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Kay Thorpe 8 страницаE Lee, provavelmente, ia adorar ter a chance de recusá -la. A atraç ã o que exercia sobre ele era bastante forte, mas nã o irresistí vel. Ele tinha acabado de demonstrar isso. Sentia-se num impasse. Se esse casamento nã o ia mesmo nunca se transformar, tinha de estar preparada a fazer todos os sacrifí cios. Se é que Lee pretendia prolongá -lo alé m do momento em que seu pai se aposentasse. Uma vez no controle da Companhia, nã o haveria mais razõ es para subterfú gios. Lee já estava dormindo quando finalmente subiu, à s onze e meia. Sharon resolveu trocar-se no banheiro para nã o perturbá -lo com a luz. Depois de pronta, atravessou o quarto no escuro, tateando o caminho e enfiou-se na cama. Normalmente abriria um pouco as cortinas para deixar entrar o luar. Nã o gostava de dormir no escuro completo, mas seus olhos acabariam se acostumando à escuridã o, pois nã o sentia nenhum sono. Estava consciente demais daquele homem deitado tã o perto e ao mesmo tempo tã o distante, imó vel, silencioso. Nã o ouvia nem mesmo sua respiraç ã o. O movimento sú bito dele tomou-a de surpresa. Sentiu os lenç ó is voarem para longe e a forç a dos dedos dele agarrando a gola de sua camisola e rasgando-a num gesto violento. Surpresa demais para esboç ar qualquer reaç ã o; viu o vulto dele grande e escuro baixar sobre ela, impiedosamente. Foi tudo rá pido e ele nã o relaxou entre os braç os dela, rolando para o lado e deitando-se de costas, respirando com ruí do. — Melhor resolver de que jeito você prefere antes de eu voltar da viagem — murmurou ele. — Você nã o tinha o direito... — disse ela, sentindo o corpo e a alma doerem. — Nã o tinha o direito... Você nã o é meu dono, Lee. — Nã o, nã o sou. Mas també m nã o vou aceitar rejeiç ã o dessa maneira. Quando nã o quiser, diga nã o. Mas diga, clara e simplesmente. Nã o tente me atingir da maneira como fez hoje. Calou-se num silê ncio opressivo. Depois de um momento, Sharon saltou da cama e foi para o banheiro, trancando a porta. Contraindo os maxilares, arrancou a camisola rasgada e entrou no chuveiro. Ficou embaixo da á gua quente até parar de tremer, mas nada mitigaria a má goa que sentia. Lee tinha esperado por ela com a ú nica intenç ã o de violá -la. Nã o havia desculpa para isso. Com gestos vigorosos da toalha enxugou os cabelos. O ú nico robe no banheiro era o de Lee e ela o vestiu, apertando o cinto na cintura e deixando a porta aberta e a luz acesa para enxergar o caminho. Ele estava deitado na mesma posiç ã o, olhando para o teto. Sharon estava no meio do quarto quando ele falou: — Onde vai? — Achar outra cama — disse, sem olhar para trá s. — Nã o, nã o vai. Vai ficar aqui. —Nã o junto de você — disse, tremendo de raiva. — Com você nunca mais. Lee agarrou-a quando abria a porta, fechou-a com um chute e carregou Sharon de volta para a cama. — Vai ficar aqui — repetiu, derrubando-a sobre os travesseiros. — Para me violar de novo? Deve estar orgulhoso de si mesmo. —Foi você quem provocou — disse ele. — Eu devia ter feito isso em Lucerna quando descobri o seu esquemazinho. Ou você ainda vai tentar fingir que foi um erro? —Nã o — disse ela entre dentes. — Nunca o amei, Lee Brent. Nã o poderia nunca amar um homem como você. Depois desta noite nã o o quero nunca mais perto de mim. Entendeu? Se você tornar a me tocar vou até seu pai e conto para ele o tipo de filho que tem. E entã o pode dizer adeus à presidê ncia. Ele nunca o acharia digno de sucedê -lo. —Nã o precisa achar outra cama — disse ele com o rosto absolutamente sem expressã o, os olhos frios. — Eu vou. E