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COLEÇÃO JARDIM DAS FLORES 5 1 страница



COLEÇ Ã O JARDIM DAS FLORES 5

                 MISTERIOS DO PRAZER

 

Lynne graham

 

                                               INGLATERRA

 

 

Gwenna Hamilton

CAPITULO UM

 

Angelo Riccardi desceu de sua limusine. O calor do lado de fora estava cruel. Com ó culos escuros prote­gendo-lhe os olhos do sol brilhante da Venezuela, ig­norou a conversa desagradá vel do intermediá rio in­glê s enviado para recebê -lo no aeroporto. Mesmo en­tendendo a tensã o do homem, aquilo o irritava.

Angelo nã o experimentara o medo desde crianç a. Havia conhecido ó dio, raiva e amargura, mas o medo nã o tinha mais o poder de tocá -lo. Sua escalada im­placá vel ao poder era relatada em centenas de jornais e revistas, mas seu nascimento e descendê ncia sem­pre estiveram envolvidos numa nuvem de incertezas. Aos 18 anos, ficou sabendo a verdade sobre sua ori­gem. Todos os seus ideais morreram naquele dia, quando sua escolha de carreira se tornou impossí vel. A cada ano que se passara desde entã o, tinha se torna­do mais forte, mais frio e mais cruel. Havia usado seu intelecto brilhante e instintos aguç ados para cons­truir um impé rio. O fato de nã o ter precisado violar a lei para tornar-se bilioná rio era uma fonte de orgulho para ele.

— O esquema de seguranç a é colossal aqui — seu companheiro, Harding, murmurou desconfortá vel.

Era verdade, reconheceu Angelo. Guardas arma­dos estavam por toda parte: sobre os telhados das construç õ es da fazenda, em á rvores e moitas. O esta­do de alerta era quase palpá vel.

— Isso deveria fazer você se sentir seguro — re­plicou Angelo com ironia.

— Nã o vou me sentir seguro até que esteja em casa novamente — confidenciou Harding, secando o rosto suado.

— Talvez esse nã o fosse o trabalho para você. Ele lanç ou um olhar consternado a Angelo.

— Acredite, eu nã o quis ofender. Estou feliz em poder servi-lo.

Angelo nã o disse nada. Estava surpreso que um homem como Harding tivesse sido escolhido para agir como intermediá rio num encontro secreto. Mas entã o, quantos homens respeitá veis aceitavam re­compensas para fazer favores confidenciais? Ele en­trou na opulenta casa de fazenda, onde um homem mais velho o esperava. Harding foi dispensado como um criado sem importâ ncia, enquanto Angelo foi analisado e cumprimentado com uma curiosidade respeitosa que beirava a medo.

— É um prazer imenso conhecê -lo, sr. Riccardi — o homem mais velho declarou em italiano. — Sou Salvatore Lenzi. Don Carmelo está ansioso para vê -lo.

— Como ele está?

O outro homem suspirou.

— A condiç ã o dele é está vel no momento, mas é imprová vel que tenha mais de alguns meses de vida.

Esguio, com as feiç õ es bonitas, Angelo assentiu. Tinha pensado muito antes de concordar com a visi­ta, e a saú de precá ria do homem mais velho o estimulara. O infame Carmelo Zanetti, cabeç a de um dos grupos criminosos mais famosos do mundo, nã o pas­sava de um estranho para Angelo. Todavia, nunca fora capaz de esquecer que o mesmo sangue que cor­ria nas veias de Carmelo Zanetti, corria dentro de si també m.

O homem idoso estava recostado na cama, cercado por equipamentos mé dicos. Respirando ruidosamen­te, olhou para Angelo e suspirou.

— Nã o posso dizer que você se parece com sua mã e, porque nã o é verdade. Fiorella era pequena...

Quase imperceptivelmente, as feiç õ es inflexí veis de Angelo suavizaram, uma vez que sua mã e lhe mostrara a ú nica ternura que tinha conhecido.

—Si.

