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The Emerald Coast 3 страница— Depois que tiver descarregado " o pacote" em casa? Estava claro que ele nã o ia misturá -la com os amigos. — Preciso cuidar para que nada aconteç a a ela. — ele disse, fingindo uma preocupaç ã o exagerada. — Meu pai jamais me perdoaria. — Eu nunca vi você brincando de babá, Marc. — uma das moç as disse. — Nem eu, e lhe garanto que isso nã o vai acontecer muitas vezes. Liane desejava ter tido a coragem de dizer ao grupo que tinha a idade deles e nã o precisava de nenhuma babá. Mas devia se controlar. Tinha tido uma educaç ã o diferente. Sabia as boas maneiras. Nã o ia insultar ningué m. Ela começ ou a se afastar, ignorando as despedidas. Minutos depois Marcello a seguiu. — Você foi muito rí spida, saindo sem se despedir. — E você nã o acha que eles foram rí spidos comigo? Nã o posso deixar de ver quem sou e nã o precisam fazer pouco caso de mim. Você també m nã o ajudou muito. Ele deu de ombros. — Acho que agora vai chegar em casa e contar tudo a meu pai. — Eu nã o vou contar nada, mas, se me recusar a sair com você e seus amigos novamente, nã o fique surpreso. Você é quem terá de dar explicaç õ es a Roberto. Quando chegaram ao carro, ele sentou-se a seu lado e desta vez dirigiu com calma, deixando-a apreciar a paisagem. Era um passeio lindo, entre fazendas e sí tios, bosques e montanhas rochosas. Frequentemente viam o mar e as praias de areia branca. Ela gostaria que seu acompanhante fosse uma pessoa diferente, algué m com quem pudesse conversar, com quem pudesse dividir o encantamento da paisagem. Quando entraram na Costa Esmeralda, Liane compreendeu o que Roberto havia falado sobre a arquitetura da ilha. As vilas, lojas e hoté is pareciam ter nascido da paisagem. Todos os materiais usados eram naturais. Ela tinha quase conseguido esquecer o homem a seu lado. Mas, quando chegaram a Porto Cervo, ele apontou para a casa em que morava, agora visí vel no alto das á rvores que cresciam na encosta da montanha, e ela se lembrou de que nã o estava sozinha. — Roberto deve estar imaginando por onde andamos. — ela disse. — Duvido. O normal que eu fique fora à tarde e à noite. — Lamento, se teve que mudar seus planos por minha causa. — Pelo amor de Deus, pare de dizer que lamenta! Eu só ouvi isso o dia inteiro. — Marcello, furioso, parou o carro diante da casa e pulou para fora, sem abrir a porta. Encontraram Roberto na saleta. Ele pareceu surpreso. — Nã o esperava você s de volta tã o cedo. Marcello, por favor, avise a Giorgio que vamos jantar os trê s juntos. — Eu vou sair outra vez, papai. Roberto franziu as sobrancelhas. — Entã o, por que voltou? Por que nã o levou Liane junto com você? Marcello olhou para Liane. Ela o encarou impassí vel, imaginando que desculpa ele iria dar. — Liane nã o quis ir conosco. Acho que as compras a deixaram muito cansada. — Ah, roupas novas! — Roberto exclamou. — Os pacotes já chegaram. Você vai ficar em casa, meu filho. Liane vai usar um dos vestidos e vamos jantar juntos. Afinal, é o primeiro dia que ela passa conosco. Marcello pareceu zangado, mas nã o discutiu. — Eu vou avisar Giorgio — disse, saindo. — Vai ser bom ele ficar. Sempre sai com uma garota ou outra. O que achou de Luí sa? Liane sorriu com um ar de conspiradora. — Nã o gostei dela. — E ela nã o fez nada para que você se sentisse à vontade, nã o é? — Nã o. Nem os outros amigos dele. Roberto pareceu surpreso. — Eu nã o sabia que tinha se encontrado com eles. Lamento que nã o tenha se entrosado. Gostaria que você tivesse amigos de sua idade. Talvez, com o tempo, eles aceitem