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CAPÍTULO IV



 

 

Sara adormeceu finalmente. Rachel saiu do quarto na ponta dos pé s e fechou a porta com cuidado. A menina estava muito excitada e perturbada no apartamento novo, por tudo que acontecera durante o dia, e tinha um pouco de febre. Agora poré m estava dormindo tranquilamente e Rachel deu um suspiro de alí vio ao caminhar para a sala, onde James Kingdom aguardava por ela.

O apartamento era bem maior do que imaginava, e bastante si­lencioso, porque ficava no fim de uma rua sem saí da. Alé m da sala de visitas, tinha uma cozinha espaç osa, que servia de copa, dois quartos e o banheiro. Os mó veis eram simples, se bem que mais luxuosos do que das residê ncias anteriores de Rachel, e ela reconheceu que James nã o medira as despesas. Deveria, normalmente, sentir-se agradecida com tudo isso, mas o relacionamento dos dois era tã o recente que a gratidã o diluiu-se numa certa dose de cinismo. De qualquer forma, o apartamento estava pró ximo do Hospital Sã o Ma­teus, e isso era a coisa mais importante. Quando chegasse o momento de Sara ser internada, Rachel podia visitá -la a qualquer hora.

James levantou-se do sofá quando Rachel entrou na sala e apon­tou para um lugar ao seu lado.

— Sente-se aqui, Rachel. Vou preparar umas bebidas. O que você prefere? Gim... uí sque... vodca?

— Um Martini seco, por favor — disse Rachel. Sentou-se na beira de uma cadeira enquanto James foi ao armá rio das bebidas, onde havia uma variedade de copos e garrafas.

Voltou para o sofá com dois copos na mã o. Estendeu um deles para Rachel e comentou:

— Você está com a fisionomia abatida, Rachel. Nã o vou ficar muito tempo. Espero que você descanse bem à noite.

Rachel bebeu o Martini em goles pequenos.

— Foi um dia terrivelmente agitado — disse por fim. — Você foi muito gentil em nos esperar na estaç ã o e nos levar para jantar. Sara adorou.

— Imaginei que você nã o estaria com disposiç ã o para fazer o jantar. Por falar nisso, os armá rios da cozinha estã o bem providos. Minha secretá ria ocupou-se das compras.

— Nã o sei como agradecer-lhe, James.

Ele parecia muito satisfeito com a nova situaç ã o. Mesmo com a blusa esporte e o pulô ver meio largo no corpo, Rachel tinha estilo e elegâ ncia, mas James estava disposto a vesti-la de acordo com sua situaç ã o econô mica. Claudine, a mã e de Francis; tinha estilo. Talvez ainda tivesse. Mas era indiscreta e James fora obri­gado a se divorciar dela.

— Antes que me esqueç a — disse James voltando-se para Ra­chel. — Combinei com minha secretá ria para levá -la esta semana ao Grey Salon.

— Ao Grey Salon? — perguntou Rachel surpresa. — O que é isso?

— É uma butique que está muito na moda. Aliá s, é de uma amiga de Joel.

Rachel corou e apertou o copo com forç a na mã o.

— Ah, sei!

— De É rica Grey. Quando ela souber seu nome, vai querer atendê -la pessoalmente.

— O que você quer dizer com isso?

— Simplesmente que você é minha noiva, querida. O que você pensou? Eu nã o comuniquei aos meus amigos que minha noiva foi amante do meu filho!

Rachel levantou-se com um movimento brusco e derramou a bebida no carpete cor de vinho.

— Você nã o devia falar uma coisa dessas!

— Desculpe, querida. Falei sem pensar.

— Eu nã o fui amante de Joel — murmurou com a voz tré mula.

— Eu sei que nã o foi. — James deu um suspiro e balanç ou a cabeç a. — Perdoe-me, sim?

Rachel olhou fixamente para o copo na mã o e sacudiu lenta-mente a cabeç a. James descontraiu-se.

— Talvez eu tenha dito isso de propó sito... para feri-la... como você me feriu ao esconder a visita de Joel.

Rachel sentiu-se presa numa teia. Sabia que devia ter mencionado a visita de Joel, mas a lembranç a era muito viva para poder comentá -la objetivamente.

— Como você soube? — perguntou com a voz insegura. James deu um suspiro.

— Joel me contou.

— Joel?

— Você pensava que ele ia guardar segredo?

