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CAPÍTULO VI
No dia seguinte, Sara devia ir ao hospital fazer o tratamento. Passaria a noite lá, mas Rachel nã o telefonou para a empregada de James, como ficara combinado. Nã o conhecia a mulher e nã o estava disposta no momento a ter uma pessoa estranha em casa. Na parte da manhã, chegou um mensageiro da loja de roupas com caixas de vestidos, sapatos e lingerie, que É rica julgava serem necessá rios para o guarda-roupa da futura mulher de James King-dom. Sara divertiu-se abrindo os embrulhos e passeando pela sala com os vestidos na mã o. Rachel preferiu nã o fazer nenhum comentá rio; no í ntimo, estava furiosa com a idé ia de que um homem comprasse roupas para ela, nã o importava quem fosse esse homem. Finalmente, aceitou com resignaç ã o o inevitá vel e pendurou os vestidos nos cabides do armá rio, enquanto Sara arrumava cuidadosamente os sapatos c as sandá lias nos respectivos lugares. Havia blusas e pulô veres de casemira que Rachel nunca tinha vestido antes na vida. É rica provavelmente mandara todas aquelas peç as para mostrar que seguia à risca as instruç õ es de James. Rachel, poré m, nã o seria humana se nã o achasse algumas roupas lindas e trocou a calç a desbotada que vestia por um jeans de um tom maravilhoso de verde, e vestiu uma blusa lilá s de uma fibra sinté tica finí ssima. A transformaç ã o foi imediata. A calç a justa acentuou as linhas esguias das pernas e a cor viva da blusa combinou com o louro prateado dos cabelos. Era incrí vel o que as roupas podiam fazer, pensou com cinismo, mirando-se no espelho. Parecia mais jovem e menos abatida. A tarde. Rachel levou Sara para conhecer a cidade. Sara ficou deslumbrada com o Parlamento e o Palá cio de Buckingham e, com o sol da primavera brilhando por entre as folhas das á rvores, adorou passear pelos parques e dar comida aos cisnes nos lagos. Rachel contou a vida que levara em Londres quando era estudante e Sara disse que gostaria també m de estudar quando crescesse. Quando voltaram ao apartamento, havia uma surpresa nã o muito agradá vel à espera das duas. A empregada de James, a senhora Talbot, estava na cozinha, limpando os pratos e talheres do almoç o que Rachel deixara dentro da pia. Rachel sentiu uma certa irritaç ã o ao perceber que James dera uma chave do apartamento para a empregada. A mulher de idade sorriu sem jeito quando as duas entraram. — Boa tarde, dona Rachel — disse com timidez. — Como está, Sara? — Enxugou as mã os no avental que estava usando. — Aproveitei que a senhora tinha saí do para limpar um pouco o apartamento. Rachel mordeu o lá bio. Controlou uma resposta indelicada e perguntou: — Como a senhora entrou? — O senhor James me deu a chave da cozinha. Disse que a senhora ia estar muito ocupada no hospital e pediu para cuidar do apartamento na sua ausê ncia. — Ah, sim? Rachei tirou o casaco de pele de camelo que estava usando, um presente de James, e jogou-o em cima da cadeira. A empregada nã o tinha culpa, pensou. Mas nem por isso sentia-se menos irritada com a intrusã o. Enquanto ajudava Sara a despir seu casaquinho forrado, a empregada disse: — Eu pus a chaleira no fogo, dona Rachel. A senhora quer tomar um chá? Rachel levantou-se, com o casaquinho nas mã os. Deu um suspiro de resignaç ã o. — Sim, gostaria. Sara voltou-se curiosamente para a mã e quando a empregada foi preparar o chá na cozinha. — Por que ela está aqui? Rachel deu um sorriso sem graç a. — Ela veio me ajudar a limpar o apartamento. Agora vá lavar as mã os. Você quer um copo de leite com biscoitos? Sara balanç ou a cabeç a e saiu correndo em direç ã o ao banheiro enquanto Rachel tomava coragem para enfrentar a empregada. A mulher de idade estava escaldando o bule de chã e um leve rosado no rosto indicava que ela també m nã o estava gostando muito da situaç ã o. —A senhora desculpe se fui indelicada há pouco —disse Rachel. — Mas eu nã o sabia que James tinha uma chave do apartamento. Ele nã o me avisou nada. A empregada terminou de escaldar o bule e colocou a chaleira em cima da pia. — Nã o foi nada, dona Rachel — disse, colocando