vou pedir a separaç ã o assim que voltar. Se resolver ficar no norte, mande um endereç o onde possa encontrá -la. Senã o, comece a procurar um lugar para morar. — Lee, eu... — disse ela, sentindo o peito tã o cheio que mal podia falar. — Nã o. Nã o diga nada — concluiu ele. — Chega. Aos diabos a presidê ncia. Para o inferno com todo esse maldito negó cio! E saiu antes que ela pudesse dizer qualquer coisa. Nã o havia nada a dizer. Estava acabado e a culpa era dela. Era o fim inexorá vel e ela sentia seu peso, quase fisicamente. Ainda estava acordada quando Lee entrou para pegar suas coisas as sete horas, mas fingiu dormir, de braç os, o rosto meio escondido no travesseiro. Sharon desejou ter a coragem de enfrentá -lo, de pedir que esquecesse para começ ar de novo quando ele voltasse da Dinamarca. Mas, mesmo que começ assem de novo, o que aconteceria? Lee tinha amado nela algo que nunca conseguiria conquistar de volta, por mais que tentasse. Podia fazê -lo desejá -la, mas isso era tudo. E talvez nem isso. Sentou-se na cama devagar depois que ele saiu, abraç ando os joelhos, pensando em qual seria o pró ximo passo. Tinha de desistir da viagem ao norte. Nã o havia por que visitar os tios enquanto nã o tivesse resolvido algo definitivo. Ia ter de enfrentar trê s dias vazios e nã o ia ser fá cil. Foi uma manhã longa e tediosa, piorada ainda pelo mau tempo. Sharon estava na sala de mú sica quando o telefone tocou pouco antes das dez e meia. Pegou o receptor cautelosamente. Lee já estaria voando, a menos que tivesse havido um atraso. —É Sharon Brent quem está falando? — perguntou uma voz masculina, vagamente familiar. —Sim — disse ela. — É, pensei mesmo ter reconhecido. Aqui fala DominicFostex. — A voz fez uma pausa. — Lembra-se de mim? — Sim, me lembro — disse Sharon, conseguindo manter o controle, apesar da surpresa. — É que nã o esperava a sua ligaç ã o. —Por que nã o? Eu disse que tinha encontrado minha garota Lucci. Quando se trata de trabalho, nunca desisto. — Nova pausa, desta vez mais breve. — Mencionou o trabalho a seu marido? —Nã o — disse ela, sentindo uma sú bita vontade de resolver sozinha. — Mas isso nã o importa. —Ah... Entã o podemos falar do contrato? — Quero ser a garota Lucci — disse ela. — Está resolvido, qualquer que seja o contrato. — Bem, você vai ver que eles sã o generosos. E um projeto de custo alto. Quanto tempo leva para chegar até a cidade? —Hoje? —Hoje, sim. Mostrei a eles aquelas fotos que tiramos em St. Tropez e agora querem ver o original. — Quer dizer que ainda nã o fui escolhida? —perguntou, cautelosa. — Só falta assinar o contrato. Dá para ser na hora do almoç o? — Acho que sim — disse ela. —Certo. Encontro-a a uma hora. No Rules em Maiden Lane. Conhece? —Ouvi falar — disse ela, imitando o tom dele. — Lá estarei. Recolocando o fone no gancho Sharon parou um instante, pensando. Ali estava sua chance de independê ncia, a liberdade de se separar de Lee por sua pró pria iniciativa. Por que esperar qualquer melhora nó relacionamento? Nã o ia melhorar. Era melhor terminar tudo antes que as coisas piorassem. Estimulada pelo novo objetivo, pediu um tá xi para as onze e meia e subiu para escolher a roupa. Tinha de ser algo especial, nã o excessivo. Algo que impressionasse. Tomou enormes cuidados com a maquilagem. Apesar do que Dominic tinha dito, tudo dependia do pessoal da Lucci aprová -la quando a conhecesse pessoalmente. A chuva parou e Sharon tomou isso como um bom sinal. Tinham de gostar dela. Seu futuro dependia disso.
CAPÍ TULO VII