O que ela pensava? Nã o sabia. Talvez imaginasse que Joel evitaria uma confrontaç ã o com o pai. Deveria estar prevenida.

— Joel foi me visitar há uma semana atrá s — disse em voz baixa. — O coronel nã o o viu. Ele queria conhecer Sara.

— E você contou de quem era a menina?

— Sim, contei — confessou Rachel com um suspiro fundo.

— Por que, Rachel? Devido à semelhanç a de Sara com Joel?

— Nã o sei. — Apertou os dedos em volta do copo. Era fá cil admitir que fora isso. Mentir. Mas as mentiras levavam a outras mentiras e isso nã o era o iní cio de um relacionamento. — Ele nã o tinha visto Sara quando comuniquei 0 fato.

As sobrancelhas espessas se arquearam no alto do nariz.

— Entã o por que foi?

Rachel afastou-se alguns passos, meneando a cabeç a.

— Ah, foi terrí vel. Tivemos uma discussã o... uma discussã o horrí vel. Acho que desejei agredi-lo com a verdade. E consegui, pelo visto.

— E você nã o tinha a intenç ã o de me contar isso? Nã o acha que eu devia saber? Para estar prevenido...

— Nã o houve muito tempo.

— Nã o, nã o houve — concordou James abaixando a cabeç a. — Penso que nã o houve. — Estreitou os olhos. — Sara sabe alguma coisa?

— Nã o! Claro que nã o!

— E melhor assim. Eu nã o quero que tenhamos segredos um com o outro, Rachel. Nã o se esqueç a disso. Sem meu auxilio você nã o teria outra alternativa senã o procurar Joel. E isso que você deseja?

— Você sabe que nã o — disse Rachel com os lá bios trê mulos. — Eu jamais pediria ajuda a Joel.

— Bem. vamos encerrar esse assunto. E amanhã que você tem hora marcada com o mé dico?

— É. À s dez da manhã.

— Está nervosa?

— Você está?

James pensou um instante antes de responder.

— Apreensivo, talvez. Mas o dr. Lorrimer é sem dú vida alguma o especialista mais competente neste setor. Nã o há motivo para alarme.

— E se falhar?

— Nesse caso Sara vai continuar com o tratamento atual. Nã o custa tentar. Acho que você deveria estar mais otimista.

— Vou fazer forç a — disse, segurando o copo de Martini entre as duas mã os.

James examinou-a em silê ncio durante um momento, depois inclinou a cabeç a para beijá -la na boca. Rachel afastou o rosto e os lá bios dele encontraram o pescoç o. Endireitou o corpo e olhou para ela com o rosto contrariado.

— Nó s fizemos um acordo, Rachel. Eu confio em você. Você nã o confia em mim?

Rachel apertou os lá bios.

— Sim, claro que sim, James. Mas nã o apresse as coisas. Tive um dia muito cansativo hoje.

James assentiu e a expressã o do rosto tornou-se mais cordial.

— Eu sei. Estava esquecendo. — Bebeu o ú ltimo gole de uí sque e colocou o copo vazio em cima do aparador. — Espero que você durma bem. Vou passar amanhã para saber notí cias antes de embarcar para Frankfurt. É uma pena ter que viajar no momento em que você mudou para Londres, mas essa é a ú ltima convenç ã o em que tomo parte.

Rachel deu um sorriso sem graç a e acompanhou-o até a porta. Quando James inclinou-se novamente para beijá -la, aceitou o beijo com submissã o, mas sem nenhum entusiasmo. James fingiu que nã o percebeu.

Rachel levou os copos sujos para a cozinha e lavou-os na pia. Era uma cozinha jeitosa, com armá rios cor de laranja e maç anetas de metal cromado. Ao abrir os armá rios, encontrou uma pilha de pratos e uma coleç ã o de copos e xí caras. Havia mantimentos para uma semana. Frutas frescas, legumes, verduras, leite, manteiga, queijos diversos, e um pã o fresco guardado numa lata bem tam­pada. Algué m arrumara as coisas com muito carinho.

Passava das nove e meia quando voltou à sala e o cansaç o estava começ ando a pesar nos seus ombros. Entretanto, a idé ia de ir para a cama nã o era muito animadora; ligou o aparelho de televisã o e forç ou-se a prestar atenç ã o à novela que estava sendo apresentada. Os pensamentos, poré m, nã o a deixavam concentrar-se na histó ria, e, quando a novela terminou, nã o tinha a menor idé ia do que assistira.