você. As pessoas sempre desconfiam de estranhos, principalmente de estrangeiros. — Espero que esteja certo. — Talvez você queira trocar de roupa. Os vestidos novos já estã o em seu quarto. Maria colocou-os nos armá rio. Em seu quarto, ela olhou distraí da para o armá rio, Estava cheio de roupas novas e ela sabia que devia se sentir animada, mas nã o estava. Nenhum dos vestidos lhe ficava bem, apesar de serem muito bonitos. Ficariam ó timos em Luí sa ou em qualquer uma das outras garotas, mas nã o nela. Relutante, depois do banho experimentou um, depois outro, mas nã o conseguiu decidir qual usaria. No final, escolheu um azul muito vivo, de duas peç as, com blusa solta e saia franzida. Era o tipo de vestido adequado para uma festa, e nã o para um jantar em casa, ela pensou, mas era a roupa menos exó tica do guarda-roupa. Tinha entrado na saleta, quando ouviu as vozes deles vindo da sala de jantar. Parou de repente, se escondendo, quando percebeu que falavam dela. — Nã o entendo por que nã o a manda de volta no primeiro aviã o. — Era a voz de Marcello. Liane respirou fundo e recostou-se na parede. Nã o sabia que ele a detestava tanto. — Você precisa dar tempo para ela se adaptar. Prometi aos pais dela que, se algo acontecesse a eles, eu cuidaria da garota. Nã o posso faltar com minha palavra. Liane quase deu um grito. Ela tinha confiado em Roberto! Sentiu lá grimas nos olhos e torceu as mã os. Roberto tinha dito que havia amado sua mã e, por isso queria ajudá -la! Como podia ter sido tã o tola? Era apenas o dever, nada alé m disso, que o fazia cuidar dela. Devia ter adiado aquele momento durante anos, mas agora, como estava doente, tinha percebido que, se nã o agisse logo, seria tarde demais. Ela ficou tã o chocada que, por um momento, nã o ouviu o que diziam. Entã o ouviu Roberto falando de novo: — Você deve deixá -la conviver com seus amigos e com você, Marcello. É o mí nimo que pode fazer. — Mas, papai, você nã o entende. Ela é um patinho feio, nã o combina. Meus amigos vã o rir dela. — Você nã o quer que ela combine. — Na verdade, papai, nã o quero, mesmo. Liane sentiu vontade de morrer. Tinha sido humilhada antes, mas agora sentia que estava completamente arrasada. Ali estava ela, num paí s estranho e com pessoas que nã o a queriam, e nã o tinha jeito de escapar. Estava com os olhos tã o cheios de lá grimas que nã o viu Marcello se aproximar, até que ele quase lhe deu um encontrã o. — Talvez você tenha ouvido tudo. Bem, agora sabe que nã o é desejada aqui. Se nã o tiver dinheiro, eu pagarei de boa vontade sua passagem de volta para a Inglaterra.
Capí tulo 3
Liane nã o conseguia falar. Ficou olhando para Marcello, tentando imaginar por que ele nã o tolerava sua presenç a. — Nã o vai dizer nada? Ela sabia que, se abrisse a boca, iria desmoronar completamente. As lá grimas tremiam em seus olhos, ameaç ando descer, e ela virou o rosto. Espantado, ele se afastou, mas, antes que ela pudesse sair correndo para o quarto, Roberto apareceu. Ele olhou seu rosto cheio de angú stia e sua terrí vel palidez. — Você ouviu? Ela fez que sim. — Oh, lamento, eu nã o tinha a intenç ã o... Liane virou-se zangada. Ele era igual ao filho e ela nã o queria nada deles. — Confiei em você, Roberto. Lamento que tenha se sentido na obrigaç ã o de me trazer para cá. Vou embora assim que você quiser. Ele estava com o rosto sombrio. Apoiou-se na parede, como se nã o conseguisse ficar em pé. — Liane, eu preciso de você. — Ele estava rouco de emoç ã o e falava com dificuldade. — Para que eu case com seu filho? Nã o precisa continuar com essa histó ria. Ouvi o suficiente