Хелпикс

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Kay Thorpe 3 страница



Ainda faltavam quinze minutos para a meia-noite quando Lee parou diante da casa dela, em Blexley Road. Deixou o motor ligado enquanto se despediam com um beijo.

— Nã o vou poder vê -la amanhã — disse. — Vou estar fora da cidade o dia inteiro e parte da noite. Venho buscá -la por volta das onze horas, domingo de manhã.

De dentro do carro, acenou uma breve despedida e partiu depressa, deixando-a na calç ada.

Aquela sensaç ã o de irrealidade permaneceu com Sharon durante todo o dia de sá bado, alternando-se com momentos de puro entusiasmo. Num desses ataques de alegria, ela passou a ferro uma blusa branca limpinha, para usar com o conjunto amarelo. E engraxou a ú nica bolsa decente que tinha, até que ficou brilhando. Se o sr. Brent fosse algo parecido com o filho, ela nã o tinha com que se preocupar, mas se nã o fosse... Bem, Lee a amava e isso lhe dava forç as para enfrentar o que quer que fosse.

Ao chegar, no domingo, ele estava vestido informalmente, com um blusã o esporte e um lenç o de seda no pescoç o, por baixo do colarinho aberto da camisa cor de creme. Parecia muito diferente do homem que ela tinha conhecido naquela semana.

Ela estava calada e, já no meio do caminho, ele comentou sobre o silê ncio dela.

— Arrependida? — perguntou.

— Nã o — respondeu, olhando-o de lado e percebendo de repente o que a preocupava. — Mas você talvez esteja.

— Nã o, nã o estou — disse, sorrindo. — Papai está à nossa espera. Achei melhor nã o surpreendê -lo.

— Contou a ele?

— Contei.

— E ele? — perguntou ela, depois de esperar por uma explicaç ã o que nã o veio.

— Ficou surpreso — disse, rindo. — Quer conhecê -la.

— Espero que sim!

— Nã o comece com isso outra vez. Ele vai saber avaliá -la por si mesma. Se sentir que você nã o tem amor-pró prio, nã o pense que vai consolá -la.

— Nã o é falta de amor-pró prio — rebateu ela, um pouco irritada.

— Inseguranç a, entã o. Aquela sua tia tem muito a ver com isso. Já falou com ela?

— Nã o.

— Entã o fale amanhã. Pode també m telefonar de casa, se quiser.

— Espero até amanhã — disse ela. E logo mudou de assunto. — Como é mesmo o nome da casa?

— White Ladies. Papai tirou o nome de um livro de Dornford Yates. Já o leu?

— Já. E engraç ado, mas antiquado.

— Vulgar, costumavam dizer naquela é poca. Claro que os Brent nã o eram vulgares, mas os comerciantes eram mal vistos pela classe alta naquele tempo.

— Mas nã o se pode dizer que especulaç ã o imobiliá ria seja comé rcio...

— Nó s compramos e vendemos. Isso se chama comé rcio. Meu avô foi quem começ ou os negó cios, comprando terras nos arredores da cidade, na dé cada de vinte. Era um homem de visã o.

— E agora a firma é internacional — murmurou Sharon.

— Andou investigando?

— Eu nã o. Uma amiga.

— A mesma que botou na sua cabeç a que eu só queria uma coisa de você? — Ele nã o esperou a resposta. — Bem, eu queria mesmo, mas nã o era esse apenas o meu objetivo. Você sabe que nosso noivado será bem curto, nã o?

— Será? — disse, rindo. — Eu nem sinto que estou noiva!

— Isso pode ser remediado. Abra o porta-luvas — disse ele, entrando num desvio sinalizado na estrada e parando o carro debaixo de umas á rvores.

Sharon abriu a portinhola, hesitante, e achou uma caixinha de couro. Sentiu a garganta seca e nã o foi capaz de pegá -la. Lee inclinou-se, apanhou a caixa e abriu a tampa, revelando um anel de diamante enorme, antigo.

— Foi de minha avó — disse. — Deve servir, ela era mais ou menos do seu tamanho. Se preferir um anel mais moderno, podemos comprá -lo na semana que vem.

