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CAPÍTULO V



 

 

A ú nica pessoa que nã o se surpreendeu com as palavras de Joel foi É rica. Estava vestindo Rachel sob a recomendaç ã o de James e, na sua opiniã o, o casamento era um fato decidido. Lí dia limitou-se a balanç ar a cabeç a incredulamente, Sara amarrou a cara e Rachel... bem, Rachel entendeu que Joel dis­sera aquilo apenas para agredi-la, no que foi bem-sucedido.

Joel aproximou-se de Sara e agachou-se ao lado da menina.

— Você gostou do vestido novo da mamã e?

Sara torceu o nariz e fitou-o em silê ncio. Joel dirigiu-lhe um sorriso aberto, que rejuvenesceu sua fisionomia de vá rios anos.

— Faz uma cara feia para mim. Assim...

Sara apertou os lá bios com mais forç a, mas algo no sorriso dele fez com que vacilasse.

— Vá embora. Eu nã o gosto de você — disse por fim, quando nã o pô de manter por mais tempo a careta. Lí dia estalou a lí ngua desaprovadoramente.

— Sara, nã o faç a essa cara! — disse Rachel.

Joel voltou-se para ela e examinou com admiraç ã o o vestido

azul-safira.

— Bonito vestido. Você devia ir ao baile, Cinderela!

Sem prestar atenç ã o ao fato que Rachel tinha corado com o elogio irô nico, voltou-se novamente para Sara.

— Escute, você nã o está cansada de ver esse desfile? — per­guntou, segurando a mã o da boneca de pano. — Eu conheç o um lugar onde tem sorvete de morango com creme chantilly. Você nã o quer vir comigo enquanto mamã e experimenta os vestidos?

Sara puxou a boneca para longe de sua mã o.

— Nã o.

— Tem certeza? Ou você prefere um sorvete de casquinha?

— Eu nã o gosto de sorvete de casquinha.

— Nã o adianta insistir — interveio Rachel, ao perceber que É rica olhava com curiosidade para Joel. — Sente-se ali. Sara. Nó s nã o vamos demorar muito e depois eu compro um sorvete para você.

Sara aproximou-se da mã e sem afastar os olhos de Joel, que se levantou e enfiou os dedos no cinto da calç a.

— Quer dizer que nã o posso levar Sara para tomar um sorvete?

— Ela nã o quer ir com você. Nã o adianta forç ar.

— E verdade, Sara? Você nã o quer dar um passeio de carro comigo? Vou aproveitar o fazer um retrato seu.

— Um retrato meu?

Sara arregalou os olhos e Rachel ficou furiosa.

— Por favor, Joel, nã o insista!

— É, um retrato seu. Como este aqui...

Tirou uma folha dobrada do bolso e fez sinal para ela se apro­ximar. Sara hesitou a princí pio, olhou interrogativamente para a mã e, como se pedisse seu consentimento, mas Rachel nã o se ma­nifestou. Nã o sabia qual era a intenç ã o de Joel, o que ele estava querendo provar, mas estava furiosa por usar Sara dessa maneira. Sara, no entanto, nã o percebeu esses subentendidos. A antipatia inicial estava dando lugar rapidamente à curiosidade instintiva e, quando arriscou dar uma espiada de longe na folha de papel que Joel segurava na mã o, nã o conteve um grito de admiraç ã o.

— Olhe, mamã e, sou eu! Sou eu!

— Humm — murmurou Joel com indulgê ncia. — Gostou?

Sara arrancou a folha da mã o dele e correu para a mã e, mos­trando o desenho a carvã o que Joel fizera de memó ria. O desenho, como todos os trabalhos de Joel, era excelente. Uma impressã o clara de como vira a menina na tarde em que estivera na casa do coronel. Rachel sentiu um aperto na garganta e fez um esforç o para responder com a voz tranquila.

— Sim, é você mesma. Muito bonito, querida.

Sara apanhou o desenho e virou-o de um lado para o outro, admirando sua imagem.

— Meus cabelos estã o bonitos, nã o é? — perguntou em voz alta. — Mas eu preferia que estivesse sorrindo.

— Você ainda nã o sorriu nenhuma vez para mim.

