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Kay Thorpe 9 страница



— Faz quinze minutos que estou pensando se é você mesma — disse a moç a, curvando-se. — Está diferente, querida! Como vai Lee? Pensei que ainda estavam no sul da Franç a.

— Voltamos na semana passada — disse Sharon, controlando-se com dificuldade. Mesmo sem lembrar bem do rosto, reconhecia aquela voz. Estranho como o dia de seu casamento parecia distante agora. Já nem era mais a mesma pessoa que tinha ouvido aquela conversa pela janela do banheiro.

— Este é Dominic Foster — apresentou Sharon. — Sinto muito, mas nã o me lembro do seu nome.

— Joyce Gregory — disse com um sorriso perigoso, indicando com um gesto o rapaz ao lado. — Peter Thornton, esta é Sharon Brent, esposa de Lee. Lembra? E você é o pró prio Dominic Foster? Que maravilha! Sou grande admiradora de seu trabalho. Nã o sabia que Sharon o conhecia. Você era modelo antes de encontrar Lee, Sharon?

—Nã o — respondeu firme.

— Sharon tem um grande futuro. Está para assinar um contrato que fará dela uma das melhores — disse Dominic, estendendo a mã o.

— É mesmo? — disse Joyce sem esconder a surpresa. — Parabé ns, querida. E Lee, o que acha? Devia estar aqui para celebrar junto com você s, nã o?

—Está em Copenhage — disse Sharon. — Ainda nã o sabe

—Oh - foi a resposta brilhando nos olhos maliciosos. — Nã o consigo vê -lo aprovando a idé ia de sua mulher trabalhar fora. Mas acho que vai ter de se conformar, nã o é mesmo?

A chegada dos pratos deles interrompeu a conversa, para alí vio de todos. Sharon levantou as sobrancelhas em resposta à reaç ã o que Dominic estampava no rosto. Levantar e sair seria ainda pior. Mais cedo ou mais tarde aquela mulher saberia mesmo da separaç ã o. Que tivesse a sua fofocazinha até lá.

O jantar nã o foi nada agradá vel, apesar de Joyce nã o puxar mais conversa. Logo depois do café, levantaram-se para sair.

—Já vã o? — perguntou a vizinha. — Que pena! Achei que podí amos tomar um drinque depois. Talvez outro dia. Lembranç as a Lee!

—Vaca! — disse Dominic entredentes quando saí ram.

—Nã o se pode culpá -la por pensar o pior — disse, indiferente. — Estou casada há menos de um mê s e já de mã os dadas com outro homem numa mesa í ntima para dois. Só um santo nã o pensaria como ela.

—Nã o estou falando disso. Apenas nã o era o momento.

— Acho que ela estava mais do que interessada em Lee. Vai ficar contentí ssima quando souber da separaç ã o. Talvez tenha até alguma chance de tomar o meu lugar.

— Só se esse seu marido for ruim da cabeç a — disse ele, abrindo a porta do carro. — Você ainda está decidida a deixá -lo, nã o?

— Nã o tenho alternativa — disse ela, entrando. — Ele quer a separaç ã o.

— Isso foi o que ele disse. Todos dizemos coisas que nã o sentimos num momento de raiva.

—Nã o faz diferenç a, Dominic. Nã o posso mais viver com ele. Ele entrou no carro, deu a partida mas nã o arrancou.

— Sharon, se sente isso por que quer voltar? Podia mudar-se para o apartamento agora mesmo. Posso ir até a sua casa amanhã de manhã, apanhar suas coisas.

— Você nã o saberia o que trazer. Isto é, se a sra. Reynolds o deixasse entrar — disse com um sorriso amarelo. — Nã o quero pegar as coisas que foram compradas com o dinheiro de Lee. Ele acha que casei com ele só por causa disso.

—E nã o é verdade?

— Nã o. Eu o amava. Tanto quanto ele me amava. Foi esse o problema. Nã o nos conhecí amos suficientemente bem para confiarmos um no outro. Era tudo superficial.

— Acontece muitas vezes — disse ele, saindo com o carro. — Vou levá -la de volta.

