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CAPÍTULO VII



— Adeus, minha querida Amelie. Nã o tenho palavras para lhe agradecer suficientemente o que você fez por mim.

— Vou sentir uma falta enorme de você, da mesma forma que William sentirá falta de Iain, mas sabemos que você s dois serã o muito felizes.

Enquanto as duas se abraç avam, no interior do vagã o, William Sleeman, que se encontrava na plataforma, estendeu a mã o para Iain Huntley.

— Nem é preciso que lhe recomende tomar conta de Brucena. Sem você, as coisas já nã o serã o as mesmas, mas sei que você tem um grande futuro à sua frente.

— Se for assim eu o devo ao senhor. Devo-lhe confessar com toda sinceridade que nunca passei dois anos tã o agradá veis quanto aqueles em que estivemos juntos.

— Pelo menos fomos muito bem-sucedidos. Nã o há quase mais nada a fazer, exceto aprisionar os poucos thugs que ainda sobram. Tenho, poré m, certeza de que eles já perderam toda a audá cia.

Brucena pegou o buquê de noiva, que estava sobre o assento, e colocou-o nas mã os de Amelie.

— Caso nã o consiga enviar-lhe flores, quando o nenê nascer, gostaria de imaginar que estas serã o as primeiras que ele ou ela receberã o.

Amelie sorriu, um tanto comovida.

— Quanta gentileza de sua parte! Vou colocar muitas destas flores dentro de livros, de maneira que possa mostrá -las a meu filho ou minha filha quando eles crescerem.

Ambas sorriram um tanto envergonhadas, como se sentissem um certo constrangimento por serem tã o sentimentais.

William Sleeman perguntou, na porta do vagã o:

— O guarda está perguntando se pode dar partida no trem, Amelie. A menos que você queira seguir com o casal em lua-de-mel, sugiro que acabem de se despedir!

Amelie beijou Brucena mais uma vez.

— Você está linda, querida! Independente do que você possa dizer, sei que nã o se passarã o muitos anos antes que você esteja morando em algum palá cio governamental e receba o tí tulo de milady!

Desta vez Brucena nã o protestou, limitando-se a sorrir. Primo William ajudou sua mulher a descer do vagã o e Brucena beijou-o.

— Adeus, primo William. Obrigada é uma palavra muito pouco apropriada. Sei apenas que a Í ndiaé o paí s mais maravilhoso deste mundo.

Olhou para seu marido, enquanto falava, e acrescentou:

— Sobretudo por que ela me proporcionou Iain...

William voltou-se para o chefe da estaç ã o que estava perto deles.

— Tem minha permissã o para dar a partida.

— Muito obrigado, capitã o sahib — retrucou o guarda e levando o apito à boca, começ ou a agitar a bandeirinha.

Os sipaios impediam a multidã o de avanç ar e esta contemplava excitada a partida de Brucena e Iain.

Um noivo e uma noiva sã o sempre uma atraç ã o em qualquer paí s e os trajes elegantes de Brucena haviam provocado exclamaç õ es de entusiasmo por parte das mulheres indianas envoltas em seus sá ris coloridos.

A má quina desprendeu uma nuvem de fumaç a e no momento em que Iain subia no vagã o e trancava a porta, enquanto seus criados faziam o mesmo, ouviu-se exclamaç õ es de jú bilo por parte de todos aqueles que estavam olhando.

Enquanto o trem se afastava da plataforma, Brucena debruç ou-se na janela, com os olhos marejados de lá grimas, e acenou para primo William e Amelie.

Somente quando as rodas começ aram a girar com mais velocidade e a fumaç a começ ou a obscurecer sua vista Iain fechou a janela. Brucena pô s-se a contemplá -lo, oscilando ligeiramente de acordo com o movimento do trem. Iain entã o a atraiu para seus braç os, beijando-a. Nã o foi um beijo prolongado, pois à medida que o trem adquiria maior velocidade eles foram obrigados a sentar-se. As cores subiram ao rosto de Brucena e seus olhos se iluminaram.

— Estamos casados! — ela disse baixinho. — Estamos casados de verdade! — murmurou.

— Você receava que algo fosse interferir no ú ltimo momento? — indagou Iain.