— Mas você se parece com meu pai e com seu pró ­prio pai. Seus pais foram Romeu e Julieta da geraç ã o deles — murmurou Don Carmelo com humor cá usti­co. — Um Sorello e uma Zanetti nã o formavam um casal ideal na opiniã o da famí lia de ambos.

— E por que minha mã e acabou esfregando chã os para se sustentar? — perguntou Angelo diretamente.

O homem idoso suspirou.

— Porque abandonou o marido e renegou a famí ­lia. Quem acreditaria que ela era a minha favorita? Um dia, tive prazer em mimá -la e atender cada desejo dela.

— Entã o, minha mamma foi uma verdadeira prin­cesa da má fia? —- Angelo falou com ironia.

— Nã o zombe do que você nã o sabe. — Carmelo Zanetti lhe deu um olhar impaciente. — Sua mamma tinha o mundo inteiro a seus pé s. E o que fez? Virou as costas para toda a educaç ã o e criaç ã o fina e se ca­sou com seu pai. Comparados conosco, os Sorello eram cafoni... pessoas rudes. Gino Sorello era um ho­mem bonito e de cabeç a quente, sempre procurando por uma briga. Ela nã o pô de lidar com ele ou com suas atividades extraconjugais.

— Como você lidou com a situaç ã o? — Angelo estava impaciente para saber os fatos que até entã o nã o fora capaz de descobrir.

— Nesta famí lia, nó s nã o interferimos entre um homem e sua esposa. Quando Gino foi preso pela se­gunda vez, sua mã e abandonou o casamento. Fugiu de casa e de suas responsabilidades, como se fosse uma criancinha.

— Talvez ela acreditasse que tinha uma boa causa. Olhos contendo um divertimento amargo pousa­ram em Angelo.

— E talvez você tenha uma ou duas surpresas, por­que colocou sua mamma num pedestal quando ela morreu.

A raiva fez Angelo empalidecer sob a pele bron­zeada. Apenas a consciê ncia de que Carmelo se di­vertiria à suas custas o manteve em silê ncio.

O homem mais velho tombou sobre os travessei­ros.

— Fiorella era minha filha amada, mas me enver­gonhou e me desapontou quando abandonou o ma­rido.

— Ela tinha 22 anos, e a sentenç a de Sorello era de prisã o perpé tua. Por que nã o devia procurar uma vida nova para si mesma e para seu filho?

— Lealdade nã o é negociá vel em meu mundo. Quando Fiorella desapareceu, as pessoas ficaram nervosas sobre o quanto ela poderia saber sobre cer­tas atividades. A traiç ã o de sua mã e manchou a honra de Gino, assim como a fez ganhar muitos inimigos. — Carmelo meneou a cabeç a. — Mas ela foi destruí ­da por sua pró pria ignorâ ncia e estupidez.

Angelo olhou para o homem mais velho.

— Obviamente, você sabe o que aconteceu com a minha mã e depois que ela chegou à Inglaterra.

— Você nã o vai gostar do que tenho a lhe contar.

— Posso suportar — replicou Angelo secamente. Carmelo apertou um botã o ao lado da cama.

— Sente-se e tome um copo de vinho enquanto conversamos. Desta vez, você vai se comportar como meu neto.

Angelo queria negar o parentesco, mas sabia que nã o podia. Um pouco de cortesia era o preç o que ti­nha de pagar pelas informaç õ es que há muito procu­rava para dar sentido ao seu passado. Endireitando os ombros largos, sentou-se. Um criado levou uma ban­deja com um ú nico copo de vinho tinto. Com uma ex­pressã o oculta nos olhos, Carmelo Zanetti observou o neto dar um gole. Entã o riu.

— Dio grazia... você nã o é covarde!

— Por que você iria querer me fazer mal?

— Como é a sensaç ã o de ter rejeitado seu ú nico parente vivo?

Um sorriso sarcá stico curvou a boca bonita de An­gelo.

— Isso me manteve fora da prisã o. Talvez até mesmo tenha me mantido vivo. A á rvore familiar é repleta de mortes precoces e acidentes imprová veis.