 

Eram quase onze e meia quando chegaram a casa. Sharon ia pedir que a deixasse na entrada, mas achou que nã o devia se importar se a sra. Reynolds a visse descendo do carro. Na sexta-feira já nã o haveria mais dú vidas quanto à sua situaç ã o.

—Nã o posso convidá -lo a entrar — desculpou-se. — Sinto que nã o tenho mais esse direito.

Dominic nã o respondeu logo, absorto em contemplar a casa contra o cé u enluarado.

— Belas proporç õ es. Daria um ó timo cená rio para algumas das fotos Lucci. Você acha que...

— Nã o — disse ela, firme. — Acho que nã o. Quando sair daqui na sexta-feira, será para nunca mais voltar.

—Pena — disse ele. — A que horas pensa chegar à cidade?

—Pela manhã. Lee disse que iria direto para o escritó rio, mas acho que passará aqui antes.

— Quer que venha buscá -la?

— Nã o. Eu pego um tá xi.

— Nenhum RollsRoyce com chofer?

— O pai de Lee levou ambos com ele quando se mudou. Lee prefere dirigir ele mesmo.

— Isso é para nã o me esquecer — disse Dominic, curvando-se para ela e beijando-a intensamente nos lá bios. — Nã o vou perder as esperanç as.

Sharon ficou olhando o carro sumir na estrada e entrou, relutante. A sra. Reynolds apareceu quando já estava subindo as escadas.

—O sr. Brent telefonou — disse, sem expressã o. — Eu disse que a senhora tinha ido à cidade.

— Disse se telefonaria de novo? — perguntou sem se voltar.

— Nã o. Foi por volta das nove e meia.

Hora em que qualquer marido esperaria encontrar a esposa bem quietinha em casa. Mas nã o fazia mais nenhuma diferenç a. Nada do que ele tivesse a dizer poderia alterar as coisas entre ambos. Estava acabado.

 

 

CAPÍ TULO VIII

 

 

Por volta do meio-dia da quinta-feira, Sharon decidiu que bastava daquilo. oque mais temia era uma visita de Richard. Nã o haveria meios de dissimular nada, pois o velhote era esperto demais.

Uma vez tomada a decisã o, tudo pareceu mais fá cil. As roupas que ia levar consigo já estavam separadas e cabiam dentro de duas malas apenas. Deixou as outras, sem lamentar nem um pouco. Pertenciam a uma parte de sua vida que queria esquecer.

Era folga da sra. Reynolds e as faxineiras també m tinham saí do. Nã o havia ningué m para testemunhar sua partida no tá xi. A carta para Lee ela a colocou em posiç ã o bem visí vel sobre a escrivaninha. Se ele telefonasse de novo à noite, nã o haveria ningué m para atender. A pró pria sra. Reynolds só voltaria depois das onze, pois tinha ido visitar amigos.

Oapartamento de Treen ficava no primeiro andar. Sharon ofereceu ao chofer uma gorjeta milioná ria para que ele levasse suas malas escada acima e, quando finalmente fechou a porta, sentiu como se estivesse se trancando do mundo. A sala era ampla e arejada, com suas altas janelas de cortinas de algodã o alvejado. A coleç ã o de objetos e mó veis em tubo de aç o e vidro deixou-a indiferente, assim como a maioria das pinturas abstratas que cobriam uma das paredes. Nã o havia um estilo de decoraç ã o definido e ia levar algum tempo para se acostumar, depois de ter vivido em White Ladies.

O quarto tinha um enorme mural numa das paredes e muito espaç o para guardar suas coisas. Logo depois das quatro horas Sharon já tinha arrumado tudo. Precisaria comprar algo para comer até o dia seguinte, quando entã o poderia fazer compras maiores. Teria també m de assinar o contrato amanhã e receber o adiantamento, se tudo corresse bem. Nã o tinha idé ia do que faria se nã o recebesse aquele dinheiro, mas Dominic tinha garantido que arranjaria tudo. Ele nunca teria oferecido o apartamento do amigo se nã o tivesse certeza de que ela seria capaz de pagar. Ia dar tudo certo.

