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The Emerald Coast 2 страница



Estava ocupada demais, comparando os dois homens, e nem percebeu que tinham parado diante de uma porta. Marcello abriu-a.

As paredes de tijolos estavam nuas; a cama, baixa e simples, tinha apenas uma colcha, e a penteadeira e o guarda-roupa eram de mogno encerado. Apesar da simplicidade, era um quarto gostoso. Havia uma janela enorme em uma das paredes e alguns quadros enfeitavam as outras.

— Há um banheiro ali. — ele disse, indicando uma porta. — Eu a encontro na sala, lá embaixo, dentro de alguns minutos.

Antes que Liane respondesse, ele já tinha saí do. Ela fechou a porta, sentindo-se muito cansada.

Talvez um banho a fizesse relaxar, antes do jantar com sr. Malaspina. No banheiro, ficou chocada com a pró pria aparê ncia. Parecia mesmo a ó rfã desamparada a que Marcello havia se referido.

Seus olhos estavam enormes e com olheiras; os cabelos, oleosos e despenteados. Tinha um ar paté tico e se sentia assim. Lá grimas começ aram a descer pelo rosto.

Em vez de tomar um banho, simplesmente lavou o rosto; depois, despiu-se e vestiu uma camisola. Em seguida, entrou na cama. Nã o ia conseguir enfrentá -los novamente, naquela noite. Nã o podia. Em alguns minutos, tinha adormecido.

Quando acordou, estava claro. O sol se filtrava pela janela, chegando até a cama. Ela deu um pulo e foi até a janela, olhando a paisagem lá fora.

Estavam no alto de uma montanha que dava para uma floresta. Lá embaixo, o porto cheio de iates. E um mar incrivelmente azul, pontilhado de ilhotas. Era lindo demais, diferente de tudo o que tinha visto antes.

Tomou um banho, vestiu-se, escovou os cabelos e viu que seus olhos brilhavam. A escada levava ao hall, todo enfeitado com plantas e com uma mobí lia simples. Desceu uma escadinha e chegou à saleta onde estava servido o café da manhã.

O dono da casa já estava lá. Olhou-a carinhosamente quando entrou.

— Buon giorno. Liane, perdoe-me se nã o me levanto. Espero que tenha dormido bem. Estava muito cansada, ontem.

— Desculpe nã o ter descido para o jantar.

— Eu entendo.

Mas ela achou que ele nã o compreendia. Nã o tinha sido apenas o cansaç o. Era també m medo do futuro, medo da grandiosidade daquele lugar, medo de nã o combinar com tudo aquilo.

— Venha, sente-se. Tenho certeza de que deve estar com fome. Temos pã ezinhos e frutas. Ou será que prefere o café da manhã à inglesa?

— Pã ozinho está ó timo. O senhor tem uma linda casa. Nunca imaginei que fosse assim.

— É um pouco diferente dos ambientes a que estava acostumada, mas espero que seja feliz aqui. Marcello me disse que você ficou um pouco apreensiva, durante a viagem.

Imaginou o que exatamente o filho teria contado. Havia uma certa meiguice no velho; parecia realmente contente em vê -la e nã o se importava que nã o vestisse roupas bonitas.

— Foi estranho, porque eu nunca tinha viajado de aviã o. Achei muito gostoso.

— També m acho. E como se deu com meu filho?

Liane desviou os olhos, observando as á rvores pela janela, o sol brilhando nos ramos verdes e fazendo sombras no chã o da sala.

— Parece que nã o quer me contar. — ele insistiu.

Ela suspirou. Seria rude dizer que nã o tinha gostado do filho dele, mas devia mentir?

— Acho que ele nã o gostou da ideia de me ver morando aqui.

— Bobagem. Marcello gosta de garotas. Nã o há motivo para nã o gostar de que você more aqui.

Liane achou que seria mais prudente mudar de assunto.

— Vai me dizer como conheceu meus pais? Eu nunca soube disso. Por que nã o entrou em contato comigo antes?

— Eu amei sua mã e e sempre pensei que você poderia ter sido minha filha. Talvez, um dia, você consiga se imaginar nessa posiç ã o.

