia Carol anda meio esgotada com ela. Será que

você está habituada com potranquinhas que sabem muito bem que sã o

lindas?

— Ela é tã o bonita assim? — perguntou Joanna, e

sorriu, lembrando-se de Judy. Sua irmã també m havia sido difí cil, cheia

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de vontades, de explosõ es de mau gê nio e de namoricos no pomar. Judy nã o

gostava da fazenda, e nunca estava satisfeita com o que a avó ou Joanna

faziam por ela. — Está se esquecendo de que minha irmã gê mea també m é



  

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