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Kay Thorpe 4 страница



— Finalmente! — tinha aclamado, rindo. — Finalmente você criou coragem!

E finalmente ali estavam agora: marido e mulher. Sr. e sra. Lee Brent. Parecia tudo um sonho.

Como ú nica dama de honra, Maureen estava se divertindo muito, flertando o tempo todo com o padrinho de Lee, que parecia bem animado. Sharon podia contar nos dedos de uma ú nica mã o as pessoas que tinha convidado. Tinha recebido um presente e um telegrama dos tios naquela manhã, mas tia Dorothy tinha deixado claro desde o iní cio que eles nã o viriam porque tio Brian nã o podia deixar o trabalho na loja. Conseqü entemente, Sharon foi conduzida ao altar por algué m que tinha conhecido dias antes, muito consciente de que todos os presentes sabiam de tudo. Isso, poré m, já passara e o que vinha à frente era mais importante.

Subiu para trocar-se antes de Lee e levou Maureen com ela. Admirando o quarto que ia ser deles quando voltassem dali a trê s semanas, Sharon tentou imaginar como ia ser morar permanentemente naquela bela casa. Uma coisa era certa, ia ter de cuidar de pelo menos uma parte dos serviç os. Podia ser muito bom ter uma governanta de tempo integral, mas nã o saberia o que fazer com o dia inteiro livre de preocupaç õ es. Gostaria de ver-se livre da sra. Reynolds, mas nã o podiam dispensá -la sem uma boa razã o.

Maureen tinha ido até a janela aberta, sorvendo o ar perfumado da primavera.

— É um sonho — disse, parecendo ler os pensamentos de Sharon. —

Você nasceu com uma sorte! Nã o, nã o foi isso que quis dizer. Tem de ter mais que simples sorte para conseguir o amor de um homem como Lee. Espero que você seja muito, muito feliz, Sharon!

— Obrigada — disse Sharon, sentindo a garganta apertada. — Olhe, nã o vamos perder contato só porque eu venho morar aqui. Você vai vir me visitar e a gente vai sair quando eu for até Londres. Vamos manter o apartamento para quando a gente quiser sair, ir a um cinema, jantar. — Riu entã o, sacudindo a cabeç a. — Você tem razã o. É um sonho. Eu ainda acho que vou acordar a qualquer momento.

— Melhor você se aprontar — disse Maureen, de repente muito prá tica. — Senã o seu marido sobe e descobre a gente perdendo tempo, conversando. Você s tê m de sair para o aeroporto em quarenta minutos.

— É verdade — disse Sharon, sentindo-se ligeiramente irritada com a idé ia de Lee entrar no quarto antes que estivesse pronta. — Pode descer, Maureen. Eu me viro sozinha. Alé m disso, você tem de estar a postos quando eu atirar o buquê.

— Mandei até afiar os cotovelos — disse sorrindo, caminhando para a porta. — Até mais.

Uma vez sozinha, Sharon apanhou a roupa de viagem e levou-a consigo para o banheiro, trancando a porta. Sentiu-se ligeiramente ridí cula. Lee certamente concordaria com ela, estava sendo boba e teria de superar isso, mas agora ainda nã o conseguia. Eram novidades demais. Tinham trê s semanas para se acostumar um com o outro, trê s semanas para estarem a só s, procurando outras pessoas só quando sentissem vontade. Por seu lado, Sharon sabia que nã o ia sentir nenhuma vontade de sair e ver gente. Queria estar com Lee e só com ele.

A janela do banheiro estava aberta e ela podia ouvir nitidamente algué m falando no terraç o lá de baixo.

— Oh, ela é uma gracinha, é sim. E nã o é burra, mas... bem, entende o que quero dizer? Olhe, nunca pensei que Lee fosse mesmo até o fim.

Sharon reconheceu a voz de Lora, mas uma outra voz feminina perguntou:

— Quer dizer que você já sabia que ele estava saindo com ela, mesmo antes dele contar?

— Saindo com ela nã o é bem o que aconteceu — respondeu Lora, rindo. — A pior coisa que papai podia ter feito era ter dado aquele ultimato a Lee. Claro, você nã o deve estar sabendo de nada. Olhe, que fique entre nó s, está bem?