Lembrou-se com uma certa melancolia que a casa antiga do coronel estava fechada. Fora ali que morara com Sara nos ú ltimos cinco anos e podia dizer que o coronel fora tanto ura amigo quanto um patrã o. Invá lido de guerra, ocupado em escrever suas memó ­rias, o coronel ficou contente de ter companhia na casa grande, especialmente depois que Sara cresceu e passava muitas horas no seu quarto. Rachel nã o sabia realmente o que teria feito da vida sem o auxí lio generoso do coronel Frenshaw.

A saú de do coronel piorara sensivelmente nos ú ltimos meses e o mé dico aconselhara que se mudasse para uma regiã o mais seca e quente. O coronel desejava que Rachel o acompanhasse, providenciara inclusive acomodaç õ es para Sara, mas Rachel nã o aceitou o convite. Já devia muita gratidã o ao coronel e, alé m disso, mais cedo ou mais tarde teria que arrumar sua vida de outra forma.

Foi por um simples golpe de sorte que James Kingdom a en­controu na casa do coronel. Rachel sabia que o coronel tinha conta num banco era Londres e que o diretor do banco era conhecido dele da é poca em que residira em Londres depois da guerra. Quan­do o coronel decidiu vender a casa e mudar-se para o norte, pro­curou seu velho amigo no banco, e James Kingdom prometeu ocu­par-se de tudo pessoalmente.

Rachel sentiu ura arrepio na espinha. Podia lembrar-se ainda do susto que levou quando abriu a porta e deu com James. Ele a reconheceu imediatamente. Embora Rachel nã o comentasse nada a respeito de Sara, o coronel naturalmente conversou com James sobre sua governante, jovem e bonita, que perdera o marido antes do nascimento da filha.

James compreendeu rapidamente a situaç ã o e sugeriu uma so­luç ã o adequada para o caso. Encontrou uma oportunidade e con­versar com Rachel e indagou os motivos de seu desaparecimento. Rachel hesitou a princí pio, mas acabou confessando a verdade. James mostrou-se compreensivo, especialmente quando foi infor­mado sobre o defeito congê nito de Sara.

Foi entã o que lhe ocorreu a idé ia de um acordo entre os dois. Ele desejava uma mulher. Tinha a intenç ã o de se aposentar, mas nã o pretendia em absoluto levar uma existê ncia solitá ria. Se Ra­chel desejava seguranç a, bem como a recuperaç ã o de Sara, devia refletir sobre sua proposta.

Rachel refletiu longamente. Noite apó s noite. A princí pio, a idé ia de casar-se com James Kingdom parecia absurda mas, pouco a pouco, admitiu que os benefí cios que Sara receberia compensa­vam os outros temores que sentia. Faria qualquer coisa para re­cuperar a filha e para Sara ter uma situaç ã o garantida no futuro e nã o ter que enfrentar as mesmas dificuldades que ela. Afinal, James era o avô da crianç a. Devia sentir uma ternura especial pela menina. Alé m disso, viveriam a maior parte do ano na Gré cia e, se tudo corresse bem, Sara podia voltar mais tarde para a In­glaterra e estudar ali. Teria todas as vantagens oferecidas pelo dinheiro e Rachel nã o teria que trabalhar novamente, a menos que desejasse. Como era possí vel recusar essa proposta?

Ela aceitou. Aceitou com a condiç ã o de James fazer uma sé rie de testes. Se os testes fossem positivos, concordaria em casar-se com ele. Os testes foram feitos e Rachel aguardou os resultados com nervosismo. Finalmente James apareceu um dia com a notí cia que o mé dico aprovara sua sugestã o.

Rachel levantou-se do sofá, apagou a televisã o e foi para o quarto. A porta que comunicava com o quartinho de Sara estava entreaberta. Rachel foi até lá na ponta dos pé s e ouviu com atenç ã o. Sara respirava regularmente e parecia mais tranquila depois das emoç õ es do dia. Mordeu o lá bio com forç a. O que faria se algo desastroso acontecesse? O que aconteceria se a operaç ã o fosse mal­sucedida e Sara morresse? Jamais perdoaria a si mesma por ter dado o consentimento.