— No que lhe diz respeito, nã o tenho certeza de nada. Como é que eu podia adivinhar que algum dia iriam lhe oferecer este posto esplê ndido no palá cio do governador-geral?

— Você deve agradecer a seu primo. Mandou um relató rio tã o favorá vel que nenhum governador-geral poderia ignorá -lo, sobretudo lorde William Bentinck, que estava particularmente interessado em nossa missã o.

— O que quer que primo William tenha escrito, estou certa de que nã o exagerou...

Iain sorriu e tomou-a em seus braç os, dizendo:

— Receio, meu bem, que você tome demais o meu partido, mas quero que as coisas sejam exatamente assim.

Desatou os laç os que prendiam seu chapé u e, retirando-o, colocou-o sobre o banco vazio.

Brucena ficou à espera de seu beijo, mas ele ficou a contemplá -la e disse:

— Nã o posso acreditar que algué m seja tã o bela... Foi aliá s o que pensei, a primeira vez que nos encontramos em um vagã o.

— Nó s nos conhecemos em um vagã o e estamos começ ando nosso casamento em outro. Imagino que se trata de um capricho do destino, mas nã o sei o que significa exatamente.

— Significa que eu a amo e que você é minha mulher... Você é linda e nã o tenho certeza se, devido a isto, fui sensato em aceitar um cargo junto ao governador-geral.

Brucena olhou para ele intrigada e ele explicou:

— Se eu a surpreender olhando para outro homem ou dando ouvidos aos elogios que fatalmente receberá juro que a levarei de volta para Saugar e lá permaneceremos até o fim de nossos dias!

— Nã o me importa onde estivermos, contanto que eu fique a seu lado...

Havia uma nota de sinceridade no tom com que ela se exprimia. Iain beijou-a e foi impossí vel dizer algo mais.

Somente mais tarde, Brucena teve tempo de pensar o quanto sua vida havia mudado da noite para o dia e nã o somente porque ela havia desposado Iain.

Tomou conhecimento da importâ ncia de sua atitude ao partir juntamente com Nasir até Selopa, a fim de prevenir primo William da traiç ã o de lorde Rawthorne.

Tinha razã o ao suspeitar de que ele pretendia alertar os thugs sobre sua captura iminente.

Pior ainda, ele havia dito a seu mensageiro que os informasse de que deveriam lutar por suas vidas, nem que isto implicasse na destruiç ã o de quaisquer pessoas.

Era um convite direto ao assassinato e Brucena sentiu-se até certo ponto culpada. Devido a ela, ele entregara-se à quela aç ã o censurá vel, a fim de destruir o homem com quem ela desejava casar.

— Como foi possí vel ele portar-se de modo tã o criminoso? — exclamou, ao ficar sabendo das instruç õ es de lorde Rawthorne.

Ficou em seguida consternada ao constatar que um homem se dispusesse a cometer um assassinato a sangue-frio. Iain enlaç ou-a pela cintura.

— Acho, querida, que temos de ser generosos e aceitar que a paixã o que ele sentia por você destruiu seu equilí brio e sua sensatez.

— Conheç o palavras mais desagradá veis para descrever melhor o seu comportamento — comentou William Sleeman secamente.

— Eu també m — admitiu Iain -, mas acho francamente que nã o faz muito sentido dizê -las.

O olhar de Brucena, perplexo, dirigiu-se para um e outro homem.

— Estã o querendo dizer que vã o deixar lorde Rawthorne escapar impunemente? Você s com certeza informarã o o governador-geral! Pelo menos, devem intimá -lo a dar uma explicaç ã o, nã o é mesmo?

William Sleeman ficou em silê ncio durante alguns momentos e entã o disse:

— Nã o, Iain tem razã o, Brucena. Nada pode ser obtido atravé s de um escâ ndalo e será muito mais digno para nó s fingir que nã o tí nhamos a menor idé ia de que ele estava envolvido nessa histó ria que, graç as a você, minha querida, terminou da melhor maneira possí vel.

— Quer dizer que se eu nã o tivesse chegado lá, antes do enviado de lorde Rawthorne...

— A histó ria teria sido muito diferente — comentou Iain, pois desejava impedi-la de prosseguir. — Como você bem sabe, Nasir contou para seu primo por que você veio, revelando igualmente qual era a senha que permitiria aprisionar os thugs, antes que eles nos atacassem.