— Claro — soou a voz da outra, curiosa. — Que grande misté rio é esse?

— Nenhum misté rio. Você vai entender, pois conhece meu irmã o tã o bem quanto eu. Na verdade, eu hã o devia saber també m. Acontece que eu ouvi papai dizer para Lee que se ele nã o se casasse e assentasse de uma vez, a presidê ncia da firma iria para o primo Ronald, que vai se aposentar em setembro. Isso foi há uns dois meses. Um pouco antes do meu casamento. Bom, entã o Lee respondeu que se a ú nica condiç ã o era uma esposa, ele ia sair e pegar uma na sarjeta. E foi isso exatamente o que ele fez. Foi ela mesma que me contou. Ele a pediu em casamento uma semana depois.

— E ela agarrou a oportunidade com unhas e dentes!

— Bem, querida, você nã o faria o mesmo no lugar dela? Felizmente papai gosta dela e portanto está disposto a passar por cima de algumas coisas. Até deu White Ladies de presente de casamento a eles. Presente bem melhor do que o que deu para mim e Jason. Mas, afinal, Lee foi sempre o favorito, nã o é?

— Nã o consigo entender — disse a outra, fungando. — Se ele era obrigado a se casar, por que nã o escolher uma mulher que pudesse ajudá -lo em vez de atrapalhar?

— Algué m como você, por exemplo? —perguntou Lora, rindo.

— Bem, pelo menos nó s freqü entamos os mesmos lugares!

— Ah, sim, querida, mas com você ele nã o gozaria da mesma liberdade quando quisesse se divertir, nã o é? Você ia sempre querer saber onde ele esteve e com quem, toda vez que ele inventasse de passar a noite fora.

— E você acha que ela nã o vai fazer isso?

— Duvido. Nã o acho que ela tenha coragem de questionar os movimentos dele. E Lee vai tratar de encobrir bem essas coisas, claro. Ele é perito em contornar.

Sharon nã o escutou mais nada porque as vozes se afastaram. E teria sido bem melhor nã o ter sabido de nada daquilo, pensou. Sentia o corpo todo ferido. Apanhada da sarjeta! Era literalmente o que tinha acontecido. Nã o tinha dú vidas de que o que tinha ouvido era a verdade. Esclarecia mesmo uma porç ã o de dú vidas. Lee tinha se casado com ela nã o porque a amasse, mas para vencer um desafio lanç ado pelo pai. Ela era apenas uma prenda, a maneira dele preencher as exigê ncias, sem se render de fato a elas.

Voltando-se, deparou com sua imagem no grande espelho. A noiva estava de branco, pensou, dolorida. A estú pida donzela que nã o tinha compreendido antes que Lee nã o a amava. Desejá -la, sim, ele a desejava, a julgar pelos encontros que tinham tido tã o recentemente. Mas desejo era uma coisa que qualquer homem pode sentir por qualquer mulher. Amando-a ou nã o, esta noite ele iria fazer amor com ela e esperaria o mesmo dela. Só havia uma coisa a fazer continuar até o fim. Era tarde demais para voltar atrá s.

Uma onda de raiva invadiu-a, varrendo a sensaç ã o dolorosa. Seria tarde demais? Onde estava seu orgulho? Talvez fosse tarde demais para desistir do casamento em si, mas nã o havia lei capaz de forç á -la a aceitar a posiç ã o que Lee lhe reservava no seu esquema de coisas. Ele a tinha desposado em resposta a um ultimato. Por que nã o dar um ultimato també m? Se ficasse com ele seria nos termos dela e nã o nos dele. O toque nu porta assustou-a.

— Está pronta, Sharon? — perguntou Lee do quarto. — Temos de sair dentro de quinze minutos.

— Um minuto — respondeu Sharon, surpresa com a voz firme e controlada que conseguiu arrancar lá do fundo de si.

Deu uma ú ltima olhada à mocinha de branco refletida no espelho, antes de tirar a roupa. Os olhos azuis tornaram-se duros. Eles iam ver. Todos eles iam ver só! Ningué m, nunca mais, iria magoá -la dessa maneira. Nunca mais!

