|
|||
CAPITULO V
Nã o creio que seu pai aprovaria o que está fazendo, Kate. — Ellen Ross confrontou a filha, durante o jantar. — Nã o sei do que está falando, mamã e — Kate protestou. — E se algué m nã o houvesse fugido da escola, esta conversa nã o estaria acontecendo. — Bem, isso é verdade. — Ellen virou-se para a neta. — Ainda nã o acredito que tenha sido tã o inconsequente, Joanne. — Eu me deixei levar pelas colegas. Só isso — defendeu-se. — Nã o fazia idé ia do que elas estavam planejando, até chegar lá. — Já se deu conta de que terá de contar tudo ao sr. Coulthard? — Kate inquiriu. — Ah, mamã e! — Nã o vejo outra maneira de resolver a situaç ã o — Mamã e, eu só roubei um batom! — Você sabia que estava agindo errado. Foi por isso que fugiu da escola. — Fugi da escola porque elas queriam que eu voltasse à loja. Ele nã o espera que eu vá dedurar as outras, nã o é? — Dedurar! — a avó repetiu, chocada. — Joanne, que vocabulá rio é esse? — É o que ela aprende na televisã o — Kate declarou. — O sr. Coulthard vai perguntar quem estava com você, Joanne. Creio que a decisã o sobre contar ou nã o só pode ser sua. — Ah, meu Deus! — Joanne choramingou. — Nã o posso voltar à quela escola. — Você nã o tem escolha — Kate decretou, levantando-se para lavar os pratos. — Vai ter de enfrentar aquelas garotas. Você cometeu um erro, só isso. Se elas nã o gostarem... bem, vai encontrar novas amigas que nã o a considerem covarde só por nã o querer se divertir à custa do prejuí zo alheio. — É fá cil falar. — Na verdade, nada disso é fá cil para mim. Nã o me agrada a idé ia de ver você lidando com uma situaç ã o assim. Por outro lado, tenho certeza de que você nã o gostaria se eu lutasse todas as suas batalhas por você. — Tem razã o — Joanne concordou com relutâ ncia. — Vai comigo, conversar com o sr. Coulthard? — Se me autorizarem — Kate confirmou. — Vai pedir ao sr. Kellerman? — Joanne perguntou, mas, antes que a mã e tivesse tempo de responder, virou-se para a avó. — Ele é lindo, vovó! Já o viu? — Vi uma foto dele, no jornal. E esta nã o é a palavra que eu usaria para descrevê -lo. — Ah, mas ele é muito sexy. Aposto que mamã e reparou nisso. — Joanne! — Joanne! Mã e e avó falaram ao mesmo tempo. — Você nã o me contou o que ele lhe disse — Kate lembrou. — Ou como foi que você aceitou uma carona de um homem que nã o conhecia. — Isso está parecendo a Inquisiç ã o! — a filha protestou. — Eu estava no portã o, quando ele chegou e me perguntou o que eu estava fazendo alí. Disse a ele que estava procurando por você. Ele me deu uma carona até o escritó rio. Só isso. Por que nã o perguntou antes? — Pensei que a filhinha dele també m estivesse no carro — Kate justificou-se. — Ora, mamã e, ele nã o é um estranho. É o seu patrã o! E é um sujeito legal. Conversou comigo como seu eu fosse adulta, nã o uma crianç a idiota. — Nã o trato você como uma crianç a idiota — Kate defendeu-se, virando-se para a mã e. — Talvez estejamos exagerando um pouco. Afinal, ele é o dono do lugar. — Mesmo assim... — Ellen questionou. — Gosta dele, nã o é? — Joanne voltou a interrogar a mã e. — Bobagem! — Kate exclamou. — Venha secar a louç a. Mais tarde, depois que Joanne já fora para a cama, Ellen voltou ao assunto: . — Ainda acho que trabalhar em Jamaica Hill é ir longe demais. Como sabe que ele nã o foi o responsá vel pela morte da esposa? Kate suspirou. — Acho que, se Alex Kellerman quisesse matar a esposa, teria escolhido uma maneira mais garantida. As chances de algué m morrer ao cair de um cavalo sã o mí nimas. — Desde quando se tornou especialista no assunto? Estou começ ando a pensar que tanto você, quanto Joanne, se deixaram levar pelo jeito " sexy" de Alex Kellerman! Tenha cuidado, Kate. Kate preferiu nã o comentar, mas admitiu para si mesma que ele era um enigma muito interessante. Na manhã seguinte, foi à agê ncia bem cedo, como fazia a cada dois ou trê s dias, a fim de examinar a correspondê ncia, pois comunicava-se com Susie só por telefone. Havia duas cartas sobre a mesa. Uma delas era da companhia de seguros que utilizava seus serviç os, solicitando uma investigaç ã o em Bath. A outra era da oficina mecâ nica, avisando-a de que o velho