Don Carmelo engasgou com uma gargalhada. Alarmado por ver o homem sem fô lego, Angelo le­vantou-se para chamar ajuda, apenas para ser manda­do de volta à cadeira.

— Por favor, conte-me sobre minha mã e — pediu Angelo.

— Quero que saiba que quando ela deixou a Sar­denha possuí a dinheiro. Minha ú ltima esposa se in­cumbiu de deixá -la bem provida. A desgraç a de sua mã e era que tinha muito mau gosto para homens.

Angelo ficou tenso.

Carmelo lanç ou-lhe um olhar cí nico.

— Avisei que você nã o gostaria disso. É claro que havia um homem envolvido. Um inglê s que ela co­nheceu na praia logo depois que seu pai foi preso. Por que acha que sua mã e foi para Londres quando nã o falava uma palavra de inglê s? O namorado prometeu se casar com Fiorella assim que ela estivesse livre. Ela mudou de nome logo que chegou e começ ou a planejar o divó rcio.

— Como você sabe de tudo isso?

— Tenho algumas cartas que o namorado escreveu para ela. Ele nã o tinha idé ia das conexõ es de Fiorella. Uma vez que sua mã e se estabeleceu, o inglê s se ofe­receu para cuidar do dinheiro dela, mas cuidou tã o bem que Fiorella nunca mais viu o dinheiro. Ele ti­rou-lhe tudo e depois lhe disse que o perdeu no mer­cado de aç õ es.

Angelo estava imó vel, mas os olhos brilhantes eram gelados.

— E o que mais?

— O homem a abandonou grá vida dele, e foi quan­do ela descobriu que ele já era casado.

Chocado com a revelaç ã o, Angelo cerrou os dentes.

— Eu nã o tinha idé ia.

— Ela perdeu o bebê e nunca mais recuperou a saú de.

— Você sabia de tudo isso, entretanto escolheu nã o ajudá -la? — disse Angelo em tom de acusaç ã o.

— Ela podia ter pedido ajuda a qualquer momen­to, mas nã o o fez. Serei franco. Fiorella tinha se tor­nado um embaraç o para nó s e havia complicaç õ es. Gino saiu apó s um recurso. Queria você, filho dele, de volta, e queria vingar-se da esposa infiel. O para­deiro de sua mã e precisava permanecer secreto para que você nã o acabasse nas mã os de um bê bado vio­lento. O silê ncio manteve você s dois seguros.

— Mas nã o nos impediu de passar fome.

— Você sobreviveu.

— Mas ela nã o — apontou Angelo.

Don Carmelo nã o revelou arrependimento.

— Nã o sou um homem complacente. Fiorella de­cepcionou a famí lia, e o insulto final foi a crenç a de que ela tinha de manter o filho longe de minha in­fluê ncia. Tornou-se religiosa antes de morrer e vol­tou-se ainda mais contra nó s.

— Se você nunca mais a viu, como sabe disso?

Carmelo suspirou.

— Ela me telefonou quando sua saú de estava pre­cá ria. Preocupava-se com o que aconteceria a você. Ainda assim, suplicou que eu respeitasse seus dese­jos e nã o o reivindicasse quando ela partisse.

Angelo podia ver que o homem mais velho estava ficando exausto, e que a conversa estava perto do fim.

— Agradeç o a sua franqueza. Quero o nome do homem que roubou o dinheiro da minha mã e.

— Donald Hamilton. — Don Carmelo ergueu um grande envelope e estendeu-o. — As cartas. Leve-as.

— O que aconteceu com ele?

— Nada.

— Nada? — questionou Angelo. — Minha mã e morreu quando eu tinha sete anos.

— E agora aqui está você, orgulhoso por nã o ser um Zanetti ou um Sorello. Se é tã o diferente de seus descendentes, por que quer o nome de Hamilton? O que pretende fazer com isso?

Angelo estudou-o com olhos inexpressivos e deu de ombros.

— Nã o faç a nenhuma bobagem, Angelo. Angelo riu alto.

