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CAPÍTULO VIII



 

— O quê? — exclamou Joel horrorizado. — Meu pai é um velho!

— Nã o é tã o velho assim. Alé m disso, a opiniã o do mé dico é que o rim dele é sadio e adequado para o transplante — explicou Rachel, apertando com nervosismo o encosto do sofá.

— Você está brincando! — disse Joel passando as costas da mã o na testa. — Nã o acredito que você vá se casar por esse motivo!

— Entre outras coisas. — Rachel enfiou as unhas no encosto do sofá. — Nã o é muito fá cil tomar conta de uma crianç a como Sara, Com James ela terá todas as vantagens.

— Ru podia dar a ela as mesmas vantagens.

— Materialmente, talvez — disse Rachel em voz baixa. Joel levantou os olhos e encarou-a com frieza.

— O que há mais alé m disso?

— Você nã o pode entender.

— Nã o, nã o posso. — Flexionou os mú sculos dos ombros com impaciê ncia. — Eu nã o vou deixar você fazer isso.

— Você nã o pode me impedir.

— Nã o? — Desabotoou a camisa e fez massagem no pescoç o. — Pois você vai ver!

— Ah, Joel! — exclamou Rachel prestes a chorar. — Será que nã o podemos terminar com essa briga incessante? Você realmente nã o se importa com Sara... nem comigo. Você tem seu trabalho... tem É rica...

— Vamos deixar É rica fora dessa conversa, tá?

— Por quê? Você nã o pode negar que ela ocupa um lugar im­portante na sua vida.

— Nã o nego. É rica o eu somos adultos. Admito que de tempos em tempos...

— Nã o me interessa saber!

Rachel se afastou do sofá e colocou as mã os nos ouvidos, sem perceber que Joel dera a volta e estava atrá s dela. Só entã o notou o calor de sua respiraç ã o no pescoç o. Abaixou as mã os e cruzou-as em cima do peito, numa posiç ã o de defesa.

— Ah, Rachel! — murmurou Joel, passando a mã o por baixo dos cabelos para lhe acariciar a nuca. — Confesse que você tem ciú me de É rica... Você nunca devia ter me deixado. Eu passei por um verdadeiro inferno, à sua procura. Se soubesse ao menos que você estava grá vida... — Segurou a mã o dela e acariciou a palma com o polegar. — Você lembra como era conosco? Concordo que fui um egoí sta, mas procure entender meu ponto de vista. Eu queria você... juro que queria, muito, muito! Nunca amei nenhuma outra mulher. Fiz amor, mas nã o amei.

Em Rachel havia uma doç ura lí quida que palpitava nas veias, acelerava o pulso e enfraquecia as pernas. Ela sentiu o desejo irresistí vel de abandonar-se inteiramente ao calor do corpo dele. Mas tinha certeza que as emoç õ es que Joel procurava despertar nela eram apenas de fundo sexual.

Afastou-se com dificuldade de seus braç os e voltou-se para en­cará -lo, com as mã os caí das ao lado do corpo.

— Nã o adianta você querer me seduzir, Joel! Eu conheç o você muito bem.

Ele balanç ou os ombros, com os olhos apertados, os pé s afas­tados, tomando-a intensamente consciente de sua masculinidade.

— Você nã o pode levar isso até o fim, Rachel. Você sabe que nã o pode.

— Pois eu vou levar até o fim! — afirmou com orgulho. — E nã o sã o suas propostas sexuais que vã o me fazer mudar de idé ia!

Joel fixou-a sem piscar os olhos.

— Eu estou decidido a dar a Sara um dos meus rins. Se meu pai é um doador adequado, eu també m sou.

— Nã o! — exclamou sem pensar. — Eu nã o quero nada de você!

— Nem mesmo a saú de de sua filha?

— Sara vai melhorar...

— E se o transplante malograr? Rachel mordeu o lá bio com nervosismo.

— Por que haveria de malograr?

— O que o mé dico disse? Quais sã o as chances de sucesso?