Rachel dormiu profundamente, contra sua expectativa, e acordou com o ruí do dos carros na rua perto do pré dio. O sol brilhante atra­vessava as cortinas leves e desenhava sombras de flores no assoalho. Era um bom sinal, pensou com otimismo. Ouviu os ruí dos abafados que vinham do quarto pegado e deu um sorriso. Sara estava reco­nhecendo a casa nova e tivera a bondade de nã o acordá -la.

Levantou-se, vestiu o robe azul-marinho e foi até a porta do quarto de Sara. A menina estava passando seus brinquedos pre­feridos da sacola de lona para o armá rio ao lado da cama. Levantou a cabeç a quando avistou Rachel e deu um sorriso de satisfaç ã o.

— Você é uma dorminhoca! Eu estou acordada há um tempã o. Rachel olhou automaticamente para o reló gio e relaxou quando

viu que eram apenas oito e meia.

— Dormiu bem, boneca?

— Humm. A cama é macia. — Pulou em cima do colchã o para demonstrar sua elasticidade. — Eu vou ter uma cama como esta quando a gente for morar com aquele homem? — Embora James preferisse que Sara o chamasse de " tio", a menina era incapaz de dizer isso, e chamava-o invariavelmente de " aquele homem", o que deixava Rachel sem jeito.

— Você vai gostar de lá — disse Rachel. — Agora vamos tomar banho e nos vestir para ir ao hospital.

Sara pulou da cama e indagou com o rosto ansioso:

— Eu vou passar a noite no hospital?

— Nã o, hoje nã o. Vamos apenas fazer uma consulta ao mé dico. Você se lembra do dr. Lorrimer? Você o conheceu quando estivemos em Londres na ú ltima vez, lembra?

— Quando ficamos naquele hotel grandã o?

— Isso mesmo. — Rachel sorriu. — Vem, vamos tomar banho.

Estavam sentadas à mesa do café quando o telefone tocou. Ra­chel atendeu com os nervos tensos. Mas era apenas Lí dia, a se­cretá ria de James, perguntando se precisava de alguma coisa. Ra­chel disse que estava tudo bem e agradeceu todo o trabalho que

, Lí dia tivera no dia anterior.

Depois do café, foram a pé até o Hospital Sã o Mateus. Embora nã o fosse novo, tinha todos os requisitos de um moderno centro hospitalar. Sara estava acostumada com as visitas ao hospital e nã o ficou nervosa quando andou pelos corredores na companhia da mã e. Rachel estava mais nervosa que a filha, porque sabia exatamente qual era o motivo da consulta.

Dr. Lorrimer, o cirurgiã o que tratava de Sara, era um homem de meia-idade, de porte imponente, e que inspirava confianç a aos pacientes. Era especialmente carinhoso com as crianç as e, embora Sara só o tivesse visto uma ú nica vez, submeteu-se aos exames sem maiores dificuldades. A consulta nã o foi muito demorada e, enquanto Sara brincava com Helga, sua boneca favorita, Rachel forneceu todos os dados clí nicos ao mé dico.

James Kingdom voltou ao apartamento naquela noite. Sara ter­minara de jantar e estava se preparando para dormir quando a campainha tocou no corredor e ela foi abrir a porta, enquanto Rachel prendia os cabelos no alto da cabeç a. Sara contou anima­damente a visita ao hospital e a consulta com o dr. Lorrimer. Depois que Sara foi dormir, Rachel ficou a só s com James, na sala de visitas, que parecia muito contente com a situaç ã o.

— Está vendo? Sara já se ambientou perfeitamente — disse, ao sentar-se numa cadeira de braç os com um drinque na mã o. — Nã o vai ser tao difí cil quanto imaginá vamos.

— As crianç as se adaptam rapidamente. Essa é uma das van­tagens de ser crianç a.

— Como se você fosse uma mulher de idade! — exclamou James. — Pelo fato de ter alguns anos mais do que você, nã o é motivo para você se julgar uma velha... Eu gosto de sua juventude, Rachel. E uma das coisas mais encantadoras em você. Quem sabe se po­demos ter filhos um dia?

— Nã o sei — disse Rachel sem jeito, com o rosto tenso.

— Vou passar uns dez dias fora — continuou James sem prestar atenç ã o à resposta. — Sara poderá adaptar-se completamente ao novo ambiente, nã o apenas em casa como no hospital... E, quando voltar... Já tomei todas as providê ncias nesse sentido.

