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COLEÇÃO JARDIM DAS FLORES 5 2 страница



— Eu nã o sabia que personalidades importantes da polí cia també m viriam — comentou um membro do comitê dos Jardins Massey a seu lado. — Aquele é o chefe superintendente, Clarke.

Gwenna olhou por sobre o ombro e viu dois ho­mens de terno parados perto de uma viatura policial. Um outro homem conversava com seu pai, e era evi­dente que Donald Hamilton nã o gostava do que ou­via, pois estava vermelho e falando alto que aquilo nã o fazia sentido. Os jornalistas agora prestavam atenç ã o no palco. Com um sorriso exasperado nos lá bios, seu pai foi em direç ã o aos homens perto do car­ro. De repente, um silê ncio curioso se instalou entre a multidã o. Gwenna ouviu o policial mais velho refe­rir-se a " acusaç õ es muito sé rias". Observou, total­mente incré dula, quando os direitos legais de seu pai foram lidos. Diante de sua famí lia e da mí dia, Donald Hamilton estava sendo preso.

Em sua suí te luxuosa do hotel Peveril House mais tarde naquele dia, Angelo Riccardi colocou o ví deo da prisã o de Donald. Mediante um cachê anô nimo, a equipe televisiva registrará um final mais excitante do que o prometido: Hamilton sendo algemado du­rante um evento no qual era homenageado como um glorioso filantropo, agora desmoronando de seu pe­destal de respeitabilidade.

Angelo havia comprado a empresa de mó veis onde sua presa trabalhava, e enviara auditores para exami­nar as contas. Pegar Hamilton em flagrante nã o era o desafio que tinha esperado. Na verdade, fora quase fá cil demais. É claro, exposiç ã o pú blica era apenas o começ o, pensou. Hamilton pagaria o preç o justo por seus pecados. Ele pretendia destituir o homem que roubara e abandonara sua mã e, e o bom nome era apenas o primeiro passo daquele processo.

 

CAPITULO DOIS

 

Gwenna olhou ao redor do cô modo com desespero e reprimiu a onda de raiva causada pelas acusaç õ es fei­tas ao seu pai, que tinha sido desprovido de sua ale­gria natural devido aos eventos recentes.

A sala de visitas da Old Rectory era grande e ele­gante, mas o arranjo de flores que ela colocara sobre a mesa estava agora murchando. Fazia trê s dias que seu mundo se despedaç ara, juntamente com algumas de suas convicç õ es mais profundas.

Donald Hamilton tinha sido acusado de fraude, e informado de que outros crimes ainda seriam revela­dos. No começ o, todos tentaram defendê -lo. Nã o apenas a famí lia, mas amigos e vizinhos també m, uma vez que ele era uma figura popular. Todavia, o patrã o de Donald e colegas de trabalho vinham man­tendo distâ ncia, provavelmente temendo pela segu­ranç a de seus empregos. Afinal, nã o fazia uma se­mana que Furnridge Leather tinha sido comprada pela Rialto, a grande corporaç ã o dirigida por Angelo Riccardi. Possivelmente, devido a tais conexõ es de poder, o caso havia atraí do muita publicidade nega­tiva.

Talvez, o maior choque de todos ocorrera quando Donald Hamilton, confrontado com as evidê ncias de seus crimes, decidira confessar sua culpa. Gwenna ficara arrasada. O fato de que o pai que adorava e ad­mirava tinha roubado dinheiro a apavorara, mas ha­via ficado orgulhosa por ele ter tido coragem de ad­mitir os erros e a culpa. Quando Donald finalmente tivera permissã o de ir para casa, levara Gwenna ao seu escritó rio para uma conversa particular. Entã o, contara como o estilo de vida extravagante que vinha levando havia criado uma montanha de dí vidas com as quais nã o podia mais lidar.

— Eu só peguei um pouco de dinheiro emprestado da Furnridge para saldar dí vidas — explicou seu pai. — Pretendia devolver. Infelizmente, os preparativos para o casamento de Penelope nos custou uma fortu­na. A mã e dela gastou uma outra fortuna confortan­do-a quando o casamento fracassou. Entã o Wanda precisou de capital para iniciar sua escola de equita­ç ã o. Como você sabe, foi um outro desastre e perdi muito no investimento. Mas entendo que nã o há des­culpa para roubar. Nã o pense que estou culpando uma outra pessoa, també m.