— Nã o acredito que você está me dizendo isso.

— Quem melhor do que eu? Passei a ú ltima dé ca­da em exí lio. Tenho sido perseguido pela lei e por meus inimigos. Mas meu tempo está no fim — mur­murou Carmelo. — Você é o meu parente mais pró ­ximo e venho protegendo-o durante toda minha vida.

— Nã o que eu tenha notado — contradisse Ange­lo, inalterado pela declaraç ã o.

— Talvez sejamos mais inteligentes do que pensa. Talvez també m descubra que, no fundo, você tem muito mais em comum conosco do que quer admitir.

Angelo ergueu a cabeç a arrogante, o semblante negando fortemente a sugestã o.

— Nã o. Realmente acho que nã o.

Com uma cesta de flores no braç o, Gwenna apressou-se pela viela lamacenta, perseguindo os dois garotinhos. Excitados pelos ruí dos que ela estava fazendo em seu papel de urso caç ador, Freddy e Jake davam gargalhadas. Com seu cachorro, Piglet, um pequeno vira-lata que latia como louco, eles formavam um trio barulhento. O insistente toque de um celular soou entre as risadas. Gwenna parou e, com relutâ ncia, ti­rou o telefone do bolso.

— Aposto que é a Bruxa Malvada de novo — pre­viu Freddy com tristeza.

— Psiu — murmurou Gwenna, desejando que a mã e das crianç as fosse mais cuidadosa sobre o que dizia na frente dos filhos.

— Ouvi mamã e dizer que você nunca terá um ho­mem com a Bruxa Malvada por perto. Precisa de um? — perguntou Jake.

— É claro que ela precisa... para ter bebê s e trocar lâ mpadas. — Freddy falou para o irmã o.

— Estou ouvindo crianç as? — Eva Hamilton exi­giu saber. — Joyce Miller lhe pediu para cuidar da­queles pestinhas novamente?

Dando um olhar de sú plica aos gê meos, Gwenna pô s um dedo nos lá bios para pedir silê ncio e esqui­vou-se da pergunta.

— Estarei com você em menos de uma hora.

— Tem idé ia do quanto ainda precisa ser feito aqui?

— Pensei que o serviç o de bufe...

— Estou falando sobre a limpeza — interrompeu sua madrasta acidamente.

Gwenna suspirou. Vinha trabalhando como uma escrava durante a ú ltima semana. Até mesmo suas costas, fortes pela atividade fí sica regular que tinha no viveiro de plantas onde trabalhava, estavam do­endo.

— Faltou limpar alguma coisa?

— Os mó veis estã o empoeirando de novo, e as flo­res na sala de estar estã o murchando — acusou Eva. — Quero que tudo esteja perfeito amanhã para seu pai, entã o teremos de fazer isso esta noite.

— Sim, é claro — Gwenna lembrou-se de que o al­moç o que Eva estava organizando para alguns convi­dados selecionados se devia a uma boa causa. O dia seguinte seria um grande momento para seu pai. Donald Hamilton tinha trabalhado incansavelmente a fim de levantar os fundos necessá rios para começ ar a restauraç ã o dos jardins do Casarã o Massey. Embora a mansã o estivesse abandonada, os jardins haviam sido projetados por um notá vel jardineiro do sé culo XIX, e o vilarejo precisava de uma atraç ã o turí stica para estimular a economia local. A imprensa esta­ria presente para registrar o momento que Donald Hamilton abriria os longos portõ es da velha proprie­dade, simbolizando que a primeira fase de trabalho no terreno poderia começ ar.

— A Bruxa Malvada sempre rouba seu sorriso — lamentou-se Freddy.

— Sou um urso, e ursos nã o sorriem — Gwenna o informou alegremente, voltando a brincar pelo bem dos garotos. Poré m, mal começ ou a brincar quando ouviu uma explosã o de latidos frené ticos.