Vauxhall deveria ser submetido a uma revisã o, no final do mê s. Mais despesas, pensou, desanimada. Entã o, releu a carta da companhia de seguros, antes de rascunhar a resposta, recusando a oferta, para que Susie datilografasse e enviasse, mais tarde. Decidiu que a carta da oficina poderia esperar, uma vez que, o Vauxhall vinha funcionando muito bem. Antes de sair, parou na porta e olhou para trá s, com relutâ ncia. Sentia falta da rotina do escritó rio e, mais ainda, de ser ela mesma. Definitivamente, nã o nascera para montar. O que era um raciocí nio derrotista, pensou. Estava permitindo que o progresso lento de sua investigaç ã o a desistimulasse, mas a verdade era que precisava de tempo para conquistar a confianç a dos colegas de trabalho. Encontraria um meio de conversar com Billy Roach de novo. Antes, poré m, teria de pedir ao sr. Guthrie permissã o para se ausentar do haras por algumas horas. Provavelmente, ele nã o ficaria feliz ao saber que ela tinha uma filha. Ao chegar em Jamaica Hill, sentiu-se ainda menos confiante ao ver o Range Rover estacionado diante do escritó rio. Certamente, Kellerman conversava com Guthrie. Quando abriu a porta de sua sala, foi envolvida por uma agradá vel onda de calor, e sentiu-se grata pela lembranç a de Guthrie. Estava desabotoando o casaco, quando a porta da sala dele se abriu. Quem apareceu foi Alex Kellerman. — Bom dia — ele disse. — Sam nã o virá trabalhar hoje. A esposa dele telefonou, avisando que ele apanhou uma gripe muito forte. Kate foi invadida por um sentimento egoí sta, perguntando-se por que o escocê s tinha de escolher justamente aquele dia para ficar doente. Sacudiu a cabeç a, chocada com os pró prios pensamentos. Ora, ningué m " escolhia" ficar doente! " — Algo errado? — Alex perguntou. — Nã o, nã o. Espero que ele se recupere depressa. — É o que todos nó s esperamos, mas até lá, receio que você vai ter de me suportar. Kate forç ou um sorriso e tirou o casaco. — Conversou com Joanne? — Alex inquiriu. — Se conversei ou nã o com minha filha nã o é relevante, sr. Kellerman — ela declarou com frieza. — E se ela aparecer aqui de novo, gostaria que a lembrasse de que este é o meu local de trabalho. Alex ergueuias sobrancelhas. — Em outras palavras, devo me meter somente com a minha pró pria vida. Muito bem. Se é o que você quer... Eu nã o gostaria de ser acusado de corromper menores, alé m de todas as outras coisas pelas quais sou responsabilizado. Kate suspirou. — Nã o o acusei de coisa alguma. — Nã o? Pois foi o que me pareceu. — Já disse que nã o foi uma acusaç ã o. Acontece que... Bem, a situaç ã o é muito complicada. Na verdade, eu pretendia pedir ao sr. Guthrie permissã o para me ausentar por algumas horas. Tenho uma entrevista marcada com o diretor da escola. — Embora corra o risco de ser acusado de estar interferindo de novo, vou perguntar assim mesmo. Posso fazer alguma coisa para ajudar? Os ombros de Kate vergaram. — Acho que nã o. Obrigada. Minha entrevista será à s dez horas. Posso sair à s nove e meia? — Se precisar, pode sair antes. Joanne irá com você? Kate ergueu os olhos para fitá -lo. — Por que acha que ela nã o está na escola? — Intuiç ã o. Pode sair na hora que quiser. — Obrigada. O quê, exatamente, Joanne lhe contou? — O que ela me contou nã o é relevante — Alex respondeu com ironia. — Imagino que ela tinha contado tudo: por que veio me procurar, por que tenho de conversar com o diretor, hoje. Foi por isso que você me disse que eu deveria ir com calma. Ora, deve me achar uma idiota! — Nada disso, Kate. Tenho grande admiraç ã o por você. Acho que fez um excelente trabalho, com relaç ã o a Joanne. Nã o deve ter sido fá cil educá -la sozinha. — Nã o foi — Kate confirmou. Durante a conversa, Alex aproximara-se da mesa e, agora, encontrava-se muito perto de Kate, o que a perturbou um bocado. — Bem — ele disse —, avise-me quando for sair... Boa sorte. Quando a porta se fechou atrá s dele, Kate respirou aliviada. Alex Kellerman a perturbava de uma maneira que nunca havia lhe acontecido antes. Nã o era de admirar que Alicia havia se deixado envolver, se é que isso realmente acontecera. Calculando que de nada adiantaria iniciar qualquer