— Se a amava, por que nã o casou com ela?

Ele sorriu tristemente.

— Porque ela preferiu seu pai. Ela veio passar as fé rias aqui... Foi assim que nos conhecemos. Para mim, foi um romance de fé rias que significou muito, mas ela voltou para a Inglaterra e me esqueceu. Quando nã o respondeu mais à s minhas cartas, fui para a Inglaterra e descobri que tinha ficado noiva de seu pai. Ela o conheceu no aviã o, na viagem de volta. Apesar disso, continuamos amigos. Casei com uma inglesa como ela, uma loura de temperamento ardente que me abandonou depois de dois anos e fugiu com um americano. Os dois morreram num acidente de iate.

— Que histó ria triste!

— Tudo aconteceu há já muito tempo. A ú nica lembranç a que tenho dela é Marcello. Ele se parece muito com a mã e, algumas vezes.

— E meus pais, como eram? Só me lembro de que mamã e era uma pessoa feliz, que estava sempre rindo. Mas nã o me lembro de meu pai.

— Tenho uma fotografia; mais tarde, mostro a você. — Parecia cansado, e Liane imaginou de que doenç a estaria sofrendo. — Deve estar curiosa de saber por que a deixei passar toda a vida no orfanato, por que nã o mandei buscá -la antes, nã o é?

— Estou.

— Vou lhe dizer. Eu a queria. Queria muito. Mas havia algo que eu queria muito mais.

— O que era?

— Casar meu filho!

 

Capí tulo 2

 

 

Liane ficou pá lida. Olhou horrorizada para o sr. Malaspina.

— Eu achei que ia se assustar, mas, depois que pensar melhor no assunto, verá que a ideia nã o é má. Você vai ganhar uma famí lia e eu terei a filha que sempre quis. Você é igual a sua mã e... mais nova, menos experiente, mas se parece com ela, e é isso o que importa. Eu a quero em minha casa, Liane, pelo resto de minha vida.

— Mas nã o preciso casar com seu filho para isso, nã o é? Viverei aqui muito satisfeita. Gosto deste lugar, gosto do senhor. Só nã o gosto de seu filho. Alé m disso, ele deve ter muitas namoradas mais convenientes do que eu.

— É esse o problema. Ele tem muitas garotas. Nã o aprovo, mas nã o digo nada. Ele é maior e sabe o que faz. Espero que, com você aqui em casa, Marcello esqueç a as outras. Foi por isso que nã o mandei buscá -la antes. Se crescesse aqui, ele a veria como uma irmã, e nã o é isso o que eu quero.

— Acho que está me pedindo o impossí vel. Seu filho nã o gosta de mim e deixou isso bem claro durante a viagem.

O velho franziu as sobrancelhas e ficou com uma expressã o dura.

— Ele foi rude com você?

— Nã o exatamente, mas acho que nã o me considera de sua classe.

O homem pareceu ficar furioso: os olhos faiscaram e as mã os tremeram ligeiramente, quando segurou a xí cara.

— Como se atreveu? Vou ter uma conversa com ele. Gostaria que você tivesse me dito isso ontem à noite.

— Eu nã o devia ter dito nada, sr. Malaspina, mas fui forç ada. Por favor, nã o fale nada com ele, senã o vai pensar que estive reclamando.

— Vou garantir a ele que nã o foi nada disso. — Levantou o queixo no mesmo gesto agressivo do filho. — E, por favor, Liane, me chame de Roberto. Quero que sejamos amigos.

Ele estendeu a mã o sobre a mesa, com a palma virada para cima. E ali ela colocou a sua. Sorriu, trê mula.

— Muito bem... Roberto. — disse, com dificuldade.

— E vai chamar meu filho de Marcello ou Marc, se quiser. Espero que possamos ser uma famí lia feliz.

Ela duvidava que fosse dar certo. Duvidava muito. Mas fez que sim e sorriu, esperando que ele se sentisse satisfeito. Minutos depois aparecia Marcello.

— O que é isso? Ainda estã o tomando café? Nã o sabe que já está quase na hora do almoç o?