— Oh, nã o! É lindo!

— Bom. Foi para isso que ela o deixou. Dê -me sua mã o.

Sharon obedeceu, tremendo ao toque das mã os dele, que enfiaram o anel em seu dedo.

— Serve direitinho! — disse ela, sem fô lego.

— Agora é oficial. — Havia algo na voz dele que fez Sharon olhar rapidamente para seu rosto, mas nada descobriu na expressã o que viu. — O casamento pode ser marcado para maio. E, uma vez que você nã o tem famí lia grande, acho que seria mais conveniente se fosse celebrado aqui. Seu tio e sua tia podem viajar para cá.

— Eles talvez nã o queiram vir — disse ela, incomodada. — Eu já lhe contei como tia Dorothy é.

— Você me contou o que ela disse numa certa ocasiã o. A gente sempre diz coisas num momento de explosã o e se arrepende depois. Nã o dá para apagar esses dezesseis anos, Sharon. Tem de convidá -los.

— Sim, farei isso — disse ela. — Você parece que já planejou tudo.

— Alguma objeç ã o?

Ela nã o sabia bem se tinha ou nã o objeç õ es. Lee estava acostumado a organizar tudo, isso era evidente. Pretenderia ele organizar a vida dela da mesma maneira? Pensou um momento e decidiu que era bobagem se preocupar com essas coisas. Tudo o que ele tinha feito era usar de senso comum. Lee esperava a resposta, olhando para ela.

— Nã o. Nenhuma objeç ã o — respondeu, sorrindo.

White Ladies ficava no meio de um enorme jardim, a poucos quilô metros da cidadezinha de Branley Heath. Era uma casa graciosa, pintada de branco debaixo do teto de ardó sia verde. Era cercada de á rvores de folhas prateadas, o que justificava a escolha do nome: Damas Brancas. E os canteiros ao longo da entrada estavam forrados de flores amarelas.

O interior era aconchegante e discretamente luxuoso. Sharon sempre achara que as casas tinham uma atmosfera pró pria e aquela sem dú vida tinha um clima leve, agradá vel. Sentiu-se à vontade quase imediatamente.

Uma mulher de meia-idade, vestida muito severamente, surgiu no hall quadrado e amplo e olhou os dois por um momento.

— Bom dia, sr. Brent — disse formalmente. — Seu pai está na biblioteca. Pediu que o senhor fosse até lá assim que chegasse.

— Esta é a sra. Reynolds — disse Lee, pousando a mã o no braç o de Sharon. — Governanta de papai.

Sharon percebeu que a mulher a examinava de alto a baixo, formando logo uma opiniã o. Viu os olhos da outra brilharem surpresos diante do anel em seu dedo, mas a voz soou controlada.

— Meus parabé ns aos dois.

— Obrigado. — A voz dele soou um tanto rude e Brent voltou-se para a porta da direita, puxando Sharon pela mã o. — Venha, vamos ver o meu pai.

A biblioteca servia també m de estú dio agora, com uma grande escrivaninha colocada a um canto e apenas uma das paredes forrada de estantes. O homem parado à janela voltou-se assim que entraram e ficou observando o par antes de avanç ar até eles. Era mais velho do que aparentava na foto do jornal que Sharon tinha visto, mas as feiç õ es e os olhos cinza-chumbo eram ainda vigorosos. Era assim que Lee ia ficar aos sessenta anos, se continuasse se cuidando, pensou Sharon.

— Entã o você é a mulher-maravilha que acabou derrubando esse meu filho — disse, examinando Sharon. — Foi uma bomba e tanto quando ele me contou ontem no telefone.

— Nã o vejo por que — disse Lee. — Faz anos que você vive me dizendo para encontrar uma esposa.

— Há anos eu lhe digo uma porç ã o de coisas — disse o velho secamente. — E nunca fez nenhuma diferenç a! Espero é que você saiba o que a espera, Sharon.

— Acho que sei. — Tentava parecer mais segura do que se sentia na verdade, procurando uma nota de humor. — Afinal, é para o que der e vier, nã o?

— É verdade — disse o velho, rindo. — Ele é um homem de sorte. Muitos se apavoram na hora que as coisas ficam um pouco mais duras.