— Eu nã o penso isso — disse Gwenna, cujos olhos estavam marejados ao abraç ar o pai. Tinha ple­na consciê ncia de que sua madrasta e suas duas meias-irmã s nã o se contentavam com pouco, e que esperavam que Donald satisfizesse cada um de seus desejos e necessidades.

— Nunca fui capaz de dizer nã o à s pessoas que amo. Sei que estamos vivendo alé m de nossas possi­bilidades nesta casa, mas nã o consegui negar nada a Eva. Eu a amo tanto, Gwenna. Nã o sei o que farei se ela quiser o divó rcio.

Apó s aquela conversa, Gwenna agora achava mui­to difí cil ficar ouvindo o resto da famí lia recriminan­do seu pai.

— Eles fecharam minhas contas bancá rias. Como vou pagar meus cartõ es de cré dito? — reclamou Pené lope, a irmã mais velha, com o rosto bonito contor­cido pela raiva.

Gwenna perguntou-se o que aconteceria se suge­risse que era hora de ela procurar um emprego regu­lar. Mas as filhas de sua madrasta ainda viviam em casa. Penelope tinha 27 anos, trabalhava como mode­lo meio-perí odo e tratava sua carreira como um hobby, esperando que o padrasto pagasse todos os seus lu­xos. A irmã, Wanda, era dois anos mais nova e nunca parara num emprego por mais de seis semanas.

— E quanto à s prestaç õ es de meu carro esporte? — Wanda estava exigindo. — Onde vou arranjar o dinheiro para pagar?

Eva dirigiu um olhar de condenaç ã o ao marido.

— Até agora, nunca tinha apreciado o quanto meu primeiro marido era bom para nos sustentar.

Gwenna recuou ao perceber como a mulher era cruel, e que talvez pudesse abandonar o marido, ago­ra que a situaç ã o financeira já nã o era boa.

— Sim, ele era, e certamente nã o vou correspon­der à s expectativas desse desafio. — Sentado em uma poltrona no canto, Donald Hamilton estava obvia­mente deprimido por ser o alvo de todos aqueles ata­ques.

— Se pelo menos você nã o tivesse admitido que pegou o dinheiro! Com um bom advogado, poderí amos ter contestado as acusaç õ es — disse Penelope furiosa.

— Poderí amos ter uma chance se Furnridge ainda pertencesse a John Ridge. Mas nã o agora... Rialto é enorme e Angelo Riccardi é um homem terrí vel. Numa organizaç ã o daquele tamanho, as regras sã o rí ­gidas, e os recursos ilimitados. Eles vã o me tirar até o ú ltimo centavo — murmurou Donald. — Estou arrui­nado.

— O que importa é que você confessou tudo. Te­nho certeza de que isso foi um alí vio para todos, e que o faz se sentir melhor — comentou Gwenna.

— Aprendeu na igreja que honestidade é a melhor polí tica? — zombou sua madrasta. — Você definiti­vamente nã o se saiu à sua mã e. Afinal, ela foi o peca­do secreto de seu pai por anos!

Gwenna enrubesceu com a vergonha que nunca conseguia reprimir. Era verdade, o caso de sua mã e com Donald Hamilton fora secreto e construí do so­bre mentiras e simulaç õ es. Entretanto, tinha parado de ser lembrada disso desde que alcanç ara a inde­pendê ncia.

— Ouç a, vim aqui para...

— Intrometer-se onde nã o é desejada? — acusou Wanda.

— Para que tentá ssemos decidir a melhor maneira de lidar com a situaç ã o — disse Gwenna. — Se con­seguirmos repor o dinheiro que foi retirado, papai tal­vez possa escapar do processo. Obviamente, os Jar­dins Massey e o viveiro de plantas poderiam ser ven­didos. E há o apartamento em Londres...

A sugestã o de que o apartamento da cidade, muito usado por Eva e suas filhas, fosse colocado à venda, gerou um ataque sarcá stico das outras mulheres. Mas Donald estudou Gwenna com o primeiro brilho de esperanç a desde sua prisã o.