Dominic era exatamente como ela lembrava. Estava falando com alguns homens no bar, mas interrompeu a conversa e veio até Sharon assim que ela entrou. — Você está bonita. E parece rica — observou ele ao se sentarem. — Justo o que precisamos. Os produtos Lucci nã o vã o ser baratos. Devem atrair as mulheres que usam apenas o melhor na pele e o preç o deve refletir esse valor. — Sã o mesmo melhores que os cosmé ticos comuns? — perguntou Sharon. — Depende de nó s convencermos as pessoas disso. A diferenç a para o pú blico estará realmente na maneira de aplicar. Você terá um maquilador profissional. Querem experimentar hoje à tarde para ver o que fazer. Espero que nã o esteja com pressa. — Nenhuma — disse ela, sacudindo a cabeç a. — Marido fora? — perguntou ele, estudando-a. — Está em Copenhague — afirmou, tentando encerrar o assunto. —Andei pesquisando desde que nos conhecemos. Descobri que você se casou com Lee Brent, da Companhia Brent, há menos de um mê s. Por isso estranhei o que disse hoje pelo telefone. —Que foi que eu disse? —Acho que se lembra perfeitamente bem. — Sorriu e esperou um momento, concluindo: — Obviamente a lua-de-mel terminou em mais de um sentido, nã o? O dinheiro nã o é tudo na vida. — Nã o casei com ele pelo dinheiro! — exclamou ela, irritada. — Talvez nã o só por isso, mas aposto que ajudou a fechar seus olhos a certos aspectos de Lee. Da mesma forma que eu me deixei cegar há cinco anos quando conheci Diane Hall. Levei mais ou menos o mesmo tempo que você para descobrir que os contras eram muito mais numerosos que os pró s e resolvi ficar sozinho outra vez. No entanto, a relaç ã o foi bem proveitosa enquanto durou. Posso dizer que valeu a pena, cheguei a ganhar um equipamento tã o sofisticado que nunca teria condiç õ es de comprar. Dei seis meses de minha juventude em troca disso. Uma pechincha, eu diria. — Você chegou onde está devido a seu pró prio talento — protestou Sharon. — Ajudado pelo dinheiro. Só o dinheiro podia ter lhe dado a aparê ncia que tem hoje. Sua foto de casamento mostra uma imagem bem diferente. —Talvez o fotó grafo nã o fosse tã o bom quanto você. — Sabe de uma coisa — disse ele rindo —, você mudou muito desde St. Tropez. Talvez amadurecer seja a palavra mais certa. Faç a este trabalho direito e nã o terá de depender de ningué m nunca mais. Sem falsa modé stia, o fato de eu tê -la descoberto é um verdadeiro " abre-te Sé samo". Você vai começ ar já no topo! — Do topo pode-se apenas descer — completou Sharon. — Prefiro ir aos poucos. Quem é que vai me... examinar hoje? — Roger Venables, diretor geral, e Lucy Wells, encarregada das promoç õ es. Haverá outros també m, claro, mas é com esses que você vai falar diretamente. Para eles você será apenas uma tela onde vã o espalhar as tintas que produzem, portanto nã o se ofenda se forem algo impessoais. Devem ir para o estú dio à s trê s e meia. Se chegarmos à s trê s, você poderá descansar por uma meia hora. —Acho que nã o consigo relaxar. Estou tã o nervosa! — Nã o tem por que ficar nervosa. Apenas repita para si mesma que Dominic Foster a considera a mais perfeitamente fotogê nica das modelos. — Sua voz tornou-se mais macia. — E sem dú vida a mais interessante. — Você quer sempre ter um caso com suas modelos, Dominic? — perguntou Sharon, quase sem querer. — Nunca quero nada — disse ele, imperturbá vel. — Fique sossegada. Acho que nossa mesa está pronta. Durante a refeiç ã o ele manteve a conversa num ní vel meramente profissional. Sharon ficou desatenta vez por outra, pensando na serenidade com que ele encarava o trabalho. Talvez tivesse sido essa a causa do rompimento do casamento dele. Nenhuma mulher gostava de ser menos importante que uma câ mera. Mesmo sendo modelo, apesar de nã