— Sã o boas — disse Rachel, respirando profundo. — Nã o posso adiantar mais nada. Nã o entendo desse assunto.

— Quer dizer que você está se sacrificando por Sara? Que tipo de recompensa você pretende obter? E se a operaç ã o nã o for bem-sucedida? Você fez tudo isso a troco de nada?

Rachel levantou a cabeç a.

— James e eu só vamos nos casar depois da operaç ã o.

— Ah, é? — zombou Joel. — Você pensa mesmo que meu pai irá voltar atrá s se a operaç ã o malograr?

— Claro que sim! — exclamou Rachel com ansiedade. Joel lanç ou-lhe um olhar de incredulidade.

— Você está sonhando!

— Por que você diz isso?

— Pelo que ouvi contar, meu pai está organizando uma ver­dadeira festa de casamento. Nã o sabia?

— Mais ou menos.

— Vai apresentá -la a todos os amigos e conhecidos.

— Eu sei.

Joel deu um suspiro fundo.

— Você imagina que depois de toda essa encenaç ã o ele vai cancelar o acordo entre você s dois?

— Por que nã o?

— Ah. Rachel, nã o seja ingê nua! — Joel sentou-se no braç o do sofá e passou os dedos entre os cabelos. — Os homens como meu pai dã o uma importâ ncia enorme à imagem pú blica. O fato de apresentá -la como noiva é um acontecimento sensacional para um homem da idade dele. — Fitou-a com o rosto fechado. — Um grande triunfo realmente. — Fez uma pausa. — Se você cancelar o acordo, ele vai dizer as piores coisas de você nas colunas sociais! Ouç a bem, Rachel, o meu aviso. Se você aceitar a proposta do meu pai, pode dizer adeus à liberdade.

— Nã o acredito! — exclamou Rachei com os lá bios trê mulos. — Você está dizendo isso somente para me assustar.

— Estou? — Levantou as sobrancelhas escuras. — Pois eu nã o pensaria isso se fosse você.

— Como se você se importasse muito comigo!

— Você sabe que me importo — disse, aproximando-se dela e segurando-a pelo pulso. — Eu me importo muito com o que acontece com você, Rachel — murmurou. — Eu nunca deixei de amá -la. Eu a desejo agora... aqui.

Os olhos dele estavam sombrios de emoç ã o e ela afastou de-sesperadamente aqueles ombros largos com as mã os fechadas. A camisa poré m nã o tinha gola, e ela esbarrou sem querer na pele nua. Joel levantou uma de suas mã os e colocou-a dentro da camisa, enquanto a segurava pela nuca com a mã o livre, forç ando-a a virar a cabeç a para receber o beijo.

Ela estava perto dele agora, mas desejava estar mais perto. O calor do corpo moreno era um tó xico poderoso e o perfume da pele se misturava com os aromas de á gua-de-colô nia e de fumo. As pernas estavam cedendo e o esforç o de afastá -lo era excessivo para suas forç as vacilantes. Mas conseguiu afastá -lo mesmo assim e encarou-o com os cabelos soltos, o rosto corado, a respiraç ã o ofegante.

— Eu o odeio! —exclamou furiosa, puxando a blusa desabotoada sobre os seios intumescidos. — Saia daqui! Eu nunca, mais quero vê -lo na minha frente!

Joel fitou-a com o olhar vidrado, mas a boca se contraiu ao ouvir sua voz indignada.

— É uma pena nã o saber mais lhe agradar — murmurou ironi­camente. — Mas você está se iludindo a si mesma, Rachel. Você nã o me odeia. — Torceu a boca com uma expressã o de desprezo. — Se você levar isso até o fim, juro que vou odiá -la o resto da minha vida.