— Oh, nã o! — exclamou ela, correndo para o pra­do da aldeia, onde Piglet tinha claramente encontra­do uma ví tima. Estava furiosa consigo mesma por ter deixado o cachorro solto. Apesar de o pequeno ani­mal ser amá vel e excelente com crianç as, tinha um problema. Como fora abandonado na estrada pelos primeiros donos, e acabou sendo atropelado, Piglet desenvolvera uma antipatia por carros, e tendia a agir de modo agressivo com os ocupantes do sexo mascu­lino. Felizmente, ele era tã o pequenino que as pes­soas pensavam que o ataque fosse apenas uma brin­cadeira.

— Piglet... nã o! — Gwenna falou no instante em que viu seu cachorro rodeando furiosamente um ho­mem muito alto, parado perto da igreja.

 

Apesar do sol e da paisagem pitoresca, Angelo nã o estava de bom humor. A limusine sofisticada provara nã o ser um veí culo adequado para aquela á rea rural. Seu chofer tinha tentado dirigir por uma estrada ab­surdamente estreita e arranhado a pintura do carro antes de admitir que estava perdido. Enquanto sua equipe de seguranç a se empenhava em localizar algu­ma alma viva naquele vilarejo tã o deserto, Angelo saí ra do carro para esticar as pernas. Uma tentativa de ataque por um mini-cã o com enormes orelhas e pernas curtas també m nã o era bem-vinda. No momento em que a dona do cachorro se aproximou correndo, An­gelo tinha uma expressã o de censura no rosto.

— Piglet, pare com isso agora! — Gwenna estava horrorizada por Piglet ter escolhido como alvo um homem vestido num terno imaculado, uma vez que, por sua experiê ncia, tais homens eram menos tole­rantes. Havia duas casas à venda do outro lado do prado, e ela imaginou que ele fosse corretor de imó veis.

Angelo fitou os olhos impressionantemente azuis em um rosto de uma beleza tã o rara que, pela primei­ra vez na vida, esqueceu-se do que ia dizer. Em um milé simo de segundo, a oportunidade de admirar aquele rosto lindo foi perdida. Ela abaixou-se num esforç o de pegar o animal irritante.

— Sinto muito... Por favor, nã o se mova — supli­cou Gwenna, freneticamente perseguindo seu cã o ao redor de pé s masculinos em sapatos de couro fino. No momento em que conseguiu agarrar o pequeno corpo de Piglet, sentiu-se envergonhada e tola.

Pelo canto do olho, Angelo avistou um dos seguranç as vindo apressado em sua direç ã o, a fim de pro­porcionar a usual barreira entre seu empregador e o resto da raç a humana. Angelo fez um sinal para que o homem mantivesse a distâ ncia. Os raios de sol esta­vam refletindo lindas mechas douradas nos cabelos dela. Embora os cabelos loiros estivessem presos com uma fita na altura da nuca, ainda eram longos o bastante para tocar-lhe as costas. Angelo continuava admirando o rosto dela e questionou-se por que tivera tanto impacto sobre ele.

— Piglet, seu malvado... Eu sinto muito — decla­rou Gwenna, pegando o cachorro e erguendo-se. — Ele mordeu você?

Mesmo enquanto Angelo maravilhava-se com os belos olhos azuis, o nariz perfeito e a boca generosa, també m registrou que o mundo da moda e estilo era estranho à quela mulher. O vestido azul desbotado marcava a curva exuberante dos seios antes de abrir-se numa saia rodada, revelando somente tornozelos delgados.

— Como assim? — perguntou ele com a postura elegante e poderosa, esperando que ela reagisse como todas as mulheres reagiam na presenç a dele, com olhos arregalados, sorrisos e sinais de flertes.

— Ele nã o mordeu você, certo? Piglet tem dentes afiados.

Intimidada pelo tamanho do homem, que passava muito de l, 8Om, Gwenna manteve distâ ncia. Contu­do, era impossí vel nã o notar o quanto ele era bonito. Essa consciê ncia, assim como a compulsã o que sen­tia em ficar olhando-o, eram tã o estranhas que a dei­xou sem graç a.