— Que é que está tentando fazer? — perguntou o filho, preocupado. — Forç á -la a desistir?

— Nã o. Estou me certificando de que ela conhece a sua verdadeira face. — Voltou-se para Sharon, sacudindo a cabeç a. — Nã o se iluda com esse charme exterior. Ele é um cabeç a-dura, na verdade. Pode ser infernal viver com um homem desses.

— E o senhor? — perguntou ela, sem intenç õ es. — Você s dois sã o muito parecidos.

Foi a vez de Lee dar uma risada, bem irô nica.

— Pena que mamã e nã o esteja aqui para responder a essa pergunta. Talvez fosse interessante escutar a resposta.

O pai nem se abalou. Aparentemente a sra. Brent tinha morrido há tempo suficiente para a menç ã o de seu nome nã o mais despertar tristeza. A observaç ã o de Sharon parecia ter surpreendido um pouco o velho, mas ele nã o parecia ressentido.

— Acho que você vai fazer bem a esta famí lia — disse em tom leve. — Vamos dar uma volta pelo jardim antes do almoç o, assim você me conta tudo a seu respeito. Tudo o que ele me disse ontem, pelo telefone, foi: espere e verá.

Sharon fez um apelo com o olhar, mas Lee nã o reagiu. Evidentemente deixava por conta dela fornecer os detalhes de seu passado. Era porque sabia como o pai iria reagir se ele mesmo contasse?, pensou. Richard Brent parecia estar gostando dela, por enquanto, mas como iria reagir quando descobrisse que lhe faltavam as qualidades que devia considerar ' essenciais para a futura esposa do filho?

Lee acompanhou-os apenas até o terraç o traseiro. Sentou-se num banco de pedra, encostando-se na parede coberta de hera e demonstrando claramente que ia ficar por ali.

— Já conheç o os jardins — disse, preguiç oso. — Você s dois vã o e me pegam aqui quando entrarem para o almoç o.

— Deixe ele aí — aconselhou Richard Brent, quando Sharon tentou dizer algo. Enfiou a mã o dela em seu braç o. — Ficamos melhor sem ele.

O sol estava suficientemente quente para tornar o passeio muito agradá vel, mas Sharon tinha outras coisas em mente. Mal conseguiu se conter até se afastarem de Lee para dizer logo o que sentia que tinha de contar.

— Sr. Brent, antes que o senhor me faç a perguntas sobre minha vida, sobre o meu passado, famí lia, etc, acho que devo esclarecer que nã o tenho nada. Quer dizer, nada do que o senhor provavelmente espera. Lee devia ter contado.

— O que é que ele devia ter contado? — perguntou o velho, sem demonstrar nenhuma mudanç a na expressã o forte, nem alterar o ritmo dos passos.

— Eu trabalho num escritó rio e minha famí lia era toda de operá rios.

— Era?

— Papai e mamã e morreram num incê ndio quando eu tinha seis anos. Papai conseguiu me tirar do fogo, mas mamã e ficou presa num quarto e ele voltou para buscá -la. Pelo menos, foi isso que me contaram. Nã o me lembro de nada.

— E quem criou você?

— A irmã de meu pai.

— També m operá ria?

— Sim — disse ela, empinando o rosto ligeiramente, sem perceber. — Tio Brian é gerente de uma loja.

— Sei — disse o velho, fazendo uma longa pausa. — E o que é que Lee acha disso tudo?

— Disse que a preocupaç ã o está só na minha cabeç a e que devo esquecer.

— Em outras palavras, ele nã o se importa. Terá ele insinuado que eu poderia reagir mal?

— Nã o — admitiu ela —, mas...

— Mas assim que me viu você resolveu achar que eu era do tipo esnobe — disse, num tom comedido. — Há alguns minutos eu diria que Ixe encontrou para si uma garota especial. Nada do que você me disse altera essa minha opiniã o, mas posso estar errado. Uma coisa de que nã o gosto é que predeterminem minhas atitudes.

— Sinto muito.

— Sinta mesmo. A ú nica coisa que me interessa é que meu filho faç a um casamento duradouro. Você o ama?