Lee já tinha vestido seu terno marrom quando ela se juntou a ele. Ele examinou a roupa bege e creme dela, aprovando.

— Combinamos bem! — disse suavemente, estudando o rosto dela. — Você... está diferente.

— É o trato — disse ela. — Nã o era isso que você queria quando me deu aquele cheque na semana passada?

— Aquele que você nã o queria aceitar? — disse, sorrindo de leve. — É apenas o primeiro. Isso vai ser a sua mesada.

— Que começ ou cedo para eu poder me equipar, enfrentar a nova vida — disse num tom leve. — Nã o estou reclamando. Adorei gastar tudo aquilo, depois que me acostumei à idé ia de nã o ter mais de contar as moedas.

— Ó timo — disse ele, sem se aproximar. Havia uma ruga entre as sobrancelhas densas revelando a Sharon que ele percebia sua rispidez, mas preferia pensar que estava nervosa. — Vamos embora. O carro está esperando. Nã o esqueç a o buquê, as garotas estã o esperando e nunca a perdoariam...

— Ah, sim, a tradiç ã o — disse, apanhando da cadeira aquele arranjo de flores do campo que naquela mesma manhã parecia simbolizar tudo o que ia pelo seu coraç ã o e que agora nã o valia mais nada. — Vamos embora.

Quando os dois apareceram a multidã o de convidados na sala lá embaixo gritou vivas. Sharon parou na curva da escada, procurando entre os rostos a cara de Maureen e atirando o buquê em sua direç ã o assim que a viu. Mas nã o foi Maureen quem o pegou. Uma moç a mais alta, que estava bem atrá s dela, esticou o braç o e agarrou as flores com um sorriso triunfal. Sharon pousou os olhos naquele rosto e sentiu em seu coraç ã o a certeza de que era essa a mulher que estivera conversando com Lora no terraç o. Mas nã o sentiu nenhuma emoç ã o. Sentia-se segura dentro de sua concha, inviolá vel. E pretendia continuar assim.

Os momentos que se seguiram foram frené ticos. Quando finalmente se viram no carro, Lee recostou em seu assento e soltou um suspiro aliviado.

— Graç as a Deus, terminou — disse. — Eu nã o seria capaz de enfrentar tudo isso outra vez. — Olhou para ela, sorrindo com os olhos e com a boca. — Se você algum dia resolver se divorciar de mim, vou continuar solteiro para o resto da vida!

Está brincando, pensou Sharon. Nunca a julgaria capaz de tal coisa. Fosse como fosse, tinha algumas surpresas reservadas para ele.

— Nã o vou pedir o divó rcio — disse. — Que razõ es teria para isso?

— Nenhuma — disse, inclinando-se e beijando-a, indiferente à presenç a do motorista. — Vamos chegar a tempo de jantar. Lucerna é linda nesta é poca do ano.

— Deve ser — disse ela, sem se afastar dele. — Estou louca para conhecer a Suí ç a.

— E eu para mostrá -la a você. Entre outras, coisas —disse ele numa voz quente e profunda.

Naquilo, pensou Sharon cinicamente, ela acreditava. Pena que ele nã o ia ter nem isso.

Chegaram à casa de Lucerna ao anoitecer, depois de uma viagem tranqü ila. Ficava a alguma distâ ncia da cidade propriamente dita, aninhada entre as á rvores que cresciam desde a beira da á gua do lago. Sharon percebeu de passagem portais de madeira entalhada e uma sensaç ã o de solidez, antes de entrar para a grande sala de teto muito alto, sustentado por grossas vigas de madeira. Uma imponente lareira de pedra do outro lado da sala ardia com alguns troncos, num calor desnecessá rio à quela é poca do ano, mas que sem dú vida era acolhedor.

O casal de meia-idade que os saudou era a ú nica criadagem de que disporiam durante as pró ximas trê s semanas. O caseiro e sua mulher. Falavam inglê s melhor do que Sharon falava francê s, o que a surpreendeu e tranqü ilizou ao mesmo tempo. Lee apresentou-os como Henri e Suzette Delon. Trabalhavam para a famí lia há quinze anos e sem dú vida continuariam, até se aposentarem.

