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The Emerald Coast 7 страница— E você já informou Marcello dessa nova clá usula? — Nã o, caso contrá rio ele pode casar com a garota errada. Talvez eu esteja sendo duro demais com ele, mas Marcello já brincou muito. E hora de se acomodar. Eu já lhe disse isso, ele sabe exatamente o que penso. — Mas é tã o importante que ele case antes do pró ximo aniversá rio? Pense bem, Roberto. Nã o gostaria que todo o impé rio que construiu ficasse para um estranho, nã o é? Marcello conhece tudo sobre os negó cios. Ele pode cuidar deles melhor do que ningué m. — Eu já pensei nisso e estou decidido. Seria uma pena realmente, depois de todo o trabalho que tive durante tantos anos, mas nã o vou estar aqui para ver. Portanto... Mas Liane sabia que ele se importava, que seu coraç ã o queria que Marcello herdasse tudo. Sabia també m que nã o ia adiantar discutir com ele, Roberto tinha chegado a uma decisã o, e ponto final. — Espero que tudo dê certo. O olhar dele era triste e ela sabia que a estava observando. Mas, mesmo que fosse simpá tica com Marcello, que mostrasse que o achava atraente, isso nã o significava necessariamente que ele iria pedi-la em casamento, Ele a levaria para a cama, claro, mas chegaria apenas até aí. Nã o a queria para esposa. Alguns momentos depois, Roberto resolveu ir dormir. Liane nã o se sentia cansada, apesar do dia cheio, e permaneceu na varanda depois de ele se retirar. Estava tudo calmo e quente, mas havia uma agradá vel brisa. As luzes apareciam e desapareciam, no porto. Ela pensou se Marcello estaria lá. Provavelmente tinha ido para o Tê nis Clube encontrar seus amigos. Sem dú vida. Luí sa estaria lá, agarrada possessivamente ao braç o dele. O que diria ela, se soubesse da clá usula do testamento de Roberto? Nã o era difí cil imaginar. Ia fazer o maior esforç o para que Marcello propusesse casamento. Sem dinheiro, talvez ele nã o a interessasse mais. Nã o se podia chamar isso de amor, Liane pensou. Se amasse um homem, nã o se importaria se ele tivesse dinheiro ou nã o. Era a pessoa que interessava, e nã o a conta bancá ria. Um som atrá s de si fez com que ela desse um pulo. — Marcello! Eu nunca ouç o seu carro. — Quer dizer que você nã o estaria aqui, se tivesse ouvido? Era como se ele lesse seus pensamentos. — Na verdade, estava pensando em ir para a cama, Roberto já foi dormir há horas. — Eu achei que talvez você estivesse me esperando. — E por que eu faria isso? Nã o há nada para dizermos um ao outro. — Eu nã o diria isso. Mas, antes de mais nada, quero saber por que está usando esse vestido ridí culo. Está querendo se defender de mim, fazendo tudo para que nã o a ache atraente? — Pode ser. Mas també m nã o vejo motivo para jogar fora todas as minhas roupas só porque tenho outras novas. Ela se levantou para sair, mas ele a segurou pelo pulso e fez com que sentasse de novo. — Quero sua companhia. Desejava muito encontrá -la ainda acordada. — Nã o sei por quê. — Quero pedir desculpas pelo que aconteceu à tarde. Ela o olhou cheia de suspeitas. — Eu nã o tinha o direito de dizer o que disse. — Eu já tinha esquecido. — Você está mentindo e nã o me convence. — Você també m nã o está me convencendo. Nã o lamenta o que disse nem o que fez. — Talvez eu nã o lamente, mas achei que, se pedisse desculpas, você se sentiria melhor. — Bem, nã o me sinto. Vou me sentir muito melhor se você nã o mencionar o episó dio outra vez. E agora, por favor, posso ir para a cama? — Tome um drinque comigo. — Ele