— Sim — disse ela, suavemente. — Oh, sim, eu o amo.

— Esse é o ingrediente principal — disse, examinando o rosto dela e parecendo satisfeito com o que descobrira. — Ele é um homem de sorte. Como se conheceram?

Sharon contou a histó ria, omitindo certos detalhes e ao terminar percebeu no rosto do velho uma expressã o estranha.

— Quer dizer que conhece Lee há pouco mais de uma semana? — disse. — Foi uma decisã o bem rá pida de você s dois.

— Acontece à s vezes, nã o acha? — murmurou Sharon. — Pelo menos, foi assim comigo. Mal podia acreditar que Lee sentia a mesma coisa.

— Sim — disse meio secamente. — Ele sempre acreditou no jogo rá pido, uma vez decidida a linha de aç ã o. Aos trinta e dois anos pode ser que ele demore um pouco a acostumar com a vida de casado, minha cara, mas estou certo de que você saberá como agir.

— Ainda nã o estamos casados! — disse Sharon, rindo.

— Mas vã o estar. E logo — disse ele com firmeza. — Vamos marcar a data hoje mesmo, enquanto você está aqui. Quer se casar na sua terra?

— Seria difí cil — disse Sharon, sentindo-se um pouco incô moda. — Saí de casa depois de um certo desentendimento. Lee acha melhor casarmos aqui mesmo. Uma cerimô nia discreta, no pró prio tabeliã o, talvez.

— Nã o, nã o no tabeliã o — disse o velho com ê nfase — Lee vai casar na igreja, como a irmã dele!

— O senhor se encarrega de dizer a ele? — pediu Sharon, depois de uma ligeira pausa.

— Eu digo a ele. — Sorriu o velho. — Minha governanta e meu secretá rio podem cuidar de tudo. A primeira providê ncia vai ser a sua lista de convidados.

A velocidade com que as coisas estavam acontecendo deixava Sharon sem fô lego. Ao que tudo indicava, Lee nã o era o ú nico a gostar de jogo rá pido na famí lia.

— Tenho apenas tia Dorothy e tio Brian — disse ela, hesitante. -— E nem sei se vã o querer vir...

— Se nã o quiserem vir — disse ele —, nã o merecem ser considerados como famí lia. Tente convidá -los, ao menos. Deve ter també m alguns amigos...

— Nenhum amigo í ntimo. Talvez um ou dois colegas de trabalho.

— Bom, deixo isso com você. Posso garantir que, do nosso lado, nã o faltará gente.

— Sr. Brent... — disse ela, em voz baixa. — Quando Lee sugeriu que nos casá ssemos aqui, acho que ele nã o estava pensando em nada tã o pomposo quanto o casamento da irmã. Sinceramente eu també m nã o...

— Discutiremos isso depois — interrompeu ele, gentil. — Agora está na hora do almoç o. Vamos para dentro.

Lee esperava por eles no mesmo lugar. Sorriu ao vê -los chegar.

— Endireitou a moç a? — perguntou ao pai.

— Acho que se pode dizer que chegamos a um bom entendimento — disse Richard, examinando o rosto do filho. — Sharon esteve me contando a maneira como você s se encontraram.

— É mesmo? O destino à s vezes interfere nos momentos mais surpreendentes.

Sharon sentiu-se ligeiramente incomodada por aquelas observaç õ es, mas nã o conseguia definir por quê. Sentiu-se aliviada quando um gongo no interior da casa anunciou o almoç o.

— É meio pretensioso — comentou Richard, gozador. — Mas é tã o difí cil arranjar criadagem hoje em dia... E o gongo é bem mais prá tico que fazer a sra. Reynolds ter de me procurar por todo lado para me dizer que é hora do almoç o.

— Ela toma conta da casa sozinha? — perguntou Sharon, calculando que devia dar muito trabalho arrumar uma casa daquele tamanho.

— Temos trê s diaristas da cidade — respondeu Lee. — Ela nã o trabalha tanto assim.

— Você nunca gostou muito dela — observou o pai. — Nã o entendo por quê. Ela é muito eficiente.