O quarto que iam ocupar tinha paredes de cedro e cortinas de seda dourada. O tapete sob seus pé s era grosso, cor de creme, e as duas camas de casal cobertas com colchas da mesma seda pesada das cortinas. Havia també m uma lareira, com a lenha pronta e empilhada, mas ainda nã o acesa.

Suzette mostrou a Sharon o banheiro conjugado ao quarto, enquanto Henri subia com as malas. O quarto era grande e bonito com toalhas grossas marrom e amarela.

— Esta era a suí te que o senhor e a senhora usavam quando vinham juntos. Agora o patrã o usa um dos quartos menores quando vem — disse ela, a voz triste. — E bom vê -la em uso outra vez. Eu sempre cuidei dela com carinho.

— A suí te está linda — garantiu Sharon, sentindo-se imediatamente fria ao ver Lee aparecer na porta.

— Podemos jantar dentro de uns vinte minutos, Suzette — disse ele em francê s correto.

— Oui, monsieur — ela sorriu para os dois e saiu.

— Gosta? — perguntou Lee sem sair de onde estava, sorrindo para Sharon.

— Sim — disse friamente. — Só um idiota nã o gostaria de um lugar como este.

Sabia que, se tentasse passar para o quarto, ele a abraç aria, mas nã o ia poder ficar ali, de pé, no meio do banheiro a noite toda. Avanç ou e, conforme previra, ele a tomou pelos ombros, encarando-a com expressã o incerta.

— O que é Sharon? Está chateada com alguma coisa?

— Alé m de estar cansada e com fome? — perguntou. — É a primeira vez que viajo de aviã o, Lee. Ainda nã o... aterrissei.

— Claro — disse ele, beijando-a de leve na testa. — Foi um dia muito cansativo. Vamos nos sentir melhor depois de descansados e bem alimentados. Por que nã o veste algo mais cô modo? Posso me trocar depois.

Sharon aceitou a sugestã o. Queria muito ficar sozinha algum tempo. As coisas que estavam para acontecer nã o seriam fá ceis, mas nã o ia voltar atrá s em sua resoluç ã o. Esse casamento era uma mentira para a qual nã o pretendia continuar contribuindo. Levar o nome Brent já era o bastante.

Quando Lee foi embora ela abriu a mala e pegou um caftan longo de algodã o pesado, debruado em ouro. Tomou um banho rá pido, vestiu-o e nem mesmo olhou o pró prio reflexo nos grandes espelhos que escondiam os guarda-roupas. Nã o passou nenhuma maquilagem e apenas ajeitou os cabelos com as mã os. Sentia-se distante, como se visse a si mesma de fora. Era a sua noite de nú pcias e nada significava para ela. Apenas algo que tinha de enfrentar.

Lee esperava por ela sentado numa grande poltrona, diante do fogo. Tinha tirado o paletó e a gravata e desabotoado a camisa. Olhando aquela cabeç a morena do alto das escadas, Sharon teve de controlar uma pontada de dor pelo que poderia ter sido e que já nã o seria. Nã o queria sofrer. O que queria era simplesmente um acordo entre eles e ia conseguir.

O jantar fora servido num canto da longa varanda coberta, na parte de trá s da casa, a mesa lindamente decorada com candelabros de prata, criando uma atmosfera de doce intimidade. As portas de correr abriam para a parte descoberta da varanda que dava para o lago, prateado pelo reflexo da lua. Lee informou que debaixo da varanda ficava a casa dos barcos e a oficina.

— Vamos até a cidade amanhã, se você quiser — sugeriu ele. — A estaç ã o turí stica está começ ando e nã o deve estar muito cheia ainda. Vamos tomar café com Jacques Cabot, um amigo meu que tem um hotel à margem do lago. Você vai gostar de Jacques. E ele vai adorá -la. Tem um fraco por louras.

— Nã o sou exatamente loura — disse Sharon. — Mas posso tingir...

— De jeito nenhum — interrompeu com ê nfase. — E assim mesmo que eu gosto.

Durante um tempo Lee estudou o rosto de Sharon e sua expressã o se alterou.

— Eu me pergunto se nã o fui muito egoí sta trazendo você aqui. Nã o temos de ficar as trê s semanas inteiras. Podemos descer para Marselha, se você quiser, e passear com o iate pela costa.