para saber que nã o me querem. — Ela ficou triste por falar com ele daquele jeito. Roberto parecia um homem gravemente enfermo, mas a tinha magoado mais do que imaginava. Os dois a tinham magoado e ela queria se livrar deles, queria voltar para a seguranç a do St. Morrow e para sua querida tia Lucy. Claro que em sua vida lá tinha havido altos e baixos. Nem tudo havia sido maravilhoso. Ela fora tã o feliz quanto uma crianç a ó rfã poderia ser. Tinha esperado ansiosamente pelo dia em que deixaria o orfanato. Mas nem em seus sonhos mais loucos podia ter imaginado que seria tã o infeliz quanto naquele momento. Sabia que ia se sentir sozinha, que ia ter dificuldades em fazer novos amigos, mas aquilo era o desmoronamento completo de suas ilusõ es, do futuro maravilhoso previsto por Lucy Morton. Quando Roberto Mataspina caiu no chã o, com os olhos fechados e respirando pesadamente, ela esqueceu sua pró pria angú stia e começ ou a chamar Marcello, desesperada, ajoelhando-se ao lado do velho. Nã o tinha ideia do que havia acontecido, Ele nã o falara nada sobre sua doenç a, mas o que a fazia sofrer mais era vê -lo daquele jeito, e tudo por sua causa. Se ele nã o tivesse discutido com Marcello, nada daquilo teria acontecido. De certa forma, era tudo culpa sua. Se partisse, será que as coisas iam melhorar? Bem, ele parecia sinceramente contente pelo fato de ela estar ali. Isso a deixava muito confusa. Se estava contente, por que tinha dito ao filho que fazia isso para cumprir uma promessa? Vendo que Marcello nã o aparecia, ela foi procurá -lo. Encontrou-o ao lado da piscina e, a princí pio, ele pareceu nã o ouvir, quando ela o chamou de volta para casa. — E seu pai! — ela insistiu. — Ele está desmaiado! Venha logo! Entã o, ele saiu correndo, numa velocidade que a surpreendeu. Lá chegando, agarrou o pai pelos braç os e o estendeu num sofá largo, na saleta. Entã o os olhos do velho se abriram. — Vá buscar um copo de á gua. — Marcello ordenou. Liane afastou-se depressa, voltando um minuto depois e sentindo-se aliviada ao ver Roberto sentado. Mas ele ainda estava terrivelmente pá lido. — Quer que eu chame o mé dico? — ela perguntou baixinho a Marcello. — Nã o. Logo ele estará melhor. Nã o é a primeira vez que isso acontece. Ele devia ficar calmo, aceitar melhor as coisas. Nã o é bom para ele ficar aborrecido. Ela queria dizer: bem, você começ ou tudo isso, mas percebeu que a frase só iria aborrecer o velho novamente. Liane sentou-se ao lado dele, segurando o copo de á gua e olhando-o ansiosamente. Ele levantou a mã o, muito fria, e tocou a dela. — Por favor, nã o nos deixe, Liane. Você é como a brisa do verã o inglê s, como uma rosa. Eu estava tã o ansioso para que viesse, nã o vou aguentar que vá embora, agora. Sem perceber, ela levantou os olhos para Marcello. Ele parecia preocupado. Deixava bem claro que a escolha seria dela. E Liane sabia que, apesar de infeliz, precisava ficar. A fraqueza de Roberto a comovia. Ele precisava de cuidados, nã o importavam os motivos que tivesse para chamá -la ali. Ela lhe apertou a mã o. — Vou ficar. — ela disse, baixinho, e foi recompensada pelo brilho que viu surgir nos olhos dele. Marcello virou-se e saiu apressado. Mas ela nã o ficou surpresa. Sem dú vida, sua resposta nã o lhe agradara. A recuperaç ã o de Roberto foi rá pida. Meia hora depois ele anunciava que estava pronto para o jantar. — Nã o gostaria que eu trouxesse seu jantar aqui? — Perguntou gentilmente. — Ainda nã o estou aleijado. Vamos jantar na sala. Procure Marcello e avise que estou esperando. Liane procurou pela casa toda, mas nã o encontrou o rapaz. — Ele