— Você acha que uma oferta como esta pode fazer diferenç a?

Gwenna assentiu vigorosamente.

— Mas se Massey for vendida, você perderá seu emprego, o negó cio que construiu e o teto sobre sua cabeç a. Realmente faria isso por mim? — perguntou ele emocionado.

—- É claro. — Gwenna pigarreou. — Entã o, há esta casa...

Eva a interrompeu:

— Esta casa está no meu nome e eu nã o vou ven­dê -la!

Gwenna nã o sabia daquilo e murmurou um pedido de desculpas.

O telefone tocou. A polí cia queria que Donald res­pondesse mais algumas perguntas. Gwenna viu o pai empalidecer. Doí a testemunhar o medo dele com a perspectiva de uma outra visita à delegacia.

Com um ar resoluto, ela se levantou e olhou para o pai.

— Vou até Furnridge Leather falar com a pessoa que tem o poder de tomar uma decisã o sobre esse as­sunto.

Angelo estava diante da janela que dava vista para a recepç ã o no piso inferior da Furnridge Leather, e ou­via seus executivos discutirem idé ias com o antigodono, John Ridge, para renovar a empresa. Ocasio­nalmente, falava para descartar as idé ias mais absur­das. Aquela era a menor empresa que comprara em uma dé cada. Era um desafio para seu staff pensar so­bre um projeto pequeno, principalmente quando a empresa estava com sé rios problemas financeiros. Agora havia duzentos funcioná rios com boas razõ es para odiar Donald Hamilton, porque o futuro do ne­gó cio oscilava.

Uma mulher jovem se aproximou da recepç ã o. Os longos cabelos loiros estavam presos num simples rabo-de-cavalo. Angelo ficou tenso ao reconhecer imediatamente o â ngulo gracioso da cabeç a e o perfil perfeito. Bem, Gwenna, do pequeno vilarejo em Somerset, o encontrara novamente. Ela teria visto sua limusine quando ele partira e reconhecido o seu valor financeiro? De qualquer forma, a mulher o identifi­cara, poupando-lhe o trabalho de procurar por ela. Sentiu-se desapontado. Acreditara que por uma vez teria de se esforç ar para levar uma mulher para cama. O telefone tocou. A ligaç ã o era para John Ridge.

O homem mais velho desligou o telefone e mur­murou:

— A filha de Donald Hamilton, Gwenna, está lá embaixo, pedindo para falar comigo ou com o res­ponsá vel. Há algué m aqui disposto a conversar com ela?

Angelo franziu o cenho. Quando consultara as informaç õ es sobre o passado de Donald Hamilton, nã o houvera referê ncia de uma filha com esse nome.

— Filha verdadeira de Hamilton?

— Sim, e é uma garota adorá vel, mas eu preferia nã o ter de lidar com ela. Nã o há nada a dizer, há?

— Nada — concordou um dos executivos.

— Eu a receberei aqui em 15 minutos. — Imper­turbá vel pela surpresa de seus companheiros, Angelo imediatamente acessou o arquivo de Hamilton em seu laptop. E lá encontrou uma breve referê ncia dela como Jennifer Gwendolen Massey Hamilton, 26 anos de idade. Entã o, a ú nica filha de Hamilton era uma mulher linda e trapaceira.

Gwenna estava sentada na sala de espera, sentindo o clima hostil ao seu redor. Ficara perplexa ao saber que Angelo Riccardi se encontrava na empresa e a re­ceberia, pois imaginava que algué m tã o rico e pode­roso nã o tivesse tempo para cuidar de assuntos sobre um empreendimento rural tã o pequeno. No momento em que foi conduzida ao antigo escritó rio de seu pai, estava pá lida e tremendo de nervoso.

— Srta. Hamilton — murmurou Angelo friamen­te, observando o choque de reconhecimento no sem­blante dela. — Sou Angelo Riccardi.

Atô nita por ser cumprimentada pelo homem que encontrara no vilarejo, Gwenna exclamou em confu­sã o:

— Você é... mas nã o pode ser! Angelo arqueou uma sobrancelha.