Tudo?, pensou, sentindo de repente a depressã o abater-se sobre ela. Como poderia dar tudo certo? Tinha abandonado seu marido depois de um mê s de casamento. E isso estaria sempre com ela, nã o importa o que acontecesse depois.

As compras foram rá pidas. Sharon preparou alguma coisa e depois de comer instalou-se numa poltrona confortá vel da sala, para ouvir um pouco de mú sica. Sentia-se vagamente deprimida, solitá ria. Fechou os olhos, sentindo um peso crescer dentro de si.

Despertou de repente, a fita já terminada no cassete e um som insistente soando mais forte e mais demorado que o que a tinha despertado. Quem quer que fosse tocando a campainha parecia já estar impaciente.

Deve ser Dominic, pensou, levantando-se e caminhando para a porta. Deve estar trazendo uma có pia do contrato para eu ler com calma antes de assinar amanhã.

Mas Dominic ainda nã o sabe que estou aqui, pensou, abrindo a porta, sonolenta e deparando com a figura de Lee, dedo ainda no botã o da campainha. Ela o olhou como se visse um fantasma, o rosto empalidecendo.

Ele estava de terno escuro, como quem acabara de chegar, os olhos cinzentos parecendo duas lascas de gelo.

—Que brincadeira é essa? — perguntou, furioso.

—Entre, por favor — disse, afastando um passo para ele passar e fechando a porta em seguida.

—Pensei que só ia voltar amanhã — disse Sharon.

—Terminamos antes e peguei o aviã o da tarde. Felizmente fui até a biblioteca assim que entrei e achei a carta — disse ele sem esconder a raiva. — Que lugar é este?

— É de Treen — respondeu ela. — Ele é pintor.

— Ele?

— Está tudo bem, estou sozinha. Ele vai passar seis meses na Espanha — disse ela, tremendo e indicando uma poltrona. — Nã o quer sentar?

— Isto nã o é uma visita social — respondeu, irritado. Quero que me explique esta carta. Quem ou o que é Lucci?

— Uma nova linha de cosmé ticos que cai invadir o paí s — disse ela, tentando se impor. — Com a minha humilde ajuda.

— Você nunca foi modelo antes. Nã o pode ter encontrado um trabalho como este em dois ou trê s dias!

— Nã o encontrei, fui encontrada — disse Sharon, sentindo aos poucos um elemento de jogo na situaç ã o toda. — Já ouviu falar de Dominic Foster, o fotó grafo? Bem, eu o conheci em St. Tropez naquela tarde em que estivemos lá, e ele me ofereceu o trabalho. Só que eu achei que nunca mais o veria.

— Quando foi que o viu de novo? — perguntou Lee, calmo. — Foi por causa dele que você provocou aquela rixa na segunda-feira?

— Rixa? — perguntou, com a voz trê mula. — Nã o tente dissimular seu comportamento. O que você fez naquela noite nã o tem desculpa.

— Nã o estou me desculpando. Quero saber a verdade. Você já tencionava me deixar na segunda-feira?

— Nã o. Foi na terç a-feira que Dominic entrou em contato comigo. Mas isso nã o faz a menor diferenç a, uma vez que você disse que queria a separaç ã o assim que voltasse.

—Isso foi dito num momento de raiva e você sabe disso.

—Nã o, nã o sei — disse, elevando a voz. — Nem você sabe disso. Você teve algum tempo para pensar enquanto esteve fora, nã o é, Lee? Você ainda quer a presidê ncia da firma e nã o vai conseguir se nó s nos separarmos, nã o é, Lee? Agora é tarde demais, está ouvindo? Tarde demais.

—É mesmo? — perguntou, avanç ando para ela.

Em que momento ela parou de lutar e começ ou a retribuir os beijos dele, Sharon nunca saberia dizer. Tudo o que sentia era a raiva se dissolvendo em outro tipo de paixã o. Sentia falta dele. Nã o tinha nem percebido quanto o desejava.

Foi ele mesmo quem interrompeu os carinhos, o rosto ainda apertado ao dela, a respiraç ã o ofegante em seus cabelos.

—Temos de conversar — disse, com a voz alterada. — Sharon, que tal recomeç armos?

—Do começ o? — perguntou, confusa.