deve ter saí do. — Entã o, vamos jantar sem ele. Você está encantadora, em seu vestido novo. — Obrigada, Roberto. Foi muita gentileza sua gastar tanto dinheiro comigo. Os meus outros vestidos serviriam muito bem. — Bobagem, menina. Todas as mulheres adoram vestidos novos e acho que você nã o é uma exceç ã o, Liane sentiu que era melhor nã o dizer mais nada. Pelo menos naquele momento. O desmaio de Roberto a tinha deixado com medo. Daí em diante ia tentar cuidar para que ele nã o se aborrecesse. Depois do jantar, ela insistiu para que Roberto fosse para a cama. — Eu estarei bem. Vou procurar um livro e provavelmente dormirei cedo també m. Ela estava sentada sozinha há mais de uma hora quando ouviu Marcelto entrar. Seu coraç ã o deu um pulo. Por que ele tinha voltado tã o cedo? Talvez pudesse fugir lá para cima antes que ele a visse. Mas, no momento seguinte, descobriu que nã o se tratava de Marcello, e sim, de um estranho que ficou parado, olhando-a, sorrindo com um ar de admiraç ã o. Nã o era tã o alto quanto Marcello, mas muito bonito, moreno como grande parte dos moradores da Sardenha. — Acho que hoje é meu dia de sorte. — ele disse. — Ningué m me falou sobre você. Posso perguntar quem é? Ele sorria amigavelmente e, depois do susto que tinha tomado, Liane viu que falava com ele cheia de entusiasmo. — Sou Liane Chandler. Vim morar com Roberto e o filho. Lamento, mas Roberto nã o está passando bem, foi para a cama e Marcello saiu. Quer deixar algum recado e seu nome? Ele sorriu e estendeu a mã o. — Sou Raffaele Bruschi, vim fazer uma visita. Sou primo de Marcello. — Eles estavam esperando você? Ele tomou sua mã o e a segurou por mais tempo do que seria necessá rio. Mas ela nã o se importou. Achou-o muito agradá vel e ele deixou bem claro que ela o interessava. Isso era uma ó tima mudanç a, depois do tratamento de Marcello. — É uma surpresa. Se eu soubesse de sua presenç a, teria vindo mais cedo. Há quanto tempo está aqui? — Cheguei ontem. — Entã o ainda nã o teve tempo de dar uma olhada por aí. Deixe-me ser seu guia. A Sardenha é um dos lugares mais lindos do mundo. Temos muito a oferecer. Ela riu. — Algué m está pagando para você falar isso? — Nã o, mas é a verdade. Espere e verá. Você vai ficar surpresa, ao ver que um paí s pequeno tem tantas coisas bonitas. — Ele puxou uma poltrona para perto da dela e olhou confiante em seus olhos. — Por que Marcello saiu e deixou sozinha uma garota linda como você? — Nã o sou linda. Você está me lisonjeando. — A beleza está nos olhos de quem olha. — ele disse. — Para mim, você é a moç a mais linda do mundo. Como conheceu a famí lia Malaspina? Acho que nunca os ouvi falarem de você. O calor dos olhos dele era um calmante para os nervos agitados de Liane. Ela sentiu que seu rosto ficava vermelho. Ele era encantador. Ningué m a tinha tratado assim antes e ela descobriu que suas atenç õ es eram muito estimulantes. — Eu nunca tinha ouvido falar de nenhum dos dois, até poucas semanas atrá s, mas parece que Roberto conheceu minha mã e antes de eu nascer. Infelizmente, meus pais morreram quando eu tinha seis anos e passei o resto da vida em um orfanato. Agora Roberto decidiu me aceitar em sua casa. — Tio Roberto é um homem bom. Pena que nã o esteja bem. Por isso vim até aqui. Como está ele? O rapaz parecia preocupado e Liane sentiu que gostava dele. — No momento, está bem, mas à s vezes parece muito mal. — É bom que você esteja aqui. Ele precisa dos cuidados de uma mulher. Marcello nã o serve para isso, está sempre saindo com as garotas. O modo como Raffaele falou fez Liane pensar que ele també m estava