Rachel custou muito a dormir. O corpo doí a, mas ela nã o queria admitir a razã o. Uma parte de si ansiava por Joel, pelas satisfaç õ es sensuais que podia lhe dar, e ela procurou fugir desesperadamente à tortura dos pensamentos proibidos. Nunca mais relembrara a noite que passaram juntos, encobrindo-a sempre com o vé u da traiç ã o e da humilhaç ã o. Essa noite, contudo, apó s alguns instantes de abandono nos braç os de Joel, as lembranç as todas voltaram com vivacidade. Se ao menos ele desejasse casar... Mas felicidade desse tipo era uma miragem com um homem como Joel. Sabia que ele a desejava, que podia excitá -lo sem dificuldade, mas um relacionamento construí do sobre as areias movediç as da atraç ã o fí sica nã o era o que esperava da vida. Amara Joel no passado com toda a riqueza da ternura e da paixã o de que era capaz. Mas ele tinha recebido seu amor e o tinha destruí do...

Na manhã seguinte, Rachel disse a Sara que ia levá -la para fazer compras. Sara estava de fato precisando de roupas, mas o motivo principal era sair do apartamento antes que Joel aparecesse.

— Joel nã o vem hoje? — perguntou Sara, meio decepcionada, enquanto caminhavam para o ponto de ô nibus. Rachel sentiu uma sensaç ã o desagradá vel de frustraç ã o.

— Nã o, nã o vem — respondeu com frieza. — Joel está traba­lhando. Nã o tem tempo para sair conosco.

— Mas ontem à noite elo disse que ia me levar ao zooló gico — insistiu Sara com o rosto tristonho. — Como você sabe que ele nã o vem, se nã o estamos em casa?

— O tio James vai levar você ao zooló gico um outro dia.

— Eu nã o quero ir com ele! — respondeu Sara com impaciê ncia. As compras nã o foram um sucesso. Sara estava de mau humor

e nada ficava bem, mantendo o rosto emburrado. Rachel insistiu mesmo assim e, quando as duas voltaram para casa depois do almoç o, Sara estava com trê s vestidos novos, dois pares de jeans, roupas de baixo, um blusã o novo e um casaquinho de camurç a para as ocasiõ es especiais.

Nã o havia sinal de Joel, e Sara conformou-se, aparentemente, em nã o vê -lo aquele dia. Na hora de dormir, poré m, comentou:

— Gostaria que Joel morasse conosco, mã e, depois de casar com aquele homem.

— Nã o diga bobagem, Sara — replicou Rachel sem jeito.

— Por que bobagem? Você vai ser a mamã e dele, nã o vai? Por que ele nã o pode morar conosco?

— Eu já expliquei antes. Sara. Joel tem uma casa. Alé m disso, vamos morar na Gré cia.

— Onde é a Gré cia?

— Eu já disse a você. Sara. É um paí s muito longe, onde há muito sol.

— Eu nã o gosto de um paí s onde faz muito sol.

— Bem, nã o há outro jeito.

— Você podia ficar aqui. Eu gostaria de morar aqui.

— Tio James quer morar na Gré cia. Ele tem uma ilha lá. A á gua é gostosa e quente, e você pode nadar.

— Eu nã o sei nadar.

— Mas você pode aprender.

— Eu nã o quero aprender.

— Sara, nã o seja implicante.

— Ah. mamã e, por que a gente tem que morar nesse pais tã o longe? Por que você nã o casa com Joel e mora aqui? — Os olhos brilharam. — Ah, seria legal, hein? Joel seria meu papai, entã o!

— Sara!

— O que foi, mã e? Por que você fez essa cara? Um dia você s vã o parar de brigar e ser amigos de novo. Foi Joel que me disse,

— Sara, por favor, chega dessa conversa. — Rachel ajeitou-a na cama e puxou a coberta com os nervos à flor da pele. — Eu nã o quero mais ouvir você falar em Joel, está bom? Vou casar com o tio James, vamos morar na Gré cia e pronto. Estamos entendidas?

— Está bem, mamã e, nã o precisa ficar brava.

— Ó timo. Agora durma bem.

Ao voltar à sala, Rachel fez algo que nunca tinha feito antes. Serviu-se de uma dose dupla de uí sque e foi sentar-se numa pol­trona com o copo na mã o. Tossiu, ao provar a bebida forte, mas bebeu até o fim.

