Хелпикс

Главная

Контакты

Случайная статья





Kay Thorpe 5 страница



Momentos depois Lee saiu do banheiro vestindo o pijama azul, descalç o. Nem olhou na direç ã o dela, limitando-se a atravessar o quarto até sua cama, enfiando-se entre os lenç ó is, a cabeç a pousada sobre os braç os dobrados, olhando o teto. Sharon foi para o banheiro levando suas coisas e fechou a porta devagar.

Seus objetos de toalete já estavam arrumados na prateleira de má rmore, ao lado dos de Lee. Demorando o mais possí vel, ela passou creme no rosto, escovou os dentes, escovou os cabelos, mas nã o podia prolongar indefinidamente o momento de retorno ao quarto. Fechou o peignoir e abriu a porta.

Lee estava deitado de lado, o rosto voltado para a parede, a respiraç ã o regular demonstrando que já tinha dormido. Realmente aquilo tudo importava bem pouco para ele. Uma noite de nú pcias arruinada e ele dormia!

Afinal, por que nã o? pensou, amargurada. Esses problemas nã o deviam ser novidade para ele.

A lenha na lareira brilhava ainda, avermelhada, soltando um leve odor de pinho. Sharon enfiou-se na cama, apagou a luz de cabeceira e ficou ouvindo os ruí dos da noite. Muitas horas se passaram antes que conseguisse dormir.

 

 

CAPÍ TULO IV

 

 

Ao despertar, Sharon viu a cama de Lee vazia e a luz do sol filtrando-se atravé s das cortinas parcialmente fechadas. As lembranç as afloraram lenta e inexoravelmente. Virou-se de costas, soltando um longo suspiro, pensando em como enfrentar a situaç ã o.

O reló gio ao lado da cama marcava nove e meia. Atirou longe as cobertas, decidida, pô s-se de pé, calç ando os chinelos, foi até a janela e afastou mais as cortinas. Abriu a porta envernizada, saindo para a sacada, para o sol que brilhava, quente. Sentiu-se ligeiramente mais animada diante da beleza da vista.

A superfí cie do lago espalhava-se clara e reluzente até as colinas, que subiam numa cadeia de montanhas com os picos ainda cobertos de neve, debaixo do cé u azul, sem nuvens. Um vapor cruzava o lago a meia distâ ncia e outros dois barquinhos navegavam mais pró ximos da costa. Sharon aspirou profundamente aquele ar revigorante e resolveu que nada de mau poderia acontecer num dia tã o bonito.

Um dos barcos se aproximava da praia e ela ficou olhando. Depois de algum tempo percebeu que era Lee quem o pilotava. Apesar da distâ ncia que os separava, virou-se e voltou para dentro. Quando o encontrasse de novo queria estar preparada, fí sica e mentalmente.

Gastou apenas alguns minutos no banho, escolhendo depois um vestido de linho, sem mangas. Estava pá lida. Queria se bronzear um pouco enquanto estivesse ali. Sentiu um arrepio percorrê -la. Trê s semanas. Como seriam elas? Poderiam duas pessoas dormir no mesmo quarto, comer à mesma mesa, passar os dias juntas e ainda assim manterem distâ ncia? Nã o sabia a resposta porque nunca tinha passado por isso.

Sabia que Lee també m nã o saberia. Quando chegasse a hora, parecia mais prová vel que a vontade dele fosse mais forte que a dela, uma vez que Lee nã o estava envolvido emocionalmente. Tudo o que ela podia desejar era controlar as pró prias emoç õ es també m.

Suzette estava espanando os mó veis quando Sharon finalmente aventurou-se a descer. A empregada sorriu.

—Madamedormiu bem? — perguntou. — Monsieur Brent pediu para nã o incomodá -la. Ele saiu com o barco.

— É, eu sei. Vi da sacada.

— Gostaria de tomar café agora? — perguntou Suzette.

— Só café e torradas — disse. — E desculpe interromper seu trabalho.

— Nã o tem nenhum problema, madame— disse, surpresa. — Quer que sirva lá fora?