Roberto olhou friamente para o filho.

— Eu deixei que Liane dormisse... a viagem foi muito cansativa.

— Desculpe, eu nã o sabia que era tã o tarde.

— Claro que nã o sabia, garota. — Roberto sorriu confiante. — Nã o preste atenç ã o a meu filho. Creio que ele acha divertido humilhar você. Vou ter uma conversa com ele.

Marcello olhou preocupado para o pai.

— O que é isso? — Ele transferiu o olhar cheio de suspeita para Liane.

— Nã o tem nada a ver com ela. — disse o velho, rispidamente.

— Está claro que você nã o se sente feliz com a situaç ã o atual.

— Eu lhe disse isso, antes de ir buscá -la. — Marcello respondeu, també m rí spido.

— Já chega. Enquanto Liane estiver em minha casa, você vai tratá -la com toda a gentileza.

Marcello franziu as sobrancelhas e seu olhar endureceu mais, mas nã o disse nada.

— E espero que você a leve a passear, que a apresente a seus amigos e que a faç a se divertir. E nã o se esqueç a de que ela tinha um estilo de vida muito diferente.

O jovem olhou-a pensativo e seus olhos se estreitaram.

— Vou levar Luí sa para fazer compras, mais tarde. Talvez você queira vir conosco...

— Luí sa Rossi? Eu já disse que nã o aprovo essa jovem. E nã o acho que ela seja companhia para Liane.

— E desde quando você escolhe minhas amigas, papai? Eu gosto dela... apesar de você achar isso estranho. Aliá s, você parece ter mesmo um gosto excelente...

Roberto desatou a falar em italiano, depois disse à moç a:

— Perdoe, querida. Há momentos em que meu filho e eu nã o nos entendemos. Vi que você só trouxe uma mala. Talvez algumas roupas novas sejam uma boa coisa, nã o?

Ela gostaria de alguns vestidos novos, é verdade, mas preferia escolhê -los sozinha. Nã o gostaria de ir fazer compras com uma amiga de Marcello.

— Eu preferia ficar aqui, hoje, e descansar.

— Descansar? — Marcello riu. — Você acabou de se levantar! Bem, só sairemos à s cinco horas. As lojas fecham durante a tarde.

Entã o o velho disse:

— Veja como você se sente mais tarde, Liane. Compreendo que queira ficar aqui hoje. Tudo é novo demais, Por outro lado, quero que faç a amigos.

— Mas nã o Luí sa. — Marcello disse num tom amargo.

— Chega! — O pai respondeu. — Você sabe como me sinto e nã o vou falar mais nada.

O jovem saiu com raiva. Liane tomou o resto do café e falou:

— Acho que gostaria de dar uma olhada em tudo, Roberto. Posso dar uma volta pela casa?

— Claro, garota. Eu mesmo a acompanharei.

— Tem certeza de que quer isso? — volveu Liane. Ele parecia muito pá lido. Nã o tinha o rosto de um homem saudá vel.

Segurando as mã os dela. Roberto disse:

— Sua chegada me deu vida nova. Me sinto uma pessoa diferente.

— Estou contente com isso. — Ela o beijou no rosto, satisfeita. — Nunca tive ningué m que se importasse comigo. Obrigada por ter mandado me buscar.

Ele sorriu, contente.

— Sinto que vamos nos dar muito bem. Agora, por onde começ amos?

A casa era fascinante. Começ aram pela cozinha, espaç osa, clara e tipicamente italiana, com jarras, panelas de cobre, cebolas e alhos pendurados no teto. Roberto apresentou-a ao cozinheiro, Giorgio, que só falava italiano e um pouco de espanhol. Ele cumprimentou Liane com o mesmo calor e cortesia do patrã o.

A sala do computador era enorme. As portas de entrada eram de vidro e se abriam para uma linda varanda, muito fresca, cheia de plantas.

— A casa foi planejada para ser fresca no verã o e quente no inverno. O sol baixo do inverno brilha diretamente dentro dela; assim, temos o melhor das duas estaç õ es.