No terceiro uí sque, estava horrivelmente enjoada e sua tenta­tiva para embriagar-se foi um fracasso total. A â nsia de vô mito, poré m, deixou-a exausta e nã o se lembrava de mais nada quando adormeceu finalmente.

No dia seguinte, acordou com uma terrí vel dor de cabeç a. Nã o estava com a menor disposiç ã o para levantar e fazer o café, e o rosto tristonho de Sara nã o lhe serviu de estí mulo. A menina lembrava-se naturalmente da noite anterior e, embora nã o mencionasse o nome de Joel, toda vez que ouvia um barulho na entrada do pré dio corria à janela para ver quem era. Depois de algum tempo, Rachel começ ou també m a prestar atenç ã o aos ruí dos das campainhas nos aparta­mentos vizinhos e ficou surpresa com o fato de Joel nã o telefonar para saber notí cias. Nã o esperava que ele fosse desistir com tanta facilidade, sobretudo porque prometera levar Sara para dar um pas­seio. O dia estava ligeiramente encoberto, contudo, e as duas acaba­ram nã o saindo de casa. Sara foi dormir de pé ssimo humor.

Rachel começ ou a preocupar-se seriamente no dia seguinte à tarde. Sara arrastava-se tristemente pelo apartamento. Nã o tinha â nimo nem mesmo para brincar com sua boneca preferida e nã o quis acompanhar Rachel nas compras na padaria. A televisã o es­tava ligada, mas Sara nã o prestava atenç ã o aos programas. O rosto dela estava mais pá lido e desbotado do que nunca. Deveria voltar ao hospital no dia seguinte para continuar o tratamento, mas Rachel temia que ela nã o quisesse ir. Sara nunca estivera tã o deprimida assim antes, pensou amargamente. Mas o que adian­tava contar com Joel para alguma coisa?

Depois do lanche, Rachel sugeriu que fossem dar uma volta a pé. Havia um parque perto de casa e o ar fresco daria um pouco de cor ao rosto pá lido da menina. Sara recusou-se a ir.

— Você pode ir — disse a menina com indiferenç a. — Eu nã o estou com vontade de andar a pé.

— Mas faz dois dias que você nã o sai de casa, filha! Sara levantou os olhos tristonhos.

— E faz trê s dias que Joel nã o aparece — declarou com os lá bios trê mulos. — O que você disse para ele? Por que você o mandou embora?

Rachel apertou as mã os com nervosismo.

— Eu nã o o mandei embora. — Mas era verdade? Nã o dissera que nã o queria vê -lo nunca mais na vida? — Ele deve estar ocu­pado, Sara. Ele vai voltar um dia desses.

— Quando? — Sara nã o parecia muito convencida. — Bem, eu vou ficar em casa. Talvez ele telefone.

Rachel deu um suspiro.

— Sara, nã o seja teimosa. Joel nã o tem nada a ver com a gente.

— Eu gosto dele. Ele gosta de mim. Eu sei que gosta.

— Está bem, querida, mas isso nã o quer dizer... — interrom­peu-se sem saber o que dizer. — Sara, nó s temos que pensar no futuro. Dentro de algumas semanas vamos viajar e entã o...

— Eu nã o quero viajar, mamã e. Já disse a você.

Rachel recusou-se a responder e começ ou a andar nervosamente de um lado para o outro da sala. Sara debruç ou-se no braç o do sofá e olhou para a mã e.

— Por que você nã o telefona para ele? — perguntou, como se a idé ia lhe ocorresse naquele instante. — Ah, mã e, telefona, telefona...

— Nã o. — Rachel desviou o rosto ao ver a alegria sumir de repente dos olhos da menina. — Nã o posso telefonar.

— Por quê? Você nã o sabe o nú mero?

Seria uma mentirinha sem importâ ncia, mas Rachel nã o con­seguiu dizê -la. Sara era muito inteligente. Sabia que havia ma­neiras de descobrir o nú mero.

— Ele pode estar com visitas...

— Mas é Heron quem atende o telefone.

Rachel balanç ou a cabeç a. Ela tinha resposta para tudo.