— Sim, obrigada — respondeu Sharon. Ia ter de aprender a falar e agir como dona da casa e nã o como uma colegial tola. Sobretudo se planejava usurpar a autoridade da sra. Reynolds quando voltasse para White Ladies. Agora, mais do que nunca, ia ter de encontrar algo com que ocupar a mente e duvidava que Lee fosse concordar que arrumasse um emprego. O que era mesmo que ele tinha dito a noite anterior? Algo acerca dela ajudar nos negó cios. Nã o sabia exatamente o que queria dizer. Será que significava apenas que devia servir de companhia em jantares de negó cios? Nã o era uma idé ia muito agradá vel.

Passando diante de um espelho, olhou o pró prio reflexo. Nã o tinha nem mesmo a aparê ncia apropriada para o papel que devia desempenhar. Lora tinha dito que era bonitinha. Insí pida, talvez, fosse mais apropriado. Nã o tinha brilho, nem glamour, nenhuma sofisticaç ã o. Nã o era de se estranhar que Lee nã o tivesse sentido sua falta na noite anterior. As mulheres que devia estar acostumado a levar para a cama provavelmente eram como sua irmã: posudas e confiantes, bem vestidas. A roupa que estava vestindo tinha custado caro, mas nã o lhe caí a bem, porque ela era toda errada.

Assim que chegou à varanda viu Lee subindo os degraus. Estava de short azul-marinho e camiseta da mesma cor, as pernas e os braç os exibindo um belo bronzeado debaixo da penugem leve. Era a pró pria imagem do homem esportivo, á gil e musculoso.

Os ó culos escuros ocultavam sua verdadeira expressã o quando se aproximou dela. Sharon teve de se controlar para hã o ir embora.

— Suzette vai me trazer café — disse. — Devo dizer a ela que você també m está aqui?

— Ela vai me ver quando vier — disse, sentando-se à mesa. — Nã o vai sentar?


— Bom passeio? — perguntou ela, rí gida, desviando o olhar para a paisagem.

— Sim — respondeu secamente. — Nã o somos obrigados a conversar quando nã o tem ningué m por perto.

— Podemos pelo menos tentar ser... amigos? — disse ela, voltando-se para ele quase sem querer.

— Sejamos civilizados.               

— Civilizados, entã o. — Ela tentava parecer calma. — Afinal se vamos ter de passar trê s semanas aqui, nã o vamos poder ficar em silê ncio o tempo todo.

— Nã o vamos ficar trê s semanas — disse. — Mais uns dois dias só. Depois vamos para Marselha. Você vai gostar do Ventura. É um belo barco. Alé m disso, teremos a companhia da tripulaç ã o e amigos em todos os portos.

— Está bem — disse Sharon, com um nó na garganta. — Temos mesmo de ir?

— Temos. Cheguei à conclusã o, ontem à noite, de que nã o há razã o de prolongar esta lua-de-mel sem sentido. Poré m, nã o podemos voltar para casa. O iate me pareceu a melhor soluç ã o. Pode comprar mais algumas roupas, se precisar, em Marselha.

Suzette chegou com o café, encerrando o assunto. Nã o que Sharon tivesse algo a dizer. Na verdade, nã o tinha vontade nem de ir, nem de ficar, mas Lee tinha razã o. Abreviar a lua-de-mel poderia despertar certa curiosidade. Tinham de ficar fora as trê s semanas inteiras.

— Que vamos fazer nos pró ximos dias? — perguntou Sharon assim que Suzette foi embora.

— Você ainda nã o conhece Lucerna. E temos de ver Jacques.

— Isso nã o é mais preciso, nã o? Por que procurar dificuldades? — disse, olhando para ele.

— Porque ele espera ser apresentado à minha mulher e ficaria magoado. E um velho amigo, nã o posso tratá -lo mal.

— Se é um amigo tã o chegado, certamente perceberá o estado de coisas entre nó s, nã o?

— Depende apenas de nó s dois impedir que isso aconteç a. Ele é francê s e bastante observador quanto a relaç õ es humanas. Nã o será fá cil enganá -lo.

— Entã o por que tentar? O que ele pensa é assim tã o importante?