Brucena verificou mais tarde que aquela histó ria tinha vá rias implicaç õ es.

Por meio de espiõ es de Gwalior, Iain descobriu que os dois ú ltimos lí deres dos thugs em sua proví ncia haviam combinado um encontro em um dos dias especiais dedicados a Kali.

Soube que o encontro se realizaria em um pequeno bosque conhecido há vá rias geraç õ es como sendo um bele ou um esconderijo dos thugs, onde praticavam o estrangulamento.

Era exatamente no lugar onde Brucena fora encontrá -los que, durante sé culos, centenas, talvez milhares de viajantes inocentes tinham sido assassinados.

Houvera uma grande feira em Selopa e os thugs sabiam que o bele situava-se em um lugar estraté gico. Era mais do que prová vel que os viajantes se detivessem lá para um descanso, antes de prosseguir viagem.

Os thugs esperavam que o grupo fosse numeroso e estariam prontos para colocar em prá tica sua té cnica mortí fera, por meio de um lenç o de seda amarela.

Quando as ví timas estivessem mortas, cortariam os corpos por meio de talhos rituais e os enterrariam sob as á rvores, rendendo assim homenagem à sua deusa por meio de um sacrifí cio, graç as ao qual obteriam grande mé rito.

Este acontecimento seria relatado a todos os thugs das redondezas e restabeleceria seu poder, que tinha sido consideravelmente reduzido pela perseguiç ã o que William Sleeman movera aos muitos seguidores do culto.

Fora um ato de desafio, um ato que poderia desfazer o trabalho empreendido com sucesso nos dois ú ltimos anos.

Mais ainda, se o mensageiro de lorde Rawthorne chegasse antes de Brucena e conseguisse informar o lí der dos thugs, sua vitó ria poderia transformar-se facilmente em uma derrota trá gica.

Aos thugs restariam duas alternativas: ou desaparecer ou começ ar a estrangular seus companheiros de viagem, antes que os homens de Sleeman, disfarç ados, estivessem prontos para reagir.

Eles, no entanto, foram pegos de surpresa. Graç as à esperteza de William Sleeman e Iain, já tinham sido enganados, acreditando que as pessoas acampadas junto ao bele nã o passavam de inocentes viajantes.

O primo William achou justo que Brucena entendesse exatamente o que havia acontecido. Contou-lhe como, antes de chegar a Selopa haviam deixado seus cavalos escondidos em um lugar previamente escolhido.

Lá tiraram seus uniformes e vestiram trajes usados pelos camponeses de outra regiã o da proví ncia.

Carregando mercadorias, haviam se infiltrado na cidade, vendendo seus produtos. Voltaram a encontrar-se novamente só no fim do dia. Trazendo um camelo que Iain havia adquirido e vá rios burricos, percorreram a estrada, comentando que tinham ganho bastante dinheiro e que tinham sido muito bem-sucedidos na feira.

William Sleeman dera instruç õ es tã o precisas a seus comandados que eles desempenharam seus papé is com perfeiç ã o, a partir do momento em que se livraram dos uniformes.

Durante quase trê s anos, incutiu neles a noç ã o de que uma palavra descuidada, um momento de desatenç ã o, quando estivessem em guarda, poderia resultar nã o somente em suas mortes, mas també m na morte de seus camaradas.

Quando chegaram ao bele discutiram durante algum tempo se deveriam acampar lá durante a noite ou se deveriam ir mais adiante.

Pelo visto nã o havia ningué m por perto, mas havia capoeiras onde os homens poderiam estar escondidos, alé m do que as á rvores formavam uma mata cerrada.

Estavam ainda em pleno debate quando um grupo numeroso de viajantes veio a seu encontro. Perceberam muito bem que se tratava dos thugs.

— Você s estã o acampados aqui? — perguntou um deles.

— Ainda nã o decidimos — replicou Iain em um urdu perfeito.

— Há espaç o para todos nó s — disse o thug. — Ainda estamos muito longe de casa.

— Caso queiram prosseguir viagem, compreendemos perfeitamente — replicou o thug.

Um coro bem treinado protestou que estavam todos muito cansados e nã o conseguiriam ir adiante. Finalmente apó s grandes discussõ es, que os indianos, aliá s, tanto apreciam, concordaram em acampar juntos.