— É grande o iate? — perguntou Sharon, momentaneamente distraí da.

— Nã o é muito grande para a Riviera, mas pode levar oito passageiros com bastante conforto. Você navega bem?

— Nã o sei — disse ela. — As ú nicas viagens que fiz por mar foram atravessando o canal da Mancha. Sempre com mar calmo.

— Entã o já veio à Franç a vá rias vezes antes?

— Só até a Bretanha. Meus tios tê m um trailer, E viajá vamos com ele durante as fé rias anuais, até os meus dezessete anos.

— Sempre para o mesmo lugar?

— É — disse, meio agressiva. — Eles gostavam e as pessoas começ aram a conhecê -los.

— Cada um na sua — disse ele, desculpando-se. — Eu nã o estava criticando, Sharon, nã o precisa defendê -los. Você nã o devia se importar com eles. Nem vieram para seu casamento. ,

— Tio Brian nã o pode deixar o trabalho.

— Mentira. E você sabe disso.

— Muito bem. — Ela nã o queria discutir. E nã o tinha mesmo importâ ncia. Nada tinha importâ ncia, a nã o ser aquelas palavras queimando em sua mente. Resolveu retomar o assunto que havia sido interrompido, escolhendo as palavras com cuidado.

—Nã o faz nenhuma diferenç a se vamos ficar aqui ou nã o. A situaç ã o será a mesma.

— Nã o sei se estou entendendo — disse ele, apertando os olhos.

— O que quero dizer é que serei sempre a esposa que você apanhou na sarjeta.

— Do que é que você está falando?

— Você nega ter dito essas palavras? — disse ela, estranhamente indiferente à explosã o emocional dele.

— É claro que eu... — ele se interrompeu, o rosto conturbado. — Foi meu pai quem contou?

— Nã o, nã o foi.

— Entã o quem...

— Digamos que havia algué m ouvindo atrá s da porta.

— Lora! — O nome soou numa explosã o furiosa. — É bem coisa dela!

— Ela parece ter a mesma opiniã o sobre o seu có digo de é tica —-observou Sharon, numa voz absolutamente sem emoç ã o. — Aparentemente você s dois se conhecem bastante bem.

— Ela nã o me conhece nada. Nã o mais. Faz dez anos que nã o moramos mais na mesma casa. — Fez uma pausa, a raiva se transformando em outro sentimento. — Sharon, nã o foi assim como você está pensando. Eu estava sendo pressionado e falei sem pensar. Você nã o acha, de verdade, que eu a derrubei aquele dia com a intenç ã o expressa de casar com você, acha?

— Nã o — disse ela, profundamente afetada pela ironia dele. — Acho que a idé ia surgiu depois. Quando você entendeu que tinha de se casar, achou melhor se arranjar com uma qualquer como eu, que ficaria tã o encantada com o golpe de sorte que nunca iria questionar o que quer que você fizesse. Talvez houvesse també m uma pequena vinganç a contra seu pai. No fim das contas, ele deve ter idé ias bastante definidas sobre o tipo de noiva apropriado ao filho.

— É verdade. Papai queria algué m que fosse capaz de estabilizar meu modo de vida. Quando foi que Lora lhe contou tudo isso?

— Ela nã o me contou. Eu ouvi pela janela do banheiro quando fui trocar de roupa. Ela deixou bem claro que concorda com as reservas que sua mã e faz à minha escolha para esposa.

— Nã o vou passar a noite defendendo minha mã e e minha irmã — disse ele, com um gesto impaciente. — Isso que eu disse foi antes de nos encontrarmos.

— Eu sei — disse ela'em voz baixa. — Você disse també m que o destino, à s vezes, interfere nos momentos mais surpreendentes.

— E você agora distorce o sentido das minhas palavras para defender a sua interpretaç ã o dos fatos — disse ele, estendendo a mã o a ela. — Sharon...

— Nã o! — exclamou antes que pudesse tocá -la, tremendo um pouco, mas sem perder o controle. — Nã o quero ouvir mais nada!

Os dedos dele fecharam-se firmemente no punho dela, forç ando-a a parar, diante da porta.