— É — disse ele, apertando os lá bios, os olhos invisí veis detrá s dos ó culos escuros.

— Orgulho de macho? — disse, maldosa, sentindo necessidade de atingi-lo de alguma forma. — Você nã o quer que seu amigo descubra que casei apenas com o seu dinheiro.

Nã o havia dú vidas de que ela o tinha atingido. A mã o dele apertou com forç a a guarda da cadeira, todo o corpo retesado. Sharon arrependeu-se imediatamente.

—Nã o foi isso que eu quis dizer, Lee.

—Foi, sim — afirmou ele, frio. — E você está certa. Nã o quero que Jacques fique sabendo disso. Você receberá sua recompensa se representar direitinho.

—Que coisa horrí vel de dizer! — disse ela, corando.

—Por quê? Você estava disposta até a vender seu corpo pelos bens materiais. Tudo o que peç o é um bom serviç o pelo preç o combinado.

—Ou você me joga na sarjeta, que foi de onde eu saí?

—É você quem está dizendo isso, nã o eu. — O sarcasmo dela nã o o atingia. — Você está bem garantida e sabe disso. Está certa quanto à reaç ã o de papai se nosso casamento acabar cedo demais. Por outro lado, em setembro ele me passará o controle da companhia e você talvez se veja de repente desempregada se nã o se comportar direitinho até lá.

—E se me comportar? — perguntou baixinho, abalada.

—Entã o veremos. Pelo menos enquanto estiver casado com você, terei uma razã o vá lida para nã o precisar casar com mais ningué m — disse, terminando o café e pondo-se de pé. — Vou me trocar. Esteja pronta dentro de meia hora. Vamos pegar a lancha.

Sharon ficou só, com a xí cara ainda intocada na mã o. Se aquilo que tinha dito na noite anterior nã o tivesse sido suficiente para convencer Lee, as palavras que acabara de dizer tinham realmente completado o serviç o. Tinha de aprender a pensar antes de abrir a boca. E nada no mundo jamais o convenceria de que aquilo que disse tinha sido apenas para feri-lo e nã o a verdade.

Mas será que nã o era mesmo verdade? perguntava uma vozinha lá dentro de sua cabeç a. Será que teria sentido a mesma coisa se Lee fosse um rapaz comum, com horá rio de trabalho e salá rio mensal? Desde o primeiro momento tinha percebido que ele era rico. Teria isso influenciado seus sentimentos? Em apenas uma semana tinha se apaixonado. Se o amasse de verdade, teria ignorado as intrigas da irmã. Ou pelo menos dado a Lee a chance de se defender antes de tomar decisõ es. Sentia atraç ã o fí sica por ele, isso era inegá vel, mas sentia-se agora insegura quanto ao amor.

Resolveu interromper esses pensamentos. Endireitou os ombros. Já nada importava mais. Restavam-lhe apenas duas opç õ es: manter sua posiç ã o de esposa de Lee, mesmo que apenas nominal, ou abandoná -lo e voltar à vida de antes. Mas nã o era assim tã o fá cil. Um divó rcio levava algum tempo, mesmo com razõ es vá lidas. E será que ela tinha razõ es vá lidas? A maioria das pessoas devia achar que era uma moç a de sorte. E Lee nã o tinha abusado dela. Sem dú vida, achara que nã o valia a pena.

Podia pedir anulaç ã o, entã o. Mas, nã o. Nã o seria capaz disso. No fim das contas, só lhe restava uma coisa a fazer: obedecer a Lee e desempenhar o papel de esposa adorada o melhor possí vel. E ia começ ar hoje mesmo, no encontro com Jacques.

Em outras circunstâ ncias, Sharon teria adorado o passeio de lancha pelo lago, até a cidade. A lancha era veloz e passaram perto de um vapor carregado de crianç as, que acenaram.

— Inglesas, provavelmente — disse Lee, abanando a mã o para elas. — Geralmente vê m no começ o da temporada porque é mais barato. Talvez estejam hospedadas no hotel de Jacques.

— Há quanto tempo você o conhece? — perguntou Sharon, enquanto paravam junto ao pí er de um grande pré dio com telhado esverdeado.