Um momento interminá vel de silê ncio se seguiu, enquanto ela o olhava, absorvendo novamente os profundos olhos dourados, os â ngulos fortes do rosto esculpido, os lá bios sensuais e bonitos. Um calor des­confortá vel instalou-se em seu corpo. Respirando profundamente, esforç ou-se para se recompor.

— Bem, obviamente você é... quem diz ser — ga­guejou Gwenna. — Eu podia ter passado sem essa coincidê ncia hoje.

— Ainda nã o sei por que você quis falar comigo. — Angelo estava apreciando o estado perturbado dela. Aparentemente, a filha de seu inimigo nã o era fraudulenta como o pai.

— Vim para falar sobre meu pai.

— Fico surpreso que você ache que eu possa estar interessado.

— Meu pai trabalhou aqui por muito tempo...

— Enquanto sistematicamente deixava a empresa sem capital.

Ela baixou os cí lios, envergonhada.

— Nã o tenho intenç ã o de negar o que ele fez.

— Por que mais estaria requisitando este encon­tro? Talvez você espere o mesmo tratamento especial que seu pai teve quando trabalhava aqui.

— Nã o sei sobre o que você está falando.

— John Ridge tratava seu pai mais como amigo do que como empregado, e nunca pô de entender por que a produtividade melhorada constantemente fracassa­va em obter lucros. Por isso, vendeu a empresa. — Angelo a viu empalidecer e abaixar a cabeç a. Estava satisfeito por ter usado aquilo contra ela. Sabia como escolher os pontos fracos nas pessoas e utilizá -los para seu pró prio benefí cio. — Ele está arrasado agora que sabe como sua confianç a foi traí da.

— Papai está muito envergonhado. Sei que isso nã o muda nada...

— Você está vivendo em seu pequeno mundo, srta. Hamilton. Neste momento, meu staff está tentando encontrar uma maneira de impedir a falê ncia da empresa.

Uma sensaç ã o de derrota a percorreu. Já era ruim o bastante John Ridge ter sido enganado, e agora des­cobria sobre a condiç ã o precá ria que a empresa se en­contrava. Ocorreu-lhe que merecia a repreensã o de Angelo Riccardi. Ela fracassara em considerar as re­percussõ es que poderiam surgir da fraude de seu pai. Na verdade, ingenuamente assumira que o futuro de Furnridge Leather seria mais seguro como parte de uma organizaç ã o maior, como a Rialto. O risco de fa­lê ncia a apavorava, uma vez que a empresa de mó veis era a principal empregadora local.

— Eu nã o sabia... que os problemas estavam tã o sé rios.

— Como poderia nã o saber? Foi feito uso indevi­do de uma grande quantidade de dinheiro. — Angelo descobriu que a raiva que sentira ao descobrir a iden­tidade dela, agora era substituí da por satisfaç ã o. Por que nã o? Ela era filha de Hamilton. Ele agora tinha duas pessoas para brincar, em vez de uma, e já podia ver que ela era um brinquedo lindo, com um bom re­pertó rio de respostas. — Nenhum empreendimento deste tamanho pode passar por uma crise financeira sem riscos de falê ncia.

Gwenna ergueu a cabeç a.

— Mas é por isso que estou aqui. Para dizer como esse dinheiro pode ser devolvido.

— Devolvido? — Angelo a olhou com renovada intensidade. Os olhos azuis continham um apelo que nã o podia definir. O conjunto de calç a e blusa podiaser antiquado e deselegante, mas a beleza da mulher era tã o rara que isso se tornava insignificante.

— Meu pai tem propriedades que poderiam ser vendidas, resultando em dinheiro para o reembolso. — Nervosa com a observaç ã o detalhada dele, Gwen­na desviou o olhar. Nã o era a primeira vez que se per­guntava por que ele a deixava tã o desconfortá vel. Sentia um nó na garganta, os mú sculos tensos. Seria medo?

— Se quaisquer dessas propriedades foram com­pradas com dinheiro roubado, e seu pai for considera­do culpado no tribunal, esses bens podem ser apreen­didos e vendidos para proporcionar compensaç ã o.

Aquilo acabou com as esperanç as de Gwenna, e ela sentiu a forç a total de sua ignorâ ncia.