o estar mais tã o em evidê ncia. A vida de uma modelo era curta, pensou Sharon. Dominic tinha o estú dio em sua pró pria casa, ocupando um andar inteiro de um pré dio perto de Kingsway. Havia fotos por toda parte, inclusive da ex-mulher. —Boas fotos, nã o acha? — perguntou Dominic, vendo que ela examinava as fotografias. — Essas sã o as melhores que eu tirei dela. —Nã o lhe traz recordaç õ es tristes? — perguntou Sharon. —Por quê? — respondeu ele, surpreso. — Nossa separaç ã o foi tranqü ila. —Um divó rcio amigá vel. —Isso mesmo. Nã o há por que ficar amargo só porque alguma coisa nã o funcionou do jeito que se esperava. — E concluiu, depois de uma pausa longa: — Nã o adianta també m ficar esperando que as coisas melhorem. Tudo o que se pode conseguir é um compromisso. —É sempre melhor que um xeque-mate, nã o? —Nã o realmente. A mente humana nã o se adapta a compromissos. A gente sempre deseja o ideal e quando nã o conseguimos ficamos procurando algué m para culpar. Você ainda nã o viu o material — disse ele, mudando de assunto. Sharon seguiu-o pelo enorme estú dio e soltou uma exclamaç ã o ao deparar consigo mesma em todos os â ngulos possí veis. Devia haver mais de cinqü enta fotos. Nã o se lembrava de terem sido tantas. Era como se ver numa sala de espelhos. Seria dela mesma aquele, rosto que sorria como uma Mona Lisa? E aquela outra de lá bios entreabertos, rindo tã o verdadeiramente que quase se podia ouvir? — Gosta? — perguntou Dominic, observando-a. —Oh, sim, gosto — disse. — Mas eu sou assim mesmo? —Desse â ngulo, com a luz certa e a cabeç a recheada com os pensamentos certos, sim, você é assim mesmo. A câ mera nã o mente, apenas registra um instante. Seu rosto é muito expressivo quando está relaxada e desprevenida. Vou ter de pensar numa maneira de fazer você ter sempre esse ar misterioso. —Misterioso por quê? —Para combinar com o tipo sexy que vai fazer, entre outros. A idé ia é dizer que os cosmé ticos Lucci acentuam qualquer ocasiã o, fazem a mulher sentir-se aquilo que aparenta. Você vai ser mostrada em todas as situaç õ es possí veis. Das mais sedutoras à s mais atlé ticas. Até mesmo numa quadra de tê nis a mulher que se cuida nã o pode ficar sem Lucci! —Eu nã o jogo tê nis — disse ela. —Cuidado com esse senso de humor — disse Dominic, esmurrando seu queixo num carinho. — Essa gente leva o trabalho muito a sé rio e vã o querer que você faç a o mesmo. Há muito dinheiro na jogada. — Desculpe — disse ela, tentando parecer sé ria, mas caindo na gargalhada junto com ele. As risadas poré m cessaram quando se olharam nos olhos. Naquele momento Sharon soube imediatamente que bastava um mí nimo gesto seu para que Dominic a tomasse nos braç os. Recuou um passo e o momento passou, mas nã o a emoç ã o que havia causado aquela breve hesitaç ã o. Ela havia desejado que ele a beijasse. E ainda o desejava. Havia outros homens no mundo alé m de Lee. — Vamos tomar um drinque — disse Dominic, sem insistir. — Devem chegar logo. Sentada na sala bem decorada, atrá s do estú dio, Sharon bebeu do copo que ele ofereceu sem nem mesmo saber o que era. Toda a excitaç ã o tinha desaparecido. Nã o via mais sentido naquilo. Nunca seria modelo. Nem mesmo tinha certeza se ainda queria. Dominic ficou silencioso por vá rios minutos, olhando para ela. Finalmente sentou-se a seu lado no sofá e encarou-a com firmeza. —Sharon — disse —, você vai aceitar. Nã o vou deixar você desistir. Se aquele seu marido nã o a faz feliz, dispense-o. —Depois de apenas trê s semanas? — Trê s semanas, trê s meses, que diferenç a isso faz? Depois disso você será independente. E se o problema é dinheiro, posso