sempre preocupado com o sexo oposto. Mas nã o tinha nada com isso. Ele era apenas a boa companhia de que ela precisava agora. — Será que pode me arranjar alguma coisa para comer? Acho que Giorgio já foi embora e estou morrendo de fome. Liane sorriu e levantou-se. — Vou ver o que encontro. Ela nã o esperava que ele a seguisse e ficou surpresa ao vê -lo entrar na cozinha. — Do que você gosta? Nã o sou boa em comidas italianas. — Vou lhe mostra o quê. — Os olhos dele brilharam maliciosamente. — Vou fazer o jantar. Você fique olhando e aprenda, e talvez da pró xima vez possa preparar algo para mim. Ela riu e concordou. Ele era divertido. Era també m um bom cozinheiro. Colocou o espaguete numa panela com á gua fervente, depois fritou ovos e bacon e, quando terminou, anunciou: — Spaghetti alia carbonara, quer comer comigo? — Eu já comi há muito tempo. Mas vou tomar um café. Estavam sentados à mesa da cozinha, Raffaele comia esfomeadamente, conversando o tempo todo, falando sobre as belezas da Sardenha. Liane tinha os olhos brilhantes e ria feliz, quando Marcello entrou. — Que diabo você está fazendo aqui? — ele falou, olhando diretamente para Raffaele. O outro pareceu surpreso e pouco à vontade. — Eu vim ver o tio Roberto. Ouvi dizer que ele está doente. — Aposto que veio mesmo. Nã o pense que me engana, nem por um segundo. Liane desejou saber o que estava acontecendo. Tinha achado aquela visita uma gentileza de Raffaele. — Se já terminou de comer, pode ir embora. — Marcello continuou, olhando ameaç adoramente por cima da mesa. Liane sentiu que estremecia, perturbada. — Mas eu ainda nã o vi o tio Roberto. — Como eu pensei. Você nã o está interessado na saú de dele. Tem apenas um ponto de vista mercená rio. Saia daqui e vá para o diabo antes que eu o atire lá fora. Liane sentiu que precisava dizer alguma coisa. Tinha gostado de Raffaele e nã o podia entender por que Marcello falava com ele daquele jeito. — Eu acho que Roberto nã o ia gostar, se soubesse que seu primo veio aqui e nã o o viu. Pelo menos você deveria deixar que ele passasse a noite. Marcello virou-se para ela, parecendo surpreso ao vê -la defender o outro, e disse friamente: — Você nã o tem nada a ver com isso. Nã o sabe do que está falando. — Acontece que acredito nele. Acho que veio mesmo ver seu pai. Pelo menos dê a ele o benefí cio da dú vida. Raffaele sorriu e ela continuou: — No lugar de Roberto, eu ficaria aborrecida, se descobrisse que você mandou embora meu sobrinho sem que eu o visse. Você nã o se importa com os laç os de famí lia? — Para ela, devia ser algo maravilhoso, pois nã o tinha famí lia, nenhum tio, nem tia, nem primos, irmã ou irmã o. — Laç os de famí lia... Você nã o tem ideia do que está falando. Deixe que eu cuido disso do meu jeito. Mas Liane estava resolvida a nã o desistir. Sem saber por que, achava importante defender o primo, que, para sua surpresa, nã o dizia nada. — Se o mandar embora, vou contar a Roberto. Você sabe que ele nã o aguenta mais aborrecimentos. Marcello fez um gesto aborrecido e ela procurou ganhar vantagem. — Claro, uma noite nã o vai fazer diferenç a. Vejo que nã o há amizade entre você s, mas a saú de de seu pai é mais importante do que qualquer aborrecimento passageiro. Raffaele levantou-se confiante. — Obrigado, Liane. Eu nã o podia ter me explicado melhor. Devo dormir no quarto de sempre, Marcello? Boa noite para você s dois. Marcello fez que sim, mas Raffaele já estava saindo dali, sem olhar para Liane novamente. — Você foi muito rude com ele. — ela disse, quando ficaram sozinhos. — Se você conhecesse meu primo como eu conheç o, també