— Eu nã o sabia disso.

Apesar do que Angelo tinha lhe dito, sabia que os juizes eram relutantes em relaç ã o à desapropriaç ã o e venda de bens pessoais, particularmente quando ha­via uma esposa envolvida. Mas estava determinado a ver Donald Hamilton punido em cada ní vel possí vel. Tirar-lhe os bens adicionaria sabor à quele processo.

— Contudo, um caso como este leva tempo — ele amenizou como encorajamento para que ela insistis­se na venda dos imó veis.

— Papai já admitiu a culpa — Gwenna murmurou prontamente. — Ficaria feliz em concordar que as propriedades fossem postas à venda e com os proce­dimentos usados para eliminar seu dé bito...

— Ele é um ladrã o, nã o um devedor — interrom­peu Angelo secamente. — Alé m disso, propriedades podem demorar muito para vender. — Olhos cor de é bano prenderam os dela. — É claro que se eu esti­vesse disposto a considerar tal acordo, uma avaliaç ã o poderia ser feita e as propriedades em questã o pode­riam simplesmente passar para meu nome. Isso seria conseguido rapidamente.

Pronta para concordar com qualquer tipo de acor­do, Gwenna assentiu para a sugestã o. Entã o, respirou fundo, ciente do olhar intenso de Angelo e de seu pró prio coraç ã o disparado. Percebendo que tinha en­rubescido, foi até a janela. Como ele podia ter aquele efeito sobre ela? Era um completo estranho. Como ti­nha a capacidade de lhe despertar sensaç õ es fí sicas que estavam reprimidas e enterradas? Gwenna deci­dira há muito tempo que nunca daria o seu corpo sem o seu coraç ã o.

— Eu també m diminuiria o risco de algué m so­frendo de arrependimentos de ú ltima hora — ressal­tou Angelo, com uma expressã o de triunfo por ter fi­nalmente provocado uma reaç ã o dela. Vira o brilho de surpresa nos olhos de Gwenna. — Obviamente, seu objetivo é libertar seu pai da ameaç a de um pro­cesso.

Sem saber se devia se sentir aliviada ou ameaç ada pela facilidade com a qual ele deduzira o fato, Gwen­na virou-se para encará -lo. Ergueu o queixo e uniu as mã os fortemente.

— Sim.

— Isso nã o será possí vel, cara. Acredito que todos os malfeitores devem ser punidos pela lei.

— Mas se o dinheiro for devolvido, isso beneficia­ria esta empresa e todas as pessoas que trabalham — protestou Gwenna fervorosamente. — Você nã o se importa com isso?

— Meu coraç ã o raramente sangra, sita. Hamilton. Angelo observou-a afastar uma mecha loira dorosto. Ela era maravilhosa, deleitá vel. E estava tre­mendo de leve. Ele gostava da idé ia que pudesse ser responsá vel pelo efeito potente. Tinha um desejo quase incontrolá vel de ver aqueles cabelos soltos caindo em cachos sobre os ombros.

— Mas nesse caso especí fico...

— A base dos negó cios sã o os lucros, e no que diz respeito a isso, nã o há o bastante em sua oferta para me tentar.

Gwenna estava profundamente desapontada. Nun­ca se sentira tã o nervosa ou tã o inadequada. Tinha consciê ncia de sua falta de sofisticaç ã o. Nã o sabia como lidar com um homem que possuí a o polimento de um diamante caro e elegante, e nã o mostrava emo­ç ã o. Uma combinaç ã o que achava altamente intimidadora.

— O que seria necessá rio para... tentá -lo? Angelo a estudou com uma calma enervante.

— Você. Gwenna piscou.

— Desculpe-me... nã o entendi.

— Eu quero você.

— Eu nã o entendo. — Os olhos azuis se arregala­ram. Sentia-se tola porque obviamente ele nã o podia estar se referindo ao que ela pensava.

— Você é sempre tã o lenta para entender?

— Você está falando sobre... sexo? — Gwenna fi­cou tã o furiosa que o embaraç o a fez murmurar a ú l­tima palavra num sussurro quase incompreensí vel.

Os brilhantes olhos escuros conseguiram parecer entediados.

— Do que mais?