— Se quiser ir para algum lugar vai ter de ser comigo — disse, rudemente. — Vamos conversar sobre isso até o fim, nem que tenhamos de ficar a noite inteira acordados.

Nem Suzette nem o marido apareceram quando eles cruzaram a sala e subiram as escadas. Lee agarrava o punho dela com dedos de aç o, as feiç õ es conturbadas. E ela se preparava para o que ainda ia acontecer.

A lareira tinha sido acesa no quarto, enquanto comiam. Lee puxou uma cadeira para junto do fogo e empurrou Sharon para ela, olhando-a durante longo tempo com uma expressã o que ela nã o conseguiu decifrar.

— Por que esperar até agora para tocar no assunto? — perguntou ele, com firmeza. — Já que você achou que tinha entendido as minhas razõ es ao ouvir o discurso de Lora, por que nã o falou na mesma hora?

— Tinha de ter tempo para pensar. E resolver o que ia fazer.

— E o que foi que decidiu? — perguntou, impaciente.

— Vou ficar com você, Lee — disse, sustentando duramente o olhar dele. — Mas isso é tudo. Nã o quero que... me toque.

— Entendo — disse ele numa reaç ã o difí cil de avaliar. — Suponha que eu nã o concorde com esse estado de coisas?

— Vai ter de concordar se quiser a presidê ncia da firma. — E a voz dela soava grossa. — Se seu pai exige estabilidade, nã o creio que vá ficar muito bem impressionado com o fim do nosso casamento em apenas algumas horas.

— Você está ameaç ando me abandonar agora, neste momento, se eu nã o concordar?

— Isso mesmo.

— Você nã o iria muito longe.

— Sei me arranjar.

— Sua idiota! — disse ele, contraindo todo o rosto, avanç ando até ela, agarrando-a pelos braç os e pondo-a de pé. — Você nã o vai me deixar de maneira nenhuma, Sharon. Nem que eu tenha de lhe bater.

— Algumas horas ou alguns dias, nã o faz nenhuma diferenç a — disse ela, com a voz ainda controlada. — Estou falando sé rio, Lee. Ou você me deixa sossegada ou eu conto para seu pai até que ponto você é capaz de descer.

Olhou-a durante um longo tempo, evidentemente chocado com a firmeza e a determinaç ã o dela.

— Começ o a compreender o que existe por trá s dessa sua decisã o — disse, finalmente. — Você conseguiu tudo o que queria deste casamento no momento em que passou a assinar o meu sobrenome, nã o é? Nã o era eu que você queria, era o que eu represento.

— Se acha isso... — disse ela, sem se preocupar em negar nada. — Eu teria me esforç ado a enfrentar todo o resto se nã o tivesse...

— Se nã o tivesse encontrado a desculpa perfeita para poder comer o bolo sem ter de pagar o preç o — concluiu ele, os olhos cinzentos faiscando. — Infelizmente, nã o vai ser assim tã o fá cil. Você vai ter de pagar sim, ora se vai!

— Já disse que nã o quero! — disse ela, tentando evitar os lá bios que ele aproximava de sua boca.

— Sei disso, mas nã o me importa nem um pouco — disse, apertando-a. — Queria o nome, nã o queria? Pois vai ter de ter o resto també m.

Beijou-a brutalmente, violando-a. Sharon sentiu as mã os fortes apertá -la contra o peito dele com firmeza até que parou de resistir e uma onda de fogo correu-lhe pelas veias. Os mú sculos das coxas dele estavam tensos, rijos,, firmes no chã o, forç ando-a a ceder. Apesar de tudo, sentia o desejo crescer dentro de si, deixando-a mole, o sangue latejando nos ouvidos. Quando ele a soltou, estalando a lí ngua num sú bito gesto de desagrado, ela sentiu-se quase decepcionada.

— Droga! — gritou ele. — Faç a o que quiser.

Virou-se e entrou no banheiro, batendo a porta. Sharon ficou olhando o vazio, tentando desesperadamente se controlar. Se ele tivesse continuado ela nã o teria tido forç as para resistir. Nem forç as, nem vontade de resistir.