— O que eu vou dizer a ele? — exclamou por fim, com impaciê ncia.

— Diga a ele... diga a ele que eu estou com saudade. Juro que estou, mamã e!

Rachel andou indecisa de um lado para o outro da sala. Telefonar para Joel e dizer que Sara queria vê -lo? Era ridí culo! Especialmente depois da maneira como tinham se despedido naquela noite...

— Nã o posso fazer isso, Sara.

Os olhos da menina encheram-se de lá grimas.

— Você nã o quer! É isso! — Duas manchas vermelhas apare­ceram nas faces pá lidas e Rachel pressentiu que ela ia ter uma crise de nervos.

— Sara, seja compreensiva...

— Vá embora. Vá embora e me deixe sozinha. Eu nã o quero mais ver você. Eu quero Joel, eu quero Joel!

Rachel apertou as mã os com raiva ao ver o corpo trê mulo da menina, e algo explodiu dentro dela.

— Está bem, vou fazer sua vontade! — exclamou com a voz tensa. Atravessou a sala, apanhou o telefone e discou o nú mero antes que mudasse de idé ia. Durante todos aqueles anos nã o se esquecera do telefone de Joel e esse fato teria lhe causado inquie­taç ã o se refletisse melhor sobre o assunto.

A campainha tocou durante um tempo enorme antes que algué m atendesse. Rachel já estava convencida de que nã o havia ningué m em casa quando Heron finalmente atendeu e perguntou quem es­tava falando. Ela sentiu a tentaç ã o de bater com o fone no gancho.

Mas o rosto de Sara, banhado de lá grimas, forç ou-a a dar seu nome e dizer que desejava falar com Joel.

— Ele está descansando e pediu para nã o ser incomodado — disse Heron com delicadeza. — Nã o quer deixar um recado?

Rachel mordeu o lá bio com raiva. Estava descansando e nã o queria ser incomodado. Sentiu um nó na garganta. Quem estava com ele no apartamento para nã o querer ser importunado?

— Nã o — disse por fim, observando o rosto de Sara que acom­panhava a conversa com atenç ã o. — Eu telefono outra hora.

Quando colocou o fone no gancho, Sara sentou-se no sofá.

— O que ele disse? Onde ele está? Por que você nã o falou com ele?

Rachel esforç ou-se para manter a voz calma.

— Ele está de cama. Nã o está muito bem.

— O que ele tem? Está doente? Nã o podemos fazer uma visita?

— Nã o, Sara.

— Por quê?

— Porque nã o podemos. — Sara fez um gesto de impaciê ncia com as mã os. — Heron vai dar o recado quando ele se levantar. Se quiser vai telefonar para você.

— Nã o acredito nisso — disse Sara começ ando a chorar nova­mente. — Você está dizendo isso só para me consolar.

— Nã o, juro que nã o. — Rachel nã o sabia mais o que dizer para tranquilizá -la. Numa outra crianç a, numa crianç a sadia, o comportamento de Sara podia passar por excesso de mimo, mas Sara nã o tinha o há bito de comportar-se dessa forma, nem de fazer cenas desse tipo. Estava realmente preocupada com Joel.

— Por que você nã o gosta dele? — perguntou, apó s um momento. — Por que você nã o quer fazer uma visita a ele?

— Sara, nã o podemos fazer nada... antes que ele melhore.

— Por que nã o?

— Porque nã o podemos.

— É quando que ele vai melhorar?

— Como vou saber?

Sara escorregou do sofá e aproximou-se dela.

— Por favor, mamã e, vamos lá saber como ele está. Prometo que vou me comportar bem. Nã o vou fazer barulho nem incomodar ningué m. Vamos apenas saber se ele está melhor. Podemos levar umas flores.

— Onde vamos encontrar flores a essa hora?

— Uma caixa de bombons, entã o.

Rachei estava quase cedendo. Era tudo tã o simples aos olhos de Sara. Heron dissera que Joel estava descansando, logo estava doente! Olhou com irritaç ã o para o reló gio. Seis e trinta. Nã o podia... nã o queria acreditar que aquela fosse a verdade!