Havia dez ní veis diferentes, cada um atingido por escadinhas de poucos degraus ou rampas em espiral. O quarto de Roberto dava para um terraç o lá em cima, cheio de plantas coloridas.

— É tudo tã o lindo!

— Eu també m acho — ele disse, sorrindo, sentando numa das poltronas e indicando outra a ela.

Liane viu que ele estava ofegante; talvez nã o devessem ter andado tanto.

— Quer beber alguma coisa? — ela lhe sugeriu. — Vou pedir a Giorgio um suco de laranja. Ou prefere café?

— Suco de laranja está ó timo. — Roberto recostou-se e fechou os olhos. Apesar de conhecê -lo há poucas horas, Liane sentia que havia um laç o afetivo entre eles, como se fossem amigos há muito tempo.

A praia era visí vel dali e ela observou os iates que deslizavam pelas á guas.

— Marcello deve levá -la para velejar, um dia desses. Você vai gostar. Há muita coisa para se fazer aqui, garota. Estou começ ando a me sentir culpado por tê -la deixado em St. Morrow por tanto tempo, mas acho que foi para o seu bem.

Ele ficou em silê ncio e Liane percebeu que pensava nos planos de casá -la com o filho. Ficou preocupada novamente. De jeito nenhum poderia casar com um homem tã o perturbador como Marcello!

De qualquer modo, nã o estava pronta para o casamento. Ainda se via como uma crianç a... Roberto també m a via assim, pois a chamara vá rias vezes de garota. Ela precisava de mais experiê ncia, antes de pensar em criar sua pró pria famí lia. Sempre achara que um dia iria casar. Afinal, este é o sonho de toda menina, mas até entã o nã o havia se interessado pelo sexo oposto.

— Marcello falou a você sobre a ilha?

— A Costa Esmeralda? Sim, disse que foi desenvolvida pelo Aga Khan e que é habitada por pessoas muito ricas.

— Mas ele disse que há um controle rí gido sobre quem compra as terras e sobre as construç õ es?

Ela sacudiu a cabeç a.

— Ningué m pode construir em mais do que dez por cento da terra que comprou. Todas as plantas sã o cuidadosamente removidas antes da construç ã o e depois sã o replantadas. As linhas de telefone e os fios elé tricos sã o subterrâ neos, nã o há nenhum esgoto sendo despejado no mar e todas as casas devem ter uma arquitetura que combine com a paisagem. A maior parte das casas sã o té rreas e tê m jardins no telhado. Até mesmo os hoté is e lojas devem ser construí dos de modo a se integrar na paisagem.

— Isso nunca será estragado. — Liane comentou.

— É por isso que este lugar é lindo. Eu nunca conseguiria morar em outra parte.

Logo entraram na casa. O sol estava ficando quente e lá dentro a temperatura era mais fresca.

— Temos um piscina, se você quiser nadar. Nã o a usamos muito, pois Marcello prefere o mar, mas daqui até a praia é um pouco longe.

— Eu adoraria nadar. Quer vir comigo e ficar olhando?

— Eu ficarei olhando daqui de dentro. O calor está demais para mim.

Liane vestiu o maio e saiu correndo, mergulhando na piscina.

Aquilo foi um bá lsamo contra o calor e ela nadou bastante, mergulhando até o fundo. Era uma excelente nadadora e se sentia à vontade na á gua. Cruzou vá rias vezes a piscina antes de sair.

Entretanto, seu prazer cessou quando viu Marcello de pé, ao lado da piscina. Há quanto tempo ele estaria ali? Por que nã o tinha falado nada?

Ele segurou a toalha e a olhou de modo insolente, analisando a pele branca de seu corpo.

— Estou vendo que você faz alguma coisa bem, apesar do maiô antiquado. É assim que se vestia lá no orfanato de onde veio?

A ligeira ê nfase na palavra " orfanato" fez Liane estremecer.

— Eu nã o sei o que tem a ver com isso, sr. Malaspina. Pode me dar a toalha, por favor?

— Venha pegá -la. — ele disse, com os olhos brilhando.