m seria rude. Oh, claro que ele parece encantador. Eu nã o duvido disso, mas Raffaele é um mau cará ter e seria bom você se lembrar disso. Liane arregalou os olhos com hostilidade. — Eu prefiro descobrir as pessoas por mim mesma, e Raffaele parece muito agradá vel. — Você é uma ingê nua. Nã o teve nenhuma experiê ncia na vida, ficou fechada lá naquele buraco... Acredite em mim, Liane, eu sei exatamente do que estou falando. Fique longe de Raffaele, ele nã o é de seu tipo. — Nem você. E entã o, o que me sobra? Pelo menos ele foi gentil e amigá vel. De você já nã o posso dizer o mesmo. Esta ú ltima hora que passei com ele foi a mais feliz, desde que cheguei aqui. — Você sabe o que pode fazer, nã o é? Nã o precisa ficar aqui. — Vou ficar por causa de Roberto. Ele me pediu, Este é o ú nico motivo. O sorriso dele agora era de pouco caso. — Tem certeza de que nã o é porque gostou da boa vida? Por acaso nã o estará pensando que meu pai vai colocá -la em seu testamento? — Como você é desprezí vel! Eu nunca pensei nisso. O dinheiro nã o me interessa, mas sim, a saú de de seu pai. Talvez você devesse prestar um pouco mais de atenç ã o a ele. — E você talvez deva tomar mais cuidado com o que diz! Ela sentiu que sua fú ria aumentava. Aquele homem nã o tinha nenhum direito de falar daquele jeito! Antes que percebesse, seu braç o já se havia levantado e dado um tapa no rosto dele. — Meu Deus! — ele exclamou, em italiano. Imediatamente ela sentiu sua reaç ã o. Ele lhe devolveu o tapa. Ela levou a mã o ao rosto e sentiu que queimava. Sentiu-se horrorizada, chocada e arregalou os olhos, mas continuou firme, sem se afastar. — Você se sente bem, batendo numa mulher? — Espero que responda ao mesmo tipo de pergunta. Mas devo admitir que você me pegou de surpresa. Nã o esperava isso. Você escondeu seu fogo. Vejo que terei que observá -la melhor, no futuro. Ela tinha surpreendido a si mesma. — Nã o acontecerá novamente. — ela disse tensa. Sentia o rosto quente, sob os dedos. A ú nica satisfaç ã o que tinha era saber que Marcello devia estar sentindo a mesma coisa. O rosto dele estava vermelho e isso fez com que ela se sentisse melhor. De repente, ele sorriu de um modo estranho. — Nã o posso garantir que nã o vou gritar com você outra vez. — Entã o tenho que manter meu terrí vel temperamento sob controle. Talvez, senhor, esteja interessado em saber que eu desconhecia ter um temperamento assim, até encontrá -lo. O rosto dele pareceu ficar mais suave. — Acho que há muitas coisas que nã o sabe sobre si mesma, Liane. Está começ ando a ser mulher e tem muito a aprender. — Espero que nã o pretenda ser o meu professor. O sorriso dele era muito perturbador. — Até que nã o seria má ideia. Ela se lembrou daquele beijo rá pido na beira da piscina. Uma sensaç ã o estranha surgiu na boca de seu estô mago. Sentiu um nó na garganta. — Como já disse que nã o sou nem um pouco atraente, acho que seria uma ideia terrí vel. — Talvez você prefira algué m como Raffaele... — Havia uma certa ironia nas palavras dele, como se soubesse que a resposta ia ser sim e nã o gostasse disso. — Pelo menos, ele é um cavalheiro. — Na aparê ncia, apenas. Você nã o o conhece. — Devo dizer que os poucos momentos que passei na companhia dele foram muito mais agradá veis do que o tempo que passei com você? — Ele tentou lhe dar uma cantada? — Que diferenç a isso faz? Marcello ficou mais sé rio. — Raffaele é o ú ltimo homem que eu sugeriria para lhe ensinar os fatos da vida. Ela fingiu uma risada. — Eu nã o sou tã o inocente assim! Eu sei que... — Era difí cil continuar com aquele homem olhando para ela com