A menina voltou-se de frente para ele e encarou-o fixamente, sem mover os olhos nem a boca.

— Você sabe fazer eu sorrindo?

— Sara, tenha modos. Joel é um homem ocupado. Ele tem mais coisa a fazer do que desenhar crianç as — interveio Rachel olhando de relance para Joel.

— Pelo contrá rio. Eu teria muito gosto em fazer um outro retrato de Sara. Isto é, se ela vier tomar o sorvete que prometi. Eu detesto tomar sorvete sozinho.

Sara mordeu pensativamente o lá bio inferior.

— Eu pensei que você fosse dar aula hoje de manhã — observou É rica, que ouvira até entã o a conversa em silê ncio.

— Suspendi a aula. Nã o estava com disposiç ã o para ver estudantes.

— Nã o me diga que você veio aqui unicamente para levar Sara à sorveteria! — exclamou É rica, voltando-se para a menina.

— Você també m gostaria de ir? — perguntou Joel com ironia. É rica se afastou com um gesto de impaciê ncia. Sara voltou toda

a atenç ã o para Rachel. Estava indecisa entre o desejo de obedecer a mã e e a tentaç ã o de tomar um delicioso sorvete e ter um outro retrato.

— Mamã e — murmurou na dú vida. — Mamã e, você vai ficar brava se eu for com ele?

Rachel evitou olhar para Joel.

— E isso que você quer fazer?

— Só um pouquinho. Eu volto logo — admitiu Sara com relu­tâ ncia. — Posso?

— Você pode ficar o tempo que quiser — disse Joel. Forç ou Rachel a encontrar seu olhar. — Eu sei onde você mora, Sara. Se sua mã e nã o quiser esperar, a gente se encontra em casa antes do almoç o...

Rachel estava numa posiç ã o delicada e os dois sabiam disso.

— Está bom, entã o — consentiu sem graç a. — Comporte-se, Sara. E nada de conversa fiada, ouviu?

Sara sabia o que a mã e queria dizer. Nã o devia falar nada sobre sua doenç a. Sorriu para ela e Rachel percebeu que ningué m podia ter dú vidas sobre a paternidade. Estava no movimento das sobrancelhas, no gesto da boca, nos menores tiques que despeda­ç avam seu coraç ã o. Joel estendeu a mã o para a menina e os dois saí ram juntos da loja. A atmosfera estava sensivelmente carregada depois da saí da deles.

— Nã o sabia que Joel conhecia sua filha tã o bem — comentou É rica, puxando com impaciê ncia o zí per do vestido.

Rachel saiu de dentro do vestido longo e balanç ou a cabeç a.

— Ele nã o conhece. Essa é a segunda vez que os dois se vê em.

— E ele fez um retrato de memó ria? — indagou É rica com surpresa. — Nã o pensei que Sara fosse um tipo tã o inesquecí vel — acrescentou com ironia. — Se bem que, observando melhor a menina, tive a impressã o que os dois sã o parentes. Rachei deu um suspiro fundo.

— Ai, acho que já experimentei vestidos demais hoje. Vou ficar com o tailleur verde, com aquele vestido lilá s e o casaquinho...

— Eu recebi instruç õ es para lhe fornecer um guarda-roupa com­pleto, Rachel.

Rachel olhou para É rica, depois para o rosto impassí vel de Lí dia e novamente para É rica. De que adiantava discutir com as duas se o responsá vel por toda a confusã o era Joel? Ele fizera aquilo de propó sito e se É rica era amiga Intima dele, como estava claro, era natural que se sentisse despeitada.

— Faç a como você achar melhor — disse Rachel, procurando o pulô ver e a calç a comprida. — Estou um pouco cansada e tenho que voltar para casa.

— Você é quem sabe. Neste meio tempo, vou mandar a costu­reira endireitar os vestidos que você experimentou,

— E eu vou lhe dar o endereç o do meu apartamento. Pode mandar para lá.

— Ó timo.

— Você sabe onde foram parar meu pulô ver e minha calç a comprida?

É rica lanç ou um olhar em volta. Balanç ou os ombros e perguntou:

— Você nã o preferia vestir algo mais elegante na cidade?