— Eficiente demais. Cuida da casa como se fosse um hotel.

— Levando em conta que você raramente vem aqui, nã o vejo por que deva preocupar-se — disse o velho. — Já resolveram onde vã o morar depois de casados? Seu apartamento em Londres é bom, mas nã o serve para uma famí lia.

— Nã o acha que está indo meio depressa demais? — perguntou Lee, divertido, olhando para Sharon. — Ainda tem tempo para começ ar a famí lia.

— Nunca se sabe. Alé m disso, esse assunto diz respeito a todos nó s. Há já algum tempo venho pensando em sair desta casa. É grande demais para um homem só. Lora e Jason já tê m Copperlea, é claro, e como você nã o demonstrava muito empenho em encontrar uma esposa... — O velho parou na porta que levava à biblioteca, encarando o filho com um olhar firme. — Bem, o que pensei foi dar White Ladies de presente de casamento a você s.

Um silê ncio caiu sobre a oferta. Sharon ficou boquiaberta, nã o encontrando palavras para agradecer. Aquela casa linda para eles morarem. Os jardins para passear, sentar, admirar. Um paraí so para crianç as, pensou, sentindo um arrepio diante da idé ia de ter filhos de Lee.

Subitamente percebeu que os dois homens olhavam para ela, o mais velho com um olhar compreensivo, o mais jovem com uma expressã o que lhe pareceu vagamente perturbada. Lee foi o primeiro a falar.

— É ó bvio que você gosta da idé ia.

— Quem nã o gostaria? — disse, com os olhos ainda brilhando. — Oh, Lee, eu mal consigo acreditar. Mas... onde...

— Eu me mudarei, naturalmente — disse Richard, sorrindo e entendendo, sem se ofender com a hesitaç ã o dela. — Talvez eu vá morar no clube, na cidade. Ainda nã o sei. E você, o que acha?

— O que é que eu posso dizer, senã o muito obrigado? — respondeu o filho, encolhendo os ombros. — Você nã o se opõ e que a gente mude a decoraç ã o para o nosso gosto?

— Oh, mas é perfeita assim como está — interrompeu Sharon, tentando consolar seu futuro sogro. — Perfeita!

— Você ainda nem viu a casa inteira — disse Lee num tom ligeiramente brusco, acrescentando em tom mais leve. — Depois do almoç o vou mostrar-lhe o resto.

— Gostaria muito — disse ela, voltando um olhar tí mido para Richard. — Muito obrigada. Deve ser o presente de casamento mais fabuloso que algué m jamais recebeu.

— Preguiç a pura — disse o velho, rindo. — Poupa-me o esforç o de ter de pensar em outra coisa. E é bom saber que White Ladies vai continuar com a famí lia.

Sharon ficou ligeiramente preocupada com o silê ncio de Lee durante o almoç o. Nã o reagiu quando o pai sugeriu que a data do casamento fosse dali a quatro semanas e apenas levantou as sobrancelhas, ironicamente, quando o velho disse que ia ser realizado na igreja da cidadezinha.

— Você já resolveu tudo —disse apenas.

Sharon esperou até mais tarde, quando estavam sozinhos, para dizer o que pensava.

— Lee, eu nã o me importo que a gente se case no tabeliã o mesmo, se você preferir.

— E você? Quais sã o suas preferê ncias? — perguntou, com uma expressã o estranha.

— Já disse. Eu nã o me importo.

— No final das contas, dá no mesmo — disse ele sorrindo. — Mamã e vai gostar mais que seja na igreja. Ela sempre se preocupa com o que os outros vã o pensar.

— Eu pensei que sua mã e já tivesse morrido — disse Sharon, sobressaltada.

— Desculpe se lhe dei essa impressã o. Eles vivem separados há mais de dez anos. Desde que descobriram que nã o conseguiam mais viver juntos.

— Eles se divorciaram?

— Nã o. Aparentemente nenhum dos dois sentiu necessidade disso. Ela está no estrangeiro agora, portanto você só vai conhecê -la daqui a uma ou duas semanas.

Sharon respirou, aliviada. Precisava de algum tempo para respirar.

— E você e sua irmã ficaram aqui em White Ladies quando ela foi embora?