uma curiosidade tã o intensa. Mas ela sabia o que acontecia na vida, mesmo sem ter experimentado. Tinha lido muitos livros, visto muitos filmes, sabia o que acontecia entre um homem e uma mulher. — Claro que você sabe. Mas sabe como a gente se sente ao fazer amor? Tem uma ideia das sensaç õ es que um homem pode despertar numa mulher? — Nem sei se quero saber. Quando ele a segurou pelos ombros, ela foi pega de surpresa. Ele a apertou de encontro a seu corpo e ela sentiu que seu coraç ã o disparava. Quase perdeu o fô lego e dobrou a cabeç a para trá s, para poder olhá -lo, para poder protestar. Foi um erro. Ele segurou seu rosto com as duas mã os e beijou seus lá bios gentilmente. Tremores de emoç ã o a sacudiram, começ ando na garganta e percorrendo todo o corpo até as pontas dos dedos. Ela estremeceu e ele a afastou, murmurando algo suave em italiano. Entã o abraç ou-a com forç a outra vez e desta vez seus lá bios foram mais exigentes, procurando uma resposta, deixando que os beijos explorassem a pele suave do pescoç o dela. Liane sentiu que escorregava para uma mistura de ê xtase e de vontade de resistir. Mas era uma experiê ncia maravilhosa e, quando os lá bios dele procuraram os dela novamente, ela nã o conseguiu se controlar. Apesar de odiá -lo, sentia que ele estava despertando desejos que tinham permanecido adormecidos nela até aquele momento. Sentia-se deliciosamente feminina, e desejada, e fraca, encostada junto ao corpo dele, satisfeita com seus beijos, abrindo os lá bios involuntariamente, desejando que aquele momento nã o terminasse nunca. Quando os beijos se tornaram mais ardentes, ela sentiu um arrepio de medo. Ele era perturbador. Sabia exatamente o que queria e como conseguir. Tinha uma espé cie de poder má gico que fazia com que ela nã o pudesse resistir, mesmo sabendo que devia. Há quanto tempo o conhecia? Dois dias, nã o mais. Entretanto, ali estava ele, virando seu mundo de cabeç a para baixo, mostrando-lhe um outro lado da vida, do qual até entã o nã o tinha notí cias. O coraç ã o dela começ ou a bater como um tambor, seus ouvidos latejavam e ela sentiu falta de ar. Novamente ele beijou seus ombros nus. Mas quando colocou a mã o por baixo de sua blusa de seda, segurando um de seus seios, ela lutou para se libertar e deu um grito. — Afaste-se de mim. Como se atreve?! — Você demorou muito para me mandar parar. Por quê? Estava gostando? Nã o... nã o responda. Eu sei que estava. E isso é só uma amostra dos prazeres que a aguardam. Avise-me quando quiser outra liç ã o. Disse isso e se afastou imediatamente, deixando-a morta de vergonha. Como devia achá -la vulgar! Por que nã o o havia empurrado? Como permitira que a manipulasse daquele jeito? Seu corpo parecia agir por conta pró pria. Tinha se tornado mais viva do que nunca, como se uma fonte de prazer borbulhasse lá dentro, impedindo que ela controlasse suas emoç õ es. Tinha tido sorte de voltar ao bom senso a tempo. O que podia ter acontecido, se nã o o impedisse? Será que aquilo era amor? Ou seriam apenas sensaç õ es fí sicas? Nã o podia amar um homem como ele! Entã o como havia gostado de suas carí cias? Cé us, ela tinha ouvido falar de outras garotas que dormiam com qualquer um, apenas pelo prazer do sexo! Esperava que nã o fosse como elas. Mas por que tinha gostado tanto dos beijos de Marcello, se nã o o amava? Estava espantada com o que tinha acontecido. Ficara chocada com sua pró pria sensualidade. Aquilo nã o podia acontecer novamente. Ela nunca mais devia permitir que ele se aproximasse. Ele era um homem perigoso.
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