— Muito obrigada. Vou voltar com a roupa com que eu vim. A costureira, que estivera até aquele momento atarefada com

os alfinetes, levantando as bainhas e apertando a cintura dos ves­tidos, descobriu as roupas de Rachel embaixo de uma pilha de vestidos. Rachel vestiu-se rapidamente e despediu-se de É rica.

Ao sair à calç ada ocorreu-lhe que James escolhera aquela loja de propó sito, sabendo que mais cedo ou roais tarde ela ficaria sabendo da ligaç ã o existente entre É rica e Joel. Era o tipo de coisa que James costumava fazer, como confrontá -la com o conhecimento da visita de Joel à casa do coronel quando ela menos esperava. Talvez James suspeitasse que Rachel ainda conservava algum sentimento por Joel e queria destruí -lo de uma vez por todas.

Na calç ada, Lí dia tomou um tá xi para o escritó rio enquanto Rachel continuou a pé o caminho de casa, andando lentamente e admirando as vitrines das lojas. Era estranho estar sozinha na cidade. Lem­brou-se do seu. tempo de estudante, antes de conhecer Joel.

Parou um momento diante de uma agê ncia de turismo e olhou os cartazes colados nas paredes. Por que todos os pensamentos seus, todas as lembranç as que possuí a, voltavam inevitavelmente para Joel? Tivera uma vida pró pria antes de conhecê -lo. Por que nã o se lembrava nunca desse tempo?

E verdade que sua infâ ncia nã o fora muito feliz. Ó rfã antes de ter idade suficiente para lembrar-se dos pais, sem ter tias ou outros parentes que tomassem conta dela, foi educada num orfanato, onde o amor nã o era o sentimento dominante. Fizera amizades lá, na­turalmente, e vivera alguns momentos de felicidade, mas somente alguns anos depois começ ou a sentir como as meninas de sua idade. Com a bolsa de estudo que obteve de uma fundaç ã o, alugou um quarto num pensionato e cursou a escola de desenho. Sempre tivera muita sensibilidade para pintura e os desenhos que fazia no colé gio eram tã o bons que os professores a aconselharam a seguir a carreira de arte comercial. Estava na escola de arte havia nove meses quando Joel foi dar aula aos estudantes.

Ele interessou-se imediatamente por ela, provavelmente devido aos cabelos louros compridos que, naquela é poca, batiam em cima dos ombros. Toda vez que precisava de um modelo para demonstrar o uso das cores, Rachel era a escolhida.

No iní cio, evitou ter qualquer contato com Joel fora da escola. Foi inflexí vel nesse ponto, apesar dos comentá rios e dos gracejos das outras alunas. Uma noite, no entanto, Joel esperou-a na saí da das aulas e, como estava chovendo a câ ntaros, aceitou a carona que ele lhe oferecera. Depois desse dia, Joel esperava todas as noites por ela e, vez por outra, iam jantar juntos ou tomar chope num restaurante ao ar livre. Ela reconhecia agora que tinha sido uma loucura flertar com um homem como Joel, mas na é poca tudo parecia muito simples. Joel era extremamente cativante e, quase sem perceber, Rachel apaixonou-se por ele. Mesmo entã o, nã o sentiu os primeiros sin­tomas da apreensã o. Joel dissera muitas vezes que gostava dela e, embora nã o tivesse a intenç ã o de casar no momento, Rachel tinha esperanç a de ser sua mulher um dia.

Como fora estupidamente ingê nua, pensou Rachel, com as mã os apertadas nos bolsos da calç a. O casamento nunca estivera no programa de Joel, muito menos o casamento com algué m de seu ní vel social. Aliá s, as opiniõ es dele sobre as crianç as, em geral, deviam ter-lhe servido de advertê ncia. Joel comentava frequente­mente, naquela é poca, sobre as pessoas que haviam perdido excelentes oportunidades na vida em consequê ncia de terem filhos. Nã o acreditava que todos sentissem a necessidade de se perpetuar nos filhos e sentia pena dos casais que sacrificavam a juventude para criar os filhos, os quais, depois que cresciam, saí am de casa e levavam uma vida independente. Rachel preferia nã o discutir o assunto, ali­mentando secretamente a convicç ã o de que a morte da mã e de Joel, quando o menino tinha apenas alguns meses de idade, era responsá vel pela atitude negativa que mantinha em relaç ã o ao casamento. Joel nunca conhecera o amor de mã e mas, quando os dois estivessem casados, desejaria ter filhos da mesma forma que ela.