Encontrou o rosto suplicante de Sara e tomou uma decisã o. Talvez fosse bom levá -la ao apartamento de Joel. Heron estava lá. Se Sara ouvisse a resposta de Heron, acreditaria finalmente que Joel nã o era o deus que imaginava.

— Está bem, entã o — disse a contragosto. — Vamos até lá. Mas se Heron nã o deixar você entrar no quarto de Joel, nã o insista, esta bem?

Os lá bios da menina tremeram.

— Por que ele vai fazer isso?

— Como vou saber? Você tem que ir e ver. — Era melhor que Sara estivesse preparada de uma vez para as mudanç as de humor de Joel.

Tomaram um tá xi e rumaram para o apartamento luxuoso que Joel ocupava no ú ltimo andar. Era uma experiê ncia dolorosa para Rachel voltar ali. Lembrava-se da ú ltima noite no apartamento de Joel com um sentimento agudo de angú stia e humilhaç ã o.

Tomaram o elevador e desceram no ú ltimo andar. Sara tocou a campainha com os olhos brilhantes. Ao ouvir o ruí do da cam­painha ecoar no interior do apartamento, os mú sculos de Rachel se contraí ram numa antecipaç ã o nervosa.

Mas nada aconteceu. Ningué m veio abrir a porta, nã o ouviram ruí do de passos. Rachel olhou para o rosto espantado da menina e tocou de novo a campainha. Heron levara muito tempo para atender o telefone. Talvez recebera ordem de nã o abrir a porta para ningué m. Ainda bem!, pensou Rachel, com um suspiro de alí vio.

Na terceira tentativa, os lá bios de Sara começ aram a tremer.

— Joel nã o está em casa — disse com a voz chorosa. — Ele nã o está de cama. Heron disse isso à toa.

Rachel nã o sabia o que responder. A decepç ã o era visí vel nos olhos da menina. Era isso exatamente que ela queria, mas, ao mesmo tempo, desejava poupar-lhe a angú stia e o sofrimento inevitá vel.

— Talvez Heron tenha saí do — explicou sem jeito. — Joel pode estar dormindo e nã o ouviu a campainha. Você nã o acha?

Sara fungou o nariz.

— Ele teria ouvido a campainha, mamã e!

— Pode ser. Mas nã o quis atender. Ele nã o sabe que é você. Mal tinha terminado de falar, a porta se abriu e a exclamaç ã o

instintiva de Rachel foi abafada pelo grito de alegria de Sara.

— Joel! Ah, Joel, que bom você estar em casa! Eu pensei que

você tinha saí do.

Joel encostou-se no batente da porta, sustentando-se com dificul­dade. A barba de dois dias escurecia o rosto e as alheiras fundas lhe davam uma expressã o febril. Estava vestido apenas com um roupã o de banho e gotas de suor umedeciam a testa. Com os cabelos des­grenhados e o rosto pá lido, era visí vel que nã o estava nada bem.

— Heron saiu e eu nã o esperava visitas — murmurou, afastando os cabelos da testa.

— Nó s viemos incomodá -lo, Joel — disse Rachel, dirigindo um olhar para Sara. — Mas Sara insistiu em vê -lo. Ela estava preo­cupada com sua saú de.

— Entrem, por favor — disse Joel, afastando-se da porta.

Rachel mordeu o lá bio com nervosismo.

— Talvez fosse melhor voltarmos outro dia.

— Nã o... entrem! — insistiu, com um espasmo de dor que con­traiu os mú sculos do rosto. — Logo vou melhorar. Estou com uma dor de cabeç a terrí vel, é só isso.

Rachel segurou Sara pela mã o e as duas entraram na sala. Era como se voltasse no tempo, pensou, exceto que o carpete bege era novo e combinava com o sofá e as cadeiras de veludo cor de vinho. Pelas vidraç as grossas das janelas avistou os telhados das casas e as flechas das igrejas sob o cé u encoberto. Nada mudara desde a ú ltima vez que estivera ali há seis anos. Joel fechou a porta e en­costou-se no batente enquanto apertava o cinto do roupã o.