trabalho antes de sair, Kate decidiu aceitar a sugestã o de Alex e sair mais cedo. Se tivesse sorte, a entrevista com o sr Coulthard seria breve. Apanhou a bolsa e batou na porta da sala de Guthrie. Quando Alex mandou que entrasse Kate abriu-a. — Estou de saí da — avisou. — Já transferi as ligaç õ es para o seu ramal. — Certo. Kate saiu em seguida, satisfeita de que teria tempo de sobra para apanhar Joanne e chegar à escola, antes da hora marcada. Poré m, quando virou a chave na igniç ã o, nada aconteceu. Depois de vá rias tentativas, Kate concluiu, irritada, que teria de chamar um tá xi. Naquele momento, Alex saiu do escritó rio. — O que aconteceu? — perguntou, sem preâ mbulos. — Nã o faç o ideia! Simplesmente, nã o consigo dar a partida. — Deixe-me tentar. — Alex entrou no carro e tentou fazê -lo funcionar, mas foi em vã o. — Acho que afogou. Quer que eu peç a ao meu mecâ nico para dar uma olhada? Enquanto isso, posso lhe dar uma carona. Kate lembrou-se da carta enviada pela oficina e odiou-se pelo descuido. — Se me der uma carona até o ponto de tá xi, será ó timo. Quanto ao mecâ nico, telefonarei para a oficina onde faç o as revisõ es e pedirei que venham até aqui. Alex deu de ombros. — Você é quem sabe, mas é possí vel que percam a viagem. Se o carburador afogou, o motor vai funcionar normalmente, assim que a gasolina evaporar. Kate hesitou. — Bem, se seu mecâ nico puder dar uma olhada... — murmurou, pensando que seu pai jamais se envolveria com o homem qute estava investigando. Uma vez dentro do Range Rover, Alex perguntou: — Qual é o seu endereç o? — Nã o é preciso me levar até minha casa. Se me deixar no ponto de tá xi... — Vou levá -la até a escola — ele declarou. — Está bem — concordou, decidindo que seria melhor nã o discutir. — Qual é o problema? — ele inquiriu em tom rude. — Tem medo que seu namorado descubra que lhe dei uma carona? — Nã o tenho namorado — Kate replicou, sem pensar. — Por quê? — Nã o tenho tempo para isso. Moro em Milner Court, perto da Malrborough Road. — Certo. — Aparentemente determinado a continuar a discussã o, Alex acrescentou: — O pai de Joanne deve ter magoado você demais. Nã o disse que ela era muito pequena, quando ele morreu? — Isso foi há muito tempo — Kate admitiu com um suspiro, arrependida da falta de profissionalismo que a levara a fornecer informaç õ es pessoais ao seu suspeito. — Pode-se dizer o mesmo de você. — Nã o creio que se possa comparar a minha situaç ã o à sua. — Por que nã o? — Que mulher confiaria em mim, depois das acusaç õ es que sofri? Nã o tenho ilusõ es quanto à opiniã o que a maioria delas tem a meu respeito. — Acho que está exagerando. — E eu acho que está tentando ser simpá tica — ele disse com um sorriso maroto. — Vamos falar da sua filha. Consciente de que aquela poderia ser sua ú nica oportunidade de conversar com ele com tamanha privacidade, Kate persistiu: — Tenho certeza de que muitas mulheres adorariam conhecê -lo e nã o perderiam uma chance de visitar Jamaica Hill. — É mesmo? — Alex indagou com cinismo. — Sim. — Por quê? Para poderem contar à s amigas que estiveram no local do crime? — Nã o. — Embora percebesse que o assunto nã o o agradava, Kate foi adiante: — Está dizendo que nunca levou outra mulher à sua casa, desde a morte de sua esposa? — Nã o creio que isso seja da sua conta, srta. Hughes — ele respondeu, irritado. — Tem certeza de que nã o está trabalhando para outra pessoa, alé m de mim? Kate sentiu o sangue gelar nas veias. — Nã o sei do que está falando. — Estou falando do meu sogro. Talvez ele nã o tenha conseguido as repostas que desejava dos meus funcioná rios e entã o, mandou você aqui. — Nã o conheç o o seu sogro, sr. Kellerman, e posso garantir que nã o estou trabalhando para ele! — ela retrucou, indignada. — Isso é bom. Acredito no que está dizendo, Desculpe-me, mas acho que nã o aguento mais ser interrogado. Kate disfarç ou o alí vio. Por um momento, chegara a pensar que Alex adivinhara por que aceitara aquele emprego, A verdade era que, na posiç ã o em que se encontrava, ele tinha de ser cuidadoso. O caso da morte de sua esposa fora encerrado, mas se qualquer nova evidê ncia surgisse, seria fá cil reabri-lo.
|
|||
|