A partir de entã o, Rachel passou a frequentar o apartamento de Joel. Fez amizade com Heron, o copeiro, e começ ou a sentir-se em casa, ali. Joel trabalhava até tarde no ateliê e, muitas vezes, Rachel ficava sozinha na saia de visitas, lendo algum livro, en­quanto Joel terminava uma pintura urgente. Levava os trabalhos da escola para fazer no apartamento dele e aproveitava as orien­taç õ es que Joel lhe dava. Em outras ocasiõ es, os dois ficavam juntos na sala, ouviam mú sica e conversavam, e Rachel nunca tinha sido tã o feliz na vida. Joel sofria de enxaqueca. As crises poré m nã o eram frequentes e nã o prejudicavam seriamente o tra­balho. Uma noite, no entanto, uma noite em que Heron estava de folga, Rachel entrou no apartamento e encontrou-o muito pá lido e suando frio, tentando desesperadamente terminar uma pintura que devia exibir numa exposiç ã o daí a dois dias. Rachel tentou convencê -lo que era uma loucura trabalhar naquelas condiç õ es, que nã o podia realizar um bom trabalho, e que devia deitar e repousar um pouco, até que a dor de cabeç a passasse.

Joel concordou finalmente e pediu que Rachel lhe fizesse com­panhia. Embora hesitasse a princí pio, ela se deixou convencer dian­te da fraqueza inesperada que descobriu nele. Joel foi deitar-se no quarto e ela continuou lendo Tia sala.

Devia ter adormecido sem perceber no sofá porque, ao abrir os olhos nas primeiras horas da manhã, encontrou Joel debruç ado sobre seu rosto. A enxaqueca passara provavelmente durante a noite e ele estava com um olhar inquietantemente sensual nos olhos escuros.

Ela nunca o perdoou, nem a si mesma, pelo que aconteceu em seguida. Mas fora inevitá vel. Sonolenta, com o corpo relaxado de­vido ao sono repousante, teria sido desumana se nã o correspon­desse ao desejo dele. Alé m do mais, ela o amava, desejava-o tanto ou mais que ele e, quando Joel a levantou noa braç os e levou-a para o quarto, tudo lhe pareceu perfeitamente natural.

No dia seguinte, poré m, em vez de desculpar-se pelo que tinha acontecido, Joel considerou o fato como uma progressã o natural no relacionamento deles e nã o fez nenhuma menç ã o ao casamento para justificar sua perda de controle.

Rachel ficou abalada, inteiramente decepcionada, furiosa con­sigo mesma por ter se conduzido de uma forma tã o irresponsá vel. Sentiu desprezo por Joel por tê -la usado como usara certamente outras mulheres no passado, e nã o se conformava com que a uniã o pudesse ser algo tã o sem significaç ã o para ele.

Apó s evitá -lo por uma semana, durante a qual recebeu uma sé rie de telefonemas, que passaram do chamado urgente a amea­ç as, concordou finalmente encontrá -lo para discutirem o assunto. Foi um encontro terrí vel. A princí pio Joel tentou convencê -la de que nã o havia nada de mais no que tinha acontecido. Por fim, perdendo a paciê ncia, disse que nã o estava absolutamente disposto a sacrificar sua liberdade em benefí cio dela. Tentou convencê -la a ser compreensiva, adulta, e aceitar que nos dias de hoje a vir­gindade era algo fora de moda.

No fim, os dois disseram uma sé rie de coisas crué is e desagra­dá veis um para o outro, coisas de que mais tarde Rachel se ar­rependeu amargamente. Fora uma maneira indigna de discutir a questã o. Mesmo assim, Joel deixou transparecer que o caso nã o tinha terminado. Ele ainda a desejava, mas destruí ra sem saber todos os sentimentos que ela nutria por ele.