a conduziu de volta à saleta, sem parar para pensar que ela poderia recusar. Talvez o drinque a ajudasse a dormir, ela pensou. Precisava de algo que a acalmasse. Tinha sido um dia agitado e parecia que ainda nã o tinha acabado. Ele lhe estendeu um copo com um lí quido cor de â mbar. Era da cor dos olhos dele, ela pensou, sentando-se na beira de uma poltrona. — Luí sa nã o ficou muito contente por você ter ganhado o jogo, esta manhã. Ningué m tinha feito isso com ela antes. Muito menos outra mulher, Ela era nossa campeã. — E o que eu devo dizer? Que lamento muito? Que nã o vai acontecer de novo? — Nã o seja tã o sensí vel. Acho que você deve entrar para o Tê nis Clube. Precisamos de um talento como o seu. — E o que Luí sa iria dizer disso? — Faz alguma diferenç a o que ela diga? — Eu nã o quero fazer inimigos. — Bobagem. Ela logo vai superar isso. Na verdade, já desafiou você para outro jogo amanhã. — Nã o, obrigada. Vou ficar aqui com seu pai. — Por quê? Há algo errado com ele? — Nã o, eu simplesmente penso que o estamos deixando muito sozinho. Agora que ele se desligou dos negó cios, nã o tem com que ocupar o tempo. — Ele nã o se opõ e a que você se divirta. — Eu sei, mas nã o é isso que importa. Na verdade, acho que você també m devia prestar mais atenç ã o ao trabalho que está fazendo, em vez de se comportar como um playboy. — O que papai andou dizendo? — Ele nã o disse nada. É minha opiniã o. — Entã o eu agradeceria se a guardasse para si. O que eu faç o é problema meu. Você nã o sabe de nada. Ela terminou o drinque e levantou-se. — Se você me fez ficar aqui para discutir... — Eu tinha a intenç ã o de ter uma conversa agradá vel, e nã o de ouvir um sermã o sobre o que devo ou nã o devo fazer. Sente-se. Ela ficou surpresa ao ver que obedecia. Ele pegou seu copo e tornou a enchê -lo. Quando o devolveu, seus dedos incidentalmente tocaram os dela. Liane afastou a mã o e a bebida se derramou. — Está com medo de mim? — Nã o, claro que nã o. — ela respondeu, sem conseguir olhá -lo. Ele colocou a mã o firme sob o seu queixo, forç ando-a a levantar os olhos. — Mas eu a perturbo, nã o é? Ela fez que sim, timidamente. Ele era um estranho, mas, quando a tocava, seu corpo se derretia. Um beijo, e ela se entregava completamente. Como desejava já ter ido para a cama! Era loucura ficar sentada ali, daquele jeito. Marcello sabia o poder que possuí a. Nã o importava o que tinha dito antes; se resolvesse fazer amor com ela, nã o havia nada que pudesse impedi-lo. — E nã o gosta do que eu faç o com você? — Eu nã o sei por que nem como, mas você sabe e eu gostaria que nã o fizesse mais nada. — Por quê? Está errada. Isso faz parte do crescimento. — Ele acariciou os lá bios de Liane num movimento sensual e seus olhos mergulharam nos dela. A moç a estremeceu, querendo se afastar, mas, estranhamente, foi tomada por uma doce sensaç ã o de prazer. Era como um fogo que começ asse a queimar, um calor que subia por todo seu corpo. De repente, passou por sua cabeç a a vontade que Roberto tinha de que casasse com aquele homem e, naquele exato momento, isso nã o lhe pareceu má ideia. Pelo menos, sexualmente se dariam bem. Mas, e o resto? Ele nã o me ama, ela pensou, e eu nã o o amo... pelo menos, penso que nã o. A sombra da dú vida a surpreendeu. Ela nã o poderia estar se apaixonando por ele! Nã o por Marcello! — O que está pensando? A pergunta a pegou de surpresa. Ele tinha parado de lhe acariciar os lá bios e agora estava parado, com os braç os cruzados e uma sombra de