Mais um grupo pequeno de thugs juntou-se a eles e William Sleeman e Iain notaram que eles conversavam animadamente, contando muitas histó rias.

Quando finalmente prepararam-se para dormir, os thugs acomodaram-se ao lado dos companheiros a quem acabavam de conhecer. Somente William e Iain insistiram em abrigar-se sob astendas, o que era bastante compreensí vel, visto que estavam vestidos como mercadores mais ricos e importantes.

Tinham deixado patente que grande nú mero dos viajantes eram seus empregados e que a eles pertencia o camelo.

William Sleeman deu instruç õ es a seus homens no sentido de nã o iniciar logo a luta, se é que elaia desenrolar-se.

Queria ter certeza absoluta de que os thugs pertencentes aos dois lí deres estivessem presentes e també m planejava surpreendê -los, se possí vel com um lenç o amarelo nas mã os.

Se acaso escondessem um lenç o, isto seria prova mais do que suficiente para entregá -los à Justiç a.

Surpreender um thug no ato de cometer um assassinato resultaria em seu enforcamento ou em sua condenaç ã o à prisã o perpé tua.

No entanto, quando Nasir os preveniu de que os thugs estavam na iminê ncia de serem avisados da emboscada, compreenderam que nã o havia o menor tempo a perder.

Pegos completamente de surpresa, nenhum dos thugs tentou fugir. Lutaram intrepidamente e muitos morreram.

Os demais foram levados para a prisã o em Saugar. Os dois lí deres e os homens mais importantes foram, na semana seguinte, condenados à forca.

Os demais receberam marcas no corpo. O fato de que uma operaç ã o tã o importante tivesse sido levada a efeito sem que um só thug conseguisse escapar produziu um efeito tã o impressionante sobre a populaç ã o local que William Sleeman exclamou jubiloso:

— Aqui termina praticamente minha missã o!

Brucena nã o se conteve e soltou um grito de alegria. O relató rio de William foi levado à s pressas para o governador-geral.

O resultado imediato foi que Iain Huntley recebeu um cargo junto a lorde William Bentinck.

«Aquilo fora quase que uma resposta a suas preces», pensou Iain. «Apesar de querer desposar Brucena imediatamente, havia dificuldades em encontrar um bangalô nas redondezas de Saugar que fosse apropriado para ela».

Sentia també m que, apó s tudo o que ela passara, acharia difí cil nã o se angustiar sempre que ele se afastasse dela, mesmo que fosse por uma noite.

Sabia que ela disfarç aria e nã o demonstraria seu temor. Intuí a també m o quanto ela havia sofrido quando ele foi deixado em Gwaliior. Tinha muitos receios, mas unicamente no que dizia respeito a ele, Iain.

Quando, finalmente, os thugs sobreviventes temiam por suasvidas, enquanto os sipaios os amarravam, ele fora até a tenda e lá surpreendeu Brucena ajoelhada, de mã os postas, orando.

Teve vontade de tomá -la nos braç os, mas percebeu que seus trajes estavam manchados de sangue. Os thugs haviam lutado como feras, usando as facas com que mutilavam suas ví timas.

Em vez disso estendeu as mã os e disse calmamente:

— Está tudo acabado, querida. Agora podemos voltar para casa.

Depois disso queria desesperadamente oferecer a Brucena umavida diferente, muito embora soubesse que nã o conseguiria ser feliz em qualquer outro lugar que nã o fosse a Í ndia.

O convite do governador-geral nã o foi apenas muito oportuno como també m muito entusiasmante.

Iain sabia que significava nã o somente uma promoç ã o imediata, mas també m o primeiro passo que o levaria talvez a tornar-se residente de uma proví ncia. Caso fosse esperto ou tivesse uma sorte excepcional, poderia mais tarde ser nomeado tenente-governador provincial.

Para Brucena, a ú nica coisa que importava era o fato de que poderiam casar antes que Iain partisse para Calcutá.

— Você nã o partirá sem mim, nã o é? — perguntou ansiosamente.

— Entã o, imagina que a deixaria aqui?

Seguiu-se entã o aquela atmosfera de excitaç ã o que envolvia os preparativos do casamento. Precisava arranjar dentro de poucos dias um vestido que nã o a desmerecesse perante os olhos de Iain.