Ela o estudou longamente. Sempre tivera proble­mas em se ver como um ser sexual. Era muito mais frequentemente vista como simpá tica e sensata do que como uma mulher sexy. Que um homem milio­ná rio e sofisticado pudesse desejá -la tanto era inacre­ditá vel.

— Isso é algum tipo de brincadeira?

— Nã o faç o brincadeiras.

Gwenna olhou para o homem alto e elegante em seu terno impecá vel. Ele era arrasadoramente bonito, mas ela afastou o pensamento assim que entrou em sua mente.

— Mas está mesmo sugerindo que se eu dormir com você pode reconsiderar o processo contra meu pai?

— Sim — confirmou Angelo.

Ela estava atô nita pela concordâ ncia sem hesita­ç ã o.

— Mas isso é moralmente errado.

— Somos adultos e você tem uma escolha.

Ela ergueu a cabeç a, furiosa por estar tã o envergo­nhada quanto uma adolescente, enquanto ele se com­portava como se nada desagradá vel estivesse aconte­cendo.

— Como pode me insultar dessa maneira?

— O que é insulto para uma mulher, pode ser elo­gio para uma outra. — Angelo sorriu em desafio. — Nã o é meu ego falando, e sim um fato quando digo que muitas mulheres dariam tudo pela mesma opor­tunidade.

Gwenna, que raramente perdia a calma, descobria agora que queria matar um ser humano. O jeito arro­gante e insolente dele a fez cerrar os dentes. Pura rai­va a assolou.

— Bem, eu nã o sou uma delas! Tenho mais auto-estima do que isso.

— O que a torna infinitamente mais desejá vel.

— Entã o, você é um desses homens que sempre desejam o que nã o podem ter?

Angelo prendeu-lhe o olhar, mais intrigado do que nunca com a resistê ncia e sú bita raiva dela.

— Nunca me encontrei em uma situaç ã o na qual " nã o posso ter".

— Pois acaba de se encontrar — declarou Gwen­na e virou-se. — Meu corpo nã o é negociá vel, sr. Riccardi.

— Entã o, seu pai terá de pagar o preç o e ir para a prisã o — murmurou Angelo. Ela parou no meio do caminho para a porta e virou-se.

A idé ia de seu pai ir para a prisã o a apavorava. Ele já tinha perdido tanta coisa: o emprego, a reputaç ã o, os amigos, a seguranç a financeira. Seu casamento poderia logo entrar na categoria de perdas. Ela sabia e aceitava que ele errara. Mas o que dominava os seus pensamentos era o dé bito que tinha para com seu pai desde o dia em que ele a recebera em sua casa apó s a sú bita morte da mã e.

Quando sua mã e, Isabel, havia engravidado duran­te seu longo caso com Donald Hamilton, esperara que o amante deixasse a esposa sem filhos, Marisa. Mas entã o Isabel descobrira que nã o tinha sido o ú ni­co caso extraconjugal de Donald. Derrotada e amar­ga, se tornara uma mã e solteira sem entusiasmo.

Quando Gwenna tinha oito anos, Isabel morrera num acidente de carro. Donald, ainda casado com a primeira esposa, resgatara sua filha ilegí tima numa é poca em que Gwenna nã o tinha mais ningué m. Em­bora ele fosse quase um estranho, a fizera se sentir realmente importante. Mesmo quando sua esposa, Marisa, o forç ara a escolher entre a filha e o casamen­to, seu pai se recusara a pô r Gwenna para adoç ã o. Logo depois, Marisa pedira o divó rcio. Donald nunca culpara a filha pelo preç o que tivera de pagar por es­colhê -la. Mas, apesar do casamento subseqü ente de seu pai com Eva, Gwenna sempre se sentira culpada. O passar do tempo e a chegada da maturidade nã o al­teraram sua crenç a de que sempre estaria em dé bito com o pai pelo sacrifí cio amoroso que tinha feito em seu nome.

— Antes de você partir, ouç a-me — disse Angelo, habilmente brincando com a hesitaç ã o de Gwenna.

Piscando, ela o encarou.

— Se as propriedades forem suficientes para co­brir o desfalque da Furnridge Leather e você concor­dar em ser minha amante, eu retiro as queixas contra seu pai.