sorriso, — Nada que interesse a você. — Pelo contrá rio... Alguma coisa a deixou chocada. Eu gostaria de saber o que é. Como ele ia rir, se ela contasse! Já lhe parecia completamente ridí culo. — Nã o é nada. Um pensamento bobo, apenas. Ele deu de ombros e olhou para a mancha na saia dela, onde a bebida se havia derramado. — Acho que essa mancha nã o vai sair. Você terá que jogar o vestido fora. — Você gostaria disso, nã o é? Mas a mancha pode muito bem ser lavada. Você nem saberá onde a bebida caiu. E agora, eu vou mesmo para a cama, Marcello. Ele nã o se moveu e ela foi forç ada a esbarrar nele quando lhe passou por perto. — Um beijo de boa noite? — ele sugeriu, sorrindo, e antes que ela pudesse negar, estava em seus braç os, seus lá bios procurando os dele. O fogo dentro dela se transformou numa chama imensa. Mas dessa vez Liane pretendia lutar contra o desejo. De jeito nenhum ia deixar que ele a colocasse em outra situaç ã o desagradá vel, em que o coraç ã o dominava a razã o. Ela permitiu um beijo de poucos segundos. Depois dobrou os joelhos e escorregou para baixo, antes que ele tivesse tempo de perceber o que estava acontecendo. — Buona notte, Marc. — ela disse, sem olhar para trá s. Achava que nã o ia dormir, mas, assim que deitou, mergulhou num sono sem sonhos. De manhã, ela e Roberto tomaram café sozinhos. — Acho que Marcello já tomou café. — Roberto disse. — Está na sala do computador, fazendo seu trabalho do dia. Trabalho do dia! Aquilo era muito engraç ado. Mas ela guardou seus pensamentos e disse: — E eu nã o tenho dú vidas de que você gostaria de estar lá com ele. Roberto deu um sorriso iluminado. — Você lê meus pensamentos muito bem, menina. — É por isso que vou ficar com você, hoje. O que vamos fazer? Ele pensou durante algum tempo. — Eu vou ver você nadar, depois vou ensiná -la a jogar xadrez. Depois do almoç o, apó s nossa sesta, vamos ouvir um pouco de mú sica. Parece muito aborrecido? — Parece perfeito, Roberto. — E você minha menina, é perfeita. Já pensou no que conversamos na noite passada? — Nã o havia muito em que pensar. Eu nã o posso forç ar Marcello a casar comigo. — Mas você nã o é contra a ideia, é? Você... gosta de meu filho? — Estou aprendendo a gostar. — Liane admitiu, sentindo que enrubescia. — Mas nã o sei o que ele pensa de mim. Algumas vezes é o companheiro perfeito, mas em outras somos totalmente opostos. — E a maioria das pessoas nã o é assim? Acho que, afinal, as coisas estã o começ ando a funcionar. Na hora do almoç o, Marcello apareceu e Liane ficou surpresa ao descobrir que ele tinha passado toda a manhã na sala do computador. Seria por causa do que ela havia dito na noite passada? — Está tudo bem? — o pai perguntou automaticamente. — Você nã o consegue se desligar, nã o é? — Marcello respondeu, sorrindo. — Sim, está tudo bem. Nã o há problemas em parte alguma. Eu me sinto perfeitamente dispensá vel, como se estivesse metendo o nariz onde nã o sou chamado. — A engrenagem está bem lubrificada e funciona sozinha. O que você pretende fazer esta tarde? Nã o adianta responder que vai descansar; conheç o você muito bem. Por que nã o leva Liane a um passeio? — Roberto! — Liane protestou. — Nó s já fizemos nossos planos. — Que podem ser mudados. Tenho certeza de que meu filho saberá distraí -la melhor do que eu. — Depende do que você espera. Eu preferiria ficar aqui, se você nã o se importa. — Como quiser. Agora vou fazer minha sesta. Vejo você s mais tarde. — A nã o ser que eu a convenç a a sair. — Marcello interrompeu