—Nã o, isso nã o é mais possí vel. Começ ar agora. Eu tentei me convencer de que ficaria melhor sem você, mas nã o funciona. Preciso de você mais do que de meu orgulho. E você deve estar enfrentando a mesma coisa. Podemos construir algo a partir disso. Volte comigo.

Olharam-se nos olhos. Sharon sentiu o coraç ã o apertado. Ele nã o fingia amá -la porque nã o era verdade. Nem para ele, nem para ela. Mas, sim, havia esperanç a de que o amor pudesse surgir se dessem tempo ao tempo.

—E o contrato com Lucci? — perguntou, sabendo lá no fundo que ia aceitar, custasse o que custasse.

— Assine se quiser.

— Você nã o se importa?

— Nã o se trata disso. Eu nã o tenho o direito de pedir que desista.

Essa afirmaç ã o era para ela de grande valor. Sharon abriu a boca para responder, mas ficou paralisada de surpresa ao ouvir uma chave girar na fechadura. Lee reagiu també m. Quando Dominic entrou no apartamento deu com um casal abraç ado, imó vel, paralisado, as cabeç as voltadas para ele.

Dominic trazia um buquê de flores embrulhado e parou, desconcertado, a chave balanç ando da mã o.

—Desculpe — disse. — Achei que nã o tinha ningué m.

— É claro — disse Lee, olhando dura e ironicamente para Sharon. — Você disse Espanha, nã o é?

— Esse nã o é Treen — respondeu, firme. — Nã o tire conclusõ es apressadas, Lee. Eu nã o sabia que Dominic tinha uma chave do apartamento.

— Nã o sabia mesmo — admitiu Dominic. — Dei um pulo aqui para ver se estava tudo certo. Tí nhamos combinado que Sharon se mudaria amanhã. E só isso.

— Nã o adianta, Dominic — disse Sharon. — Ele nã o acredita, nã o perca seu tempo.

— Estã o ambos perdendo tempo — respondeu Lee, duramente. — Nã o será a primeira vez que você é citado como causa de divó rcio, nã o é, Dominic?

— Espere aí! — disse Dominic, furioso també m. — Nã o há nada que possa fazer contra mim, mas com Sharon é diferente.

— Carreira arruinada antes mesmo de começ ar? — perguntou Lee, já abrindo a porta, sem olhar para Sharon. — Que pena!

Sharon suspirou profundamente quando a porta se fechou. Todo o episó dio tinha sido extremamente rá pido. Em um minuto estavam à s portas da reconciliaç ã o, no minuto seguinte mais afastados que nunca.

—Que posso dizer? — perguntou Dominic, parecendo indefeso. — Nã o sabia que estava aqui. Vim para deixar a outra chave e umas flores. Quer que vá atrá s dele e tente convencê -lo?

— Nã o — disse ela. — Nã o ia adiantar.

— E isso importa? — perguntou ele, depois de uma pausa.

—Nã o — respondeu Sharon, sentindo-se momentaneamente vazia de qualquer emoç ã o. — Quer tomar café? Sinto nã o poder oferecer nada mais forte.

De comum acordo arquivaram o assunto e concentraram-se em outras coisas. Dominic tinha trazido uma có pia do contrato.

— Eles a consideram como minha descoberta — disse. — Se alguma coisa nã o der certo serei eu o responsá vel. Algumas clá usulas do contrato defendem os interesses deles. Tem de ler com cuidado antes de aceitar. Uma delas fala de publicidade negativa e isso poderá ser um problema se aquele seu marido fizer mesmo o que ameaç ou.

— Ele nã o fará isso — afirmou Sharon. — O pai dele nunca permitirá que o nome da famí lia seja atirado na lama. Se houver divó rcio, será bem discreto.

— E levará dois anos. Isso pelo menos está de acordo com a clá usula trê s.

Sharon leu o contrato e continuou indiferente. A clá usula dizia que nã o podia ficar grá vida durante os dois anos seguintes. Dominic estava certo, isso nã o era para preocupar. Nada mais era para preocupar. Ia se dedicar inteiramente, de corpo e alma, ao sucesso daquele trabalho.