— Desde que a gente era crianç a. Ele herdou o hotel do pai dele — disse Lee, desligando o barco e atirando a corda a um rapazinho na margem.

Havia muita gente sentada na varanda ensolarada, os garç ons circulando em torno das mesas. Ao passar, Sharon ouvia falar quase só francê s, mas numa mesa pareciam estar falando inglê s: Lee atraiu a atenç ã o de um grupo de garotas muito jovens sentadas a uma mesa. Sharon quase sentiu inveja das observaç õ es e risinhos delas. Lee sorriu e lanç ou na direç ã o delas um olhar compreensivo. As trê s eram atraentes e sabiam disso.

Jacques Cabot veio ao encontro deles. Era baixo e moreno, com olhos muito azuis e expressivos num rosto magro e escuro. Era francê s dos pé s à cabeç a, principalmente na maneira de cumprimentar Sharon, fazendo-a sentir-se especial, quase bonita, alisando a mã o dela entre as dele.

—A rosa inglesa — disse. — Que pele! Você tem sorte, Lee.

—Tenho mesmo — respondeu, com uma ironia quase imperceptí vel. Tomaram café na salinha particular de Jacques. Ele sentou-se ao lado de Sharon no sofá, cobrindo-a de atenç õ es. Ela já tinha ouvido falar que os franceses tratavam todas as mulheres assim, mas sentia-se bem assim mesmo.

— Entã o vã o para Marselha? — perguntou. — A Suí ç a é assim tã o desinteressante?

— Foi Lee quem resolveu — disse ela, evitando os olhos cinzentos. — Ele quer navegar.

— Em plena lua-de-mel? — disse Jacques, abanando a cabeç a. — Que vergonha, meu amigo!

— A tripulaç ã o se encarrega de todo o trabalho — respondeu Lee, com um sorriso que nã o chegava aos olhos. — O iate vai estar alugado a partir do mê s que vem e Sharon nã o conhece a Riviera.

— Entã o eu até podia ir com você s — disse ele, insinuante. — Ver tudo de novo, mostrar a você uns lugares que nem o seu marido conhece. Seria uma maravilha!

— Noutra oportunidade, talvez — disse Lee, seco. — Nã o abuse da amizade. Encontre uma mulher para você, Jacques, e faç a a sua pró pria lua-de-mel.

— Mas as melhores mulheres já estã o casadas! — disse com um suspiro divertido, olhando Sharon, que corou. — Se eu a tivesse conhecido antes de Lee... nem sei o que podia ter acontecido!

— Diz isso porque sabe que já nã o estou mais livre — disse ela, sorrindo de verdade pela primeira vez no dia.

— Que modé stia! — disse Jacques, sacudindo a cabeç a. — Está sendo injusta. Vai ter de jantar comigo antes de deixar Lucerna. Seu marido també m, se fizer muita questã o. Se bem que ele sabe que pode confiar em mim quando se trata da esposa de um amigo.

— Claro — respondeu Lee. — Nó s dois vamos adorar jantar com você. Amanhã está bem?

— Outra injustiç a — disse, encolhendo os ombros. — Mas eu nã o me ofendo. Amanhã está bem.

— Talvez devesse deixá -la vir sozinha — disse Lee, rindo ironicamente ao saí rem do hotel. — Evidentemente você acha Jacques atraente.

— Qualquer mulher acharia. Ele se empenha em ser charmoso e nã o faz nenhuma questã o de ser levado a sé rio — disse, olhando o marido. — Acha mesmo uma boa idé ia jantarmos só nó s trê s? Num encontro mais prolongado ele talvez descubra que há algo de errado.

— Nã o haverá nada a descobrir, a menos que a gente revele algo — disse bruscamente. — De qualquer forma, nã o estaremos os trê s sozinhos. Ele arranjará outra mulher para me distrair a fim de poder concentrar todas as atenç õ es em você.

—Por que faria isso?