a tampa no bule. — Eu nã o sei se a senhora foi informada, mas o senhor James disse que era para eu dormir aqui enquanto Sara estivesse no hospital. Rachel deu um suspiro fundo. — Entendo. Mas como a senhora sabia que Sara ia passar a noite no hospital? — Foi a secretá ria do senhor James que me informou. — Ah, sim. — Se a senhora me disser onde vou dormir, vou para o quarto e nã o a incomodo mais. — O que é isso? Eu devia estar contente com sua ajuda. A senhora vai jantar conosco e depois pode assistir à novela na televisã o, em vez de ficar trancada no quarto. A empregada deu um sorriso, — Muito obrigada, dona Rachel. A senhora nã o precisa se preocupar comigo. Se quiser sair para visitar seus amigos... Rachel voltou-se para que a mulher nã o visse seu rosto. — Eu nã o tenho conhecidos em Londres. O telefone tocou no momento em que ajudava Sara a arrumar seus brinquedos preferidos na sacolinha de lona, que levava sempre consigo quando ia ao hospital. A empregada estava na sala e atendeu o telefone. Passou a cabeç a na porta do quarto e disse de lá: — O sr. Joel está no telefone. A senhora pode atender? Rachel assentiu, contrariada, mas nã o tinha outro jeito. Quando o telefone tocou, imaginou que fosse James ou Lí dia, a secretá ria, e estava preparada para dizer que nã o apreciava o sistema dele. Mas o que Joel podia querer? Sabia que Sara ia passar a noite no hospital? Descobrira o motivo verdadeiro do seu casamento com James? Todos esses pensamentos ocorreram simultaneamente e era difí cil levantar-se e comportar-se como se nã o houvesse nada especial no telefonema do filho do seu futuro marido. — Alô? — perguntou com nervosismo. — Olá, Rachel. Nã o sabia que você tinha um vigia em casa. — O que você quer, Joel? — exclamou, ignorando a ironia. — Eu quero conversar com você. Ia sugerir aparecer aí depois que Sara fosse para a cama, mas isso está fora de cogitaç ã o. — Fez uma pausa. — Que tal se fô ssemos jantar juntos? — Muito obrigada, mas nã o posso. — Escuta, Rachel, você nã o pode se descartar de mim dessa forma. Mais cedo ou mais tarde vamos ter uma conversa. Se você prefere, eu passo aí... — Você sabe que nã o prefiro! — Muito bem, entã o, nã o precisa brigar. O que você sugere? — Nã o sugiro nada — disse Rachel, olhando por cima dos ombros. — Você nã o pode me telefonar amanhã? — Por quê? O vigia nã o vai estar aí? — Ela vai sair amanhã cedo. — Ah, é? — Eu nã o posso encontrá -lo hoje à noite. — Entendi. — Depois de um momento de silê ncio, acrescentou: — Vou levar você s duas para almoç ar amanhã. Conheç o um lugar que Sara vai gostar. . — Nã o sei se vamos poder ir. — As onze e meia eu passo aí. Desligou antes que ela pudesse responder. Rachel colocou o fone no gancho e permaneceu alguns segundos olhando fixamente para o aparelho. Depois, com um suspiro, voltou para o quarto de Sara. Deixar a menina no hospital era sempre um problema, especialmente quando nã o conhecia nenhuma das enfermeiras. Sara parecia muito pequena e indefesa na cama do hospital e a má quina que a mantinha viva nos ú ltimos seis meses alimentava-se dela como vampiro monstruoso. Mas nã o era verdade. Era Sara que recebia vida da má quina. Rachel voltou a pé para casa. Nã o tinha pressa em chegar e encontrar a empregada em casa. Nã o queria conversar com ningué m sobre a doenç a de Sara. Sentiu a necessidade de fugir por algumas horas dos seus pensamentos deprimentes e desejou ter um carro para poder sair da cidade, que estava repleta de recordaç õ es penosas. Desde a noite anterior sentia-se ansiosa e inquieta, e o telefonema de Joel aumentara ainda mais seu nervosismo. O que ele pretendia, torturando-a dessa forma? Quais eram suas intenç õ es? O que podia dizer que já nã o fora dito? Se imaginava que a cena do dia anterior despertara nela outra coisa a nã o ser a repulsa, estava redondamente enganado, mas, todas as vezes em que ela se lembrava dos instantes em que passara nos braç os dele, um arrepio lhe percorria o corpo. Talvez fosse isso que a perturbava mais. Joel era, sempre fora, um homem de forte atraç ã o sexual, e a possibilidade de poder