Ela deu um passo para a frente e estendeu a mã o, mas, inesperadamente, ele puxou a toalha e ela caiu contra seu corpo. Com um dedo, ele lhe levantou o queixo e, antes que Liane soubesse o que ia acontecer, Marcello beijou-a.

O choque a deixou imó vel. Estava completamente rí gida. Nenhum homem a tinha beijado antes. Ondas de medo percorriam o seu corpo e ela sentiu que alguma coisa formigava dentro dela. Fechou os olhos.

No minuto seguinte, ele a soltou.

— Um beijo gelado, mas o que eu poderia esperar? Aqui, pegue. — Ele atirou a toalha. — Cubra seu corpo puro antes de começ ar a gritar que foi estuprada. Vejo que ficou ofendida.

— Seu pai está olhando.

— Meu pai nã o é minha babá. Eu faç o o que quero e, se ele é louco o suficiente para trazer uma jovem virgem para cá, deve saber quais as consequê ncias disso.

O coraç ã o de Liane disparou. Ela podia ser inocente, mas nã o teve nenhuma dificuldade para entender o que ele queria dizer.

— Eu acho que nã o iria magoar seu pai tanto assim.

— Você é mais esperta do que eu pensava. Está certa, eu nã o faria nada. Mas nã o digo que a ideia de descobrir como você é nã o me atraia.

— Talvez atraia você, mas nã o atrai a mim. Você nã o é meu tipo, sr. Malaspina.

— Pode me chamar de Marc. É menos formal.

— Marc, Marcello... nã o há diferenç a. O que importa é que você nã o vai me fazer de boba.

— Talvez você esteja certa. Meu gosto é mais sofisticado.

Liane ficou vermelha, diante do insulto.

— Desculpe. Vou trocar de roupa. — Saiu, deixando-o de pé na beira da piscina.

Quando ficou sozinha no quarto, nã o pô de deixar de se lembrar do beijo. Só de pensar, sentia-se quente. Será que isso sempre acontecia quando um homem beijava uma garota? Nã o gostava de Marcello; seu beijo nã o deveria tê -la deixado fria? Entã o, por que havia tido aquela reaç ã o? Revolta, talvez? Devia ser. Nã o havia outra explicaç ã o.

Quando ela voltou, o almoç o estava pronto, Marcello e o pai a esperavam.

— Você nada bem. — Roberto disse. — Gostaria de estar bem de saú de para acompanhá -la.

— Talvez logo você possa me acompanhar. Disse que estava se sentindo melhor.

— E estou. Estou mesmo, por sua causa. Vamos sentar? Eu estava dizendo a Marcello que ele deveria ter nadado com você. Ele també m nada muito bem. Teriam feito um lindo par.

Será que ele havia visto o filho beijá -la? Tinha certeza que sim. Teria ficado contente? Devia estar pensando que seus planos iam dar certo muito antes do que imaginara.

— Vou levar Liane para nadar no mar. — Marcelo disse inesperadamente. — É muito melhor. Mas primeiro ela precisa comprar um biquí ni. Nã o dá para ir com o maiô que ela estava usando hoje de manhã.

— Me pareceu ó timo. — disse o pai.

— Você está por fora da moda. Parece um daqueles maiô s obrigató rios em competiç õ es... nã o tem nenhuma classe.

Liane concordava. Claro que nã o podia ir à praia vestida daquele jeito. Iam rir, e ela nã o pretendia se humilhar.

Durante a refeiç ã o, ela ficou em silê ncio, apreciando a comida. Havia linguiç a defumada da Sardenha e ravió li, maç ã s assadas, vinho e um queijo picante chamado pecorino sardo, feito de leite de ovelha.

Depois de terminarem, Roberto avisou que ia repousar durante algumas horas.

— Eu aconselho que faç a o mesmo. — Marcello disse — se quiser estar pronta para as compras desta tarde. O calor é muito cansativo e deixa as pessoas nervosas, principalmente as que nã o estã o acostumadas a ele.

Liane foi para o quarto. Ali estava bem fresco; ela tirou o vestido, deitou e dentro de pouco tempo estava dormindo.

Acordou com batidas apressadas na porta.

— Está acordada, Liane? — Era Marcello.