—Porque você o deixa intrigado. E um francê s curioso nã o se deixa abalar por coisas tã o sem importâ ncia quanto um marido. Nã o faç a essa cara de incré dula. Espere e verá. Conheç o Jacques há muito tempo e duvido que ele jamais tenha encontrado uma mulher como você.

—Que quer dizer com isso? — perguntou ela, tocada.


— Exatamente o que disse. Você é diferente das outras.

— Por que nã o tenho sofisticaç ã o?

— É uma maneira de dizer as coisas. Eu nã o escolheria essa palavra. Sharon recusou-se a dar a ele a satisfaç ã o de perguntar qual seria a palavra, apesar de curiosa.

— Você acharia mais natural eu agir como aquelas trê s mocinhas na mesa? — perguntou ela. — Você gostou dos elogios, nã o?

— Achei engraç ado. Era isso que esperavam que eu achasse. Estavam brincando comigo, só isso.

—Acha engraç adas aquelas observaç õ es?

— Nã o pensei que você soubesse tanto francê s assim — disse ele, rindo. — Por que se preocupar? Meu desempenho na cama nã o deve preocupá -la. Se é que você jamais se importou com isso.

— Talvez você queira fazer uma demonstraç ã o prá tica — disse ela, provocante. — Vá em frente. Talvez ainda estejam esperando.

— Você nã o prefere continuar esta conversa em casa, a só s? — perguntou ele, com um olhar cheio de significados.

— Nã o — respondeu Sharon, desviando o olhar daqueles olhos cinzentos.

— Entã o nã o amole e tente dar a impressã o de que está gostando de sua primeira visita a cidade.

Sharon estava mesmo gostando, porque era impossí vel nã o gostar dos velhos edifí cios, das pontes medievais e da atmosfera sonhadora. Lee levou-a a conhecer os pontos pitorescos e, apesar de ainda estarem no começ o da estaç ã o turí stica, havia muita gente nas ruas, de vá rias nacionalidades.

Almoç aram no Schwanen, onde Lee já havia reservado uma mesa na sacada que dava para o lago e as montanhas. Depois foram até Kriens e subiram ao monte Pilatus por telefé rico, apreciando o panorama espetacular que se estendia diante deles. Havia momentos em que Sharon chegava quase a esquecer seus problemas, mas bastava levantar os olhos para ver Lee e lembrar-se de tudo outra vez. Nã o seria fá cil fazê -lo esquecer, isso era certo. A situaç ã o toda permanecia como uma barreira só lida entre eles.

 

Lee tinha razã o, Jacques havia convidado outra moç a para completar o jantar. Era italiana, na casa dos vinte anos, olhos e cabelos escuros, as formas voluptuosas debaixo do vestido vermelho, provocante. Chamava-se Lú cia Veldetti. Orientada ou nã o para isso, concentrou toda a sua atenç ã o em Lee, tanto durante quanto depois da soberba refeiç ã o, deixando a Jacques a tarefa de distrair Sharon, coisa que ele demonstrava adorar.

Comeram numa saleta particular e depois juntaram-se aos outros hó spedes para danç ar no restaurante sobre o lago, ao som de um excelente conjunto.

Sharon descobriu que Jacques era um ó timo par e danç ava maravilhosamente. Alé m disso, aproveitava-se do fato de ser quase da altura dela e durante todo o tempo murmurava em seu ouvido as maiores barbaridades, sempre naquele tom de brincadeira.

—O problema — disse Sharon, afastando-se um pouco e encarando-o — é que você acha que tem um papel a representar. Dizem que os franceses sã o os maiores amantes do mundo, nã o é?

— Acha que é só conversa? — disse, sorrindo malicioso.

— Ficaria mais impressionada se você nã o exagerasse tanto.

— Por que acha que exagero?

— Eu nã o sou bonita e sei disso muito bem.

— É porque nã o se vê com os meus olhos. A beleza, a verdadeira beleza, está na estrutura, nã o é uma substâ ncia aplicada a pincel — Jacques falava em tom leve, mas com uma nota de verdade. — Seu cabelo é ouro puro, mas a maneira como o usa nã o lhe dá realce. Se você fosse minha, eu a colocaria nas mã os de um especialista no assunto que revelaria ao mundo tudo o que você tem de melhor. Nunca ningué m lhe disse que era bela?