preguiç osamente. — Eu ficaria muito feliz se você conseguisse. — o pai respondeu, — Sei que Liane se sente culpada por me deixar sozinho, mas fico infeliz ao vê -la presa a mim. — Você sabe que eu nã o me importo de ficar. — Liane protestou. — É esse o problema. Você é muito generosa, menina. Pense em você mesma, para variar. Estou pensando em mim, ela refletiu em silê ncio, e é por isso que prefiro ficar aqui. Depois que Roberto saiu, Marcello disse: — E entã o? Vem comigo? — E Luí sa? Acho que ela nã o ficaria muito contente. — Luí sa nã o é uma boa companhia, neste momento. — Por minha causa? — Pode-se dizer que sim. — Entã o você só está piorando as coisas. Alé m disso, é claro que só está me convidando porque nã o tem outra companhia. Portanto, a resposta ainda é nã o. Ele parecia zangado, mas ela estava resolvida a resistir. Que tipo de tarde teria, sabendo o tempo todo que ele preferia a companhia da outra? — Você é uma tola. — ele disse de repente, furioso, saindo da sala. Nã o entendeu por que ele ficara tã o aborrecido. Talvez nã o estivesse acostumado a ver recusados os seus convites. Ela deu de ombros e també m saiu. O calor era terrí vel, naquela hora do dia.
Liane nã o viu Marcello novamente durante alguns dias. Haviam surgido alguns problemas na Espanha e ele tinha ido até lá resolvê -los. Naturalmente, Roberto ficou preocupado e Liane fez o que pô de para distraí -lo. Sabia que ele ia até a saí a do computador, todos os dias, verificar o que estava acontecendo, e compreendeu isso. Era difí cil se desligar completamente do trabalho que tinha sido sua razã o de viver, Liane usava sempre a piscina e agora Roberto gostava de ir lá olhá -la. Passavam muitas horas conversando e o assunto favorito era a mã e dela. Ele se admirava de como Liane se parecia mais com ela a cada dia. — Você realmente me deu um motivo para viver. — ele repetia, e ela cada vez mais gostava dele. Já nã o conseguia imaginar a vida sem ele. O orfanato agora parecia muito distante, uma coisa de um outro mundo. Havia momentos em que parecia ter passado toda a sua vida ali na Sardenha. O bronzeado dela se acentuava dia a dia; cada vez passava mais tempo ao sol. Depois de nadar, de manhã, ela deitava numa esteira ao lado da piscina, com os olhos fechados, ouvindo o ruí do distante dos insetos, o canto dos pá ssaros e o barulho das folhas das á rvores. Naquele dia, Roberto nã o tinha ido se encontrar com ela. Por algum motivo, parecia diferente, e ela tinha insistido para que ele ficasse na cama por mais uma ou duas horas. Liane devia ter adormecido na beira da piscina, pois de repente ouviu passos e percebeu que algué m a olhava. Uma sensaç ã o esquisita lhe percorreu a espinha. Nã o era difí cil adivinhar quem estava ali. Lentamente, abriu os olhos. Tinha esquecido como Marcello era bonito. O sol transformava seus cabelos num halo dourado. Ele devia ter chegado há algum tempo, pois vestia apenas o calç ã o de banho. Era impossí vel afastar os olhos daquele corpo musculoso e bronzeado. Ele era um homem muito atraente, do tipo que ela tinha visto apenas em revistas. Ombros largos, equilibrados com os quadris estreitos, pernas longas e fortes. De repente, lhe ocorreu que havia sentido muita falta dele. Tinha apreciado a paz e a tranquilidade da casa, mas estava faltando algué m: Marcello! Involuntariamente sorriu, um sorriso que iluminou todo o seu rosto. — Eu nã o sabia que você já tinha voltado. — Se eu soubesse que você ficaria tã o contente por me ver, teria voltado