Felizmente, Amelie tinha um vestido de noite que seu pai lhe enviara recentemente. Devido à gravidez adiantada, tornou-se impossí vel usá -lo.

— Você deveria guardá -lo e usá -lo depois que a crianç a nascer — protestou Brucena.

Amelie riu.

— Pedirei a papai que me mande um outro. Alé m do mais, nã o há nada mais importante do que o fato de que você deve ser uma linda noiva aos olhos de Iain. Felizmente, ainda tenho algumas rendas, que podemos facilmente transformar em um vé u.

Uma coisa foi certa: a pequenina igreja de Saugar jamais viu um casal tã o bonito e quando Brucena entrou nela, dando o braç o ao primo William, notou no olhar de Iain que ela era tudo o que ele sempre desejara.

A cerimô nia foi muito comovente e ela rezou para que pudesse tornar Iain um homem feliz.

Estavam tã o ligados um ao outro que ela sentiu que ele rezava no mesmo sentido.

Quando assinaram o livro na sacristia e ele levantou seu vé u em um gesto simbó lico e a beijou, ela sentiu que era um momento de entrega e que ele estava lhe dando ao mesmo tempo a alma e o coraç ã o.

Todos foram beber à saú de dos noivos no bangalô. Brucena, logo em seguida, trocou apressadamente de roupa, pois caso contrá rio perderiam o trem.

Seria uma lua-de-mel muito estranha, pois atravessariam boa parte da Í ndia em direç ã o a Calcutá.

Apesar de iniciarem a viagem por trem, talvez tivessem de recorrer a diversos meios de locomoç ã o.

Havia ainda poucas ferrovias na Í ndia, apesar de os ingleses estarem muito ocupados, construindo linhas entre as cidades mais importantes.

Naquele dia cobririam apenas uns sessenta quilô metros viajando de trem. Dormiriam entã o em um bangalô que lhes tinha sido emprestado, e partiriam dois dias mais tarde, pela estrada, até a pró xima parada.

Já estava ficando tarde, quando pararam na pequena estaç ã o onde deveriam ficar.

Os amigos de Willí am Sleeman, que haviam emprestado o bangalô, encontravam-se em Bombaim, poré m seus criados haviam trazido um coche até a estaç ã o, nele abrigando os viajantes e sua bagagem.

Atravessaram uma regiã o muito arborizada e chegaram até a casa construí da ao lado de um pequeno lago. Estava rodeado de flores e Brucena ficou deliciada ao vê -lo.

Enquanto os criados providenciavam alguns refrescos eles ficaram um ao lado do outro na varanda. O sol se punha, colocando reflexos dourados no lago e nos compridos bancos de areia.

Todas as á rvores e juncos tornavam-se da cor do abricó, como um prelú dio à noite cor de opala que se aproximava.

— É tudo tã o belo... — murmurou Brucena.

— Como você, minha querida — disse Iain.

Ele se exprimia de um jeito tal que seu coraç ã o começ ou a palpitar tumultuosamente.

Quando Brucena recolheu-se a seu quarto um pouco mais tarde, achou-o atraente e muito confortá vel. A grande cama de casal, coberta por imensos mosqueteiros, assemelhava-se a uma antiga caravela e deixou-a ruborizada.

Ficou parada por um momento pensando que era o primeiro" lar" que ela e Iain teriam e que devia fazer alguma coisa para torná -lo mais pessoal.

Já havia pensado nisso, em meio à excitaç ã o provocada pelos preparativos do casamento e em sua bagagem havia incluí do um retrato de sua mã e e uma colcha com bordados magní ficos.

Fora obra de Amelie e era feita de musselina e renda. Segundo ela, tratava-se de um presente de Natal para algué m lá de Mauritius.

Dera-a poré m para Brucena e com ela veio um pequeno travesseiro igualmente rendado.

Apó s colocar a colcha e o travesseiro na cama ela sentiu que o quarto adquiria um toque que fazia parte de sua personalidade.

Tinha també m com ela um presente que achava mais precioso do que tudo que havia recebido: o assovio que Azim lhe dera pouco antes de partirem.

Sabia que era seu bem mais valioso e que portanto nã o devia magoá -lo recusando a oferta.