usar essa atraç ã o para atingir seus objetivos enchia-a de pavor. Quase preferia que James nã o tivesse viajado. Naquele momento estava realmente muito sozinha. Estava a um quarteirã o do apartamento quando um carro verde se aproximou e parou junto à calç ada. Rachel diminuiu o passo, assustada com a possí vel intenç ã o do motorista, e ficou surpresa quando o vidro da janela do carro foi abaixado e reconheceu as feiç õ es elegantes de É rica. A moç a nã o estava sozinha. Quando a porta do outro lado se abriu e um homem surgiu, Rachel nã o se surpreendeu ao avistar Joel. Ele deu a volta com expressã o ansiosa. — O que você está fazendo sozinha a essa hora? Rachel observou um instante o homem moreno e elegante no smoking de veludo marrom e nã o soube o que responder. — Nã o é tã o tarde assim — disse por fim. — Alé m do mais, isso nã o é da sua conta. Ao perceber que É rica podia ouvir a conversa, a ú nica reaç ã o de Joel foi apertar os lá bios, embora sua fisionomia demonstrasse claramente sua desaprovaç ã o. — Entre no carro. Vou levá -la até em casa. — Muito obrigada, mas prefiro andar a pé. A noite está gostosa e faz bem passear um pouco. Estou acostumada a andar a pé. Boa noite. — Voltou-se rapidamente para É rica. — Boa noite, É rica. — Espere um instante — disse Joel, segurando-a pelo braç o. Os dedos dela encostaram de leve na manga do casaco de veludo e os olhos dele, sé rios e autoritá rios, mergulharam nos dela. — Você já jantou? — Já. Muito obrigada. Os dedos morenos apertaram com mais forç a seu braç o, mandando ondas de dor até a ponta dos dedos. Depois, com um sorriso de resignaç ã o, soltou-a e voltou para o carro. — Vou esperar até você entrar no pré dio — disse. Com um sentimento de humilhaç ã o, Rachel dobrou a esquina e entrou na pequena rua sem saí da. Estava prestes a chorar como uma idiota e disse a si mesma que era devido à crueldade dele, mas a agonia que sentia era diferente de uma dor fí sica. O que pensaria É rica de seu comportamento? Joel naturalmente nã o se importava com essas coisas. Achava que podia enfrentar qualquer situaç ã o e, talvez pudesse. Mesmo assim, estava chocada cora sua conduta e procurou imaginar se havia alguma razã o especial para ele estar nas proximidades do seu apartamento à quela hora. Os encontros casuais nem sempre sã o tã o fortuitos, pensou com tristeza. Com um suspiro de cansaç o, começ ou a subir a escada do pré dio. O elevador estava funcionando, mas preferiu fazer um pouco de exercí cio. Seria uma desculpa, alé m do mais, para o rosto corado e a respiraç ã o ofegante. Fizera bem ao voltar diretamente para casa, pensou, ao ouvir o telefone tocar pouco depois que entrou na sala. Desta vez era James. — Calculei que você devia estar em casa — disse. — Sara ficou bem no hospital? — Sim, muito bem. — Todo o ressentimento que Rachel sentia antes por James parecia agora sem importâ ncia. — E você? — Tudo bem. Tenho muito trabalho, naturalmente, mas estou em plena forma. A empregada passou, como mandei? Rachel olhou para as costas da mulher que assistia ao programa de televisã o no canto da sala. — Ela está aqui. — Ó timo. Fico mais tranquilo sabendo que você tem companhia. — Quando você pretende voltar? — Talvez na quinta-feira. Por quê? Você está com saudade? Rachel lanç ou outro olhar para a empregada, mas ela estava atenta ao programa na tevê. Mesmo assim, respondeu com a voz seca. — Estou. — Sua voz nã o parece muito entusiasmada — disse James com um risinho. — A empregada está na sala? — Humm. — Rachel procurou descontrair-se. — Estamos vendo televisã o. — Ah. — Hesitou um segundo. — E Joel, apareceu? Rachel perdeu a calma e apertou com forç a o fone. Claro! James conversara com a secretá ria nos ú ltimos dias. — Sim, apareceu — disse com cuidado. — Quando? Você nã o sabe? desejava berrar, mas disse com a voz serena. — Apareceu na loja de É rica. — Ah, sim? — James parecia aborrecido com a notí cia. A secretá ria nã o dissera nada? pensou Rachel. — O que ele queria? Rachel mordeu o lá bio com forç a. — Nã o sei. Acho que foi fazer uma visita a É rica. Apó s alguns segundos de