arranjar um adiantamento para você. Sei també m de um apartamento que pode alugar. Um amigo meu foi para a Espanha por seis meses' e me pediu para arranjar algué m. Basta dizer que sim. — Você está indo depressa demais, Dominic. Nã o posso decidir assim em poucos minutos. — Muito bem, entã o pense no assunto. Mas depois. Agora concentre-se em fazer tudo como eu mandar. Olhe, se nã o quiser usar o nome Brent, podemos mudá -lo. Qual é seu nome de solteira? —Sharon Tiler. —É bom. Fá cil de dizer. Fica Sharon Tiler — levantou-se ao ouvir a campainha. — Sã o eles. Você está ó tima. Roger Venables era baixo, quase careca, por volta dos cinqü enta anos, com os olhos mais penetrantes que Sharon já tinha visto na vida. A diretora de promoç õ es ficava mais pró xima daquilo que tinha imaginado: alta, bem vestida, com maneiras diretas. O maquilador chamava-se Charles e dirigiu-se a Sharon com muita intimidade e gestos excessivos. —Adoro o cabelo. A cor é divina! E é natural, nã o é, meu bem? Desculpe, queridinha, mas vou ter de tirar tudo isso aqui e começ ar a maquilagem do começ o. Nã o podemos deixar nossa garota Lucci com nenhuma impureza, nã o é, Roger querido? Roger querido resmungou algo ininteligí vel e continuou a conversa té cnica com Dominic e Lucy Wells. Ele nada tinha dito a Sharon até aquele momento, tendo se limitado a inclinar a cabeç a ao serem apresentados. Estranhamente, essa indiferenç a deixava Sharon mais segura. Para Roger podia ser apenas uma tela, mas para Dominic era a pessoa mais indicada para o trabalho. Estava fascinada pela agilidade do maquilador e morria de vontade de ver o que ele estava fazendo. Sentia a pele macia e fresca, quando ele terminou, os lá bios sedosos. Talvez os produtos Lucci fossem realmente especiais, no fim das contas. Lucy Wells aproximou-se para examiná -la de perto e chamou o diretor. Girou em torno de Sharon como quem examina uma escultura, sem revelar o que pensava. — Ó timo, Charles — disse devagar. — Os olhos estã o ó timos. Roger, venha ver. — E os movimentos — disse Roger, assentindo com a cabeç a. — No filme para TV ela tem de andar do espelho para a porta e a câ mera se aproxima do rosto. Podemos tentar? — Claro — disse Lucy e pediu a Sharon: — Poderia caminhar até a porta e abri-la? Sharon fez o que mandaram, furiosa demais para se sentir nervosa e retornou para o pequeno grupo controlando a expressã o do rosto. — Deve servir — disse Roger Venables. — Eu preferiria algo mais calmo, mas Bill afirma que o pú blico quer aç ã o. Portanto, vamos em frente. Você sabe o que fazer, Dominic. Dê tudo. Cuide do contrato, Lucy — concluiu ele, sem olhar para Sharon. — Ainda nã o sei se aceito o trabalho — disse Sharon, ignorando as caretas de Dominic. — Preciso algum tempo para pensar. Agora prestavam atenç ã o nela. Todos eles. Charles era o ú nico a achar graç a. Lucy Wells foi a primeira a falar. — Sendo absolutamente desconhecida, você deveria agradecer uma oportunidade destas. As melhores profissionais dariam a vida por este trabalho. — Só que nã o é uma profissional conhecida que você s querem — retrucou Sharon, disposta a se afirmar. — A garota Lucci tem de ser nova, para lanç ar os produtos, nã o é assim? Se for uma cara conhecida, o impacto diminui. —Existem outras, alé m de você — disse Lucy. —Mas nã o tã o adequadas. Senã o já teriam escolhido outra antes de mim. E já está muito em cima da hora para começ ar a procurar de novo. —Ela nos pegou, Lucy — disse o velho Roger, com uma sú bita risada, olhando Sharon como um ser humano pela primeira vez. — E sabe disso. Quanto tempo precisa? —Até amanhã — respondeu