— Eu sei. O dr. Lorrimer me contou.

— Entã o, está mais confiante agora?

— Estou. — Rachel abaixou a cabeç a. — E depois...

— A Gré cia é o lugar ideal para a recuperaç ã o completa...

— E o banco?

— Francis vai se encarregar do banco e Geoffrey Morrison é um homem de toda confianç a.

— Mas você me disse...

— Eu sei. Eu disse que tinha esperanç a que Joel seguisse meus passos. O que era verdade. Infelizmente, Joel abriu mã o de toda sua heranç a. Mesmo assim, nem tudo está perdido. Francis vai ter que se desdobrar. Ele pelo menos chama-se Kingdom. E, se tudo correr bem, podemos ter um filho, que vou moldar à minha imagem.

Os olhos escuros brilharam e Rachel entendeu perfeitamente o significado das palavras. James nã o tinha o menor escrú pulo em deserdar Francis se isso fosse conveniente. James era intei­ramente impiedoso nos negó cios. Isso ela sabia desde muitos anos atrá s, como Joel lhe contara. Mas era impossí vel imaginar que teria um filho de James.

— Por falar nisso — disse James, fixando-a atentamente —, providenciei a vinda de uma empregada para você, enquanto Sara estiver no hospital.

— Mas nã o há necessidade...

— Claro que há. Nã o gostaria que você se sentisse sozinha neste apartamento, sem ningué m para ajudá -la.

— Enquanto você estiver viajando?

— Exatamente.

— Mas Sara só vai passar uma noite no hospital.

— De qualquer maneira prefiro saber que você nã o está sozinha.

James foi inflexí vel e Rachel preferiu ceder a discutir, mas ficou na dú vida se a preocupaç ã o de James com seu bem-estar nã o tinha algo a ver com Joel.

Na manhã seguinte, antes de James partir para Frankfurt, telefonou para ela do aeroporto.

— Eu esqueci de lhe dizer, querida, que minha secretá ria vai te­lefonar hoje de manhã para combinar a ida à butique de que lhe falei.

— Mas eu nã o preciso de roupas no momento — protestou Rachel.

— Deixe isso por minha conta. Eu quero que você se vista como uma pessoa da minha famí lia.

— Mas eu ainda nã o faç o parte da sua famí lia, James,

— Mas logo fará. Faç a minha vontade! Eu quero encontrá -la muito chique quando voltar da viagem!

Rachel desligou o telefone sem dar nenhuma resposta definitiva. Como sempre, nã o adiantava explicar que preferia continuar in­dependente até o dia do casamento. Se a secretá ria insistisse, poré m, em levá -la à tal butique, o pouco dinheiro que tinha iria embora num minuto com as roupas que comprasse.

Lí dia Clay, a secretaria de James, era uma mulher de quarenta e poucos anos que trabalhava para a Sociedade Kingdom desde adolescente. O fato de ser atualmente secretá ria da diretoria de­notava a firmeza de sua vontade. Ao ver o rosto imaculadamente tratado e o vestido azul-marinho elegante, Rachel pensou consigo se a secretá ria nunca tinha nutrido a esperanç a de ter uma inti­midade maior com o chefe. Rachel notou a expressã o de desagrado que Lí dia lhe dirigiu a primeira vez que foi ao escritó rio de James o imaginou que ela julgava inteiramente incompatí vel a diferenç a de idade que havia entre os dois.

Lí dia foi apanhá -la de tá xi e o motorista estava esperando na calç ada quando as duas desceram do pré dio. A butique Grey Salon ficava numa travessa de Regent Street e, vista de fora, nã o tinha uma aparê ncia especialmente cativante. Entretanto, quando Rachel atravessou as portas de vidro e pisou no carpete cinzento, reconheceu imediatamente que havia uma atmosfera especial no ambiente que intrigava os clientes. Cortinas cor-de-rosa de tule cobriam tudo, menos o que era indispensá vel ver, e nã o havia os porta-cabides abarrotados de roupas e vestidos que Rachel costumava encontrar nas outras lojas. Sara, muito pequena no salã o enorme e pouco habituada a ver ambientes daquele tipo, examinava tudo em volta com os olhos ar­regalados, apertando a boneca contra o peito.

— A loja está vazia, mamã e — comentou com candura apó s um momento. — Eles venderam tudo?