silê ncio James acrescentou: — Espero que você nã o tenha falado nada a respeito da doenç a de Sara. — Claro que nã o! — Perguntei só por perguntar. Você sabe naturalmente que Joel tem um caso com É rica? — Eu creio que isso nã o tem nada a ver comigo. — Nã o, nã o tem — disse James lentamente. — Mas você sabe como ele é. O que exige das mulheres... Rachel enfiou as unhas na palma da mã o. — Você nã o precisa me lembrar. Eu nã o sou idiota. — Nã o pensei isso, querida. Mas eu sinto que é meu dever protegê -la. — Fez uma pausa. — Mudando de assunto, pensei que seria uma boa idé ia se anunciá ssemos nosso casamento antes da operaç ã o de Sara. — Antes da operaç ã o? — perguntou Rachel surpresa. — É. — James parecia refletir. — Afinal, como minha noiva você terá alguns privilé gios no hospital, sem falar que isso me parece ser uma soluç ã o mais correta. Nã o queremos que as pessoas digam que nos casamos à s pressas, nã o é mesmo? Pensei que podí amos dar uma pequena reuniã o e comunicar nosso noivado depois do jantar... O que você acha? — Realmente, nã o sei o que dizer... — Quanto mais cedo Joel e Francis aceitarem o casamento, tanto melhor será. Depois, quando Sara estiver completamente restabelecida, podemos realizar uma cerimó nia tranquila antes de embarcar para a Gré cia. Rachel ouviu a sugestã o em silê ncio. — Rachel, você está me ouvindo? — Sim, estou. — Era isso que você queria? — Humm. Só que encontrar todos os seus amigos e conhecidos me apavora. O que eles vã o pensar? — Minha querida, eles vã o morrer de inveja. Estou ansioso para ver a sensaç ã o que você vai causar. Por falar nisso, você comprou os vestidos na loja da É rica? — Se comprei? — exclamou Rachel com riso nervoso. — Nunca pensei que uma mulher pudesse ter tantas roupas! James pareceu contente com a notí cia. — Estou ansioso para vê -la com os vestidos novos. Você vai me encontrar no aeroporto? — Se você quiser. — Gostaria muito. — Deu um suspiro de tristeza. — Tenho que desligar, querida. Estou telefonando da casa de um conhecido, um dos delegados da convenç ã o, e ele nã o vai gostar muito do aumento na conta de telefone. — Deu uma risada. — Dê um beijo na Sara por mim e diga que estou levando um presentinho de Frankfurt. Rachel desejou sentir-se mais agradecida quando desligou o telefone. Afinal, muitas mulheres invejariam a oportunidade de ser a esposa de um dos homens mais ricos de Londres. Por que se sentia sempre como um ratinho preso nas patas de um gato mais esperto? O que James pedia era pouco se significasse a recuperaç ã o total de Sara. James era um homem generoso. Ela nã o teria falta de nada. O casamento, no entanto, era mais que uma simples questã o de conforto material. A empregada saiu na manhã seguinte depois das nove e Rachel respirou aliviada. Tinha que encontrar uma desculpa para a visita de Joel e estava determinada a contar tudo a James quando ele voltasse de viagem. Tudo? Sem querer torturar a mente com mais problemas alé m dos que já tinha, foi ao hospital buscar Sara, e desejou que seu sorriso fosse tã o inocente quanto o da menina, quando as duas saí ram na rua. — O que vamos fazer hoje, mamã e? — perguntou Sara, ao voltarem para casa sob o sol gostoso da manhã. — O dia está lindo e podí amos dar um passeio na cidade... Rachel deu um suspiro e olhou para a filha. — Joel nos convidou para almoç ar fora — disse com naturalidade e sentiu um aperto no coraç ã o quando os olhos da menina brilharam. — Joel? É mesmo? Sem brincadeira? Oba, aonde ele vai nos levar? Você acha que vamos ver o mar? — Acho que nã o — disse Rachel, procurando conter-se. — Está um pouco frio para ir à praia. — Eu nã o estou com frio! — Bem, vamos deixar isso para depois. Conte-me como foi no hospital. As enfermeiras foram boazinhas com você? — Foram — disse Sara com indiferenç a, e Rachel percebeu que ela nã o estava disposta a conversar sobre esse assunto. Joel chegou pouco depois das onze, enquanto Rachel tomava um copo de leite com Sara. Nã o esperava que aparecesse tã o cedo e tinha acabado de tirar os rolos do cabelos e estava escovando-os quando a campainha