Um arrepio percorreu o corpo de Gwenna. Aman­te? O que significava aquele termo? Sexo por uma noite? A conquista era tã o importante para ele? Poderia querer tanto assim fazer sexo com ela? A extensã o de sua pró pria ignorâ ncia sexual a irritou.

— O que ser amante engloba? — perguntou sem olhá -lo.

— Dar-me prazer. Ela cerrou os dentes.

— Nã o acho que eu seria muito boa nisso.

— Estou disposto a dar aulas sem custos extras.

— Acho que você simplesmente nã o suporta ser rejeitado — replicou ela furiosa.

— Nã o acho que você vá me rejeitar duas vezes.

Gwenna suspirou. Incapaz de imaginar-se se des­pindo diante de um homem sem encolher-se de medo, bloqueou todos os pensamentos de uma inti­midade. Tinha ciê ncia de que muitas pessoas faziam sexo por fazer. Seria fí sico, nã o emocional. Nã o ha­via necessidade de fazer um drama sobre algo que nã o era tã o importante, disse a si mesma. Era uma pessoa prá tica. Talvez nã o gostasse da idé ia, mas po­deria suportar aquilo.

— Bem, considero sua proposta absurda e louca, mas se dormir com você uma noite vai ajudar a minha famí lia...

— Uma noite nã o será suficiente.

Gwenna estava pasma. Ele queria mais do que uma noite? Um silê ncio se seguiu, enquanto ela incli­nava o queixo em desafio.

— Apenas o inferno nã o tem limite de tempo. Desconcertado pelo comentá rio, Angelo estudou-a antes de dar uma gargalhada de apreciaç ã o.

— Gosto de seu senso de humor, cara.

— Mas eu nã o estava tentando ser engraç ada. Quanto tempo deseja que eu faç a esse papel tã o estra­nho em sua vida?

Angelo deu de ombros. Mas de repente descobriu que o divertimento que sentira estava se transforman­do numa emoç ã o muito parecida com raiva. Era um homem orgulhoso, e a relutâ ncia de Gwenna come­ç ava a se tornar insultante. Antes que eles se separas­sem, ela ia mudar de idé ia, jurou a si mesmo. Gwenna o amaria como sua mã e um dia amara gratuitamente o impostor do pai dela.

— Quero você pelo tempo que me proporcionar entretenimento.

— Considera entretenimento quando uma mulher o odeia?

Uma intensa fú ria surgiu nos olhos de Angelo.

— Prometo que nã o será ó dio que você vai sentir.

Gwenna comprimiu os lá bios. Pura raiva a percor­reu, causando-lhe tontura. Mas entã o, a realidade veio à tona, e pensou no seu pai e no quanto o amava. Angelo Riccardi estava lhe dando a chance e o poder de impedir que seu pai fosse preso. Como poderia ne­gar? Donald Hamilton nã o seria o mesmo homem quando saí sse da prisã o, enquanto que, se ela lhe ga­rantisse a liberdade, seu pai poderia recomeç ar a vida. Que direito tinha de negar-lhe essa chance de redenç ã o?

— Quero sua resposta agora — disse Angelo sem rodeios.

— Sim... Você me fez uma oferta que nã o posso recusar — respondeu Gwenna tremendo.

Ele estendeu a mã o.

— Mas nã o vamos fingir que esta é uma oferta ci­vilizada — ela ouviu-se dizendo quando deu um pas­so atrá s, afastando-se.

Angelo deu um passo à frente, e antes que ela adi­vinhasse-lhe a intenç ã o, segurou-lhe o rosto entre as mã os e baixou aquela boca linda e insolente em direç ã o à dela. O choque a deixou paralisada pelos pri­meiros dez segundos, e entã o um calor alucinante instalou-se entre suas coxas. Era como uma chama em temperaturas geladas, chocante e repentina, e in­crivelmente doce. Ele ergueu a cabeç a arrogante, os olhos dourados absorvendo a expressã o confusa dela.

— Ser civilizado pode significar supervalorizaç ã o, cara. Meus advogados entrarã o em contato. Se tudo estiver em ordem, eu a procurarei na pró xima semana.



  

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