A reuniã o de assinatura do contrato terminou sendo menos penosa do que esperava e o adiantamento garantiria sua sobrevivê ncia por um bom tempo.

—Esperamos muito de você — disse Lucy Wells, estendendo-lhe o cheque. — Mantenha sua vida privada em segredo e ficaremos todos contentes.

Mais tarde, conversando com Dominic, Sharon desabafou.

—Sinto-me uma fraude. Eles nem sabem que sou casada.

— Sabem, sim. Disse a eles que você era independente — garantiu ele. — Vamos esperar que você esteja certa quanto à reaç ã o de seu sogro. Acha mesmo que ele conseguirá controlar o filho a esse ponto? Pelo pouco que vi, Lee nã o parece ser um homem dominá vel.

— Eu pagarei a ele se for preciso — disse ela sem emoç ã o, mudando de assunto em seguida. — Quando começ amos?

— Terç a-feira. Vamos fazer as externas primeiro. Eles querem paisagens reais em vez de cená rios de estú dio. Seu passaporte está em dia?

—Vamos para o estrangeiro? — perguntou, surpresa.

—Marrocos. Uma das linhas Lucci tem fó rmula especial para climas quentes. Mas nã o precisa se preocupar. O amigo Charles estará sempre conosco.

Nã o era exatamente esse aspecto que mais a preocupava, mas Sharon nada disse. Era tarde demais para recuar, estava comprometida. Se Lee quisesse entrar em contato com ela ia ter de esperar que voltasse. Tudo o que queria agora era espantar aquela indiferenç a. Qualquer emoç ã o era preferí vel a nã o ter nenhuma.

No domingo de tarde, ao abrir a porta, Sharon teve uma enorme surpresa: Richard Brent em pessoa tinha ido procurá -la.

—Nã o tinha certeza de encontrá -la à noite — disse.

Nem de encontrá -la sozinha se tivesse vindo de manhã, pensou Sharon consigo mesma, arrependendo-se imediatamente da pró pria maldade. Richard tinha sido maravilhoso com ela.

— Foi Lee quem o mandou?

— Você sabe que nã o. Lee nã o admitiria que ningué m se metesse nas coisas dele.

— Entã o por que veio? — perguntou direta.

— Porque me recuso a ficar sentado, assistindo você s dois transformarem suas vidas numa bobagem, só por teimosia. Consegui que ele me contasse seu endereç o, mas nã o as razõ es da separaç ã o — disse, fixando nela os olhos iguais aos do filho. — Sharon, nã o acredito que em apenas um mê s de casamento tenha havido razõ es para atitude tã o drá stica.

— No momento, pareceu ser o ú nico caminho possí vel.

— É alguma outra mulher? — perguntou ele, discreto.

— Nã o, nã o outra mulher — disse ela. — Apenas uma moç a. A moç a que Lee pensou desposar.

— Nã o entendo — disse Richard, perplexo. — De que é que está falando?

— É uma histó ria longa demais — suspirou ela.

— Nã o importa. Conte.

Sharon encarou-o um longo momento, sentindo a necessidade de falar crescer dentro do peito. Seria um alí vio desabafar. Mas seria o pai de Lee a pessoa certa para isso?

—Nã o vou interferir — prometeu ele. — Seja qual for o problema, ficará entre nó s.

Sem conseguir chegar a nenhuma decisã o consciente, Sharon começ ou a falar, abrindo as comportas emocionais. Nã o escondeu nada, nem tentou fazer-se de santa. E pela primeira vez começ ou a ter uma visã o clara de tudo.

Era impossí vel dizer o que ele sentia, pois o controle total das emoç õ es era apenas um dos pontos em que era idê ntico ao filho. Quando finalmente terminou de falar ele nã o fez nenhum comentá rio, apenas olhou-a com consideraç ã o.

— Diga alguma coisa — implorou ela. — Em que está pensando?

— Estava pensando que nenhum de meus filhos é motivo de orgulho para mim. Talvez seja culpa minha e de Lorna. Tolerâ ncia e compreensã o se aprendem pelo exemplo.

—També m sou culpada — disse ela. — Devia ter dado uma chance a Lee.