— Ele nã o mordeu — Angelo esperou, em vã o, pela resposta sexual feminina que era tã o previsí vel. Em vez disso, ela desviou os olhos. Aquilo o irritou.

— Graç as a Deus... Jake, Freddy! — Gwenna esta­va olhando para trá s à procura dos garotos e ansiosa para focar sua atenç ã o em qualquer outro lugar.

Duas cabeç as ruivas saí ram de trá s da cerca viva que delimitava o terreno da igreja.

— Vem pegar a gente, Gwenna! — implorou Freddy.

— Você é a babá deles? — perguntou Angelo. Gwenna piscou com a pergunta inesperada.

— Nã o, estou apenas cuidando deles por uma hora. Com licenç a — acrescentou, olhando para cima e descobrindo que os olhos dourados do homem con­tinham um brilho que fez seu coraç ã o disparar. Pe­gando a cesta de flores que largara no chã o, começ ou a se afastar.

— Talvez possa me informar onde fica o hotel Peveril House.

Ela parou e virou-se.

— Fica a uns oito quilô metros daqui. Se pegar a bifurcaç ã o atrá s da igreja, vai ver a placa para o hotel. Poucas pessoas vê m para cá.

— Pergunto-me por quê — murmurou Angelo suavemente. — O cená rio é muito bonito. Janta co­migo esta noite?

Pega de surpresa pelo convite, Gwenna enrubesceu.

— Mas nã o conheç o você.

— Aproveite a oportunidade.

— Nã o... obrigada, nã o posso.

— Por que nã o?

Outros homens geralmente recuavam à primeira recusa. O fato de que ele exigia uma explicaç ã o a as­sustou, e ela nã o respondeu.

— Tem namorado?

Envergonhada, Gwenna achou que seria mais fá cil mentir, mas nã o era uma mentirosa.

— Nã o, mas... — Ela baixou a cabeç a e ficou em silê ncio.

Ela rejeitara a ú nica desculpa que Angelo teria aceitado. Mesmo assim, teria procurado uma nova abordagem, pois nunca conhecera uma mulher capaz de resistir ao que ele oferecia. Fidelidade, descobrira há muito, era geralmente negociá vel. Nã o podia acre­ditar que, pela primeira vez na vida, estava recebendo uma recusa.

— Com licenç a — murmurou ela novamente. — Preciso ir.

Angelo ficou parado boquiaberto, observando-a partir e passar pelo portã o da igreja. Continuou acompanhando-lhe os movimentos na esperanç a de que ela olhasse para trá s, o que nã o aconteceu.

Ofegante e tensa, Gwenna prendeu a coleira do ca­chorro no banco de madeira e entrou na velha igreja. Freddy e Jake tagarelavam enquanto ela arrumava as flores para o batizado que aconteceria na manhã se­guinte.

Fazia muito tempo desde a ú ltima vez que algué m a convidara para sair, pensou. Nã o entendia por que estava tã o perturbada. Ou por que sentia um desejo enorme de voltar para a porta e espiar se o estranho bonito ainda estava lá. É claro que nã o. Ele agora es­taria a caminho do hotel luxuoso, no qual deveria es­tar acontecendo uma conferê ncia internacional de negó cios ou algo assim. O leve sotaque do estranho sugeria que sua primeira lí ngua nã o era o inglê s.

" E daí? ", questionou-se. Por que estava curiosa? Nã o namorava, afinal. Aprendera que, mesmo quan­do os homens alegavam um relacionamento de ami­zade, sempre queriam mais. Queriam sexo, na verda­de. Mas ela nã o queria intimidade fí sica sem amor, que a deixaria se sentir vazia e solitá ria quando aca­basse. Os insultos que sofrera enquanto crescia a tinham convencido de que seus valores antiquados a protegiam dos piores erros. Tinha plena consciê ncia de que sua pró pria mã e pagara um preç o alto por des­prezar esses mesmos princí pios.