Sara soltou-se da mã o de Rachel e começ ou a andar de um lado para o outro da sala, como se estivesse em casa. Examinou os objetos, espiou as estantes de livros, correu os dedos por cima de uma pilha de papé is de desenho que estavam em cima de uma mesa, ao lado da janela.

— Sara, nã o mexa em nada!

— Nã o faz mal — disse Joel, passando a mã o no queixo. — Se você me der alguns minutos, vou me tornar mais apresentá vel.

— Nó s nã o vamos demorar — disse Rachel sem jeito. — Heron disse que você estava descansando.

— Heron?

— Nó s telefonamos antes de vir, há uma hora atrá s. Talvez um pouco mais. — Olhou para o reló gio. — Foi assim que soubemos... — Interrompeu o que ia dizer. — Era melhor nã o ter vindo incomodá -lo,

Joel observou-a em silê ncio durante um pequeno momento e balanç ou a cabeç a.

— Ah, estou entendendo agora. Imagino o que você pensou...

— Por que você nã o apareceu mais lá em casa? — perguntou Sara voltando para perto da mã e.

Joel afastou-se da porta e desceu os degraus que levavam à sala.

— Eu tinha a intenç ã o de ir— disse com delicadeza, agachan­do-se ao lado dela. — Mas eu nã o passei muito bem nesses ú ltimos dois dias. Você sentiu falta de mim?

Sara colocou as mã os nos ombros dele.

— Senti, senti muita falta — respondeu com o rosto sé rio. — Esperei um tempã o que você aparecesse e depois fiquei triste.

— Jura? — perguntou Joel, abraç ando-a com ternura.

Era a primeira vez que a abraç ava daquele jeito e Rachel nã o suportou ver a intimidade que havia entre os dois. Voltou-se e foi até a janela. Um minuto depois Joet levantou-se e disse:

— Vou me vestir.

— Nã o se incomode — disse Rachel, voltando da janela. — Sara já fez sua visita e nó s já vamos indo. Seria melhor você voltar para a cama.

— Eu vou me vestir num minuto — insistiu Joel. Rachel levou a mã o ao rosto.

— Nã o faç a cerimó nia por nossa causa. Imagino como você deve estar se sentindo...

— Duvido — disse enigmaticamente, dirigindo-se para o interior do apartamento. — Volto num minuto.

Enquanto aguardava, Rachel circulou pela sala como Sara tinha feito antes, renovando seu conhecimento com os objetos e os mó veis do apartamento. Ela sempre gostara dali, do tamanho e da sensaç ã o de espaç o, da elegâ ncia e do bom gosto dos objetos. O ambiente tinha um calor e uma qualidade de conforto que levava a pessoa a relaxar instintivamente. Algué m arrumara um vaso de tulipas no alto da lareira e as cores vivas refletiam-se na pintura quente das paredes.. O perfume delicado circulava sutilmente pelo ar.

Joel voltou de barba feita, os cabelos escovados e parecia muito elegante e bonito na calç a marrom de couro e a camisa creme de seda grossa. Somente a palidez e as olheiras fundas lembravam que nã o estava completamente refeito da enxaqueca,

— Você toma alguma coisa?

Rachel olhou com atenç ã o para o rosto abatido, segurou-o pelo braç o e levou-o até o sofá.

— Sente-se aqui — disse com firmeza. — Eu preparo as bebidas. 0 que você quer?

Joel sentou-se obedientemente e reclinou a cabeç a no encosto de veludo.

— Alguma coisa gelada — disse com os olhos semicerrados. — De preferê ncia um suco de frutas.

Rachel foi à cozinha e apanhou alguns cubos de gelo no congelador. Passou os dedos sobre o material bonito e brilhante que revestia os armá rios da copa, segurou a torneira niquelada em cima da pia enor­me de aç o inoxidá vel. Fizera muitos jantares naquela cozinha quando Heron estava de folga... Joel ajudava a enxugar os pratos e os dois terminavam sempre nos braç os um do outro.