— Sim, devia, mas quase ningué m consegue fazer isso num momento de tensã o. Você estava magoada e queria vingar-se. E compreensí vel.

—O mesmo vale para Lee — disse, tentando sorrir.

— Você o defende. Isso é bom sinal. Nã o que eu concorde com você. Lee estava bem consciente da sua inseguranç a. Se tivesse conduzido melhor as coisas, teria conseguido convencê -la — disse, fazendo uma pausa. — O que sente por Lee agora, Sharon? Seja sincera.

— Nã o estou bem certa — confessou ela. — Sinceramente, nã o sei. Acho que nunca soube. Talvez estivesse dizendo a verdade, inconscientemente, quando disse que tinha casado com ele pelo dinheiro.

— Nã o acredito nisso — disse o velho, sacudindo a cabeç a. — Nã o inteiramente. Lembro-me bem daquele primeiro dia quando lhe perguntei se o amava. A resposta foi sincera. E você acabou de me contar que estava pronta a voltar com ele quando seu amigo fotó grafo chegou.

—Pronta para tentar outra vez — corrigiu ela.

— Muito bem, tentar outra vez. Venha comigo para White Ladies agora. Sei que Lee está em casa, telefonei antes de vir até aqui.

— Ele nã o vai acreditar — disse, inexpressiva. — Sobre Dominic. É tarde demais. Assinei um contrato de dois anos.

— Contratos podem ser quebrados. Posso acertar as coisas com Lucci se fizer o que estou pedindo.

— Desculpe, mas nã o vou voltar e implorar— disse, amarga. —Se ele quiser me ver, sabe onde me encontrar.

— Ele já engoliu o orgulho no outro dia. E você há de convir que havia margem para tirar conclusõ es errô neas. Se você mostrar-se disposta à mesma coisa, ele há de acreditar.

Esperou um minuto e sorriu diante do silê ncio dela.

—Muito bem. Nada mais que eu possa fazer — disse, levantando-se.

— Vai passar a presidê ncia da firma para ele? — perguntou, com a garganta apertada.

— Nã o se preocupe — disse Richard, com um sorriso irô nico. — Você receberá metade de tudo o que ganharmos. Se precisar de dinheiro enquanto isso...

— Nã o, nã o preciso. E també m nã o quero nada de White Ladies — disse, sentindo um nó na garganta.

— Você tem direito a cinqü enta por cento. A escritura está em nome dos dois. Mas Lee provavelmente nã o vai querer morar lá sozinho. Deve voltar ao apartamento da cidade.

— Se meu nome está na escritura ele nã o poderá vender a casa sem minha autorizaç ã o. E isso eu nã o dou. Pode dizer a ele.

— Direi. Ele pode fazer o que quiser — disse, olhando-a duramente. — Nã o creio que você saiba bem o que quer, Sharon, mas vai ter de decidir. Esta vida que está escolhendo pode parecer muito atraente na superfí cie, mas haverá momentos em que você sentirá té dio e frustraç ã o, como em qualquer outro trabalho. Dois anos é muito tempo.

Mas menos que uma vida inteira, pensou Sharon ao fechar a porta depois dele sair. Em dois anos estaria livre de tudo. Livre para começ ar de novo. Tinha agora um objetivo.

Esse objetivo pareceu cada vez mais distante durante as semanas seguintes. Sharon descobriu que viajar a trabalho nã o dava prazer algum. Rabat, Atenas, Madri. Nunca mais de quarenta e oito horas em cada lugar.

Ao retornar para a Inglaterra aprendeu a esquiar na á gua, a cavalgar, a segurar uma raquete de tê nis. Das trê s, preferiu os cavalos, a ponto de cavalgar ao lado de Dominic.

— Vamos estar muito ocupados durante os pró ximos dias? — perguntou Sharon ao desmontarem dos cavalos no está bulo.

— Por alguns dias, até terminar o trabalho em estú dio. Depois vem o comercial para a TV e depois um longo perí odo de descanso até a pró xima etapa — explicou ele.

—Para quê?

—Para fazer o que quiser. Dentro dos limites do contrato, claro. Assim que terminarmos vou até Edimburgo fazer outro trabalho. Depois podemos viajar juntos. Que tal? Posso até prometer deixar as minhas câ meras.