— Já me chamaram de bonitinha — disse Sharon, sabendo que Jacques estava falando de Lee.

— Palavra muito tola. Nã o pensei que Lee tivesse tã o pouca sensibilidade.

Como se fosse de propó sito, Lee surgiu bem diante de seus olhos, a cabeç a inclinada para a da moç a com quem danç ava. Sharon nã o conseguia ver o rosto dele, mas a julgar pela maneira como abraç ava aquele corpo cheio de curvas parecia estar achando difí cil conduzi-la.

—Diria que Lú cia é bela? — ela perguntou quase sem querer.

—De maneira muito diversa. Lú cia é o tipo de mulher que os homens olham com apenas uma coisa em mente. Ela é feita para o prazer apenas.

—É sua amante?

—Nã o permanente — respondeu, divertido. — Temos uma espé cie de acordo. Está com ciú mes de Lee dar tanta atenç ã o a ela?

—Claro que nã o — negou, um tanto depressa demais.

—Entã o você é ainda mais especial do que eu pensei. Talvez nã o devesse ter convidado Lú cia para jantar conosco, mas sabia que ia ter de escolher algué m especial para distrair seu marido e estar a só s com você.


Jacques tocou os lá bios suavemente na face dela, cobrindo-a de pequenos beijos, chegando cada vez mais perto de sua boca. Sharon, poré m, desviou o rosto.

—Que crueldade! — murmurou ele. — Tã o perto e tã o distante! Um beijo apenas. Que mal pode haver nisso?

—Nã o sei — disse Sharon. — Eu posso gostar.

—Espero que sim! Mesmo em lua-de-mel os ingleses sã o tã o contidos... Pelo menos na frente dos outros. Se eu fosse Lee ia querer mostrar ao mundo inteiro que você era minha.

Se ele fosse Lee... Sharon pensou o que ele acharia se soubesse a verdade.

 

Algum tempo depois, danç ando com seu marido, Sharon nã o pô de deixar de comparar a contenç ã o que sentia com a soltura que havia sentido ao danç ar com Jacques. De repente, como se estivesse lendo os pensamentos dela, Lee puxou-a para mais perto de si.

— Relaxe — disse ele. — Imagine que está danç ando com Jacques. Você nã o se mantinha assim afastada dele.

— É surpreendente que você tenha notado — respondeu ela. — Lú cia parecia mantê -lo bem ocupado.

— Fisicamente, talvez.

— Posso imaginar.

— Claro que pode.

— Por que nã o pede a Jacques que a empreste para você esta noite? — perguntou, magoada, tentando feri-lo. — Ele certamente nã o se importaria.

— Uma troca? — respondeu, sacudindo a cabeç a. — Nã o, nã o seria uma troca justa.

— Tem de ser sempre assim? — perguntou ela, quando conseguiu se controlar. — Será que nã o podemos ao menos tentar conversar sem discutir o tempo todo?

— A soluç ã o depende tanto de você quanto de mim.

— Foi você quem começ ou! — disse ela.

— Mas você nã o tinha de continuar.

— Isso nã o é justo!

— Talvez nã o. Quem falou em ser justo? O que quer que você consiga arrancar de mim será sempre apenas uma fraç ã o do que merece.

— Seus motivos nã o eram assim tã o ingê nuos també m — retrucou, amarga, consciente da inutilidade de tentar negar o que ela mesma tinha afirmado como verdade.

— É você quem diz isso.

— Mas você admitiu — disse ela.


— Admiti ter feito uma declaraç ã o idiota algum tempo antes de conhecê -la. Podia ter sido uma profecia ou uma maldiç ã o.

— Você vai acabar me dizendo que sentiu amor à primeira -vista! — disse ela com uma risada contida.

— Nã o exatamente. Diria que aconteceu quando você saiu do apartamento. Quando eu consegui me recuperar fui atrá s de você, mas você tinha desaparecido.

—Nã o acredito — disse, sentindo a garganta seca.