antes. — E por que acha que estou contente? — Por causa desse sorriso. Foi muito revelador. O que acha de nadar comigo? Ela sentiu vontade de recusar, mas precisava refrescar seu corpo, quente por um calor que nã o era totalmente causado peio sol. Marcello estendeu a mã o e, hesitante, ela a segurou, deixando que ele a ajudasse a se levantar. Seu coraç ã o bateu mais depressa. Havia uma tensã o esquisita entre os dois, mas ele se virou depressa e mergulhou. Sentindo-se inexplicavelmente desapontada, ela o seguiu e, nos minutos seguintes, nadaram de um lado para o outro na piscina. Depois de algum tempo, Liane sentiu-se exausta e avisou que ia sair. — Covarde! — Marcello gritou, vindo por trá s dela. — Está com medo de mim? — Nã o. Eu só estou cansada. Você pode continuar; para mim já chega. Mas ele a segurou pela cintura e puxou-a para a á gua, que se fechou sobre es dois. Abraç ados, eles afundaram e Liane sentiu os lá bios de Marcello nos seus. Depois voltaram à superfí cie, ainda se beijando, e ela lutou para respirar. — Senti saudades de você — ele disse, e parecia muito sincero. Segurou o rosto dela com as duas mã os. — Você mudou, Liane. Parece ter desabrochado. Nã o é mais a garota tí mida e simples que chegou aqui. Agora, é uma linda mulher. Ele també m tinha mudado. Parecera muito arrogante e autoritá rio no primeiro encontro. Agora... o que ele era agora? Ainda um estranho, à s vezes, cheio de frases inesperadas. Mas outras vezes, como agora, era o companheiro perfeito, lisonjeador, atencioso, capaz de fazer uma mulher se sentir desejada e bonita. De repente, Liane sentiu que queria que aquele momento durasse para sempre. As pernas dele se enroscaram nas dela. Como se obedecessem a um sinal, seus lá bios se encontraram. Rolaram para a á gua outra vez, esquecidos por um momento de tudo, do lugar onde estavam e do que faziam, sabendo apenas que precisavam desesperadamente um do outro. Liane sentiu que seus pulmõ es estouravam, quando finalmente voltaram à superfí cie. Respirou vá rias vezes, depois disse: — Vamos sair. Marcello també m parecia cansado e, durante algum tempo, permaneceram deitados lado a lado, contentes com a presenç a um do outro, sem sentir necessidade de falar. Mas o silê ncio dos dois foi quebrado, quando Giorgio chegou correndo e gritando: — Seu pai, Marcello! Acho que ele teve um ataque de coraç ã o!
Capí tulo 7
Era tarde da noite. Liane e Marcello sentaram-se no quarto de Roberto. Ele estava acordado e a cor voltava a seu rosto. Os dois estavam desesperadamente preocupados, antes de o mé dico garantir que tinha sido um pequeno ataque e que em breve o doente estaria recuperado. — Claro que ele tem que repousar muito. — o mé dico continuou. — E nã o se preocupar com nada. — Ele já está fazendo isso. — Liane disse. — Marcello assumiu a direç ã o de todos os negó cios. — Isso é ó timo. — disse o mé dico. — Mas... há alguma coisa que o preocupa. Por favor, faç am com que a vida dele corra o mais tranquilamente possí vel. Ele já sofreu muito, nesses ú ltimos meses, e o esgotamento está começ ando a causar efeitos. Depois de o mé dico sair, Marcello interrogou Liane: — O que meu pai esteve fazendo em minha ausê ncia? Você nã o deixou que ele se envolvesse com os negó cios de novo, nã o é? Ela parecia aborrecida. — Quem você pensa que sou? Gosto de Roberto e estou tã o aborrecida quanto você por vê -lo assim. Ele, naturalmente, ficou preocupado com o problema na Espanha, mas você s já tinham conversado sobre isso. — E foi só? Ela