No momento em que o colocava ao lado do retrato de sua mã e, prometeu para si mesma que o guardaria durante toda a vida e talvez algum dia contaria para seus filhos como o objeto fora parar em suas mã os.

Olhou à sua volta com um suspiro de satisfaç ã o. Lembrou-se de que Iain deveria estar à sua espera e deixou que a criada indiana a ajudasse a colocar seu mais belo vestido de noite. Como nã o possuí a jó ias colocou uma orquí dea branca nos cabelos.

O olhar de Iain exprimia admiraç ã o e amor quando ela entrou na sala de visitas. Constatou que ele havia vestido o uniforme de gala dos Lanceiros de Bengala.

— Agora sei porque fiquei esperando durante meio sé culo, mas valeu a pena! — comentou Iain.

— Eu demorei tanto assim? Queria ficar bonita para você... hoje à noite.

— Bonita é uma palavra muito pouco adequada para descrevê -la, querida!

Os criados estavam esperando para servir o jantar e ele nã o teve a menor oportunidade de beijá -la. No entanto, quando se sentaram diante um do outro, Brucena sentiu como se estivesse aninhada em seus braç os. Seus olhos diziam tudo o que os lá bios nã o conseguiam pronunciar.

Nã o tinha a menor idé ia do que eles comiam ou bebiam. Sabia apenas que estava vivendo em um mundo encantado no qual habitavam unicamente duas pessoas, ela e Iain.

Quando regressaram à sala de visitas, os lampiõ es iluminavam-na, com uma luz dourada e suave, enquanto lá fora as estrelas brilhavam como jó ias engastadas no cé u.

Havia tanto o que conversar, tantas coisas que ela desejava saber e que somente Iain poderia contar que o tempo voou.

Quando finalmente se deu conta de que estava ficando tarde Brucena percebeu, pela expressã o estampada no rosto de Iain, que nã o havia mais necessidade de falar.

Ele estendeu as mã os e ajudou-a a levantar-se.

— Está na hora de você ir para a cama, meu amor. Diga à sua criada que nã o fique esperando por você, pois quero que fiquemos sozinhos.

— É o que eu també m... desejo — ela teve vontade de dizer, mas sentiu-se envergonhada.

Em vez disso escondeu o rosto em seu pescoç o.

Ele beijou-lhe os cabelos e entã o, passando o braç o em torno de sua cintura, levou-a pelo corredor em direç ã o ao quarto.

Ali havia apenas um pequenino lampiã o brilhando ao lado da cama. Ele lanç ava reflexos sobre o travesseirinho de rendas, que se equilibrava precariamente sobre um travesseiro maior.

Iain sorriu, enquanto olhava para sua mulher. Em seguida, retirou a orquí dea branca dos cabelos de Brucena, bem como os grampos, o que fez com que eles caí ssem sobre seus ombros...

— Foi assim que a vi naquela noite em que você estava toda assustada e chocou-se comigo no corredor. Apesar de estar aterrorizada, achei que nenhuma mulher poderia ser mais bela, terna, doce e encantadora...

— Você... me beijou... sem perguntar... se poderia fazê -lo.

— Foi muito ousado de minha parte — ele disse rindo — mas obedeci a um impulso incontrolá vel, do qual nã o me arrependi.

— Eu també m nã o me arrependi... mas muitas vezes fiquei a pensar que, se nã o estivesse tã o assustada naquele momento, talvez você nã o tivesse me beijado... ou se certificasse de que amava.

— Eu tinha certeza de mim mesmo, mas nã o de você. Achei que talvez você ainda me odiasse.

— Eu o amava... apesar de nã o sabê -lo.

— E agora?

— Eu o amo de todo coraç ã o!

— É isto que quero ouvi-la dizer...

Enquanto seus lá bios se encontravam ela sentiu que ele começ ava a desabotoar seu vestido...

Mais tarde, bem mais tarde, quando se ouvia apenas a mú sica da noite e as batidas do coraç ã o de Iain, Brucena perguntou:

— Como é possí vel... ser tã o feliz... e nã o morrer diante do esplendor desta descoberta?

— Pois você está muito viva, minha amada — disse Iain, puxando-a para bem junto de si e beijando-lhe a fronte. — Eu a tornei realmente feliz?