— O que você quer?

— E hora de se aprontar.

— Nã o quero ir. — A ideia de comprar roupas com ele a aterrorizava.

A porta se abriu e ela gritou:

— Saia! Saia! Você nã o tem nenhum direito de entrar aqui.

— Dio! Eu vi você de maiô, hoje de manhã. Que diferenç a faz? — Ele parecia zangado, mas de repente sorriu. — Estou contente em ver que o sutiã e a calcinha sã o mais femininos. Você me deixou preocupado...

Liane pegou o travesseiro e o atirou nele.

— Se você nã o sair, vou chamar seu pai!

Ele pegou o travesseiro no ar.

— Eu só estou dizendo que é hora de se levantar. — Ele se aproximou da cama e ela se encolheu, arregalando os olhos.

— Relaxe, estou só devolvendo o travesseiro. — Mas, durante alguns minutos, ele ficou olhando para ela e Liane experimentou novamente uma sensaç ã o esquisita.

Ficou aliviada quando ele saiu. Tomou um banho rá pido, envergou seu melhor vestido, de saia franzida e todo abotoado na frente. Quando entrou na sala, Marcello sorriu, irô nico.

— Ah, a virgem pura! Está tentando ganhar um ponto, nã o é? Luí sa vai ficar impressionada.

Como gostaria de escapar daquele passeio! Se era tã o importante que tivesse roupas novas, preferia escolhê -las sozinha.

— Onde está seu pai?

— Ele vai dormir mais uma hora. Se está pronta, vamos. Luí sa odeia esperar.

Agora Marcello dirigia. Era um carro esporte, aberto, e ele corria como um louco, fazendo Liane se agarrar na beirada do banco.

Luí sa morava em Olbia, onde iam fazer as compras. Ela já estava esperando, quando chegaram. Cumprimentou Marcello calorosamente, mas seu sorriso desapareceu quando viu a garota ao lado dele.

Disse alguma coisa em italiano. Marcello segurou-a pelo braç o e respondeu em seu inglê s perfeito:

— Ela é a amiga de meu pai. Você se lembra? Eu lhe falei sobre ela.

— Lembro, mas nã o pensei que fosse tã o... jovem. — Os olhos escuros da moç a brilharam e ela jogou para trá s os cabelos negros num gesto orgulhoso. — Apresente-me, Marcello.

— Luí sa, esta é Liane Chandler. Liane, esta é Luí sa, uma grande amiga minha. — Ele olhou para a morena e havia uma tal intimidade entre eles que Liane se sentiu aborrecida.

— Você veio fazer compras conosco, Liane?

— A pequena orfã zinha precisa de vestidos. — Marcello sorriu — E eu achei que você poderia ajudá -la a escolher alguma coisa.

O comentá rio fez Liane estremecer e as coisas nã o melhoraram quando Luí sa disse:

— Claro que posso fazer isso, querido. Onde você comprou essa coisa horrí vel, menina?

— Lamento que você nã o goste. — Liane respondeu, furiosa. — Eu gosto muito. Se nã o se importa, Marcello, vou esperar no carro. Resolvi que nã o preciso de nada.

Começ ou a se afastar, tremendo de raiva. Estava profundamente humilhada. Nunca ningué m lhe havia falado daquele jeito antes. Será que eles nã o tinham educaç ã o? Podiam ser ricos, mas nã o tinham a consideraç ã o das pessoas que ela havia conhecido na Inglaterra.

A mã o de Marcello desabou em seu ombro e ele a forç ou a encará -lo.

— Nã o vire as costas para mim! — O rosto dele estava sombrio. — Você vai fazer compras comigo e com Luí sa, querendo ou nã o. Nã o vamos voltar para casa até que tenha um guarda-roupa perfeito.

A morena nã o parecia zangada, mas indiferente. Ou estaria se divertindo?

— Nã o seja duro com a menina, Marc. Ela está certa. O vestido é bonito. Foi você que fez, querida?

Aparentemente ela estava sendo simpá tica, mas o tom de voz era pior do que as palavras duras de Marcello. Liane se sentiu desanimada. Toda a vontade de brigar tinha desaparecido. Olhou para o chã o e esperou o pró ximo ataque.