fez que sim. — A nã o ser que alguma coisa o esteja preocupando e ele nã o tenha me contado. — Liane disse, depois de um momento em silê ncio. Ela nã o sabia se Marcello acreditava no que tinha dito. Claro que havia a nova clá usula do testamento de Roberto, mas ele queria que isso continuasse em segredo. Depois disso, o relacionamento entre os dois ficou estremecido. Roberto era muito querido pelos dois e nã o queriam que nada acontecesse a ele. Marcello tinha suspeitas. Achava que Liane sabia de alguma coisa que nã o queria contar e isso estragou o relacionamento terno que havia começ ado a se desenvolver entre os dois. — Vou fazer um café. — Liane disse, depois de terem passado uma hora em completo silê ncio. Ele a seguiu. — Nã o se incomode comigo. Vou tomar um uí sque. — Acha que deve? Você precisa ficar alerta. Seu pai pode precisar de você. — Nã o me diga o que tenho ou nã o tenho que fazer. — Eu simplesmente achei que... — Bem, nã o ache nada. Eu faç o o que gosto de fazer. Afinal, estou em minha pró pria casa. — Faç a o que quiser. Mas se seu pai tiver um novo ataque, nã o poderá agir depressa. Entã o, acabará se culpando. — Diabos! De que você está falando? Já tomei uí sque suficiente em minha vida para conhecer o efeito e no momento preciso de um. E o que quer dizer com um novo ataque? O mé dico disse que ele está se recuperando perfeitamente. Só precisa de repouso. — E isso ele nã o vai ter, se ouvir que estamos discutindo. — Foi você quem começ ou tudo. Qualquer um ia pensar que é um membro da famí lia, em vez de uma coitadinha que meu pai resolveu proteger por piedade. — Acho que significo mais do que isso para ele. Ele me vê como a uma filha. Se você nã o gosta, desculpe, mas nã o posso fazer nada. Por que estavam discutindo numa ocasiã o como aquela? Ela se sentia muito magoada, mas era como se um demô nio a fizesse continuar. — Acho que deveria se olhar. Você é quem está numa posiç ã o que pode ser perturbada. No momento em que acabou de dizer aquilo, ela se arrependeu. Bateu com a mã o na boca e correu para a cozinha. Marcello a seguiu, agarrou-a pelo pulso e fez com que se virasse para ele. Colocou as mã os nos ombros dela e lhe ordenou: — Explique-se... logo! Ela gemeu, mas olhou-o com ar de desafio. — Solte-me e eu explicarei. — Você vai me dizer exatamente o que quis insinuar, mesmo que eu tenha de sacudi-la até a explicaç ã o sair. Liane encarou-o, ao mesmo tempo que pensava no que poderia dizer em lugar da verdade. Mas ela nã o era mentirosa. Se mentisse ele descobriria. A dor em seus ombros aumentou. — Vamos! Diga-me! — ele berrou. — Você está me machucando! — As lá grimas começ aram a surgir nos olhos de Liane, nã o só por causa da dor, mas també m porque estava sendo forç ada a revelar um segredo. O que Roberto diria, se descobrisse? — Dio, acho que vou matar você! — ele gritou, e sacudiu-a violentamente, como se fosse uma boneca de pano. — O que meu pai lhe disse? Os dentes dele estavam cerrados como os de um animal furioso e seus olhos brilhavam selvagemente. Liane sentiu medo. Nã o havia outra escolha a nã o ser contar a ele. — Eu lhe dou cinco segundos! — Ele respirava fundo e suas narinas pulsavam, dilatadas, no rosto pá lido. — Eu vou lhe dizer. — Liane suspirou e disse depressa: — Seu pai mudou o testamento. Ele pareceu parar de respirar, parar de se mexer. A ú nica indicaç ã o de que tinha ouvido foi seus olhos se estreitarem. As pupilas pareciam dois pontinhos, naquelas profundezas cor de â mbar. — Continue. — ele