— Eu já tinha vinte e dois anos e, se tivesse mudado, teria sido para minha pró pria casa. Lora tinha só quinze anos e era diferente de mim. Foi com a mamã e. Você acha que meu pai e eu somos parecidos... Espere só até ver Lora e minha mã e juntas. Parecem mais duas irmã s que mã e e filha.

Sem nenhuma ló gica, Sharon se surpreendeu, desejando que houvesse só Lee e o pai. Lora e a mã e eram o desconhecido. Mas, por outro lado, Lora tinha acabado de se casar també m e certamente seria capaz de entender o desgaste e as tensõ es dessa situaç ã o.

A casa era ainda maior do que ela tinha imaginado. No andar de cima, alé m da longa sala de bilhar, havia oito dormitó rios, metade dos quais com banheiro conjugado. Segundo Lee, a decoraç ã o e o esquema de cores dos quartos nã o mudavam nunca. As peç as eram simplesmente renovadas quando se fazia necessá rio. Isso talvez fosse uma das coisas que ela quisesse mudar, acrescentou, interessado. Evidentemente, a tradiç ã o nada significava para ele.

De volta ao andar de baixo, Lee mostrou a ela o adorá vel estú dio com uma linda lareira e cortinas de veludo. Ao lado, havia uma saleta de estar menor, mobiliada em estilo bem feminino, em tons suaves de azul e cinza.

— A sala de mamã e — disse Lee. — Ningué m podia entrar sem ser convidado.

Sharon nã o fez nenhum comentá rio. A sala de que mais gostou foi a que ficava nos fundos da casa, abrindo para o terraç o. Havia um piano Steinway, branco, sofá e poltronas de brocado e o sol da tarde a coloria inteira de um tom dourado, muito convidativo.

— Algué m toca? — perguntou.

— Eu nã o — disse Lee. — Papai sim, mas já faz tempo que nã o o vejo tocar. E você?

— Um pouquinho — sorriu ela. — Tia Dorothy insistiu que eu aprendesse quando tinha sete anos e aconteceu de eu ter jeito para a coisa. Nã o o bastante para dar concertos, poré m.

— Está aberto — disse ele, experimentando a tampa. — Toque um pouco para mim.

— Agora? — perguntou, já arrependida de ter contado. — Mas, eu...

— Tem de ter clima? — perguntou ele, provocador.

— Nã o. Nã o é isso — disse, disfarç ando o embaraç o. — É o meu temperamento que nã o é suficientemente artí stico. O que quer ouvir?

— Escolha você. A mú sica nã o é o meu forte. Gosto de ouvir, mas nem sempre sei o que estou ouvindo.

Enquanto ela se ajeitava no banquinho, ele se sentou numa cadeira ao lado, cruzando as pernas com um ar que Sharon achou ser de resignaç ã o. Essa sensaç ã o bastou para pô -la em alerta. Fosse qual fosse a intenç ã o, nã o era esse tipo de indulgê ncia que ela esperava dele.

Os primeiros acordes violentos do Concerto de Varsó via tiveram exatamente o efeito que esperava, fazendo-o levantar bruscamente a cabeç a, pego de surpresa. Sorrindo, ela relaxou e começ ou a sentir o instrumento. Fazia vá rios meses que nã o tocava e a execuç ã o estava longe de ser perfeita, mas a mera sensaç ã o de estar tocando de novo já bastava.

Richard estava parado na porta quando ela levantou o rosto, ao terminar a mú sica.

— Espetacular — comentou ele. — Agora toque alguma coisa calmante em vez de excitante.

— Isso foi para mim — disse Lee, divertido, um brilho no olhar cinzento. — Para eu deixar de ser chato. Vamos, Sharon, obedeç a ao papai e toque uma coisa decente.

Ela sorriu para ambos, um pouco envergonhada e começ ou a tocar uma valsa de Strauss que tinha sido das peç as favoritas da professora e dela també m. À medida que a mú sica prosseguia, ela se esqueceu dos ouvintes e entregou-se à execuç ã o. Quando terminou, Richard parecia satisfeito.