Ele suspirou lentamente e a segurou pelo braç o.

— Vá na frente, Luí sa. Você sabe aonde vamos.

Com Luí sa caminhando na frente e ele praticamente arrastando Liane, os trê s saí ram andando. Liane estava resolvida a nã o se entusiasmar com nada, mesmo que fosse o vestido mais fantá stico do mundo.

A loja era diferente de todas as que conhecia, luxuosa e finamente decorada. Os vestidos foram trazidos e Liane viu que nã o gostava deles, antes mesmo de experimentá -los.

O estilo sofisticado das roupas combinava com Luí sa, mas ela sentia que elas iriam transformá -la em algo que nã o era. Mas sabia que era melhor nã o discutir. Marcello escolheu uma porç ã o delas, embora Liane soubesse que nunca as usaria.

Depois vieram os biquí nis. Luí sa insistiu em que precisava de pelo menos quatro, mais as saí das de praia. Eram tã o pequenos que Liane nunca deixaria ningué m vê -la vestida com aquilo.

Quando terminaram as compras, sentia-se exausta e suada. Estava resolvida a nunca mais ir fazer compras com os dois.

— Acho que você está precisando beber alguma coisa. — Marcello disse. — Está exausta, nã o é? Mas a maior parte das garotas ficaria deliciada com tantas coisas novas.

Liane o olhou friamente.

— Sei que deveria me sentir agradecida; lamento nã o estar. Seu pai é muito gentil. Vou pagar a ele assim que puder.

— Ele nã o vai gostar disso. É tudo um presente; aceite de bom grado, garota.

Garota! Quando o pai dele a chamava assim, era um elogio. Mas quando ele dizia isso, era um insulto. Os olhos dela ficaram vermelhos de raiva.

Na calç ada do café, encontraram outros amigos, algumas garotas que olharam com curiosidade para Liane.

— É uma orfã zinha que meu pai adotou. — Ele disse como apresentaç ã o.

Ela o olhou furiosa, antes de conseguir sorrir para os outros. A maior parte das garotas usava o sutiã do biquí ni e short, e estavam bem bronzeadas.

Olharam para ela como se fosse algo que ningué m tivesse visto antes. Observaram sua pele clara, seu vestido e o corpo delicado. Entã o, uma delas disse alguma coisa em italiano e as outras caí ram na gargalhada. Liane sentiu lá grimas nos olhos e tudo ficou muito pior quando Luí sa falou:

— A pobre garota nã o tem nada para usar, Nó s a levamos para fazer compras. Garanto que você s vã o ficar espantadas, quando a virem da pró xima vez.

Outra frase em italiano e mais gargalhadas. Entã o Liane disse a Marcello:

— Acho que prefiro ir para casa.

— Ainda é cedo. Vamos sentar. O que você quer: um milk-shake ou um suco de frutas?

— Um milk-shake está bem. — ela respondeu, baixinho, se mexendo nervosa na cadeira que uma das garotas tinha trazido. A conversa prosseguiu. Tentou parecer à vontade. Gostaria que conversassem em inglê s. Achava que todos estavam falando dela, em italiano.

De vez em quando percebia que Marcello a olhava, como se estivesse pensando em alguma coisa. No que seria? Será que ele desejava convencer o pai a mandá -la embora?

Ela sentia que nã o combinava com aquele grupo. Todos tinham muita confianç a em si, eram sofisticados, ricos e nã o tinham nada a fazer a nã o ser gastar dinheiro e se divertir.

Ficou aliviada quando Marcello sugeriu que fossem embora. Nunca tinha passado uma hora tã o terrí vel.

Todos protestaram quando ele se levantou.

— Tem mesmo que ir, Marc? Há um baile no Tê nis Clube e nó s vamos mais tarde. Venha conosco.

Ele olhou preocupado para Liane.

— Eu sei voltar sozinha. — Ela disse depressa. — Nã o estrague seu programa.

— Meu pai nã o gostaria disso. Talvez eu me encontre com você s depois.



  

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