Lí dia esboç ou um sorriso ao ouvir o comentá rio.

— Bom dia, madame — disse a gerente, aproximando-se dela. — Fazia tempo que nã o a via por aqui.

— Pois é, andei um pouco ocupada ultimamente. Viemos fazer uma visitinha a É rica. Ela está livre no momento?

— Estava à sua espera — disse a gerente olhando com suspeita para o pulô ver e a calç a comprida de Rachel. — Por favor, venham por aqui.

Passaram pela cortina cor-de-rosa o entraram numa outra sala espaç osa. O carpete era cinza-escuro e havia muitas cadeiras e cubí culos, alé m de uma pequena passarela para os desfiles. A gerente convidou-as para sentarem e foi chamar a dona da loja.

Rachel aguardou com ansiedade. Lembrou-se que É rica Grey era conhecida de Joel. Que espé cie de conhecida? Era amiga í n­tima? Quando visse Sara ficaria surpresa com a semelhanç a de traç os que havia entre os dois? Ou teria uma reaç ã o mais forte?

Rachel imaginava que É rica fosse uma mulher de meia-idade, cheia de corpo, e ficou surpresa quando avistou uma moç a pequena e delicada entrar na sala acompanhada da gerente. Elegante, num vestido justo de tafetá, os cabelos pretos formando uma massa de ondas em volta da cabeç a, ela olhou rapidamente para a roupa que Rachel vestia com uma expressã o visí vel de desprezo.

— Bom dia, Rachel — disse com a voz fria. — James me disse que você ia passar por aqui para escolher uns vestidos...

Rachel assentiu com a cabeç a.

— Esta menina é sua filha? — perguntou É rica olhando para Sara. Sara torceu o nariz e escondeu-se atrá s das pernas da mã e.

— É. Chama-se Sara.

Os lá bios finos de É rica curvaram-se para baixo.

— Como vai, Sara?

A menina observou-a em silê ncio, com o rosto fechado. Nã o havia dú vida que se parecia com Joel, pensou É rica examinando-a com atenç ã o.

— Ela nã o se parece muito com você — disse para Rachel.

— Nã o, nã o se parece. Na realidade, ela é mais parecida com o avô.

" Que ela pense o que quiser! ", exclamou Rachel consigo mesma. As roupas e vestidos da loja eram impecá veis, como Rachel reconheceu logo em seguida. Despiu o pulô ver e a calç a comprida que vestia e experimentou as roupas bem feitas e de cores vivas, que acentuavam sua cor de pele. Rachel nã o tinha a pele clara habitual das louras; a pigmentaç ã o era mais escura e se bronzeava facilmente ao sol. Por isso, nã o ficava bem com tonalidades pastel. É rica percebeu isso imediatamente e deixou de lado todas as roupas que nã o combinavam com a imagem que desejava criar. Pouco depois, Rachel estava vestida como convinha a uma jovem esguia, se bem que ligeiramente magra, que tinha o fí sico ideal para saias compridas e esvoaç antes de crepe. Atenta unicamente à escolha dos vestidos que combinavam com o tipo, É rica nã o prestou atenç ã o aos protestos de Rachel, repetindo apenas que tinha ordens de James para escolher um guarda-roupa completo para ela.

Lí dia, continuou sentada durante as provas e ignorou completa-mente a existê ncia de Sara. Na primeira meia hora, a menina mos­trou-se paciente, encantada com a transformaç ã o que ocorria com a mã e, mas no fim de uma hora, de duas horas, tornou-se impaciente e agitada, e perguntava sem parar quanto tempo ainda iam ficar ali.

Finalmente, no momento em que Rachel saiu de um dos cubí ­culos com um vestido comprido azul-safira, de mangas amplas e justo até a cintura, ela ouviu a voz de um homem no salã o da frente. Antes mesmo que tivesse tempo para tomar consciê ncia do ocorrido, Joel atravessou a cortina que separava uma sala da outra e apareceu diante delas. É rica deixou imediatamente o que estava fazendo e foi recebê -lo.

— Querido! — exclamou em voz alta, ficando na ponta dos pé s para lhe beijar o rosto. — Que surpresa agradá vel!

Joel espiou para Rachel por cima da cabeç a de É rica, e ela corou ao receber o olhar em cheio no rosto.

— Eu passei apenas para ver como estava minha madrasta — disse Joel com uma expressã o de zombaria.

 

 



  

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