Entã o, trê s semanas depois, Rachel descobriu que havia outra consequê ncia grave por aquela noite de inconsciê ncia. Estava grá vida, sem dinheiro, e inteiramente decidida a nã o pedir ajuda a Joel.

Ao perceber que os funcioná rios da agê ncia de turismo estavam começ ando a observá -la com curiosidade, Rachel afastou-se da vi­trine. Lembrou-se que Sara fora tomar sorvete com Joel e ficou curiosa em saber se a filha tinha gostado do passeio. Uma pontada lhe doeu no coraç ã o. Seria irô nico se Sara se apegasse ao seu irmã o postiç o. O que diria James quando soubesse?

Passava do meio-dia quando Rachel voltou para casa, mas nã o havia sinal do Mercedes creme em frente ao pré dio. Entrou no apartamento silencioso, tirou o casaco e foi preparar um café na cozinha, apenas para se ocupar com alguma coisa. A chaleira es­tava fervendo quando a campainha da porta tocou.

Sara entrou correndo no apartamento, com a boneca na mã o direita e uma folha de papel na esquerda, enquanto contava à s pressas o passeio que tinham dado. No momento, poré m, Rachel nã o prestou atenç ã o à filha. Seu olhar voltou-se instintivamente para o homem que estava parado junto à porta, com um sorriso irô nico no rosto.

— Sã e salva, como você está vendo. Nã o me convida para entrar? Enquanto Sara lhe puxava pela mã o, tentando mostrar o de­senho que trazia, Rachel disse sem jeito:

— Você faz muita questã o?

— Absoluta — disse Joel, entrando na sala.

Rachel dirigiu finalmente sua atenç ã o para a menina. Apanhou a folha que Sara lhe estendeu e sentiu uma pontada no coraç ã o no momento em que viu o retrato que Joel tinha feito. Nunca duvidara de seu talento, e admirava seu trabalho há muito tempo, a facilidade que tinha de penetrar na personalidade do modelo, descobrir os traç os essenciais, mas o retrato de Sara era diferente dos que tinha visto até entã o. Talvez o conhecimento que tinha da menina, de sua vul-nerabilidade, dava ao desenho uma parto do seu encanto, mas era mais do que isso. Se Rachel fosse uma perita em arte, diria que havia sentimento em cada linha do desenho.

— Viu? Eu estou sorrindo! — exclamou Sara com alegria,

— Você está rindo por causa do enorme sundae que comeu — comentou Joel, sentando-se no sofá e passando os braç os atrá s da cabeç a. — Aposto que vai ficar doente...

— Aposto que nã o vou — disse Sara indo até o sofá. — Você també m tomou um sorvete.

— Mas nã o tã o grande quanto o seu.

— Você podia ter pedido, seu bobo — disse Sara apertando a boneca no colo. — É verdade que aquele homem cozinha para você?

Rachel voltou rapidamente a cabeç a e colocou o desenho em cima da mesa.

— Que homem? Onde você foi, Sara?

— Fomos ao apartamento de Joel... lá no alto, no ú ltimo andar do pré dio! Tomamos o elevador que subiu, subiu, subiu...

— Você levou-a ao seu apartamento? — perguntou Rachel horrorizada,

— Por que nã o? Você já esteve lá muitas vezes antes. Sara arregalou os olhos.

— Você esteve lá, mã e? Você foi ao apartamento dele? Você viu todas aquelas casas lá do alto?

— Vi, vi.

Foi indelicada, mas nã o conseguiu se controlar. Percebeu tarde demais que Joel podia destruí -la facilmente e ela o odiava por isso. Era incrí vel a intimidade que havia entre os dois, pensou, com um nó na garganta,

— Sua mamã e e eu fomos amigos há muitos anos atrá s. Antes de você nascer, Sara.

— Você conheceu meu papai?

— Nã o, nã o conheceu — interveio Rachel com a voz tensa. — Sara, está na hora do almoç o. Diga adeus a Joel e vá para o banheiro lavar as mã os.

Sara pareceu decepcionada com a sugestã o e, no primeiro ins­tante, Rachel pensou que nã o fosse obedecer. Entretanto, apó s trocar um olhar rá pido com Joel, ela saiu arrastando os pé s em direç ã o à porta.

— Tchau, Joel — disse de lá, segurando a maç aneta.