Preparou um suco de laranja para Joel e Sara e um Martini com soda para ela mesma. Joel bebeu metade do copo de um gole, como se estivesse morto de sede.

— Ah, era isso que eu precisava!

— Você nã o comeu nada hoje?

— Nã o, nada — disse com um arrepio. — Nã o posso suportar o cheiro de comida.

Sara terminou a laranjada e subiu nos joelhos de Joel, sem prestar atenç ã o aos protestos de Rachel.

— Você vai amanhã lá em casa? Joel fez có cega na sua barriga.

— Talvez. Se estiver melhor.

— Mas você precisa comer alguma coisa — insistiu Rachel, sentando-se no sofá ao lado dele. — Nã o quer que vá buscar alguma coisa?

Joel fitou-a com o canto dos olhos.

— Você podia dizer que nã o vai casar com meu pai. Isso seria o melhor remé dio.

— Você sabe que nã o posso — disse Rachel apertando os dedos em volta do copo.

— Por que você nã o me dá uma chance?

— Nã o! — exclamou, levantando-se do sofá.

No mesmo momento a campainha da porta tocou.

— Nã o atenda — disse Joel com a voz cansada. — Nã o estou em casa para ningué m.

Sara, poré m, com seu entusiasmo habitual para abrir portas, nã o prestou atenç ã o à s palavras de Joel. Desceu rapidamente dos seus joelhos e, antes que um dos dois pudesse impedi-la, correu até a porta.

É rica olhou espantada para a menina quando entrou no apar- tamento e sua fisionomia endureceu-se ao avistar Rachel.

— Vim interromper a conversa? — perguntou. Ao ver que Joel estava vacilante nas pernas, exclamou preocupada: — O que você tem? Por que nã o telefonou para mim? Eu liguei para cá, mas Heron disse que você estava descansando.

Sara fechou a porta e observou com visí vel desagrado a mulher que segurava Joel pelos braç os. Voltou-se em seguida para a mã e e Rachel percebeu que seus lá bios tremiam.

— Nó s já vamos indo, Joel — disse Rachel com a voz firme. — Está tarde e Sara tem que dormir.

— Nã o... fiquem mais um pouco! — exclamou Joel, soltando-se dos braç os de É rica. — Por favor, Rachel, nã o vá embora já.

— Eu vim atrapalhar a conversa de você s? — perguntou É rica com uma entonaç ã o de sarcasmo. Rachel sentiu-se terrivelmente sem jeito.

— Nã o, nã o é isso. Sara tem que dormir cedo...

— Ainda nã o terminamos nossa conversa, Rachel — interrom- peu Joel com um olhar impaciente em direç ã o a É rica. — Fique mais um pouco.

— Mamã e, eu quero ir no banheiro — disse Sara com os lá bios apertados.

— Lembra onde é? — perguntou Joel voltando-se para Sara. — Eu mostrei a você no outro dia, lembra?

Sara balanç ou a cabeç a, ignorou a presenç a de É rica e saiu da sala. Rachel aproveitou a interrupç ã o para apanhar a bolsa e di­rigir-se para a porta.

— Rachel! — exclamou Joel com uma careta de dor diante do esforç o de falar em voz alta. Agarrou-se à s costas do sofá e deu alguns passos na sua direç ã o. — Rachel, pelo amor de Deus, nã o vá embora!   

— O que está acontecendo aqui? — perguntou É rica perplexa. Joel voltou os olhos abatidos em sua direç ã o.

— Olhe, É rica, é bom você saber de uma vez.

— Joel! — exclamou Rachel com a voa aflita. Ele ignorou sua interrupç ã o e continuou a falar com os olhos fixos em Eriç a:

— Eu conheci Rachel há alguns anos atrá s. Quando ela era es- tudante. Ela foi apresentada a meu pai nessa mesma é poca. Mas Sara nã o é filha de meu pai, como você imagina. Sara é minha filha.

 

 



  

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