Sharon. —Muito bem. Se resolver nã o fazer, comunique a Dominic e ele se encarregará de encontrar outra. Pelo tom de voz, Sharon percebeu que ele nã o acreditava na possibilidade de uma recusa. Concordava com o que achava ser um capricho de modelo porque nã o lhe restava muito tempo. —Que bom, queridinha — murmurou Charles, pegando o estojo de maquilagem. — Nã o deixe eles forç arem você. Até a semana. Quando todos tinham saí do, Sharon voltou-se para Dominic e encolheu os ombros. —Vamos lá, diga logo. — Dizer o quê? — perguntou ele. — Você agiu surpreendentemente bem para uma principiante. Poucas teriam a coragem de fazer o que você fez. Você quer mesmo tempo para pensar ou estava apenas se impondo? — Um pouco de cada coisa— admitiu ela. — Nã o estou bem certa, Dominic. — Sobre o trabalho ou sobre as conseqü ê ncias dele em seu casamento? Se você quer tanto preservar seu marido, nã o devia ter se envolvido nisto. Teria dito nã o quando telefonei hoje de manhã. — Estou interessada. Quem nã o estaria? — disse, indefesa. — Nã o sei por que estou hesitando. Já nem tenho um casamento a zelar. Lee disse que quer a separaç ã o assim que voltar de viagem. — Entã o se separe. Você nã o precisa dele — disse, chegando até ela e beijando-a com tamanho calor que ela correspondeu sem querer. — Nã o volte para casa. Fique comigo. — Assim? — perguntou Sharon, sentindo-se pequena entre os braç os dele. — Assim mesmo. Nã o consigo tirá -la da cabeç a desde que nos conhecemos —- disse ele, afastando-a um pouco e olhando fundo em seus olhos. — Sharon, nó s dois precisamos de algué m. Nã o apenas profissionalmente, mas algué m para estar junto. Nã o vou tentar convencê -la de que nã o olhei para ningué m desde que Carol e eu nos separamos, mas é diferente agora. Eu poderia me apaixonar por você. Seu rosto me fascina. E um verdadeiro sonho de fotó grafo. Quero captar todas as suas expressõ es. — Se nã o fosse pelo corte de cabelo você nunca teria me notado — suspirou, desanimada. — Se eu tivesse chegado perto, teria notado você de qualquer maneira — disse ele, sorrindo. — A estrutura de seu rosto pode ser disfarç ada, mas é impossí vel de ser escondida. O cabelo faz apenas realç ar imediatamente a sua beleza. Mas ela estaria presente mesmo com outro corte. —Careca ou nã o, acho que é impossí vel aceitar sua oferta. Se aceitar o trabalho, terá de ser num ní vel profissional. —Por quê? — perguntou ele. — Você nã o ama seu marido. — Por isso mesmo — disse, sentindo a garganta apertar. — Já errei uma vez. Nã o quero errar de novo. Atraç ã o fí sica nã o basta, Dominic. — Está bem — respondeu ele, depois de pensar um pouco. — Se é assim que tem de ser. Mas você tem de me prometer que posa para mim fora do contrato Lucci. Combinado? — Combinado — disse ela, percebendo que nã o adiantava tentar mudar de opiniã o até o dia seguinte. Estava decidido. — Bom. Amanhã de manhã comunico sua decisã o. Querem as fotos primeiro para depois começ arem as filmagens. Quanto ao resto... que tal se começ armos agora? — Já sã o mais de cinco horas — disse, sentindo uma certa relutâ ncia em ficar mais tempo. — Vamos trabalhar umas duas horas, depois podemos jantar e eu a levo para casa. Nã o tinha mais casa, pensou Sharon. Apenas um lugar para ficar até a volta de Lee. Tirar duas horas de fotos acabou sendo mais cansativo do que esperava. À s quinze para as sete já estava disposta a parar. — Tem de aprender a ter mais energia — observou Dominic, duramente, já no fim do trabalho. — Poderemos demorar uma manhã inteira para tirar apenas uma das fotos para Lucci. E eles querem pelo menos doze para começ ar. — Roger