disse lentamente, e a voz saiu diferente, dura, gutural, amedrontadora! — Só... só se você estiver casado em seu pró ximo aniversá rio... ele... Como poderia continuar? Fechou os olhos. Por favor, Roberto, perdoe-me, ela pediu em silê ncio. Novamente as mã os de Marcello estavam em seus ombros, sem piedade, apertando-a, fazendo com que gritasse de dor. — Você nã o terá nada. — ela continuou — Pelo menos, nada dos lucros dos negó cios. Ele disse que vai vendê -los... que já é tempo de você se acomodar. As ú ltimas palavras saí ram misturadas com um soluç o. — Você está inventando tudo isso? — Nã o, é verdade. Desculpe. Ele nã o queria que você soubesse... mas... — Mas, como toda mulher, você nã o conseguiu guardar um segredo. E você... onde entra em tudo isso? Nã o tente me dizer que ele nã o vai lhe deixar nada. — Ele nã o falou. — ela disse, sabendo que Marcello nã o estava acreditando. — Mas eu nã o quero o dinheiro dele. Quero Roberto, e nã o as recordaç õ es. Pela primeira vez em rainha vida, eu tenho algué m para amar. Nã o vou aguentar, se acontecer alguma coisa com ele. — Ele se preocupa por eu nã o estar casado? Ela fez que sim. — Ele gostaria de viver para ver os netos. — Mas se isso o incomoda tanto, por que ele nã o me disse? — Porque nã o quer que você case com a mulher errada. — Entã o, por que a exigê ncia? Por que nã o deixou que eu escolhesse dentro de meus prazos? — Você já tem trinta e quatro anos! — E daí? Nã o sou nenhum dé bil mental. Ele é um estú pido. Na verdade, nã o quer é abrir o jogo. O que estará planejando? — Eu nã o sei. Fiquei tã o surpresa quanto você. — Estou completamente estarrecido. Acha que foi isso que causou o ataque de coraç ã o dele? Acha que está se preocupando demais com isso? — Acho que ele nã o gosta do que fez, mas pensa que essa atitude é necessá ria. — Se eu já precisava daquele uí sque antes, agora preciso mais ainda. Sirva-me uma dose, Liane. Dessa vez, ela nã o discutiu. Foi até a saleta e encheu um copo para ele. — Nã o consigo entender meu pai. Por que nã o me disse nada? Meu Deus, se você nã o tivesse deixado escapar, eu nunca teria sabido que devo casar até dezembro. Ele ia ficar arrasado, ao perder tudo o que levou a vida inteira construindo. Liane, o que vou fazer? Nã o posso demonstrar que sei, já que você nã o devia me contar. — Só precisa casar, e tenho certeza de que Luí sa ficará muito contente em aceitar seu pedido, — Luí sa que se dane. Papai nã o gosta dela. Isso nã o ajudaria em nada. — Vou ver se ele já acordou. — ela disse, sentindo que era melhor deixá -lo a só s por alguns instantes. Ele estava com um problema difí cil e naquela hora nã o podia contar com a ajuda de ningué m. Roberto estava acordado e ficou contente em vê -la. — Roberto, como está se sentindo? — ela disse, segurando a mã o dele. Seu sorriso ainda era fraco, mas ele estava mais corado. — Desculpe. — sussurrou. Ela o abraç ou com forç a. — Você nã o pô de evitar. Pense apenas em ficar bom logo. — Onde está Marc? — Lá embaixo. Tomando um drinque. Quer que eu vá chamá -lo? — Nã o ainda. Fique um pouco aqui. Ele segurou a mã o dela e nã o disse mais nada, apenas olhando-a intensamente. Aos poucos, voltou a dormir, mas antes murmurou: — Minha filha! Entã o, ele ainda estava pensando em casá -la com Marcello! Se isso o acalmasse, talvez devessem casar... Talvez ela devesse ter dito també m isso a Marcello. Ao pensar em tal possibilidade, enrubesceu violentamente.
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