—Sem compromissos? — perguntou ela, brincando.

—Com compromissos. Nã o sou do tipo de relaç õ es platô nicas — disse ele, encarando-a. — Sharon, você nã o pode passar os pró ximos dois anos esperando um divó rcio. Nem eu. Mesmo que você fosse livre, duvido que se casasse à s pressas de novo.

—Nã o. Nã o mesmo.

—Entã o. Por que nã o aproveitar para conhecer melhor algué m que pode sentir algo por você? Se ainda estivermos juntos dentro de dois anos, teremos boas razõ es para pensar em enfrentar um casamento.

—Eu nã o o amo, Dominic —disse, encarando-o.

— Sei disso. Mas amar é um exagero. Se dar bem é muito mais importante. Alé m da parte fí sica, claro.

—Oh, sim. Nunca esquecer da parte fí sica.


—Se é um monge que quer, procure um mosteiro — disse ele, rindo.

Lee nã o entrou em contato durante toda a semana seguinte. Dominic partiu para Edimburgo logo depois das filmagens do comercial, prometendo voltar no outro fim de semana. Sem nada para fazer, Sharon sentia o tempo arrastar-se muito lentamente.

Ao sentir ná useas pela terceira manhã consecutiva, compreendeu repentinamente o que estava acontecendo. Olhou-se no espelho do banheiro, sentindo um ligeiro desespero. Nã o podia ter mais do que seis semanas, portanto nã o ia dar na vista tã o já. Mas nã o poderia esconder a gravidez por muito tempo. E o que aconteceria entã o com o trabalho?

Ia ter um filho. O filho de Lee. Sentiu uma nova sensaç ã o, macia, quente. Tocou a barriga. Cabelos escuros como os do pai, olhos azuis como os dela. Menino ou menina?

Será que ele acreditaria, pensou, preocupada. E se acreditasse, o que fariam? Se Lee nã o acreditasse na paternidade daquela crianç a, talvez nã o quisesse sustentá -la. Que fariam entã o? Mas ele tinha de acreditar. Bastava calcular os dias para ter certeza de que era dele. Alé m disso, ele devia ter percebido que ela era virgem naquela primeira noite. Talvez até se dispusesse a aceitá -la de volta. Mas Sharon nã o queria voltar. Nã o por essa razã o.

Bobagem continuar pensando nisso. Ainda nem sabia se estava realmente grá vida. Era melhor consultar um mé dico primeiro.

Na sexta-feira Sharon recebeu a mais inesperada das visitas: Lora Brent. Perplexa demais para se lembrar de gentilezas, ficou olhando a cunhada diante da porta aberta. Bem vestida e altiva como sempre, a outra a encarou longamente.

— Sugestã o de papai — disse ela, sorrindo irô nica. — Ou ordens de papai, talvez explicasse melhor. Posso entrar?

— Claro, claro — disse Sharon, abrindo mais a porta e recuando um passo, confusa.

— Nã o vou demorar — disse Lora, entrando. — Tenho de encontrar Jason. Ouvi dizer que está posando para fotografias. E com Dominic Foster, nada mais, nada menos.

— Ele é o fotó grafo, mas meu contrato é com a companhia de cosmé ticos diretamente — disse Sharon encarando a outra, curiosa. — Lora, o que veio fazer aqui?

—O momento da verdade! —disse Lora, rindo alto. — Parece que eu fui a causadora direta de sua separaç ã o de Lee. Só espero que você entenda que nunca diria o que disse se soubesse que você estava ouvindo.

— Nunca pensei nisso — confessou Sharon. — De qualquer forma, você nã o foi a causa direta. Apenas contribuiu. Eu nunca devia ter me casado com Lee. Você tinha razã o, eu nã o combino com os ideais da famí lia Brent.

— Nã o somos propriamente uma famí lia. Nunca fomos. Mamã e é uma incurá vel esnobe e, segundo papai, estou ficando igual a ela — disse com uma careta. — E é verdade, claro. Eu queria que Lee se casasse com algué m do nosso cí rculo.



  

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