— Até outra vez, Sara.

Depois que a menina saiu, Rachel dirigiu-lhe um olhar gelado.

— Muito obrigada por ter levado Sara para passear.

— Pelo jeito você nã o ficou muito contente — comentou Joel levantando-se do sofá. Rachei foi forç ada a encará -lo. — Pois eu adorei o passeio. Sara é um amor e sua companhia foi muito es­timulante. — Fez uma pausa. — Eu quero vê -la mais vezes.

— Você nã o pode! — exclamou sem pensar. Ao ver a reaç ã o dele, tentou convencê -lo com bons modos. — Por favor, Joel. Seja compreensivo. Nã o adianta dificultar as coisas.

— Ela é minha filha e eu tenho o direito de vê -la! — disse com rispidez. A camisa de seda estava aberta no alto e mostrava o peito moreno. A calç a justa acentuava a cintura fina e os mú sculos das pernas. Estava tã o perto que Rachel podia sentir o calor que emanava do seu corpo. — E o mí nimo que você me deve.

— Eu nã o devo nada a você! — murmurou Rachel, torcendo as mã os, desprezando a lembranç a repentina do contato fí sico que o perfume masculino tinha evocado. — Você apanha o que quer, nã o é mesmo? Você nunca pede nada.

— Nã o, mas você pede — disse com violê ncia, segurando-a pela cintura e aproximando-a de si com um movimento brusco. Antes que ela pudesse protestar, colou a boca na sua.

Rachel teve a impressã o de que a aç ã o dele causou surpresa aos dois. Entretanto, no momento em que os lá bios dela se abriram sob os dele, todas as suas energias foram reunidas para resistir à fraqueza devastadora que a assaltava. As mã os dele moviam-se nas suas costas, dobravam o corpo dela em direç ã o ao seu, toma­vam-na intimamente consciente do fí sico musculoso e rí gido. A letargia estava dominando a razã o, os lá bios dele encobriam os seus, penetrantes e macios. Os dedos se abriram sobre o peito moreno e sentiu o desejo alucinado de passar os braç os em volta do pescoç o e agarrar os cachos sedosos dos cabelos.

— Mamã e!

Voltou de repente a si, com uma exclamaç ã o de espanto. Afas­tou-se de Joel e deu um passo em direç ã o à menina, endireitando os cabelos soltos, puxando o pulô ver para baixo da cintura.

— O que foi, Sara? — perguntou com a voz insegura. — Você lavou as mã os?

Sara franziu os lá bios e levantou o rosto espantado para Joel que passava os dedos entre os cabelos, com a respiraç ã o ofegante.

— O que você s estavam fazendo quando eu entrei?

Rachel lanç ou um olhar por cima dos ombros para Joel. Depois fez um gesto casual.

— Sara, você nã o pode entender...

— Eu estava beijando sua mã e — disse Joel, sem hesitaç ã o.

— Você nunca viu duas pessoas se beijarem?

A expressã o perplexa de Sara desfez-se lentamente.

— Por que você estava beijando a mamã e? Joel balanç ou os ombros largos.

— Como vou saber, boneca? — disse com um sorriso irô nico.

— Olhe, eu tenho que ir embora. — Foi até a porta sem prestar atenç ã o ao olhar reprovador de Rachel. — A gente se vê um dia desses, Sara. Adeus, Rachel.

Rachel nã o respondeu. Nã o podia confiar em si mesma. Pela maneira como estava se sentindo no momento, tinha vontade de correr para ele e arrancar seus olhos. Era incrí vel! Joel criava uma situaç ã o impossí vel e saí a tranquilamente deixando-a sozinha para recolher os cacos espalhados pelo chã o.

Quando a porta fechou. Sara voltou sua atenç ã o para a mã e.

— Por que ele beijou você, mamã e? Eu nã o gostei que ele bei­jasse você. Você é minha mamã e, e nã o a mamã e dele.

— Ah, Sara, esquece — murmurou Rachel levantando-a no colo e apertando-a com forç a. Se fosse tudo tã o simples assim, pensou, com a cabeç a girando confusamente. Se fosse apenas o ciú me da filha que tivesse que enfrentar...

 

 



  

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