Venables e aquela mulher vã o estar aqui quando você fizer as fotos? — perguntou, insegura. — Nã o gosto de platé ia enquanto trabalho — respondeu ele. — A modelo fica nervosa e eu també m. Charles vai ter de estar presente, é claro, para retocar a maquilagem entre uma foto e outra, mas nã o creio que ele a incomode. — Nã o — concordou ela. — Até que gostei de Charles. — Quer dizer que sentiu-se segura com ele. — Esse é o tipo de coisa que Lee me diria, nã o você. —Talvez tenhamos mais coisas em comum do que você quer enxergar -disse ele, com um gesto de desculpas ao perceber a expressã o dela. - Nã o ligue. Acho que nã o estou acostumado a ouvir nã o como resposta. Há um camarim naquele canto, se quiser dar um retoque à maquilagem. O camarim era pequeno, mas maravilhoso, com um enorme espelho sobre a penteadeira, cercado de luzes, como no teatro. Sharon olhou para seu rosto maquilado por um profissional e teve de admitir que estava muito bem. A sombra nas pá lpebras era incrí vel, realç ando fortemente o azul dos olhos, sem parecer excessiva. A idé ia do fim de semana familiar que ia ter de enfrentar cruzou rapidamente sua mente, mas resolveu deixar as coisas como estavam no presente momento e esperar. Controlando as emoç õ es saiu para o estú dio e caminhou até a sala de estar. Dominic nã o estava lá, mas ela ouviu a voz dele vindo da escada de madeira que levava ao andar de cima. —Um minuto. Estou me trocando. Tome um drinque. — Nã o precisa me levar para jantar — disse Sharon, servindo-se. — Na verdade, nem estou com fome. — Mas eu estou — disse ele, descendo as escadas. — E quero falar com você. —Podemos conversar aqui. — Nã o quero misturar interesses — disse ele. — E sobre o apartamento? — Engraç ado, era justamente o que eu ia perguntar — disse ela, sentindo dissipar-se a hesitaç ã o. — Será que posso pagar? — Claro. Já teria certeza disso se tivesse assinado o contrato. — Entã o vou pegar. Onde é? —Virando a esquina. E mobiliado, claro. Você vai precisar apenas de seus objetos pessoais. Treen é artista, apesar de ganhar a vida em publicidade. Talvez você estranhe a decoraç ã o. —Treen?. — perguntou ela. —É sobrenome. Mas todo mundo o chama assim, talvez pela maneira como assina seus quadros. Acho que nem sei o primeiro nome dele. E olhe que nos conhecemos há trê s anos. Vamos dar um pulo lá, para você conhecer o lugar. —Nã o, hoje nã o. Será que posso me mudar na sexta-feira? —Está certo — disse ele, olhando-a com curiosidade, mas nada comentando. — Dou-lhe a chave e o endereç o e você pode ir direto para lá quando chegar. Entã o, vamos jantar? Ao contrá rio do almoç o simples, Dominic escolheu um restaurante francê s, sofisticado. — Que pretende fazer quando Treen voltar? — perguntou quando se sentaram à mesa. — Nã o sei. Faltam seis meses ainda. Posso procurar outro lugar. Isto é, se ainda estiver trabalhando. — Ah, vai estar, sim. Isso eu garanto — disse ele. — Com você? —Com Lucci. Trata-se de um contrato de exclusividade para dois anos. Se algué m mais usar você numa campanha, estraga todo o projeto deles. —Mas você vai me usar. — Só para minha pró pria satisfaç ã o. Evidentemente, pagarei o preç o da praç a. — Nã o precisa pagar, Dominic — disse ela, pousando a mã o impulsivamente sobre a dele na mesa. — Vou ficar satisfeita por poder retribuir de alguma forma tudo o que fez por mim. Desviando o olhar do rosto dele, Sharon deparou com uma mulher que a observava da mesa ao lado. O reconhecimento instantâ neo deve ter-se estampado em seu rosto, pois a incerteza da outra desapareceu imediatamente.
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