A imagem do rosto bronzeado do estranho, do im­pacto extraordiná rio daqueles olhos escuros e pro­fundos e do corpo magní fico surgiu em sua mente. Gwenna deu uma risadinha. Entã o, era mulher e hu­mana, e tinha notado um homem de tirar o fô lego. Nã o do seu tipo, todavia. Ele era muito arrogante para agradá -la. Gostava de homens abertos, amigá ­veis e criativos. Adicionando cabelos castanhos e um par de olhos verdes sorridentes, pensou distraí da, e estaria descrevendo seu ideal de homem perfeito.

Cinqü enta minutos depois, Gwenna devolveu Freddy e Jake para a mã e deles, que tivera uma con­sulta pré -natal. Ela conhecia bem Joyce Miller, pois as duas tinham trabalhado juntas no viveiro de plan­tas por mais de um ano.

— Entre um pouco — convidou a ruiva grá vida. — Vou fazer um chá.

— Desculpe, nã o posso. Joyce a estudou.

— A Bruxa Malvada a acorrentou de novo? Gwenna deu de ombros.

— Ainda há algumas coisas a serem feitas na casa do meu pai.

— Mas você nem mora lá. Nã o entendo o que a propriedade Old Rectory tem a ver com você.

Fazia alguns anos que Gwenna tinha se mudado para o pequeno apartamento acima do viveiro de plantas. As acomodaç õ es eram simples, mas fora um alí vio ter paz e independê ncia.

— Nã o me importo, se isso deixa Eva feliz. Ama­nhã é um dia especial para papai.

— E para você — apontou Joyce. — O Casarã o Massey foi construí do por seus ancestrais. Foi a casa de sua mã e um dia.

Gwenna riu.

— Há mais de uma geraç ã o o lugar já estava em ruí nas. Minha avó e minha mã e moraram lá, mas nunca puderam reformar a casa. É uma pena que meus ancestrais nã o tiveram talento para ganhar di­nheiro.

— Acho que você teve muito sucesso reunindo os locais e apresentando idé ias tã o boas para levantar fundos para a restauraç ã o dos jardins.

Gwenna sorriu.

— Obrigada, mas sempre fui a garota do quarto dos fundos. Foi a lá bia de meu pai e suas incrí veis co­nexõ es que trouxeram o dinheiro. Ele fez um traba­lho maravilhoso.

— Finalmente entendo por que ainda está solteira. Você adora seu pai — afirmou a ruiva. — Nenhum homem vai igualar-se a ele a seus olhos.

Andando para Old Rectory, onde seu pai e sua ma­drasta viviam, Gwenna pensou sobre aquela conver­sa. Nã o tinha discutido a questã o porque sua verdade estava bem guardada. Mesmo assim, acreditava que realmente seria muito difí cil algué m igualar-se a Donald Hamilton. Seu pai era especial. Só um homem especial reconheceria uma filha ilegí tima, levando-a para casa e mantendo-a lá apesar de isso ter custado seu casamento. Aceitava que o pai tinha seus defei­tos. Quando jovem, tivera uma fraqueza pronunciada por mulheres e mais do que um caso extraconjugal. A mã e de Gwenna, Isabel Massey, havia sido uma des­sas mulheres.

Na manhã seguinte, Gwenna acompanhou seu pai enquanto posava para câ meras na entrada da propriedade Massey. Apesar de ter mais de 5O anos, Donald Hamilton parecia mais novo. Com os cabelos loiros e a pele bronzeada, era um homem apresentá vel. Como advogado, tinha construí do uma carreira de sucesso em uma empresa de mó veis. Estava acostumado a li­dar com a mí dia, e seu discurso inteligente adiciona­va brilho à performance pú blica. Os portõ es foram abertos e as equipes de noticiá rios da televisã o grava­ram o momento e o pontuaram com uma entrevista. A madrasta de Gwenna e suas meio-irmã s, Pené lope e Wanda, deleitavam-se em ser o centro das atenç õ es. Gwenna nã o tentou se juntar à reuniã o familiar, uma vez que sabia que nã o seria bem-vinda e, conseqiientemente, embaraç aria o pai.



  

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