—Agora já nã o importa — disse Lee, inclinando a cabeç a. — A garota que eu amei só existia na minha imaginaç ã o. E a imaginaç ã o é cega. A gente vê o que quer ver.

— E o que você viu? — disse ela, num fio de voz.

— Agora já nem sei mais. Nã o importa.

A sensaç ã o de perda era como um punhal em seu peito. Lee a tinha amado, tinha realmente sentido amor por ela! E ela tinha matado aquilo. Que idiota! Tinha jogado fora a ú nica coisa importante na relaç ã o deles!

— Oh, meu Deus. Queria que o tempo voltasse para trá s. Armei uma confusã o tã o grande — disse, emocionada.

— A quem está tentando enganar? — perguntou ele, com olhar irô nico.

— A ningué m — disse ela, olhando-o nos olhos, implorando, tentando encontrar as palavras. — Lee, eu estava mentindo quando disse que casei só por causa do dinheiro. Eu queria feri-lo porque estava magoada. Fui uma idiota e me arrependo agora. Eu sei que o que estou dizendo nã o parece verdade, mas nã o sei dizer de outra forma. Você nã o acredita, nã o è?

— Nã o — disse ele, firme. — Nã o sei bem qual é o jogo que está querendo fazer agora, mas nã o tem mais jeito de voltar a ser a garota que eu pensei ter desposado. Temos um arranjo de negó cios. Fiquemos assim.

A mú sica parou e, sem dizer uma palavra, Lee pegou seu braç o e conduziu-a para fora da pista. Jacques esperava pelos dois com uma expressã o pensativa; olhou de um para o outro como se fosse dizer alguma coisa, mas resolveu calar.

—É hora de irmos embora — disse Lee, sem fazer menç ã o de sentar-se outra vez. — Foi uma noite ó tima, Jacques. Veja se aparece em casa depois. Gostarí amos muito da sua visita, nã o é, querida?

—Claro — disse Sharon, com um sorriso forç ado.

— Farei o possí vel — disse Jacques. — Nã o vamos mais nos ver antes de irem para Marselha?

— Nã o. Resolvemos ir logo de manhã em vez de esperar mais um dia — disse Lee, voltando-se para a italiana. — Arrivederci, Lú cia.


—Ciao— respondeu ela com um sorriso.

Jacques acompanhou-os até o barco e ficou acenando do cais.

Nenhum dos dois disse uma palavra durante todo o percurso. Sharon sentia-se amortecida. Nã o havia maneira de convencê -lo. Ele nã o acreditaria em nada do que dissesse. Sentia vontade de chorar cada vez que pensava em como podia ter sido tudo maravilhoso, se nã o fosse tã o desconfiada.

Os Delon já tinham se retirado quando chegaram a casa. Lee ficou amarrando o barco enquanto ela foi para dentro.

 

No quarto, Sharon parou um momento, olhando as camas. Ah estava um sí mbolo da vida que teriam, camas separadas. A menos que encontrasse uma maneira de convencer Lee de que a garota que ele amava ainda existia. Tinha de encontrar um jeito.

Quando saiu do banheiro ele estava sentado à beira da cama. O paletó e a gravata atirados de lado, camisa desabotoada. Quando olhou nos olhos dele, Sharon sentiu uma onda de emoç ã o invadi-la. Queria correr para ele, atirar-se em seus braç os e implorar que ele a amasse de novo, mas o orgulho nã o permitia que se humilhasse a tal ponto. Tentou falar, com voz incerta.

— Lee, deve haver alguma coisa que eu possa dizer ou fazer para convencê -lo dos meus sentimentos.

— Que sentimentos? — perguntou, depois de uma longa pausa, sem nenhuma expressã o.

—Eu amo você.

— Muito bem — disse ele. — Venha e demonstre. Ela nã o conseguiu mover-se do lugar e ele sorriu.

— Tí mida?

Sharon fez um esforç o e conseguiu chegar até ele, ajoelhando-se e pousando as mã os sobre as dele. Olhou fundo aqueles olhos cinzentos, com toda a expressã o de que era capaz.



  

© helpiks.su При использовании или копировании материалов прямая ссылка на сайт обязательна.