— Melhor. Muito melhor, mesmo. O que lhe falta dê té cnica você supre com sentimento. Conhece Chopin?

— Sim, mas nã o sei tocar — disse, ousando acrescentar. — Mas gostaria muito de ouvi-lo tocar. Lee disse quê o senhor é o mú sico da famí lia.

— Já nã o sou o ú nico, nã o é? — disse, bem-humorado, deslizando para o banquinho. — Muito bem, vou tocar, mas estou muito sem prá tica.

Lee deu palmadinhas no braç o de sua poltrona num gesto que era meio convite, meio ordem. Ela obedeceu e ele passou o braç o em tomo dela quando se sentou, a mã o forte repousando na coxa dela suavemente, o ombro tocando seu seio. Durante todo o tempo que o velho tocou, ela estava alerta à quela sensaç ã o vital do contato quente dos dedos dele com sua pele, atravé s do tecido.

Ali sentada, na morna intimidade da sala cheia de mú sica, Sharon encarava um futuro cheio de promessas douradas. Ia ser um bom casamento, disse a si mesma, apesar do começ o tã o pouco convencional. Ela faria Lee sentir-se orgulhoso dela!

 

CAPÍ TULO III

 

 

Um mê s depois, de pé ao lado do marido, recebendo os cumprimentos dos convidados, Sharon mal conseguia acreditar em tudo o que tinha acontecido. Tinha de tocar o anel e a alianç a em seu dedo para se convencer de que era verdade.

Nã o gostaria de enfrentar de novo semanas como as ú ltimas. Tinha havido tanta coisa a fazer, tantas pessoas a conhecer, tã o poucos momentos para estar a só s com Lee... Percebia agora que, sob vá rios aspectos, Lee era ainda quase um desconhecido. Um desconhecido com quem ia repartir uma cama ainda esta noite, pensou, olhando a figura esguia que apertava mais uma mã o, a seu lado. Esse pensamento a fez sentir-se ao mesmo tempo excitada e apreensiva. Ele tinha conhecido outras mulheres antes dela. Será que ia decepcioná -lo? Achava agora que esse medo é que a tinha impedido de ceder nas poucas oportunidades que tiveram de ir para a cama, apesar de ter sentido vontade.

Como se sentisse a inquietaç ã o dela, Lee aproveitou uma pausa para sorrir para ela, encorajador.

— Agü ente um pouco mais — murmurou. — Daqui a umas duas horas já vamos estar longe.

E a só s. Nessa mesma noite estariam na Suí ç a, longe de olhares curiosos, na casa do lago Lucerna. Nã o tinha sido surpresa para Sharon descobrir que tinham outras casas, espalhadas pelo mundo. Tudo o que dizia respeito à famí lia Brent já nã o a surpreendia mais. No fundo, teria preferido passar a lua-de-mel num lugar inteiramente novo para ambos, mas nã o pudera recusar a oferta. Teria sido rude.

Passeando o olhar pela fila de convidados deu com o sogro, que piscou um olho brincalhã o. Sharon teria retribuí do a brincadeira, nã o fosse pelo olhar gelado da mulher ao lado dele. Tudo o que podia fazer era suspirar baixinho e limitar-se a um sorriso. Levaria ainda muito tempo para Lorna Brent perdoar o filho por ter casado com algué m inferior a ele. E mais tempo ainda para aceitar a nora como parte da famí lia, apesar dela mesma só manter o nome Brent. Ao serem apresentadas, há menos de uma semana, Sharon tinha sentido imediatamente a antipatia que a futura sogra lhe votava. Se os preparativos nã o estivessem tã o adiantados, Sharon tinha certeza de que ela teria tentado um arranjo particular para convencer Sharon a desistir do romance. Mas, na presente circunstâ ncia, tudo o que a sogra pudera fazer tinha sido demonstrar sua reprovaç ã o de todas as maneiras possí veis. Lee, no entanto, tinha ficado absolutamente indiferente à antipatia da mã e.

A irmã, Lora, pelo menos, nã o parecia demonstrar má vontade. Ao encontrar o irmã o pela primeira vez depois do noivado, sua reaç ã o tinha sido risonha.



  

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