E agora? pensou, dolorosamente desarmada. Nã o tinha planejado o que poderia acontecer depois disso. Sentou-se de novo, tentando controlar as lá grimas. Era tarde demais para chorar. Se pretendia levar as coisas até o fim tinha de ser forte, esquecer o coraç ã o. Faç a o que quiser, tinha dito Lee. Fazer o quê? pensou ela. Nã o conseguia encontrar resposta.

Depois de longo tempo a porta do banheiro abriu-se novamente e Lee parou no batente olhando para ela, a expressã o sob total controle.

— Queira ou nã o, vamos ter de conversar — disse ele.

— Sobre o quê? — perguntou ela, a voz velada.

— Sobre o que vamos fazer — disse, fazendo uma breve pausa. — Essa oferta de ficar comigo se eu nã o importuná -la... eu aceito.

— Aceita? — perguntou, surpresa.

— Por que a surpresa? Estaremos ambos atingindo nossos objetivos — disse, maldoso. — Papai confia em que você será capaz de aprender tudo que é necessá rio para ajudar nos negó cios. E eu també m confio. Especialmente depois de ter sido enganado por sua excelente representaç ã o nestas ú ltimas semanas. Percebe que vamos ter de disfarç ar muito bem para papai nã o perceber?

Agora que as coisas se definiam, Sharon sentiu subitamente uma enorme vontade de voltar atrá s, de procurar outra soluç ã o. Desde o momento em que ouvira as coisas ditas por Lora, tinha se sentido perdida emocionalmente. Planejara o que fazer até o momento de revelar a Lee o que sabia, mas nã o pensara no que vinha depois. Se tivesse calado a boca, os fatos continuariam os mesmos, mas para ela ao menos restaria a chance de levar Lee a sentir algo mais profundo no futuro. Agora estava tudo acabado. Ela tinha sido inflexí vel demais. Os olhos cinzentos demonstravam uma frieza e a boca uma rigidez que ela nunca tinha visto antes no rosto de Lee. Ele estava convencido de que Sharon o tinha desposado pensando apenas nos bens materiais e isso era uma coisa que ele jamais perdoaria, nunca esqueceria...

— Sim — disse ela —, entendo. Nã o se preocupe. Nã o faltarei ao meu dever.

— Temos entã o uma barganha. Você pode ter tudo o que quiser e eu fico com minha inteira liberdade.

— Será que você algum dia pensou em renunciar a ela?

— Você foi uma boa distraç ã o durante algum tempo — disse ele, olhando-a profundamente. — Nã o cheguei a planejar o que faria depois. Agora já nã o importa mais, nã o acha? É melhor irmos para a cama.

— Você nã o vai dormir aqui, vai? — disse ela, empinando-se na cadeira.

— Como nã o? Para todos os efeitos estamos em lua-de-mel, lembra?

— Nã o me importa. Se você insistir em ficar neste quarto, eu mudo para outro.

— Nã o, nã o muda — disse ele, inflexí vel. — Essas coisas tê m de ser contornadas. Vamos ficar no mesmo quarto aqui e també m em White Ladies, quando voltarmos.

Ele tirou a camisa e jogou aos pé s de uma das camas. Enfiou a mã o debaixo do travesseiro e puxou um pijama de seda azul.

— Vou tomar banho agora. Depois, o banheiro é todo seu.

Sharon ficou esperando ouvir o barulho da á gua para se levantar de seu lugar. Só agora, olhando em torno, percebeu que as malas já haviam sido desfeitas. Suzette já tinha escolhido a camisola que achara adequada para a noite de nú pcias da patroa: a de nylon, branca e transparente, de alç as finas, que Sharon havia comprado especialmente para a noite de nú pcias. Agarrou a camisola, nervosa, e atirou-a numa gaveta, preferindo um pijama de algodã o mais discreto.

Sentia um nó na garganta seca, nã o conseguia engolir. Se as coisas tivessem sido diferentes estaria agora entre os braç os de Lee, sentindo seu corpo esguio, rijo, apertado contra o seu, os lá bios ú midos e quentes murmurando palavras doces. Seria amor. Nã o do tipo que ela tinha imaginado, mas algum tipo de amor. Tinha, poré m, atirado tudo aquilo pela janela.



  

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