— Tã o feliz que sinto medo...

— Medo?

— Medo de acordar e descobrir que tudo isto nã o passa de sonho! Como é possí vel que tudo isto seja real?

— É real, sim, garanto para você.

— Tudo o que nos aconteceu, assemelha-se a um romance. Em primeiro lugar, você é tã o corajoso, tã o maravilhoso! Em segundo lugar, você me ama e, finalmente, nó s nos casamos... Oh, Iain, diga-me que é verdade!

Ele sorriu e seus lá bios deslizaram sobre a maciez de sua pele.

— Continuarei a provar meu amor até que você esteja absolutamente convencida de que você é minha, completa e absolutamente minha! A histó ria de nosso amor é tã o verdadeira quanto o fato de estarmos na Í ndia, neste grande continente!

— Mas suponhamos que você se torne importante demais... e eu o perca?

— Você acha possí vel que isto aconteç a? Minha querida, você esquece de que uma das razõ es pelas quais eu me tornei mais importante do que era no mê s passado deve-se inteiramente a você?

Beijou-lhe os olhos antes de prosseguir:

— Dizem que um homem bem-sucedido sempre tem por detrá s de si uma mulher que o impulsiona em direç ã o ao sucesso, e foi o que você fez.

— Sinto-me feliz... tã o feliz...

— Nunca nos tornaremos tã o importantes a ponto de nos apartarmos um do outro ou das pessoas que contam. Sempre haverá na Í ndia pequenos Azim que necessitarã o de nossa ajuda. Sempre haverá coisas erradas a serem corrigidas e thugs sob diferentes formas a serem eliminados.

— Você me deixará ajudá -lo? — indagou Brucena apressadamente.

— Nã o somente deixarei, como insistirei em que você o faç a. Seu raciocí nio rá pido e sua presenç a de espí rito já me salvaram e sei que voltarã o a me salvar.

— Nã o gosto de pensar que algum dia... você pode correr perigo.

— Isto pode de fato exercer um pequeno papel em nossas vidas, mas se você lanç ar mã o de seu instinto, querida, confiarei em você em qualquer emergê ncia.

— Oh, Iain, fico tã o feliz... tã o feliz... Quero ser a esposa ideal para você. Quero sentir que você pode confiar de fato em mim.

— Sei que posso fazê -lo.

— Amelie é a esposa apropriada para o primo William. No iní cio, nã o conseguia entender porque ela nã o reclamava toda vez que ele a deixava. Entã o, compreendi claramente o porquê de sua atitude quando esperei por você naquela horrí vel tenda.

— E qual é a causa?

— Amelie acredita implicitamente em William e em Deus. Isto lhe confere a certeza de que por maior que seja o perigo que ele corre, sempre voltará para ela. Eu farei o mesmo... acreditarei em você... meu esposo maravilhoso e em Deus.

Iain apertou-a em seus braç os e disse em um tom de voz que ela sentiu estar carregado de emoç ã o:

— Nenhuma mulher conseguiria ser mais maravilhosa do que você! Adoro-a pelas coisas que me diz e por seus pensamentos que sã o como estrelas brilhando na escuridã o. Acho també m sua beleza e sua doç ura irresistí veis pois cada parte de você me pertence.

— Sou sua... toda sua...

Havia em sua voz uma nota de paixã o, porque a mã o de Iain a tocava. Sentiu que o fogo que ele havia despertado nela começ ava a queimar novamente em seu peito.

Ele també m sentiu o mesmo e deixou-a reclinar-se no travesseiro, de modo a ficar deitada de costas, contemplando-o.

A luz bruxuleante do lampiã o conseguia notar a excitaç ã o que surgia no olhar de Brucena.

Suas mã os tornaram-se mais ousadas e Brucena ofereceu-lhe seus lá bios, desejando que ele a beijasse e esperando aquela proximidade que ele també m haveria de querer.

— Você me enfeitiç ou! — disse Iain.

Em seguida, seus lá bios colaram-se aos dela e seu coraç ã o bateu de encontro ao de Brucena.

Já nã o eram mais duas pessoas e sim uma. Já nã o havia mais a escuridã o e sim o divino amor, que expulsa todo e qualquer medo.

 

 



  

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