tocou. Sara foi correndo abrir a porta enquanto Rachel prendeu rapidamente os cabelos compridos no alto da cabeç a, como usava normalmente. Mas suas mã os estavam trê mulas e os cachos soltos caí am sobre o rosto no momento em que Joel entrou na sala. Joel estava com uma calç a azul-marinho e uma jaqueta curta por cima da camisa esporte azul-clara. Examinou rapidamente a calç a verde e a blusa lilá s de Rachel e admirou a beleza sensual dos cabelos compridos. — Nã o prenda os cabelos! Deixe-os soltos. Rachel afastou-se da porta. — Estã o muito compridos para deixar soltos — disse, prendendo-os com os grampos. — Mamã e disse que você vai levar a gente para almoç ar fora — comentou Sara com a voz meiga. Joel inclinou-se e levantou-a nos braç os. — Sim, vamos, boneca. Meu Deus, Sara, como você está pesada! Quanto você pesa, garota? Sara caiu na risada. — Eu peso treze quilos. Foi o mé dico que disse. — Que mé dico? — O dr. Lorrimer. — Quem é o dr. Lorrimer, Sara? — Joel! — exclamou Rachel com o rosto suplicante. — Disse alguma coisa que nã o devia? — Nã o faç a essas perguntas a uma crianç a! — A quem mais eu posso fazer? — Eu posso responder suas perguntas. — Ah, sim? Entã o me diga por que você vai casar com meu pai? Sara apertou os lá bios. — Ah, você s vã o brigar de novo? Você s estã o sempre brigando! Você disse que era amigo da mamã e, Joel deu um suspiro e sorriu para a menina. — Nó s somos amigos, Sara, velhos amigos... — Fez uma pausa. — Entã o, você s estã o prontas? Enquanto Sara foi ao banheiro, Rachel terminou de prender os cabelos e vestiu o casaco de camurç a que tinha comprado na loja de É rica para usar com a calç a comprida. Procurou evitar os olhos de Joel, mas sua voz a deteve. — Eu vou acabar descobrindo, por bem ou por mal. — Por mal! — disse Rachel encarando-o fixamente. — Isso você sabe fazer muito bem! Joel balanç ou a cabeç a lentamente. — Você gosta de dizer coisas desagradá veis, nã o? Você sente prazer em ser rude! Sobretudo quando Sara está por perto para protegê -la... — Eu apenas digo o que sinto. — Doa a quem doer, nã o é mesmo? — Você nega que fui justa? — Que diferenç a faria se negasse? — Nenhuma. — Como eu imaginava. — Você se julga muito inteligente, nã o? — Quem nã o está sendo muito inteligente agora é você. — Você nã o está em condiç õ es de julgar. — Talvez. Há vá rios pontos que nã o foram esclarecidos. Mas serã o, um dia. — Eu nã o teria essa esperanç a. — Mas eu tenho. Tenho muita esperanç a, pode crer — disse com um sorriso forç ado. — Você vai me responder ou nã o? Rachel cerrou os punhos com raiva. — Por que você nã o pergunta a seu pai? Ele pode explicar por que me pediu em casamento. — Pensa que nã o perguntei? — E o que foi que ele disse? — Prefiro ouvir sua versã o. — Tenho certeza que ele nã o contou tudo! — exclamou Rachel, mexendo nervosamente nos botõ es do casaco. — Se tivesse contado, você nã o estaria interessado nos meus motivos. Joel abaixou a cabeç a. — Pode ser. Mas está evidente, mesmo para algué m amoral como eu, que o amor nã o entrou em cogitaç ã o nesse casamento, — Por que nã o? Você nã o pode saber! — Ah, nã o? Nã o posso? Entã o por que você nã o me disse isso no iní cio? — Torceu a boca com desagrado. — Ah, Rachei, confesse que você nã o gosta de meu pai! O dinheiro pode ser... mas ele nã o... O tapa atingiu-o em cheio no rosto antes dele terminar de falar, mas Joel nã o fez nenhum movimento para se defender. Sorriu simplesmente, como se o gesto dela tivesse apenas confirmado o que dizia. Virou em seguida o rosto para um ponto atrá s dela e perguntou com a voz serena: — Você está pronta, Sara? Ó timo. Vamos entã o. Rachel apanhou a bolsa como uma sonâ mbula e seguiu os dois pela escada até o carro estacionado diante do pré dio. Estava com-pletamente aturdida com a discussã o e o dia tinha apenas começ ado, um dia frio e desagradá vel. Nã o devia ter aceito o convite para dar um passeio, refletiu, ao ver Sara instalada no banco de trá s. Mas tinha outra escolha?, pensou, sentando no banco da frente ao lado de Joel.
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